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PSICOLOGIA DO 
DESENVOLVIMENTO HUMANO 
AULA 1
Prof. Ademir Bueno 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
 A presente aula tem por objetivo apresentar as principais matrizes teóricas 
da psicologia do desenvolvimento, correlacionando-as com a teoria da 
personalidade e o exercício da profissão de assistente social. Para isso, 
apresentaremos um panorama teórico sobre psicologia do desenvolvimento, 
seus conceitos e história, bem como uma conceitualização sobre o indivíduo 
como ser biopsicossocial. Ademais, possibilitaremos uma reflexão aprofundada 
sobre o conceito de personalidade conforme as teorias analítica e psicanalítica, 
e também segundo o teórico Jean Piaget. 
TEMA 1 – PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: CONCEITOS 
Segundo Piletti, Rossato e Rossato (2014), a psicologia é um braço das 
ciências humanas cujo objeto de pesquisa é o ser humano. Essa ciência 
enfrentou transformações significativa ao longo dos anos, ampliando sua área 
de conhecimento a fim de buscar esclarecer os processos que causam esse 
“fazer-se” humano. Ela busca estudar variáveis afetivas, cognitivas, sociais e 
biológicas em todo o ciclo da vida. Conecta-se com várias áreas do 
conhecimento, como biologia, sociologia, pedagogia, campos da saúde física e 
mental. 
De acordo com Mota (2005), o “interesse pelos anos iniciais de vida dos 
indivíduos tem origem na história do estudo científico do desenvolvimento 
humano”, que culmina na preocupação e no zelo com a educação das crianças, 
em especial com o olhar lançado para a infância em período de desenvolvimento. 
1.1 Histórico da psicologia do desenvolvimento 
Segundo Mota (2005), em pesquisa sobre a evolução histórica da 
psicologia do desenvolvimento humano, é possível sistematizar tal trajetória em 
fases, cada qual englobando um período de mais ou menos dez anos. 
 
 
 
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Quadro 1 – Evolução histórica 
Primeira fase 
(1920-1939) 
Nesta época, o estudo tratava do desenvolvimento intelectual, da 
maturação e do crescimento. 
Segunda fase 
(1940 – 1959) 
Esta fase foi influenciada pela depressão de 30 e pelas guerras, que 
levam a uma escassez de investimentos em pesquisa. 
Terceira fase 
(1960-1989) 
Até meados da década de 60, a psicologia do desenvolvimento sofre 
grande influência da Teoria Behaviorista e dos conceitos de 
Aprendizagem Social. A Revolução Cognitiva atinge a psicologia do 
desenvolvimento. 
Quarta fase 
(1990- dias 
atuais) 
Cada vez mais o desenvolvimento é estudado ao longo do ciclo vital, ao 
invés da tradicional ênfase na infância e adolescência. 
Fonte: Elaborado com base em Mota, 2005, p. 108. 
TEMA 2 – PERSONALIDADE: CONCEITOS 
 De acordo com D´Andrea (2001), personalidade é um tema complexo, 
pois embora não haja personalidades idênticas, existem pessoas que 
apresentam traços em comum, razão pela qual é difícil traçar uma conceituação 
de forma útil e compreensível. 
Para o autor, deve-se considerar os dados “biopsicológicos herdados, isto 
é, as condições ambientais, sociais e culturais nas quais o indivíduo se 
desenvolve” (D’Andrea, 2001, p. 9). Cabe observar que esses aspectos são 
desenvolvidos através da interação entre contexto social e hereditariedade, e 
tais atributos da personalidade são manifestados por meio do comportamento, 
lembrando que as características são peculiares a cada indivíduo. 
Existem ainda outras teorias sobre a constituição da personalidade, sendo 
as mais conhecidas as de Sigmund Freud e Carl Gustav Jung, que serão 
apresentadas neste conteúdo. 
TEMA 3 – TEORIA DA PERSONALIDADE FREUDIANA 
 De acordo com D’Andrea (2001) a personalidade para a psicanálise 
freudiana é composta por três grandes sistemas psíquicos: o id, o ego e o 
superego , de cuja interação dinâmica resulta o comportamento do indivíduo. 
Segundo o autor, o processo de desenvolvimento da personalidade, para 
Freud, seria contínuo. A primeira fase da vida (0 a 5 anos) seria a mais 
importante para a estruturação da psique. Tal teoria é considerada 
desenvolvimentista, uma vez que vincula a formação da personalidade com o 
 
 
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desenvolvimento do instinto sexual, que tem início nos primórdios da infância do 
indivíduo. 
De acordo com Friedman e Shustack, (2004, p. 73-75), a psicanálise 
defende que há cinco estágios psicossexuais, a partir dos quais entende-se a 
maneira específica como cada um vive e lida com conflitos, pois eles seriam 
despertados nessas fases, conforme descrito abaixo: 
• Fase oral (0 a 12 meses): Ocorre no primeiro ano de vida, quando a 
atenção da criança está concentrada basicamente nas zonas erógenas 
da boca, por meio da qual obtém prazer pela sucção, no ato de mamar. 
• Fase anal (2 a 3 anos): O interesse na atividade anal passa a ser 
importante para a criança, principalmente quando os pais estabelecem o 
controle de fezes e de urina. 
• Fase fálica (3 a 5 anos): Nesta fase, a criança se interessa pelos órgãos 
sexuais e pelos prazeres ligados ao seu manejo. O menino e a menina se 
colocam nos papéis imaginários de pai e mãe. Desenvolvimento do 
Complexo de Édipo. 
• Fase da latência (5 a 12 anos): Idade escolar, quando há uma 
incompatibilidade entre meninos e meninas. Ocorre supressão dos 
impulsos sexuais, construção do pensamento lógico e influência da vida 
psíquica pelo princípio da realidade. 
• Fase genital. É nesta fase que o adolescente passa a se interessar por 
outras pessoas e coisas como objetos importantes, deixando de lado o 
interesse por si mesmo como objeto primário. É despertado por atividades 
da vida madura. 
TEMA 4 – TEORIA DA PERSONALIDADE JUNGUIANA 
 De acordo com Friedman e Shustack (2004), em Jung o ego é centro da 
consciência e não o centro da personalidade . Trata-se de uma estrutura 
psíquica que gerencia os aspectos conscientes da mente. “Os aspectos 
conscientes nesta teoria são as informações e os processos mentais para os 
quais direcionamos nossa atenção de forma deliberada. Um exemplo: tudo que 
você está pensando, vendo, ouvindo e sentindo neste momento objetivamente, 
são aspectos conscientes” (Friedman; Shustack, 2004, p. 116). 
 
 
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Friedman e Shustack (2004) relatam que, para Carl Gustav Jung, a mente 
tem dois níveis – consciente e inconsciente . Diferentemente de Freud, Jung 
defende que a parte mais importante do inconsciente vem do passado coletivo 
da humanidade, chamado inconsciente coletivo, e não das nossas experiencias 
individuais. 
Para Fadiman e Frager (1986), a tipologia de Jung é especialmente útil no 
relacionamento com os outros, ajudando-nos a compreender os relacionamentos 
sociais. Ela descreve como as pessoas percebem o mundo de maneiras 
diferentes na hora de agir e julgar: 
 Inconsciente Pessoal : Abrange toda as experiências individuais que 
foram reprimidas, ou esquecidas como traumas e frustrações. Também 
guarda informações – como propagandas de carros e bebidas que 
mostram mulheres maravilhosas, dando a entender que essas mulheres 
“caíram” em cima dos homens. 
 Inconsciente ´coletivo : Tem suas raízes no passado coletivo do sujeito; 
seus conteúdos psíquicos são passados para as futuras gerações, e são 
os mesmos em todas as culturas. Conceitos universais relacionados com 
deuses, maternidade, água, terra etc. 
Segundo Fadiman e Frager (1986), para Jung há outras características 
estruturante da psique, sendo elas as atitudes e funções . As atitudes são duas 
(introversão e extroversão) e as funções são quatro (pensamento, sentimento, 
sensação e intuição). 
 Atitude introvertida : Quando voltamos nossa energia psíquica para 
nossas fantasias, desejos e tendências, nossa forma individual de 
perceber a realidade; gostamos de observar e conviver com as próprias 
ideias. 
 Atitude extrovertida : É o direcionamento da psique para mundo externo. 
Pessoas extrovertidas são influenciadas pelo mundo que as cerca, e não 
tanto pelo mundo interno. São práticas e centradas na realidade do dia a 
dia. 
Ao falarsobre as funções psíquicas, Jung afirma que, para cada indivíduo, 
algumas funções são mais predominantes do que outras. Vejamos: 
 
 
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 Pensamento : É atividade intelectual que produz um encadeamento de 
ideias, algumas pessoas consideradas pensadoras apresentam a função 
pensamento como sendo a mais preponderante. Pode ter caráter 
extrovertido, voltado ao pensamento concreto, ou introvertido, quando o 
indivíduo tende a confiar nas próprias ideias e nas suas interpretações 
sobre fatos, mais do que nos fatos em si. 
 Sentimento : Descreve o processo de avaliar um acontecimento ou ideia. 
Para Jung, é importante não confundir essa função com emoção. Ela se 
refere a uma avaliação de um pensamento visando entender o valor das 
coisas. 
 Sensação : É a função psíquica responsável por receber estímulos do 
meio externo e transmiti-lo à consciência; ou seja, trata-se da percepção 
individual dos estímulos captados pela visão, tato, audição, olfato e 
paladar. A sensação constata o que realmente está presente. 
 Intuição: para o autor, é uma função psíquica que está além da 
consciência. São pessoas que observam o mundo externo e conseguem 
perceber detalhes subliminares que passam despercebidas a outros 
sujeitos. 
Para Jung, a maior parte das pessoas cultiva apenas uma das funções 
descritas acima. Algumas conseguem desenvolver duas, poucas desenvolvem 
três; as que conseguem desenvolver as quatro funções são aquelas que atingem 
a individuação . Também conhecida como autorrealização, a individuação é o 
processo de tornar o indivíduo uma pessoa inteira, quando são integrados os 
polos opostos da personalidade em uma única e homogênea individualidade. 
Aqui se atinge o equilíbrio entre todos os arquétipos. (Fadiman; Frager, 1986, p. 
47-48) 
TEMA 5 – A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE JEAN PIAGET 
 O pesquisador Jean Piaget, ao realizar o “estudo do desenvolvimento 
qualitativo das estruturas psicológicas, apresenta a evolução do pensamento da 
criança delineada na de forma de estágios, numa sucessão crescente e 
constante de aquisições” (Piletti; Rossato; Rossato, 2014, p. 43). O fator 
preponderante aqui não é a cronologia, mas a ordem de sucessão, conforme 
descrito abaixo: 
 
