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BARISCH, Eron José de Abreu. Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar): livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2014. p. 101-138. 3 Objetivos de aprendizagem � Conhecer os procedimentos imediatos por ocorrência de um pouso forçado no mar. � Compreender as ações mais recomendadas no bote salva-vidas. � Conhecer as medidas necessárias antes de um resgate no mar. Seções de estudo Seção 1 Orientações iniciais de sobrevivência no mar Seção 2 Ações dos náufragos no bote salva-vidas Seção 3 Procedimentos antes do resgate no mar UNIDADE 3 Conhecimentos básicos de sobrevivência no mar 102 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo As técnicas de sobrevivência no mar representam um conjunto de orientações de emergência que, compreendidas, treinadas e aplicadas em situações extremas, permitem às pessoas prolongar suas vidas e manterem-se física e mentalmente íntegras, enquanto aguardam socorro e resgate, ou até encontrarem uma saída para os problemas enfrentados. Acidentes com meio de transporte, terremotos, naufrágios, entre outros, são situações extremas de desastres que podem colocar as pessoas longe da vida civilizada e do socorro. Assim, os conhecimentos básicos de sobrevivência podem salvar a sua própria vida e a de outros que estejam em sua companhia. O treinamento de sobrevivência é uma das disciplinas fundamentais para as profissões sujeitas a acidentes, que levem ao enfrentamento de períodos em áreas inóspitas, seja na selva, seja no mar. É o caso das tripulações de aeronaves. Na fatalidade de um pouso forçado no mar, o mínimo desse conhecimento pode ser o fiel da balança entre a vida e a morte. Dentro desse contexto, podemos ter várias dúvidas, não é mesmo? O que fazer no caso de um pouso forçado no mar? Como enfrentar a sede e a fome? E se aparecerem tubarões, saberemos nos defender ou viraremos refeições deles? Existem procedimentos para quando formos resgatados? Na sequência desta Unidade, em nosso aprendizado, poderemos responder a essas e outras perguntas. Abordaremos recomendações e primeiras ações para o caso de um pouso forçado no mar, ao abandonar a aeronave sinistrada. Conheceremos um pouco sobre coletes e botes salva-vidas, sinalizações de emergência, alimentação e alguns perigos, e saberemos como melhor ocupar o tempo no bote salva-vidas. Veremos, também, alguns procedimentos importantes a serem observados para que o resgate dos náufragos, ao ocorrer, seja eficiente e seguro. 103 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 Assim, de forma básica e teórica, será possível conhecer muitas das várias técnicas e procedimentos adotados numa real sobrevivência no mar. Seção 1 – Orientações iniciais de sobrevivência no mar E agora, o que fazer? Figura 3.1 – Pouso forçado no mar Fonte: Vídeo (2009). Considerando que os aspectos psicológicos da sobrevivência na selva ou no mar já foram tratados na primeira Unidade deste livro, a sobrevivência no mar depende, ainda, de quatro condições muito importantes: � conhecimento teórico; � equipamento eficaz; � autodomínimo; � treino prático. 104 Universidade do Sul de Santa Catarina Em geral, a possibilidade de um grupo de indivíduos sobreviver no mar é determinada, também, por uma variedade de fatores tais como: meios de flutuação, proteção do corpo contra o frio provocado pelo vento e temperatura da água, sede, sol, desidratação e ainda casos de ataque de tubarões. (PORTUGAL, 2011, p. 43). Em caso de desastre no mar, tanto aéreo quanto marítimo, os conhecimentos básicos e as primeiras ações são importantíssimas para a sobrevivência dos náufragos. A cada ano surgem histórias de pessoas que sobreviveram perdidas no mar. Alguns conseguem chegar até uma ilha, outros ficam à deriva em barcos ou em botes salva-vidas durante dias, semanas ou até meses. “É impossível saber ao certo quantos naufrágios aconteceram ao longo da história, mas a Northern Maritime Research possui uma lista com mais de 100 mil casos nos últimos 400 anos.” (BRYANT, 1998-2014). Se você for vítima de um naufrágio, existem alguns passos que você pode seguir para aumentar suas possibilidades de sobrevivência e de ser resgatado. Vejamos, a seguir, quais são eles. 1.1 - Treinamento antecipado do aeronavegante Para as tripulações aéreas, o treinamento antecipado das técnicas de sobrevivência é vital. Há muitas razões para pensar que poderá vir a defrontar-se com o problema da sobrevivência no mar. O avião no qual as pessoas embarcaram pode, por vários motivos, ter que realizar um pouso de emergência no mar, motivado por: � falhas mecânicas; � falhas humanas; � tempestades; � incêndios; � colisões etc. 105 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 “A sobrevivência depende grandemente das rações e do equipamento disponíveis, do uso que fizer deles, dos seus conhecimentos e da sua imaginação”. (SOBREVIVÊNCIA, 2006-2013). As aeronaves de transporte de passageiros são equipadas com salva-vidas e botes de sobrevivência, bem como dos demais equipamentos adequados para a maior parte das emergências no mar. Conhecer esse equipamento, sua localização e como usá-lo é importantíssimo para todos os tripulantes de aeronaves. É necessário que eles conheçam a lista dos equipamentos de emergência e sobrevivência e como usá-los. Além disso, recebem treinamento sobre os procedimentos para abandono do avião e de comando a bordo do salva-vidas. Você sabia que o recorde de sobrevivência no mar pertence a um marinheiro chinês chamado Poon Lim? Após o torpedeamento do navio “Bem Lemond” permaneceu à deriva sobre uma balsa durante 134 dias, tendo sobrevivido à custa de peixes e água de chuva, sendo recolhido próximo à cidade de Belém do Pará. (POON, 2014). Mas o que se deve fazer após o abandono da aeronave? Segundo as orientações da Marinha do Brasil (SOBREVIVÊNCIA, 2013), realizado o pouso forçado no mar, diversas ações deverão ser feitas imediata e simultaneamente. Para que haja a simultaneidade de ações e para prevenir a ocorrência de pânico entre os sobreviventes, é necessário que um tripulante assuma, em primeiro lugar, o comando do abandono da aeronave, depois, a entrada dos passageiros nos botes salva-vidas e, por fim, coordene a distribuição de tarefas. Ao abandonar a aeronave, não se deve levar objetos de uso pessoal, nem qualquer tipo de bagagem. O mais importante nesse momento é a sua vida e a de seus companheiros. Havendo tempo, procure abastecer o bote de sobrevivência com água potável adicional. Entre no bote de sobrevivência, de preferência, seco. 106 Universidade do Sul de Santa Catarina Leve para o bote de sobrevivência apenas equipamentos úteis e disponíveis. De acordo com as orientações do site dos Bombeiros (MAR, [200-]), na sequência das primeiras ações, sozinho ou em grupo, dentro da água ou do bote salva-vidas, procure agir de acordo com as seguintes orientações: [...] Mantenha-se afastado da aeronave até que ela afunde; [...] Evite flutuar em áreas cobertas de óleo e/ ou combustíveis; [...] [Se ainda dentro da água,] procure os botes salva-vidas (que geralmente se inflam com o acionamento manual da válvula) ou, se não achá-los, apoie-se em destroços flutuantes; [...]. Também é importante que se faça uma busca rigorosa em toda a área onde pousou a aeronave, pois poderão existir sobreviventes flutuando sem sentidos, em estado de semi-afogamento. Se for verificada a existência de sobreviventes no mar, precisam ser resgatados. As técnicas usadas para essa ação, normalmente, são: � Tripulante, amarrado ao bote salva-vidas pela corda do anel de salvamento, vai a socorro de sobrevivente; � Tripulação joga, do bote salva-vidas, o anel de salvamento para o sobrevivente; e � Tripulante joga do bote salva-vidas, um colete salva– vidas amarrado à corda do anel de salvamento, para o sobrevivente. Vejamos a imagem de um anel de salvamento. Figura 3.2 - Anel de salvamentoFonte: Sobrevivência ([200-], p. 110). Por exemplo: equipamentos de comunicação (rádios portáteis), de sinalização (fumígenos e pirotécnicos), cobertores, entre outros. 