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BARISCH, Eron José de Abreu. Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar): livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2014. 
p. 15-38.
1
Objetivos de aprendizagem
 � Compreender a importância da atitude mental e 
emocional em situações de emergência e sobrevivência.
 � Entender o medo e o pânico decorrentes de um pouso 
forçado na selva ou no mar, e como lidar com eles.
 � Reconhecer os sentimentos de solidão e de 
aborrecimento em ambientes hostis de sobrevivência, e 
aprender a evitá-los.
 � Entender e valorizar os aspectos psicológicos da 
sobrevivência na selva e no mar.
Seções de estudo
Seção 1 Onde o espírito comanda
Seção 2 O medo e o pânico
Seção 3 A solidão e o aborrecimento
UNIDADE 1
A psicologia da sobrevivência
16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Ninguém consegue estar sempre e completamente 
preparado para uma situação de sobrevivência. Se tiver 
sorte, a pessoa poderá ter acesso a um equipamento de 
sobrevivência, a uma espingarda ou a um machado. 
(BOSWELL, 1980, p. 2). 
Se tiver mais sorte ainda, já terá estudado sobre este assunto 
e possuirá muitos conhecimentos e técnicas, alguns que serão 
descritos neste livro. 
Porém, 
[...] independentemente da sorte e dos conhecimentos 
que uma pessoa possa ter, encontrar-se subitamente 
isolado numa área desolada do mundo é um choque para 
o sistema humano como um todo - não só emocional e 
mentalmente, mas também fisicamente. (BOSWELL, 
1980, p. 2).
Mas o que é importante para sobreviver nestas 
condições? O que vem a ser o medo, o pânico, o 
sentimento de solidão, os aborrecimentos durante uma 
situação de sobrevivência? 
Em nossa jornada por esta Unidade de estudo, poderemos 
responder a várias perguntas como essas. Mas para isso, é 
preciso conhecer a psicologia da sobrevivência, pois as pessoas 
submetidas a essas situações terão que combater o medo, o 
pânico, assim como a solidão e os aborrecimentos, muito comuns 
e altamente prejudiciais durante uma sobrevivência real.
Podemos considerar que a capacidade de sobrevivência reside 
amplamente numa atitude mental positiva e adequada 
para enfrentar situações de emergência e perturbadoras da 
estabilidade emocional, pois é muito comum existir sofrimentos 
físicos e psicológicos decorrentes de acidentes; além da fadiga, 
fome, sede, frio, calor e diversos outros fatores que contribuirão 
para testar a nossa vontade de querer continuar a viver. 
17
Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
Será dentro deste contexto que abordaremos as próximas Seções 
desta primeira Unidade, visando a contribuir com o total sucesso 
em uma sobrevivência real. 
Seção 1 – Onde o espírito comanda
Em situações e condições extremas, a vontade de sobreviver 
é posta duramente à prova. Sem essa vontade de viver, todo o 
conhecimento sobre técnicas de sobrevivência poderá ser inútil. 
Não correr riscos desnecessários é muito importante. Somos 
a chave da nossa própria sobrevivência e atitudes impensadas 
dão lugar a ferimentos ou a algum tipo de incapacidade que nos 
limitarão a eficiência.
É preciso muito mais do que apenas saber conseguir 
comida, água, construir abrigos e fazer fogueiras 
para sobreviver em uma situação crítica. Em vários 
casos, pessoas bem equipadas e com habilidades úteis 
pereceram, [enquanto] outras, com menos conhecimento 
e equipamento, saíram vivas. (PREPARO, 2012). 
Mas o que fez a diferença nesses casos? Por que 
algumas sobreviveram? 
Porque elas tinham vontade de viver. 
1.1 - A vontade de sobreviver 
“Embora seja um tema citado, mas pouco explorado na literatura 
existente, há toda uma área dentro da Psicologia para tratar de 
sobrevivência.” (PREAPARO, 2012). A atitude mental de uma 
pessoa irá definir se ela tem chances de sobreviver ou se já está 
condenada a perecer na situação em que se encontra. Todos nós já 
temos certa ciência que se nos encontrarmos numa situação em que 
18
Universidade do Sul de Santa Catarina
as práticas de sobrevivência devem ser utilizadas, não será nada fácil 
fazer isso sem uma atitude mental e psicológica positiva. Por sorte, 
poderemos ter um de nossos kits ou, quem sabe, uma faca, porém, 
se não tivermos uma boa atitude mental, além do conhecimento e 
do treinamento desejável, pouco ou nada vai adiantar termos 
esses recursos à mão. Por isso, é bom compreendermos 
alguns princípios da “psicologia da sobrevivência”.
“Uma preparação psicológica adequada, anterior, pode dar à 
vítima uma forte proteção mental tendo em vista a ultrapassagem 
da sua situação de sobrevivência.” (BOSWELL, 1980, p. 2). 
Obtenha tantas informações quantas conseguir. Serão muito úteis 
se um dia precisar. O conhecimento das técnicas de sobrevivência 
dá confiança e controle psicológico e o ajudará a controlar o 
ambiente de sobrevivência.
Quando falamos de sobrevivência, o principal assunto que nos 
vem em mente é o conhecimento de técnicas de sobrevivência. 
Porém, este é o menor de todos os problemas para uma pessoa 
que se encontra em situação de risco.
Como dito anteriormente, um dos importantes assuntos que é 
quase sempre citado, mas pouco explorado em livros e manuais 
de sobrevivência, é o fator psicológico. 