 
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 Estágio Sensório-motor (0 a 2 anos) : Estágio da inteligência prática, 
durante o qual a criança percebe o mundo pelos órgãos do sentido, 
descobrindo-o através do deslocamento de seu corpo. Há neste estágio 
uma relação de interdependência entre a forma como percebe o mundo e 
o modo como atua na realidade. 
 Estágio pré-operatório (2 a 7 anos) : Este período caracteriza-se pelo 
egocentrismo intelectual e social (incapacidade de se colocar no ponto de 
vista de outros). A criança desenvolve a fala, mas ainda não apresenta 
plena interação com o meio; representa o mundo através de símbolos. 
 Estágio das operações concretas (7 a 11 anos) : Este estágio refere-se 
ao aparecimento da capacidade da criança de interiorizar as ações; ou 
seja, ela começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas 
através de ações físicas típicas da inteligência sensório-motor. Nesta 
fase, ela percebe os efeitos das ações-resultados, ou seja, aprende na 
pratica. 
 Estágio das operações formais (12 anos em diante) : Neste estágio, a 
criança adquire a capacidade de pensamento lógicos-dedutivo. Adquire 
também a capacidade de criticar os sistemas sociais; começa a discutir 
os valores morais de seus pais e constrói os seus próprios, tornando-se 
cada vez mais autônoma. 
De acordo com Macedo (2004, p. 153, citado por Piletti; Rossato; Rossato, 
2014, p. 45), Piaget se reporta a um sujeito epistêmico determinado “pela classe 
social, pelo gênero e pelas relações com seus pares ou adultos, pela condição 
física, neurológica, e pelo conhecimento lógico-matemático (que é fundamental 
em qualquer cultura e sociedade)”. 
NA PRÁTICA 
Este estudo evidencia que as principais diferenças entre Freud e Jung 
podem ser vistas na ideia do inconsciente e sexualidade, no que tange ao 
desenvolvimento do indivíduo. Vimos também que Jean Piaget observou as 
estruturas do desenvolvimento psicológico do indivíduo e sua evolução. Tais 
conhecimentos respaldam as ações dos profissionais assistentes sociais na 
direção de um projeto em defesa dos indivíduos em desigualdade social. Seus 
 
 
 
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encargos envolvem o planejamento e a execução de políticas públicas e de 
programas sociais que proporcionem o bem-estar e a integração do indivíduo na 
sociedade. 
Este estudo evidencia que as principais diferenças entre Freud e Jung 
podem ser vistas na ideia do inconsciente e sexualidade, no que tange ao 
desenvolvimento do indivíduo. Vimos também que Jean Piaget observou as 
estruturas do desenvolvimento psicológico do indivíduo e sua evolução. Tais 
conhecimentos respaldam as ações dos profissionais assistentes sociais na 
direção de um projeto em defesa dos indivíduos em desigualdade social. Seus 
encargos envolvem o planejamento e a execução de políticas públicas e de 
programas sociais que proporcionem o bem-estar e a integração do indivíduo na 
sociedade. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, apresentamos um panorama teórico sobre psicologia do 
desenvolvimento, com conceitos e histórico. Também discorremos sobre os 
conceitos de personalidade, viabilizando uma reflexão aprofundada sobre a 
personalidade segundo as teorias analíticas e psicanalíticas. Por fim, 
possibilitamos uma reflexão sobre a personalidade segundo Piaget. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
D’ANDREA, F. F. Desenvolvimento da personalidade : enfoque psicodinâmico. 
15. ed. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2001. 
FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da personalidade . São Paulo: Habra, 1986. 
MOTA, M. E. da. Psicologia do desenvolvimento: uma perspectiva histórica. 
Temas psicol ., Ribeirão Preto, v. 13, n. 2, p. 105-111, dez. 2005. Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2005000200003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 jul. 2018. 
PILETTI, N.; ROSSATO, S. M.; ROSSATO, G. Psicologia do 
desenvolvimento . São Paulo: Contexto, 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO 
DESENVOLVIMENTO HUMANO 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Ademir Bueno 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
 A presente aula tratará da Psicologia Social e de suas implicações para a 
profissão de assistente social. Iniciaremos pelos conceitos e origem da 
Psicologia Social, depois a contextualizaremos no Brasil. Depois, vamos abordar 
os seguintes tópicos: indivíduo, cultura e sociedade, para, na sequência, 
tratarmos de consciência e alienação. Concluindo nossa aula, apresentamos o 
panorama da área e suas implicações para o desenvolvimento do assistente 
social no Brasil. 
TEMA 1 – CONCEITOS E ORIGEM DA PSICOLOGIA SOCIAL 
 A psicologia social iniciou seu desenvolvimento como estudo científico e 
sistemático após a Primeira Guerra Mundial, em busca de compreender as crises 
que afetavam o mundo naquele momento. A teoria de Vygotsky fundamentou-se 
no desenvolvimento do indivíduo, decorrente de um processo sócio-histórico, 
com destaque para o papel da linguagem e da aprendizagem contínua e 
crescente, o que fez com que essa teoria fosse reconhecida como histórico-
social. Sua temática central gira em torno da ideia de que o indivíduo adquire 
conhecimentos em sua inter-relação com o meio em que está inserido. 
 Entende-se psicologia social como a ciência que estuda as relações 
humanas por um viés individual, mas abrangendo uma perspectiva ampla, social. 
Assim, a abordagem da psicologia social estuda o comportamento de indivíduos 
considerando a influência do meio. Vejamos alguns conceitos importantes: 
 Comportamento x relação social : de acordo com Lane (1994), as leis 
gerais da psicologia determinam que um comportamento reforçado será 
aprendido, mas que é na relação social que se revelaráo que é reforçador 
ou punitivo. Para ela, o sorriso ou o desdém, o dinheiro ou o doce, podem 
ou não ser significativos para a aprendizagem, tudo dependerá do valor 
atribuído em dada sociedade a esses comportamentos. Da mesma forma, 
o que “deve ser apreendido” é determinado socialmente. (Lane, 1994) 
 Psicologia Social x teoria da personalidade : diferentemente da 
Psicologia da Personalidade, que estuda traços individuais, 
características e pensamentos, a Psicologia Social estuda situações 
cotidianas. Seu interesse reside no impacto que o ambiente social 
apresenta sobre as ações e comportamentos do sujeito. 
 
 
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TEMA 2 – PSICOLOGIA SOCIAL EM CONTEXTO 
 Os estudos sobre psicologia social tiveram início no século XIX, entre 
1830 e 1834. O filósofo francês Augusto Comte é considerado pai dessa ciência. 
Para Comte, a psicologia social seria subproduto da sociologia e da moral, e 
nortearia, assim, o comportamento do indivíduo socialmente. De acordo com 
Lane, “um desafio era formulado aos cientistas sociais: como é possível 
preservar os valores de liberdade e os direitos humanos em condições de 
crescente tensão social e de arregimentação? Poderá a ciência dar uma 
resposta?" (Lane, 1994, p. 75). 
 Na América Latina, entre as décadas de 1950 e 1960 na América Latina, 
a Psicologia Social seguiu reproduzindo os conhecimentos desenvolvidos nos 
Estados Unidos. Lane (1994, p. 78) afirma que os pesquisadores latino-
americanos seguem: “aplicando-se os conceitos e adaptando-se técnicas de 
estudo e de intervenção às condições próprias de cada país, enquanto 
as pesquisas ditas ‘puras’ continuavam à procura de ‘leis universais’, que devem 
reger o comportamento social de indivíduos”. 
 No Brasil não foi diferente. A Psicologia segue sendo influenciada pelo 
modelo norte-americano, local para onde professores e pesquisadores iam 
adquirir conhecimentos e de onde vinham docentes, para ministrar cursos em 
universidade brasileiras, como foi o caso do professor Otto Klineberg, sendo o 
responsável por introduzir a psicologia social na Universidade de São Paulo, 
ainda na década de 1950, segundo nos informa Lane (1994). 
 Cabe ainda ressaltar que a psicologia social se faz necessária não apenas 
como área que desenvolve conhecimentos a respeito dos indivíduos e suas 
interações, mas também como agente determinante na própria sociedade, 
revelando-se em uma atuação que auxilia os indivíduos, diminuindo os conflitos 
relacionados a desigualdades e também as próprias desigualdades sociais. 
TEMA 3 – TORNANDO-SE HUMANO: INDIVÍDUO, CULTURA E SOCIEDADE 
 Sobre a questão do “tornar-se humano”, Newton Duarte, docente do 
departamento de Psicologia da UNESP, propôs em 2004 uma análise, na 
perspectiva marxista, das diferenças entre a atividade humana e a atividade 
animal. A ideia é questionar: 
 
 
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O que é próprio ao mundo construído historicamente pelos seres 
humanos. Indagar-se sobre o que diferencia o gênero humano das 
espécies animais é indagar-se sobre o processo histórico de 
construção da cultura, pois é por meio dessa construção que o gênero 
humano vai humanizando o seu mundo e humanizando a si próprio. 
(Markus, 1978, citado por Duarte 2004, p. 46) 
 O que está aí implícito é a dialética entre o que é necessário e a liberdade, 
seja em sociedade, seja na dimensão individual. Duarte (2004, p. 47) critica as 
visões romantizadas de natureza, pois nela não há liberdade de fato. Para ele, 
há apenas necessidades que são nomeadas como “processos causais, 
espontâneos, imanentes, dos quais está ausente a ação movida por objetivos 
conscientes”. 
 O indivíduo, nessa perspectiva, é um ser imbuído de necessidades, desde 
o nascimento, pois já estreia no mundo necessitando de outras pessoas para 
sobreviver, o que já o torna participante de um grupo – no caso, uma díade, com 
ao menos dois indivíduos. E toda a sua vida será permeada por “participações 
em grupos, necessários para a sua sobrevivência, além de outros, 
circunstanciais ou esporádicos, como os de lazer ou aqueles que se formam em 
função de um objetivo imediato”, ressalta Silvia Lane (Lane,1994, p. 12). 
 Outro conceito essencial é o de cultura. Lane (1994) observou, em suas 
pesquisas, o desenvolvimento o humano em prisma histórico. Podemos 
compreender sua visão por meio do seguinte exemplo: 
Existem relatos de crianças que foram criadas por animais, como 
lobos, macacos etc., adquirindo comportamentos da espécie que as 
criou, necessários para a sua sobrevivência. Quando trazidas para o 
convívio humano, as suas adaptações, quando ocorreram, foram 
extremamente difíceis e sofridas. (Lane, 1994, p. 12) 
Figura 1 – Homem e lobos 
 
Crédito: Thyago Macson Maria. 
 
