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apostila -ASPECTOS SOCIOANTROPOLÓGICOS

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0 
 
ASPECTOS SOCIOANTROPOLÓGICOS 
 
 
 
1 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, 
em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo 
serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
 
 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 3 
 COMO SURGEM OS ESTUDOS DO HOMEM .................................................... 4 
2.1 A profissão de antropólogo e a ciência antropológica ....................................... 5 
2.2 A diversidade .................................................................................................... 8 
2.3 O Conceito De Cultura .................................................................................... 10 
 QUE É ETNOCENTRISMO ............................................................................... 13 
3.1 Etnos .............................................................................................................. 13 
 IDEOLOGIAS ETNOCÊNTRICAS ..................................................................... 18 
4.1 Exemplos De Ideologias Etnocêntricas ........................................................... 19 
 A DIVERSIDADE CULTURAL: ALGUMAS REFLEXÕES .................................. 21 
5.1 Campos Iniciais Da Antropologia .................................................................... 24 
5.2 A Antropologia Hoje ........................................................................................ 27 
 A ESCRITA ANTROPOLÓGICA E A CONSTRUÇÃO DE “PERFIS” SOCIAIS .. 32 
6.1 Evolucionismo Social E Materialismo Cultural ................................................. 34 
REFERÊNCIA .......................................................................................................... 36 
 
 
 
 
 
3 
 INTRODUÇÃO 
 
Iniciamos nossa jornada de estudos buscando compreender melhor o 
significado de antropologia cultural e social, que, no caso, diz respeito a TUDO que 
constitui uma sociedade, incluindo a nossa: “[...] seus modos de produção econômica, 
suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus 
sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas, sua língua, sua psicologia, suas 
criações artísticas” (LAPLANTINE, 2000, p. 19). De acordo com Lévi-Strauss (1974, 
p. 80), o antropólogo busca compreender aquilo que os homens “não pensam 
habitualmente em fixar na pedra ou no papel”. 
Os gestos, as trocas simbólicas, os detalhes do comportamento humano são 
os objetos do estudo do homem. A antropologia é o estudo das culturas humanas, 
assim como de um TODO na sua diversidade histórica e geográfica (LAPLANTINE, 
2000). A antropologia social trabalha, inicialmente, com os sistemas de pensamento, 
destaca a coesão das instituições, o caráter integrativo da família, da moral e da 
religião (DURKHEIM,1979). A antropologia social e cultural tem o mesmo campo de 
investigação: 
O social é a totalidade das relações (relações de produção, de exploração, de 
dominação...), que os grupos mantêm entre si dentro de um mesmo conjunto (etnia, 
região, nação...) e para com outros conjuntos, também hierarquizados. 
A cultura, por sua vez, não é nada mais que o próprio social, mas é considerado 
dessa vez sob o ângulo dos caracteres distintivos que apresentam os 
comportamentos individuais dos membros desse grupo, bem como suas produções 
originais (artesanais, artísticas, religiosas...) (LAPLANTINE, 2000, p. 95). Os 
antropólogos culturais e sociais possuem os mesmos métodos etnográficos, fazem 
análises comparativas. 
No ângulo da antropologia social, a comparação é o social como sistema de 
relações sociais e na antropologia cultural observa-se o social através dos 
comportamentos particulares dos membros do grupo pesquisado. “Nossas maneiras 
específicas, enquanto homens e mulheres de uma determinada cultura, de pensar, de 
encontrar, trabalhar, se distrair, reagir frente aos acontecimentos (por exemplo, o 
nascimento, a doença, a morte) (LAPLANTINE, 2000, p. 96). 
 
 
 
 
4 
 COMO SURGEM OS ESTUDOS DO HOMEM 
 
A antropologia tem origem na Europa, assim como a sociologia. Na França e 
em alguns países, muitos cientistas sociais não fazem distinção entre as duas. O 
surgimento da sociologia e da antropologia deve-se a uma série de mudanças 
políticas, sociais e econômicas do cenário daquela época. 
O contato com os novos povos gerou muitos questionamentos, desde o início 
das grandes navegações nos séculos XIV e XV. Marco Polo (apud LAPLANTINE, 
2000, p. 60) fez um dos primeiros questionamentos antropológicos a partir da 
experiência de estar em contato com novos povos: “Como podem povos tão iguais 
(física e biologicamente) produzir culturas tão diferentes?” 
O que você acha, caro acadêmico? Como povos tão iguais desenvolvem 
culturas tão diferentes? Vivemos em um país com diversas culturas locais riquíssimas, 
mas fazemos parte da mesma nacionalidade, somos todos brasileiros, no entanto, 
praticamos ações e visões culturais bastante diferentes dos demais em nosso país. 
 
 Figura 1 - Estudo Do Homem 
 
 
 https://br.depositphotos.com/vector-images/das-culturas.html 
 
 
 
Voltamos para as grandes navegações e suas expansões pelos saberes 
antropológicos. Primeiramente, as sociedades espanhola e portuguesa delegaram à 
Igreja Católica Romana a função de conhecer e compreender os povos conquistados, 
 
 
 
5 
através das pesquisas dos jesuítas com os indígenas no processo de catequização. 
Seus estudos tinham o objetivo de conhecer o povo nativo para “dominá-lo” e colonizá-
lo. Como bem sabemos, os indígenas (e depois os africanos escravizados) foram 
utilizados como mão de obra em muitas terras conquistadas pelos portugueses e 
espanhóis. 
Os britânicos, franceses e holandeses utilizaram outra técnica de 
dominação dos povos nativos, que não estava ligada à religião. 
Desejavam manipular sua base econômica para a produção comercial, 
não se interessavam em mudar as leis dos povos ou impor-lhes sua religião, tinham 
um objetivo: “Conhecer para manter”. A partir desta origem, a antropologia está 
embasada em três temas: Antropologia pragmática, “conhecer outros povos para 
explorá-los”, que poderia ser trabalhada no estudo da linha evolucionista na 
antropologia. 
Antropologia romântica, que tenta proteger o povo conquistado do contato 
e absorção pela civilização dominadora. E a antropologia científica, sendo estudada 
na linha funcionalista e estruturalista – social e cultural. 
 A antropologia estuda todas as sociedades humanas, inclusive a nossa 
sociedade. É recente o estudo das chamadas sociedades complexas, as primeiras 
pesquisas trataram dos aspectos “tradicionais” das sociedades não tradicionais. 
Analisavam-se as comunidades camponesas europeias, logo após a atenção foi 
voltada para gruposmarginais e há poucos anos iniciou-se o estudo nas cidades. 
Anteriormente, a antropologia voltou-se para o estudo das civilizações primitivas, 
porém seu objeto de pesquisa mudou e, assim, muitas reflexões foram desenvolvidas 
para que as bases epistemológicas fossem amadurecidas. 
 
2.1 A profissão de antropólogo e a ciência antropológica 
A profissão de antropólogo e a ciência antropológica surgiram no início do 
século XX, com os antropólogos Franz Boas (USA) e Bronislaw Malinowski 
(Inglaterra). A antropologia como ciência contribui com diversas formas de analisar as 
sociedades, o estranhamento da cultura do outro, o choque cultural a partir do contato 
com outra cultura e a negação do etnocentrismo são fatores positivos para um olhar 
diferenciado para o modo de viver em sociedade. 
 
