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O campo de estudo da semântica
Profª. Veridiane Pinto Ribeiro
Descrição
O estudo do significado na comunicação em Libras, a partir de aspectos semânticos e pragmáticos.
Propósito
Compreender os aspectos semânticos e pragmáticos na Libras para trabalhá-los nas relações de significado
nos processos linguístico-cognitivos.
Objetivos
Módulo 1
Objeto de estudo e conceitos básicos da Semântica
Identificar o objeto de estudo e conceitos básicos do campo da Semântica da Libras.
Módulo 2
Fenômenos semânticos
Classificar os fenômenos semânticos na Libras.
Módulo 3
Produção do sentido nas línguas naturais
Identificar a produção de sentidos nas línguas naturais.
Neste conteúdo, vamos estudar as relações entre signo, significante e significado, e as implicações
de sua identificação nos processos linguístico-cognitivos da Libras, seja como primeira ou segunda
língua.
Também entenderemos os fenômenos semânticos que ocorrem nos estudos em que os léxicos
passam por processos que envolvem sinonímia e antonímia, parônimos, polissemia e homonímia,
além dos campos lexical e semântico. Estudaremos como analogias de fenômenos linguísticos entre
as línguas orais-auditivas e as línguas visuo-corpóreo-espaciais mostram o potencial semântico em
ambas as línguas.
Na produção do sentido nas línguas naturais, entenderemos o quanto a análise do discurso e a
pragmática, em seus atos da fala, podem ajudar os usuários da língua a interpretar diferentes
contextos e a produzir língua de forma coerente conforme sua intenção comunicativa na Libras.
Introdução
1 - Objeto de estudo e conceitos básicos da Semântica
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o objeto de estudo e conceitos básicos
do campo da Semântica da Libras.
Retomando os conceitos de signo, signi�cante,
signi�cado e semântica
Para falarmos de estudos semânticos, é preciso retomar alguns conceitos.
Você deve se lembrar de que os estudos linguísticos foram marcados pelo início do século XX, quando o
linguista Ferdinand de Saussure, em histórica contribuição, empoderou os estudos desta área com análises
descritivas. Desde então, a linguística passou a receber status de ciência e o estruturalismo ganhou força
em meio à comunidade científica da época.
Saussure defendia que o objeto de estudo da Linguística é o signo linguístico. No signo linguístico, temos
associados um conceito (significado) e uma imagem acústica ou mesmo ótica (significante). Significado e
significante são entidades abstratas ou entidades mentais.
Saussure se debruçou sobre as particularidades do signo linguístico e o complementou, revelando que, em
sua essência, além de significante e significado, temos, coexistindo, mais dois conceitos: arbitrariedade e
linearidade.
Arbitrariedade
O signo é arbitrário = cultural
Sem motivação
Som ≠ Sentido
Linearidade
Sucessão temporal ou espacial
Um som depois do outro
Uma palavra depois da outra
Esses conceitos podem ajudar a compreender os processos construtivos da língua. Vamos ilustrar e
exemplificar de forma mais concreta os conceitos de arbitrariedade e linearidade:
Em português = CASA
Em inglês = HOUSE

Em português = GATO
Em inglês = CAT
A arbitrariedade não apresenta motivação para a existência deste ou daquele signo linguístico. A forma não
tem relação com o significado. Cada língua vai adotar um signo linguístico que não necessariamente tem
relação entre o som e o significado. Porém, o signo é social, é uma construção social, um significado social.
A arbitrariedade não atribui ao individual a livre escolha. Saussure nos alerta que este fenômeno ocorre nas
relações sociais.
O linguista, entretanto, distingue o que vem a ser absolutamente arbitrário e relativamente arbitrário. Nos
exemplos apresentados, “casa” e “gato”, pode-se considerar que temos signos absolutamente arbitrários,
pois não há motivação entre signo, significante e significado. Já para alguns signos como “Parabrisa”,
temos uma arbitrariedade relativa, pois a função do vidro frontal do carro é bloquear vento e chuva, ou seja,
“parar a brisa”, gerando “para+brisa”, desta forma o signo foi criado a partir de uma motivação, na intenção
de criar um nome que representasse a função do objeto. Porém, ao separarmos as palavras “para” e “brisa”,
estas voltam a sua origem arbitrária.
Em linguagens simbólicas, tal fenômeno de arbitrariedade absoluta não se aplica.
Essa é uma linguagem simbólica. Ao visualizarmos a imagem apresentada, conhecemos seu significado:
“veneno” ou “perigo”. A motivação para a criação de tal símbolo é a relação com a morte, caracterizada pela
imagem da caveira. Trata-se de uma linguagem cujo símbolo que retrata não parte de uma arbitrariedade,
mas de uma motivação, de um significado. A mesma coisa pode ocorrer numa comunicação mais semiótica
expressa nas artes visuais, na música, no cinema ou nas fotografias.
Na linearidade, Saussure nos apresenta a necessária sucessão temporal ou espacial dos signos, fazendo
com que sua disposição obedeça a uma ordem, na qual um vem logo depois do outro, tornando impossíveis
construções de sons ou palavras num mesmo espaço e tempo, quando expressas por um mesmo sujeito.
m – e – n – i – n – o
Uma criança do sexo masculino não pode ser chamada de “nimeno” na língua portuguesa, há uma ordem a
ser seguida para alinhar os sons dessa palavra.
O menino subiu na árvore
Também não é possível uma construção: “árvore na menino o subiu”. Há uma ordem linear já definida em
nossa língua para garantir o entendimento da sentença.
A seguir, temos um fluxograma do que vimos discutindo até aqui, onde o signo “bola” se apresenta em
significante, significado, arbitrariedade e linearidade.
Fluxograma: Signo, significante e significado nas línguas orais
Signi�cado e signi�cante nas línguas de sinais
As contribuições de Saussure também são frutíferas nos estudos das línguas de sinais. O signo “carro”
apresenta os mesmos significante e significado em sua composição, contudo, os fenômenos linguísticos de
arbitrariedade e linearidade, não podem ser atribuídos como fenômenos comuns em línguas visuo-corpóreo-
espaciais.
Fluxograma: Signo, significante e significado na Libras
Fazendo uma analogia com as línguas de sinais, você pode observar o seguinte:

O significado não é “carro” (o objeto físico), mas a representação mental que o sinalizante tem de tal objeto,
representação influenciada por suas experiências.

O significante desse signo é a visualização do sinal de “carro”, essa convencionalidade gestual que
representa o signo.
A representação mental que o sinalizante tem do sinal o ajuda a reconhecer o signo “carro”, quando
expresso, e a saber como deve ser expresso. A língua é um sistema de signos que abriga uma relação
simbólica entre significante e significado, sendo, portanto, simbólica. Diante do exposto até aqui, podemos
inferir:
Signo Significante Significado
Significado união de “sons” e “ideias”
Língua escrita união de “letras” e “ideias”
Língua de sinais união de “sinais” e “ideias”
Quadro: Analogia semasiológica entre as línguas.
Elaborada por: Veridiane Pinto Ribeiro
Os estudos de Saussure são importantes para tomarmos como parâmetros de análise da relação entre as
construções visuo-corpóreo-espaciais e as construções da língua escrita e falada.
Arbitrariedade nas línguas de sinais
Em relação à arbitrariedade, as línguas de sinais também apresentam diferenças em relação às línguas
orais. Voltemos ao exemplo “a” apresentado anteriormente. O sinal “menino” é motivado por experiências
visuo-corpóreas. O sinal compõe-se por “homem + baixo”, um sinal que tem como significado o fato de o
sujeito “menino” ser do sexo masculino e ter uma estatura baixa, de acordo com sua faixa etária.
Lembre-se dos estudos da iconicidade dos sinais, definidos como aqueles que
apresentam a forma do seu significado. Alguns exemplos clássicos são: cigarro,
bicicleta, árvore... Entretanto, estudos que tratam da motivação para a
convencionalidade dos sinaisnão se restringem ao conceito de iconicidade, pois a
motivação se justifica por diferentes processos significativos nas expressões
linguísticas sinalizadas.
Ribeiro (2016) defende o que chama de Iconicidade de Motivação Corporificada, na qual a
convencionalidade do sinal está ancorada nas experiências corporificadas de seus usuários, propondo três
categorias: Motivação Espacial, Motivação Sensitiva e Motivação de Medida.