107 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 Depois dessas primeiras ações, outras ações imediatas são necessárias: � verifique se há feridos, prestando os primeiros socorros a eles; � junte tudo o que puder do equipamento que flutua; � se estiver acompanhado de outros náufragos, mantenham-se juntos o tempo todo (dois ou mais botes são um ponto mais fácil de ser avistado por equipes de busca); � uma vez em segurança, tente selecionar e recolher quaisquer artigos que o ajudem a sobreviver, tais como pacotes com alimentos, água, aparelhos de transmissões etc; � caso o mar esteja agitado, mantenha o colete salva-vidas vestido; � estabeleça turnos de vigia com o objetivo principal de observar a aproximação de um navio ou aeronave; � não se exponha ao sol, principalmente sem roupas, pois os raios solares podem causar queimaduras graves. Improvise uma cobertura para sua embarcação de sobrevivência, caso não haja; � proceda à distribuição controlada das rações de sobrevivência – água e alimento; � evite fazer esforços desnecessários, pois isso aumentará o desgaste físico e a perda de água do corpo; � colabore nos esforços para manter a moral do grupo elevado; � deixe os sinalizadores de emergência preparados para funcionamento. Se houver âncora flutuante no bote, ela deve ser usada para facilitar a manutenção da posição inicial, facilitando as ações de busca e salvamento. Fumígenos e foguetes iluminativos, com paraquedas. 108 Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 3.3 - Âncora flutuante de bote salva-vidas Fonte: Sobrevivência ([200-], p. 108). Deve-se procurar manter uma distância segura da aeronave sinistrada. O afastamento deve ser suficiente para que não ocorra a sucção dos náufragos quando essa afundar, evitando, também, que sejam atingidos por algum objeto que se desprenda e venha à superfície. Outro fator que justifica o afastamento da aeronave é a possibilidade de vazamento de combustível, que poderá provocar incêndio, caso haja alguma fagulha. (SOBREVIVÊNCIA, 2013, p. 63). Se o pouso forçado foi realizado próximo de uma ilha ou costa, deve-se tentar chegar lá. Em terra, as condições de sobrevida serão muito maiores do que no mar. Caso não haja terra à vista, é melhor que se mantenha nas proximidades do local do pouso forçado, pois as equipes de busca e resgate para ali se dirigirão, principalmente se foi enviada uma mensagem de socorro. O colete salva-vidas é o principal equipamento individual de salvatagem. É primordial que toda pessoa esteja vestindo o seu colete salva-vidas ou similar. [...]. Se ocorrer uma situação imprevista em que a pessoa não tenha tempo ou oportunidade de vestir um colete ou se ficar impossibilitado de utilizar um bote de sobrevivência, deve-se tentar improvisar algum tipo de ajuda para se manter flutuando. Isso pode ser feito colhendo destroços que estejam flutuando no local e mantendo-os junto ao corpo é uma boa forma para se manter na superfície, e ajudará na poupança da energia corporal, prolongando a sobrevivência. (SOBREVIVÊNCIA, 2013, p. 63). Fica a pergunta: como enfrentar o frio numa sobrevivência no mar? 109 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 É opinião generalizada entre os especialistas que o problema número um no que tange à sobrevivência no mar advém sempre do fato de que em grandes áreas de mar a temperatura da água é bastante baixa, o que produz um arrefecimento no corpo incompatível com a vida. A temperatura do corpo humano é muito constante e tem valores compreendidos entre os 37 ºC e os 38 ºC. Se a temperatura sobe para 40 / 41ºC entra-se em estado febril, se a temperatura desce para 33 ºC cai- se na inconsciência. O coração deixa de bater quando a temperatura do corpo atinge os 25 ºC, sobrevindo imediatamente a morte. O nosso corpo reage como um termostato, que deve manter a temperatura a 37ºC. Se ocorre um esfriamento no meio ambiente, é preciso aumentar a combustão interna, para se conseguir maior calor. Ao expormos o corpo ao frio a temperatura mantém-se através de vibrações musculares - tremer - e simultaneamente o fluxo sanguíneo na pele baixa por contração dos vasos sanguíneos, tornando-se esta fria e polida, aumentando a sua ação isoladora. Se o esfriamento exterior é tão intenso que não consegue ser compensado pelo tremor muscular e pela ação isoladora da pele, a temperatura do corpo vai caindo. Este abaixamento de temperatura é inicialmente lento, aumentando progressivamente até que a morte sobrevém. O arrefecimento do corpo humano na água é 5 ou 6 vezes mais rápido que no ar. A capacidade de reação do corpo humano é inferior ao abaixamento de temperatura que sofre quando em imersão. Até mesmo em águas a 30ºC se verifica um considerável arrefecimento e deve-se considerar que muito poucas são as zonas do globo em que a água atinge esta temperatura. Quando uma pessoa cai à água o frio paralisa-lhe rapidamente os braços e as pernas. À medida que a temperatura vai baixando, o tremor do corpo torna-se mais fraco. Deixa- se de sentir o frio tão intensamente, mas lentamente vai-se caindo na inconsciência. Muitas vezes, após a incapacidade de tremor muscular, os vasos sanguíneos deixam de ter possibilidade de se manterem contraídos e ao descontraírem-se rapidamente a temperatura do corpo baixa até atingir a temperatura da água. Quando uma pessoa cai à água pouco pode fazer por ela própria. Se lhe for possível, deve tentar tudo para sair da água o mais rapidamente que estiver ao seu alcance. Como já se disse, o corpo imerso arrefece 5 ou 6 vezes mais depressa que exposto ao ar mesmo quando o vento sopra rijo. (PORTUGAL, 2011, p. 43). 110 Universidade do Sul de Santa Catarina Sobreviver à deriva no mar depende de muitas variáveis, como as condições físicas dos náufragos, suprimentos disponíveis e a vontade de viver. Além disso, depende muito dos detalhes específicos da situação. Sobreviver ao frio e à hipotermia, estando em águas frias, seja no bote ou apenas com um colete salva-vidas, é uma situação complicada. Encolher os joelhos junto ao peito e segurá-los ajudará a reter o calor do corpo. Essa ação é chamada de Heat Escape Lessening Position (HELP), em português “Posição de Redução da Perda de Calor”. O uso de um colete ou boia que mantenha o pescoço e a cabeça fora de água faz o esfriamento do corpo ser mais lento, porque a artéria que irriga a cabeça não é tão severamente atingida. Ao entrar num bote salva-vidas, deve-se fechá-lo o mais rapidamente possível para que se conserve o calor liberado pelos próprios náufragos. Deve-se secar o bote o melhor possível, para evitar que os náufragos percam o calor corporal. A roupa molhada deverá ser toda espremida, para se tentar recuperar a sua ação isoladora. Existe uma velha e generalizada ideia de que o álcool aquece. Isto é completamente errado. O álcool vai somente dilatar os vasos sanguíneos, originando à superfície da pele uma falsa sensação de calor, mas este calor é roubado a órgãos internos, tais como o cérebro e o coração. O mesmo sucede quando se massageia uma pessoa esfriada. Incrementa-se a circulação sanguínea à superfície da pele, mas o calor libertado vem do interior do corpo, provocando um arrefecimento em órgãos vitais internos. O tratamento de uma pessoa exposta ao frio deve, portanto, ser feito de maneira a evitar que o corpo perca mais calor. Deve- se tirar as roupas molhadas e se possível substituí-las por outras secas. Se não houver alternativa, deve-se espremer bem a roupa e voltar a vesti-la. Depois disto, tentar aquecer a pessoa com meios externos como bebidas quentes e enrolá-la em cobertores, se possível. (PORTUGAL, 2011, p. 43). Manter as roupas e o barco salva–vidas o mais seco possívelé uma necessidade constante em ambientes de baixa temperatura. O frio provoca, na maioria das pessoas, uma redução em suas capacidades física e mental, levando a um estado de choque. 