Buscar

Fichamento 03 Marcos Eduardo

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
WEISS, Raquel. Sociologia e Direito na Teoria Durkheimiana. In: SILVA, F. G. S.; 
RODRIGUEZ, J. R. (Coord.). Manual de Sociologia Jurídica. São Paulo: Saraiva, 
2019. 
 
FICHAMENTO – CITAÇÕES: 
 
2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A VIDA E A OBRA DO AUTOR 
 
‘’Decidiu que queria ser professor, sem imaginar que os passos seguidos nessa 
nova direção acabariam por criar as condições para que viesse a se tornar o fundador 
de uma nova disciplina: a sociologia.’’ (Pág. 24); 
“Embora o nome “sociologia” já tivesse sido criado por um de seus muitos 
precursores, Auguste Comte, Durkheim é comumente considerado seu fundador em 
virtude de três razões fundamentais. Em primeiro lugar, ele trabalhou muito para que 
a sociologia fosse reconhecida institucionalmente, sendo, inclusive, transformada em 
uma disciplina universitária (LUKES, 1975).” (Pág. 24); 
“Segundo, ele propôs um método para essa nova ciência, que deveria 
diferenciá-la das demais ciências existentes naquela época; para isso, precisou 
mostrar que ela possuía um objeto que lhe era próprio (...)” (Pág. 25); 
“Finalmente, esse título também se deve ao fato de ter realizado numerosos 
trabalhos de investigação empírica sobre diversos aspectos da realidade social, em 
particular sobre a educação, a moral, a religião, a família, as relações no mundo do 
trabalho e, inclusive, o direito.” (Pág. 25); 
“(...) apresentar o que consideramos como as três principais contribuições de 
Durkheim para o campo do direito’: a definição do direito como um fenômeno social, 
a teoria sobre a pena e a concepção de crime.” (Pág. 25); 
 
“(...) em relação a Durkheim é que ele viveu em um cenário intelectual no qual 
a ciência triunfava como o modo mais perfeito de conhecimento: ela não apenas diria 
DISCENTE: Marcos Eduardo Damasceno da Silva 
MATÉRIA: Sociologia Jurídica 
DOCENTE: Ivandro Menezes 
I I - PERÍODO 
2 
 
aos homens como funcionam todas as coisas, como ainda poderia nos ajudar a 
erradicar todas as coisas que nos causam sofrimento.” (Pág. 26); 
‘’E tudo isso seria possível graças ao que então era considerado o método 
científico por excelência, isto é, o método experimental fundamentado sobre o 
princípio indutivo.’’ (Pág. 26); 
‘’Em outros termos, passou a existir um consenso de que fazer ciência é dizer 
o que as coisas são, e isso só seria possível a partir da observação da realidade.’’ 
(Pág. 26); 
“Esse ideal de ciência atraiu profundamente a atenção de Durkheim, que, ainda 
na época em que estudava na prestigiosa École Normale Supérieure, em Paris, 
criticava aquilo a que chamava de caráter demasiadamente literário e filosófico da 
Escola (ALPERT, 1939; DAVY, 1919).” (Pág. 27); 
‘’Ele então decidiu que queria fazer uma ciência das coisas sociais e foi isso 
que lhe colocou no caminho da criação da “sociologia”.” (Pág. 27); 
‘’ (...) o autor define que esse objeto é aquilo que ele chamou de “fatos sociais”, 
que são maneiras de agir, de pensar, de sentir compartilhadas por uma pluralidade de 
indivíduos e que, de certo modo, impõem-se a nós, que nos constrangem a agir, 
pensar e sentir dessa maneira.’’ (Pág. 27); 
“Esse caráter de constrangimento, de coerção, de imposição não vem do fato 
de que somos coagidos pela força física (...)” (Pág. 27); 
 “Sentimos esse caráter coercitivo porque os fatos sociais não são criações 
individuais, mas criações coletivas, portanto não coincidem plenamente com nossos 
desejos com nossas pulsões, com nossa imaginação singular.” (Pág. 27); 
 