As duas grandes ameaças à sobrevivência vêm da 
nossa própria mente. São elas o desejo de conforto 
e uma atitude passiva. Se não forem rapidamente 
contornadas, podem resultar na desmoralização e na 
morte dos sobreviventes. O desejo de conforto é uma 
consequência das condições da vida urbana moderna. Os 
padrões da vida ocidental tornaram as pessoas “moles”, 
no sentido de que são, na sua maioria, desviadas das 
ameaças da natureza e do ambiente. Muitos de nós 
vivemos e trabalhamos em edifícios quentes e seguros, 
tendo acesso a cuidados de saúde sofisticados, dispondo 
de água e comida de forma garantida. Num cenário 
de emergência e sobrevivência, não teremos acesso a 
nenhuma dessas comodidades, pelo menos no início. O 
súbito desaparecimento dos confortos que temos como 
garantidos constitui um grande choque para o organismo 
e pode conduzir a uma séria desmoralização. Como 
devemos então combater a angústia mental causada pela 
perda daquilo tudo que consideramos essencial para a 
vida? (ATITUDE, 2012, grifo nosso). 
19
Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
Acidentes, mortes ou grandes riscos podem estar presentes. É aí 
que tem início o maior teste de sobrevivência: 
 � a sobrevivência emocional;
 � a sobrevivência mental. 
A sobrevivência do ser humano põe em jogo a sua racionalidade, 
constituída não apenas pelas capacidades cognitivas, mas também 
pelas emoções, em que a orientação é dada pela procura de prazer 
e pela fuga ao sofrimento.
Primeiro, temos que nos convencer de que os 
confortos do estilo ocidental não são essenciais para 
a sobrevivência. Temos que ser obstinados. Podemos 
sobreviver perfeitamente sem o ar condicionado, sem a 
comida plástica e sem a televisão.
Em segundo lugar, precisamos entender que o 
desconforto que sentimos presentemente não será nada, 
comparado com o desconforto que experimentaremos se 
simplesmente nos sentarmos a lamentar-nos e nada fazer.
A atitude passiva é também uma consequência de se viver 
no Ocidente. Como resultado de se viver em estados 
normalizados, as pessoas acabam por não precisar tomar 
decisões de vida ou de morte. A decisão pessoal de cada 
pessoa está reduzida ao mundano e ao banal e a iniciativa 
é suprimida assumindo a maioria das pessoas uma 
atitude passiva. Numa situação de sobrevivência podemos 
ficar entregues a nós próprios e seremos forçados a 
tomar importantes decisões. Se esta perspectiva parece 
assustadora, convém lembrar que o resultado de não se 
fazer nada será provavelmente muito pior, a nossa morte. 
No entanto, podemos tomar o controle da situação e 
sobreviver, o que, como é óbvio, será bem preferível. 
(ATITUDE, 2012).
Alguns podem dizer que a saúde e o controle mental e 
emocional de nada servem se a pessoa não estiver preparada 
física e tecnicamente. A esses,pode-se dizer que são maiores as 
possibilidades de sobrevivência a um indivíduo que não detém 
conhecimentos técnicos, porém, consegue lidar com o fato e 
todos os pesos da situação. Diferente de alguém que possa estar 
extremamente preparado tecnicamente, mas não possui nenhum 
controle sobre suas emoções numa situação dessas. 
20
Universidade do Sul de Santa Catarina
O primeiro indivíduo, mesmo sem conhecimentos, conseguiria 
analisar toda sua situação e as possibilidades e, a partir disso, 
descobrir as melhores formas para se adaptar e conseguir transpor 
as dificuldades. O segundo indivíduo poderia facilmente entrar 
em pânico ou choque. O nervosismo e o medo poderiam tomar 
conta de tal forma que ele não saberia o que fazer. Nesse sentido, 
todo conhecimento técnico seria em vão.
Você sabia que Febre da Selva é o nome dado à 
condição de instabilidade psicológica que uma 
experiência de isolamento na selva pode proporcionar 
à pessoa ou grupo de pessoas que se encontra em uma 
situação adversa? 
Muitas são as histórias que giram em torno desse problema, bem 
comum em quem se encontra numa condição invulgar. Desde 
soldados que realmente surtaram em suas situações traumáticas 
de guerra, como simples aventureiros que se perderam em meio 
a alguma caminhada em território selvagem, ou até mesmo, 
pessoas sobreviventes de desastres, que se encontravam em 
lugares inóspitos. (SOBRE, 2011). 
Como exemplo, há o caso de um professor universitário 
que, sobrevoando as savanas africanas, caiu com seu 
aeroplano. Perdido durante meses na mata, para que 
sua mente não entrasse em colapso, o professor dava 
aulas regularmente a um grupo de seres inanimados 
(tais como tocos de árvores ou pedras). Tudo isso, para 
não enlouquecer diante de todo aquele isolamento.É 
muito provável que essa atitude tenha sido o fator 
preponderante para que as chances de sobrevida dele 
fossem maiores. (SOBRE, 2011).
Em contrapartida, há relatos de pessoas que, mesmo depois de 
resgatadas, vinham a falecer no hospital, durante o processo de 
reabilitação - tudo porque haviam perdido a vontade de viver. 
(SOBRE, 2011). 
21
Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
A matéria de Ricardo Franzen, [...] comenta que “os 
corredores de fundo e meio-fundo falam de «O Urso» 
que os obceca.. Após ter percorrido escassas centenas de 
metros, o corredor perde a passada, abandona a posição 
típica de corredor e começa a abrandar de maneira 
evidente, pois se sentiu dominado pela dor, ou pelas 
cãibras, ou pela fadiga, e perdeu a vontade de vencer. 
Em situações de sobrevivência, sucede muitas vezes o 
mesmo fenômeno, só que neste caso a questão é muito 
mais importante que ganhar ou perder uma prova de 
atletismo. Há casos registrados de pessoas que foram 
recuperadas e tratadas de todas as doenças e que, depois, 
morreram no hospital. Tinham perdido a vontade de viver. 
As experiências de centenas de militares isolados 
em combate na segunda guerra mundial, na Coreia 
e no Vietnam, demonstram que a sobrevivência é, 
fundamentalmente, uma questão de perspectiva mental. 