111 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 Para uma pessoa inconsciente não se deve dar nada de beber. Poderá engasgar-se. Neste caso deverá enrolar-se a pessoa em cobertores com um plástico interiormente, se possível e só depois de recuperar a consciência é que se deverá dar alguma bebida quente. (PORTUGAL, 2011, p. 45). Todos sabemos que a hipotermia causa grandes riscos à saúde. Em situações de emergência, a gravidade é sempre maior. A hipotermia ocorre quando a temperatura corporal do organismo humano fica abaixo de 35°C, pois, nesse caso, seu metabolismo é afetado negativamente. Se ficar abaixo de 32°C, a situação pode ficar crítica e até fatal. Abaixo de 27°C, será fatal. A hipotermia acontece rapidamente em pessoas que estão imersas na água do mar. Quando uma pessoa é obrigada a permanecer na água durante algum tempo, como náufrago, deve conhecer alguns princípios que lhe permitam maximizar as hipóteses de vir a ser salvo, ela correrá o risco de afogamento ou de hipotermia. As lesões que pode sofrer são devidas à densidade da água, à capacidade térmica e à condutibilidade térmica. A densidade da água causa a compressão nas pernas fazendo com que o sangue tenha tendência para retornar ao tronco e em particular ao coração. Isto faz com que o coração aumente a quantidade de sangue à saída e uma consequente maior irrigação dos órgãos, como é o caso do cérebro e dos rins originando a expulsão do sangue com a urina. Se a pessoa permanece imersa tempo suficiente para perder uma grande quantidade de urina, quando removido da água o volume total de sangue será menor que antes da imersão. Quando a pessoa se levanta, o sangue volta novamente às pernas e, subitamente, o volume de sangue é menor (hipovolemia) tornando-se insuficiente para os órgãos vitais tais como o cérebro. Por este motivo, é imperativo que a pessoa permaneça na horizontal. O corpo responde contraindo os vasos sanguíneos, afastando o sangue dos membros e fazendo-o voltar ao tronco. O constrangimento das artérias e veias exagera o efeito do trabalho do coração fazendo-o trabalhar mais intensamente para recuperar a resistência. Nesta situação necessita de mais oxigênio e, se isso não for possível ele pode parar. (PORTUGAL, 2011, p. 45, grifo nosso). 112 Universidade do Sul de Santa Catarina É possível que, para as pessoas saudáveis, a maior ameaça à sobrevivência em água fria sejam as respostas respiratórias dos indivíduos. Estudos indicam que o choque da imersão em água fria produz uma respiração descontrolada e que a resposta a esse choque frio pode levar à morte, muito antes que uma hipotermia geral aconteça. O choque pós-imersão é responsável por muitas mortes que ocorrem logo após o resgate dos náufragos. Após ser iniciado o reaquecimento da vítima o risco mais sério consiste na queda da pressão arterial devido à redução do volume do sangue que não chega a encher os vasos sanguíneos à medida que estes se dilatam. Manter a posição horizontal e mesmo a cabeça baixa ou elevar as pernas é uma boa [medida a tomar]. [...]. Se a temperatura interna baixa o suficiente, o coração para de bater, mas usualmente a pessoa morre antes disso devido a outras causas. A falta de coordenação dos movimentos torna extremamente difícil nadar e a vítima afoga-se. Se a água está muito fria, uma súbita imersão pode causar hidrocussão [(ou Síndrome de Imersão na água gelada)] que, basicamente, provoca a parada cardíaca. A respiração, usualmente cessa antes da atividade cardíaca, contudo, o pulso pode ficar tão fraco e difícil de detectar, mas o cérebro pode estar a receber algum sangue. Também o cérebro está sendo arrefecido pela água do mar, o que pode constituir uma proteção contra as lesões devido à falta de oxigênio. É importante, quando se procede ao resgate de um náufrago presumivelmente morto, primeiramente manter a vítima na horizontal e então proceder à reanimação e não desistir até que ele aqueça e reanime. (PORTUGAL, 2011, p. 45-46). A hipotermia pode apresentar-se em graus variados. A depressão do fluxo sanguíneo cerebral e a consequente falta de oxigênio, a redução dos batimentos do coração e a baixa pressão arterial estão associadas à hipotermia severa. Iniciar a respiração boca a boca e a reanimação por compressão do tórax ao ritmo normal. A vítima pode ter sido hiperventilada (respiração excessiva) enquanto se encontrava na água, o que causa alguma dificuldade de julgamento quanto ao seu estado. Mantenha a vítima na horizontal e desloque-a de forma cuidadosa para evitar a estimulação. Não a deixe andar ou efetuar exercícios. A morte súbita pode ocorrer mesmo que o estado 113 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 hipotérmico seja moderado devido à queda da pressão arterial. Mantenha a pessoa resguardada do vento, e, se possível, substitua a roupa molhada por seca. Previna a perda de calor utilizando algo que permita um isolamento adicional. Cubra a cabeça com proteções secas; a perda de calor através da cabeça é muito elevada. (PORTUGAL, 2011, p. 46). A desidratação é um dos maiores riscos que se corre devido a prolongadas exposições ao sol. Nas embarcações à deriva e sem suprimento de água potável, a desidratação é a principal causa de exaustão e morte. Em condições favoráveis, pode sobreviver-se sem água durante dez a catorze dias, sem comida, mas convenientemente aprovisionado de água, pode-se viver trinta ou mais dias. Por isso, se são limitadas as reservas de água, esta deverá ser usada cuidadosamente. (PORTUGAL, 2011, p. 46). Uma boa medida visando à hidratação é umedecer as roupas com água do mar durante as horas mais quentes do dia, sempre que possível, tendo em vista a necessidade de reduzir os esforços e preservar o sono, para tentar manter o corpo com a energia devida, enquanto aguarda-se o resgate. O nosso corpo contém cerca de 35 litros de água. Para generalizar, a vida não é possível com menos de 22 litros (2/3 do total de água). Mesmo que estejamos deitados em repouso e sem beber, o nosso corpo está constantemente a perder água em forma de vapor através da pele (qualquer coisa diferente do suor). Também perdemos água durante a respiração, quando urinamos e evacuamos. Têm sido feitas experiências que mostram que uma pessoa, nas condições indicadas, perde pelo menos 0,9 litros de água por dia, sem tomar qualquer bebida ou comer. Isto significa que uma pessoa poderá sobreviver cerca de 15 dias uma vez que perde cerca de 13 litros nesse período. Quando suamos, esta perda pode dar-se em 24 horas. Assim é essencial, particularmente nos trópicos, que façamos qualquer coisa que nos impeça de transpirar. Se estivermos expostos ao sol ou ao calor deveremos estar vestidos e com roupa encharcada com água salgada e evitar quaisquer esforços desnecessários. Tomar banho no mar em zonas tropicais deve ser evitado porque existe 114 Universidade do Sul de Santa Catarina a possibilidade de virmos a ser atacados pelos tubarões, podemos engolir água salgada, e o banho produz sempre uma reação interna de calor e, por consequência, transpiração através da pele. Como as noites tropicais podem ser consideravelmente frias, as roupas que foram molhadas com a água do mar durante o dia, devem ser postas a secar no fim da tarde até ao pôr do sol. (PORTUGAL, 2011, p. 49). Nosso sangue contém água e sal, mas a água do mar é tres vezes mais salgada. Bebê-la significa inundar o corpo com mais sal e desiquilibrar o sistema corporal, que entra em colapso. As células perdem muita água e desidratam, na tentativa de diluir o sal em excesso e retirá-lo do corpo. Está provado cientificamente que beber água salgada do mar, quer pura quer diluída em água doce, é não só prejudicial como desastroso.A razão é que se introduzirmos sal no nosso corpo, temos que o eliminar através da urina e para tal é necessário água doce para dissolver o sal e passar através dos rins. Esta água doce é fornecida pelas células do nosso corpo, que eventualmente ficarão secas e morrerão, e nós também morreremos. (PORTUGAL, 2011, p. 49). Uma pessoa com 80 kg possui, aproximadamente, 32 litros de água dentro de suas células e mais 21 litros que ficam entre as células. Isso representa um total de 53 litros de água. Ao beber água do mar, aumenta-se muito a concentração de sal no corpo e esse perde o equilíbrio fisiológico, que causa mais sede ainda. Se a pessoa continuar a ingerir água do mar, morrerá por desidratação. Beber água salgada mata! Nunca beba água do mar, nem a misture com água potável. Quando o náufrago bebe água salgada, o sal fica acumulado em seu corpo, havendo necessidade de água potável para dissolvê-lo nos rins, e posteriormente, eliminá-lo através da urina. Como em condições adversas no mar não existe água potável em quantidade adequada para hidratar o corpo, a própria água do organismo vai migrar para eliminar o sal acumulado. Dessa forma, o náufrago que bebe água do mar agrava o seu estado de desidratação, podendo inclusive morrer. (SOBREVIVÊNCIA, 2013, p. 64, grifo nosso). 