‘’Mas, por que nos deixamos influenciar por essas imposições, por que 
simplesmente não ignoramos esse modo comum de proceder e inventamos nossa 
própria maneira de fazer as coisas? Para o autor que estamos discutindo, isso não 
ocorre porque a natureza humana é dupla: é individual e, mesmo tempo, social.’’ (Pág. 
28); 
‘’Desde o berço, moldamos a nossa personalidade a partir de um jogo de 
forças entre aquilo que é inerente a nosso ser biológico e psíquico e aquele modo de 
ser, de falar, de rir, de pensar que existe ao nosso redor.’’ (Pág. 28); 
3 
 
“Conforme o indivíduo cresce, passa a interagir com grupos diferentes, com 
modos de pensar e agir distintos e, muitas vezes, antagônicos. O desenvolvimento de 
sua personalidade é o resultado da maneira como reage a essas diversas influências, 
rejeitando ou assimilando diferentes crenças e modos de vida, cuja síntese, em parte 
ativa, em parte passiva, faz com que seja uma personalidade singular; mas, ao mesmo 
tempo, uma personalidade que possui em si elementos sociais de diferentes tipos.” 
(Pág. 28); 
‘’São esses elementos sociais, esses aspectos compartilhados, que são 
objetivados naquilo que ele chama de “representações coletivas”, as quais acreditava 
que seriam uma das coisas que a sociologia deveria pesquisar e tentar explicar 
(MILLER, 2009).’’ (Pág. 28); 
‘’Ora, para afirmar que o direito poderia ser também um objeto da sociologia e 
estudado por seus métodos particulares, ele precisou defini-lo como um fato social. 
Aliás, não um fato social qualquer, mas um dos mais importantes, que seria uma das 
principais, senão a principal, forma de objetivação dessas representações coletivas 
(...)’’ (Pág. 28); 
 
 
2.2. O DIREITO COMO UM FATO SOCIAL 
 
‘’A principal ideia que está pressuposta na tese de que o direito pode ser 
objeto de uma ciência particular chamada Sociologia é a de que ele também é um fato 
social, ou seja, é uma criação social, tem uma finalidade social e é na própria vida 
social que encontra sua fundamentação, sua justificativa.’’ (Pág. 29); 
‘’(...) é importante notar que aqui o direito não é a expressão de qualquer forma 
de racionalidade — nem uma racionalidade divina, como no caso da teologia, nem 
uma racionalidade pura prática, como no caso da filosofia kantiana —, nem a 
descoberta racional de uma lei natural, como em qualquer forma de jusnaturalismo.’’ 
(Pág. 29); 
‘’Nesse sentido, Durkheim aproxima-se mais da tradição do direito positivo(...)’’ 
(Pág. 29); 
“(...) no âmbito da sociologia durkheimiana a razão de ser do direito não é a 
justiça, mas a continuidade da existência da vida coletiva. Evidentemente, a justiça 
4 
 