A motivação não ocorre apenas na percepção visual, mas em todo o esquema corporal, em todas as
habilidades do esquema corporal, em que não há dissociabilidade entre forma e significado. Veja a seguir:
Motivação Espacial
Baseia-se na tendência de que estes sinais sejam produzidos numa coerência espacial em relação ao nosso
corpo. Nas experiências corporificadas, tudo que está no alto, para cima, nos remete ao espaço elevado, o
sucesso, o êxito, o alto astral. Tudo isso tem significado coerente quando expresso em postura altiva.
Por isso, sinais como “feliz” e “tudo-bem” apresentam marcas não manuais e movimentos com sentido para
o alto, incluindo expressão corporal inflando o peito, cabeça erguida, dando ao sinal um sentido de elevação.
No caso de sinais como “triste”, “chorar” e “cansado”, a tendência é o corpo buscar um espaço inclinado
para baixo, num estado de baixo astral, motivando a produção de sinais que se compõem por expressão
corporal cabisbaixa, movimento na direção de cima para baixo, inclinando os ombros para baixo, além da
expressão facial de tristeza.
Motivação Sensitiva
Baseada nas experiências corporificadas que produzem uma memória aos sentidos, nas quais o toque, o
paladar, a visão e o olfato configuram-se em significado e são expressos nas construções sinalizadas.
Sinais como “abraçar”, “encontrar”, “pisar”, “azedo”, “perfumado” e “noite” são sensitivos à medida que são
motivados pela sensibilidade do corpo em perceber as sensações.
Motivação de Medida
Usa as experiências corporificadas e o próprio corpo para definir as medidas, os tamanhos. É significativo
para o sinalizante definir as medidas em relação ao seu próprio corpo. O sinalizante produz o sinal de
“pequeno” em relação ao seu próprio corpo, podendo ser expresso pela aproximação dos dedos indicador e
polegar de uma mão, ou a aproximação dos indicadores de cada uma das mãos, variando a expressão
conforme a intenção comunicativa do sinalizante.
Quando a intenção comunicativa é expressão da ideia de soma, o sinal de “somar” remete à ideia de junção,
já que todos os dedos (unidades) se encontram comprimidas em uma única unidade, levando a ideia de
soma. Mais uma vez, o corpo e suas experiências tornam-se referência para o sentido do sinal.
Linearidade nas línguas de sinais
Está na hora de falarmos de linearidade. Para isso, observe a sentença “o menino subiu na árvore” em
Libras. Vamos lá!
Esta construção mostra uma peculiaridade das línguas de sinais: a possibilidade de produzir sentenças em
que os sintagmas são expressos ao mesmo tempo e no mesmo espaço. Ao sinalizar “árvore”, a posiciona
no espaço de sinalização onde a ação do sujeito se realizará. Ao lado, sinaliza “menino” e, em seguida, o
classificador do menino subindo no tronco da árvore até chegar ao topo. Tanto a ordem da sentença quanto
a sucessão dos signos não se dão de forma linear, é uma organização imagética, coerente com a
organização de uma língua visuo-corpóreo-espacial.
Porém, não se pode dizer que a língua de sinais não apresenta linearidade em suas
construções, pois os sinais possuem parâmetros definidos a partir de uma
convencionalidade de seus usuários. O sinal “menino” compõe-se dos sinais
“homem^baixo”, nesta sequência, e cada um desses sinais com configuração de
mão, ponto de articulação, orientação de mão, movimento e expressão previamente
convencionalizados.
O que já sabemos e o que precisamos saber?
Sabemos que a área da Linguística que estuda o significante é a Fonologia. Já compreendemos as relações
que o significado exerce em tais estudos, mas o foco deste módulo é o significado. O diálogo até este ponto
foi no intuito de retomar alguns conceitos básicos, envolvendo os estudos do significado, para que
pudéssemos chegar às áreas da Linguística que o estudam. Estamos falando da Semântica e da
Pragmática.
Tais estudos permeiam os conceitos que construímos em nossas mentes nos níveis do signo linguístico,
presente em uma palavra, sentença ou texto. Como usuários da língua, adquirimos domínios de usos
linguísticos nos quais arranjos conceituais passam a fazer parte do nosso cotidiano:
Pre�ro ter muito trabalho a estar desempregado.
Pre�ro ter muita labuta a estar desempregado.
Os signos “trabalho” e “labuta” são sinônimos, ou seja, têm o mesmo significado. Adquirimos esta
habilidade à medida que nos tornamos proficientes. Conceito e conceptualização alimentam nossa
capacidade de compreender as mensagens e produzir novos significados.
Observe a imagem a seguir:
O que vemos, de forma literal, são as imagens de dois signos: lâmpada e muda de planta. Com base nas
experiências corporificadas em nosso meio social, a lâmpada tem uma representação, dependendo do
contexto em que se insere, quando queremos simbolizar o surgimento de uma boa ideia, na qual a mente se
acende para encontrar uma solução. A muda de planta, por sua vez, remete ao meio ambiente, à natureza, à
preservação do ecossistema, à continuação de uma espécie. São significados produzindo novos
significados.
Signo Significante Significado
Engloba os planos
“lâmpada” e “muda de
planta”.
Lâmpada com a muda de
uma planta em seu interior.
Pode levar ao entendimento de que
a preservação do meio ambiente é
uma boa ideia.
Quadro: Signo, significante e significado em uma imagem.
Elaborado por: Veridiane Pinto Ribeiro.
Vivemos experiências corporificadas no meio social que nos levam a construir um vocabulário imbuído de
significantes. Dependendo do que nos apresente o contexto, somos capazes de compreender as
mensagens ou de fazer relações de significado coerentes com as construções dos significantes, gerando
novos significados.
A Linguística Cognitiva
A Linguística Cognitiva é uma perspectiva que acolhe uma série de linhas teóricas, as quais chamamos
“módulos cognitivos”, cujos pressupostos se sustentam na indissociabilidade entre forma e significado na
construção da linguagem, tanto em línguas orais quanto em línguas visuo-corpóreo-espaciais, como a língua
de sinais.
Uma das teorias da Linguística Cognitiva, postulada por Fauconnier e Turner (1998), defende a
ressignificação, a habilidade de construir novos significados a partir de significados já existentes. Trata-se
de um processo de mesclagem, de integração conceptual. São domínios estáveis, ou seja, domínios
conceptuais consolidados na mente a tal ponto que podem ser transitórios, permitindo ao usuário a
construção de novos significados baseados em relações coerentes de sentidos.
As metáforas são um caso clássico de mesclagem ou integração conceptual, pois a habilidade cognitiva de
relacionar conceitos diferentes constrói um novo significado. É uma habilidade cognitiva, perceptiva e
corporificada, da qual o sinalizante se vale para dar sentido às suas expressões linguísticas.
A metáfora “luz no fim do túnel” signifiga esperança.
Nas línguas de sinais, as experiências corporificadas norteiam processos de inputs e outputs linguísticos,
experiências envolvendo atenção, percepção e memória, que constroem habilidades linguísticas que
subsidiam nossas relações comunicativas.
Numa perspectiva corporificada, não se admite que construções sintáticas se façam apenas a partir de
regras gramaticais. A expressão da língua se dá em correspondentes simbólicos (palavras ou sinais) que se
ajustam em relações de significado. Na mente do falante, a construção sintática se dá, principalmente, a
partir de intenções comunicativas com significado.
A Linguística Cognitiva defende que as unidades simbólicas, os sintagmas que
compõem a sentença, são relacionadasnas mentes de seus usuários conforme sua
intenção comunicativa, objetivando expressar um sentido, de modo que o foco do
usuário não está em fazer relações estabelecidas em regras gramaticais.
O usuário, ao expressar “Eu como banana”, não se concentra no foco da ordem da sentença, mas na sua
intenção comunicativa, no que deseja comunicar, tanto que pode dizer “Banana? Como.”; “Como banana eu”;
“Eu como banana, eu”.
