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Teorias do Contrato Social - John Locke

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
CURSO: Direito 
DISCIPLINA: Filosofia (ARA0099) – 2022.2 
PROFESSOR: Danilo Mariano Pereira 
UNIDADE II: Filosofia Política na Modernidade (Teorias do Contrato Social) 
AULA VIII: John Locke: a filosofia política liberal 
Temas de Aprendizagem 
- O contrato social na visão de John Locke: a defesa propriedade privada 
- O jusnaturalismo: o Estado como protetor de direitos naturais 
- O juspositivismo: a concepção de justiça como o cumprimento das leis 
Situação-Problema 
John Locke (1632-1704) foi um importante filósofo e político inglês, considerado o principal 
ideólogo da Revolução Gloriosa de 1688. Muito ligado às elites burguesas de seu país, suas ideias 
foram fundamentais na luta contra as tentativas de restituição da Monarquia Absolutista na Inglaterra. 
No entanto, suas teorias extrapolaram os limites de seu contexto histórico e, segundo Norberto 
Bobbio, tornaram-se a principal base do Estado democrático do direito em que vivemos até hoje. 
Pergunta-se: Quais são as ideias mais importantes de John Locke? De que maneira elas 
atenderam aos interesses da burguesia de sua época? Por que se tornaram tão importantes para a 
concepção do atual Estado democrático de direito? 
Referências 
MASCARO, Alysson Leandro. “A Filosofia do Direito Moderna - I”; “A Filosofia do Direito 
Moderna - II”. In: Filosofia do Direito. 6ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2018. 
MELLO, Leonel. “John Locke e o individualismo liberal”. In: WEFFORT, Francisco (org.) 
Os clássicos da política – Volume 1. 14ª Edição. São Paulo: Editora Ática, 2011. 
Atividade Verificadora da Aprendizagem 
Qual é a diferença entre justiça e lei? Todas as leis são justas, pelo simples fato de terem sido 
instituídas pelo Estado? É possível haver leis injustas? O que torna as leis legítimas? 
 
O contrato social na visão de John Locke: a defesa propriedade privada 
John Locke (1632-1704) foi um importante filósofo e político inglês, considerado o principal 
ideólogo da Revolução Gloriosa de 1688. Muito ligado às elites burguesas de seu país, suas ideias 
foram fundamentais na luta contra as tentativas de restituição da Monarquia Absolutista na Inglaterra. 
John Locke (1632-1704) é o mais destacado pensador da filosofia burguesa 
moderna, em ascensão na Inglaterra de seu tempo. Locke esteve envolvido de modo próximo 
com a Revolução Gloriosa, de 1688, que pôs fim ao Absolutismo e declarou, em 1689, o Bill 
of Rights inglês. No mesmo ano de 1689 saem publicados, na Inglaterra, seus dois principais 
livros, os chamados Dois tratados sobre o governo: o Primeiro e o Segundo tratado sobre o 
governo civil. (Mascaro, 2018, p. 181). 
Como filósofo, Locke era um radical defensor do empirismo. Para ele, todo conhecimento 
provém da experiência empírica. Nesse sentido, ele se contrapõe aos chamados inatistas, vertente do 
racionalismo, segundo a qual, o verdadeiro conhecimento é inato, isto é, encontra-se na mente 
humana. Assim, segundo essa visão, seria por meio da reflexão, e não da experiência empírica, que 
se poderia construir – ou melhor, acessar – esse conhecimento que já temos dentro de nós. 
Essa controvérsia filosófica se reflete no debate político, pois, para Locke, assim como o 
conhecimento não é inato, e sim uma construção que se dá por meio da experiência, o poder político 
tampouco pode ser considerado um atributo de nascimento. Logo, não há razão para os reis 
reivindicarem um poder absoluto sob alegação de que são os escolhidos por Deus. Para Locke, o 
conhecimento não vem de dentro pelo mesmo motivo que o poder não vem de cima. Ambos derivam 
da experiência – individual, no caso do conhecimento, e coletiva, no caso do poder político. 
No que diz respeito à sua filosofia geral, Locke é um dos mais destacados 
pensadores do empirismo. Insurge-se contra os inatistas, que argumentavam que o 
conhecimento partia de ideias já dadas, inatas. Para Locke, não se encontram em todos os 
indivíduos as mesmas ideias universais inatas. Por isso, o conhecimento se faz, no indivíduo, 
a partir de uma tabula rasa. No pensamento de Locke, é a experiência sensível que leva ao 
conhecimento. Tal postura, no campo da filosofia do conhecimento, será a mesma para o 
campo da filosofia política e da filosofia do direito. Não há poder inato, que venha de Deus. 
O poder é uma construção humana. Locke articula, assim, uma teoria do contrato social como 
um vigoroso pensamento contra o Absolutismo, que se sustentava justamente na 
fundamentação divina do poder. (Mascaro, 2018, p. 181-182). 
Assim como Thomas Hobbes, John Locke é um filósofo contratualista. Para ele, o Estado e a 
sociedade civil surgem por efeito de um pacto, um acordo estabelecido racionalmente entre os 
homens, por meio do qual eles deixam de viver em estado de natureza e passam a viver em estado de 
civilização, tornando-se assim civilizados. 
No entanto, sua visão sobre como se dá o surgimento do Estado é completamente diferente da 
visão de Hobbes. Para Locke, o estado de natureza não é uma guerra tão generalizada de “todos contra 
todos” ou o mais absoluto caos, como pensava Hobbes. Em sua visão, embora não haja leis positivas 
na natureza, uma vez que não há Estado ou instituições, o que significa que não há uma ordem social 
instituída, há, entretanto, leis naturais que regem a vida dos homens. Essas leis naturais garantem um 
mínimo de ordem – uma espécie de ordem natural ou justiça natural (jus naturale) – que permite aos 
homens usufruírem de seus direitos naturais. 
Ao contrário de Hobbes, para quem o estado natural era de guerra de todos contra 
todos, em Locke o estado de natureza é pacífico, pois o homem, mesmo nessa condição, tem 
meios de compreensão da lei natural. O homem não tem, no pensamento de Locke, uma 
inclinação de natureza a ser lobo do homem. (...). Os homens, em estado natural, são iguais 
e desfrutam da liberdade. Sendo livres e iguais, não são, no entanto, necessariamente 
irrefreáveis no uso dessa liberdade. Para Locke, a liberdade natural não impede que possam 
os indivíduos viver com algum respeito nessa condição. A liberdade é possível em natureza 
por conta da lei natural, que nela existe. (Mascaro, 2018, p. 183, grifos nossos). 
Nesse sentido, os homens firmam o contrato social e passam a viver em sociedade apenas para 
assegurar e expandir a justiça e os direitos naturais de que já dispõem em estado de natureza. 
O jusnaturalismo: o Estado como protetor de direitos naturais 
Para Locke, o direito natural mais importante é a propriedade. Esse termo, em sua obra, ora 
designa, em sentido genérico, a vida, a liberdade e a posse sobre os bens; ora designa, em sentido 
estrito, a propriedade privada, isto é, a riqueza econômica. 
Em Locke, o contrato social é um pacto de consentimento em que os homens 
concordam livremente em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os 
direitos que possuíam originalmente no estado de natureza. No estado civil os direitos 
naturais inalienáveis do ser humano à vida, à liberdade e aos bens estão melhor protegidos 
sob o amparo da lei, do árbitro e da força comum de um corpo político. (Mello, 2011, p. 6). 
Nesse estado pacífico os homens já eram dotados de razão e desfrutavam da 
propriedade que, numa primeira acepção genérica utilizada por Locke, designava 
simultaneamente a vida, a liberdade e os bens como direitos naturais do ser humano. (...). 
Locke utiliza também a noção de propriedade numa segunda acepção que, em sentido estrito, 
significa especificamente a posse de bens móveis ou imóveis. A teoria da propriedade de 
Locke, que é muito inovadora para sua época, também difere bastante da de Hobbes. Para 
Hobbes, a propriedade inexiste no estado de natureza e foi instituída pelo Estado-Leviatã 
após a formação da sociedade civil. Assim como a criou, o Estado pode também suprimir a 
propriedade dos súditos. Para Locke, ao contrário, a propriedade já existe no estado denatureza e, sendo uma instituição anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo que 
não pode ser violado pelo Estado. (Mello, 2011, p. 5, grifos nossos). 
Por essa razão, a finalidade básica do Estado é precisamente proteger a propriedade privada. 
A finalidade precípua do contrato social é, para o pensamento de Locke, a garantia 
da propriedade privada. São célebres suas palavras nesse sentido, no Segundo tratado: “O 
fim maior e principal para os homens unirem-se em sociedades políticas e submeterem-se a 
um governo é, portanto, a conservação de sua propriedade”. (Mascaro, 2018, p. 184). 
Nesse ponto, Locke se alia à burguesia de sua época, que vinha justamente buscando 
fundamentos filosóficos e jurídicos para a proteção de suas riquezas. Em um primeiro momento, essa 
proteção era contra a tirania de um Estado monárquico absolutista. Em um segundo momento, após 
a Revolução Inglesa, essa proteção se tornou necessária contra as reivindicações dos trabalhadores, 
que se revoltavam com a miséria e a desigualdade e clamavam por distribuição de renda. 
É preciso reiterar a diferença entre a teoria dos direitos naturais de Hobbes e de Locke. 
Para Hobbes, o contrato social e a criação do Estado significam a renúncia total aos direitos 
naturais. Em sua visão, a reivindicação de direitos naturais leva os homens de volta para o estado de 
natureza, isto é, para a desordem, o caos e a guerra. Já para Locke, o contrato social não serve para 
pôr fim aos direitos naturais, mas sim, ao contrário, para assegurá-los. Por essa razão, ele é 
considerado o criador da chamada teoria dos direitos naturais, conhecida como jusnaturalismo. 
O único direito natural ao qual o homem civilizado renuncia, na visão de Locke, é o direito à 
“justiça por conta própria”, isto é, o direito ao castigo. Nesse ponto, ele se aproxima de Hobbes, pois, 
para ambos, o Estado deve ter a propriedade exclusiva sobre o uso legítimo da força e da violência. 
Em Locke, o contrato social dá origem a um corpo político que legisla, julga e 
sustenta, por meio da força, a comunidade. O Estado não surge como um negador dos direitos 
naturais. Antes, é um continuador desses direitos, garantindo-os. O mais importante direito 
que leva ao contrato, o direito à propriedade privada, mantém-se. Apenas o direito à justiça 
por conta própria é retirado dos indivíduos, situando-o agora nas mãos do Estado. Os demais 
direitos naturais permanecem em continuidade do estado de natureza para o social. 
Para Locke, a renúncia, na passagem do estado de natureza para a sociedade civil, 
só se dá no que tange ao direito à preservação de si por conta própria, que se acompanha 
também da renúncia ao poder de castigar (...). Assim sendo, a passagem do estado de natureza 
para a sociedade civil em Locke não representa uma transformação da liberdade em 
submissão, como o era no pensamento de Hobbes. (Mascaro, 2018, p. 184-185). 
Nas palavras do próprio John Locke: 
Ao primeiro poder, ou seja, o de fazer tudo quanto considere adequado para a 
preservação de si e do resto da humanidade, ele renuncia para que seja regulado por leis 
elaboradas pela sociedade. [...] Em segundo lugar, renuncia por completo ao poder de castigar 
e empenha sua força natural (que anteriormente poderia empregar na execução da lei da 
natureza, mediante sua autoridade individual, conforme julgasse conveniente) para assistir o 
poder executivo da sociedade, segundo a lei desta o exija. (Mascaro, 2018, p. 184-185). 
John Locke notabilizou-se também por introduzir a reflexão sobre a diferença entre Estado e 
governo. A assinatura do contrato social é apenas o ato que instaura o Estado. Mas, a isso, deve-se 
seguir a construção de um governo, isto é, a escolha de um homem (ou grupo de homens) que vai 
exercer o poder dado pelo Estado. Logo, essas duas figuras são diferentes e funcionam de formas 
separadas. A assinatura do contrato social, que dá origem ao Estado, deve ser obrigatoriamente 
unânime (nisso ele também concorda com Hobbes). Já as decisões do governo pressupõem e admitem 
divergências de opiniões e funcionam por maioria de voto, ou seja, são decisões majoritárias. 
Essa reflexão sobre a diferença entre Estado e governo nos leva a duas conclusões. 
1. O povo não deve participar apenas do ato de instauração do Estado (assinatura do contrato 
social), mas também de todas as decisões do governo. Em outras palavras, não basta haver um Estado 
civil. É preciso haver também um governo civil. É por isso que suas obras mais importantes são os 
dois tratados sobre o governo civil. 
2. A unanimidade necessária para a constituição do Estado desaparece no âmbito do governo. 
Divergências de opiniões podem existir (e sempre existirão), o que não compromete a integridade do 
Estado. As divergências devem ser dirimidas por meio do debate e do voto, que fazem prevalecer a 
vontade da maioria. As minorias, por sua vez, não devem ser vistas como um perigo para o Estado; e 
não devem, portanto, ser exterminadas ou submetidas à maioria, como propõe Hobbes. 
Assim, a passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil (...) se 
opera quando, através do contrato social, os indivíduos singulares dão seu consentimento 
unânime para a entrada no estado civil. Estabelecido o estado civil, o passo seguinte é a 
escolha pela comunidade de uma determinada forma de governo. Na escolha do governo, a 
unanimidade do contrato originário cede lugar ao princípio da maioria, segundo o qual 
prevalece a decisão majoritária e, simultaneamente, são respeitados os direitos da minoria. 
(Mello, 2011, p. 6). 
O juspositivismo: a concepção de justiça como o cumprimento das leis 
Locke é considerado ainda um grande expoente do chamado juspositivismo. Esse termo 
designa, de um modo geral, a visão, segundo a qual, a noção de justiça equivale ao cumprimento das 
leis positivas, isto é, as leis instituídas pelo Estado, como se elas tivessem valor intrínseco. 
O juspositivismo de Locke advém do fato de que, para ele, o Poder Legislativo é o poder 
supremo. Os outros dois poderes – Executivo e Federativo (responsável pelas relações exteriores) – 
devem obrigatoriamente seguir as regras instituídas pelo Parlamento. E esse caráter supremo se deve 
ao fato de que é o povo que escolhe os representantes desse poder. Nesse sentido, as leis positivas 
são necessariamente justas e virtuosas, pois provêm do povo, ainda que indiretamente, por meio de 
representantes. E a vontade do povo é sagrada. Portanto, para Locke, um governo tirano é sempre 
aquele que descumpre as leis, na medida em que estas representam e impõem a vontade do povo. 
Definida a forma de governo, cabe igualmente à maioria escolher o poder 
legislativo, que Locke, conferindo-lhe uma superioridade sobre os demais poderes, denomina 
de poder supremo. Ao legislativo se subordinam tanto o poder executivo, confiado ao 
príncipe, como o poder federativo, encarregado das relações exteriores (guerra, paz, alianças 
e tratados). (...). Locke afirma que, quando o executivo ou o legislativo violam a lei 
estabelecida e atentam contra a propriedade, o governo deixa de cumprir o fim a que fora 
destinado, tornando-se ilegal e degenerando em tirania. O que define a tirania é o exercício 
do poder para além do direito, visando o interesse próprio e não o bem público ou comum. 
(Mello, 2011, p. 6-7). 
Essa visão de Locke também interessava diretamente aos burgueses de sua época, uma vez 
que, àquela altura, o Parlamento inglês (sede do Poder Legislativo) era quase inteiramente ocupado 
pela burguesia, que sistematicamente conseguia transformar seus interesses em leis. Assim, ao 
equacionar a noção de justiça ao cumprimento das leis, afirmando que “ser justo é cumprir as leis”, 
Locke legitima os interesses burgueses, conferindo-lhes roupagem de interesse geral da sociedade.

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