não é um elemento desprezado, mas algo que só tem sentido enquanto um ideal 
social* nuclear, com encarnações particulares variáveis e que congrega as 
consciências individuais em torno de um dever-se comum.” (Pág. 30); 
“(...) para o autor, os ideais são ideias sagradas (DIGNEFFE, 1998), e o 
sagrado é aquilo que possui um valor indiscutível, acima de qualquer outra coisa, cuja 
transgressão provoca uma forte reação por parte da sociedade.” (Pág. 30); 
‘’(...) investigação das várias formas de solidariedade social, com a intenção de 
mostrar que a divisão do trabalho é a principal forma de solidariedade do mundo 
moderno, em que existe aquilo a que o autor chama de “solidariedade orgânica”, que 
se oporia à “solidariedade mecânica”, que seria própria das solidariedades 
tradicionais.’’ (Pág. 30); 
“(...) direito é a forma mais visível da solidariedade (DURKHEIM, 1999a, p. 31), 
ou ainda que, sempre que existe uma forma de vida social minimamente organizada, 
há também alguma forma de vida jurídica (DURKHEIM, 1999a, p. 3132) (...)” (Pág. 
30); 
“Grosso modo, a moral é o que define o domínio do bem e do mal, do certo e 
do errado, do justo e do injusto, do que devemos e do que não devemos fazer.” (Pág. 
31); 
‘’(...) ela é um conjunto de regras bem definidas que prescrevem 
a nossa conduta. É nesse sentido que, segundo Durkheim, a moral aparece a 
nós como um dever que constrange a nossa vontade, pois ela é um fato social.’’ (Pág. 
31); 
‘’Porém, para o autor, esse seria apenas o caráter mais exterior da moral, 
apenas a forma com que ela aparece para nós. Aquilo que constitui a sua verdadeira 
substância, a sua alma, é a moral enquanto um “bem” (...)” (Pág. 31); 
‘’(...) a moral é um bem porque é expressão doideal social que compartilhamos. 
Tomando de empréstimo o par conceitual proposto pelo filósofo Fichte, o dever é a 
“letra” da moral, é seu aspecto formal e exterior, enquanto o bem é seu “espírito”, que 
não é apenas a parte mais interior dessa realidade, mas também sua substância, sua 
razão de ser.’’ (Pág. 31); 
“Na perspectiva durkheimiana, aderir a uma moral não é aderir a uma 
sociedade enquanto entidade física, mas é aderir ao ideal social que ela representa, 
5 
 
que são aquelas representações investidas de um caráter sagrado que dizem o que 
desejamos ser.” (Pág. 32); 
‘’(..) aderir a uma moral não é apenas obedecer a um conjunto de regras, mas 
é, sobretudo, aderir a certo ideal social. É acreditar que determinado conjunto de 
valores são bons e desejáveis.’’ (Pág. 32); 
‘’Mas isso não quer dizer que as regras não sejam importantes. As regras 
são esses ideais convertidos em prescrições de conduta. Por exemplo, ao ideal que 
considera a vida humana como algo inviolável corresponde à regra de 
não cometer homicídio (...)’’ (Pág. 32); 
‘’Tudo isso que vale para a moral vale para o direito. Em determinado 
aspecto, a moral e o direito são um mesmo fenômeno: ambos consistem em regras 
de conduta que servem para garantir a continuidade da existência da 
sociedade, não apenas de seu corpo (o conjunto dos indivíduos em interação), 
mas também a sua alma (os ideais coletivos). Porém, ao mesmo tempo, são 
fenômenos diferentes.’’ (Pág. 32); 
“O ponto de partida para a identificação de ambos os fenômenos, e que também 
constitui o núcleo de sua diferenciação, é o conceito de sanção. Grosso modo, a 
sanção é definida como a característica que mais facilmente permite identificar um 
fato moral ou um fato jurídico, na medida em que consiste no efeito, positivo ou 
negativo, provocado por uma regra moral ou jurídica.” (Pág. 32); 
‘’(...) no mundo da moral e do direito, a consequência 
é sempre mediada, e a sanção consiste nessa mediação; afinal “essa reação 
predeterminada, exercida pela sociedade sobre o agente que infringiu a regra, 
constitui aquilo a que chamamos de sanção” (DURKHEIM, 1975, p. 275). (Pág. 33); 
‘’(...) há regras morais que se tornam jurídicas. Muito frequentemente o direito 
não se desvincula dos costumes que constituem o seu substrato, tampouco os 
costumes do direito que os realiza e os determina. [...]’’ (DURKHEIM,1975, p. 79-80). 
(Pág. 33); 
“Portanto, a principal diferença entre moral e direito não reside tanto no 
conteúdo da regra, nem no fato de a moral constituir o domínio da ação por respeito 
à lei, enquanto o direito define o domínio da ação em conformidade com a lei. A 
principal diferença é que a moral é um domínio mais difuso, cujas sanções não são 
tão bem definidas e podem ser aplicadas por qualquer membro da sociedade. Por sua 
6 
 
vez, o direito é caracterizado por regras muito específicas, estabelecidas mediante um 
processo maior de deliberação entre aqueles encarregados de instituí-las, e cuja 
desobediência implicará uma punição estabelecida a priori e será imputada por um 
corpo de especialistas que possuem a autoridade para julgar sua ação e determinar 
sua punição.” (Pág. 33); 
 
 
2.3. OS ARGUMENTOS SOBRE A PENA 
 
“Como acabamos de ver, a sanção é uma reação predeterminada a uma ação, 
que pode ser tanto positiva quanto negativa. A reação positiva é sempre uma reação 
de aprovação (...)” (Pág. 34); 
“Porém, a sua forma mais evidente é geralmente a sanção negativa, na medida 
em que consiste numa reação mais ostensiva do que a positiva. Tal sanção negativa, 
isto é, uma reação de desaprovação do ato que infringiu a regra, é chamada de 
punição ou, em termos mais técnicos, pena.” (Pág. 34); 
“De forma geral, a discussão sobre a pena, propriamente dita, pode ser 
encontrada em três contextos distintos. Em primeiro lugar, as considerações a esse 
respeito têm lugar em sua investigação sobre os tipos de solidariedade social, em que 
busca uma explicação para o fenômeno da divisão do trabalho nas sociedades 
modernas. O autor introduz a discussão sobre a pena, ensaiando uma definição 
bastante peculiar a esse respeito, tendo como objetivo maior chegar à proposição de 
que as sociedades em que o vínculo social é estabelecido de maneira “mecânica”, isto 
é, por similitudes, são aquelas em que o desrespeito a solidariedade constitui um 
“crime” e, portanto, implica uma sanção repressiva, uma “pena”.” (Pág. 34); 
‘’Portanto, a discussão sobre a pena ocorre em função da investigação sobre 
os tipos de solidariedade. Para o autor, a pena é caracterizada inicialmente como uma 
“reação passional” (...)” (Pág. 35); 
“Porém, isso não quer dizer que o Direito Penal não possua qualquer razão de 
ser nas sociedades contemporâneas, muito ao contrário. Embora sua importância na 
manutenção da solidariedade social seja menor do que nas sociedades com 
solidariedade orgânica, ele continua a desempenhar o papel de “guardião” dos valores 
7 
 
sociais mais importantes, dotados até mesmo decerta sacralidade, porque expressão 
da própria consciência coletiva’. Aliás, essa reação mais passional por parte da 
sociedade, e que adquire uma forma mais racionalizada no âmbito das regras 
jurídicas, é facilmente percebida diante de casos que geram maior comoção por parte 
da sociedade (...)” (Pág. 35); 
“Dentre os episódios relativamente recentes que provocaram uma reação de 
natureza explicitamente passional em nível nacional, podemos recordar o Caso 
Richthofen e o Caso Nardoni.” (Pág. 36); 
Entretanto, para Durkheim a pena não é justificada pelo seu caráter puramente 
retributivo (...).’’ (Pág. 36); 
‘’A pena não serve, ou só serve de maneira muito secundária, para corrigir o 
culpado ou intimidar seus possíveis imitadores; desse duplo ponto de vista, sua 
eficácia é justamente duvidosa e, em todo caso, medíocre. Sua verdadeira função é 
manter intacta a coesão social, mantendo toda a vitalidade da consciência comum.’’ 
(DURKHEIM, 1999a,p. 81-82). (Pág. 36); 
‘’Em suma, no que se refere à sua função, o sentido da pena é o de restituir o 
respeito pela lei, é lembrar aos indivíduos que aquele ideal no qual acreditavam 
continua valendo, que aquele sistema não foi ameaçado e que a regra continua a ter 
autoridade. Serve, por exemplo, como afirmação de que a Constituição que 
regulamenta e protege a vida dos indivíduos no contexto de um Estado de Direito não 
foi descartada.’’ (Pág. 37); 
‘’Em contrapartida, quando as violações não são punidas, a regra — no caso 
do nosso exemplo, a própria Constituição — perde a sua credibilidade, implicando um 
enfraquecimento dos ideais sociais que ela expressa. Portanto, esse deveria ser o 
fundamento real da pena, e não uma expiação ou uma forma de vingança.’’ (Pág. 37); 
“(...) discussão da pena é desvinculada do direito penal enquanto tal, uma vez 
que é circunscrita ao universo escolar; contudo, talvez por isso mesmo, por não estar 
preso a questões de fundo jurídico, o autor encontra maior liberdade para refletir sobre 
as características mais gerais da pena, retomando e aprofundando alguns dos 
argumentos apresentados em Da divisão do trabalho.” (Pág. 37); 
8 
 
‘’(...) a pena só poderia ter alguma eficácia sobre aqueles que não manifestam 
certa tendência para o crime, mas muito pouco sobre aqueles predispostos a isso, 
afinal “o castigo é o risco profissional do delinquente” (DURKHEIM, 2008, p. 121). 
(Pág. 37); 
‘’(...) Durkheim afirma que a aplicação da pena é algo necessário enquanto 
cumpre a função de tranquilizar as consciências de que sua fé nos valores em que 
acreditam continua a ter as mesmas razões de ser. Portanto, o tratamento austero em 
relação ao criminoso, a dor presente na punição, é apenas um reflexo da pena, mas 
não seu elemento essencial, é apenas sua característica mais exterior, mais visível. 
Na verdade, se a expiação do crime fosse a verdadeira essência da pena (...) (Pág. 
38);“Trata-se de um estudo empírico em que o autor defende que a intensidade da 
pena diminui com a complexificação das sociedades e na medida em que o poder 
político se torna mais absoluto. Outra “lei” apreendida a partir de suas investigações 
postula que a privação da liberdade, e apenas da liberdade, durante períodos 
variáveis de tempo, tende a se tornar o tipo “normal” de repressão.” (Pág. 39); 
 
 
2.4. O SIGNIFICADO SOCIAL DO CRIME 
 
‘’(...) o mais interessante a reter seja o argumento de que a essência do crime 
não reside no ato em si, mas no fato de que constitui uma ofensa grave a consciência 
coletiva, ou seja, “não se deve dizer que um ato ofenda a consciência comum por ser 
criminoso, mas que é criminoso porque ofende a consciência comum” (DURKHEIM, 
1999a, p. 52). (Pág. 39); 
‘’Portanto, é na própria consciência coletiva que se deve buscar as explicações 
para aquilo que é considerado um crime em determinada sociedade, afinal o crime é 
aquilo que coloca em risco a validade dessas representações que constituem essa 
consciência, que é a maior fonte de autoridade moral e a condição de possibilidade 
da própria sociedade.’’ (Pág. 40); 
“(...) “o crime não é apenas a lesão de interesses, inclusive consideráveis, é 
uma ofensa a uma autoridade de certa forma transcendente” e, acrescenta, 
9 
 