115 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 O ser humano não possui mecanismos fisiológicos para eliminar o sal de seus corpos sem perder muita água, mas os répteis e aves marinhas os possuem. Esses animais são dotados de órgãos especiais, “as glândulas de sal”, que absorvem o excesso de sal de seu sangue e evitam a desidratação corporal. A água salgada bebida para além de um determinado período de tempo é fatal. Isto foi provado por uma experiência controlada que consistiu em dar água salgada a seres humanos “cobaias” durante um período superior a quatro dias, mas imediatamente a seguir foi-lhes dado em abundância água doce e isto salvou as suas vidas. O diagrama que se segue dá uma ideia das possibilidades de sobrevivência bebendo água salgada e não bebendo nenhuma água. Não tiremos a ideia errada a partir do diagrama ao considerar que nos salvamos bebendo água salgada durante quatro dias. É preciso não esquecer que a seguir precisamos de grande quantidade de água doce para salvarmos a vida, e se a tivermos conosco não se justifica bebermos água salgada. (PORTUGAL, 2011, p. 49). Figura 3.4 - Duração da vida com e sem uso da água do mar Fonte: Portugal (2011, p. 50). Vejamos o seguinte exemplo: Para ilustrar tudo isto, durante a Segunda Guerra Mundial, duas embarcações salva-vidas do mesmo navio ficaram à deriva nos trópicos. A primeira embarcação com 63 homens foi encontrada quatro dias e meio depois e ninguém tinha morrido. A outra embarcação que tinha 57 homens foi encontrada cinco dias depois do naufrágio 116 Universidade do Sul de Santa Catarina e 50 dos homens tinham morrido. Nesta embarcação os náufragos tinham bebido água salgada. (PORTUGAL, 2011, p. 50). As chuvas são mais frequentes e torrenciais no mar do que em terra e essa água é quase que totalmente pura. Para pessoas em situação de sobrevivência, costumam ser a salvação. Um bom conselho em situação de sobrevivência no mar será, durante uma chuva, beber toda a água doce possível, até se saciar, além de coletar e guardar o máximo que se puder dessa água de chuva. Análises feitas comparando o número de mortos em embarcações salva-vidas mostram que nas embarcações em que os náufragos beberam água salgada as mortes foram sete a oito vezes superiores àquelas que se deram nas embarcações em que ninguém bebeu água salgada. Estes fatos são prova bastante convincente (sem considerar a experiência de laboratório) para que nunca os sobreviventes bebam água do mar. As capas, as lonas ou velas são muito uteis na recolha de água das chuvas. Os planos e treinos para a sua correta utilização devem ser feitos com antecedência, tendo-se sempre presente que é um material de difícil manuseamento com ventos fortes e mar agitado que sempre acompanham os temporais. Observa-se com cuidado as nuvens e prepara- se tudo, mesmo que seja remota a possibilidade de chover. Se o encerado ou a capa contém sal cristalizado, deve ser lavado previamente com água do mar. Desta forma retirará o sal e se [a chuva for fraca,] a água [dela] proveniente será totalmente aproveitada, [pois] é desprezível a quantidade de água salgada que se mistura com a doce [nestas condições]. A chuva será recolhida em depósitos feitos com lonas, ou armazenada em quaisquer recipientes [disponíveis]. O corpo humano pode conter bastante bem a água. Então, cada um, deve beber toda a água que puder durante [a chuva]. Uma pequena parte da água que foi tomada em quantidades perder-se-á através da transpiração e da urina. No entanto, a água da chuva nem sempre acalma a sede por falta de sais minerais e ser insípida. Recomenda-se que se adicione à água da chuva uma pequena porção de café ou chá, solúveis, ou ainda, a fim de lhe dar gosto, um pouco de ração de emergência. (PORTUGAL, 2011, p. 50). Mesmo nos treinamentos de sobrevivência no mar, por dois dias em botes salva-vidas, ocorrem vários distúrbios na saúde dos 117 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 envolvidos. Imagine em uma situação real. Vejamos, a seguir, os problemas mais comuns e alguns conselhos úteis para atenuá-los. � Enjoo de mar: não como e nem beba; deite-se e mude de posição de sua cabeça. Se possuir remédios para enjoo, tome-o logo; � Úlceras provocadas pelo contato da água do mar: Procure não abri-las ou espremê-las; use pomada antisséptica, se tiver; � Olhos doloridos: tal fato ocorre devido ao reflexo intenso do céu e da água; improvise um protetor com pedaços de pano ou ataduras; � Prisão de ventre: isso ocorre com frequência entre os náufragos, portanto, não se preocupe; � Dificuldade de urinar: outro sintoma comum neste caso, assim como a cor escura da urina; � Distúrbios mentais: pode acontecer devido à aflição do náufrago, ou mesmo o calor intenso; não reprima temores, tente manter sempre o bom humor; � Queimaduras de sol: conserve sempre a pele e a cabeça cobertas; lembre-se que os raios solares refletidos na água também queimam a pele. (MAR, [200-]). Seção 2 – Ações dos náufragos no bote salva-vidas Depois que um grupo de sobreviventes alcança o bote salva- vidas, as suas possibilidades para um eventual salvamento serão bastante melhoradas se seguirem as normas básicas previstas para a sobrevivência no mar. Sem que prejudique a segurança imediata, devem-se conservar as energias tão intactas quanto possível, visto que poderá surgir uma emergência imprevisível e obrigar o náufrago a um maior dispêndio de forças. [...]. Qualquer náufrago deverá ter sempre em mente que, para o sucesso de um salvamento, é necessário, em absoluto, um trabalho de equipe, e que as demais pessoas não são os seus adversários nessa luta. (PORTUGAL, 2011, p. 46). 