 
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 Afirmamos, assim, que o contexto histórico e a relação entre o modelo de 
cuidador e a criança vem a padronizar um padrão de comportamento a ser 
desenvolvido pelo indivíduo, dependendo do que ele considerar correto. 
 É ainda pertinente considerar a noção de sociedade. Nesse contexto, de 
caráter intervencionista, trata-se da padronização de normas e leis 
institucionalizadas que estabelecem o comportamento a ser seguido 
socialmente, garantindo assim a sustentação de determinados grupos sociais. 
 Cabe aqui esclarecer que essas normas estabelecem os papeis 
desempenhados em sociedade, como os de pai e mãe – neste caso, que a 
possibilidade de exercer tais papeis só será viável se há filhos. Outro exemplo é 
o papel de líder ou chefe, que só existira se há liderados. Numa análise mais 
detalhada, percebemos a dicotomia liberdade versus necessidade, na sua forma 
real, nas situações do cotidiano, quando certas ações são determinadas ou 
normatizadas e outras são caracteristicamente mais livres. 
 De acordo com Lorena (2014, p. 22), o homem é naturalmente um ser 
social. Pode-se corroborar tal declaração a partir das seguintes afirmações: 
 Ao pertencer a uma sociedade, o indivíduo torna-se produto de um 
sistema complexo de interações que, de um modo ou de outro, ocorrem 
com toda a humanidade, e caracteristicamente com a sociedade da qual 
cada um faz parte. 
 Enquanto se relaciona com outros, no processo que chamamos de 
socialização, o indivíduo adquire hábitos e costumes que são aos poucos 
agregados à sua personalidade individual, e o tornam mais identificado 
com uma personalidade social. 
 Os contornos dessa personalidade social ficam menos definidos conforme 
aumentam as interações. 
 As possibilidades de interação são praticamente infinitas durante a vida, 
abrindo margem para que cada indivíduo contribua para a formação de 
numerosas estruturas sociais no decorrer de sua existência. 
TEMA 4 – CONSCIÊNCIA E ALIENAÇÃO 
 Quem é você? Vamos pensar juntos! Quando essa pergunta é lançada, 
quais respostas vêm rapidamente à sua mente? Consegue diferenciar sua 
identidade social da sua identidade pessoal? 
 
 
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 Segundo Silvia Lane (1994), os papéis são naturais e necessários, sendo 
a identidade uma consequência de opções livres que fazemos no nosso conviver 
social. Essas condições sociais produzem o material que acaba por definir os 
papéis de nossa identidade social. 
 Nesse sentido, importa entender o que é consciência. Segundo Lane 
(1994), existem duas formas de compreendermos como nossos papeis se 
desenvolvem e se reproduzem sem provocar mudanças no meio em que 
estamos inseridos. A primeira pela via ideológica , quando há um “eu 
valorizado”, e esse eu se torna modelo, que por sua vez é valorizado dentro de 
um certo contexto. A segunda encontra-se no campo das relações de 
dominação para a reprodução de condições materiais consideradas 
necessárias para a vida. Nesse contexto, as classes dominantes se sustentam 
através da exploração da força de trabalho. 
 Entende-se assim que a consciência de si poderá alterar a identidade 
social a medida que, dentro dos grupos que nos definem, questionamosnossos 
papéis quanto à sua determinação e funções históricas, reconhecendo que 
haverá relações de poder nas diversas interrelações, conduzindo a mudanças 
também dentro desse contexto. 
 Outro termo essencial é alienação . Nós não somos apenas pensadores 
que falam e escrevem: somos também fazedores, construindo coisas, como 
instrumentos que resultam em materiais bélicos, ou direcionados para sustento, 
combate e beleza. Pensar é idealizar o objeto a ser criado ou o alvo a ser 
conquistado, desenvolvendo ações que conduzam à realização do objetivo final. 
Somos sempre transformados no decorrer desse pensar/fazer. 
 É na distinção entre a palavra (pensada) e o objeto (ordem dada) que 
podemos perceber que a dominação é uma arma, feita de linguagem. A palavra 
se torna inquestionável quando alguém considerado "autoridade" social atribui 
um significado único que determina uma ação autômata do indivíduo. 
 Um exemplo trazido por Lane (1994) é o comando militar, contexto dentro 
do qual uma ordem dada é lei para os soldados subordinados. Outro é o de 
violência psicológica, quando há lavagem cerebral, e a vítima passa a eliminar 
significados conhecidos por significados outros, o que, quando alcançado, 
impede que o cativo se comunique com pessoas que poderiam auxiliá-lo, 
mantendo ainda a lucidez e os significados originais na maneira de pensar. 
 
 
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TEMA 5 – PSICOLOGIA SOCIAL E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O ASSISTENTE 
SOCIAL 
 O objetivo desta aula é pensar sobre as interfaces entre a Psicologia e o 
Serviço Social nos âmbitos teórico e profissional. Segundo Lorena (2014), “os 
psicólogos sociais se interessam em saber como as pessoas influenciam umas 
às outras no contexto da sociedade”. Busca-se, assim, entender suas atitudes, 
como o preconceito se estabelece e como as pessoas se comportam no 
individual e no coletivo. 
 A pesquisadora Karen Eidelwein (2007, p. 3) aponta: 
ao considerar como objeto de estudo da psicologia social a natureza 
social do fenômeno psíquico, isto é, a construção do mundo interno a 
partir das relações sociais vividas pelo homem, surge a necessidade 
de se aproximar de outras áreas do conhecimento, uma vez que 
historicamente a Psicologia se ocupou em estudar o indivíduo 
descontextualizado de suas relações sociais, culturais, econômicas e 
políticas. 
 Busca-se, dessa forma, contribuir para a produção de conhecimento 
dentro do Serviço Social, uma vez que o Assistente Social interfere diretamente 
em situações cotidianas dos indivíduos. Procura-se assim extrair recursos em 
outras áreas do conhecimento científico para pautar seu campo teórico e prático, 
considerando que a Psicologia, através das disciplinas ministradas nos cursos 
de graduação em Serviço Social, muitas vezes fundamenta-se em concepções 
de indivíduo e sociedade. 
 De acordo com Santos e Silva (2015), no Brasil o surgimento do Serviço 
Social se institucionalizou entre as décadas de 1930 e 1940, podendo ser 
percebido como um acontecimento isolado ou natural. Além disso, deve ser 
considerado o resultado de dois processos que, correlacionados, geraram as 
condições sócio-históricas indispensáveis para que a profissão do Assistente 
Social se constituísse e traçasse seu percurso histórico. O primeiro processo, o 
redimensionamento do Estado, vem em decorrência da fase monopólica do 
capital. 
 Assim, de acordo com os autores, a práxis profissional percorre algumas 
dimensões, por exemplo “ao dirigir sua ação com uma finalidade específica, 
requer do assistente social um entendimento de sua dimensão política e 
interventiva” (Santos; Silva, 2015). 
 