 
 
6 
Figura 2 - Culturas 
 
 
 https://br.depositphotos.com/vector-images/das-culturas.html 
 
A antropologia estuda ou analisa diversas formas de culturas e suas relações 
com o viver em sociedade. Segundo Giddens (2005), a cultura de uma sociedade 
compreende tanto aspectos intangíveis – as crenças, as ideias e os valores que a 
formam –, como também os aspectos tangíveis, ou seja, os objetos, os símbolos ou a 
tecnologia que expressam este conteúdo. A noção de cultura parece ofertar a resposta 
mais ampla à questão da diferença entre os povos. De acordo com Cuchê (1999), o 
homem é essencialmente um ser cultural. 
“A cultura permite ao homem não somente adaptar-se a seu meio, mas também 
adaptar este meio ao próprio homem, a suas necessidades e seus projetos. Em suma, 
a cultura torna possível a transformação da natureza” (CUCHÉ, 1999, p. 10). No final 
do século XVIII e no início do século XIX, o termo germânico “Kultur” era utilizado para 
simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra 
francesa “Civilization” referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. 
Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) (1971, p. 
71) no vocábulo inglês “Culture”, que "tomado em seu amplo sentido etnográfico é 
este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou 
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma 
sociedade". Com esta definição Tylor abrangia em uma só palavra todas as 
possibilidades de realização humana, além de marcar fortemente o caráter de 
aprendizado da cultura em oposição à ideia de aquisição inata, transmitida por 
 
 
 
7 
mecanismos biológicos (LARAIA, 2005). O conceito de cultura, utilizado atualmente, 
foi definido pela primeira vez por Tylor. Ele formalizou uma ideia que vinha crescendo 
na mente humana. 
A ideia de cultura, com efeito, estava ganhando consistência talvez mesmo 
antes de John Locke (1632-1704) que, em 1690, ao escrever Ensaio acerca do 
entendimento humano, procurou demonstrar que a mente humana não é mais do que 
uma caixa vazia por ocasião do nascimento, dotada apenas da capacidade ilimitada 
de obter conhecimento, através de um processo que hoje chamamos de enculturação. 
Locke (1978) refutou fortemente as ideias correntes na época, de princípios ou 
verdades inatas impressas hereditariamente na mente humana, ao mesmo tempo em 
que ensaiou os primeiros passos do relativismo cultural ao afirmar que os homens têm 
princípios práticos opostos: 
Quem investigar cuidadosamente a história da humanidade, examinar por toda 
a parte as várias tribos de homens e com indiferença observar as suas ações, será 
capaz de convencer-se de que raramente há princípios de moralidade para serem 
designados, ou regra de virtude para ser considerada... que não seja, em alguma parte 
ou outra, menosprezado e condenado pela moda geral de todas as sociedades de 
homens, governadas por opiniões práticas e regras de condutas bem contrárias umas 
às outras (LOCKE apud LARAIA, 2005, p. 14-15). 
Mais de um século transcorrido, Kroeber (1950, p. 85) escreveu que "a maior 
realização da Antropologia na primeira metade do século XX foi a ampliação e a 
clarificação do conceito de cultura". Porém, as centenas de definições formuladas 
após Tylor serviram mais para estabelecer uma confusão do que ampliar os limites do 
conceito. Em 1973, Geertz escreveu que o tema mais importante da moderna teoria 
antropológica era o de "diminuir a amplitude do conceito e transformá-lo num 
instrumento mais especializado e mais poderoso teoricamente" (GEERTZ apud 
CUCHÊ,1999, p. 15). A cultura, segundo Clifford Geertz (1978), é um sistema de teias 
de significado que foi tecido pelo próprio homem. A cultura não seria uma ciência 
experimental, mas uma ciência interpretativa à procura de um significado. 
 
 
 
 
 
 
 
8 
Figura 3 - o desenvolvimento do conceito de cultura 
 
Fonte: https://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/noticias/a-cultura-como-direito 
 
A primeira definição de cultura que foi formulada do ponto de vista 
antropológico, como vimos, pertence a Edward Tylor, no primeiro parágrafo de seu 
livro Primitive Culture (1871). 
Tylor (1871) procurou, além disto, demonstrar que cultura pode ser objeto de 
um estudo sistemático, “pois trata-se de um fenômeno natural que possui causas e 
regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capazes de proporcionar 
a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução” (TYLOR apud LARAIA, 
2005, p. 17). Mais do que preocupado com a diversidade cultural, Tylor preocupavase 
com a igualdade existente na humanidade. 
 
2.2 A diversidade 
A diversidade é explicada por ele como o resultado da desigualdade de 
estágios existentes no processo de evolução. Assim, uma das tarefas da antropologia 
seria a de "estabelecer, grosso modo, uma escala de civilização", simplesmente 
colocando as nações europeias em um dos extremos da série e em outro as tribos 
selvagens, dispondo o resto da humanidade entre dois limites. Mercier (1974) mostra 
 
 
 
9 
que Tylor pensava as "instituições humanas tão distintamente estratificadas quanto a 
terra sobre a qual o homem vive. Elas se sucedem em séries substancialmente 
uniformes por todo o globo, independentemente de raça e linguagem – diferenças 
essas que são comparativamente superficiais –, mas moduladas por uma natureza 
humana semelhante, atuando através das condições sucessivamente mutáveis da 
vida selvagem, bárbara e civilizada" (LARAIA, 2005, p. 18). 
Para entender Tylor é necessário compreender a época em que ele viveu. O 
seu livro foi produzido nos anos quando a Europa sofria o impacto da Origem das 
espécies, de Charles Darwin, e a “nascente antropologia foi dominada pela estreita 
perspectiva do evolucionismo unilinear” (LARAIA, 2005, p. 18). 
A principal reação ao evolucionismo, então denominado método comparativo, 
inicia-se com Franz Boas (1858-1949), nascido em Westfália (Alemanha) e 
inicialmente um estudante de física e geografia em Heidelberg e Bonn. Uma 
expedição geográfica a Baffin Land (1883-1884), que o “colocou em contato com os 
esquimós, mudou o curso de sua vida, transformando-o em antropólogo” (LARAIA, 
2005, p. 19). São as investigações históricas – reafirma Boas (1986) – o que convém 
para descobrir a origem deste ou daquele traço cultural e para interpretar a maneira 
pela qual toma lugar num dado conjunto sociocultural. 
Em outras palavras, Boas (1986) desenvolveu o particularismo histórico (ou a 
chamada Escola Cultural Americana), segundo a qual cada cultura segue os seus 
próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que enfrentou. A partir 
daí a explicação evolucionista da cultura só tem sentido quando ocorre em termos de 
uma abordagem multilinear BOAS apud LARAIA, 2005, p. 20). Alfred Kroeber (1950) 
(1876-1960), antropólogo americano, em seu artigo "O superorgânico", mostrou como 
a cultura atua sobre o homem, ao mesmo tempo em que se preocupou com a 
discussão de uma série de pontoscontrovertidos, pois suas explicações contrariam 
um conjunto de crenças populares. 
Demonstrou que graças à cultura, a humanidade distanciou-se do mundo 
animal. Para ele, o homem passou a ser considerado um ser que está acima de suas 
limitações orgânicas. A preocupação de Kroeber era evitar a confusão, ainda tão 
comum, entre o orgânico e o cultural. Não se pode ignorar que o homem, membro 
proeminente da ordem dos primatas, depende muito de seu equipamento biológico. 
Para se manter vivo, independentemente do sistema cultural ao qual pertença, ele tem 
 
 
 
10 
que satisfazer um número determinado de funções vitais, como a alimentação, o sono, 
a respiração, a atividade sexual etc., mas, embora estas funções sejam comuns a toda 
humanidade, a maneira de satisfazê-las varia de uma cultura para outra. 
É esta grande variedade na operação de um número tão pequeno de funções 
que faz com que o homem seja considerado um ser predominantemente cultural. Os 
seus comportamentos não são biologicamente determinados. A sua herança genética 
nada tem a ver com as suas ações e pensamentos, pois todos os seus atos dependem 
inteiramente de um processo de aprendizado. O homem é o resultado do meio cultural 
em que foi socializado. 
Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o 
conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o 
antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite 
as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um 
gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. De acordo com Laraia 
(2005), não basta a natureza criar indivíduos altamente inteligentes, isto ela o faz com 
frequência, mas é necessário que coloque ao alcance desses indivíduos o material 
que lhes permita exercer a sua criatividade de uma maneira revolucionária. 
 