118 Universidade do Sul de Santa Catarina O pânico, normalmente, toma conta da pessoa no momento do acidente, ou mais tarde, já no bote salva-vidas. Inicialmente, acreditamos que, em pouco tempo, chegará o resgate. Para muitas pessoas, caso o resgate não aconteça logo, começam a se deixar abater, principalmente quando se dão conta das suas situações e da vastidão do mar que as cerca. Em uma prolongada sobrevivência no mar, o aparecimento de uma certa rotina, aliada à solidão, faz com que o tédio e os aborrecimentos tendam a se estabelecer. Nesta fase, o náufrago começa a ficar revoltado contra tudo e todos, começa a perder o interesse pelas coisas que poderiam servir para ocupar o tempo e a mente, perdendo a motivação, força e a vontade de viver. (SOBREVIVÊNCIAS, 2010). Esse comportamento precisa ser combatido por meio de uma ocupação. A pesca, o cuidado com os feridos, a confecção de um diário, o cuidado com a higienee com o bote salva–vidas são excelentes exemplos de combates ao pânico, ao medo, ao tédio, à solidão e ao aborrecimento. Vejamos, a seguir, uma história verídica e que pode servir como modelo de esperança a todos nós e especialmente àqueles que possam vir a enfrentar situações de emergência. Em 1973, o casal britânico Maurice e Marilyn Bailey, que navegava da Inglaterra com destino à Nova Zelândia, sobreviveu por 117 dias à deriva em um bote salva-vidas no Oceano Pacífico, depois de seu iate ter se chocado com uma baleia e afundado. Antes de o iate afundar, o casal juntou os suprimentos que conseguiu e entrou no bote salva-vidas. Eles utilizaram a cobertura do bote para coletar água da chuva para beber e, depois que os suprimentos esgotaram, começaram a pescar com anzóis improvisados feitos com alfinetes de segurança. Eles haviam dito aos seus amigos que entrariam em contato quando chegassem ao Taiti, então ninguém se alarmou com a falta de notícias. Após ficarem à deriva por 2.400 km e quase morrendo, eles foram avistados por um barco pesqueiro coreano e levados ao Havaí para tratamento. Eles não apenas se recuperaram completamente, mas imediatamente, começaram a planejar a próxima viagem. Mais tarde, escreveram um livro sobre a experiência, intitulado “117 Days Adrift” [fonte: BBC]. (BRYANT, 1998-2014). 119 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 É essencial que o sobrevivente nunca perca a esperança de ser salvo. Durante a última guerra mundial, metade dos sobreviventes foi recolhida em dois dias. A outra metade lutou muito contra a morte, para resistir por semanas e mesmo meses, em embarcações de boca aberta. Muitos morreram, principalmente devido à exposição ao sol e ao tempo, e não por falta de alimentos e água. Em atenção a esses fatos é que as embarcações salva-vidas possuem cobertura. O aperfeiçoamento das comunicações, dos serviços de busca e salvamento, do radar e o desenvolvimento de modernos sistemas de detecção e sinalização, são hoje uma valiosa ajuda para dar aos sobreviventes maior confiança. Alguns dos sobreviventes relataram que outros náufragos morreram por o seu moral ser baixo. É difícil, se não impossível dizer em quanto a moral contribui para que possamos resistir mais ou menos tempo à morte. (PORTUGAL, 2011, p. 52). Lembre-se do que foi abordado neste livro, que tratou sobre a psicologia da sobrevivência. Apatia e não cooperação são provas evidentes de perda de moral, o que contribui para encurtar a vida do náufrago. O encorajamento e a manutenção de razoável otimismo são realmente muito importantes na sobrevivência. Para um grupo de pessoas que abandona uma embarcação naufragando ou uma aeronave que realizou um pouso forçado no mar, é importantíssimo que se mantenha a calma. Os tripulantes possuem treinamento e são os responsáveis pela coordenação das ações de abandono e ocupação dos botes salva-vidas, bem como pela rotina diária até a chegada do socorro. Para que sobreviva o maior número possível, os náufragos devem estabelecer uma bem definida cadeia de comando. Um chefe competente é um requisito necessário para se conseguir manter um elevado moral. Ele encarregar-se-á da conservação e distribuição das rações e água, assim como da oportunidade de utilização dos sinais de socorro, além da manutenção da disciplina a bordo [do bote] salva-vidas. [Havendo mais de um bote salva-vidas,] deverão manter-se [juntos], amarrados uns aos outros por meio de cordas, para que o grupo não se disperse. 120 Universidade do Sul de Santa Catarina [Em caso de] mau tempo, poderá ser mais conveniente não prender as embarcações umas às outras. A decisão de abandonar o local inicial, a fim de se dirigirem para outra posição ou para a terra, só deverá ser tomada pelo menos 24 horas depois do abandono, dando tempo a que as equipes de salvamento ou qualquer tipo de socorro se dirijam ao local onde, supostamente, foi lançado o pedido de socorro com a indicação das respectivas coordenadas. (PORTUGAL, 2011, p. 46-47). Se por qualquer circunstância o pedido de socorro não foi enviado ou a posição foi incorretamente indicada ou recebida, os náufragos terão de se manter por tempo indeterminado nos botes. No entanto, mesmo nessas condições, hoje em dia ainda será muito provável o salvamento e o resgate. É obrigatório que todas as aeronaves comerciais possuam equipamentos de segurança específicos, como os dispositivos flutuantes conhecidos por “salva-vidas”. A própria almofada do assento pode vir a ser solta e usada como recurso de flutuação. Figura 3.5 - Modelo de colete salva-vidas Fonte: Sobrevivência (2013, p. 55). A peça de vestuário de maior importância [...], sem qualquer dúvida, é o colete [salva-vidas]. Se estiver bem ajustado, suportará um náufrago ainda que desmaiado ou inconsciente. Mas um [náufrago] nunca deve perder as esperanças, mesmo que se encontre no mar sem colete. 121 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 As peças de vestuário poderão ser utilizadas para criar certa capacidade de flutuação. Para encher de ar uma camisa ou blusão, abotoar todos os botões e atar com nós os punhos e os colarinhos. [...]. Logo que tudo isto esteja executado, aspira-se o ar profundamente e, com a camisa submersa insuflar ar entre a segunda e a terceira casa de botões. Depois de bem cheia é um flutuador bastante útil. Com as calças, obtêm-se melhores boias do que com camisas ou blusões. Depois de se despojar delas, dê um simples nó no extremo de cada uma das pernas e feche a braguilha. Seguidamente, agarre cada um dos lados da cintura com as mãos e eleve-a acima da cabeça, por detrás do corpo, e num movimento rápido traga-a à frente mergulhando-a. O conjunto [se transformará] em duas bolsas de ar, uma em cada perna, [tornando-se] [...] um bom flutuador. Consequentemente, um náufrago não deve de forma alguma livrar-se das suas roupas, pois além de servirem de mais uma ajuda para flutuar, poderão ter maiores vantagens em muitas outras ocasiões, tais como proteção contra queimaduras do sol, o vento e o frio e, evidentemente, depois de salvo necessitará delas. (PORTUGAL, 2011, p. 47). Aeronaves que sobrevoam extensas áreas de água possuem botes salva-vidas, sendo equipamentos de segurança exigidos pelas autoridades aeronáuticas nacionais e internacionais. Seu uso em um pouso forçado no mar aumenta as probabilidades de pessoas sobreviverem, pois o bote evita que as pessoas se cansem tentando boiar, diminui as possibilidades de ataques de tubarões e são equipados com kits de primeiros socorros, água, sinalização e lonas de proteção contra o sol, o frio e a chuva. Os botes previstos como salva-vidas das aeronaves possuem [...] o necessário equipamento para cobrir qualquer emergência no mar. Desta forma, compete a cada um dos tripulantes conhecer o equipamento e saber como utilizá-lo. Torna-se evidente que esse estudo deverá ser efetuado com muita antecedência, [como treinamento de equipagens aéreas para uma possível necessidade real]. (PORTUGAL, 2011, p. 47). 122 Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 3.6 - Bote para 6 pessoas Fonte: Sobrevivência (2013, p. 59). Existem vários modelos de botes de sobrevivência no mar e com capacidades distintas. DE acordo com as normas internacionais, todos devem possuir coloração laranja e faixas refletivas. Os botes possuem câmaras independentes de ar. Havendo necessidade de completar a inflação de qualquer uma das câmaras, seja após a realização de um reparo de vedação, seja por outro motivo qualquer, deve-se adaptar a bomba manual à válvula correspondente e operá-la. Figura 3.7 - Bomba para bote inflável Fonte: Sobrevivência ([200-], p. 114). Os kits de sobrevivência no mar são equipamentos que sempre devem acompanhar os botes de sobrevivência. 123 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 Vejamos um exemplo de kit de sobevivência: Figura 3.8 - Exemplo de kitde sobrevivência no mar Fonte: Sobrevivência ([200-], p. 118). Os conjuntos de sinalizadores de emergência que equipam botes salva-vidas são fabricados para um único fim: pedir socorro em alto mar. Normalmente, possuem dois foguetes pirotécnicos de metal, um corante marcador de água, um espelho sinalizador, apitos e também lanternas ativadas à base de água. Figura 3.9 – Exemplo de kit de sinalizadores no mar Fonte: Sobrevivência ([200-], p. 126). 