 
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 Eidelwein (2007) ressalta que, historicamente, o Serviço Social vinculou-
se a práticas religiosas da Igreja Católica, com um viés assistencialista para com 
os desamparados, dentro de uma perspectiva voluntarista e filantrópica. Mais 
tarde, ganha visibilidade com o advento das relações entre capital e trabalho, 
durante o movimento Taylorista-fordista de produção (Eidelwein, 2007, p. 9). 
 Destarte, se entendermos o mecanismo de construção do pensamento 
humano nas relações psicossociais do trabalho, poderemos, através da junção 
de conhecimentos das áreas em estudo, motivar nesses profissionais um 
comportamento que opera mudanças significativas na estrutura social. 
NA PRÁTICA 
 Nesta aula, evidenciamos que a prática profissional do assistente social 
encontra, no campo das políticas públicas sociais, um vasto espaço para sua 
aplicação. Trata-se de área abrangente, pelos diversos programas de políticas 
sociais oferecidos pelo Estado e pelas possibilidades que cada projeto social tem 
para a ampliação do acesso aos direitos sociais. 
FINALIZANDO 
 Através da articulação entre os saberes aqui expostos, discorremos sobre 
a constituição de indivíduo, cultura e sociedade; voltando o foco para tratarmos 
sobre consciência e alienação. Concluímos nossa aula apresentando o 
panorama da Psicologia Social e suas implicações para a atuação do profissional 
de Assistência Social. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
DUARTE, N. Formação do indivíduo, consciência e alienação: o ser humano na 
psicologia de A. N. Leontiev. Cad. CEDES, v. 24, n. 62, p.44-63, 2004. 
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32622004000100004>. 
Acesso em: 30 jul. 2018. 
EIDELWEIN, K. Psicologia social e serviço social: uma relação interdisciplinar na 
direção da produção de conhecimento. Revista Textos & Contextos , Porto 
Alegre, v. 6, n. 2, p. 298-313, 2007. Disponível em: 
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/2320/324>
. Acesso em: 30 jul. 2018. 
LANE, S. T. M. O que é psicologia social . São Paulo: Brasiliense, 1994. 
LORENA, A. B. de. Psicologia geral e social . São Paulo: Pearson Education 
do Brasil, 2014. 
SANTOS, D. J.; SILVA, D. T. Fundamentos Históricos do Serviço Social 
Brasileiro e o Projeto Ético-Político Profissional: uma história em construção na 
UNIGRANRIO. Moitará , v. 1, n. 1, p. 1-27. Disponível em: 
<http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/mrss/article/view/3021>. Acesso 
em: 30 jul. 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA E 
DESENVOLVIMENTO HUMANO 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Ademir Bueno 
 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
 Esta aula pretende apresentar o conceito de processo grupal, para depois 
discorrermos sobre ele na perspectiva histórica e dialética dos grupos. Na 
sequência, vamos abordar a forma como se compreende a formação dos grupos 
e qual a sua função na sociedade. Vamos também apresentar a classificação e 
formação dos subgrupos, e concluir a nossa aula trazendo o entendimento do 
processo grupal de comunicação e seus conflitos para a atuação do assistente 
social. 
TEMA 1 – PSICOLOGIA DE GRUPO: CONCEITO 
 De uma forma geral, os autores da área descrevem o processo grupal 
como um acontecimento social, sendo a reunião de duas ou mais pessoas com 
determinados objetivos comuns entre elas. 
 Segundo Antônio Carlos (2013), o cotidiano do indivíduo é norteado pela 
sua participação direta ou indireta em grupos. É uma experiência que todo 
indivíduo vivenciou em algum momento, podendo ser mais intensa para alguns 
do que para outros. 
 Segundo Lorena (2013, p. 46), a inserção do indivíduo no grupo acontece 
desde o seu nascimento, de forma natural. A autora afirma: 
Quando nasce, o homem é naturalmente inserido na cultura e ao longo 
da vida deverá interagir e associar-se à inúmeros grupos sociais. De 
modo geral, o primeiro grupo de que fazemos parte é a família, que tem 
o papel, entre outros, de nos transmitir a língua, os valores e a cultura 
da sociedade, a qual pertencemos. 
 A inserção do indivíduo no grupo se realiza de forma consciente ou 
inconsciente, pois algumas participações em grupos frequentemente são 
habituais e automáticas, feitas como rotina, sem que o sujeito se dê conta. Afinal, 
muitas vezes o indivíduo pode ser conduzidopelo grupo. 
TEMA 2 – A PERSPECTIVA HISTÓRICA E DIALÉTICA DOS GRUPOS 
 Silvia Lane (citada por Ferreira, 2007) constatou, em seus estudos e 
observações do indivíduo em sociedade, duas amplas posições sobre a função 
do grupo. A primeira posição , mais habitual, traz a ideia de que a função do 
grupo seria exclusivamente a de determinar papéis, o que implica garantir a 
 
 
3 
produtividade dos indivíduos em grupos, buscando a manutenção e a harmonia 
das relações sociais. 
 Já a segunda posição enfatiza o caráter de mediação do grupo, que afeta 
a relação entre os indivíduos e a sociedade. De acordo com Martins (2007), 
prevalece a preocupação com o processo pelo qual o grupo se produz, 
considerando as determinações sociais presentes nas relações grupais. 
 Sílvia Lane (1984, p. 81-82, citada por Martins, 2007): 
todo e qualquer grupo exerce uma função histórica de manter ou 
transformar as relações sociais desenvolvidas em decorrência das 
relações de produção e, sob este aspecto, o grupo, tanto na sua forma 
de organização como nas suas ações, reproduz ideologia, que, sem 
um enfoque histórico, não é captada. 
 Neste sentido, segundo Lane, é insuficiente afirmar que um grupo se 
resume apenas na reunião de pessoas que compartilham normas e objetivos 
comuns. Afinal, o grupo é compreendido como a partir de relações e vínculos 
entre pessoas com necessidades individuais e/ou interesses coletivos, que se 
expressam no cotidiano da prática social. 
 Segundo Antônio Carlos (2013), historicamente o vocábulo grupo surgiu 
no século XVII, e referia-se ao ato de retratar artisticamente um conjunto de 
pessoas. A partir do século XVIII, o termo passa a significar uma reunião de 
pessoas. 
 Cabe salientar que tanto a psicologia quanto a sociologia têm profundo 
interesse no estudo da formação de pequenos grupos sociais, porque se pensa 
o grupo como mediador entre o indivíduo e a sociedade. 
 Para a psicologia, a sistematização dos estudos de grupos sociais tem o 
interesse de compreender a sua dinâmica. Estudos importantes foram 
desenvolvidos nas décadas de 1930 e 1940, com Jacob Levy Moreno (1889-
1974), psiquiatra americano que ficou conhecido pela criação do Psicodrama, e 
Kurt Lewin (1890-1947), psicólogo alemão que estudou a dinâmica dos grupos. 
 De acordo com Minicucci (2015), Moreno inicia seu trabalho com o teatro 
da espontaneidade, que vai levar ao psicodrama. Em sua definição, o 
psicodrama é a ciência que explora a verdade por métodos dramáticos, por meio 
de papéis desempenhados socialmente. Cria-se, na sequência, a sociometria, 
ferramenta que relata o feixe de interações e de comunicações de todas as 
pessoas com as quais o indivíduo se relaciona. Por meio desses estudos, o 
 
 
4 
estudioso descobriu fatores que geram afastamento ou aproximação dos grupos 
sociais formados na comunidade como um todo. 
 Já Lewin inaugura o termo dinâmica de grupo pela primeira vez em 1944. 
Conforme Antônio Carlos (2013, citado por Barros, 1994): 
não podemos esquecer que a preocupação com grupos, tanto de 
Moreno, quanto de Lewin, aparece em seguida às inovações Taylorista 
e Fordista, que levam a elevação dos lucros, mas também à 
deterioração das relações, tanto dos operários entre si, quanto em 
relação a chefias e patrões. 
 Neste contexto, a instituição utiliza-se do controle que exerce sobre o 
indivíduo como ferramenta para descaracterizar a formação do grupo, 
privilegiando apenas o treinamento, em busca da produtividade, aplicando 
técnicas grupais que desenvolvem somente a cooperação dos participantes, 
para que não ocorra a coesão grupal. 
TEMA 3 – FORMAÇÃO DE GRUPOS E SUA FUNÇÃO SOCIAL 
 Para compreendermos o ser humano, é necessário encontrar seus 
objetos de identificação – alguma coisa ou pessoa, tendo em vista que, quando 
o indivíduo se identifica com outro, criando vínculo, ocorre o que é chamado de 
associação. É pelo estabelecimento de muitas associações humanas que os 
verdadeiros grupos sociais passam a existir. 
 De acordo com Lorena (2014), não há interação social sem a formação 
de algum tipo de grupo, e não há grupo social se não houver interação entre 
indivíduos. Assim, podemos definir que um grupo social é o espaço onde as 
pessoas são vistas como um todo, como um agrupamento de pessoas, com 
tradições, valores e normas morais comuns. 
 A autora ainda discorre que o fato de uma pessoa deixar de frequentar 
um grupo não fará com que a formação do grupo seja abolida, devido a essa 
vivência ter caráter coletivo. O “nós”, no grupo, é uma prioridade; há uma 
consciência coletiva, e assim os valores, os princípios e os objetivos são comuns 
entre os participantes. 
 O nascimento do sujeito é o evento que inaugura sua existência como 
participante de grupos sociais. Segundo Lorena, ao nascer, o indivíduo é 
naturalmente inserido na cultura. Ao longo de toda sua vida, deverá interagir e 
se associar com inúmeros grupos sociais. Universalmente, o primeiro grupo de 
 
 
5 
que fazemos parte é a família, cujo papel principal é nos transmitir a língua, os 
valores e a cultura da sociedade a qual pertencemos. 
 Lorena (2014, p. 47), discorre que, à medida que vai se desenvolvendo, 
o sujeito passa a frequentar outros grupos, transformando-se cada vez 
mais em um ser social. O processo que o tornara um indivíduo único e 
integrado na sociedade ocorrerá a partir de grupos como família e a 
classe social, por exemplo. Ao longo da vida, que quando passar a ter 
preferências e, de fato entender seus valores, o sujeito talvez se insira 
em clubes, grupos de amigos, a turma do bairro e assim por diante. 
 Portanto, a humanidade consiste de infinitas personalidades individuais, 
e ao mesmo tempo apresenta uma diversidade ilimitada de grupos diferentes. 
As relações são infinitas e fluidas. Assim, o sentimento de “pertencimento” ao 
grupo é a principal característica integradora dos grupos sociais, sendo de 
extrema importância, mesmo que essa experiência seja mais difícil de ser 
vivenciada para o sujeito de hoje. 
 Segundo Antônio Carlos (2013), o grupo também é um lugar onde as 
pessoas revelam suas diferenças. Nele, as relações de poder se fazem 
presentes, perpassando as decisões do cotidiano. Nesse contexto, o conflito é 
essencial para o processo e para as relações de caráter grupal. 
TEMA 4 – CLASSIFICAÇÃO E FORMAÇÃO DOS SUBGRUPOS 
 De acordo com Lorena (2013), cada grupo social apresenta determinadas 
características que lhes são peculiares. As condutas dos integrantes dos grupos 
são parecidas; eles possuem objetivos e se submetem a normas, símbolos e 
valores que os tornam parte do grupo, apesar da sua subjetividade. Cabe aqui 
citar alguns exemplos de grupos: família, escola, faculdade e empresa. A autora 
ressalta que é possível distinguir quais grupos exercem influência direta no 
desenvolvimento comportamental e na personalidade do indivíduo. 
 Vejamos a classificação e como cada grupo interfere na função social e 
na forma como o indivíduo interage em sociedade: 
 Grupo pessoal – é um conjunto de pessoas com as quais o indivíduo se 
sente bem e fica à vontade. De acordo com Lorena (2014), as 
identificações com outros integrantes podem se dar com base em 
uniformes, carteiras de associado e distintivos. Os encontros intragrupos 
acabam por gerar conflitos e desconfortos. 
 
 
6 
 Grupo externo – são os grupos aos quais não pertencemos. São outras 
famílias, religiões, clubes, partidos ou países. Um ponto importante na 
análise dos grupos pessoais e dos grupos externos é o conceito de 
distância social. Ele é o termômetro que mensura o sentimento de 
aceitação do sujeito no grupo em relação aos membros do outro grupo. 
Por exemplo, pense em um índio xavante caminhando na grande 
metrópole. Ele pode estar próximo geograficamente de muitos homens 
brancos; no entanto, a distância social muitas vezes é enorme. 
 Grupos primários – predominam os contatosprimários, mais pessoais, 
diretos, como a família, os vizinhos etc. Caracteriza-se pelas motivações 
afetivas. Não há dúvida de que o modo como os pais tratam os filhos afeta 
seus comportamentos em outros grupos. 
 Grupos secundários – são mais complexos, como as igrejas e o Estado. 
É caracterizado por contatos sociais impessoais, limitados e não 
permanentes. Os indivíduos atingem a realização de forma pessoal e 
direta, porém sem intimidade, o que pode se dar de maneira indireta, 
como por meio de cartas, telegramas, telefonemas, entre outras formas. 
A conduta predominante é a formalidade. 
 Assim, para todo profissional, a compreensão sobre o indivíduo e o 
modelo de grupo ao qual está inserido torna-se também um exercício para o 
profissional da assistência social, o que requer um aprendizado, de forma mais 
rica, das determinações possíveis da realidade. Diante disso, serão pensadas as 
estratégias de intervenção de trabalho no contexto grupal. 
TEMA 5 – O PROCESSO GRUPAL, A COMUNICAÇÃO E SEUS CONFLITOS 
Há diversos aspectos a serem pensados sobre a comunicação dentro do 
contexto social. Na dinâmica das relações humanas, a comunicação representa 
uma importante ferramenta no processo de formação dos grupos sociais. De 
acordo com Silvia Lane (2007), sua função é imprescindível na estruturação 
grupal, pois é pela comunicação que os indivíduos desenvolvem relações sociais 
efetivas, o que cria uma cooperação entre os sujeitos, para que não surjam 
relações de dominação. 
Para a autora, é importante pensar na linguagem ou no quesito 
comunicação enquanto elo fundamental entre o indivíduo e a sociedade, tendo 
 
 
7 
em vista que, ao mesmo tempo em que ela é um produto social, a comunicação 
é também o elemento determinante para a ação do sujeito em sociedade. 
Martins (2007, p. 79), sobre a questão da comunicação em grupo, afirma: 
Isoladamente, a pessoa identifica o seu problema como exclusivo, 
como necessidade individual. No entanto, ao se reunirem, os 
indivíduos percebem que os problemas, muitas vezes semelhantes, 
são decorrentes das próprias condições sociais de vida e que a 
organização coletiva. 
Dessa forma, diferentemente da ação individual isolada, a comunicação 
em grupo pode propiciar a resolução de problemas ou a satisfação de 
necessidades comuns. Nesse sentido, cabe a cada grupo criar seu próprio 
processo, respeitando as condições reais de vida e as características peculiares 
dos indivíduos envolvidos em cada contexto. 
NA PRÁTICA 
 Espera-se, com esse conteúdo, trazer um entendimento que dará 
sustentação para a escolha de técnicas adequadas para a intervenção grupal. 
Essa intervenção traz perspectivas para a transformação da atuação do 
assistente social, dirimindo as dificuldades de compreensão da formação dos 
grupos sociais, bem como do processo grupal, sua forma de comunicação e os 
conflitos característicos. 
FINALIZANDO 
 Na presente aula, apresentamos conceitos de processo grupal, e depois 
falamos sobre o processo grupal e a perspectiva histórica e dialética dos grupos. 
Na sequência, tratamos da formação dos grupos e qual sua função na 
sociedade. Por fim, apresentamos a classificação e a formação dos subgrupos. 
Concluímos nossa aula trazendo o entendimento do processo grupal, tratando 
da comunicação e seus conflitos. 
 
 
 
8 
REFERÊNCIAS 
MINICUCCI, A. Dinâmica de grupos : teorias e sistemas. 5. ed. São Paulo: 
Atlas, 2015. 
MARTINS, S. T. F. Psicologia social e processo grupal: a coerência entre fazer, 
pensar sentir em Sílvia Lane. Psicol. Soc ., Porto Alegre, v. 19, n. 2, 2007. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822007000500022&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 jul. 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA 
E DESENVOLVIMENTO 
HUMANO 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Ademir Bueno 
 
 
 
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ESTUDO DOS FENÔMENOS DE INTERAÇÃO 
CONVERSA INICIAL 
Esta aula pretende apresentar o conceito de fenômeno de interação e 
discorrer sobre a questão do indivíduo e sua interação social. 
Iniciaremos expondo o conceito de Fenômenos de Interação, seguido da 
dualidade indivíduo x interação social, trazendo a compreensão da interação e a 
identidade social do indivíduo, a partir da cultura e integração social apresentada. 
Entendendo o indivíduo e sua adaptação na sociedade. 
TEMA 1 – FENÔMENO DE INTERAÇÃO SOCIAL – CONCEITO 
No capitulo Interação Social e vida cotidiana, Anthony Giddens (2005), 
conceitua Interação Social como sendo “o processo pelo qual agimos e reagimos 
em relação àqueles que estão ao nosso redor”. Desta forma, o homem é, por 
natureza, um ser social. 
De acordo com Lorena (2013), o indivíduo é produto de um sistema 
complexo de interações que, de uma forma ou de outra, se sinta pertencendo a 
uma sociedade, e inserido nesse contexto se relaciona com outros indivíduos, 
assimilando ali, seus hábitos e costumes que acabam por contribuir para o 
desenvolvimento da sua personalidade individual, sendo reconhecido mais tarde 
como sua personalidade social. No entanto, as características dessa 
personalidade social se tornam menos marcantes a medida que seus 
relacionamentos interpessoais e interações com o meio vão se ampliando e 
intensificando. 
 
Crédito: Rawpixel.com / Shutterstock 
 
 
3 
TEMA 2 – O INDIVÍDUO X INTERAÇÃO SOCIAL 
De acordo com Fabio Aranha (1993), as questões das relações sociais 
interpessoais despertaram o interesse dos estudiosos do comportamento nos 
primórdios do século XIX, iniciando uma época de questionamento e reflexão 
sobre os efeitos dos grupos sociais no comportamento humano. 
Entre 1830 e 1930, verificou-se uma abastada produção de ideias, que, 
segundo Fabio Aranha (1993), os pontos comuns eram 
a pressuposição de que as experiências de grupo se encontram entre 
os mais importantes determinantes da natureza humana, e, a de que 
os fenômenos sociais são passíveis de investigação científica. 
O autor afirma que nessa época passou-se a compreender que 
a experiência social - não somente com adultos, mas também com 
semelhantes - é de importância central para a ontogênese em muitas 
espécies (Fabio Aranha apud Hartup, 1983, p. 104). 
Cabe ressaltar que caso você esteja em um shopping lotado e/ou em um 
ônibus abarrotado de outras pessoas, esse contato não provocará nenhuma 
influência entre você e qualquer indivíduo que estiver ao seu lado. Pois, segundo 
Lorena (2013), para que uma interação social exerça alguma interferência, 
deverá ocorrer mais que um contato involuntário, necessita haver um diálogo 
entre os indivíduos. 
Lorena (2013) afirma que de uma forma mais eficaz, as interações formam 
o alicerce de toda organização e estrutura social, consistindo em duas, as formas 
como isso pode ocorrer, sendo elas: 
• Física – como a proximidade de dois ou mais indivíduos 
• Meios de comunicação – neste caso sofre influência da televisão, rádio e 
livros etc.; no presente contexto, tanto quem produz a informação quanto 
quem recebe sofre influências. 
• A despeito da internet, a autora diz que esse veículo é diferente, pois 
consente que mais indivíduos sofram influência momentaneamente. Lorena 
(2013) ainda diz que as redes sociais e os e-mails compõem novas maneiras 
de interação. Elas geram fenômenos significativos a ponto de causar 
alteração no cotidiano dos indivíduos. Giddens chama esse fenômeno de 
globalização, que culminou por alterar a natureza dos contatos, 
proporcionando que ocorra uma gama cada vez maior de interações, 
envolvendo pessoas direta ou indiretamente. 
 
 
4 
Assim, segundo Lorena (2013): 
O mundo social de cada indivíduo é filtrado de acordo com a posição social e 
com as peculiaridades de outros. A presença do outro torna-se fundamental 
para introdução da língua, da cultura, das normas sociais pela criança [...]. A 
linguagem amplia as possibilidades de comunicação e enriquece as relaçõessociais e a capacidade de controle entre os seres humanos e deles sobre a 
natureza (Lorena, 2013, p. 23). 
Desta forma, é por meio da linguagem que o indivíduo recebe a 
sociedade, a identidade e a realidade, uma vez que estas estão intimamente 
relacionadas. 
TEMA 3 – INTERAÇÃO E IDENTIDADE SOCIAL 
Sobre interação e identidade Nizet & Rigaux (2014), buscam trazer a 
compreensão do eu (self) por meio da visão do sociólogo Erving Goffman, 
partindo da metáfora teatral, seguida pela metáfora das regras e dos ritos. 
Esses diferentes aportes podem ser sistematizados, afirmando-se que o “eu” é 
fruto de um processo social, no qual três componentes podem ser identificados. 
São eles: 
• O Jogo (na forma lúdica com suas interpretações) – a produção ou 
desenvolvimento do eu ocorre por meio do envolvimento dos indivíduos 
na interação. Sendo produzido por ações verbais e não verbais, realizado 
pelo sujeito e pela interpretação que ele faz do outro. 
• A sacralidade da face – para Goffman, ao constituir uma ordem social, as 
regras da interação ocupam a função de construir uma identidade 
individual sagrada. E é sacralizando (sacrificando) a face individual que a 
ordem social é respeitada, de acordo com esse autor, sem a ordem social, 
o indivíduo ficaria sem valor, e até, sem existência. 
• Os fundamentos cerimoniais do eu – de acordo com Goffman, somente 
indivíduos com recursos materiais e simbólicos (controle da informação 
pessoal etc.), são permitidos passar por esse processo. Aqui, o contexto 
do indivíduo é de extrema importância, pois isso resulta na limitação ou 
facilitação do acesso aos meios indispensáveis à produção de um eu 
humano. 
Desta forma, para o autor, esses três elementos sociais, pelo qual o eu é 
constituído, dando a 
 
 
5 
ideia de que a identidade não pode resultar unicamente dos atores [...], 
mas sim, que ela requer uma ordem social estruturada por regras – 
essencialmente, a da sacralidade da face (a face que representará aos 
outros) (Nizet & Rigaux, 2014). 
Falar sobre identidade social e sua interação com o meio, pelo olhar do 
sociólogo Erving Goffman, traz a luz uma observação do cotidiano dos indivíduos 
sob uma perspectiva psicodramatista, onde o indivíduo é visto como alguém que 
representa um papel social nos grupos ao qual encontra-se inserido, se 
adequando as regras estabelecidas e de algum modo sendo moldado por elas. 
Para Lorena (2013), todos nós em algum momento ou de alguma forma, nos 
identificamos com algum grupo social. Seja com o estilo de vida, o jeito de se 
vestir, lugares que frequentamos, entre outros, são determinantes para dar a 
identidade suas características. Assim, o que nominamos identidade social, é 
esse saber responder quem somos. Por fim a autora ressalta que – “a afirmação 
da identidade social acontece na comparação com os outros membros da 
sociedade” e que: 
Na verdade, a identidade social está sempre associada à identificação 
com um grupo particular e à diferenciação em relação a outros grupos. 
Esse processo fica evidente quando o adolescente assume 
determinado estilo de vestimenta, corte de cabelo [...] (Lorena, 2013, 
p. 23). 
Percebe-se com isso que este é um período importante pela busca da 
afirmação da identidade social, onde se procura por outros iguais com as mesma 
características e interesses. 
 
TEMA 4 – CULTURA E INTEGRAÇÃO SOCIAL 
De acordo com Giddens (2005), quando pensamos na palavra cultura, 
sempre nos remetemos a coisas mais altivas da mente – a arte, a literatura, a 
música e a pintura. Para o sociólogo, a cultura se refere às formas de vida dos 
indivíduos de uma sociedade ou de um grupo dentro da sociedade em seu 
cotidiano e isso inclui como “eles se vestem, seus costumes matrimoniais e vida 
familiar, seus padrões de trabalho, cerimonias religiosas e ocupações de lazer” 
(Giddens, 2005, pag. 38) 
Segundo o autor, há uma diferenciação conceitual que varia de uma 
sociedade para outra, mas as percepções sobre o que as conectam são muito 
 
 
6 
próximas e que uma sociedade é um sistema de interações e interrelações que 
atrelam os indivíduos uns com os outros. 
Outra afirmação de Giddens é que os aspectos culturais de uma 
sociedade é algo aprendido, muito mais do que simplesmente uma herança 
familiar. Assim, a cultura se torna o processo pelo qual as crianças e outros 
membros da sociedade aprendem a viver em grupo, sendo esse processo 
chamado de socialização . Desta forma, a socialização é o principal canal para 
a transmissão da cultura e integração do indivíduo na sociedade através do 
tempo e das gerações. 
Para Lorena (2013), a forma como pensamos, agimos e nos 
comunicamos são contornos que a cultura encontra para nos transmitir a razão 
do comportamento humano, suas crenças e ideias. 
Cabe lembrar que todas as sociedades modernas possuem subculturas – 
cada uma com seus valores, comportamentos e vocabulários que os diferenciam 
da cultura predominante. 
De acordo com ela, o processo de socialização do indivíduo facilita que 
este desenvolva sua própria personalidade, esta integrada ao seu grupo social, 
diferenciando-o ao mesmo tempo, dos integrantes dos outros grupos. Lorena 
traz o seguinte exemplo sobre esta questão: 
Um indivíduo que nasce no estado de São Paulo apresenta traços 
sociais relativos aos seguintes grupos sociais: paulista, brasileiro, 
latino-americano [...]. O modo de falar de alguém que nasceu em 
Sorocaba, por exemplo, é naturalmente diferente do de alguém que 
nasceu e mora na capital (Lorena, 2013, pag. 24). 
Assim, pode-se pensar que um indivíduo de determinado estado dentro 
de um mesmo país, poderá encontrar dificuldades individuais para se sentir 
integrado ou parte de um grupo em outro estado, levando em conta as diferenças 
culturais e comportamentais. 
TEMA 5 – O INDIVÍDUO E SUA ADAPTAÇÃO NA SOCIEDADE 
Fábio Aranha (1993), mais recentemente em seus estudos, cita Schaffer 
(1984), trazendo a luz que esse, ao investigar o processo do desenvolvimento 
infantil, tece considerações que vêm se somar sobre as questões das 
adequações do indivíduo ao meio, o mesmo afirma que o desenvolvimento da 
criança recém-nascida é um esforço conjunto entre a criança e seu cuidador. 
Consequentemente, à medida que ela vai crescendo, o número e a 
 
 
7 
heterogeneidade de pessoas as quais ela interage, aumentam 
significativamente. Por conseguinte, as pesquisas “sobre o progresso da criança 
devem se preocupar tanto com o papel do adulto, quanto com o da criança”. 
Para o autor o progresso do desenvolvimento da criança não é uma 
questão de acréscimos quantitativos, mas, sim, de adaptações sequenciais que 
regularmente ocorrem na vida mental da criança. Fábio Aranha, afirma que as 
reorganizações na criança determinam mudanças no comportamento do adulto 
interagente, favorecendo, assim, novas experiências interativas e consequentes 
novas reorganizações (Fábio Aranha, 1993, p. 24). 
E que tais transições iniciam pela determinação biológica de cada criança. 
Assim, cada nível alcançado estipula um conjunto de tarefas desenvolvimentais 
que devem ser realizadas pela criança e pelo adulto para que ela possa se 
adequar a essa fase e evoluir para a próxima transição. 
De acordo com Lorena (2013), o indivíduo passa por diversos processos 
de adaptações ao longo da vida, o que a autora chama de posições na hierarquia 
social. Esse processo de socialização e/ou adaptação é nomeado por Lorena, 
como sendo, posicionamento de status, e este pode ser utilizado para definir 
algumas características nos grupos. 
Verificaremos a seguir algumas características dessas posições: 
• Um indivíduo pode ocupar diversos status durante vida, ele pode ser pai, 
filho, profissional e cidadão – ao mesmo tempo. Seu status pode mudar 
de estudante universitário a médico, engenheiro, psicólogo etc. 
Para Lorena (2013), é importante compreender que as pessoas são o 
status. Assim, se umapessoa perde o emprego ou deixa de ocupar determinada 
posição social, perde o prestígio e o poder a ele atrelado. Ela traz o exemplo de 
dois tipos de status: 
1) Os atribuídos pela sociedade, não importando a qualidade ou o esforço 
da pessoa. 
2) Os que são obtidos pelo próprio esforço do indivíduo. 
As diferenças de grupos de status residem na possibilidade do consumo 
de bens, que representam estilos de vida específicos. Pode-se observar que o 
status principal do indivíduo pode variar, podendo na sociedade moderna estar 
ligado a profissão, mas no passado estava ligado a religião ou a idade. 
 
 
8 
De modo consequente, podemos entender que há inúmeras formas ao 
qual o indivíduo se adapta à sociedade, sendo, por meio desse processo que o 
mesmo desenvolve seu jeito de ser na interação com o meio. 
NA PRÁTICA 
Ansiamos com esse conteúdo trazer a compreensão necessária sobre a 
interação e adaptação do indivíduo na sociedade, levando em consideração que 
o processo de adaptação é algo mutável de permanente transformação; que a 
interação é um processo social que se dá por meio das relações sociais que 
mantemos com as outras pessoas e ocorre desde o nascimento do indivíduo até 
sua morte. Esse conhecimento pode dar sustentação para a escolha de técnicas 
adequadas para a intervenção na área da saúde individual ou coletiva na prática 
do fazer-se Assistente Social. 
FINALIZANDO 
Iniciamos a presente aula expondo o conceito de fenômenos de interação, 
seguido da dualidade – indivíduo x interação social, trazendo a compreensão da 
interação e a identidade social do indivíduo a partir da cultura e integração social 
apresentada, entendendo o indivíduo e sua adaptação na sociedade. 
 
 
 
9 
REFERÊNCIAS 
GIDDENS, A. Sociologia . Tradução de Sandra Regina Netz. 4. ed. Porto Alegre: 
Artmed, 2005. 
PSICOLOGIA Geral e Social / Biblioteca Universitária Pearson – São Paulo: 
Pearson Education do Brasil, 2014. 
ARANHA, M. S. F. A interação social e o desenvolvimento humano. Temas 
psicol ., Ribeirão Preto, v. 1, n. 3, p. 19-28, dez. 1993. Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X1993000300004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 25 jun. 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO 
DESENVOLVIMENTO HUMANO 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Ademir Moreira Bueno 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
 Esta aula pretende apresentar o conceito de aspectos psicológicos do 
desenvolvimento humano, bem como discorrer sobre a influência da 
hereditariedade e meio para o desenvolvimento humano e suas implicações na 
prática profissional do Assistente Social. 
 Iniciaremos expondo o conceito de Crescimento e Desenvolvimento, 
seguido da visão sobre a Hereditariedade e Meio no Desenvolvimento Humano 
à luz da perspectiva ambientalista; apresentaremos os aspectos psicossociais 
na infância e adolescência, abordaremos a transição e os impactos da saída da 
adolescência e entrada na idade adulta – um ciclo da vida humana; por fim, 
discutiremos sobre o envelhecimento – percepções e vivências, em seu contexto 
social. 
Espera-se que a compreensão de cada fase do desenvolvimento humano 
e os enfrentamentos nas áreas cognitivas e sociais encontrados pelo indivíduo 
durante cada fase dê ao profissional Assistente Social uma forma de pensar, 
propor e atuar junto à sociedade. 
TEMA 1 – CONCEITO DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 
 Alguns teóricos defendem o crescimento como um processo de natureza 
concreta e mensurável que concebe a formação, havendo o aumento da massa 
corporal e a renovação dos tecidos, sendo iniciado na infância, a fase de 
aumento global do organismo. 
 De acordo com Juan Delval (2011), o processo de desenvolvimento é um 
fenômeno puramente acumulativo durante o qual vão se formando novas 
condutas e se adquirem novos conhecimentos. Nesse sentido, o 
desenvolvimento seria um contínuo. 
 Cabe aqui salientar que o desenvolvimento humano é uma evolução de 
crescimento e mudança a nível físico, comportamental, cognitivo e emocional ao 
longo da vida, e, em cada ciclo, emergem características próprias. Sabe-se 
também que cada criança é um indivíduo singular, podendo atingir determinados 
estágios do desenvolvimento mais cedo ou mais tarde do que outras crianças da 
mesma idade. 
 
 
3 
TEMA 2 – A HEREDITARIEDADE E O MEIO NO DESENVOLVIMENTO 
HUMANO 
 Para reflexão acerca do tema, neste tópico iremos discorrer sobre quando 
grupos de pessoas são considerados à luz da simples observação, nos convence 
de que as diferenças na constituição física, como cor da pele, altura, peso etc., 
são biológicas. Mas há também outros traços que devemos nos ater, como os 
comportamentais, e estes acabam por confrontar o observador. Segundo 
Pinheiro (1994), fica uma interrogação: as diferenças comportamentais são 
determinadas cultural ou geneticamente? 
 De acordo com Pinheiro (1994), grande parte dos debates sobre a gênese 
ou motivações do comportamento humano nos mostra a realidade de uma 
questão altamente controvérsia – “trata-se da questão inato-adquirido (nature-
nurture), também conhecida como nativismo-empirismo, natureza-educação ou 
hereditariedade-ambiente” (Pinheiro, 1994, p. 53). 
 Para a autora, o axioma da abordagem ambientalista é que o meio é o 
principal responsável pela constituição das características básicas do homem, 
em particular de sua habilidade cognitiva. Pinheiro (1994) ressalta que o filósofo 
John Locke (1632-1704) propôs o método mais extremo de ambientalismo, que, 
de acordo com ele: 
A mente do recém-nascido era uma tábula rasa (página, folha ou tela 
em branco) – a história a ser ali escrita tinha por autor o meio ambiente, 
isto é, as condições e experiências de vida do indivíduo. Um dos 
adeptos mais importantes dessa posição foi o psicólogo John B. 
Watson (1878-1958), fundador do behaviorismo nos Estados Unidos; 
em seus vários trabalhos insistia numa explicação "cultural" ou 
"ambiental" do desenvolvimento do comportamento humano, 
admitindo como premissa básica o fato de que os seres humanos são 
infinitamente maleáveis, quase totalmente a mercê de seu ambiente 
(Milhollan; Forisha, 1978, p. 61-65, citado por Pinheiro, 1994, p. 54). 
 Destarte, o Nativismo descreve a herança biológica do indivíduo como 
sendo transferidas pelos pais. Esta afirmação, da existência de ideias inatas, 
surgiu com René Descartes (1596-1650), e se constituiu no ponto de partida do 
longo debate inato-adquirido, prosseguindo com a crença de que o 
comportamento humano é inato, no sentido de que nós nascemos com 
determinadas tendências e propensões que não podem ser alteradas por 
aprendizagem. 
 
 
4 
 De acordo com a autora, há dois erros básicos nessa abordagem – o 
primeiro é que, o que passa por meio das células sexuais não são 
características físicas ou comportamentais, mas, sim, uma informação genética. 
Para Pinheiro (1994), os genes geram os alicerces para os traços culturais, 
porém, esses não forçam o desenvolvimento de nenhuma característica em 
particular. As individualidades adquiridas não são transmitidas biologicamente. 
 O segundo erro se refere ao signo da palavra inato. Seja qual for a 
característica que o indivíduo apresenta ao nascer, é, por definição, inato ou 
congênito, mas não necessariamente hereditário, pois há particularidades 
provocadas por fatores ambientais. Como exemplo, podemos citar as alterações 
produzidas no feto em decorrência do abuso de álcool ou drogas pela mãe nos 
primeiros três meses de gestação. 
Sobre aspectos comportamentais, o autor também diferencia o 
comportamento instintivo do comportamento aprendido. Sendo o ato instintivo: 
Inato, porque o indivíduo é capaz de executá-lo com eficiência desde 
a primeira vez, mesmo sem ter visto o ato ser executado por outro; ele 
é também inconsciente, porque não há um ensaio mental prévio ou um 
planejamento conscienteque oriente a ação para a meta útil. (Pinheiro, 
1994, p. 56) 
Por outro lado, o comportamento aprendido é resultado da interação do 
indivíduo com o meio, e estas experiências se registram na memória e 
contribuem para o aperfeiçoamento dos desempenhos futuros. 
TEMA 3 – ASPECTOS PSICOSSOCIAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 
 Sabemos que a criança e o adolescente são seres em processo de 
formação, que ainda não atingiram a maturidade dos seus órgãos e nem das 
suas funções cognitivas. Assim, necessitam de tempo adequado e estimulação 
para concretizar determinadas tarefas. 
 Frota (2007) levanta a questão para nossa reflexão sobre “o que é ser 
criança”? Segundo a autora, para os desavisados, ou mais ligeiros em responder 
– ser criança “é viver um mundo de sonhos e fantasias, gostar de comer bolo de 
chocolate, é o melhor momento da vida”. Mas basta olharmos ao redor para 
percebermos que esta não é a realidade vivida por todas as crianças e 
encontraremos outros modelos de vida na infância, como: meninos e meninas 
na rua, pedindo esmola, se prostituindo, sendo explorados no trabalho, sem 
tempo para brincar, sofrendo todo tipo de violência. 
 
 
5 
 De acordo com a autora, existem concepções distintas de crianças e de 
adolescentes que diferem com base em perspectivas teóricas diferentes, 
contribuindo, assim, para formar múltiplos conceitos desses grupos referidos. 
 Assim sendo, faz-se necessário que pensemos a melhor maneira de se 
construir as diferentes concepções de infância, e de adolescência na sociedade 
atual. 
 Para Coelho (2014), ao escrever sobre os aspectos cognitivos, atentou 
para a necessidade de revisar os conceitos existentes e buscar novas 
explicações que fariam com que o campo da ciência avançasse, na sua visão e 
compreensão do indivíduo com base nas fases do desenvolvimento. Pensando 
desta forma, que alguns psicólogos se contrapuseram, na primeira metade do 
século XX, às teorias psicanalíticas e behavioristas, buscando uma outra 
possibilidade de compreensão do ser humano, e os resultados que eles 
concluíram ficaram intitulados como Psicologia Cognitiva. 
 Coelho (2014), fazendo menção a Barros (2008), diz que o 
desenvolvimento cognitivo é o processo gradual de ampliação das habilidades 
do indivíduo de adquirir conhecimento e se desenvolver intelectualmente. 
 Como já vimos anteriormente, foi o epistemólogo Jean Piaget um dos 
estudiosos que contribuíram para que essa teoria observasse as diferentes fases 
do desenvolvimento humano. Isso porque é de Piaget o entendimento de que 
não podemos ver as crianças como adultos em miniaturas, já que a sua 
capacidade de compreensão ainda não alcançou o nível do pensamento adulto. 
 De acordo com Coelho (2014), as crianças não somente pensam, como 
decidem de forma diferente do adulto, e que entre elas mesmas pensam 
distintamente, se comparadas umas com as outras em diferentes fases do 
crescimento. Um outro teórico referenciado por Coelho (2014) é o psicólogo 
norte-americano Jerome Bruner. Este avançou um pouco mais em seus estudos 
cognitivos sobre crianças em desenvolvimento. Nesta linha de pensamento, a 
criança tem a tendência de representar o mundo ao qual ela está interagindo, 
por meio de três níveis de representação cognitiva – sendo classificada por 
Bruner das seguintes formas: 
 Representação enativa – quando a criança tem um entendimento melhor 
do mundo com base em mecanismos que se traduzem em ação. Por 
exemplo, se perguntarmos para que serve uma bola, ela responderá 
 
 
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chutando-a. Desta forma, aprende melhor representando os personagens 
que deseja em determinado momento. 
 Representação icônica – aqui, a criança consegue formar imagens dos 
objetos sem interação direta com eles. Com base no desenho de uma 
imagem, ela consegue entender seu significado. 
 Representação simbólica – a criança consegue estabelecer uma 
representação abstrata para retratar a realidade por meio do domínio da 
linguagem e utilização dos signos linguísticos para construir sua 
representação. 
Philippe Ariès (1978), citado por Frota (2007), afirma que: 
A infância foi uma invenção da modernidade, e que, a infância que 
conhecemos hoje foi uma criação de um tempo histórico e de 
condições socioculturais determinadas, sendo um erro querer analisar 
todas as infâncias e todas as crianças com o mesmo referencial” 
(Ariès,1978, citado por Frota, 2007, p. 57). 
 Desta forma, pode-se considerar que a infância modifica com o tempo e 
com os diferentes contextos sociais, econômicos, geográficos, e até mesmo com 
as particularidades individuais. Assim sendo, as crianças de hoje não são 
exatamente parecidas com as do século passado, nem serão semelhantes às 
que virão no futuro. 
 Frota (2007) relata que a adolescência é o período da vida humana entre 
a puberdade e a vida a adulta. A palavra é derivada do latim pubertas-atis, e 
refere-se ao conjunto de transformações fisiológicas ligadas à maturação sexual, 
que traduzem a passagem progressiva da infância para a adolescência. Esta 
perspectiva prioriza o aspecto fisiológico, quando consideramos que o indivíduo 
não é maduro o suficiente para pensar sobre estar na adolescência. 
 Portanto, a compreensão da adolescência não se dá simplesmente 
pondo-a em evidência. Faz-se necessário encontrar, não uma definição válida 
para todos os momentos históricos, mas, sim, tentar uma compreensão com 
base em sua historicidade. De acordo com Frota (2007), o século XX traz consigo 
uma nova forma de ver a adolescência, sendo revelada como uma fase de 
“tempestades e tormentas”, um tempo de transformações. Historicamente, as 
contribuições para formar um discurso sobre o que é ser adolescente iniciam 
com movimento hippie, da década de 60, e o juvenil, de 1968, seguido pelos 
movimentos juvenis na década de 80, quando grandes mudanças ocorrem no 
plano político brasileiro, como descreve Frota: “[...] Surge uma grande variedade 
 
 
7 
de figuras juvenis cuja identidade se expressa, principalmente, através de sinais 
impressos sobre sua imagem e pelo consumo de determinados bens culturais 
oferecidos pelo mercado” (Abramo, 1994, p. 55, citado por Frota, 2007, p. 58). 
 De acordo com a autora, percebe-se uma grande diferença entre a 
juventude da década de 50 e a atual, apontando a falta de sentido e inatividade 
que considera ser o mais notável na juventude de então. Bem como assinala as 
contradições e incertezas e vulnerabilidade dos adolescentes de baixa renda. E, 
por fim, afirma: 
As representações sociais que se formam a partir das inúmeras 
informações, mediadas, sobretudo pela mídia, não fornecem 
condições para que o adolescente planeje e articule ações como uma 
forma de superação da condição ou situação vivida, uma vez que estas 
informações se destinam muito mais à construção de modelos 
estereotipados de comportamentos para atender as demandas de 
consumo (Frota, 2007, p. 153) 
 Para o pesquisador Calligares, citado por Frota (2007), que também tem 
refletido sobre a influência da pós-modernidade e do neoliberalismo sobre a 
emergência da adolescência, traz a ideia de que os adolescentes têm sido 
acometidos de um imenso valor de consumo, e este vem sendo eleito como 
modelo ideal de vida. Desta forma, a indústria de consumo não só absorve como 
investe em valores e estilos adolescentes, esticando mais e mais esta fase, e 
tornando cada vez mais difícil se afastar do desejo adulto da adolescência. Como 
diz o autor, “a adolescência, por ser um ideal dos adultos, se torna um fantástico 
argumento promocional” (Calligares, 2000, p. 59, citado por Frota, 2007, p. 153). 
 Assim, a adolescência assume o ideal social, tornando cômodo para o 
adolescente permanecer nesta fase, dificultando o envelhecer, quando a 
aspiração social é habitar a adolescência. 
TEMA 4 – A IDADE ADULTA – UM CICLO DA VIDA HUMANA 
 No passado, a transição para a vida adulta correspondia aomomento em 
que os jovens, simultaneamente, partiam das casas da família de origem para 
se casar, constituindo, assim, uma nova família. Já no contexto atual, a ideia dos 
ciclos de vida nos remete aos ciclos de formação educacional ou profissional; 
eles também optam por morar sozinho ou dividir despesas com outros, bem 
como unir-se de forma estável com seus pares, diversificando assim, na 
atualidade, as formas de transições. 
 
 
8 
 Para a psicologia da educação, a ideia de vida adulta remete aos estágios 
de desenvolvimento humano, um modo de organização das etapas da vida 
humana, sendo dessa teoria que Oliveira (2004) empresta o conceito de “ciclo 
da vida”, por esse ser mais promissor para uma explicação clara sobre o 
fenômeno do desenvolvimento do que a ideia, normalmente utilizada em 
psicologia – de estágios. Esses estágios são processos de transformação que 
ocorrem ao longo de toda a vida do sujeito e estão relacionados a um conjunto 
complexo de fatores. 
 Assim sendo, a adultez constitui-se na fase mais dinâmica e duradoura 
dentro da sociedade. Para Santos e Antunes (2007), o indivíduo adulto vivencia, 
em sua história de vida, características que lhe são específicas. Boa parte 
desses adultos vivem ou sobrevivem do trabalho, dentro de qualquer realidade 
social, econômica e cultural. Para as autoras, “estudar e entender a adultez é 
conhecer e perceber o que a sociedade busca em termos de futuro, e qual ideário 
social está construindo” (Santos; Antunes, 2007, p. 150). 
 Para as autoras, os aspectos fisiológicos e psicológicos são os que 
estimulam a conduta do ser humano. Ao tentarmos entender as necessidades 
básicas e individuais do ser humano, e como elas são saciadas, devemos no 
ater que estas fazem parte da interação complexa de mecanismos fisiológicos e 
processos psicológicos em cada indivíduo. Santos e Antunes (2007) ressaltam 
que a questão cronológica, que divide cada fase na vida adulta, está 
intrinsicamente ligada ao período vivenciado historicamente pelo indivíduo até a 
contemporaneidade, ou seja, as divisões de faixa etária podem ser distribuídas 
de acordo com o contexto social em que a pessoa estiver inserida. 
Santos e Antunes (2007) trazem a divisão da adultez pela perspectiva de 
Mosquera (1982), sendo subdividida da seguinte forma: 
 Adultez jovem – aproximadamente entre 20 e 25 anos – período no qual 
o jovem deseja recompensas rápidas e externas, buscando uma 
valoração pessoal, objetivando um desejo intrínseco da avaliação positiva 
de sua pessoa pelos conhecimentos até então adquiridos. 
 Adultez jovem plena – que compreende dos 25 a 35 anos – período no 
qual o indivíduo toma consciência da chegada à idade adulta e procura 
dar um significando pessoal à sua existência. 
 Adultez jovem final – abrangendo dos 35 aos 40 anos de idade – o 
indivíduo vivencia situações que lhe atribuem o verdadeiro valor de sua 
 
 
9 
existência e compreende, ou pelo menos idealiza, o que constituirá sua 
realização. 
 Destarte, o crescimento em busca da autorrealização não está apenas 
incutido nos poderes econômicos adquiridos na vida adulta, sendo que o 
fundamental é que “a pessoa dá conta da importância que ela tem como ser 
humano” (Mosquera, 1982, p. 100, citado por Santos; Antunes, 2007, p. 153). 
TEMA 5 – ENVELHECIMENTO – PERCEPÇÕES E VIVÊNCIAS 
 Nas últimas décadas, houve uma notável elevação da população idosa 
em todo o mundo. Segundo Quadros (2017), os avanços nos processos de 
industrialização, urbanização e as melhorias tecnológicas e médicas foram 
fatores preponderantes para o aumento da expectativa de vida, por estarem 
atrelados ao processo evolutivo da qualidade de vida, como saneamento, 
melhorias nutricionais e higiene individual. Tudo isso favoreceu para um 
despertar para produção de pesquisas e estudos voltados para o 
envelhecimento. 
 Quadros (2017) relata que o enfoque sobre a velhice muda – de uma visão 
de derrocada física e invalidez, momento este dominado pelo isolamento afetivo 
–, passa a significar momento de lazer, no qual há a possibilidade de encontrar 
a realização pessoal que ficou incompleta na juventude. Aponta também para o 
vislumbre de novas habilidades não desenvolvidas anteriormente, e a 
reconstrução de novos laços afetivos e amorosos optativo à família. 
 Santos e Antunes (2007) subdividem essa fase em: 
 Adultez velha inicial – de 65 a 70 anos; nesta fase, ainda perpassam os 
desejos de realizações pessoais. 
 Adultez velha plena – de 70 a 75 anos; nesta etapa da vida, o indivíduo 
sente o desejo de demonstrar do que ainda é capaz, do seu controle 
pessoal, evidenciando o desejo de ser autônomo e não depender de 
outras pessoas. Nesta fase, também o idoso tem o desejo de ser aceito 
como ele é, de contar histórias e de ser ouvido com atenção. 
 Adultez velha final – aproximadamente dos 75 anos até a morte. 
Para o idoso, cada ano vivido traz um sentimento único, um percurso 
existencial de intensa expressão individual, possivelmente devido ao declínio 
 
 
10 
biológico e proximidade do fim da vida humana. Um ímpeto de grandiosas 
atuações e lembranças inexoráveis. 
 Por fim, Santos e Antunes (2007) ressaltam sobre a importância de cada 
etapa da vida adulta, pois, em suas subdivisões, revelam-se características e 
processos de crescimento, que envolvem momentos de transições, de crises, de 
passagens de um estado emocional psicológico para outro, no que se refere ao 
desenvolvimento e amadurecimento pessoal e aceitação própria. 
NA PRÁTICA 
 Aspiramos, com esse conteúdo, trazer a compreensão necessária sobre 
as mudanças no ciclo da vida do indivíduo na sociedade, percebendo que cada 
etapa tem as suas idiossincrasias. Assim, compreender os processos de 
mudanças nos aspectos mais relevantes da vida humana trará ao profissional o 
entendimento do indivíduo na sua integralidade e singularidade, podendo o 
profissional Assistente Social contribuir e propor políticas públicas para a 
melhoria da qualidade de vida dos usuários no campo individual e coletivo. 
FINALIZANDO 
 Iniciamos a presente aula apresentando o conceito de aspectos 
psicológicos do desenvolvimento humano. Na sequência, discorreu-se sobre a 
influência da hereditariedade e meio, para o desenvolvimento humano e suas 
implicações na prática profissional do Assistente Social. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
COELHO, W. F. Psicologia do desenvolvimento . São Paulo: Pearson 
Education do Brasil, 2014. 
DEVAL, J. O desenvolvimento psicológico humano . Tradução de Ricardo A. 
Rosenbusch. Petrópolis: Vozes, 2013. 
FROTA, A. M. M. C. Diferentes concepções da infância e adolescência: a 
importância da historicidade para sua construção. Estud. Pesqui. Psicol. , Rio 
de Janeiro, 7, n. 1, jun. 2007. Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812007000100013&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 ago. 2018. 
PINHEIRO, M. Comportamento humano: interação entre genes e ambiente. 
Educ ação em Revista , Curitiba, n. 10, p. 53-57, dez. 1994. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
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QUADROS, E. de. Psicologia e desenvolvimento humano . Petrópolis: Vozes, 
2017. 
SANTOS, B. S.; ANTUNES, D. D. Vida adulta, processos motivacionais e 
diversidade. Estud. Pesqui. Psicol ., Porto Alegre, ano XXX, n. 1 (61), p. 149-
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http://meriva.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/8579/2/Vida_Adulta_processos_motivacionais_e_diversidade.pdf
http://meriva.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/8579/2/Vida_Adulta_processos_motivacionais_e_diversidade.pdf
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISCIPLINA: 
LINGUAGEM E PRODUÇÃO DE 
TEXTO 
AULA 3