A vontade de sobreviver é o fator mais importante. Quer 
esteja integrado num grupo, ou sozinho, experimentará 
problemas emocionais derivados do choque, do medo, do 
desespero e da solidão. Além destes perigos mentais, a 
lesão e a dor, a fadiga, a fome ou a sede pesam na vontade 
de viver. Se não estiver mentalmente preparado para 
vencer todos os obstáculos e esperar o pior, as hipóteses 
de sair com vida são grandemente reduzidas. 
Entrevistas com milhares de sobreviventes dos campos 
de concentração alemães da segunda guerra mundial 
demonstraram a extraordinária capacidade de resistência 
do corpo humano quando guiado pelo espírito. Os nossos 
corpos são máquinas muito complexas, mas, mesmo 
quando submetidos às mais confusas e degradantes 
condições, a vontade de viver pode sustentar o processo 
da vida. As necessidades do corpo em energia proveniente 
dos alimentos podem ser reduzidas praticamente a zero 
durante um dado período de tempo. Sobreviventes dos 
campos de concentração alemães disseram que a vida, 
mesmo sob condições inumanas, valia a pena ser vivida. 
Em muitos casos, apenas este espírito lhes garantiu a 
sobrevivência. (BOSWELL, 1980, p. 2)
A grande maioria dos manuais de sobrevivência não dá muita 
importância a um fator que pode ser considerado como um dos 
principais: a força de vontade. O Manual de Sobrevivência das 
Forças Armadas Americanas (BOSWELL, 1980), por exemplo, 
faz algumas referências ao assunto, mas trata, principalmente, 
de mostrar como se faz vários tipos de abrigos, como se pesca, 
como se caça, a fazer armadilhas para animais, fazer fogo 
22
Universidade do Sul de Santa Catarina
atritando madeiras e pedras, como se faz os diversos primeiros 
socorros, como se orientar pelo sol e pelas estrelas, mostra os 
animais e plantas perigosos etc. Tudo muito importante, mas de 
pouca utilidade prática num pouso forçado em região de selva 
ou de mar, colocando os sobreviventes ao acidente, tripulantes, 
passageiros apavorados e sem treinamento, frente às reais situações 
de sofrimento físico e psicológico, além da possibilidade de haver 
mortos e feridos entre eles, o que agrava mais ainda a situação.
A visão do local, o entendimento da situação e o estilo de 
pensamento têm um papel, muitas vezes, mais importante do que 
o seu equipamento ou treino. Tudo bem que o equipamento de 
sobrevivência vai nos trazer um pouco mais de segurança, mas o 
nosso equilíbrio psicológico estará sempre nos acompanhando e 
guiando nossas ações. 
De acordo com Freire (2011), alguns princípios, quando 
observados, podem fazer muita diferença nessas horas:
 � Passos pequenos e seguros: a forma de dividir eventos 
em tarefas mais pequenas e simples é a forma mais eficaz 
e segura em situações de emergência. Focar-se apenas 
em uma tarefa por vez é essencial para se pensar com 
clareza, mesmo que outros fatores o atrapalhem. O 
importante é dividir tudo em pequenos passos, de acordo 
com as prioridades.
 � Evitar o pessimismo: a negação é um fator quase 
universal, mesmo para quem tem muito treino. Pensamos 
em fatos e alternativas muito pouco prováveis para 
sairmos da situação que nos encontramos. É importante 
ver as coisas como elas realmente são, tentando não fugir 
da realidade.
 � Cantar uma música: quando estamos em uma situação 
ruim, é comum pensarmos “coisas ruins”. A melhor 
atitude a se tomar é pensar positivamente. Cante 
uma música que goste e que o faça relaxar por alguns 
instantes.
 � Não cantar vitória antes do tempo: se você escalar 
uma montanha e chegou até o topo, comemore por ter 
chegado lá, mas lembre-se de que está na metade do 
caminho. Existe toda a volta, seu corpo e mente já estão 
Por exemplo: Achar que não está 
perdido ou que a paisagem só 
mudou desde a última vez que 
estive aqui.
23
Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
muito cansados e você tem menos tempo disponível. 
Então, esperar até tudo estar no controle ou no ponto de 
partida é muito importante.
 � Sair da zona de conforto: as rotinas nos poupam de 
trabalho e pensamento, mas danificam a nossa forma de 
pensar e agir, tornando-nos menos adaptáveis. Qualquer 
atividade fora do comum, como escrever com a mão 
que você não escreve, é um bom exercício para manter o 
cérebro ativo e adaptável a novas atividades. Viver de rotina 
enfraquece a nossa capacidade de reação e adaptação.
 � Pensar no risco: é importante saber se o risco que 
estamos prestes a correr não é uma questão de teimosia 
ou obsessão. Uma boa forma de evitar isso é traçar uma 
linha para delimitar nosso limite. Com a pré-definição 
dessas linhas, se algo acontecer, saberemos qual atitude 
correta tomar.
 � Ter calma: isso não significa “relaxar embaixo de uma 
árvore”, mas o excesso de pressão faz você se irritar mais 
facilmente, pensar menos e agir por impulso, o que se 
torna uma péssima combinação de ações. Aprenda com 
os contratempose com os erros, pense no que ocorreu 
de errado e tente corrigir. Utilize o bom senso para 
determinar o que é certo e seguro, mas não deixe o medo 
e o pânico o dominar.
Essas são técnicas simples que podem ser praticadas no seu dia a 
dia. Quanto mais vezes você repetir e se preparar, mais êxito você 
terá nas suas atitudes. A sobrevivência depende muito de uma 
atitude mental adaptada ao ambiente no qual a pessoa se encontra. 
Estar preparado envolve conhecer suas reações em um 
ambiente de sobrevivência e trabalhar para que essas 
reações se tornem produtivas ao invés de destrutivas. O 
desafio de sobrevivência produziu inúmeros exemplos de 
heroísmo, coragem e auto-sacrifício e, principalmente, 
vontade de viver. Estas são as qualidades que uma situação 
de sobrevivência pode trazer à tona, se a pessoa estiver 
devidamente preparada. Há muitos conhecimentos básicos 
em sobrevivencialismo que podem fazer a diferença em 
uma situação real. (PREPARO, 2012). 
