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O campo de estudo da semântica Profª. Veridiane Pinto Ribeiro Descrição O estudo do significado na comunicação em Libras, a partir de aspectos semânticos e pragmáticos. Propósito Compreender os aspectos semânticos e pragmáticos na Libras para trabalhá-los nas relações de significado nos processos linguístico-cognitivos. Objetivos Módulo 1 Objeto de estudo e conceitos básicos da Semântica Identificar o objeto de estudo e conceitos básicos do campo da Semântica da Libras. Módulo 2 Fenômenos semânticos Classificar os fenômenos semânticos na Libras. Módulo 3 Produção do sentido nas línguas naturais Identificar a produção de sentidos nas línguas naturais. Neste conteúdo, vamos estudar as relações entre signo, significante e significado, e as implicações de sua identificação nos processos linguístico-cognitivos da Libras, seja como primeira ou segunda língua. Também entenderemos os fenômenos semânticos que ocorrem nos estudos em que os léxicos passam por processos que envolvem sinonímia e antonímia, parônimos, polissemia e homonímia, além dos campos lexical e semântico. Estudaremos como analogias de fenômenos linguísticos entre as línguas orais-auditivas e as línguas visuo-corpóreo-espaciais mostram o potencial semântico em ambas as línguas. Na produção do sentido nas línguas naturais, entenderemos o quanto a análise do discurso e a pragmática, em seus atos da fala, podem ajudar os usuários da língua a interpretar diferentes contextos e a produzir língua de forma coerente conforme sua intenção comunicativa na Libras. Introdução 1 - Objeto de estudo e conceitos básicos da Semântica Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o objeto de estudo e conceitos básicos do campo da Semântica da Libras. Retomando os conceitos de signo, signi�cante, signi�cado e semântica Para falarmos de estudos semânticos, é preciso retomar alguns conceitos. Você deve se lembrar de que os estudos linguísticos foram marcados pelo início do século XX, quando o linguista Ferdinand de Saussure, em histórica contribuição, empoderou os estudos desta área com análises descritivas. Desde então, a linguística passou a receber status de ciência e o estruturalismo ganhou força em meio à comunidade científica da época. Saussure defendia que o objeto de estudo da Linguística é o signo linguístico. No signo linguístico, temos associados um conceito (significado) e uma imagem acústica ou mesmo ótica (significante). Significado e significante são entidades abstratas ou entidades mentais. Saussure se debruçou sobre as particularidades do signo linguístico e o complementou, revelando que, em sua essência, além de significante e significado, temos, coexistindo, mais dois conceitos: arbitrariedade e linearidade. Arbitrariedade O signo é arbitrário = cultural Sem motivação Som ≠ Sentido Linearidade Sucessão temporal ou espacial Um som depois do outro Uma palavra depois da outra Esses conceitos podem ajudar a compreender os processos construtivos da língua. Vamos ilustrar e exemplificar de forma mais concreta os conceitos de arbitrariedade e linearidade: Em português = CASA Em inglês = HOUSE Em português = GATO Em inglês = CAT A arbitrariedade não apresenta motivação para a existência deste ou daquele signo linguístico. A forma não tem relação com o significado. Cada língua vai adotar um signo linguístico que não necessariamente tem relação entre o som e o significado. Porém, o signo é social, é uma construção social, um significado social. A arbitrariedade não atribui ao individual a livre escolha. Saussure nos alerta que este fenômeno ocorre nas relações sociais. O linguista, entretanto, distingue o que vem a ser absolutamente arbitrário e relativamente arbitrário. Nos exemplos apresentados, “casa” e “gato”, pode-se considerar que temos signos absolutamente arbitrários, pois não há motivação entre signo, significante e significado. Já para alguns signos como “Parabrisa”, temos uma arbitrariedade relativa, pois a função do vidro frontal do carro é bloquear vento e chuva, ou seja, “parar a brisa”, gerando “para+brisa”, desta forma o signo foi criado a partir de uma motivação, na intenção de criar um nome que representasse a função do objeto. Porém, ao separarmos as palavras “para” e “brisa”, estas voltam a sua origem arbitrária. Em linguagens simbólicas, tal fenômeno de arbitrariedade absoluta não se aplica. Essa é uma linguagem simbólica. Ao visualizarmos a imagem apresentada, conhecemos seu significado: “veneno” ou “perigo”. A motivação para a criação de tal símbolo é a relação com a morte, caracterizada pela imagem da caveira. Trata-se de uma linguagem cujo símbolo que retrata não parte de uma arbitrariedade, mas de uma motivação, de um significado. A mesma coisa pode ocorrer numa comunicação mais semiótica expressa nas artes visuais, na música, no cinema ou nas fotografias. Na linearidade, Saussure nos apresenta a necessária sucessão temporal ou espacial dos signos, fazendo com que sua disposição obedeça a uma ordem, na qual um vem logo depois do outro, tornando impossíveis construções de sons ou palavras num mesmo espaço e tempo, quando expressas por um mesmo sujeito. m – e – n – i – n – o Uma criança do sexo masculino não pode ser chamada de “nimeno” na língua portuguesa, há uma ordem a ser seguida para alinhar os sons dessa palavra. O menino subiu na árvore Também não é possível uma construção: “árvore na menino o subiu”. Há uma ordem linear já definida em nossa língua para garantir o entendimento da sentença. A seguir, temos um fluxograma do que vimos discutindo até aqui, onde o signo “bola” se apresenta em significante, significado, arbitrariedade e linearidade. Fluxograma: Signo, significante e significado nas línguas orais Signi�cado e signi�cante nas línguas de sinais As contribuições de Saussure também são frutíferas nos estudos das línguas de sinais. O signo “carro” apresenta os mesmos significante e significado em sua composição, contudo, os fenômenos linguísticos de arbitrariedade e linearidade, não podem ser atribuídos como fenômenos comuns em línguas visuo-corpóreo- espaciais. Fluxograma: Signo, significante e significado na Libras Fazendo uma analogia com as línguas de sinais, você pode observar o seguinte: O significado não é “carro” (o objeto físico), mas a representação mental que o sinalizante tem de tal objeto, representação influenciada por suas experiências. O significante desse signo é a visualização do sinal de “carro”, essa convencionalidade gestual que representa o signo. A representação mental que o sinalizante tem do sinal o ajuda a reconhecer o signo “carro”, quando expresso, e a saber como deve ser expresso. A língua é um sistema de signos que abriga uma relação simbólica entre significante e significado, sendo, portanto, simbólica. Diante do exposto até aqui, podemos inferir: Signo Significante Significado Significado união de “sons” e “ideias” Língua escrita união de “letras” e “ideias” Língua de sinais união de “sinais” e “ideias” Quadro: Analogia semasiológica entre as línguas. Elaborada por: Veridiane Pinto Ribeiro Os estudos de Saussure são importantes para tomarmos como parâmetros de análise da relação entre as construções visuo-corpóreo-espaciais e as construções da língua escrita e falada. Arbitrariedade nas línguas de sinais Em relação à arbitrariedade, as línguas de sinais também apresentam diferenças em relação às línguas orais. Voltemos ao exemplo “a” apresentado anteriormente. O sinal “menino” é motivado por experiências visuo-corpóreas. O sinal compõe-se por “homem + baixo”, um sinal que tem como significado o fato de o sujeito “menino” ser do sexo masculino e ter uma estatura baixa, de acordo com sua faixa etária. Lembre-se dos estudos da iconicidade dos sinais, definidos como aqueles que apresentam a forma do seu significado. Alguns exemplos clássicos são: cigarro, bicicleta, árvore... Entretanto, estudos que tratam da motivação para a convencionalidade dos sinaisnão se restringem ao conceito de iconicidade, pois a motivação se justifica por diferentes processos significativos nas expressões linguísticas sinalizadas. Ribeiro (2016) defende o que chama de Iconicidade de Motivação Corporificada, na qual a convencionalidade do sinal está ancorada nas experiências corporificadas de seus usuários, propondo três categorias: Motivação Espacial, Motivação Sensitiva e Motivação de Medida. A motivação não ocorre apenas na percepção visual, mas em todo o esquema corporal, em todas as habilidades do esquema corporal, em que não há dissociabilidade entre forma e significado. Veja a seguir: Motivação Espacial Baseia-se na tendência de que estes sinais sejam produzidos numa coerência espacial em relação ao nosso corpo. Nas experiências corporificadas, tudo que está no alto, para cima, nos remete ao espaço elevado, o sucesso, o êxito, o alto astral. Tudo isso tem significado coerente quando expresso em postura altiva. Por isso, sinais como “feliz” e “tudo-bem” apresentam marcas não manuais e movimentos com sentido para o alto, incluindo expressão corporal inflando o peito, cabeça erguida, dando ao sinal um sentido de elevação. No caso de sinais como “triste”, “chorar” e “cansado”, a tendência é o corpo buscar um espaço inclinado para baixo, num estado de baixo astral, motivando a produção de sinais que se compõem por expressão corporal cabisbaixa, movimento na direção de cima para baixo, inclinando os ombros para baixo, além da expressão facial de tristeza. Motivação Sensitiva Baseada nas experiências corporificadas que produzem uma memória aos sentidos, nas quais o toque, o paladar, a visão e o olfato configuram-se em significado e são expressos nas construções sinalizadas. Sinais como “abraçar”, “encontrar”, “pisar”, “azedo”, “perfumado” e “noite” são sensitivos à medida que são motivados pela sensibilidade do corpo em perceber as sensações. Motivação de Medida Usa as experiências corporificadas e o próprio corpo para definir as medidas, os tamanhos. É significativo para o sinalizante definir as medidas em relação ao seu próprio corpo. O sinalizante produz o sinal de “pequeno” em relação ao seu próprio corpo, podendo ser expresso pela aproximação dos dedos indicador e polegar de uma mão, ou a aproximação dos indicadores de cada uma das mãos, variando a expressão conforme a intenção comunicativa do sinalizante. Quando a intenção comunicativa é expressão da ideia de soma, o sinal de “somar” remete à ideia de junção, já que todos os dedos (unidades) se encontram comprimidas em uma única unidade, levando a ideia de soma. Mais uma vez, o corpo e suas experiências tornam-se referência para o sentido do sinal. Linearidade nas línguas de sinais Está na hora de falarmos de linearidade. Para isso, observe a sentença “o menino subiu na árvore” em Libras. Vamos lá! Esta construção mostra uma peculiaridade das línguas de sinais: a possibilidade de produzir sentenças em que os sintagmas são expressos ao mesmo tempo e no mesmo espaço. Ao sinalizar “árvore”, a posiciona no espaço de sinalização onde a ação do sujeito se realizará. Ao lado, sinaliza “menino” e, em seguida, o classificador do menino subindo no tronco da árvore até chegar ao topo. Tanto a ordem da sentença quanto a sucessão dos signos não se dão de forma linear, é uma organização imagética, coerente com a organização de uma língua visuo-corpóreo-espacial. Porém, não se pode dizer que a língua de sinais não apresenta linearidade em suas construções, pois os sinais possuem parâmetros definidos a partir de uma convencionalidade de seus usuários. O sinal “menino” compõe-se dos sinais “homem^baixo”, nesta sequência, e cada um desses sinais com configuração de mão, ponto de articulação, orientação de mão, movimento e expressão previamente convencionalizados. O que já sabemos e o que precisamos saber? Sabemos que a área da Linguística que estuda o significante é a Fonologia. Já compreendemos as relações que o significado exerce em tais estudos, mas o foco deste módulo é o significado. O diálogo até este ponto foi no intuito de retomar alguns conceitos básicos, envolvendo os estudos do significado, para que pudéssemos chegar às áreas da Linguística que o estudam. Estamos falando da Semântica e da Pragmática. Tais estudos permeiam os conceitos que construímos em nossas mentes nos níveis do signo linguístico, presente em uma palavra, sentença ou texto. Como usuários da língua, adquirimos domínios de usos linguísticos nos quais arranjos conceituais passam a fazer parte do nosso cotidiano: Pre�ro ter muito trabalho a estar desempregado. Pre�ro ter muita labuta a estar desempregado. Os signos “trabalho” e “labuta” são sinônimos, ou seja, têm o mesmo significado. Adquirimos esta habilidade à medida que nos tornamos proficientes. Conceito e conceptualização alimentam nossa capacidade de compreender as mensagens e produzir novos significados. Observe a imagem a seguir: O que vemos, de forma literal, são as imagens de dois signos: lâmpada e muda de planta. Com base nas experiências corporificadas em nosso meio social, a lâmpada tem uma representação, dependendo do contexto em que se insere, quando queremos simbolizar o surgimento de uma boa ideia, na qual a mente se acende para encontrar uma solução. A muda de planta, por sua vez, remete ao meio ambiente, à natureza, à preservação do ecossistema, à continuação de uma espécie. São significados produzindo novos significados. Signo Significante Significado Engloba os planos “lâmpada” e “muda de planta”. Lâmpada com a muda de uma planta em seu interior. Pode levar ao entendimento de que a preservação do meio ambiente é uma boa ideia. Quadro: Signo, significante e significado em uma imagem. Elaborado por: Veridiane Pinto Ribeiro. Vivemos experiências corporificadas no meio social que nos levam a construir um vocabulário imbuído de significantes. Dependendo do que nos apresente o contexto, somos capazes de compreender as mensagens ou de fazer relações de significado coerentes com as construções dos significantes, gerando novos significados. A Linguística Cognitiva A Linguística Cognitiva é uma perspectiva que acolhe uma série de linhas teóricas, as quais chamamos “módulos cognitivos”, cujos pressupostos se sustentam na indissociabilidade entre forma e significado na construção da linguagem, tanto em línguas orais quanto em línguas visuo-corpóreo-espaciais, como a língua de sinais. Uma das teorias da Linguística Cognitiva, postulada por Fauconnier e Turner (1998), defende a ressignificação, a habilidade de construir novos significados a partir de significados já existentes. Trata-se de um processo de mesclagem, de integração conceptual. São domínios estáveis, ou seja, domínios conceptuais consolidados na mente a tal ponto que podem ser transitórios, permitindo ao usuário a construção de novos significados baseados em relações coerentes de sentidos. As metáforas são um caso clássico de mesclagem ou integração conceptual, pois a habilidade cognitiva de relacionar conceitos diferentes constrói um novo significado. É uma habilidade cognitiva, perceptiva e corporificada, da qual o sinalizante se vale para dar sentido às suas expressões linguísticas. A metáfora “luz no fim do túnel” signifiga esperança. Nas línguas de sinais, as experiências corporificadas norteiam processos de inputs e outputs linguísticos, experiências envolvendo atenção, percepção e memória, que constroem habilidades linguísticas que subsidiam nossas relações comunicativas. Numa perspectiva corporificada, não se admite que construções sintáticas se façam apenas a partir de regras gramaticais. A expressão da língua se dá em correspondentes simbólicos (palavras ou sinais) que se ajustam em relações de significado. Na mente do falante, a construção sintática se dá, principalmente, a partir de intenções comunicativas com significado. A Linguística Cognitiva defende que as unidades simbólicas, os sintagmas que compõem a sentença, são relacionadasnas mentes de seus usuários conforme sua intenção comunicativa, objetivando expressar um sentido, de modo que o foco do usuário não está em fazer relações estabelecidas em regras gramaticais. O usuário, ao expressar “Eu como banana”, não se concentra no foco da ordem da sentença, mas na sua intenção comunicativa, no que deseja comunicar, tanto que pode dizer “Banana? Como.”; “Como banana eu”; “Eu como banana, eu”. Na Libras, considerando se tratar de uma língua imagética, que se constrói no espaço de sinalização a partir de experiências visuo-corpóreo-espaciais, o usuário, primeiramente, sinaliza “banana”, em seguida, “eu”, e finaliza com “comer”, ou, diretamente, “banana comer”. Esta ordem básica sujeito-verbo-objeto (SVO) nem sempre aparece na Libras. A ordem dos signos no espaço de sinalização parte de uma lógica imagética, ou seja, ao sinalizar, primeiramente, “banana”, o sujeito visualiza, em primeiro lugar, o objeto que receberá a ação, pois o foco da intenção comunicativa é dizer o que ele come. Dessa forma, o verbo, a ação vem depois do objeto. Tal construção é muito comum na Libras. Isto porque as construções imagéticas, baseadas em experiências corporificadas de uma língua visuo-corpóreo-espacial, são construções de significado, não se restringindo a regras gramaticais. Trata-se de uma unidade indivisível e não em termos de elementos distintos, assim como, geralmente, é feito em modelos composicionais, mas em componentes que se “procuram”, com o objetivo de atribuir significado à mensagem. O contexto e o sujeito corpóreo são o centro da composição da mensagem. Saiba mais Quando se trata de léxico, morfologia e sintaxe, o que temos é um continuum de unidades simbólicas que servem para estruturar todo um conteúdo semântico no momento da fala, uma afirmação que defende as relações inerentes entre gramática e significado. A Gramática de Construções Corpori�cadas (GCC) Os precursores da Gramática de Construções Corporificadas (GCC) são os estudiosos Benjamin Bergen e Nancy Chang. Neste modelo, a perspectiva da Linguística Cognitiva se dá por construções em uma variedade de outros modelos cognitivos que representam a gramática das línguas. Ribeiro (2021) destaca a motivação que embasa este estudo: a corporificação nos processos linguísticos. Explica que tal perspectiva teórica estuda a construção sintática motivada por experiências perceptivas corporificadas no espaço social, algo que justifica uma análise linguística com base na língua em uso. A GCC leva à percepção de que as pessoas usam a gramática significativamente e funcionalmente. Uma gramática que evoca habilidades psicológicas gerais, como memória, atenção, percepção, além de processos como categorização, abstração, mapeamento, projeção e integração conceitual. Um processamento ocorre de forma rotineira e, principalmente, inconsciente. Os pesquisados Bergen, Lindsay, Matlock e Narayanan, em publicação no ano de 2007, descrevem como se dá a ativação do que chamaram de Simulação Mental. Os estudiosos fornecem evidências de que o processamento da linguagem se vale de imagens perceptivas específicas, tanto locais quanto descritivas, bem como de entidades e seus atributos para simular significados no ato de comunicação. Fluxograma: Processo tradutório cognitivo-corporificado Esse diagrama, proposto por Ribeiro (2021), foi produzido com base nos princípios dos processos de tradução e interpretação defendidos pela Gramática de Construções Visuo-Corporificadas defendidas em sua tese, em 2016. A pesquisadora explica que o diagrama objetiva demonstrar como o processo tradutório cognitivo- corporificado comporta-se frente aos estímulos intralingual, interlingual e intersemiótico. A simulação mental é alimentada por processos semânticos, por experiências que possuam relações de significado no entorno da comunicação. A mente corpórea aciona diferentes domínios cognitivo-linguísticos em direção à Simulação Mental. Tais domínios são “gavetinhas” na mente do interlocutor, evocadas à medida que são recebidos estímulos comunicativos. Essas “gavetinhas” organizam e armazenam módulos cognitivos capazes de produzir significados inter-intralingual e intersemiótico. Veja a seguir: Enciclopédia mental Vocabulários e categorias linguísticas armazenadas e organizadas cognitivamente. Imagética Expressão linguística usando o corpo como representação de significados visuais. Domínios locais Espaços mentais operadores do processamento cognitivo. Domínios estáveis Estrutura de memória pessoal ou social, envolvendo esquemas e frames. Frames Contextos conversacionais, situações, cenas do cotidiano, da língua em uso. Domínios semânticos O uso e adequação dos significados estão sujeitos à situação comunicativa. Forma e signi�cado A construção linguística não se dá dissociada do significado. Essa perspectiva teórica defende que se tratam de domínios interligados e interdependentes, não sendo uma relação cartesiana, mas holística. Um processo ativado na língua em uso, em contextos comunicativos, nos quais a mente realiza um processo complexo de semioses e relações semânticas. A partir dessas relações, o interlocutor é capaz de formular sua intenção comunicativa, construir as sentenças e expressá- las, um processo de simulação que antecede a expressão. Trata-se de uma habilidade cognitiva que construirá um ser pensante, capaz de fazer previsões, de raciocinar sobre suas atividades linguísticas, organizando-as com coesão e coerência, conceito e conceptualização. Conceitos da Semântica Acompanhe agora os conceitos básicos da Semântica e seus desdobramentos na Libras. Vamos lá! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os postulados de Saussure nos deixaram um legado para os estudos da Linguística que se tornaram conceitos básicos e imprescindíveis. Saussure tomou o signo linguístico, afirmando que este se constitui de significante e significado, além de arbitrariedade e linearidade. Dessa forma, o signo “cachorro” tem seu significante, significado, arbitrariedade e linearidade, respectivamente, na seguinte alternativa: A Parabéns! A alternativa E está correta. O signo linguístico é uma associação de uma imagem acústica, chamada significante, e o seu significado. A arbitrariedade não tem motivação, não existe ralação entre som e sentido. A linearidade é sucessão temporal ou espacial, numa organização na qual um som vem depois do outro e uma palavra vem depois da outra. Questão 2 Neste módulo, pudemos conhecer os estudos de Ribeiro (2016), que conceitua a Iconicidade de Motivação Corporificada, propondo três categorias: Motivação Espacial, Sensitiva e de Medida. Com base em suas leituras sobre tal conceito, os signos a seguir classificam-se nessas categorias como: Parabéns! A alternativa A está correta. – CACHORRO – “CACHORRO” – C-A-C-H-O-R-R-O B CACHORRO – “CACHORRO” – C-A-C-H-O-R-R-O – C C-A-C-H-O-R-R-O – – CACHORRO – “CACHORRO” D – “CACHORRO” – CACHORRO – C-A-C-H-O-R-R-O E “CACHORRO” – – CACHORRO – C-A-C-H-O-R-R-O A Espacial (CANSADO), Sensitiva (AMARGO), Medida (GIGANTE) B Espacial (AMARGO), Sensitiva (CANSADO), Medida (GIGANTE) C Espacial (ANÃO), Sensitiva (AMARGO), Medida (GIGANTE) D Espacial (CANSADO), Sensitiva (ALTO), Medida (GIGANTE) E Espacial (ESCURO), Sensitiva (AMARGO), Medida (GIGANTE) A motivação Espacial tende a produzir sinais numa coerência espacial em relação ao nosso corpo, levando-o a se mover na direção que tem relação com o significado do sinal (para cima, para baixo, para a direita, para a esquerda); a motivação Sensitiva às experiências corporificadas produz uma memória aos sentidos, na qual o toque, o paladar, a visão, o olfato configuram-se em significado; a motivação de Medida é marcada por experiências corporificadas e o próprio corpo para definir as medidas, os tamanhos. 2 - Fenômenos semânticos Ao �nal deste módulo, você será capaz de classi�car os fenômenos semânticos na Libras.Os estudos semânticos na Libras A linguística da Libras vem sendo estudada por ilustres linguistas brasileiros, provocando avanços e olhares atentos às peculiaridades desta língua. Há vários pesquisadores que são referências para estes estudos que abordam desde as classes de sinais, como verbos, pronomes e advérbios, até sua organização na sintaxe e análise do discurso. Sem dúvida, os estudos semânticos fazem parte deste escopo. Os estudos semânticos norteiam as relações de significado entre signos, expressões e contextos. Para compreendermos essas relações de significado, vale uma rápida retomada sobre a organização básica das sentenças nas línguas de sinais. Destacamos, inicialmente, os estudos de Quadros e Karnopp (2004) a respeito da ordem básica para a composição de uma sentença em língua de sinais: SVO (sujeito-verbo-objeto), podendo sofrer variações conforme a situação e intenção comunicativas (SOV ou VSO), além de seus possíveis complementos. Sujeito-Objeto-Verbo-Advérbio (topicalização) EU AULA TER AGORA Para que haja concordância sintática nas línguas de sinais, Quadros e Karnopp (2004) pontuam os seguintes elementos constituintes das sentenças: 1. sinais de um local particular, direcionar a cabeça e os olhos; 2. direção da cabeça e dos olhos (e talvez o corpo); 3. apontação ostensiva antes do sinal de um referente específico; 4. pronome; 5. classificador; 6. verbo direcional ou de concordância; 7. topicalização; 8. marcas não manuais. Comentário Não vamos retomar todos os elementos publicados nesta obra, apenas aqueles fundamentais à compreensão dos estudos da semântica. A intenção comunicativa do sinalizante determina a organização das sentenças que recebe influências das peculiaridades imagéticas e corporificadas das línguas de sinais. Os exemplos retirados da obra de Quadros e Karnopp (2004) mostram elementos aspectuais na construção sintática em línguas de sinais, em relação à localização dos referentes no espaço de sinalização, verbos direcionais e marcas não manuais. Uso de sinais de um local particular, direcionar a cabeça e os olhos para estes sinais: CASA (do Pedro) A casa de Pedro. CASA (do João) A casa de João. Usar a direção da cabeça e dos olhos (e talvez o corpo): CASA IX (casa) A casa X “Quando não for possível identificar o referente contextualmente, será usado IX para indicar a apontação [...]” (QUADROS; KARNOPP, 2004). Usar a apontação ostensiva antes do sinal de um referente especí�co: Casa IX CASA Usar um pronome: IX(casa) NOVA A casa nova. (aquela) Usar classi�cador: CARRO CL (carro passou um pelo outro) Os carros passaram um pelo outro. L “Algumas configurações de mão são utilizadas de forma padrão para identificar os classificadores que referem sinais que podem incluir outras informações” (QUADROS; KARNOPP, 2004). Usar um verbo direcional ou de concordância: (eu) IR (casa) Eu vou para casa. Usar classi�cador: (el@) <aOLHARb> do (el@) Ela olha para ele. (el@) <aAJUDARb>do (el@) Ele a ajuda. (el@) <aENTREGARb>do (el@)Ela entrega para ele. l@ Igual a ele ou ela. aOLHARb> “Quaisquer letras minúsculas associadas aos sinais transcritos indicam as pessoas do discurso marcadas através da incorporação no sinal” (QUADROS; KARNOPP, 2004). Marcas não manuais: Marcação de negação Marcação de interrogação Utilizar o espaço, os movimentos do corpo, a direção do olhar, as diferentes formas da mão, sejam em sinais ou classificadores, está relacionado com articulações carregadas de sentido, condicionadas às relações de significado produzidas pelo sinalizante. Vale destacar as expressões não manuais que têm função sintática e marcam sentenças interrogativas, orações relativas, topicalizações, concordância e foco. As expressões não manuais que constituem componentes lexicais marcam referência específica, referência pronominal, partícula negativa, advérbio, grau ou aspecto, as quais são encontradas no rosto, na cabeça e no tronco. Sem a articulação coerente desses elementos aspectuais das línguas de sinais, o sentido fica comprometido e, consequentemente, a emissão e recepção por parte de seus interlocutores. Nestes estudos semânticos, outros elementos se ajustam para expressar as ideias, muitos deles diretamente ligados aos estudos semânticos de palavras e enunciados. Os níveis lexical e da sentença nos estudos semânticos na Libras Assim como nas línguas orais-auditivas, a Libras apresenta dois níveis nos estudos da semântica: lexical e da sentença. Fluxograma: Campos semânticos Semântica Lexical Vejamos as diferentes situações relacionadas com a semântica lexical, ou seja, os casos de antonímia, sinonímia, polissemia ou homonímia, e paronímia. ANTONÍMIA Refere-se a sinais que apresentam significados opostos, também chamados de antônimos. Veja os exemplos a seguir: ALT@ - BAIX@ GRAND@ - PEQUEN@ SINONÍMIA Refere-se a sinais diferentes que apresentam o mesmo significado, também chamados de sinônimos. Veja os exemplos a seguir: FELIZ – existem diferentes sinais que expressam este mesmo signi�cado. POBRE – existem diferentes sinais que expressam este mesmo signi�cado. POLISSEMIA/HOMONÍMIA Na polissemia, é possível usar os mesmos signos, em contextos diferentes, o que pode levar à mudança de sentido destes signos. Para identificarmos o sentido que está na intenção comunicativa do emissor, precisamos atentar ao contexto. No caso da homonímia, dois ou mais signos têm a mesma estrutura fonológica ou, no caso dos sinais, estrutura nos parâmetros, porém, em contextos diferentes, têm significados diferentes. Você pode se questionar: qual é a diferença entre essas duas semânticas lexicais? Na verdade, os estudiosos não são unânimes em defender e comprovar uma diferença bem fundamentada. Há muitos linguistas que defendem a igualdade de conceito e função para polissemia e homonímia. Veja os exemplos a seguir: SÁBADO / LARANJA / ALARANJADO OCUPAD@ / PROIBID@ / NÃO-PODER AÇÚCAR / DOCE / GUARDANAPO VIDA / EXISTIR / PRESENTE PARONÍMIA Os parônimos se referem aos sinais semelhantes na execução dos parâmetros com sentidos diferentes. AMANHà e FÁCIL VENDER e ABANDONAR EMPREGADA e FOME Semântica no nível da sentença Vejamos agora o nível da sentença nos estudos semânticos de Libras. Primeiro, vamos olhar o âmbito da estrutura e, depois, a questão da ambiguidade. Estrutura No nível das sentenças, estudamos o significado da estrutura que pode expressar sentidos sinônimos ou antônimos. Sinônimos P-E-D-R-O FELIZ SEMPRE. P-E-D-R-O NUNCA TRISTE. ELA DOCE COMPRAR. ELA BOMBO@ BAL@ COMPRAR. Podemos usar termos diferentes e formas diferentes de expressar o mesmo sentido, não apenas usando palavras sinônimas, mas produzindo sentenças sinônimas. ANTÔNIMOS: EUTER CHAPÉU BONIT@. EU TER CHAPÉU FEI@. INTELIGENTE VOCÊ. BURRO VOCÊ. Ambiguidade Na Língua Portuguesa, existem muitas expressões que são ambíguas, ou seja, é possível termos dois sentidos em uma mesma sentença, o que costumamos chamar de “duplo sentido”. Fábio contou a Paulo que sua mulher saiu do emprego. Da forma como a sentença está estruturada não é possível saber se quem saiu do emprego foi a mulher de Fábio ou a de Paulo. Em Libras, existem marcadores e referentes dêiticos no espaço de sinalização que direcionam o olhar do interlocutor para a real intenção comunicativa de seu emissor. F-A-B-I-O (apontar localização de Fábio) CONTAR (verbo direcional na direção de Fábio para Paulo) P-A-U-L-O MULHER DELE (sinal na direção de Fábio) EMPREGO ABANDONAR. Fábio contou a Paulo que sua mulher (de Fábio) saiu do emprego. Em Libras, o uso do pronome possessivo “DELE” direciona a informação eliminando qualquer vestígio de ambiguidade, pois o emissor aponta ao receptor a mulher de quem saiu do emprego. O uso de dêiticos (apontamentos) e dos pronomes possessivos (seu, sua, dele, dela) determina e localiza os referentes no espaço de sinalização e são comuns nas construções sintáticas da Libras,algo que contribui para a compreensão dos significados. Semântica lexical e semântica da sentença Acompanhe a seguir os conceitos da semântica lexical e da sentença por meio de explicações e exemplos. Vamos lá! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os estudos da área da semântica englobam dois níveis semânticos: lexical e da sentença. Na semântica lexical, temos os estudos da antonímia, sinonímia, parônimos e polissemia ou homonímia. Na língua de sinais, tais estudos são frutíferos e já há muitas pesquisas e publicações abordando essas questões. Dessa forma, considerando os léxicos “fevereiro-envergonhado”; “alegre”; “Goiás-geografia”; “lembrar-esquecer”, temos: Parabéns! A alternativa B está correta. “fevereiro-envergonhado” são parônimos, pois se referem aos sinais semelhantes na execução dos parâmetros com sentidos diferentes; “alegre” é uma sinonímia, pois se refere a sinais diferentes que apresentam o mesmo significado; “Goiás-geografia” são homonímia/polissemia, pois os mesmos signos podem ter diferentes significados quando em contextos diferentes; “lembrar-esquecer”, são antonímia, pois se referem a sinais que apresentam significados opostos. Questão 2 Uma expressão que pode ter um duplo sentido é chamada de ambiguidade. Estudiosos da área da linguística referente às línguas de sinais afirmam que este fenômeno não se identifica em línguas visuo- corpóreo-espaciais. Como essa afirmação se justifica? A Homonímia/polissemia; antonímia; sinonímia, parônimos. B Parônimos; sinonímia; homonímia/polissemia; antonímia. C Antonímia; sinonímia; homonímia/polissemia; parônimos. D Sinonímia; parônimos; homonímia/polissemia; antonímia. E Antonímia; homonímia/polissemia; sinonímia; parônimos. A Se justifica pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem verbos direcionais nas sentenças. B Justifica-se pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem a direção do olhar do emissor para o receptor em sentenças com movimento de interlocutores. C Se justifica pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem marcadores e referentes dêiticos no espaço de sinalização. Parabéns! A alternativa C está correta. Sentenças não podem ser ambíguas nas línguas visuo-corpóreo-espaciais, pelo fato de se construírem no espaço de sinalização no qual marcadores e referentes dêiticos direcionam o olhar do interlocutor para a real intenção comunicativa de seu emissor. 3 - Produção do sentido nas línguas naturais Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a produção de sentidos nas línguas naturais. Os campos lexical e semântico na análise do discurso D Se justifica pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem marcadores em marcas não manuais. E Se justifica pelo fato de línguas visuo-corpóreo-espaciais usarem sentenças na estrutura SVO. O campo de estudo do significado engloba outros campos da área da Linguística cuja compreensão se faz pertinente para constituir uma visão holística dos processamentos da linguagem, são os campos lexical e semântico. Saiba mais sobre eles a seguir: Campo lexical Quando estudamos significado, o campo lexical está atrelado às relações de sentido que nossa mente constrói à medida que se alimenta de informações no meio social. O campo lexical é composto por um conjunto de palavras pertencentes a uma mesma ideia, um pensamento, uma noção. Ao mergulharmos em determinado contexto que compartilha léxicos que se relacionam, o domínio do conhecimento destes favorece a interpretação e compreensão da comunicação que possa transitar ao longo do diálogo. Exemplo: Se o assunto está baseado no léxico “culinária”, podem ser arrolados no diálogo instrumentos de cozinha, ingredientes, técnicas e profissionais envolvidos. Léxicos como: fogão, panela, forma, frigideira, colher, sal, açúcar, mexer, bater, chef, cozinheiro e muitos outros estão armazenados em nossa mente em uma organização evocada a partir de estímulos comunicativos no ambiente. Campo semântico No campo semântico, por sua vez, uma palavra pode assumir um conjunto de significados, algo que podemos consultar, por exemplo, em um dicionário. Exemplo: Se buscamos o significado de um verbete como carro, temos: veículo que se locomove sobre rodas para transportar pessoas, automóvel. A análise do discurso Para fazermos a análise do discurso, é fundamental o domínio dos campos lexical e semântico. A análise do discurso provoca o sujeito da comunicação, extraindo os conhecimentos que o habilitem a realizar uma análise contextual da estrutura discursiva em questão, diretamente determinadas pelo contexto político- social em que vive o seu interlocutor. Na análise do discurso, identificamos o que diz um texto, como diz e por que diz. É o campo da língua atrelado ao campo da sociedade em seus processos históricos e ideológicos. Esses processos ideológicos tratam da visão de mundo de determinada classe, a maneira como ela representa a ordem social. Levando em conta que, nas línguas orais, há uma defesa de que não existe relação entre as representações e a língua, então, a linguagem é determinada pela ideologia, por características sociais. É a partir da análise de todos os aspectos do discurso que se chega ao sentido. E perceba que o sentido não é estático, ele é volátil e se ajusta às situações comunicativas e às intenções comunicativas. Localização neurológica do processamento da linguagem Fábio Theoto Rocha, pesquisador da área de neurofisiologia da linguagem, tem uma respeitosa contribuição aos estudos dos processos neurológicos para aquisição, processamento e expressão linguísticos. Uma de suas publicações tem foco na língua brasileira de sinais, sob o título de Libras: um estudo eletroencefalográfico de sua funcionalidade cerebral (2012), disponibilizada no portal ENSCER. Sua pesquisa concluiu que as áreas do cérebro Broca e Wernicke definem as ações e os objetos também na língua de sinais, por meio de gestos motores, fazendo uma analogia com a língua falada. Essas áreas definem a semântica e a sintaxe do verbo, bem como a semântica de seus complementos, não sendo diferente na língua de sinais, ou seja, a partir de estímulos diferentes, considerando que a língua de sinais recebe os visuais, tanto a Língua Portuguesa quanto a Libras realizam processos de relações sintático-semânticas nas mesmas áreas do cérebro. roca e Wernicke A área de broca está relacionada com a produção da linguagem e está localizada no hemisfério esquerdo do cérebro, na parte inferior do lóbulo frontal. A área de Wernicke está relacionada com a compreensão sonora e, normalmente, pode ser encontrada no hemisfério esquerdo, embora em 30% das pessoas canhotas e 10% das pessoas destras se encontre no hemisfério direito. Essa zona pertence ao lóbulo temporal e está altamente relacionada com a zona auditiva. A área de Broca e a área de Wernicke estão conectadas por meio de um grupo de fibras nervosas conhecido como o fascículo arqueado. Fonte: Gallardo, 2020. Saiba mais Rocha (2012) destaca que a complexidade da atividade cerebral para a decodificação da linguagem na construção de sentidos, comprovando uma engrenagem que estrutura relações de memória, o controle da atenção, o processamento visual e a imaginação mental, que são, basicamente, controladas pelo córtex frontal, mas também envolve neurônios distribuídos por outras áreas: parietal, temporal e occipital, além do hipocampo e áreas adjacentes. Rocha (2012) tomou como instrumento de análise o texto de uma história clássica brasileira: O curupira. A partir do monitoramento cerebral em equipamentos tecnológicos, o pesquisador registrou a reação cerebral durante a sinalização de cada um dos elementos aspectuais que compõem campos lexicais e semânticos da linguagem. Os resultados mostraram que a fonação e a ação representadas pelo verbo, e o reconhecimento das formas sonoras de campos lexicais, como “leão” e “carne”, ativam os neurônios da área deWernicke, que dão acesso às áreas cerebrais que, por sua vez, reconhecem esses elementos e definem no campo semântico o significado dessas palavras ou sinais. As áreas de Broca e Wernicke estabelecem relações sinápticas com neurônios de representação. Esse estudo mostra que os significados, representados em sons e palavras ou sinais, “se procuram” em busca de relações coerentes na construção sintática. Os dados mostram que, ao reconhecer na base do texto o verbo “comer” na área de Broca, ocorre uma ativação dos neurônios referentes às palavras “leão” e “comer”, presentes na base do texto, apresentando uma coerência na compreensão da mensagem, comprovando que essas palavras obedecem à sintaxe do verbo comer e fazem parte do campo semântico da ação desse verbo, levando à conclusão de que, tanto em língua oral quanto em língua de sinais, o significado é um processo complexo de relações neuronais, envolvendo campos lexicais e semânticos. Categorização e espaços mentais Os campos lexicais e semânticos são motivados por representações dos significados em forma de sons, palavras ou sinais. Ao alimentarmos nosso dicionário mental por meio das experiências linguísticas e sociais em diferentes contextos de enunciação, somos capazes de organizar nossa mente como se tivéssemos “gavetas” em nossa memória para armazenar essas informações. Cada “gaveta” contém léxicos que se agrupam com base em características de semelhança, por pertencimento a um mesmo nicho de significado. Duque (2012) defende que categorização é uma atividade cognitiva fundamental que atesta nossa interação com o meio ambiente de forma organizada, com base em nossas experiências corpóreas, traduzidas em relações com o mundo e com a cultura, revelando uma fantástica capacidade da mente humana. Estas entidades organizadas na categorização envolvem objetos, pessoas, lugares, mobiliários, vestimentas, animais, veículos, reconhecendo neles especificações que vão além de convencionalidades lexicais. Quando categorizamos a entidade “aves”, partimos de características que englobam penas, asas, duas patas, bico e a capacidade de voar. Organizar nossa memória a partir de categorização poupa espaço de armazenamento e favorece o trabalho das sinapses quando da evocação de léxicos para as relações de sentido. Veja a seguir alguns exemplos de categorização: Quando trabalhamos com língua de sinais, partimos de um texto que aborda determinado contexto conforme o planejamento de cada curso ou disciplina. Isso tanto no ensino de Libras como primeira ou segunda língua, ou seja, para surdos ou ouvintes. Assim, temos a abordagem com base em estudos semânticos, que ajudam a mente a construir um dicionário mental organizado em categorização, constituindo campos lexicais e semânticos que possibilitem organizar o pensamento e a expressão linguística. Tomemos um contexto como “viagem”. A partir de um texto que poderá conter o diálogo de interlocutores inseridos neste contexto, contendo léxicos iniciais que introduzem o mergulho na temática, a estratégia baseada em motivação da categorização amplia esses léxicos, criando novas situações comunicativas comuns aos usuários da língua, envolvendo novas frases, expressões formais e informais e expressões idiomáticas. Considere o seguinte texto: Vamos viajar? Carla encontra Sara em um bar: A) Oi, tudo bem? B) Oi, tudo e você? A) Bem, obrigada. Soube que você viajou mês passado. Para onde você foi? B) Eu fui para o Recife, aproveitei um feriadão para conhecer as praias famosas da cidade. A) Ah, que legal! Eu não conheço Recife, mas tenho muita vontade de viajar para o Nordeste do Brasil, conhecer a cultura nordestina, a cidade de Olinda, as praias, deve ser tudo tão lindo! B) O que eu mais gostei foi Porto de Galinhas. É uma praia maravilhosa! Fiquei em um hotel de frente para o mar, tinha um calçadão enorme e muitos barzinhos legais! A) Ah, eu imagino! Você foi com seu namorado? B) Sim, compramos um pacote de viagem muito barato, incluía passagens de avião, hotel e alguns pontos turísticos. A) Nossa! Que sorte! Mas, não falarei nada ao meu namorado, vou ficar na minha porque quero viajar com minhas amigas. (risos) B) Ah, você é muito engraçada. As duas riem e brindam. Para a sinalização do texto de forma coerente com a construção visuo-corpóreo-espacial da Libras, vamos convertê-lo em glosas. A) O-I, TUDO-BO@? B) O-I, TUDO-BO@ E VOCÊ? A) BO@, OBRIGAD@. EU SABER VOCÊ VIAJAR MÊS PASSADO.ONDE? B) EU VIAJAR RECIFE, FERIADO APROVEITAR CONHECER PRAIA@ FAMOSA@ TER LÁ CIDADE. A) AH, LEGAL! EU CONHECER-NÃO RECIFE, MAS VONTADE TER VIAJAR NORDESTE, CONHECER CULTURA PRÓPRIA NORDESTE, TAMBÉM CIDADE OLINDA, PRAIA@(geral) TUDO LINDO EU ACHAR (expressão de possibilidade, talvez) B) EU GOSTAR MAIS P-O-R-T-O-D-E-G-A-L-I-N-H-A-S. PRAIA MARAVILHOSA! MEU HOTEL FRENTE MAR, TER CALCADÃO (descritivo na frente do corpo, duas mãos formando uma faixa do meio para VIAJAR. VAMOS? fora, inflando as bochechas, usando classificador de alguém caminhando sobre a calçada apreciando o mar) TAMBÉM BAR@ MUITO (apontando vários um ao lado do outro) LEGAL! A) AH, EU IMAGINAR! VOCÊ IR-JUNTO NAMORAD@. B) SIM, NÓS-2 COMPRAR PACOTE VIAGEM BARAT@, TER (usar os dedos para pontuar os itens) AVIÃO, HOTEL TAMBÉM PONT@ TURÍSTICO@. Atenção Desse ponto em diante, os léxicos podem ser trabalhados em frases, expressões, piadas, comentários, compartilhamento de experiências ou outra estratégia definida pelo professor para enriquecer a categorização em primeira ou segunda língua, produzindo sentidos cuja aquisição já se faz presente no conhecimento dos alunos ou para a produção de novos sentidos a partir da relação do conhecimento já adquirido. Metáforas e expressões idiomáticas Nestes estudos, podem surgir frases e expressões metafóricas. Este é um fenômeno linguístico muito sofisticado, que exige de seus usuários comportamentos linguístico-cognitivos avançados, num processo adjacente aos domínios dos campos lexical e semântico. Porém, o uso das metáforas não se restringe a textos literários, a poesias, ao uso como recurso poético, a metáfora está em nosso cotidiano, em expressões corriqueiras que fazem parte de nosso diálogo informal. Lakoff e Johnson (2015) argumentam em tal sentido e questionam o fato de muitas pessoas entenderem que o uso das metáforas não faz parte de usos normais da língua cotidiana. Defendem que a metáfora faz parte da vida diária, do pensamento e da ação. O sistema conceptual é metáfora, quando relacionamos conceitos e produzimos novos conceitos, quando compreendemos mensagens implícitas, fazemos uso de nossa habilidade linguístico-cognitiva de decodificar metáforas. Fauconnier e Turner (1998) conceituam “espaços mentais”. Como estudiosos da Linguística Cognitiva, apresentam contribuições importantes com foco nos processos construcionais da linguagem. Em se tratando de metáforas, pontuam as relações dos espaços mentais, que vêm a ser pequenos pacotes conceituais construídos a partir de como pensamos e falamos, para fins de compreensão e ação local. As metáforas são formadas de: Estruturas de entrada Léxicos. Estruturas genéricas As relações que aproximam os léxicos. Estruturas de mesclagem Resultado da mescla das estruturas de entrada e genérica. Ferrari (2014) exemplifica essas estruturas a partir da estrutura genérica: sistema, ameaça, dano. As estruturas de entrada são: 1. organismo, visão biológica, doença; 2. computador, programa destrutivo, destruição; resultando na estrutura de mesclagem: vírus de computador. Dessa forma, pode-se afirmar, em Fauconnier e Turner (1998), que espaços mentais são construções estruturadas por quadros e modelos cognitivos, que estão interligados e podem ser modificados conforme pensamos e desdobramos o discurso. Exemplo Em nosso cotidiano, fazemos uso de expressões linguísticas que passam por tal processo de mesclagem para sua compreensão. Além das metáforas, também é comum usarmos expressões idiomáticasna Língua Portuguesa, que, ao expressarmos seu sentido na Libras, precisam passar por um outro processo linguístico-cognitivo. Isso não significa que a Libras não tenha metáforas ou expressões idiomáticas, mas que, no estudo da semântica de uma língua, precisamos conhecer tanto seus aspectos linguísticos-culturais na expressão e compreensão de metáforas e expressões idiomáticas, quanto trazer para sua compreensão, por meio da tradução, as metáforas e expressões idiomáticas de outra língua. Confira algumas expressões idiomáticas na Língua Portuguesa e sua compreensão para expressão de seus sentidos na Libras: a) Andar na linha (fiel); b) Chorar o leite derramado (já foi); c) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura (Lutar, lutar, lutar, vencer/ superar); d) Deu uma de João sem braço (aproveitar); e) Tirar água do joelho (fazer xixi); f) Chutar o balde (cheio cabeça); Expressões idiomáticas na Língua Portuguesa e compreensão de sentidos em Libras g) Mala sem alça (chato); h) Está com a faca e o queijo na mão (pronto oportunidade); i) Ele é uma mão na roda (pessoa ajudar++); j) Pendurar a chuteira (aposentar); k) Encher linguiça (enrolar); l) Corda no pescoço (muito divida); m) Acertar na mosca (corrigir certo); n) Nem tudo que brilha é ouro (atrás disfarçar); o) Cada macaco no seu galho (cada um na sua); p) Pau que nasce torto morre torto (mesmo +++); q) Águas passadas não movem moinho (problema passado já foi); r) Filho de peixe, peixinho é (pai filho igual, cópia igual); s) Filhote de onça nasce pintado (filho geração problema igual); t) Cada um por si e Deus por todos (cada um na sua Deus cuida); u) Cada ovo comido é um pinto perdido (oportunidade perde não adianta já foi, ou não volta mais). O trabalho com a compreensão de metáforas e expressões idiomáticas na Língua Portuguesa é frutífero no processo de aquisição da Libras como primeira ou segunda língua, tanto para surdos quanto para ouvintes, na medida em que favorece a analogia entre as linguas e naturaliza os usos e compreensão destes fenômenos linguisticos. Para os surdos, compreender e fazer uso de metáforas e expressões idiomáticas na Libras liberta-os da literalidade dos signos e os faz mergulhar na relatividade dos significados. No livro Pequeno dicionário ilustrado de expressões idiomáticas (1999), Everton Ballardin e Marcelo Zocchio mostram um trabalho ilustrado de como as expressões idiomáticas seriam compreendidas caso não houvesse a compreensão dos processos de ressignificação presentes nos usos da língua. Veja a seguir: Minhoca na cabeça Chorar sobre o leite derramado Tirar água do joelho João sem braço Na linguagem semiótica, em expressões artísitcas de artes visuais, a metáfora é um recurso linguístico amplamente usado por artistas surdos e ouvintes para manifestacões de sua cultura e identidades surdas. Uma publicação da Revista Espaço, no ano de 2019, destaca o trabalho da artista surda Nancy Rourke. A matéria apresenta seus principais trabalhos, revelando o perfil militante da artista, que busca, na expressão das artes visuais, o canal para dar voz à luta do povo surdo. A seguir, veja três exemplos de quadros da artista surda Nancy Rourke: Além da linguagem expressada em artes visuais, as metáforas também aparecem em expressões sinalizadas orais. São muito comuns em poesias sinalizadas, em textos literários, mas também estão presentes em expressões cotidianas. Classificadores e marcas não manuais são elementos aspectuais da construção sintática, produzindo significados na Libras. Não tô nem aí! Você me paga! Tô duro, sem grana! Esperto! (sinal de rato) Lavo minhas mãos! Apenas alguns exemplos para mostrar o quanto as línguas de sinais compartilham dos mesmos fenômenos linguísticos que compõem as línguas orais. Mesmo em figuras de linguagem, em metáforas, em linguagem poética, a Libras é uma língua visuo-corpórea-espacial capaz de expressar qualquer sentido, em qualquer situação, rica em elementos vivamente semânticos. Pragmática Tomando por base um conceito clássico de “pragmática”, temos o estudo da linguagem em uso, em seus diferentes contextos, levando em conta os princípios de comunicação. Porém, a pragmática transita por uma amplitude de estudos que engloba estudos dos dêiticos para pronomes, de pressuposições com base no que foi dito, dos atos da fala e de suas condições, das implicaturas de expressões subtendidas e dos aspectos da estrutura conversacional. Veja a situação a seguir: a) Você tem horas? b) São seis e meia. Os estudos da pragmática buscam explicar este fenômeno na comunicação, em que os sujeitos interlocutores adquirem a habilidade de responder a um questionamento conforme o interesse do questionador, mesmo que a pergunta não tenha sido direta, pois em uma pergunta: “você tem horas?”, a resposta que se espera seria “sim” ou “não”. Contudo, o que o questionador recebe é a resposta que realmente busca: a hora atual. Muitos desses fenômenos são encontrados na Língua Portuguesa. São exemplos: a) Você poderia me ajudar aqui? b) Pois não, já estou indo. a) Foi você que comeu meu bolo? b) Pois sim, sabe que não como bolo! Quando o interlocutor tem a intenção de responder “sim”, responde “pois não”. Isso não prejudica a compreensão de quem recebe a resposta, pois convencionalidades sociais e culturais o direcionam ao entendimento da mensagem. Já ao responder “pois sim”, o emissor tem a intenção de negar. Novamente, a expressão contrária não impede a correta compreensão da mensagem. Essa habilidade de inferência, de captar a intenção comunicativa do emissor, é objeto de estudo da pragmática. Considere o seguinte exemplo: a) Ela se separou no ano passado. b) O controle da TV está aqui. O volume está muito alto. O receptor pode inferir que ela era casada. Mesmo que essa não tenha sido a mensagem de forma direta, o receptor faz relações de sentido que o levam a inferir sobre as circunstâncias da mensagem. O mesmo ocorre com a sentença “b”. Ao receber a mensagem, o receptor pode inferir que o emissor está solicitando que diminua o volume da TV. Saiba mais Para Quadros e Karnopp (2004), a pragmática é o estudo de fenômenos linguísticos que envolve as relações entre a linguagem e o contexto. Mesmo nos dias atuais, este ainda é um estudo recente no Brasil. Ferreira-Brito (1995) vem apresentando importantes contribuições sobre os estudos da pragmática na Libras, com foco nos atos da fala, entendendo fala como a comunicação em língua de sinais. Explica que a Linguística define “atos de fala” como sendo a análise de um enunciado em relação às intenções comunicativas de um sinalizante e os efeitos desta intenção comunicativa sob o interlocutor. A pesquisadora afirma que os atos da fala não têm por objetivo apenas comunicar um significado, mas também influenciar ativamente seu destinatário. Além disso, atos da fala podem ilustrar a relação entre intenções, situações e significados e entre as regras de linguagem e regras sociais. A intenção comunicativa do emissor é que vai determinar o “tom” que vai usar para emitir a mensagem. Convenções sociais em nossa comunicação compõem formas de emissão que podem comunicar comando, ordem, pedido ou polidez. Observe o seguinte exemplo: Estamos com fome. Compre uma pizza para nós. Essa mesma fala pode ser emitida em tom de pedido ou de ordem. