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ARA1102 PSICOLOGIA EXISTENCIAL HUMANISTA ANNA AMÉLIA FREITAS - 2023.2 TEMA 01 1.2 Conceitos Essenciais do Método Fenomenológico A FENOMENOLOGIA A palavra mais elementar do estudo em fenomenologia: o FENÔMENO. De forma reduzida, significa aquilo que aparece. Lembre-se da expressão “fenômeno natural” que refere-se a um tufão ou relâmpagos, e está de acordo com o conceito de fenômeno porque são COISAS QUE APARECEM NA NATUREZA, sendo consideradas, como eventos “normais”. Tratamos a palavra fenômeno no estudo psicológico, da mesma forma: AQUILO QUE APARECE À CONSCIÊNCIA. Entendemos o fenômeno não como uma coisa objetiva que possa ser instrumentalizada, testada, medida e experimentada (como se almejava nos estudos cientificistas na Psicologia). O fenômeno não é algo que se encontra concretamente na consciência. FENÔMENO MENTE E CONSCIÊNCIA É importante revermos o entendimento sobre o que é MENTE e CONSCIÊNCIA e encararmos da forma menos material possível, pois isso é algo que eles não são. Ex.: o conceito de informação, código eletroquímico realizado nas sinapses, e não um objeto que possa ser armazenado no cérebro (visão materialista). O FENÔMENO PSÍQUICO, para a fenomenologia, deve ser entendido como algo que se apresenta à consciência, sempre de maneira transitória e própria de cada experiência do sujeito. Nunca independente da experiência vivencial do sujeito. Sempre um dado sensível, não absoluto e ligado à relação sujeito-objeto, no aqui-agora da vivência. Toda experiência, representa um fenômeno único na nossa consciência. FENÔMENO PSÍQUICO INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA Em Franz Brentano, a consciência estaria estruturada em atos próprios das vivências de cada sujeito do conhecimento. Husserl foi aluno de Brentano e foi influenciado especialmente pelo entendimento que ele tinha sobre a consciência. Naquela época tínhamos: Por um lado, uma Psicologia aos moldes de uma ciência natural, que não conseguia nem o acesso à “verdade” das coisas nem ao sujeito do conhecimento. Por outro, tínhamos as contribuições da hermenêutica e do historicismo, que mais relativizavam o conhecimento do que o aprofundavam. INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA Husserl usa tal conceito para estruturar sua fenomenologia. Entende que a CONSCIÊNCIA se faz na relação vivencial entre sujeito e objeto, disposta no aqui-agora. Fenômeno é sempre algo de uma relação sujeito-objeto, que nunca é do objeto e nem do sujeito apenas. Emerge nessa relação, ligado ao estado intencional da consciência. Podemos dizer que não existe consciência cheia ou vazia (ela não é um repositório). INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA Não existe algo pensado que não seja de uma consciência e não existe consciência que não seja de um pensamento. A INTENCIONALIDADE faz essa ligação entre a consciência e o mundo (a consciência está sempre voltada para um objeto). A fenomenologia é um estudo, uma investigação que envolve uma VISADA, ou seja, uma relação entre consciência e mundo na qual o objeto (fenômeno psíquico) é sempre emergente dessa relação, mas que é experiencial, do momento. Logo, a fenomenologia é empirista, é feita sempre via experienciação. A consciência está sempre em movimento, é sempre de algo, e esse algo é sempre de uma consciência. VOLTAR ÀS COISAS MESMAS A expressão “voltar às coisas mesmas” significa que o objetivo de Husserl era o estudo das estruturas essenciais presentes enquanto consciência pura (consequência da fenomenologia). Ir às coisas mesmas é a busca da fenomenologia como REDUÇÃO EIDÉTICA (das essências), é ver ou perceber o mundo tal qual ele nos parece. Redução de tudo que não é da essência do objeto (aquilo que é transitório e contextual). Redução do conjunto de valores e juízos que é da particularidade do sujeito e que na relação com o objeto pode corromper o acesso a essência deste. A investigação fenomenológica, que é feita de experienciação, é calcada num MÉTODO RACIONALISTA, ou seja, utiliza a razão como recurso à investigação lógica das essências. VOLTAR ÀS COISAS MESMAS Ir às coisas mesmas é ir ao encontro dessas essências (além das aparências). O método fenomenológico visa o encontro dessas essências. Com isso, teríamos um conhecimento que não é meramente do sujeito (após redução) nem da coisa visada. Husserl, então, ao propor tal retorno às coisas mesmas, resolve o problema epistemológico da época. Não segue a linha das ciências naturais e do movimento empirista e positivista, trazendo um NOVO MÉTODO (sem o “selo” de ciência imposto pela época). Na verdade, sua obra abre as portas para uma Psicologia Fenomenológica e, mais tarde, também Existencial. Assim é chamado o trabalho nuclear de Husserl, ou simplesmente FENOMENOLOGIA, veio como uma crítica à Psicologia objetivista que excluía a subjetividade do sujeito do conhecimento. Faz críticas à noção de causalidade imposta pelo modelo cientificista das ciências naturais (naturalismo) e a visão do comportamento como mera consequência dessa relação de causa e efeito, devido a esse movimento naturalista/positivista de anular e controlar a subjetividade do sujeito do saber. FENOMENOLOGIA DA CONSCIÊNCIA Husserl não pretende anular e nem controlar a SUBJETIVIDADE, entende que ela FAZ PARTE DESSA RELAÇÃO CONSCIÊNCIA-MUNDO, tornando a fenomenologia mais preparada para não cair nas armadilhas que o empirismo caiu (por exemplo, achar que pode ter um conhecimento isento e imparcial). FENOMENOLOGIA DA CONSCIÊNCIA A fenomenologia é, então, um método e ao mesmo tempo uma epistemologia (estudo do conhecimento), se revelando um estudo das essências, tentando se conectar com esse mundo desconhecido e transcendental que está sempre lá, suspendendo tudo aquilo que não é das essências. É uma busca às coisas mesmas (essências), mas como o sujeito as perceber de forma mais pura, com um rigor metodológico. FENOMENOLOGIA DA CONSCIÊNCIA O rigor aqui está marcado por um conjunto de características metodológicas que, consideram a subjetividade do sujeito e não se deixa enganar pelas armadilhas dessa subjetividade. Não recorrendo a um ceticismo ou controle dessa subjetividade (como o historicismo e o naturalismo). Por isso, a fenomenologia se encontra entre o realismo e o idealismo, numa postura equilibrada e integrativa. 01. ATITUDE FENOMENOLÓGICA E ATITUDE NATURAL Husserl designava o termo ATITUDE NATURAL para se referir a atitude comum presente nas ciências naturais e nas pessoas ao se posicionarem de forma acrítica e irreflexiva diante do que é experienciado. Isso se deve à corrente do realismo materialista que, de tão inserida nas ciências naturais e no senso comum, faz com que as pessoas acreditem que existe uma realidade inerente às coisas do mundo, uma realidade que tem relação diretamente pela percepção. A CARACTERÍSTICAS DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO Consequência disso é que na ATITUDE NATURAL não há uma postura crítica reflexiva sobre o que recebe, tornando-o um “já dado”, algo tomado como verdadeiro. A ciência, mesmo as naturais e positivistas investigavam o “já dado” (tentando extrair a verdade do que está posto), mas muitas “verdades” produzidas pela ciência tornam-se objetos constituídos, uma verdade além da crítica reflexiva. A atitude natural, refere-se à correspondência do sujeito com o que está "fora" dele – a natureza – tomado como já dado ou já estando aí de antemão. Não há uma reflexão sobre o "já dado", não há, na atitude natural, uma reflexão crítica a respeito do "dado" enquanto tal. CARACTERÍSTICAS DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO CARACTERÍSTICAS DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO Nos tempos atuais, muitos colocam as “verdades científicas” quase como dogmas inquestionáveis, e qualquer atitude mais crítica e reflexiva é condenável como sendo algo avesso à lógica científica. É justamente o contrário: o cientista deve ter sempre uma postura crítica e reflexivadaquilo que é dado, daquilo que é imposto como verdade. Por outro lado, temos a ATITUDE FENOMENOLÓGICA, que é a postura reflexiva de questionar o que já fora dado. Implica em suspender a atitude natural (suspender não significa excluir), deixando temporariamente de lado tudo aquilo posto como dado absoluto e irrefutável. A atitude fenomenológica então recai num CETICISMO? Não, pois sua postura não é cética, não é de descrença, mas sim de questionamento que nos leva a uma suspensão do nosso juízo frente àquilo que é dado para deixar emergir com mais liberdade a “coisa mesma”, a essência. O questionamento é emergente da relação sujeito-objeto e consciência-mundo e imanente à consciência. O que significa dizer que é IMANENTE À CONSCIÊNCIA? Significa que o objeto final da fenomenologia é da consciência pura, que passou pela atitude de suspender os juízos presentes na atitude natural, rompendo com o que já estava posto. Husserl considera o transcendente como aquilo atribuído como realidade do objeto a ser estudado, vai além dele por não ser facilmente reconhecido, embora seja um dado objetivável no método científico. CARACTERÍSTICAS DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO A objetificação tornada concreta pela linguagem fica permeada de ruídos que podem mais mascarar do que clarear a essência das coisas. Portanto, a atitude fenomenológica deve suspender o que é transcendental, por estar exatamente presente de forma objetiva na atitude natural, permeada de “sujeiras” impostas pelo tempo e o contexto social da ciência. https://questcosmic.wordpress.com/2017/11/15/no-campo-fenomenologico-da-imanencia-transcendencia/ CARACTERÍSTICAS DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO 02. REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA PSICOLÓGICA, EIDÉTICA, TRANSCENDENTAL E EPOCHÉ A ATITUDE FENOMENOLÓGICA faz com que suspendamos a ATITUDE NATURAL, para que estejamos mais abertos ao devir da experienciação. O método fenomenológico não se baseia somente nisso. É preciso que façamos o que Husserl chama de EPOCHÉ - ação típica da atitude fenomenológica de posição crítica e reflexiva daquilo que já foi dado como verdade, mas que precisa ser reexperienciado. CARACTERÍSTICAS DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO O processo de REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA é acompanhado pelo processo de descrição fenomenológica, consiste na descrição pelo sujeito daquilo que é experenciado. É um voltar para a própria consciência para observar como se dá este processo de conhecimento. O método, quando usado na clínica psicológica, envolve uma descrição do sujeito/cliente, ao mesmo tempo que faz a redução fenomenológica (facilitada pelo psicoterapeuta), daquilo que está sendo experienciado no aqui-agora para então desvelar sentidos. Quando falamos aqui de objeto, referimo-nos ao objeto que é fenômeno psíquico. A fenomenologia defende que essa relação entre o sujeito do conhecimento e o objeto conhecido (agora, como fenômeno psíquico) não é separada. A consciência (devido a sua intencionalidade) é permeada de elementos do objeto (via percepção) e que esse objeto é sempre fruto dessa relação com a consciência (diferente daquilo que era estabelecido pelo psicologismo, quando o objeto poderia ser visto como um dado objetivável, tratado, mensurado e controlado pela consciência). A RELAÇÃO SUJEITO-OBJETO No psicologismo, acreditava-se que a consciência não interfere na natureza imanente presente no objeto e que nem este interferiria na natureza da consciência. Isso traria a defesa de que até a consciência poderia ser estudada como um objeto a ser controlado. A fenomenologia foi fortemente contra essa ideia (do psicologismo e da Psicologia de Wundt por acreditar que sujeito/consciência e objeto eram cooriginários e deveriam passar por um método rigoroso de “tratamento” dessa relação para que o acesso às essências fosse definitivamente eficaz, sem enganos e armadilhas não vistas pelas ciências naturais com sua suposta NEUTRALIDADE CIENTÍFICA. A RELAÇÃO SUJEITO-OBJETO É com a ATITUDE FENOMENOLÓGICA e todo o método fenomenológico que foi desmistificada essa neutralidade científica. Passamos a ter um método que pode verdadeiramente acessar a essência das coisas com isenção e sem recorrer a concepções idealistas que decairiam numa relativização da verdade e até num ceticismo. A RELAÇÃO SUJEITO-OBJETO FENOMENOLOGIA TEORIA CRÍTICA DO CONHECIMENTO SUSPENSÃO FENOMENOLÓGICA (NEM NEGAÇÃO NEM AFIRMAÇÃO) COLOCAR OS PRESSUSTOS ENTRE PARÊNTESES TRANSCENDÊNCIA A CONSCIÊNCIA É UM MOVIMENTO ABERTO, ESTÁ SEMPRE VOLTADA PARA ALGO ALÉM/FORA DELA SEMPRE QUE EU PENSO, PENSO SOBRE ALGUMA COISA PRA TODO PENSAR HÁ UM PENSADO CONHECIMENTO IMANENTE DOMÍNIO DO CONHECIMENTO INDUBITÁVEL SE ENCONTRA NA VIVÊNCIA COGNITIVA PURA COMO EVIDENTE PROCESSO DE QUESTIONAR, DE COLOCAR EM DÚVIDA O ATO DE CONHECER NÃO PODE SER COLOCADO EM DÚVIDA OBRIGADA! ANNA AMÉLIA FREITAS - 2023.2
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