Na Libras, considerando se tratar de uma língua imagética, que se constrói no espaço de sinalização a partir
de experiências visuo-corpóreo-espaciais, o usuário, primeiramente, sinaliza “banana”, em seguida, “eu”, e
finaliza com “comer”, ou, diretamente, “banana comer”. Esta ordem básica sujeito-verbo-objeto (SVO) nem
sempre aparece na Libras. A ordem dos signos no espaço de sinalização parte de uma lógica imagética, ou
seja, ao sinalizar, primeiramente, “banana”, o sujeito visualiza, em primeiro lugar, o objeto que receberá a
ação, pois o foco da intenção comunicativa é dizer o que ele come. Dessa forma, o verbo, a ação vem depois
do objeto.
Tal construção é muito comum na Libras. Isto porque as construções imagéticas, baseadas em experiências
corporificadas de uma língua visuo-corpóreo-espacial, são construções de significado, não se restringindo a
regras gramaticais. Trata-se de uma unidade indivisível e não em termos de elementos distintos, assim
como, geralmente, é feito em modelos composicionais, mas em componentes que se “procuram”, com o
objetivo de atribuir significado à mensagem. O contexto e o sujeito corpóreo são o centro da composição da
mensagem.
Saiba mais
Quando se trata de léxico, morfologia e sintaxe, o que temos é um continuum de unidades simbólicas que
servem para estruturar todo um conteúdo semântico no momento da fala, uma afirmação que defende as
relações inerentes entre gramática e significado.
A Gramática de Construções Corpori�cadas (GCC)
Os precursores da Gramática de Construções Corporificadas (GCC) são os estudiosos Benjamin Bergen e
Nancy Chang. Neste modelo, a perspectiva da Linguística Cognitiva se dá por construções em uma
variedade de outros modelos cognitivos que representam a gramática das línguas.
Ribeiro (2021) destaca a motivação que embasa este estudo: a corporificação nos processos linguísticos.
Explica que tal perspectiva teórica estuda a construção sintática motivada por experiências perceptivas
corporificadas no espaço social, algo que justifica uma análise linguística com base na língua em uso.
A GCC leva à percepção de que as pessoas usam a gramática significativamente e
funcionalmente. Uma gramática que evoca habilidades psicológicas gerais, como
memória, atenção, percepção, além de processos como categorização, abstração,
mapeamento, projeção e integração conceitual. Um processamento ocorre de
forma rotineira e, principalmente, inconsciente.
Os pesquisados Bergen, Lindsay, Matlock e Narayanan, em publicação no ano de 2007, descrevem como se
dá a ativação do que chamaram de Simulação Mental. Os estudiosos fornecem evidências de que o
processamento da linguagem se vale de imagens perceptivas específicas, tanto locais quanto descritivas,
bem como de entidades e seus atributos para simular significados no ato de comunicação.
Fluxograma: Processo tradutório cognitivo-corporificado
Esse diagrama, proposto por Ribeiro (2021), foi produzido com base nos princípios dos processos de
tradução e interpretação defendidos pela Gramática de Construções Visuo-Corporificadas defendidas em
sua tese, em 2016.
A pesquisadora explica que o diagrama objetiva demonstrar como o processo tradutório cognitivo-
corporificado comporta-se frente aos estímulos intralingual, interlingual e intersemiótico. A simulação
mental é alimentada por processos semânticos, por experiências que possuam relações de significado no
entorno da comunicação.
A mente corpórea aciona diferentes domínios cognitivo-linguísticos em direção à Simulação Mental. Tais
domínios são “gavetinhas” na mente do interlocutor, evocadas à medida que são recebidos estímulos
comunicativos. Essas “gavetinhas” organizam e armazenam módulos cognitivos capazes de produzir
significados inter-intralingual e intersemiótico. Veja a seguir:
Enciclopédia mental
Vocabulários e categorias linguísticas armazenadas e organizadas cognitivamente.
Imagética
Expressão linguística usando o corpo como representação de significados visuais.
Domínios locais
Espaços mentais operadores do processamento cognitivo.
Domínios estáveis
Estrutura de memória pessoal ou social, envolvendo esquemas e frames.
Frames
Contextos conversacionais, situações, cenas do cotidiano, da língua em uso.
Domínios semânticos
O uso e adequação dos significados estão sujeitos à situação comunicativa.
Forma e signi�cado
A construção linguística não se dá dissociada do significado.
Essa perspectiva teórica defende que se tratam de domínios interligados e interdependentes, não sendo
uma relação cartesiana, mas holística. Um processo ativado na língua em uso, em contextos comunicativos,
nos quais a mente realiza um processo complexo de semioses e relações semânticas. A partir dessas
relações, o interlocutor é capaz de formular sua intenção comunicativa, construir as sentenças e expressá-
las, um processo de simulação que antecede a expressão.
Trata-se de uma habilidade cognitiva que construirá um ser pensante, capaz de fazer previsões, de
raciocinar sobre suas atividades linguísticas, organizando-as com coesão e coerência, conceito e
conceptualização.
Conceitos da Semântica
Acompanhe agora os conceitos básicos da Semântica e seus desdobramentos na Libras. Vamos lá!

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Os postulados de Saussure nos deixaram um legado para os estudos da Linguística que se tornaram
conceitos básicos e imprescindíveis. Saussure tomou o signo linguístico, afirmando que este se
constitui de significante e significado, além de arbitrariedade e linearidade. Dessa forma, o signo
“cachorro” tem seu significante, significado, arbitrariedade e linearidade, respectivamente, na seguinte
alternativa:
A
Parabéns! A alternativa E está correta.
O signo linguístico é uma associação de uma imagem acústica, chamada significante, e o seu
significado. A arbitrariedade não tem motivação, não existe ralação entre som e sentido. A linearidade é
sucessão temporal ou espacial, numa organização na qual um som vem depois do outro e uma palavra
vem depois da outra.
Questão 2
Neste módulo, pudemos conhecer os estudos de Ribeiro (2016), que conceitua a Iconicidade de
Motivação Corporificada, propondo três categorias: Motivação Espacial, Sensitiva e de Medida. Com
base em suas leituras sobre tal conceito, os signos a seguir classificam-se nessas categorias como:
Parabéns! A alternativa A está correta.
 – CACHORRO – “CACHORRO” – C-A-C-H-O-R-R-O
B CACHORRO – “CACHORRO” – C-A-C-H-O-R-R-O – 
C C-A-C-H-O-R-R-O –  – CACHORRO – “CACHORRO”
D  – “CACHORRO” – CACHORRO – C-A-C-H-O-R-R-O
E “CACHORRO” –  – CACHORRO – C-A-C-H-O-R-R-O
A Espacial (CANSADO), Sensitiva (AMARGO), Medida (GIGANTE)
B Espacial (AMARGO), Sensitiva (CANSADO), Medida (GIGANTE)
C Espacial (ANÃO), Sensitiva (AMARGO), Medida (GIGANTE)
D Espacial (CANSADO), Sensitiva (ALTO), Medida (GIGANTE)
E Espacial (ESCURO), Sensitiva (AMARGO), Medida (GIGANTE)
A motivação Espacial tende a produzir sinais numa coerência espacial em relação ao nosso corpo,
levando-o a se mover na direção que tem relação com o significado do sinal (para cima, para baixo, para
a direita, para a esquerda); a motivação Sensitiva às experiências corporificadas produz uma memória
aos sentidos, na qual o toque, o paladar, a visão, o olfato configuram-se em significado; a motivação de
Medida é marcada por experiências corporificadas e o próprio corpo para definir as medidas, os
tamanhos.
2 - Fenômenos semânticos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de classi�car os fenômenos semânticos na Libras.Os estudos semânticos na Libras
A linguística da Libras vem sendo estudada por ilustres linguistas brasileiros, provocando avanços e olhares
atentos às peculiaridades desta língua. Há vários pesquisadores que são referências para estes estudos que
abordam desde as classes de sinais, como verbos, pronomes e advérbios, até sua organização na sintaxe e
análise do discurso. Sem dúvida, os estudos semânticos fazem parte deste escopo.
Os estudos semânticos norteiam as relações de significado entre signos,
expressões e contextos. Para compreendermos essas relações de significado, vale
uma rápida retomada sobre a organização básica das sentenças nas línguas de
sinais.
Destacamos, inicialmente, os estudos de Quadros e Karnopp (2004) a respeito da ordem básica para a
composição de uma sentença em língua de sinais: SVO (sujeito-verbo-objeto), podendo sofrer variações
conforme a situação e intenção comunicativas (SOV ou VSO), além de seus possíveis complementos.