E seu principal lema é: não desista nunca!
24
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 2 – O medo e o pânico
Quase todos os que se viram perdidos, isolados e 
separados da civilização experimentaram medo do 
desconhecido, medo da dor e do desconforto, medo das 
suas próprias fraquezas. Em tais condições, o medo não 
é apenas normal, é também saudável. O medo aguça-nos 
os sentidos e leva-nos a potenciar os perigos e os riscos. 
O medo é o aumento natural da adrenalina existente 
em todos os mamíferos e que atua como um mecanismo 
de defesa contra o que é hostil ou desconhecido. Mas 
o medo tem de ser dominado e convenientemente 
orientado, ou pode levar ao pânico. O pânico é a 
resposta mais destrutiva a uma situação de sobrevivência. 
Dissipam-se energias, a racionalidade é enfraquecida 
ou mesmo destruída e torna-se impossível dar qualquer 
passo positivo no sentido da nossa própria sobrevivência. 
[O medo e] o pânico podem levar ao desespero, o qual 
pode começar por quebrar a nossa vontade de sobreviver.
(BOSWELL, 1980, p. 3).
Sendo assim, precisamos conhecê-los um pouco mais e saber 
como combatê-los. 
2.1 - Entendendo e dominando o medo e o pânico
Conforme Scardua (2011), 
Para a grande maioria dos nossos antepassados, só havia 
dois comportamentos possíveis diante do perigo: lutar ou 
fugir! Mas, por incrível que pareça, a resposta fisiológica 
desencadeada pelo corpo diante de uma ameaça é 
sempre a mesma, e não importa se a nossa escolha é lutar 
ou fugir. Quando nos vemos diante de uma situação 
que nos ameaça, quando nos sentimos amedrontados, 
pressionados e desafiados, nosso corpo reage exatamente 
como o dos nossos ancestrais das cavernas: a taxa de 
adrenalina no sangue sobe, nossa musculatura se contrai, 
o coração bate mais forte e a circulação de sangue no 
organismo aumenta; transpiramos, nossas pupilas se 
dilatam, nossas narinas se expandem para absorver mais 
oxigênio… Resumindo: o nosso corpo nos prepara para 
enfrentar o perigo, seja ele real ou imaginário. Toda essa 
25
Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
preparação física serve igualmente para o embate “corpo 
a corpo” e para o estratégico “sebo nas canelas”. Tanto 
correr quanto lutar exige tonicidade muscular, acuidade 
visual, maior quantidade de sangue irrigando nossas veias 
e maior oxigenação dos pulmões. 
Para explicar quais as consequências dessas alterações em nossos 
corpos, Scardua (2011) continua:
A reação fisiológica ao medo é uma estratégia de 
sobrevivência que a espécie humana desenvolveu para 
enfrentar os desafios do ambiente. Pense numa coisa 
bem simples: se os nossos antepassados não tivessem 
reagido às ameaças do ambiente nós não estaríamos 
aqui, nem eu escrevendo e nem você lendo. Quando lutar 
fisicamente contra a ameaça era possível, as mudanças 
corporais permitiam aos nossos ancestrais partir para 
a briga. Quando a ameaça era maior, mais forte ou 
mais poderosa que um humano, a única alternativa de 
sobrevivência era fugir. 
Vejamos o seguinte caso:
O médico francês Alain Bombard sempre foi aficionado pelas 
histórias de vítimas de desastres marítimos – histórias em que 
o desfecho é muitas vezes o suicídio para evitar a agonia de 
esperar por socorro. E, exatamente por isso, decidiu virar um 
náufrago. No dia 22 de outubro de 1952, o médico partiu das 
ilhas Canárias, na costa da Espanha, para passar quantos dias 
fossem necessários no mar. Seu objetivo era provar que é possível 
sobreviver no oceano e que as mortes em alto-mar são quase 
sempre desnecessárias, provocadas mais pela ignorância e pelo 
desespero do que pela falência física. Depois de 62 dias à deriva, 
Bombard desembarcou nas ilhas Barbados, no Caribe. Durante 
a jornada, alimentou-se dos peixes que pescava e do plâncton 
que coletava (a lancha pneumática que usou estava equipada com 
varas e redes de pescar). Emagreceu 24 quilos, teve problemas 
de visão e delírios de consciência. No fim, concluiu que resistir 
havia sido bem mais difícil do que imaginava: “Quando se 
está à deriva, a metade do tempo se passa temendo a morte. A 
outra metade, desejando-a”. Mas não foi só isso que Bombard 
aprendeu. Sua experiência provou que a vida à deriva é suportável 
desde que o náufrago se valha dos recursos que o próprio oceano 
26
Universidade do Sul de Santa Catarina
oferece. Ele, por exemplo, livrou-se do escorbuto (carência 
de vitamina C), da mesma forma que as baleias: comendo 
plâncton. Seus registros minuciosos foram úteis para dezenas de 
marinheiros. Até sua morte, Bombard recebia numerosas cartas 
agradecendo suas dicas. (MONTENEGRO, 2005). 
Como o médico francês, os sobreviventes de naufrágios 
costumam escrever testemunhos detalhados do que viveram. Na 
Revista Superinteressante supracitada estão reunidas experiências 
impressionantes desses heróis da resistência – homens que 
tiveram que enfrentar situações tão limites quanto o canibalismo 
–, pelas quais aprendemos o que é preciso fazer na metade do 
tempo em que estivermos lutando contra a morte. 
Se pensarmos bem e com clareza, 
[...] numa situação de medo, ele pode ser um catalisador 
saudável para que possamos evoluir psicológica e 
fisicamente. O medo nos aguça os sentidos e, assim, nos 
faz que potencializemos nossa capacidade de enfrentar 
o perigo e o risco - funciona como o mecanismo que 
libera em nossa composição a adrenalina, fazendo com 
que funcione como um mecanismo de defesa ao que 
é hostil e perigoso. Todos os mamíferos são dotados 
deste mecanismo. Porém, se  o medo não for dominado 
e controlado, pode transformar-se numa das armas 
contra nós mesmos, o pânico. O pânico é o medo 
manifestando-se na forma mais aguda. É avassalador e 
destrutivo. Dissipam-se as energias e a racionalidade é 
completamente enfraquecida. (SOBRE, 2010). 
Torna-se impraticável sobreviver num ambiente hostil ao indivíduo 
desacostumado e em pânico, como tripulantes e passageiros que 
tenham sido vítimas de pouso forçado na selva ou no mar.
Só resta que sempre estejamos preparados para o que der e 
vier, com a máxima frieza possível, para, assim, combatermos a 
hostilidade de um ambiente de sobrevivência. 
Podem ser dados, mentalmente, vários passos para 
fazerem do medo um aliado e tornarem o pânico uma 
impossibilidade. Como já foi dito, a preparação e o 
conhecimento das técnicas de sobrevivência instilam 
confiança e levam não só ao autocontrole, mas também 
27
Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
ao controle do ambiente que nos rodeia. Além disso, 
é importante ocupar imediatamente o espírito com 
a análise da situação e com as tarefas imediatas de 
sobrevivência. (BOSWELL, 1980, p. 3).
Imagine-se numa situação de pouso forçado na selva ou no 
mar, o que você poderá perguntar a si mesmo para manter uma 
consciência sobre a sua realidade e começar a agir positivamente?  
Estou ferido? Quais as medidas de primeiros socorros 
de emergência que preciso tomar? Qual a situação dos 
outros membros do meu grupo quanto a ferimentos? 
Quais sãoos perigos imediatos? Há algo da situação 
anterior à atual que me diga onde estou e qual a melhor 
maneira de sobreviver? Estou perto de água? [Tenho] 
comida? Quais as condições [do local onde me encontro]? 
[O] que [...] há à minha volta que possa me ajudar a 
sobreviver? (BOSWELL, 1980, p. 3).
As seguintes ações/atitudes poderão auxiliá-lo nesses momentos:
 � priorização;
 � improvisação;
 � valorização da vida;
 � interação;
 � lembrar das técnicas de sobrevivência. 
Priorizar coisas importantes que precisam ser feitas, além de 
reconhecer o local onde você se encontra são ações essenciais. 
Dicas do Manual de Boswell (1980, p. 3): 
Não se apresse sem [que os objetivos ou direções estejam 
bem definidos]. Sem estar completamente inteirado 
da situação, é importante conservar as energias. Em 
condições de sobrevivência, a energia é mais preciosa 
que o tempo (exceto em emergência médica). Não se 
empenhe em atividades físicas até ter um plano e tarefas 
específicas a realizar. As atividades inúteis podem 
28
Universidade do Sul de Santa Catarina
criar uma sensação de desamparo que poderá conduzir, 
posteriormente, ao pânico. [...] Muito provavelmente, 
terá de e deslocar-se a alguma distancia da sua posição 
inicial [para coletar água e alimentos silvestres]. A 
familiarização dá segurança, e nada há mais prejudicial 
numa situação de sobrevivência que «perder» o seu ponto 
inicial ou acampamento. Tome nota das imediações, 
das características topográficas fora de comum, etc., e 
fotografe-as na memória. Quando sair do acampamento, 
assinale o trilho para poder regressar pelos seus próprios 
passos. Saber onde se está, mesmo que apenas em 
referencia às imediações, aumentará as suas hipóteses de 
ser encontrado e resgatado.
Outro aspecto, talvez mais complicado, é o de vencer o medo e/
ou o pânico.
[…] é importante ocupar imediatamente o nosso espírito 
com a análise da situação e com as tarefas imediatas 
de sobrevivência. É conveniente e possível aceitar o 
medo como algo natural, e, portanto, criar resistências 
perante este, é uma total perda de tempo e infrutífero, 
pois, na verdade, se não existisse o medo, para que 
serviria a coragem? Lutar contra o medo apenas serve 
para criar resistência, produzir ansiedade, nervosismo 
e insegurança, e com isso, diminuir a qualidade na 
execução das nossas tarefas.
Assim, o medo deve ser absorvido com naturalidade e 
transformado em algo positivo. Assim sendo, o medo 
servirá para nos mantermos em alerta e mostrar o quanto 
devemos ser precavidos: serve para nos prepararmos. 
Além disso, o medo ajuda-nos a autoavaliar treinos 
e competências, verificar estratégias, equipamentos e 
procedimentos. Sem medo, podemos ficar impulsivos, 
arrogantes e negligentes. Como consequência, 
experimentar derrotas e, em alguns casos, tragédias 
inesperadas.
Em muitas situações, é o medo que nos impele a 
pesquisar informações e, com essa atitude, acabamos por 
dominá-lo naturalmente. Sem informações adequadas, 
o desconhecido ganha forças ilusórias e potencializa o 
medo.
O medo é o amigo silencioso que nos faz planear ações e 
preparar o nosso corpo e mente para o enfrentarmos.
29
Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
Quando respondermos positivamente às seguintes 
perguntas, o medo passará a ser um grande aliado e 
deixará de ser um obstáculo:
. Tenho medo por quê…?
. Será que estou realmente preparado?
. O desafio é proporcional às minhas habilidades 
psicofisiológicas?
. Tenho um bom plano de ações?
. O meu equipamento é adequado?
. Conheço bem as adversidades que enfrentarei?
. Sob risco, consigo vislumbrar o sucesso?
Todas as pessoas estão sujeitas ao medo. Os mais 
corajosos aceitam o medo como parte integrante da vida, 
aliam-se a ele e, portanto preparam-se disciplinadamente 
para o desafio e com o ímpeto, vão em frente. Como 
resultado dessa atitude, essas pessoas conhecem o outro 
lado do medo: a liberdade! (ATITUDE, 2012).
Na selva pode-se encontrar, provavelmente, muitas coisas no seu 
raio de ação imediato. Coisas que o auxiliarão a sobreviver, desde 
que se tenha em mente o princípio da improvisação. 
Quanto mais inventivo e criativo for, tanto mais 
confortável se tornará a sua situação. [As suas prioridades 
devem ser analisadas e as referências alteradas]. Uma 
árvore deixa de ser uma árvore e transforma-se numa 
fonte potencial de comida, de combustível, de proteção, 
de abrigo e de vestuário. (BOSWELL, 1980, p. 3). 
Procure conhecer bem o local em que se encontra e suas 
imediações. Muitos dos objetos naturais poderão se transformar 
em instrumentos de sobrevivência.
O uso da imaginação, o empenho, o bom senso e o moral 
elevado, além do instinto de preservação são fatores valiosos 
nessas horas. Assim deverá ser considerada a improvisação, como 
condição muito importante para uma sobrevivência na selva ou 
noutro ambiente, buscando obter e administrar as necessidades 
básicas do corpo humano: água, alimentos e proteção. 
30
Universidade do Sul de Santa Catarina
Voltamos ao quesito básico e essencial da valorização da vida. 
Não se pode esquecer que o 
[...] instinto de sobrevivência é básico no homem e no 
animal e tem constituído o alicerce da maior parte das 
revoluções culturais e tecnológicas através da história. 
Em condições extremas, a vontade de sobreviver pode ser 
posta duramente à prova. Se perder a vontade de viver, 
todo o conhecimento sobre técnicas de sobrevivência será 
inútil. Não corra riscos desnecessários. Você é a chave 
da sua própria sobrevivência, e atitudes loucas dão lugar 
a ferimentos ou a algum tipo de incapacidade que lhe 
limitarão a eficiência. (BOSWELL, 1980, p. 3). 
Para manter-se vivo também é necessário aprender a interagir 
com os povos de culturas diferentes, como os indígenas, por 
exemplo.
Pode-se encontrar [indígenas] em muitas áreas [da 
Amazônia], afastadas da civilização. Normalmente, os 
grupos tribais e de nativos primitivos não são hostis; 
contudo, aproxime-se deles com cautela. Eles conhecem 
o território: onde encontrar água, zonas de abrigo, 
alimentação, o caminho para a civilização. Tenha 
cuidado para não os ofender. Eles podem salvar-lhe a 
vida. (BOSWELL, 1980, p. 3). 
E, por fim, deve-se lembrar das técnicas e orientações de 
sobrevivência. Aprendemos no Manual de Boswell (1980), 
alguns conceitos, conhecimentos e técnicas básicas de 
sobrevivência. As tripulações aéreas realizam diversos cursos e 
estágios sobre sobrevivência na selva e no mar. Mas aprender é 
fazer, é praticar. Sabemos que é necessário repetir, quantas vezes 
possíveis, as tarefas e técnicas básicas, para que a exceção delas se 
torne exímia. 
A sobrevivência é uma atitude mental positiva para 
consigo e para com o seu ambiente. Depois da análise 
dos tópicos indicados anteriormente, terá já estabelecido 
uma orientação inicial para as suas ações de sobrevivência 
e para algumas tarefas que valem a pena ser executadas. 
(BOSWELL, 1980, p. 4). 
31
Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
Seção 3 - A solidão e o aborrecimento
A solidão e o aborrecimento são os meios-irmãos do 
medo e do pânico. Ao contrário deste último, não surgem 
súbita e furiosamente, mas lenta e desapercebidamente, 
normalmente depois de se terem executado todas as 
tarefas básicas de sobrevivência e das necessidades 
básicas - água, comida, abrigo e vestuário - terem sido 
satisfeitas. A solidão e o aborrecimento podem conduzir à 
depressão e minarem a vontade de sobreviver. O antídoto 
psicológico para a solidão e para o aborrecimento é o 
mesmo que para o medo e o pânico: manter o espírito 
ocupado. (BOSWELL, 1980, p. 4).
3.1 - Dominando solidão e aborrecimento
Na revista Super Interessante, edição de dezembro de 2005, 
Érica Montenegro cita que para combater a loucura provocada 
pela solidão, o pescador taitiano Tavae Raioaoa aproveitou seu 
naufrágio, em 2002, no Pacífico, como um momento de pausa na 
vida para fazer reflexões existenciais. Durante os 118 dias emque 
passou à deriva, em seu barco de pesca, Tavae fez um balanço de 
sua história pessoal, ou seja, embarcou em uma espécie de retiro 
espiritual gratuito – prática pela qual muita gente anda pagando 
as maiores fortunas hoje em dia.
O balanço lhe deu forças para continuar vivo. Parece que 
pessoas que têm compromissos firmes com a vida enxergam 
as tragédias como meros obstáculos a serem ultrapassados. Foi 
exatamente o que salvou Tavae. Ele encarou o naufrágio como 
uma consequência de seu povo ter trocado o mar pelas tentações 
hedonistas oferecidas pelos colonizadores e resolveu pagar a 
penitência de cabeça erguida.
A monotonia de não ter nada a fazer a não ser esperar 
por socorro obrigou Tavae a entrar em contato profundo 
consigo mesmo e com a natureza que o rodeava. “Cada 
nascer do dia me dava esperanças”, escreveu no livro 
Tão longe do Mundo, em que conta sua experiência, O 
momento mais difícil foi quando acabou o estoque de 
água doce (ele não conhecia as dicas do biólogo e médico 
Doutrina moral em que a 
busca pelo prazer é o único 
propósito.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
francês Alain Bombard, o náufrago voluntário). Tavae 
estava morrendo quando uma chuva o salvou. Alternando 
momentos de sanidade com delírios de consciência, Tavae 
passava o tempo conversando com os peixes, com Deus, 
com seu passado e até com as partes de seu corpo. “Eu 
falava sem parar, negociava comigo mesmo para sentir 
menos dor.” De volta à terra firme, quase 4 meses depois, 
o pescador era outro homem: estava menos amargo e 
mais sábio. (MONTENEGRO, 2005). 
Mas quais as dicas de Bombard? De acordo com Montenegro (2005), 
[...] durante sua experiência como náufrago voluntário, 
Alain Bombard conseguiu driblar a total falta de água 
potável usando um expediente comum aos pescadores 
polinésios: espremer água dos peixes. Embora pouco 
atrativa, a água retirada da carne dos peixes tem uma 
concentração de sal muito baixa, bastante semelhante 
à que está em nosso corpo. Os peixes disponíveis, no 
entanto, não eram muito numerosos e a quantidade de 
água espremida era pouca para garantir a sobrevivência 
de Bombard. Assim, o médico francês decidiu usar o 
líquido doce para diluir a água do mar e fixou meio litro 
dessa água diluída por dia como uma quantidade segura 
para náufragos. Bombard também determinou que 
essa água deveria ser bebida em pequenas quantidades, 
continuamente. A teoria do médico era de que, na maior 
parte das vezes, pessoas à deriva se abstinham de beber 
qualquer coisa por muito tempo. Quando, desesperados, 
recorriam à água do mar, ingeriam uma quantidade 
muito grande e acabavam causando a inflamação dos rins. 
A consequência, pouco tempo demais, era uma morte 
bastante dolorosa.
Outro exemplo de combate à solidão é do americano Steve 
Callahan que, em pleno século 20, cruzava sozinho o 
Atlântico quando uma onda gigante empurrou o barco em 
que estava para o fundo do oceano. Apesar de todo o preparo 
da embarcação para situações de emergência, Callahan não 
teve tempo sequer de mandar um SOS. Em 1982, ele se viu 
tão vulnerável quanto os homens que se perdiam nos mares na 
época dos descobrimentos. Passou 76 dias à deriva em um bote 
e, para vencer a solidão e o aborrecimento, resolveu contar com 
a ajuda de um “capitão” imaginário. O “capitão” dava ordens, 
como: pescar, comer, arranjar o que beber, proteger-se do sol 
33
Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
e do frio, cuidar da própria segurança e da manutenção do 
bote. Também dava broncas na “tripulação” quando Callahan 
se mostrava desanimado ou aborrecido. Ele podia ouvir sua 
própria voz, declarou em entrevistas, já em terra firme. Com 
esse truque da própria cabeça, Callahan controlou a si mesmo 
e evitou a pior das agonias dos homens à deriva: a vontade de 
interromper o sofrimento físico e mental, afogando-se no mar. 
(CALLAHANS, 2007).
Seja sobrevivendo na selva ou no mar, 
[s]e nos encontrarmos sós numa situação em que a nossa 
vida corre perigo, a solidão sentida e o tédio consequente 
poderão afetar-nos psicologicamente e comprometer 
a nossa sobrevivência. Lentamente, o aborrecimento 
e a solidão podem fazer crescer dentro de nós algum 
medo, desespero, ansiedade ou mesmo pânico. O 
desânimo pode instalar-se e podemos mesmo perder 
a vontade de viver. O ideal é que nos mantenhamos 
ocupados, desempenhando tarefas, traçando planos e 
revendo-os, procurando ver o lado positivo da vida e 
das situações e, se preciso, lembrando as pessoas que 
nos são queridas e dedicar todo o nosso esforço e luta no 
desejo de reencontrá-las. Manter uma foto de família 
ou de amigos pode ser um elemento positivo nesta 
situação, ajudando-nos a focar na nossa sobrevivência. 
Desempenhar tarefas, estabelecer objetivos, agir de forma 
sempre focada na sobrevivência ajudará a ocupar a mente 
e a evitar o tédio. Se algumas tarefas não resultarem 
de forma tão satisfatória, devemos melhorá-las ao invés 
de nos sentirmos frustrados e desanimarmos com isso. 
(PSICOLOGIA, 2014).  
3.2 – Sobrevivendo em grupo
Sabemos, de antemão, que as hipóteses de sobrevivência 
em circunstâncias normais aumentam em grupo 
relativamente comparativamente com as hipóteses de 
um indivíduo sobreviver sozinho. A partilha e a divisão 
de tarefas, a mútua motivação, a proteção e a mutua 
ajuda, são pontos a favor que não existem quando temos 
de sobreviver sozinhos. No entanto, onde existem 
várias pessoas também existem várias opiniões. As 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
diferenças de opinião,, os desentendimentos e os conflitos 
podem surgir e irão surgir com toda a certeza O que é 
importante para que o grupo seja capaz de superar esses 
conflitos e trabalhar para o bem comum, a sobrevivência 
do grupo.
Para tal, é importante definir papéis, sendo o principal 
e que habitualmente se manifesta de forma natural e 
progressiva, o de líder. Se tal não ocorrer, o líder deve 
ser eleito pelo grupo. O reconhecimento dessa liderança 
é também vital e isso implica confiança. É natural 
que os papéis desempenhados estejam relacionados 
com o potencial de cada um, os seus conhecimentos 
e experiência. Por exemplo, se houver alguém com 
experiência em orientação, poderá ficar encarregado de 
conduzir o grupo. Ou ainda, quem tiver conhecimentos 
de suporte básico de vida, ficará responsável pela 
supervisão e manutenção da saúde dos elementos do 
grupo. É vital aproveitar as características e potencial 
de cada um. Isso permitirá ao grupo ganhar com esse 
conhecimento e experiência e, ao mesmo tempo, ajudará 
a manter cada um empenhado e ocupado em tarefas 
que também são do seu agrado. A comunicação deve ser 
mantida no grupo, o líder deve informar os restantes das 
principais decisões e estas devem ser acatadas, exceto 
se as mesmas colocarem, sem margem para dúvidas, o 
grupo em risco. (PSICOLOGIA, 2014). 
Já diz um velho ditado: “a união faz a força”. Medo, ansiedade, 
raiva, frustração, culpa, depressão, aborrecimentos e solidão são 
as possíveis e comuns reações psicológicas das pessoas frente às 
dificuldades de uma sobrevivência real. Mesmo fazendo parte de 
um grupo, o sentimento de solidão e desamparo pode dominar 
nossa mente Todas essas reações precisam ser controladas de uma 
forma saudável, mas como fazer isto? É lógico que, em situações 
de sobrevivência, será sempre melhor manter o espírito ocupado 
e realizar quaisquer tarefas úteis, por menores que sejam, do que 
assumir uma atitude apática e derrotada por reações psicológicas 
negativas, como as citadas. Sempre existirão tarefas a realizar. 
Trabalhar para o bem comum pode vir a ser a garantia da 
sobrevivência em grupo.
É importante estabelecer [....] prioridades e tarefas que 
minimizem o desconforto, melhorem as possibilidades 
de recolha e preparem a sobrevivência para um 
extenso período de tempo. Considere as emergências 
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Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) 
Unidade 1
inesperadas, embora possíveis, como operações decontingência e conceba planos e tarefas para lhes fazer 
frente. Estabeleça um programa. Um programa não é 
apenas uma forma de segurança; ocupa o espírito comas 
tarefas a executar. Fixe tarefas de longa duração, tais 
como a construção de um abrigo «permanente» e outras 
que têm de ser repetidas todos os dias, tal como escrever 
um diário. A solidão e o aborrecimento apenas podem 
existir na ausência de um pensamento e ação positivos. 
Numa situação de sobrevivência há sempre imenso 
trabalho que precisa de ser executado. [...]. A dinâmica 
de grupo pode ser quer uma ajuda, quer um risco para a 
sobrevivência individual. Obviamente, há mais mãos para 
executarem as tarefas necessárias e o contacto com outros 
seres humanos pode ser um apoio psicológico. Contudo, 
uma corrente é tão forte quanto o seu elo mais fraco e as 
dificuldades de sobrevivência podem ser multiplicadas 
pelo número de pessoas que se encontra mergulhado 
nelas. A sobrevivência do grupo também introduz um 
fator adicional potencialmente destrutivo: a discórdia. 
A discórdia tem de ser evitada a todo o custo. Tal como 
as reações individuais as situações de sobrevivência se 
tornam automáticas, também o mesmo tem de suceder 
com as do grupo. Se o seu grupo tomar em consideração 
os pontos a seguir indicados, as possibilidades de 
sobreviver e de ser resgatado serão grandemente 
aumentadas:
1) Organizem as atividades de sobrevivência do grupo. 
2) Reconheçam um chefe. 0 chefe deve atribuir missões 
individuais e manter o grupo informado sobre as 
atividades globais para a sobrevivência.
3) Desenvolvam no seio do grupo um sentimento de 
mútua dependência.
4) Sempre que possível, o grupo deve tomar decisões sob 
a direção do chefe. De qualquer modo, qualquer que seja 
a situação, o chefe tem de decidir e as suas ordens têm de 
ser acatadas. (BOSWELL, 1980, p. 4).
Em resumo de tudo que foi tratado nesta Seção, o antídoto para 
vencer a solidão e o aborrecimento, numa sobrevivência real em 
lugares inóspitos, seja na terra ou no mar, o mais importante 
será sempre manter o espírito ocupado, realizando tarefas úteis à 
sobrevivência.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Síntese
Nesta Unidade, você aprendeu sobre a importância de um 
comportamento mental e emocional positivos, frente a possíveis 
situações decorrentes de um pouso forçado na selva ou no mar, 
obrigando-o a sobreviver num ambiente hostil, até que possa ser 
resgatado.
Na continuidade dos assuntos abordados, conseguimos entender 
e reconhecer os sentimentos de medo e pânico, de solidão e 
de aborrecimentos, pois as pessoas submetidas a situações de 
sobrevivência precisarão combater estes sentimentos para não 
perderem a vontade de viver. Vimos que o uso da imaginação, o 
empenho, o bom senso e o moral elevado, além do instinto de 
preservação, são fatores preponderantes.
Finalmente, com os estudos empreendidos até aqui, alcançamos 
os conhecimentos teóricos básicos para a busca e manutenção do 
equilíbrio psicológico, extremamente necessário em situações 
reais de sobrevivência na selva ou no mar. Vimos que, entre 
outras coisas, o mais importante será sempre manter o espírito 
ocupado e não desistir nunca.
Lembremos, enfim, que viver é aprender o tempo todo, que 
novos conhecimentos nunca vão se esgotar e não ocupam espaço 
em nossa mente, que a teoria e a prática são complementos uma 
da outra, e que a sobrevivência em um ambiente hostil será muito 
menos sofrida, conforme nossa bagagem de conhecimentos e 
habilidades sobre este assunto, anteriormente adquiridos.
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Unidade 1
Atividades de autoavaliação
1. Conforme abordado nesta Unidade, considerando-se um cenário real de 
sobrevivência, quais seriam as duas grandes ameaças à sobrevivência 
que vêm da nossa própria mente? 
2. Foram destacados e citados, nesta Unidade, alguns princípios a serem 
seguidos para a manutenção do equilíbrio psicológico numa situação 
de sobrevivência. Quais são esses princípios?
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Saiba mais
BAR-ON, Reuven; PARKER, James D. A. Manual de 
inteligência emocional. Porto Alegre: ArtMed, 2002.
BOMBARD, Alain. Naufragé Voluntaire. Paris: Editora de 
Paris, 1958.
BRITO, Bernardo Gomes de. História Trágico-Marítima. Rio 
de Janeiro: Contraponto, 1998.
MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Relato de um Náufrago. São 
Paulo: Record, 1999.
PHILBRICK, Nathaniel. A Vingança da Baleia. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2003.
RAIOAOA, Tavae. Tão longe do Mundo. São Paulo: Planeta, 
2005.

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