124 Universidade do Sul de Santa Catarina Surgida a possibilidade de salvação, por se avistar um navio ou avião devido a uma boa vigilância, o equipamento de sinais torna-se de vital importância. De um avião que voe acima dos 3.000 pés é muito fácil localizar-se um bote salva-vidas. E se o mar está agitado, torna-se completamente impossível vê-lo da ponte de um navio. A experiência já demonstrou que o espelho de sinais é de grande eficiência quando utilizado para despertar a atenção, por refletir uma considerável concentração de luz [...]. (PORTUGAL, 2011, p. 48). Figura 3.10 - Espelho de sinalização Fonte: Sobrevivência ([200-], p. 68). [Mesmo] um pequeno e vulgar espelho de bolso ou de carteira feminina é capaz de refletir os raios solares de forma a poderem ser observados a uma distância de [vários quilômetros]. Os sinais devem ser contínuos, apenas interrompidos quando nos apercebermos que o salvamento está assegurado e que o barco de socorro não nos perdeu de vista e está praticamente junto [do bote]. No caso de o salvamento se efetuar por intermédio de um helicóptero, evite-se refletir os feixes de luz nos olhos do piloto, especialmente se este se prepara para uma aproximação. Os sinais pirotécnicos devem ser utilizados quando se avistar aviões e/ou helicópteros, ou um navio/barco até sete quilômetros de distância, porque o mais provável é que não sejam observados para além daquela distância. Durante a noite, uma lanterna elétrica é muito eficiente, pois a sua luz torna-se bastante visível a distancia. O modelo de lanterna à prova de água faz parte do equipamento de qualquer bote salva-vidas. Contudo, como medida de precaução, economizar o consumo de pilhas, utilizando-se apenas quando se torne absolutamente necessário. [Outro item] para ajudar a 125 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 identificação de um bote salva-vidas são as suas velas e coberturas, de cor viva, que despertam a atenção, além de serem úteis na recolha de água das chuvas. (PORTUGAL, 2011, p. 48). Os botes salva-vidas devem possuir equipamentos de sinalização compatíveis com a situação de sobrevivência no mar. Normalmente, são compostos de espelhos e sinalizadores pirotécnicos. Vejamos um pouco mais sobre eles. Espelho: assim como em terra, o espelho pode ser usado para alertar equipes de busca por meio de reflexos. Existem certos espelhos de sinalização que possuem um furo no meio, para que o sobrevivente mire a aeronave de resgate por ele, facilitando extremamente sua localização; [Sinalizadores] pirotécnicos [...]. (MAR, [200-]). Existem 3 tipos básicos de sinalizadores pirotécnicos: � fumígenos; � facho manual; � foguete de sinalização. Vejamos um pouco mais sobre eles. Fumígenos: são equipamentos flutuantes que liberam fumaça laranja, utilizados para locali zação de pessoas ou embarcações durante o dia, possui duração média de 3 minutos; Facho Manual: Sinalização para salvamento a curta distância, emite intensa luz vermelha com duração de 60 segundos. Utilizado para sinalizar situações de perigo à curta distância, onde se requer luminosidade e duração de sinal. Também pode ser utilizado para iluminar ambientes escuros em emergências; Foguete de Sinalização: Sinaliza situações de perigo a longa distância, tanto de dia quanto de noite. [...] [Sobe e] ejeta um paraquedas luminoso a 300 m de altitude. (TEIXEIRA, 2012, p. 27). 126 Universidade do Sul de Santa Catarina Ao ouvir ou avistar aviões e/ou embarcações, faça uso desses sinalizadores, de sinais de fumaça durante o dia, e de luzes vermelhas à noite. Tome os devidos cuidados para manter o equipamento seco. Podemos fazer uso de outras sinalizações, como: � corante de marcação do mar; � sinais luminosos; � apitos. Vejamos um pouco sobre esses instrumentos de sinalização. Corante de marcação do mar: é claro que este equipamento deverá ser utilizado de dia, imediatamente após ouvir-se o ruído da aeronave, pois o mesmo leva alguns minutos para se dissolver. A menos que o mar encontre-se bem agitado, o corante permanecerá por aproximadamente três horas visível na água; Sinais luminosos: À noite, use as lanternas elétricas de mão, as luzes de reconhecimento e o lampejar do rádio. Qualquer luz pode ser percebida sobre as águas, a distância de quilômetros; Apito: À noite e sobre nevoeiro, use o apito para chamar a atenção de equipes marítimas de busca, ou mesmo para localizar os outros botes de náufragos. (MAR, [200-]). Tubarões são encontrados em todos os oceanos. Seus ataques registrados, na grande maioria, aconteceram em águas com temperaturas maiores que 18ºC. Não há problema com tubarões em áreas de águas frias, a menos que a pessoa esteja ferida ou com sangramento. Quanto ao seu comportamento, quando se movimenta em círculos largos e alongados, está apenas curioso. Quando se prepara para atacar, começa a nadar rapidamente e de forma agitada, em círculos cada vez menores. “Tubarões são companheiros tão indesejáveis quanto constantes nas situações sem rumo dos náufragos. E sua presença é quase sempre anúncio de tragédia.” (MONTENEGRO, 2005). 127 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 Figura 3.11 – “Com licença, estou olhando a água!” Fonte: Adaptação de KD (2013). Em 1960, quando o navio americano Albatross foi a pique, no Caribe, o capitão e alguns membros da tripulação conseguiram se salvar em botes. Mas o sangue dos feridos atraiu dezenas de tubarões que, excitados pelo cheiro, cercaram as embarcações e tentaram virá-las com seus focinhos. Os homens do Albatross defenderam-se golpeando as feras com remos e, na falta destes, usando os próprios punhos. Foi uma batalha encarniçada em que quatro náufragos acabaram devorados. (MONTENEGRO, 2005). Figura 3.12 – Perigo no mar, tubarão à vista! Fonte: Praias ([200-]). 128 Universidade do Sul de Santa Catarina Mas há casos em que a presença dos tubarões não é de todo ruim. Durante os dias em que passou no mar, o bote salva-vidas do náufrago colombiano Luis Alejandro Velasco era cercado por eles pontualmente às 5 da tarde (um dos poucos bens do colombiano durante o tempo à deriva era um relógio de pulso). É claro que Velasco aguardava este momento da visita com extremo pavor, mas, no 7º dia à deriva, ele foi a salvação do marujo. Os predadores, involuntariamente, colaboraram para a sobrevivência do colombiano ao perseguir um peixe que acabou pulando para dentro do bote dele. Resultado: quem poderia comê-lo, acabou lhe dando comida. (MONTENEGRO, 2005). Como não se pode contar com isso, alguns conselhos são necessários (SOBREVIVÊNCIA, 2006-2013): [...] Não pesque do bote quando houver tubarões por perto. Abandone o peixe fisgado se um tubarão se aproximar. Não [apanhe o peixe da água] se houver tubarões à vista. [...] Não atire restos de peixes ou iscas para a água se houver tubarões rondando por perto do bote. [...] Não [balance] as pernas ou as mãos na água, especialmente quando estiver a pescar. [...] Se um tubarão atacar ou danificar o bote, desencoraje-o batendo no focinho ou nas guelras com o remo [do bote]. [...] Dispare uma pistola ou revolver (se estiver à mão) por cima do tubarão - o ruído pode assustá-lo e afastá-lo. [...] Veja se há tubarões rondando ou debaixo da jangada antes de [entrar na água]. Tubarões são muito imprevisíveis. De acordo com o famoso pesquisador Jacques Costeau, quanto maior nosso contato com eles, menos os conhecemos, pois nunca podemosprever suas próximas atitudes. As raias-gigantes, ou mantas, que vivem em águas tropicais, podem ser confundidas com os tubarões. Uma raia, quando nada, encaracola as pontas das barbatanas, as quais, quando vistas à superfície da água, fazem lembrar de certo modo as barbatanas dorsais de dois tubarões nadando lado a lado. Uma observação mais cuidada mostrará que o animal é uma raia e não dois tubarões. Se ambas as barbatanas desaparecem simultânea e periodicamente, é uma raia. Em águas 129 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 profundas, todas as raias são inofensivas para os nadadores. (SOBREVIVÊNCIA, 2006-2013). Contudo, qualquer arraia é perigosa se tentar pegá-la. No prolongamento de sua cauda, existe um ferrão que a arraia usa para se defender. Os botes salva-vidas possuem alimentos de sobrevivência para alguns dias e que precisam ser racionados entre os sobreviventes. Normalmente, são balas de goma (jujubas) e chicletes, ou tabletes à base de glicose. Esses itens não consomem muito a água do organismo para sua digestão e aliviam a sensação de fome. Se não tiver água não coma. A quantidade de comida assimilável pelo organismo depende, sobretudo, da quantidade disponível de água. É, portanto, uma das razões porque são propositadamente ligeiras as rações de emergência. Os alimentos muito condimentados provocam sede, tornando-se difícil o racionamento de água quando em condições extremas. Assim, as rações de emergência dos kits de sobrevivência no mar são uma composição entre uma dieta adequada e uma necessidade limitada de água, rica em hidratos de carbono e pobre em proteínas, fornecendo o máximo de calorias com um mínimo esforço para os rins. Um homem pode sobreviver sem comer durante longos períodos de tempo desde que tenha provisões de água. Há variações individuais, mas, 35 a 40 dias de sobrevivência sem comer não são casos excepcionais. Em condições de sobrevivência a qualidade da alimentação é muito importante. Proteínas, tais como a carne, não são inteiramente absorvidas pelo organismo e os seus resíduos necessitam de água para serem eliminados para o exterior. Quando um homem está esfomeado, o corpo alimenta-se da sua própria carne, mas se lhe for dado algum açúcar o corpo não ataca tanto as suas proteínas [...]. Comendo açúcar, cerca de dois decilitros em cada litro de água do nosso corpo é conservada a qual de outro modo seria desperdiçado. É por esta razão que as modernas rações de emergência são compostas de açúcar. (PORTUGAL, 2011, p. 50-51, grifo nosso). É importante saber que se estivermos naufragados, não devemos comer açúcar nas primeiras 24 horas. 130 Universidade do Sul de Santa Catarina No segundo dia deve comer cerca de metade do total das rações de sobrevivência e o restante será distribuído pelos dias seguintes. Enquanto que a água doce é absolutamente indispensável aos náufragos, são poucas as mortes causadas pela fome. [...]. (PORTUGAL, 2011, p. 51). Em sobrevivência no mar, a pesca sempre deve ser tentada, por vários motivos. É uma atividade que, além de resolver o problema da fome, distrai e evita pensamentos negativos que possam afetar o moral dos sobreviventes. Por mais desolado que pareça, o mar é imensamente rico em diferentes qualidades de alimentos. Pequenos peixes reúnem-se em geral à sombra das embarcações salva-vidas e jangadas. Estes peixes serão pescados, primeiramente para servirem de isca. Pode-se usar como isca inicial pequenos caranguejos e camarões que se desenvolvem junto dos grupos de algas, bocados de pano (particularmente vermelho), cabelo humano, etc. Alguns tipos de algas flutuantes no meio do oceano são comestíveis. As algas frescas e boas para comer não têm odor acentuado e são consistentes e macias ao [tato]. [...] Devemos inspecionar se nas algas há pequenos organismos, os quais podem ser venenosos, e removê-los. Em qualquer circunstância, não deveremos comer algas sem uma suficiente quantidade de água doce, mais uma ração extra, em consideração ao sal tomado com as algas. (PORTUGAL, 2011, p. 51, grifo nosso). Os botes salva-vidas possuem estojos da pesca. Durante a noite podemos atrair os peixes com luzes, incidindo a luz da lanterna na água ou utilizando o espelho de sinais para refletir o luar sobre a água. Recomenda-se que enquanto se pesca não se deve amarrar a linha ao bote ou a qualquer pessoa, porque algum peixe de grandes dimensões poderá fazer soçobrar a embarcação ou provocar a queda do pescador ao mar. Pela mesma razão não se deixarão fora da borda objetos brilhantes ou peixes capturados. Podemos comer peixe, mas sem esquecer que o peixe tem sal (uns mais do que outros) e que será preciso beber mais água doce do que a ração normal. O suco do peixe espremido tem também mais ou menos sal, dependendo do tipo de peixe. Não devemos beber unicamente o suco do peixe, mas sim, misturá-lo com água doce ou bebê-la a seguir. (PORTUGAL, 2011, p. 51). 131 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 De acordo com Montenegro (2005), “[...] apesar de abundantes no oceano, [os peixes] nem sempre são fáceis de pegar. Afinal, na maioria das vezes, homens e mulheres atirados ao mar acabam totalmente desprevenidos, sem um anzol ou um canivete que seja.” Vejamos o seguinte caso, para exemplificar a dificuldade da pesca em algumas situações. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o marinheiro colombiano Luis Alejandro Velasco em uma noite de fevereiro de 1955. Uma tormenta, no mar do Caribe, arrancou Velasco do convés do Caldas, navio em que viajava. Por sorte, a ventania também lançou ao mar um bote salva-vidas onde o marinheiro pôde se abrigar. Sem água, comida ou socorro à vista, Velasco comprovou que qualquer coisa mastigável vira um manjar dos deuses quando se está à deriva. No 6º dos 10 dias que duraram seu infortúnio, estava esfomeado ao ponto de tentar comer a roupa que usava no corpo. “Eu parecia uma fera, tentando despedaçar os sapatos, o cinto e a camisa com os dentes”, contou no livro Relato de um Náufrago, escrito por Gabriel García Márquez. Foi quando achou 3 cartões de visita no bolso da calça e fez deles seu banquete. Apesar de não muito nutritiva, a “refeição” lhe deu coragem para continuar lutando por sua vida. “Quando senti aquele montinho de papel molhado chegar ao estômago, percebi que sobreviveria.” (MONTENEGRO, 2005). Mas, então, o que sabemos sobre os peixes e a pesca? A maior parte dos peixes de superfície é comestível. Peixes com espinhos e peixes que produzem sopros são venenosos. Todos os peixes com espinhos, espigões e cerdas nunca devem ser capturados com as mãos desprotegidas, porque corremos o risco de envenenamento e infecções. Os peixes secos ao sol são mais saborosos, mas a mesma regra sobre a água que devemos beber deverá ser aplicada no caso de fazermos deles nosso alimento. As dicas e orientações do site dos bombeiros são importantes numa situação de sobrevivência no mar. Tenha sempre o cuidado de capturar peixes e mariscos sãos; nunca coma mariscos ou ostras que se encontravam presos aos cascos de navio ou quaisquer outros objetos 132 Universidade do Sul de Santa Catarina metálicos, podendo ocasionar uma intoxicação violentíssima, resultando inclusive em morte. [Não tente pegar] medusas, águas-vivas ou caravelas; são difíceis de capturar e podem queimá-lo. (MAR, [200-]). A carne de quase todos os peixes apanhados no mar alto é comestível, cozida ou crua. O peixe cru não é nem salgado, nem muito desagradável. Os peixes que nunca devem ser comidos são o peixe- balão, o peixe-ouriço e o peixe-lua, são altamente tóxicos e podem matar. Todos estes peixes são facilmente identificáveis, dado que o peixe-ouriço e o peixe-balão incham ou enchem-se quando perturbados e o peixe-lua parece uma enorme cabeça sem cauda. (MANUAL, 2013, p. 196, grifo nosso). Figura 3.13 – Peixe tóxico Fonte: Os 10 (2010). O peixe pode ser conservadocortando-o em tiras, salgando-o e secando-o. O peixe de carne escura é particularmente susceptível ao envenenamento bacteriano [...], e, se não puder ser limpo e mantido num local fresco, deve ser [...] comido cru e as sobras usadas como isca, em vez de guardadas para outra refeição. (SOBREVIVÊNCIA, 2006-2013). 133 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 Ao pescar, tenha cuidado para não furar um bote inflável com os anzóis, facas ou arpões. As aves marinhas são uma fonte de alimentação para os náufragos. Têm, no entanto, um gosto e odor a peixe. Contudo são alimentícias e nutritivas. Elas dirigem-se para as embarcações por curiosidade, pelos pequenos peixes que por ali rondam, mas na maior parte das vezes para lhes proporcionar um lugar de [pouso e descanso]. [Em muitas] descrições de náufragos são mencionadas a tendência dessas aves para pousarem na borda da embarcação salva-vidas pela manhã e nas últimas horas do dia. Se [pousarem], aguarde até que fechem as asas, antes de se tentar a sua captura. (PORTUGAL, 2011, p. 52). Coma qualquer pássaro que conseguir pegar. Algumas vezes pousam no bote, e há casos em que os pássaros pousaram nos ombros de náufragos, segundo relato desses. Se os pássaros estiverem assustados, tente apanhá-los arrastando um anzol iscado sobre a água ou lançando-o ao ar. São vistas mais aves no mar alto no hemisfério sul que no norte, mas não desanime. Nunca se sabe quando um pássaro irá aparecer e virar uma bela refeição para os náufragos. Lembre-se de que “se cair na rede, é peixe!” Seção 3 – Procedimentos antes do resgate no mar Uma coisa é preciso ter sempre em mente: você só é sobrevivente após o resgate! Até ser salvo, você é apenas um náufrago. Todas as pessoas envolvidas têm que observar os procedimentos de sobrevivência no mar enquanto esperam o salvamento chegar, para alcançar o seu maior objetivo que é ser resgatado com vida. Será esse o tema que passaremos a tratar nesta 3ª Seção. 134 Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 3.14 – “Estamos aqui!” Fonte: 10 ([200-]). De acordo com matéria da Marinha do Brasil sobre a sobrevivência do náufrago, [...] o náufrago tem que estar preparado para ser resgatado. Essa etapa da sobrevivência é muito importante e deve ser encarada com seriedade. Ser detectado não significa ser resgatado. Muitos acidentes, alguns fatais, ocorrem durante o resgate. Encare o salvamento com toda a seriedade possível, evitando crises emocionais. Deixe-as para quando estiver em lugar seguro. O resgate pode se dar por embarcação ou por aeronave (helicóptero), devendo o náufrago estar sempre usando seu colete salva-vidas [ou similar]. (SOBREVIVÊNCIA, 2013, p. 60). Figura 3.15 – Resgate de sobrevivente no mar Fonte: Avião (2012). 135 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 No caso de serem utilizados helicópteros para fornecer equipamento e/ou salvar ou evacuar pessoas, são valiosas as seguintes informações do Manual de Sobrevivência e Salvamento no mar: O raio de ação dos helicópteros é em geral limitado. A possibilidade de o helicóptero participar no salvamento depende, prioritariamente, da distância entre a sua base [de operação até os botes que precisam de] assistência, [assim como da autonomia de voo de cada helicóptero]. Essa distância máxima entre bote e base é de 50-300 milhas náuticas, normalmente. [...] Certas operações de salvamento envolvem riscos para a tripulação do helicóptero. Consequentemente é essencial em cada caso, avaliar a gravidade da situação e certificar-se da necessidade de assistência por helicóptero. No [ato] de fornecer equipamento, o helicóptero, normalmente, paira sobre um espaço desimpedido e arria o equipamento por meio do seu cabo do guincho. [As pessoas no bote só têm] que desengatar o cabo. (PORTUGAL, 1999, p. 61). Além dessas orientações, deve ter-se em conta a forte corrente de ar originada pelo helicóptero. Portanto, antes da chegada do helicóptero ao local do resgate, vestuário e outros objetos soltos dentro do bote devem ser retirados ou bem amarrados para não voarem. Figura 3.16 – Corrente de ar do helicóptero Fonte: Surfista (2014). 136 Universidade do Sul de Santa Catarina Durante as operações de salvamento, o helicóptero utiliza, normalmente, um dispositivo especial para içar ou arriar pessoas. Frequentemente, os grandes helicópteros arriam um membro da sua tripulação [no bote ou na água], para dar assistência ao procedimento de resgate e utilização do equipamento [de salvamento]. Para a evacuação de pessoas, a extremidade do cabo de içar pode estar provida de [...]: Alça de salvamento. Cesto de salvamento. Maca de salvamento. Cadeira de salvamento. (PORTUGAL, 2011, p. 61-62). Vejamos, a seguir, cada um desses meios. O meio mais usual para evacuar pessoas é a alça de salvamento. Este dispositivo é adaptado para um rápido recolhimento de pessoas, mas inadequado para doentes. A alça é utilizada de modo muito semelhante ao vestir de um casaco. [...] A pessoa que [for] utilizar a alça tem que ficar de face para o gancho [que a faz subir]. As mãos devem estar à frente agarradas uma à outra. A alça não pode ser utilizada como assento nem deve ser desengatada do gancho. A utilização do cesto de salvamento não requer procedimentos especiais. A pessoa que o vai usar limita-se a entrar no cesto, mantém- se sentada e se segura [nas suas bordas]. Os doentes serão, na maioria dos casos, recolhidos por meio de uma maca de elevação. [...] Esta maca já tem instalado ganchos especiais, preparados para poderem ser rapidamente e com segurança engatados ou desengatados no cabo de içar. [...]. (PORTUGAL, 2011, p. 62). Por fim, a cadeira de salvamento tem forma de assento. Também não é nada complicado usá-la: basta sentar-se nessa cadeira, segurando na haste vertical. Normalmente, esse dispositivo é usado para içar duas pessoas de uma só vez. O conhecimento básico dos procedimentos a serem adotados em resgates de sobreviventes no mar pode contribuir muito para o total sucesso dessas missões de salvamento. 137 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 Síntese Em uma viagem aérea ou marítima, ninguém está totalmente livre de uma situação emergencial, que obrigue as pessoas envolvidas a se tornarem náufragos e terem que sobreviver no mar até serem resgatadas. Nessa unidade, pudemos identificar as orientações iniciais e procedimentos de sobrevivência logo após um pouso forçado no mar. Entendemos que o treinamento antecipado das equipagens aéreas é pré-requisito básico para a condução dos sobreviventes a maiores possibilidades de salvamento e resgate. Foram abordados muitos cuidados com a preservação da saúde física e mental, as ações e ocupações básicas dos náufragos durante a sobrevivência nos botes salva-vidas, bem como sobre alimentação e vários procedimentos anteriores ao resgate, compondo um conjunto de práticas emergenciais para essas situações. Se compreendidas, treinadas e aplicadas em situações extremas, podem permiter às pessoas prolongar suas vidas e manterem-se fisica e mentalmente íntegras, permitindo-lhes o resgate ou que encontrem uma saída para os problemas enfrentados. Assim, de forma básica e teórica, nos foi possível conhecer e compreender muitas das várias técnicas e procedimentos adotados numa real sobrevivência no mar. 138 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de autoavaliação 1. Escreva um texto de aproximadamente 10 linhas, interpretando e descrevendo a figura a seguir, informando quais as principais utilizações do fogo em uma sobrevivência na selva. 139 Emergência e Sobrevivência (Selva e Mar) Unidade 3 2. Verifique quais os procedimentos corretos (V) e incorretos (F) no caso de picadas de cobras. Reescreva os falsos de forma que se tornem corretos. a) ( ) Manter o acidentado em repouso. b) ( ) Limpar o local da picada com água e sabão. c) ( ) Baixar o membro afetadopara reduzir a possibilidade de necrose local. d) ( ) Romper lesões bolhosas que surgem, normalmente após seis a doze horas da picada. e) ( ) Garrotear o membro afetado. Saiba mais REZENDE, Celso Antônio Junqueira. Manual de Sobrevivência no mar. Rio de Janeiro, 1992. WRIGHT, C. H. Survival at Sea: The Lifeboat and Liferaft. Liverpool: The James Laver Printing Co. Ltd., 1986.
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