Sujeito-Objeto-Verbo-Advérbio (topicalização)
EU
AULA
TER
AGORA
Para que haja concordância sintática nas línguas de sinais, Quadros e Karnopp (2004) pontuam os
seguintes elementos constituintes das sentenças:
1. sinais de um local particular, direcionar a cabeça e os olhos;
2. direção da cabeça e dos olhos (e talvez o corpo);
3. apontação ostensiva antes do sinal de um referente específico;
4. pronome;
5. classificador;
6. verbo direcional ou de concordância;
7. topicalização;
8. marcas não manuais.
Comentário
Não vamos retomar todos os elementos publicados nesta obra, apenas aqueles fundamentais à
compreensão dos estudos da semântica. A intenção comunicativa do sinalizante determina a organização
das sentenças que recebe influências das peculiaridades imagéticas e corporificadas das línguas de sinais.
Os exemplos retirados da obra de Quadros e Karnopp (2004) mostram elementos aspectuais na construção
sintática em línguas de sinais, em relação à localização dos referentes no espaço de sinalização, verbos
direcionais e marcas não manuais.
Uso de sinais de um local particular, direcionar a cabeça e os olhos
para estes sinais:
CASA (do Pedro)
A casa de Pedro.
CASA (do João)
A casa de João.
Usar a direção da cabeça e dos olhos (e talvez o corpo):
CASA IX (casa)
A casa
X
“Quando não for possível identificar o referente contextualmente, será usado IX para indicar a apontação [...]”
(QUADROS; KARNOPP, 2004).
Usar a apontação ostensiva antes do sinal de um referente especí�co:
Casa
IX CASA
Usar um pronome:
IX(casa) NOVA
A casa nova. (aquela)
Usar classi�cador:
CARRO CL (carro passou um pelo outro)
Os carros passaram um pelo outro.
L
“Algumas configurações de mão são utilizadas de forma padrão para identificar os classificadores que referem
sinais que podem incluir outras informações” (QUADROS; KARNOPP, 2004).
Usar um verbo direcional ou de concordância:
(eu) IR (casa)
Eu vou para casa.
Usar classi�cador:
(el@) <aOLHARb> do (el@)
Ela olha para ele.
(el@) <aAJUDARb>do (el@)
Ele a ajuda.
(el@) <aENTREGARb>do (el@)Ela entrega para ele.
l@
Igual a ele ou ela.
aOLHARb>
“Quaisquer letras minúsculas associadas aos sinais transcritos indicam as pessoas do discurso marcadas
através da incorporação no sinal” (QUADROS; KARNOPP, 2004).
Marcas não manuais:
Marcação de negação
Marcação de interrogação
Utilizar o espaço, os movimentos do corpo, a direção do olhar, as diferentes formas da mão, sejam em sinais
ou classificadores, está relacionado com articulações carregadas de sentido, condicionadas às relações de
significado produzidas pelo sinalizante.
Vale destacar as expressões não manuais que têm função sintática e marcam
sentenças interrogativas, orações relativas, topicalizações, concordância e foco. As
expressões não manuais que constituem componentes lexicais marcam referência
específica, referência pronominal, partícula negativa, advérbio, grau ou aspecto, as
quais são encontradas no rosto, na cabeça e no tronco. Sem a articulação coerente
desses elementos aspectuais das línguas de sinais, o sentido fica comprometido e,
consequentemente, a emissão e recepção por parte de seus interlocutores.
Nestes estudos semânticos, outros elementos se ajustam para expressar as ideias, muitos deles
diretamente ligados aos estudos semânticos de palavras e enunciados.
Os níveis lexical e da sentença nos estudos semânticos
na Libras
Assim como nas línguas orais-auditivas, a Libras apresenta dois níveis nos estudos da semântica: lexical e
da sentença.
Fluxograma: Campos semânticos
Semântica Lexical
Vejamos as diferentes situações relacionadas com a semântica lexical, ou seja, os casos de antonímia,
sinonímia, polissemia ou homonímia, e paronímia.
ANTONÍMIA
Refere-se a sinais que apresentam significados opostos, também chamados de antônimos. Veja os
exemplos a seguir:
ALT@ - BAIX@
GRAND@ - PEQUEN@
SINONÍMIA
Refere-se a sinais diferentes que apresentam o mesmo significado, também chamados de sinônimos. Veja
os exemplos a seguir:
FELIZ – existem diferentes sinais que expressam este mesmo signi�cado.
POBRE – existem diferentes sinais que expressam este mesmo signi�cado.
POLISSEMIA/HOMONÍMIA
Na polissemia, é possível usar os mesmos signos, em contextos diferentes, o que pode levar à mudança de
sentido destes signos. Para identificarmos o sentido que está na intenção comunicativa do emissor,
precisamos atentar ao contexto.
No caso da homonímia, dois ou mais signos têm a mesma estrutura fonológica ou, no caso dos sinais,
estrutura nos parâmetros, porém, em contextos diferentes, têm significados diferentes.
Você pode se questionar: qual é a diferença entre essas duas semânticas lexicais? Na verdade, os
estudiosos não são unânimes em defender e comprovar uma diferença bem fundamentada. Há muitos
linguistas que defendem a igualdade de conceito e função para polissemia e homonímia. Veja os exemplos
a seguir:
SÁBADO / LARANJA / ALARANJADO
OCUPAD@ / PROIBID@ / NÃO-PODER
AÇÚCAR / DOCE / GUARDANAPO
VIDA / EXISTIR / PRESENTE
PARONÍMIA
Os parônimos se referem aos sinais semelhantes na execução dos parâmetros com sentidos diferentes.
AMANHÃ e FÁCIL
VENDER e ABANDONAR
EMPREGADA e FOME
Semântica no nível da sentença
Vejamos agora o nível da sentença nos estudos semânticos de Libras. Primeiro, vamos olhar o âmbito da
estrutura e, depois, a questão da ambiguidade.
Estrutura
No nível das sentenças, estudamos o significado da estrutura que pode expressar sentidos sinônimos ou
antônimos.
Sinônimos
P-E-D-R-O FELIZ SEMPRE.
P-E-D-R-O NUNCA TRISTE.

ELA DOCE COMPRAR.
ELA BOMBO@ BAL@ COMPRAR.
Podemos usar termos diferentes e formas diferentes de expressar o mesmo sentido, não apenas usando
palavras sinônimas, mas produzindo sentenças sinônimas.
ANTÔNIMOS:

EUTER CHAPÉU BONIT@.
EU TER CHAPÉU FEI@.

INTELIGENTE VOCÊ.
BURRO VOCÊ.
Ambiguidade
Na Língua Portuguesa, existem muitas expressões que são ambíguas, ou seja, é possível termos dois
sentidos em uma mesma sentença, o que costumamos chamar de “duplo sentido”.
Fábio contou a Paulo que sua mulher saiu do emprego.
Da forma como a sentença está estruturada não é possível saber se quem saiu do emprego foi a mulher de
Fábio ou a de Paulo.
Em Libras, existem marcadores e referentes dêiticos no espaço de sinalização que direcionam o olhar do
interlocutor para a real intenção comunicativa de seu emissor.

F-A-B-I-O (apontar localização de Fábio) CONTAR (verbo direcional na direção de Fábio para Paulo) P-A-U-L-O
MULHER DELE (sinal na direção de Fábio) EMPREGO ABANDONAR.
Fábio contou a Paulo que sua mulher (de Fábio) saiu do emprego.
Em Libras, o uso do pronome possessivo “DELE” direciona a informação eliminando qualquer vestígio de
ambiguidade, pois o emissor aponta ao receptor a mulher de quem saiu do emprego.
O uso de dêiticos (apontamentos) e dos pronomes possessivos (seu, sua, dele,
dela) determina e localiza os referentes no espaço de sinalização e são comuns
nas construções sintáticas da Libras,algo que contribui para a compreensão dos
significados.
Semântica lexical e semântica da sentença
Acompanhe a seguir os conceitos da semântica lexical e da sentença por meio de explicações e exemplos.
Vamos lá!

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Os estudos da área da semântica englobam dois níveis semânticos: lexical e da sentença. Na
semântica lexical, temos os estudos da antonímia, sinonímia, parônimos e polissemia ou homonímia.
Na língua de sinais, tais estudos são frutíferos e já há muitas pesquisas e publicações abordando essas
questões. Dessa forma, considerando os léxicos “fevereiro-envergonhado”; “alegre”; “Goiás-geografia”;
“lembrar-esquecer”, temos:
Parabéns! A alternativa B está correta.
“fevereiro-envergonhado” são parônimos, pois se referem aos sinais semelhantes na execução dos
parâmetros com sentidos diferentes; “alegre” é uma sinonímia, pois se refere a sinais diferentes que
apresentam o mesmo significado; “Goiás-geografia” são homonímia/polissemia, pois os mesmos
signos podem ter diferentes significados quando em contextos diferentes; “lembrar-esquecer”, são
antonímia, pois se referem a sinais que apresentam significados opostos.
Questão 2
Uma expressão que pode ter um duplo sentido é chamada de ambiguidade. Estudiosos da área da
linguística referente às línguas de sinais afirmam que este fenômeno não se identifica em línguas visuo-
corpóreo-espaciais. Como essa afirmação se justifica?
A Homonímia/polissemia; antonímia; sinonímia, parônimos.
B Parônimos; sinonímia; homonímia/polissemia; antonímia.
C Antonímia; sinonímia; homonímia/polissemia; parônimos.
D Sinonímia; parônimos; homonímia/polissemia; antonímia.
E Antonímia; homonímia/polissemia; sinonímia; parônimos.
A
Se justifica pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem verbos direcionais nas
sentenças.
B
Justifica-se pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem a direção do olhar do
emissor para o receptor em sentenças com movimento de interlocutores.
C
Se justifica pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem marcadores e
referentes dêiticos no espaço de sinalização.
Parabéns! A alternativa C está correta.
Sentenças não podem ser ambíguas nas línguas visuo-corpóreo-espaciais, pelo fato de se construírem
no espaço de sinalização no qual marcadores e referentes dêiticos direcionam o olhar do interlocutor
para a real intenção comunicativa de seu emissor.
3 - Produção do sentido nas línguas naturais
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a produção de sentidos nas línguas
naturais.
Os campos lexical e semântico na análise do discurso
D
Se justifica pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem marcadores em
marcas não manuais.
E
Se justifica pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem sentenças na estrutura
SVO.
O campo de estudo do significado engloba outros campos da área da Linguística cuja compreensão se faz
pertinente para constituir uma visão holística dos processamentos da linguagem, são os campos lexical e
semântico. Saiba mais sobre eles a seguir:
Campo lexical
Quando estudamos significado, o campo lexical está atrelado às relações de sentido que nossa mente
constrói à medida que se alimenta de informações no meio social.
O campo lexical é composto por um conjunto de palavras pertencentes a uma mesma ideia, um
pensamento, uma noção. Ao mergulharmos em determinado contexto que compartilha léxicos que se
relacionam, o domínio do conhecimento destes favorece a interpretação e compreensão da comunicação
que possa transitar ao longo do diálogo.
Exemplo: Se o assunto está baseado no léxico “culinária”, podem ser arrolados no diálogo instrumentos de
cozinha, ingredientes, técnicas e profissionais envolvidos. Léxicos como: fogão, panela, forma, frigideira,
colher, sal, açúcar, mexer, bater, chef, cozinheiro e muitos outros estão armazenados em nossa mente em
uma organização evocada a partir de estímulos comunicativos no ambiente.
Campo semântico
No campo semântico, por sua vez, uma palavra pode assumir um conjunto de significados, algo que
podemos consultar, por exemplo, em um dicionário.
Exemplo: Se buscamos o significado de um verbete como carro, temos: veículo que se locomove sobre
rodas para transportar pessoas, automóvel.
A análise do discurso
Para fazermos a análise do discurso, é fundamental o domínio dos campos lexical e semântico. A análise do
discurso provoca o sujeito da comunicação, extraindo os conhecimentos que o habilitem a realizar uma
análise contextual da estrutura discursiva em questão, diretamente determinadas pelo contexto político-
social em que vive o seu interlocutor.
Na análise do discurso, identificamos o que diz um texto, como diz e por que diz. É o campo da língua
atrelado ao campo da sociedade em seus processos históricos e ideológicos.
Esses processos ideológicos tratam da visão de mundo de determinada classe, a maneira como ela
representa a ordem social. Levando em conta que, nas línguas orais, há uma defesa de que não existe
relação entre as representações e a língua, então, a linguagem é determinada pela ideologia, por
características sociais.
É a partir da análise de todos os aspectos do discurso que se chega ao sentido. E perceba que o sentido não
é estático, ele é volátil e se ajusta às situações comunicativas e às intenções comunicativas.
Localização neurológica do processamento da
linguagem
Fábio Theoto Rocha, pesquisador da área de neurofisiologia da linguagem, tem uma respeitosa contribuição
aos estudos dos processos neurológicos para aquisição, processamento e expressão linguísticos.
Uma de suas publicações tem foco na língua brasileira de sinais, sob o título de Libras: um estudo
eletroencefalográfico de sua funcionalidade cerebral (2012), disponibilizada no portal ENSCER. Sua pesquisa
concluiu que as áreas do cérebro Broca e Wernicke definem as ações e os objetos também na língua de
sinais, por meio de gestos motores, fazendo uma analogia com a língua falada. Essas áreas definem a
semântica e a sintaxe do verbo, bem como a semântica de seus complementos, não sendo diferente na
língua de sinais, ou seja, a partir de estímulos diferentes, considerando que a língua de sinais recebe os
visuais, tanto a Língua Portuguesa quanto a Libras realizam processos de relações sintático-semânticas nas
mesmas áreas do cérebro.
roca e Wernicke
A área de broca está relacionada com a produção da linguagem e está localizada no hemisfério esquerdo do
cérebro, na parte inferior do lóbulo frontal.
A área de Wernicke está relacionada com a compreensão sonora e, normalmente, pode ser encontrada no
hemisfério esquerdo, embora em 30% das pessoas canhotas e 10% das pessoas destras se encontre no
hemisfério direito. Essa zona pertence ao lóbulo temporal e está altamente relacionada com a zona auditiva.
A área de Broca e a área de Wernicke estão conectadas por meio de um grupo de fibras nervosas conhecido
como o fascículo arqueado.
Fonte: Gallardo, 2020.
Saiba mais
Rocha (2012) destaca que a complexidade da atividade cerebral para a decodificação da linguagem na
construção de sentidos, comprovando uma engrenagem que estrutura relações de memória, o controle da
atenção, o processamento visual e a imaginação mental, que são, basicamente, controladas pelo córtex
frontal, mas também envolve neurônios distribuídos por outras áreas: parietal, temporal e occipital, além do
hipocampo e áreas adjacentes.
Rocha (2012) tomou como instrumento de análise o texto de uma história clássica brasileira: O curupira. A
partir do monitoramento cerebral em equipamentos tecnológicos, o pesquisador registrou a reação cerebral
durante a sinalização de cada um dos elementos aspectuais que compõem campos lexicais e semânticos
da linguagem.
Os resultados mostraram que a fonação e a ação representadas pelo verbo, e o reconhecimento das formas
sonoras de campos lexicais, como “leão” e “carne”, ativam os neurônios da área deWernicke, que dão
acesso às áreas cerebrais que, por sua vez, reconhecem esses elementos e definem no campo semântico o
significado dessas palavras ou sinais.
As áreas de Broca e Wernicke estabelecem relações sinápticas com neurônios de representação.
Esse estudo mostra que os significados, representados em sons e palavras ou sinais, “se procuram” em
busca de relações coerentes na construção sintática. Os dados mostram que, ao reconhecer na base do
texto o verbo “comer” na área de Broca, ocorre uma ativação dos neurônios referentes às palavras “leão” e
“comer”, presentes na base do texto, apresentando uma coerência na compreensão da mensagem,
comprovando que essas palavras obedecem à sintaxe do verbo comer e fazem parte do campo semântico
da ação desse verbo, levando à conclusão de que, tanto em língua oral quanto em língua de sinais, o
significado é um processo complexo de relações neuronais, envolvendo campos lexicais e semânticos.
Categorização e espaços mentais
Os campos lexicais e semânticos são motivados por representações dos significados em forma de sons,
palavras ou sinais. Ao alimentarmos nosso dicionário mental por meio das experiências linguísticas e
sociais em diferentes contextos de enunciação, somos capazes de organizar nossa mente como se
tivéssemos “gavetas” em nossa memória para armazenar essas informações. Cada “gaveta” contém léxicos
que se agrupam com base em características de semelhança, por pertencimento a um mesmo nicho de
significado.
Duque (2012) defende que categorização é uma atividade cognitiva fundamental que atesta nossa interação
com o meio ambiente de forma organizada, com base em nossas experiências corpóreas, traduzidas em
relações com o mundo e com a cultura, revelando uma fantástica capacidade da mente humana.
Estas entidades organizadas na categorização envolvem objetos, pessoas, lugares, mobiliários, vestimentas,
animais, veículos, reconhecendo neles especificações que vão além de convencionalidades lexicais.
Quando categorizamos a entidade “aves”, partimos de características que englobam penas, asas, duas
patas, bico e a capacidade de voar. Organizar nossa memória a partir de categorização poupa espaço de
armazenamento e favorece o trabalho das sinapses quando da evocação de léxicos para as relações de
sentido.
Veja a seguir alguns exemplos de categorização:
Quando trabalhamos com língua de sinais, partimos de um texto que aborda determinado contexto
conforme o planejamento de cada curso ou disciplina. Isso tanto no ensino de Libras como primeira ou
segunda língua, ou seja, para surdos ou ouvintes. Assim, temos a abordagem com base em estudos
semânticos, que ajudam a mente a construir um dicionário mental organizado em categorização,
constituindo campos lexicais e semânticos que possibilitem organizar o pensamento e a expressão
linguística.
Tomemos um contexto como “viagem”. A partir de um texto que poderá conter o diálogo de interlocutores
inseridos neste contexto, contendo léxicos iniciais que introduzem o mergulho na temática, a estratégia
baseada em motivação da categorização amplia esses léxicos, criando novas situações comunicativas
comuns aos usuários da língua, envolvendo novas frases, expressões formais e informais e expressões
idiomáticas.
Considere o seguinte texto:
Vamos viajar? 
Carla encontra Sara em um bar:
A) Oi, tudo bem?
B) Oi, tudo e você?
A) Bem, obrigada. Soube que você viajou mês passado. Para onde você foi?
B) Eu fui para o Recife, aproveitei um feriadão para conhecer as praias famosas da cidade.
A) Ah, que legal! Eu não conheço Recife, mas tenho muita vontade de viajar para o Nordeste do
Brasil, conhecer a cultura nordestina, a cidade de Olinda, as praias, deve ser tudo tão lindo!
B) O que eu mais gostei foi Porto de Galinhas. É uma praia maravilhosa! Fiquei em um hotel de frente
para o mar, tinha um calçadão enorme e muitos barzinhos legais!
A) Ah, eu imagino! Você foi com seu namorado?
B) Sim, compramos um pacote de viagem muito barato, incluía passagens de avião, hotel e alguns
pontos turísticos.
A) Nossa! Que sorte! Mas, não falarei nada ao meu namorado, vou ficar na minha porque quero viajar
com minhas amigas. (risos)
B) Ah, você é muito engraçada.
As duas riem e brindam.
Para a sinalização do texto de forma coerente com a construção visuo-corpóreo-espacial da Libras, vamos
convertê-lo em glosas.
A) O-I, TUDO-BO@?
B) O-I, TUDO-BO@ E VOCÊ?
A) BO@, OBRIGAD@. EU SABER VOCÊ VIAJAR MÊS PASSADO.ONDE?
B) EU VIAJAR RECIFE, FERIADO APROVEITAR CONHECER PRAIA@ FAMOSA@ TER LÁ CIDADE.
A) AH, LEGAL! EU CONHECER-NÃO RECIFE, MAS VONTADE TER VIAJAR NORDESTE, CONHECER
CULTURA PRÓPRIA NORDESTE, TAMBÉM CIDADE OLINDA, PRAIA@(geral) TUDO LINDO EU ACHAR
(expressão de possibilidade, talvez)
B) EU GOSTAR MAIS P-O-R-T-O-D-E-G-A-L-I-N-H-A-S. PRAIA MARAVILHOSA! MEU HOTEL FRENTE
MAR, TER CALCADÃO (descritivo na frente do corpo, duas mãos formando uma faixa do meio para
VIAJAR. VAMOS? 
fora, inflando as bochechas, usando classificador de alguém caminhando sobre a calçada
apreciando o mar) TAMBÉM BAR@ MUITO (apontando vários um ao lado do outro) LEGAL!
A) AH, EU IMAGINAR! VOCÊ IR-JUNTO NAMORAD@.
B) SIM, NÓS-2 COMPRAR PACOTE VIAGEM BARAT@, TER (usar os dedos para pontuar os itens)
AVIÃO, HOTEL TAMBÉM PONT@ TURÍSTICO@.
Atenção
Desse ponto em diante, os léxicos podem ser trabalhados em frases, expressões, piadas, comentários,
compartilhamento de experiências ou outra estratégia definida pelo professor para enriquecer a
categorização em primeira ou segunda língua, produzindo sentidos cuja aquisição já se faz presente no
conhecimento dos alunos ou para a produção de novos sentidos a partir da relação do conhecimento já
adquirido.
Metáforas e expressões idiomáticas
Nestes estudos, podem surgir frases e expressões metafóricas. Este é um fenômeno linguístico muito
sofisticado, que exige de seus usuários comportamentos linguístico-cognitivos avançados, num processo
adjacente aos domínios dos campos lexical e semântico. Porém, o uso das metáforas não se restringe a
textos literários, a poesias, ao uso como recurso poético, a metáfora está em nosso cotidiano, em
expressões corriqueiras que fazem parte de nosso diálogo informal.
Lakoff e Johnson (2015) argumentam em tal sentido e questionam o fato de muitas pessoas entenderem
que o uso das metáforas não faz parte de usos normais da língua cotidiana. Defendem que a metáfora faz
parte da vida diária, do pensamento e da ação. O sistema conceptual é metáfora, quando relacionamos
conceitos e produzimos novos conceitos, quando compreendemos mensagens implícitas, fazemos uso de
nossa habilidade linguístico-cognitiva de decodificar metáforas.
Fauconnier e Turner (1998) conceituam “espaços mentais”. Como estudiosos da Linguística Cognitiva,
apresentam contribuições importantes com foco nos processos construcionais da linguagem. Em se
tratando de metáforas, pontuam as relações dos espaços mentais, que vêm a ser pequenos pacotes
conceituais construídos a partir de como pensamos e falamos, para fins de compreensão e ação local.
As metáforas são formadas de:
Estruturas de entrada
Léxicos.
Estruturas genéricas
As relações que aproximam os léxicos.
Estruturas de mesclagem
Resultado da mescla das estruturas de entrada e genérica.
Ferrari (2014) exemplifica essas estruturas a partir da estrutura genérica: sistema, ameaça, dano. As
estruturas de entrada são:
1. organismo, visão biológica, doença;
2. computador, programa destrutivo, destruição; resultando na estrutura de mesclagem: vírus de
computador.
Dessa forma, pode-se afirmar, em Fauconnier e Turner (1998), que espaços mentais são construções
estruturadas por quadros e modelos cognitivos, que estão interligados e podem ser modificados conforme
pensamos e desdobramos o discurso.
Exemplo
Em nosso cotidiano, fazemos uso de expressões linguísticas que passam por tal processo de mesclagem
para sua compreensão.
Além das metáforas, também é comum usarmos expressões idiomáticasna Língua Portuguesa, que, ao
expressarmos seu sentido na Libras, precisam passar por um outro processo linguístico-cognitivo. Isso não
significa que a Libras não tenha metáforas ou expressões idiomáticas, mas que, no estudo da semântica de
uma língua, precisamos conhecer tanto seus aspectos linguísticos-culturais na expressão e compreensão
de metáforas e expressões idiomáticas, quanto trazer para sua compreensão, por meio da tradução, as
metáforas e expressões idiomáticas de outra língua.
Confira algumas expressões idiomáticas na Língua Portuguesa e sua compreensão para expressão de seus
sentidos na Libras:
a) Andar na linha (fiel);
b) Chorar o leite derramado (já foi);
c) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura (Lutar, lutar, lutar, vencer/ superar);
d) Deu uma de João sem braço (aproveitar);
e) Tirar água do joelho (fazer xixi);
f) Chutar o balde (cheio cabeça);
Expressões idiomáticas na Língua Portuguesa e compreensão de sentidos em Libras 
g) Mala sem alça (chato);
h) Está com a faca e o queijo na mão (pronto oportunidade);
i) Ele é uma mão na roda (pessoa ajudar++);
j) Pendurar a chuteira (aposentar);
k) Encher linguiça (enrolar);
l) Corda no pescoço (muito divida);
m) Acertar na mosca (corrigir certo);
n) Nem tudo que brilha é ouro (atrás disfarçar);
o) Cada macaco no seu galho (cada um na sua);
p) Pau que nasce torto morre torto (mesmo +++);
q) Águas passadas não movem moinho (problema passado já foi);
r) Filho de peixe, peixinho é (pai filho igual, cópia igual);
s) Filhote de onça nasce pintado (filho geração problema igual);
t) Cada um por si e Deus por todos (cada um na sua Deus cuida);
u) Cada ovo comido é um pinto perdido (oportunidade perde não adianta já foi, ou não volta mais).
O trabalho com a compreensão de metáforas e expressões idiomáticas na Língua Portuguesa é frutífero no
processo de aquisição da Libras como primeira ou segunda língua, tanto para surdos quanto para ouvintes,
na medida em que favorece a analogia entre as linguas e naturaliza os usos e compreensão destes
fenômenos linguisticos. Para os surdos, compreender e fazer uso de metáforas e expressões idiomáticas na
Libras liberta-os da literalidade dos signos e os faz mergulhar na relatividade dos significados.
No livro Pequeno dicionário ilustrado de expressões idiomáticas (1999), Everton Ballardin e Marcelo Zocchio
mostram um trabalho ilustrado de como as expressões idiomáticas seriam compreendidas caso não
houvesse a compreensão dos processos de ressignificação presentes nos usos da língua.
Veja a seguir:
Minhoca na cabeça
Chorar sobre o leite derramado
Tirar água do joelho
João sem braço
Na linguagem semiótica, em expressões artísitcas de artes visuais, a metáfora é um recurso linguístico
amplamente usado por artistas surdos e ouvintes para manifestacões de sua cultura e identidades surdas.
Uma publicação da Revista Espaço, no ano de 2019, destaca o trabalho da artista surda Nancy Rourke. A
matéria apresenta seus principais trabalhos, revelando o perfil militante da artista, que busca, na expressão
das artes visuais, o canal para dar voz à luta do povo surdo. A seguir, veja três exemplos de quadros da
artista surda Nancy Rourke:
Além da linguagem expressada em artes visuais, as metáforas também aparecem em expressões
sinalizadas orais. São muito comuns em poesias sinalizadas, em textos literários, mas também estão
presentes em expressões cotidianas. Classificadores e marcas não manuais são elementos aspectuais da
construção sintática, produzindo significados na Libras.
Não tô nem aí!
Você me paga!
Tô duro, sem grana!
Esperto! (sinal de rato)
Lavo minhas mãos!
Apenas alguns exemplos para mostrar o quanto as línguas de sinais compartilham dos mesmos fenômenos
linguísticos que compõem as línguas orais. Mesmo em figuras de linguagem, em metáforas, em linguagem
poética, a Libras é uma língua visuo-corpórea-espacial capaz de expressar qualquer sentido, em qualquer
situação, rica em elementos vivamente semânticos.
Pragmática
Tomando por base um conceito clássico de “pragmática”, temos o estudo da linguagem em uso, em seus
diferentes contextos, levando em conta os princípios de comunicação. Porém, a pragmática transita por
uma amplitude de estudos que engloba estudos dos dêiticos para pronomes, de pressuposições com base
no que foi dito, dos atos da fala e de suas condições, das implicaturas de expressões subtendidas e dos
aspectos da estrutura conversacional. Veja a situação a seguir:
a) Você tem horas?
b) São seis e meia.
Os estudos da pragmática buscam explicar este fenômeno na comunicação, em que os sujeitos
interlocutores adquirem a habilidade de responder a um questionamento conforme o interesse do
questionador, mesmo que a pergunta não tenha sido direta, pois em uma pergunta: “você tem horas?”, a
resposta que se espera seria “sim” ou “não”. Contudo, o que o questionador recebe é a resposta que
realmente busca: a hora atual.
Muitos desses fenômenos são encontrados na Língua Portuguesa. São exemplos:
a) Você poderia me ajudar aqui?
b) Pois não, já estou indo.
a) Foi você que comeu meu bolo?
b) Pois sim, sabe que não como bolo!
Quando o interlocutor tem a intenção de responder “sim”, responde “pois não”. Isso não prejudica a
compreensão de quem recebe a resposta, pois convencionalidades sociais e culturais o direcionam ao
entendimento da mensagem. Já ao responder “pois sim”, o emissor tem a intenção de negar. Novamente, a
expressão contrária não impede a correta compreensão da mensagem.
Essa habilidade de inferência, de captar a intenção comunicativa do emissor, é objeto de estudo da
pragmática.
Considere o seguinte exemplo:
a) Ela se separou no ano passado.
b) O controle da TV está aqui. O volume está muito alto.
O receptor pode inferir que ela era casada. Mesmo que essa não tenha sido a mensagem de forma direta, o
receptor faz relações de sentido que o levam a inferir sobre as circunstâncias da mensagem. O mesmo
ocorre com a sentença “b”. Ao receber a mensagem, o receptor pode inferir que o emissor está solicitando
que diminua o volume da TV.
Saiba mais
Para Quadros e Karnopp (2004), a pragmática é o estudo de fenômenos linguísticos que envolve as relações
entre a linguagem e o contexto. Mesmo nos dias atuais, este ainda é um estudo recente no Brasil.
Ferreira-Brito (1995) vem apresentando importantes contribuições sobre os estudos da pragmática na
Libras, com foco nos atos da fala, entendendo fala como a comunicação em língua de sinais. Explica que a
Linguística define “atos de fala” como sendo a análise de um enunciado em relação às intenções
comunicativas de um sinalizante e os efeitos desta intenção comunicativa sob o interlocutor. A
pesquisadora afirma que os atos da fala não têm por objetivo apenas comunicar um significado, mas
também influenciar ativamente seu destinatário. Além disso, atos da fala podem ilustrar a relação entre
intenções, situações e significados e entre as regras de linguagem e regras sociais.
A intenção comunicativa do emissor é que vai determinar o “tom” que vai usar para emitir a mensagem.
Convenções sociais em nossa comunicação compõem formas de emissão que podem comunicar comando,
ordem, pedido ou polidez. Observe o seguinte exemplo:
Estamos com fome. Compre uma pizza para nós.
Essa mesma fala pode ser emitida em tom de pedido ou de ordem. Dependendo do “tom” com que o
emissor se dirige ao receptor, este pode se ressentir pelo que foi dito, não pelo teor da mensagem, mas pela
forma como foi emitida, o “jeito” que a pessoa falou.
Adquirimos a habilidade de identificar a intenção comunicativa do emissor apenas
pela leitura da forma como se dirigiu ao receptor. Se a intenção foi de atingir de
forma negativa seu interlocutor, o “tom” vai revelar tal intenção.
A mesma leitura ocorre quando a intenção do emissor é de se fazer entender com uma emissão mais
polida, mais cautelosa, mais sensível, com o objetivo de se comunicar de modo mais cortês, com mais
civilidade,urbanidade. Alguns recursos linguísticos podem ser utilizados para que essa intenção seja
emitida de forma mais evidente. O emissor pode usar pronomes de tratamento mais corteses, bem como
expressões de gentileza, como “por favor”, “por gentileza”, “obrigada”, “com licença”.
Saiba mais
Em meio à cultura surda, também são convencionadas essas gentilezas, as formas de tratamento amigável.
As demonstrações de interesse e simpatia também são estratégias de polidez. Inclusive, é comum o uso do
sinal “brincadeira” quando fazemos um comentário sem a intenção de ofender. O uso deste faz parte da
cultura linguística em contexto no qual o interlocutor sinalizante quer deixar claro que não está falando
sério.
Ainda em Ferreira-Brito (1995), destacamos algumas variáveis sociais que definem contextos, em que as
relações sociais já dão o “tom” na intenção comunicativa do emissor.
Distância social
Reflete a classe social de cada interlocutor e os bens materiais ou não materiais que
possuem.
Poder
Mostra a relação assimétrica, a hierarquia entre os interlocutores.
Expressões visuais e corporais dão o “tom” da intenção comunicativa do sinalizante. Tanto pessoas surdas
quanto ouvintes, já proficientes e convivendo cotidianamente com a língua, conhecem essas expressões e
identificam a intenção comunicativa do sinalizante. O “jeito” como o sinalizante expressa a mensagem pode
significar diferentes intenções comunicativas.
Se o sinalizante expressa:
a) CHEGOU CEDO!
Escala de Imposição
Envolve o valor do que é pedido ou o tempo gasto.
Intimidade ou Familiaridade
Pode ser definida como a relação familiar existente entre os participantes de uma interação e
não depende das classes sociais a que pertencem.

b) CHEGOU CEDO.
Pode ser com expressão de interjeição ou afirmação. A interjeição pode significar uma intenção
comunicativa de ironia, tentando chamar a atenção do interlocutor devido a um atraso. Na afirmação, o
emissor pode ter a intenção comunicativa de comentar a chegada do seu interlocutor antes do horário
combinado.
O que o interlocutor usuário da fala oral é capaz de expressar por meio do tom da voz, o interlocutor usuário
da fala sinalizada é capaz de expressar por meio do “tom” da língua de sinais. É uma língua que compartilha
dos mesmos fenômenos linguísticos das línguas orais-auditivas. Os estudos semânticos e pragmáticos
revelam o potencial comunicativo desta língua visuo-corpóreo-espacial, que não difere ou limita em nada a
expressão comunicativa, seja de que contexto for.
Produção de sentido em Libras
No vídeo a seguir, você compreenderá a produção de sentido em Libras por meio de explicações e exemplos
sobre campo lexical e semântico, metáforas e expressões idiomáticas, e pragmática. Vamos lá!
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O estudo do significado abrange dois campos: o lexical e o semântico. O campo lexical se faz por meio
de um conjunto de palavras pertencentes a uma mesma ideia, enquanto o campo semântico engloba a
possibilidade de uma palavra assumir um conjunto de significados, algo que podemos consultar em um
dicionário. Dessa forma, assinale a alternativa relacionada com o campo lexical.
Parabéns! A alternativa D está correta.
O léxico “família” compõe um conjunto de palavras que fazem parte de uma mesma ideia, um mesmo
pensamento. Ao ouvir tal léxico, vem à nossa mente palavras relacionadas como: pai, mãe, filhos, avó,
avô, tios e primos.
Questão 2
A pragmática busca explicar fenômenos da linguagem em uso, em seus diferentes contextos, levando
em conta os princípios de comunicação, as inferências de seus interlocutores frente aos estímulos da
expressão comunicativa. Tomando por base esse conceito, assinale a alternativa que apresente uma
reação de inferência por parte do receptor.
A Casa: residência, habitação.
B Pessoa: ser, indivíduo, cidadão.
C Trabalho: ocupação, ofício, labor.
D Família: pai, mãe, filhos, avó, avô, tios, primos.
E Rua: logradouro, via, caminho.
A Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém levanta e fecha a porta.
B Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém olha e se certifica da afirmação.
C
Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém levanta e coloca um peso para
permanecer aberta.
D
Parabéns! A alternativa A está correta.
O estudo da pragmática investiga a habilidade do sujeito da interlocução, na figura do receptor, de
interpretar a intenção comunicativa de seu emissor. No caso da expressão “a porta está aberta”, em um
contexto no qual o receptor está ciente do clima frio e de um vento entrando pela porta, agravando a
sensação de frio, pode entender que há uma sugestão para fechar a porta na tentativa de aumentar a
temperatura do ambiente. Essa inferência é uma habilidade linguístico-cognitiva sofisticada, cujos
processos são objeto de estudo da pragmática.
Considerações �nais
Como vimos, os estudos de conceitos linguísticos de Saussure sobre signo, significante e significado se
aplicam e se explicam tanto em Língua Portuguesa quanto em Libras, o que confere às línguas de sinais o
mesmo status linguístico das línguas orais. Estes estudos introduzem as discussões sobre o significado em
situações comunicativas, que se constituem de diversos fenômenos semânticos refletidos em sinonímia e
antonímia, parônimos, polissemia e homonímia, além dos campos lexical e semântico, sendo
complementados com a análise do discurso e a pragmática em seus atos da fala.
Nos estudos semânticos em língua de sinais, podemos considerar que as expressões linguísticas são
motivadas por nossas experiências visuo-corpórea-espaciais vivenciadas na língua em uso, nos contextos
reais que proporcionam ao sujeito interlocutor os inputs e outputs linguísticos. Essas experiências também
subsidiam os processos de outro fenômeno linguístico: as metáforas. As línguas de sinais são ricas em
metáforas e passam por um processo que a Linguística Cognitiva vem chamar de Mesclagem. Este se
constitui a partir de Espaços Mentais que se relacionam em busca do sentido.
Para finalizar, discutimos sobre os estudos do significado a partir da intenção comunicativa do interlocutor,
a forma como tal significado é recebido e interpretado pelo receptor, e a análise desses processos em nível
neurológico. A mente é capaz de desenvolver habilidades que relacionam diferentes funções cerebrais, em
um trabalho articulado e complexo, que culmina na dominância comunicativa dos interlocutores em receber,
interpretar e subentender. A análise do discurso e os estudos pragmáticos privilegiam o entendimento da
língua de forma holística, em contextos de uso reais, tanto em línguas orais quanto de sinais, atribuindo ao
ato da comunicação, um objeto em movimento, pulsante, que revela a sua complexidade e superioridade.
Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém olha e chora.
E Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém levanta e abre a janela também.
Explore +
Leia os seguintes textos:
Alguns aspectos semânticos da Libras: um estudo do léxico de seus sinais em suas relações de sinonímia,
antonímia, homonímias, homógrafas e polissemia, artigo de Ediane Lima e outros, disponibilizado pela
Associação de Linguística e Filologia da América Latina (ALFAL).
Semântica e pragmática, de Magdiel Aragão Neto, disponibilizado na biblioteca virtual da UFPB.
Semântica da Libras: hiperônimos e hipônimos e o desenvolvimento linguístico da criança surda, de Marcos
de Moraes Santos, dissertação de mestrado disponibilizada pela UFAL.
Assista aos seguintes vídeos:
Níveis da Linguística: Semântica, Pragmática e Discurso, com a pesquisadora Ronice Quadros, disponível
em seu canal no YouTube.
Vídeo Semântica Libras, disponível no canal Letras Libras UFRB.
Referências
BALLARDIN, E.; ZOCCHIO, M. Pequeno dicionário ilustrado de expressões idiomáticas. São Paulo: Schaffer
Editorial, 1999.
BERGEN, B. K.; LINDSAY, S.; MATLOCK, T.; NARAYANAN,S. Spacial and linguistic aspects of visual imagery
in sentence comprehension. In: Cognitive Science, 31, 2007.
DUQUE, P. H. Simulação semântica e compreensão de textos. In: Cadernos do CNLF, vol. XVI, N. 03. Livro do
Minicurso e Oficinas. 2012.
FAUCONNIER, G.; TURNER, M. Conceptual integration networks. Cognitive Science Society, 1998.
FERRARI, L. Introdução à linguística cognitiva. São Paulo: Contexto, 2014.
FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro, 1995.
GALLARDO, C. P. Área de Broca e Wernicke: função e diferenças. In: Psicologia online, 23 nov. 2020.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas de la vida cotidiana. Chicago: University of Chicago Press. Cátedra,
2015.
QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre, 2004.
RIBEIRO, V. P. A Linguística Cognitiva e construções corpóreas nas narrativas infantis em Libras: uma
proposta com foco na formação de TILS. Tese de Doutorado. UFSC, Florianópolis, 2016.
RIBEIRO, V. P. Linguística Cognitiva e língua de sinais: por uma tradução visuo-corpórea-espacial. In: Revista
Espaço. Rio de Janeiro, 2021.
ROCHA, F. T. Libras: um estudo eletroencefalográfico de sua funcionalidade cerebral. ENSCER, Mogi das
Cruzes/SP, 2012.
ROURKE, N. Telas da artista Nancy Rourke: força e intensidade das cores em movimentos de resistência,
afirmação e libertação. In: Revista Espaço, INES, Rio de Janeiro, n. 52, jul-dez 2019.
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