2.3 O Conceito De Cultura 
O conceito de cultura pode ser relacionada nos seguintes pontos: 
1. A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do 
homem e justifica as suas realizações. 
2. O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos 
foram parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo pelo qual passou. 
3. A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Em 
vez de modificar o seu aparato biológico, o homem modifica o seu equipamento 
superorgânico. 
4. Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de romper as 
barreiras das diferenças ambientais e transformar toda a Terra em seu hábitat. 
5. Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado 
do que a agir através de atitudes geneticamente determinadas. 
 
 
 
11 
6. Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, é este 
processo de aprendizagem (socialização ou endoculturação) que determina o seu 
comportamento e a sua capacidade artística ou profissional. 
7. A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência 
histórica das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do 
indivíduo. 
8. Os gênios são indivíduos altamente inteligentes que têm a oportunidade de 
utilizar o conhecimento existente ao seu dispor, construído pelos participantes vivos e 
mortos de seu sistema cultural, e criar um novo objeto ou uma nova técnica. 
Nesta classificação podem ser incluídos os indivíduos que fizeram as primeiras 
invenções, tais como o primeiro homem que produziu o fogo através do atrito da 
madeira seca; ou o primeiro homem que fabricou a primeira máquina capaz de ampliar 
a força muscular, o arco e a flecha etc. São eles gênios da mesma grandeza de Santos 
Dumont e Einstein. Sem as suas primeiras invenções ou descobertas, hoje 
consideradas modestas, não teriam ocorrido as demais. E pior do que isto, talvez nem 
mesmo a espécie humana teria chegado ao que é hoje. 
No final do século XIX havia uma ideia de que civilizados eram os europeus e 
os norte-americanos, e as outras populações eram vistas como menos evoluídas, ou 
atrasadas. Franz Boas (1986) critica o uso do termo cultura com o sentido de ser mais 
ou menos civilizado. Para ele a cultura era múltipla, não se tratava de uma cultura, 
mas sim de várias “culturas”. 
Ao pensar cultura no “plural” pode-se desconstruir as hierarquias do 
pensamento colonial e racista da época, assim como analisamos cada cultura em sua 
perspectiva. Para Franz Boas (1986), os diferentes povos que há no mundo possuem 
diferentes culturas e entre elas é difícil estabelecer qualquer hierarquia. Em sua 
pesquisa com povos indígenas do noroeste americano e do Alasca, Boas (1986) 
verificou que as histórias das comunidades são tão particulares e preenchidas por 
interesses tão diversos que não há possibilidade de comparação. 
Para Franz Boas, cultura era um todo integrado, e não um conjunto 
desagregado de práticas, hábitos, técnicas, relações e pensamentos. Tal integração 
de múltiplos elementos se dá a partir de um princípio compartilhado por todos os 
indivíduos de uma sociedade específica, assim se criaria a cultura. 
 
 
 
12 
Por isso seria única e exclusiva de cada sociedade, o que inviabilizaria qualquer 
comparação. Segundo Boas (1986), qualquer comparação exigiria tanto cuidado e 
investigação histórica e antropológica que, na prática, seria muito difícil realizar tal 
ação, porque [...] “a cultura inclui o processo de simbolização, ou seja, de processos 
de substituição de uma coisa por aquilo que a significa” (SANTOS, 2006, p. 41). Para 
Santos (1984), a cultura é compreendida como a totalidade de uma dimensão da 
sociedade. Nos tempos atuais, ela seria algo como o conhecimento num sentido 
ampliado, ou seriam as maneiras pelas quais a realidade que se conhece é codificada 
por uma sociedade, através de palavras, ideias, doutrinas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 QUE É ETNOCENTRISMO 
 
 Vamos falar um pouco sobre a negação do etnocentrismo e o que isto tem a 
ver com antropologia e com nossas relações cotidianas. Começaremos com alguns 
exemplos para a tentativa de compreensão do que é etnocentrismo. Seguimos pela 
área musical, você gosta de que tipo de música? Você acredita que o estilo musical 
funk é melhor que a música popular brasileira (MPB)? Ou MPB é melhor que música 
clássica? De que forma classificamos o que é “melhor” ou “pior” em termos 
generalizantes? Quem dita as regras, ou normas, do que é bom para cada grupo 
social, povo ou nação? Questionamentos como estes nos levam a iniciar nossas 
reflexões a respeito do etnocentrismo. 
 
3.1 Etnos 
ETNOS: nação, tribo ou pessoas que vivem juntas, e CENTRISMO: centro. 
Logo, a ideia de que o grupo está no centro. Assim, as ideias, conceitos, modos de 
conviver, regramentos sociais, morais, culturais, sexuais, religiosos, ambientais, 
políticos, são para o grupo o centro de tudo. Ou seja, tais pontos dão-se como o “certo” 
e o que não se ajusta a isso está “errado”. CUCHÉ (1999) relata que de acordo com 
o sociólogo americano William G. Sumner (1906), etnocentrismo “é o termo técnico 
para a visão das coisas segundo a qual nosso próprio grupo é o centro de todas as 
coisas e todos os outros grupos são medidos e avaliados em relação a ele”. 
Cada grupo alimenta seu próprio orgulho e vaidade, considera-se superior, 
exalta suas próprias divindades e olha com desprezo as estrangeiras. Cada grupo 
pensa que seus próprios costumes (folkways) são os únicos válidos e se ele observa 
que outros grupos têm outros costumes, encara-os com desdém (SIMON apud 
CUCHÊ, 1999). Para Rocha (1994), o etnocentrismo pode ser visto por dois planos, o 
plano intelectual e o plano afetivo. No plano intelectual o etnocentrismo pode ser 
observado como a dificuldade de pensarmos a diferença. Já no plano afetivo, 
analisamos como sentimentos de estranheza, medo e hostilidade etc. De acordo com 
Everaldo Rocha (1994),o etnocentrismo mistura estes dois planos, pois eles 
compõem um fenômeno bastante presente na sociedade e que também é muito 
encontrado em nosso cotidiano. De certo modo, ao nos depararmos com o “diferente” 
nos sentimos ameaçados, já que nossa identidade cultural está sendo ferida ou 
 
 
 
14 
contestada. Existe uma clara distinção entre grupos, o grupo do “EU” e o grupo do 
“OUTRO”. 
Figura - 4 etnocentrismo 
 
 https://novosnavegantes.wordpress.com/porque-o-etnocentrismo-nao-deveria-existir/ 
 
O choque cultural se dá quando se verificam as formas como o viver de cada 
grupo se difere e nestes aspectos a diferença sobressai, assim o “EU” determina que 
sua visão é a única, ou a superior, a correta. Os questionamentos sobre como o grupo 
do “OUTRO” vive de determinada forma são frequentemente explanados. 
O grupo do “OUTRO” irá apresentar-se diante do grupo do “EU” como o 
engraçado, absurdo, anormal etc. O grupo do “EU” trabalha na perspectiva de 
fortalecimento da identidade, identificando-se como “perfeitos”, “excelentes” ou “ser 
humano”, e ao “OUTRO” chamam de “macacos da terra” ou “ovos de piolhos” (por 
exemplo). O grupo do “EU” é visto como “superior” e “civilizado”, seria a sociedade 
onde existem o saber e o progresso, já a do “OUTRO” seria “atrasada”. 
Voltando aos estilos musicais, identificamos diversos tipos de músicas, muitas 
são visualizadas como “boas” ou “ruins”, “decentes” ou “indecentes” e também são 
caracterizadas conforme sua origem de classe social. Caso venha de classe mais 
abastada, com grande poder aquisitivo, de um grupo que “aparenta” ter 
“conhecimento” de música, é vista como músicas “boas”, porém se o estilo musical 
 
 
 
15 
tem origem de classes mais pobres, em que já se preconiza um estereótipo de “falta 
de conhecimento”, as músicas já são vistas como “ruins”. 
Contudo, estamos colocando nestas observações juízos de valores 
etnocêntricos, pois cada grupo vai compreender que seu estilo musical é melhor, 
assim, não se consegue desenvolver uma crítica mais qualificada sobre o processo 
de criação musical e qual sua função nos meios em que é praticado. Segundo Lévi-
Strauss (1986), os homens têm dificuldade de encarar a diversidade das culturas 
como um fenômeno natural. Quando falamos das grandes navegações, iniciamos a 
construção do conceito de humanidade. Para os povos primitivos, a humanidade 
acaba em suas fronteiras étnicas ou linguísticas, assim denominam-se “os homens”, 
“os excelentes” ou “os verdadeiros”, opondo-se aos estrangeiros que não são 
reconhecidos como humanos completos. 
Na sociedade greco-romana antiga, todos que não participavam da cultura 
greco-romana eram “bárbaros”. Na Europa ocidental, os que não pertenciam à 
civilização ocidental eram “selvagens”. O barbarismo demonstra confusão, 
desarticulação e desordem (ROCHA,1994). 
Aqueles que são diferentes do grupo do “EU” – os diversos “OUTROS” deste mundo 
–, por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam representados pela ótica 
etnocêntrica e segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos 
(ROCHA, 1994, p. 15). 
Ser etnocêntrico, pensar de forma etnocêntrica, pode causar formas extremas 
de intolerância cultural, religiosa, política. A antropologia inicia a ideia de relatividade 
das culturas e da não hierarquização. Para a antropologia, recomenda-se a aplicação 
do método da observação participante para escapar do etnocentrismo na pesquisa. 
Para a antropologia, segundo Rocha (1994), a diferença é a forma como os grupos 
sociais deram soluções distintas a limites ou problemas existenciais comuns. 
A diferença não seria uma ameaça ou algo ruim, mas sim uma alternativa, ou 
uma possibilidade que o “OUTRO” pode abrir para o “EU”. Você já deve ter ouvido 
falar em noticiários, nas redes sociais e demais meios de comunicação, sobre o 
grande aumento de casos de xenofobia. Mas, afinal, o que é isso? O que a 
antropologia tem a ver com este fenômeno social? Xenofobia é o ato de repudiar, 
hostilizar e/ou odiar estrangeiros, fundamenta-se em fatores sociais, culturais, raciais, 
religiosos, históricos etc. 
 
 
 
16 
O termo "xenofobia" é formado por dois termos: “xénos” (estrangeiro, estranho 
ou diferente) e “phobos” (medo), que corresponde, literalmente, ao medo do diferente. 
Ao constatarmos que uma cultura se sobrepõe como fator de superioridade a 
outra, estamos contribuindo com um olhar preconceituoso e xenófobo, produzindo 
estereótipos que podem violentar uma cultura e um povo de diversas formas. Para 
contrapor o etnocentrismo existem algumas ideias, e entre elas está a relativização. 
Mas o que seria a relativização? Quando vemos que as verdades da vida são menos 
uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos 
relativizando. Quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta, 
mas no contexto em que acontece: estamos relativizando. Quando compreendemos 
o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando. 
Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido 
um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação. Ver as coisas do mundo 
como a relação entre elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é 
olhado. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e 
inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferente 
(ROCHA, 1994, p. 20). 
A antropologia, ao longo de seus estudos, busca visualizar as diferentes formas, 
maneiras, resoluções que os indivíduos deram para as situações que se configuravam 
como limites existenciais. A diferença, para a antropologia, não é ameaça, é 
alternativa. Segundo Rocha (1994, p. 10), “Ela (diferença) não é uma hostilidade do 
“outro”, mas uma possibilidade que o “outro” pode abrir para o “eu””. 
Compreender que a diferença do “EU” em relação ao “OUTRO” pode ser 
pensada através do olhar da relativização é algo que vem a desconstruir os 
pensamentos etnocêntricos. 
As ideologias mais extremas, por exemplo, possuem grande dificuldade de 
aceitar a relativização, pois são gestadas e mantidas pelo seu próprio monólogo, e a 
relativização descentraliza o pensamento, o que causa uma multiplicidade de pontos 
de vista, questionamentos e respostas. Franz Boas nos mostra a partir do relativismo 
que a cultura do homem só poderia ser interpretada na perspectiva de sua cultura 
local. 
O outro passou a ser visto na condição de fazedor de cultura e essa cultura 
entendida a partir do contexto no qual estava inserida. Isto é, análise não acontecia 
 
 
 
17 
mais em função dos padrões do analista, mas em função dos padrões do próprio 
pesquisado (MENESES, 2009, p. 51). 
Sob a perspectiva do etnocentrismo, compreendemos a cultura como algo único, 
sendo entendida do ponto de vista daquele que está contando a história. Como 
exemplo, o colonizador insere em suas narrativas suas formas de contar, suas 
crenças, hábitos, costumes, formas de ver o mundo. Todavia, com o relativismo, ao 
percebermos a cultura em que o colonizado está inserido, fica mais fácil compreender 
o ponto de vista deste. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 IDEOLOGIAS ETNOCÊNTRICAS 
 
Ao longo da história, várias ações etnocêntricas foram sendo desenvolvidas em 
prol da evolução da humanidade. Nas visões etnocêntricas, as relações de poder, 
superioridade e dominação sempre são estabelecidas. “[...] a negação do “Outro” 
enquanto tal. 
E nega-o por senti-lo como uma ameaça à sua própria maneira de ser, e mesmo 
ao seu ser. E como a melhor defesa é o ataque, pode partir para a eliminação física 
do Outro (PAULO, 2006, p. 13). 
Como exemplo histórico destas relações de dominação, relembramos o 
holocausto judeu, durante a Segunda Guerra Mundial, quando Hitler compreendia que 
a raça ariana era superior à judaica e outras. 
Milharesde pessoas foram retiradas de suas casas, cidades, famílias e 
aprisionadas em campos de concentração, onde eram expostas a trabalhos forçados, 
experiências médicas e mortas em câmaras de gás. 
 
 Figura 5 - Holocausto Judeu 
 
 https://brasilescola.uol.com.br/historiag/holocausto.htm 
 
 
 
 
19 
Recentemente, Slobodan Milosevic, presidente da Sérvia, liderou uma guerra 
civil, em que bósnios e kosovares foram dizimados, causando um verdadeiro 
genocídio. Já citamos aqui também o processo da escravidão dos africanos, nas 
Américas e Europa, onde os escravizados eram sequestrados de suas regiões na 
África e, ao chegar nas colônias, eram batizados com nomes cristãos, pois eram 
considerados seres sem alma, ou seja, inferiores aos colonizadores. 
Existe uma forma mais sutil de lidar com o outro: mantendo a alteridade, porém 
esta é pretexto para oprimi-lo. A diferença torna-se título que legitima a dominação e 
exploração, já que demonstra uma degradação da condição humana; por isso, merece 
um estatuto de inferioridade e de discriminação. Por exemplo, maior esforço na 
produção, menor fatia na distribuição, privação do poder decisório; não ter a plenitude 
dos direitos do cidadão; ser considerado como objeto e não como sujeito da história 
(PAULO, 2006, p. 13). 
 
4.1 Exemplos De Ideologias Etnocêntricas 
• Grandes navegações: Supremacia cristã, em que Deus era o único a ser 
venerado. Durante as expedições ao Novo Mundo, costumes e rituais que não eram 
cristãos, o demônio era retirado das pessoas pagãs. 
• Época das luzes: A desqualificação do outro se dá pelo “atraso” em relação à 
civilização ocidental, devido ao triunfo do racionalismo e do cientificismo. Desejava-se 
expandir a “cultura” e o progresso sobre os continentes bárbaros. Inúmeras barbáries 
em prol do progresso foram realizadas, destruições de culturas, pilhagem econômica, 
opressão política e massacres. 
• Racismo: Formulado com conceitos científicos, onde a raça branca era 
superior às demais, que situavam entre os primatas superiores e o homem europeu, 
onde se entende a Europa como centro (euro centrismo). 
• Evolucionismo cultural: Prega que o europeu ou o wasp americano ocupe o 
lugar mais alto da cultura, ou seja, é aquele em que a sociedade e a cultura europeia 
são as mais evoluídas. 
A cultura é vista em etapas, todas caminharão para a evolução, que no caso 
seria a visão europeia de cultura. Deste modo, os “civilizados” controlariam as 
 
 
 
20 
populações selvagens, bárbaras ou primitivas, até que possam alcançar a evolução 
cultural ou maturidade cultural, conduzida pelos europeus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 A DIVERSIDADE CULTURAL: ALGUMAS REFLEXÕES 
 
Assim como a diversidade, nenhuma identidade é construída no isolamento. Ao 
contrário, ela é negociada durante a vida toda dos sujeitos por meio do diálogo, 
parcialmente exterior, parcialmente interior, com os outros. Tanto a identidade pessoal 
quanto a identidade social são formadas em diálogo aberto. Estas dependem de 
maneira vital das relações dialógicas com os outros. A diversidade cultural varia de 
contexto para contexto. Nem sempre aquilo que julgamos como diferença social, 
histórica e culturalmente construída recebe a mesma interpretação nas diferentes 
sociedades. 
Além disso, o modo de ser e de interpretar o mundo também é variado e 
diverso. Por isso, a diversidade precisa ser entendida em uma perspectiva relacional. 
Ou seja, as características, os atributos ou as formas “inventadas” pela cultura para 
distinguir tanto o sujeito quanto o grupo a que ele pertence dependem do lugar por 
eles ocupado na sociedade e da relação que mantêm entre si e com os outros. Não 
podemos esquecer que essa sociedade é construída em contextos históricos, 
socioeconômicos e políticos tensos, marcados por processos de colonização e 
dominação. Estamos, portanto, no terreno das desigualdades, das identidades e das 
diferenças. Trabalhar com a diversidade na escola não é um apelo romântico do final 
do século XX e início do século XXI. 
Na realidade, a cobrança hoje feita em relação à forma como a escola lida com 
a diversidade no seu cotidiano, no seu currículo, nas suas práticas faz parte de uma 
história mais ampla. Tem a ver com as estratégias por meio das quais os grupos 
humanos considerados diferentes passaram cada vez mais a destacar politicamente 
as suas singularidades, cobrando que as mesmas sejam tratadas de forma justa e 
igualitária, desmistificando a ideia de inferioridade que paira sobre algumas dessas 
diferenças socialmente construídas e exigindo que o elogio à diversidade seja mais 
do que um discurso sobre a variedade do gênero humano. 
Ora, se a diversidade faz parte do acontecer humano, então a escola, 
sobretudo a pública, é a instituição social na qual as diferentes presenças se 
encontram. Então, como essa instituição poderá omitir o debate sobre a diversidade? 
E como os currículos poderiam deixar de discuti-la? Mas o que entendemos por 
currículo? Segundo Antonio Flávio B. Moreira e Vera Maria Candau (2006, p. 86), 
 
 
 
22 
existem várias concepções de currículo, as quais refletem variados posicionamentos, 
compromissos e pontos de vista teóricos. As discussões sobre currículo incorporam, 
com maior ou menor ênfase, debates sobre os conhecimentos escolares, os 
procedimentos pedagógicos, as relações sociais, os valores e as identidades dos 
nossos alunos e alunas. 
Os autores se apoiam em Silva (1999), ao afirmarem que, em resumo, as 
questões curriculares são marcadas pelas discussões sobre conhecimento, verdade, 
poder e identidade. Retomo, aqui, uma discussão já realizada em outro texto 
(GOMES, 2006, p. 31-2). O currículo não está envolvido em um simples processo de 
transmissão de conhecimentos e conteúdo. Possui um caráter político e histórico e 
também constitui uma relação social, no sentido de que a produção de conhecimento 
nele envolvida se realiza por meio de uma relação entre pessoas. Segundo Tomaz 
Tadeu da Silva (1995, p. 194), o conhecimento, a cultura e o currículo são produzidos 
no contexto das relações sociais e de poder. 
Esquecer esse processo de produção – no qual estão envolvidas as relações 
desiguais de poder entre grupos sociais – significa reificar o conhecimento e reificar o 
currículo, destacando apenas os seus aspectos de consumo e não de produção. Ainda 
segundo esse autor, mesmo quando pensamos no currículo como uma coisa, como 
uma listagem de conteúdo, por exemplo, ele acaba sendo, fundamentalmente, aquilo 
que fazemos com essa coisa, pois, mesmo uma lista de conteúdos não teria 
propriamente existência e sentido, se não se fizesse nada com ela. 
Nesse sentido, o currículo não se restringe apenas a ideias e abstrações, mas 
a experiências e práticas concretas, construídas por sujeitos concretos, imersos em 
relações de poder. Currículo pode ser considerado uma atividade produtiva e possui 
um aspecto político que pode ser visto em dois sentidos: em suas ações (aquilo que 
fazemos) e em seus efeitos (o que ele nos faz). Também pode ser considerado um 
discurso que, ao corporificar narrativas particulares sobre o indivíduo e a sociedade, 
participa do processo de constituição de sujeitos (e sujeitos também muito 
particulares). Sendo assim, as narrativas contidas no currículo, explícita ou 
implicitamente, corporificam noções particulares sobre conhecimento, sobre formas 
de organização da sociedade, sobre os diferentes grupos sociais. 
Elas dizem qual conhecimento é legítimo e qual é ilegítimo, quais formas de 
conhecer são válidas e quais não o são, o que é certo e o que é errado, o que é moral 
 
 
 
23 
e o que é imoral, o que é bom e o que é mau, o que é belo e o que é feio, quais vozes 
são autorizadas e quais não o são (SILVA, 1995, p. 195). A produção do 
conhecimento,assim como sua seleção e legitimação, está transpassada pela 
diversidade. Não se trata apenas de incluir a diversidade como um tema nos 
currículos. 
As reflexões do autor nos sugerem que é preciso ter consciência, enquanto 
docentes, das marcas da diversidade presentes nas diferentes áreas do conhecimento 
e no currículo como um todo: ver a diversidade nos processos de produção e de 
seleção do conhecimento escolar. 
O autor ainda adverte que as narrativas contidas no currículo trazem embutidas 
noções sobre quais grupos sociais podem representar a si e aos outros e quais grupos 
sociais podem apenas ser representados ou até mesmo serem totalmente excluídos 
de qualquer representação. Elas, além disso, representam os diferentes grupos 
sociais de forma diferente: enquanto as formas de vida e a cultura de alguns grupos 
são valorizadas e instituídas como cânone, as de outros são desvalorizadas e 
proscritas. 
Assim, as narrativas do currículo contam histórias que fixam noções 
particulares de gênero, raça, classe – noções que acabam também nos fixando em 
posições muito particulares ao longo desses eixos (de autoridade) (SILVA, 1995, p. 
195). A perspectiva de currículo acima citada poderá nos ajudar a questionar a noção 
hegemônica de conhecimento que impera na escola, levando-nos a refletir sobre a 
tensa e complexa relação entre esta noção e os outros saberes que fazem parte do 
processo cultural e histórico no qual estamos imersos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
Figura 6 –Relações Raciais 
 
https://olma.org.br/conferencia-educacao-das-relacoes-etnico-raciais-e-dialogo-inter-
religioso/ 
 
Podemos indagar que histórias as narrativas do currículo têm contado sobre as 
relações raciais, os movimentos do campo, o movimento indígena, o movimento das 
pessoas com deficiência, a luta dos povos da floresta, as trajetórias dos jovens da 
periferia, as vivências da infância (principalmente a popular) e a luta das mulheres? 
São narrativas que fixam os sujeitos e os movimentos sociais em noções 
estereotipadas ou realizam uma interpretação emancipatória dessas lutas e grupos 
sociais? Que grupos sociais têm o poder de se representar e quais podem apenas ser 
representados nos currículos? Que grupos sociais e étnico/raciais têm sido 
historicamente representados de forma estereotipada e distorcida? 
Diante das respostas a essas perguntas, só nos resta agir, sair do imobilismo 
e da inércia e cumprir a nossa função pedagógica diante da diversidade: construir 
práticas pedagógicas que realmente expressem a riqueza das identidades e da 
diversidade cultural presente na escola e na sociedade. Dessa forma poderemos 
avançar na superação de concepções românticas sobre a diversidade cultural 
presentes nas várias práticas pedagógicas e currículos. 
 
5.1 Campos Iniciais Da Antropologia 
Durante muito tempo a antropologia foi considerada a história natural física do 
homem e seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Deste modo, houve uma 
restrição em seu campo de estudos, o que privilegiaria a antropometria, ciência que 
 
 
 
25 
trata das mensurações do homem fóssil e dos seres vivos. A antropologia 
desempenha um papel muito maior no estudo dos seres humanos, definindo, assim, 
uma ciência que estuda suas produções e seus comportamentos. 
Enquanto uma espécie (o homem) que se caracteriza pela formação de grupos 
sociais, agrupamentos de indivíduos que compartilham de uma mesma história e de 
uma mesma visão de mundo, e que definem regras de comportamento, convivência e 
sobrevivência. 
O conjunto dessas regras é o que se convencionou chamar de CULTURA. 
Então, todo grupo social, ou sociedade, possui uma cultura que, como já foi dito, define 
a visão que seus indivíduos têm do mundo em que vivem, definindo formas de atuarem 
sobre ele. Todo grupo social é também um grupo cultural; toda sociedade possui a 
sua cultura particular (PASSADOR, 2002, p. 1). Preocupa-se em revelar os fatos da 
natureza e da cultura, interessa-se pelo homem biológico e o ser cultural existente 
neste homem. Na busca de compreender a existência humana em todos os seus 
aspectos, no espaço-tempo, identifica também a compreensão das manifestações 
culturais, do comportamento e da vida social. 
As questões sobre o homem sempre foram frequentes. Este sempre foi objeto 
de atenções. Alguns homens teóricos “inventaram” modelos elaborados em “casa”. 
Os famosos antropólogos de gabinete, como bem veremos na Unidade 2. Analisar o 
homem de forma antropológica se dá através de uma abordagem integrativa, 
objetivando a observação das inúmeras dimensões do ser humano em seu grupo 
social. Ao efetivar a coleta de dados e desenvolver formas de investigação, o 
antropólogo aprende que seu fazer se dá nas correlações que realiza em seus e com 
seus campos de investigações. Ele não os separa totalmente, a fim de poder visualizar 
todos os ângulos de seu objeto. Neste sentido, o antropólogo relaciona-se com cinco 
áreas. Vamos conhecê-las? Antropologia biológica ou física: Tem sua atenção nas 
relações entre o patrimônio genético e o meio (geográfico, ecológico, social). Esta 
área atenta para as particularidades morfológicas e fisiológicas ligadas a um meio 
ambiente, assim como observa a evolução destas particularidades. 
O antropólogo biologista estará atento aos fatores culturais que influenciam o 
crescimento e a maturação do indivíduo. Esta área é importante para manter a 
comunicação entre as ciências biológicas e as ciências humanas. Antropologia pré-
histórica: é o estudo do homem através dos vestígios materiais enterrados nos solos. 
 
 
 
26 
Integra-se à arqueologia, busca reconstituir as sociedades desaparecidas, tanto em 
suas técnicas e organizações sociais, quanto suas produções culturais e artísticas. 
Antropologia linguística: 
É o estudo dos dialetos, e também das novas técnicas modernas de 
comunicação. O estudo da língua busca compreender como os homens pensam, o 
que vivem e o que sentem, analisam-se suas categorias psicoativas e psicocognitivas 
(etnolinguística). “Compreendemos também como os homens expressam o universo 
e o social” (LAPLANTINE, 2000, p. 18), através do estudo da literatura, com a tradição 
oral. Assim, compreendemos com a antropologia linguística como são interpretados 
seu próprio saber e saber-fazer, as chamadas etnociências. Antropologia psicológica: 
É o estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo humano. 
Através da análise de comportamentos, conscientes ou inconscientes, dos 
homens em seus grupos sociais, é que podemos apreender esta totalidade. A 
dimensão psicológica é absolutamente indissociável do campo da antropologia, ela é 
parte integrante destes estudos. Antropologia social e cultural: É o estudo que está 
relacionado a “tudo” que constitui uma sociedade. “Seus modos de produção 
econômica, suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de 
parentesco, seus sistemas de conhecimentos, suas crenças religiosas, sua língua, 
sua psicologia, suas criações artísticas” (LAPLANTINE, 2000, p. 19). 
A antropologia social e cultural procura compreender, de acordo com Levi 
Strauss, “o que os homens não pensam habitualmente em fixar na pedra ou no papel” 
(LAPLANTINE, 2000). Os gestos, as trocas simbólicas, os detalhes dos 
comportamentos, fazem com que a antropologia social e cultural tenha uma 
abordagem fundamentalmente diferente dos métodos utilizados pelos colegas 
geógrafos, economistas, juristas, sociólogos, psicólogos etc. Trabalha-se com o 
estudo de todas as sociedades humanas, das culturas da humanidade em suas 
diversidades históricas e geográficas. 
Inicialmente, a antropologia atribuiu como seu objeto de estudo as populações 
não ocidentais, que seriam as chamadas sociedades primitivas. Com o avanço da 
evolução social, o universo dos “selvagens” desaparece, assim o antropólogo depara-
se com uma crise de identidade: seria o fimda antropologia? Neste momento, o 
antropólogo reflete sobre seu fazer, retoma seus contatos com as ciências humanas 
e reencontra a sociologia, a partir da sociologia comparada. Deste modo, busca-se 
 
 
 
27 
uma nova área de investigação: o camponês, o nativo que estava mais perto do que 
se imaginara. 
Ao voltar sua atenção para sua prática, compreende que a especificidade de 
seu fazer não está apenas no objeto empírico o selvagem, o camponês, mas sim em 
uma abordagem epistemológica constituinte. A antropologia constitui-se no enfoque 
que trabalhamos ao efetivar o “estudo do homem inteiro e o estudo do homem em 
todas as sociedades, sob todas as latitudes e todos os seus estados em todas as 
épocas” (LAPLANTINE, 2000, p. 16). Para aprofundar seus conhecimentos sobre as 
linhagens antropológicas, segue texto para reflexão, de autoria de Mariza Peirano. 
 
5.2 A Antropologia Hoje 
Bela Feldman-Bianco 
A antropologia constitui campo consolidado e dinâmico no Brasil que tem obtido 
reconhecimento nacional e internacional pelos seus patamares de excelência 
científica. Combinando o interesse em compreender o mundo com a preocupação em 
desvendar os códigos culturais e os interstícios sociais da vida cotidiana, a pesquisa 
antropológica é extremamente relevante para desvendar problemáticas que estão na 
ordem do dia sobre a produção da diferença cultural e desigualdades sociais, saberes 
e práticas tradicionais, patrimônio cultural e inclusão social e, ainda, desenvolvimento 
econômico e social. 
No quadro da globalização contemporânea, além de contribuir cada vez mais 
para a formulação de políticas públicas e propostas para a sociedade, a antropologia 
apresenta os aparatos necessários para expor a dimensão humana da ciência, 
tecnologia e inovação. Ao mesmo tempo, no curso de seus processos de 
transformação e internacionalização, surgem novos desafios e perspectivas para o 
ensino, a pesquisa e a atuação de antropólogos e antropólogas. 
Esses desafios incluem, por exemplo, as políticas científicas que favorecem a 
expansão da pós-graduação. Os números são eloquentes. Enquanto em 2001 havia 
dez programas de mestrado e seis programas de doutorado, hoje são 20 programas 
de mestrado e 12 de doutorado que, ainda que insuficientes, implicaram em melhor 
distribuição no Nordeste e na inédita e bem-vinda criação de dois mestrados e 
doutorados na Amazônia Legal. 
 
 
 
28 
Dobrou-se o número de programas em dez anos. Abrangem, ainda, um 
aumento da demanda discente por cursos de antropologia, a ampliação do mercado 
de trabalho, além de mudanças no campo de atuação frente às políticas educacionais 
e políticas públicas, de modo geral, inclusive no que concerne às relações da 
antropologia com o Estado e a sociedade. 
Assiste-se, ademais, à emergente reapropriação do modelo dos "quatro 
campos" (arqueologia, antropologia social/cultural, antropologia biológica e 
antropologia linguística) e à revisão das relações com outras áreas constitutivas das 
ciências humanas. Este modelo, originalmente utilizado para analisar a humanidade 
através de grandes esquemas evolucionistas e difusionistas, está sendo reelaborado 
e sobreposto às práticas de trabalho de campo, desenvolvidas a partir de estudos 
sobre culturas e sociedades particulares. 
A tradição antropológica de pesquisa de campo, requerendo vivência 
prolongada dos pesquisadores com seus sujeitos de pesquisa e implicando em 
compromisso perante esses sujeitos, fornece um aprendizado para olhar o mundo 
com sensibilidade e, assim, compreender, apreciar e traduzir códigos culturais 
diversos e respeitar a diferença cultural. 
Destarte, a produção antropológica tem o potencial não só de desenvolvimento 
científico no sentido restrito, mas de ação social no sentido mais amplo, 
particularmente quanto à elaboração de políticas públicas para segmentos sociais 
urbanos e rurais em situações de desvantagem e risco social e grupos étnicos 
diferenciados. Com base na constante renovação de seus horizontes empíricos, 
antropólogos e antropólogas têm realizado pesquisas de ponta na intersecção de 
várias áreas de conhecimento. 
Destaca-se a ampla experiência de pesquisa na Amazônia, tanto no Cerrado 
quanto no Pantanal, sobre a relação entre populações, agro biodiversidade e 
conhecimento tradicional, desenvolvimento e padrões de agricultura sustentável, 
conflitos ambientais, entre outros. 
Ressalta-se também a relevância da pesquisa antropológica na interface com 
as políticas públicas para as populações tradicionais. A qualidade e seriedade dessa 
atuação dos antropólogos exprimem-se, por exemplo, na existência de um duradouro 
e ativo convênio entre a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e o Ministério 
Público da União. Estudos realizados na cidade, seja na intersecção com a sociologia 
 
 
 
29 
ou com o direito, têm examinado problemáticas sobre, por exemplo, grupos urbanos, 
pobreza, movimentos sociais, violência, justiça, religião e políticas de administração 
de conflitos, entre outras que podem igualmente subsidiar políticas públicas. 
 
Figura – 7 Gênero, Família, Gerações, Sexualidade 
 
 https://www.mundosimples.com.br/educacao-auto-irmas-e-irmaos.htm 
 
Nesse âmbito, os estudos sobre gênero, família, gerações, sexualidade e 
reprodução recobrem focos muito importantes de preocupação pública. Por sua vez, 
os trabalhos em antropologia visual são cruciais tanto para a divulgação da disciplina 
quanto para compreensão de uma sociedade cada vez mais imagética. Ainda que 
incipiente, desenvolve-se com grande vigor a antropologia da ciência e da técnica, 
acompanhando tendências internacionais. 
Na interconexão com a saúde, a análise antropológica torna-se de grande valia 
para se entender as representações sobre doenças e processos terapêuticos como 
parte dos sistemas simbólicos culturalmente ordenados e os contextos sociais nos 
quais ocorrem, como também para examinar e analisar os aspectos organizacionais, 
institucionais e político-ideológicos dos programas de saúde pública. 
Concomitantemente à histórica predominância de estudos relacionados à 
etnologia indígena, às populações afro-brasileiras, às questões do campo e da cidade 
no Brasil, bem como aos diversos aspectos da cultura nacional, há antropólogos 
realizando pesquisas na América Latina, África, Europa, América do Norte e em 
países como Timor Leste e China. Como resultado, a antropologia do Brasil ocupa 
 
 
 
30 
hoje inegável liderança na América Latina. Pela ação pioneira da ABA na criação do 
World Council of Anthropologial Associations, as antigas relações com a antropologia 
francesa, inglesa e norte-americana foram redefinidas, e novos diálogos institucionais 
e acadêmicos foram iniciados com antropologias de outros continentes. 
Essa multiplicação de temáticas e sujeitos de pesquisa apresenta desafios que 
requerem uma agenda de prioridades de pesquisa. Se o trabalho de campo (que tende 
a ser individual) e a relação artesanal entre orientador e orientando constituem pontos 
fortes da produção do conhecimento antropológico e da formação disciplinar, ao 
mesmo tempo tendem a levar a uma aparente fragmentação da produção em grande 
número de linhas e grupos de pesquisa. 
Para não se perder essa indispensável característica da pesquisa antropológica 
minuciosa e intensa, as perspectivas que se abrem são no sentido de se estimular a 
formação de redes que possam levar à elaboração de grandes projetos 
transdisciplinares. Essa estratégia molda, por exemplo, a emergente criação dos 
INCTs, alguns dos quais liderados por antropólogos. 
A ampliação do mercado de trabalho traz também desafios para a formação e 
a atuação dos antropólogos em órgãos governamentais e não governamentais, no 
Ministério Público, nas empresas e nos movimentos sociais, cujas demandas 
implicam, muitas vezes, expertise em laudos antropológicos. 
Com a reestruturaçãoe expansão das universidades federais, em vez da 
tradicional formação em ciências sociais ou da abertura de mestrados profissionais, 
foram criados vários cursos de graduação em Antropologia que visam propiciar a 
necessária competência profissional, com ênfase em pesquisa de campo e interfaces 
com outras áreas interdisciplinares. 
Como são cursos novos e polêmicos, com currículos variados, torna-se 
imperativo acompanhar, avaliar e refletir criticamente se suprem as necessidades de 
formação. A crescente relação entre a antropologia e políticas públicas no contexto 
brasileiro contemporâneo e o papel de intermediação dos antropólogos entre Estado 
e movimentos sociais constituem desafios que merecem reflexões propositivas. 
Nesse sentido, deve-se levar em conta que as transformações no próprio 
corpus conceitual e analítico da disciplina se fazem acompanhar de mudanças nas 
relações com os sujeitos da pesquisa antropológica, seja por seu acesso ao sistema 
formal de ensino (inclusive em programas de pós-graduação em Antropologia), seja 
 
 
 
31 
pela crescente agência política que passaram a desempenhar em cenários 
globalizados. Se falar junto, falar com estas populações (mais do que falar em lugar 
delas) é um imperativo que a ABA afirmou na luta pelo reconhecimento dos direitos 
das populações tradicionais, hoje esses sujeitos estão se tornando parceiros e 
colegas tanto no âmbito acadêmico como de atuação política. Essa parceria marca 
um novo ciclo de atuação política dos antropólogos no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 A ESCRITA ANTROPOLÓGICA E A CONSTRUÇÃO DE “PERFIS” SOCIAIS 
 
Claudia Fonseca (2006), em seu texto Classe e a recusa etnográfica, inicia sua 
argumentação discorrendo sobre a falta de trabalhos sobre classe. Contrastando com 
outras áreas onde as pesquisas são diversas, o tema classe é pouco discutido. Uma 
falta significativa para a sociedade, em que muitos trabalhos etnográficos contribuem 
para o conhecimento de suas especificidades. 
Os profissionais que trabalham com classe buscam conceitos e abordagens 
analíticas desenvolvidas por outras disciplinas em que não se realizam as etnografias 
em sua maioria. Quando o assunto é tratado, os exemplos geralmente são de pessoas 
que vivem na margem, e se sobressaíram tornando-se mediadores de um grupo ou 
outro. Normalmente usam-se as trajetórias individuais (artistas, músicos) utilizando 
sua classe como pano de fundo. 
A autora denomina de classes subalternas as camadas populares ou grupos. 
Ela sugere que os pesquisadores não trabalhem apenas seus dados empíricos 
exclusivamente em termos de impacto da sociedade dominante e, não abraçando 
esse como objetivo principal de análise, sofrem o pejo de “culturalista” (FONSECA, 
2006, p. 16). Para a sociologia espontânea, de Bordieu, a criação de estereótipos, das 
camadas populares da base para alguns antropólogos que trabalham nesta área. É 
interessante abordar o aspecto da cultura dessas camadas, que serviria como 
contrapeso a estereótipos que diminuem estes grupos. 
 
Pobre não deveria nem existir 
É muito discutido o tratamento discriminatório que os setores dominantes 
reservam aos mais pobres ou excluídos, contudo não são analisadas formas de evitar 
a discriminação. Se existe exclusão e, por isso, excluídos e estes são os pobres, é 
defendida a ideia de que exclusão não deveria existir e, logo, os pobres também não. 
Essa ideia é um demonstrativo de que não há interesses nessas camadas. 
As exclusões sociais, os grupos populares, são uma parcela de pessoas que 
não estão na lógica econômica capitalista. E esta presença causa desajuste à 
concepção de que a sociedade é integrada, justa e harmonicamente, na visão dos 
antropólogos americanos. No Brasil, na década de 80, ocorreu uma forte produção 
antropológica, sobre classe. 
 
 
 
33 
Estudos sobre a periferia, mostrando a cultura musical, circense, clubes de 
futebol, organização familiar, as formas de participação etc. Ação inspirada na escola 
inglesa. Nos anos 90, com a conciliação entre partidos políticos de direita e de 
esquerda e o incentivo de agências financiadoras internacionais, a pesquisa voltase 
para problemas de gênero, etnia e outras instâncias. 
O popular é subsumido na ideia de cultura de massa, esquecendo o método 
etnográfico, práticas e experiências compartilhadas no dia a dia no âmbito de 
determinado modo ou padrão de vida. Mas, e as posturas dos pesquisadores em 
relação às classes populares? Claudia Fonseca (2006) questiona, neste novo clima 
neoliberal político, o fato de que os profissionais em questão não tomaram para si um 
silêncio discursivo. 
E se não ocorreu a tendência de não ver aquelas dimensões da realidade que 
se choca com a ideologia hegemônica. Outro questionamento, levantado no texto e 
também quanto à falta, à diminuição de pesquisas sobre classe, traria consequências 
políticas para a sociedade. Enquanto as pesquisas da década de 80 estavam sendo 
produzidas, ajudavam a mostrar e influenciar a realidade dos grupos aos quais eram 
chamados de populares. 
Com a troca do termo “popular” para “excluídos” foi criada uma característica 
negativa dessas camadas da população, estereotipada de modo negativo a todos 
eles. 
Se existe pobre, nossa tarefa é transformá-lo 
Não necessariamente porque existem pobres os antropólogos devem ajudá-los 
a sair da miséria. Muitos pesquisadores acreditam que a própria motivação da 
pesquisa já remediará a situação dos pesquisados. 
Ao pensar na remediação dos pobres, o pesquisador pouco preparado procura 
nos dados etnográficos as curas da miséria e também suas próprias causas. As 
estruturas capitalistas são identificadas como causa última da pobreza e com isso o 
etnógrafo procura, através de sua pesquisa, mecanismos educativos capazes de 
provocar uma transformação libertadora de valores entre os próprios pobres. Contudo, 
pelo fato de o pesquisador “dar uma mão” aos seus pesquisados, ele corre dois 
perigos: 
 
 
 
34 
- Resistência “Reificada”, quando se reduz o modo de vida da população 
estudada aos seus aspectos “reativos”, ignorando a historicidade endógena de 
mundos locais. 
- Idealismo romântico, em que, admitida a possibilidade de algo “endógeno”, 
esse modo de vida seja positivo a tal ponto que não se enxerga mais conflitos, 
desigualdades ou formas de dominação inerentes às dinâmicas internas do grupo, 
produzindo uma imagem caricata do grupo, dificultando a etnografia densa. 
Algumas pesquisas utilizam a autoridade de estudo etnográfico para 
documentar a carência moral e espiritual que, na consciência do pesquisador, parece 
acompanhar a carência material, de acordo com o texto de Fonseca (2006). 
As críticas à análise culturalista aparecem nos trabalhos; as ações “ignorantes”, 
“alienadas” ou “atrasadas” dos pobres são mostradas como causa principal da 
miséria. 
 E algumas atitudes são postas em prática como medida de intervenção que 
tem o objetivo mais de disciplinar as populações do que alterar as suas condições de 
vida. Muito dos trabalhos visionários de melhora das camadas é devido à mentalidade 
dos não nativos de vontade de mudança unilateral (a verdade levada por “nós” e para 
“eles”) usando uma versão pobre da pesquisa etnográfica para legitimar o esforço 
 
6.1 Evolucionismo Social E Materialismo Cultural 
 
 Figura - Caminho Linear Da História Do Homem 
 
Fonte:https://brasilescola.uol.com.br/evolucionismo-cultural-segundo-lewis-morgan.htm 
 
Toda disciplina se embasa em estudos clássicos para se constituir como 
ciência, por isso temos de conhecer os nossos clássicos a fim de não inventarmos a 
 
 
 
35 
roda novamente. Ou seja, é a partir deles que os estudos sobre o homem na 
sociedade vão partir. Conhecer a história desses autores, seus ensinamentos e seus 
dilemas antropológicosnos faz repensar a nossa própria prática no âmbito desta 
disciplina. 
Em 1830 tem-se o embrião de uma Antropologia Evolucionista, na Inglaterra, 
apoiada na Teoria da Evolução, que defende a questão da mutabilidade das espécies, 
de modo que cada mutação ocorrida no homem passa por uma seleção. Por outro 
lado, tem-se os argumentos dos enciclopedistas da Idade Média, que acreditavam 
num mundo ordenado a partir de uma “Grande cadeia do ser”, e assim sendo, numa 
estabilidade da espécie. 
Entretanto, quem mais influenciou os “primeiros antropólogos” foi o filósofo 
inglês Herbert Spencer, com suas ideias de escala evolutiva ascendente baseada na 
noção de “estágios”. Esse Evolucionismo Unilinear se apoiou na ideia de que há uma 
linha dominante no sistema evolutivo, em que todas as sociedades passam pelos 
mesmos estágios, o que permitiria à Antropologia, como ciência, relacionar passado 
e presente. Durante esta época acontecia a expansão colonial e o comércio exterior 
que instigavam a busca por um conhecimento global, mas também se estruturava uma 
crítica forte da sociologia britânica, representada por ativistas, em relação ao tráfico 
de escravos e a legalidade da instituição da escravidão nas colônias britânicas. Ou 
seja, buscamos mais conhecimento, mas agimos de formas ainda grotescas e 
impondo nossa força. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
REFERÊNCIA 
 
ANTROPOLOGIA (ABA) (2011-2012), professora colaboradora da Universidade 
Estadual de Campinas (UNICAMP) e cocoordenadora do Gt Migración, Cultura Y 
Políticas da Clacso (2011-2012). 
 
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura? São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção 
Primeiros Passos; 110). 
 
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Sobre o pensamento antropológico. Edições 
Tempo Brasileiro/CNPq, Rio de Janeiro, 2001, p. 1988. 
 
PEIRANO, Mariza. Desterrados e exilados: antropologia no Brasil e na Índia. In: 
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de; RUBEN, Guilhermo Raul (Org.). Estilos de 
antropologia. Campinas: Editora da Unicamp, 1995. p.13-30. 
 
STOCKING Jr. George. Os pressupostos básicos da antropologia de Franz Boas. 
 STOCKING Jr. In: George. Franz Boas. A formação da antropologia americana. 
Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2004. 
 
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo, Cosac Naify, 2010. 
 
VELHO, G. Observando o familiar. In: VELHO, G. Individualismo e cultura: notas 
para uma antropologia da sociedade contemporânea. 2. ed., Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 1987, p. 121-132.

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