“experimentalmente, não há força moral superior ao indivíduo, salvo a consciência 
coletiva” (DURKHEIM, 1999a, p. 56).” (Pág. 40); 
‘’(...) na última seção do terceiro capítulo do livro As regras do método 
sociológico, onde encontramos uma afirmação que é possivelmente a mais 
controversa a esse respeito, qual seja, a de que o crime é entendido como um “fato 
normal”.’’ (Pág. 40); 
‘’(...) é preciso mencionar que o autor afirma que um fato social é “normal” 
quando ele é o que deveria ser e é considerado patológico quando deveria ser de 
outro modo. Portanto, o próprio critério de normal tem seu sentido e sua 
validade determinados na relação com um fim — o que deveria ser —previamente 
estabelecido. (Pág. 40); 
“(...) um comportamento que não corresponde ao normal pode ser patológico, 
quando ameaça a existência da vida social enquanto um organismo minimamente 
integrado, ou pode ser simplesmente desviante.” (Pág. 41); 
“Vamos inicialmente relembrar que Durkheim define o crime como qualquer 
forma de violação ou ofensa (...)” (Pág. 41); 
“Ao afirmar que se trata de um fenômeno normal, não quer dizer que o crime 
seja uma pratica generalizada em todas as sociedades, pois uma pratica generalizada 
sequer poderia ser considerada crime; mas quer antes dizer que se trata de um fato 
presente em todas as sociedades (...)” (Pág. 41); 
“(...) crime nos ajuda a ver a diferença entre um fato social normal qualquer e 
um fato social moral. O crime, dentro de determinadas taxas, faz parte do 
funcionamento normal da sociedade (...)” (Pág. 41); 
“No entanto, a própria definição de crime é a de um ato imoral, enquanto ofensa 
a consciência publica, o que nos faz perceber que nem tudo o que é “normal” é moral.” 
(Pág. 41); 
“(...) o crime, ao menos certo tipo de crime, não é apenas algo inevitável, mas 
também desejável.” (Pág. 41); 
“(...) para Durkheim, uma sociedade sem crime, isto é, sem desvios da 
consciência moral média, seria uma sociedade de santos, uma sociedade impossível, 
10 
 
baseada sobre uma consciência social absolutamente homogênea e inflexível.” (Pág. 
42); 
“(...) crime está ligado às condições fundamentais de toda e qualquer vida social 
e representa o elemento que torna possível a dinâmica, ou melhor, a própria evolução 
da moral e do direito que devem mesmo ser dinâmicos.” (Pág. 42); 
“Ou seja, essa matriz sociológica que nos apareceu a princípio como 
fundamentalmente positiva mostra que é possível ser investida de uma intenção 
crítica, na medida em que o direito não é considerado simplesmente um epifenômeno 
dos costumes e a sociologia não precisa ser apenas uma descrição das regras 
jurídicas que sintetizam esses costumes na forma da lei.” (Pág. 43); 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
‘’Primeiro, ela deve ser capaz de perceber que há uma relação dialética entre 
moral e direito, na qual ambos se influenciam mutuamente, transformando-se e 
produzindo novas sínteses.’’ (Pág. 44); 
‘’O direito deve ser sensível às representações sociais elaboradas no seio da 
coletividade: muitas vezes, as transformações ocorridas nos ideais sociais têm um 
ritmo mais acelerado do que as transformações jurídicas, e a sociologia deveria ser 
capaz de mostrar quando o direito passou a ser equivocadamente conservador.’’ (Pág. 
44); 
‘’Por outro lado, muitas vezes a consciência moral de grupos que são 
socialmente mais numerosos legitimam prescrições que já não são coerentes com a 
lógica mais fundamental da sociedade em questão. Nesse caso, o direito não deve 
ser a expressão dessa consciência média e a sociologia deveria ser capaz de fornecer 
justificativas para esse descolamento.’’ (Pág. 44); 
‘’(...) na medida em que ela seria a expressão da lógica mais fundamental das 
sociedades pautadas pela solidariedade orgânica, ou seja, aquelas cuja existência 
depende não do fato de que todos os indivíduos partilhem as mesmas convicções, 
11 
 
mas justamente do fato de que ela permite que estes sejam profundamente 
diferenciados.’’ (Pág. 44); 
Vemos, portanto, que há um campo de atuação imensamente amplo para essa 
disciplina e que, por mais que certos elementos da teoria durkheimiana tenham um 
caráter datado, isso não significa que não seja possível encontrar muitos outros que 
se mostrem relevantes no cenário atual, os quais o presente texto procurou indicar 
brevemente. (Pág. 45);

Continue navegando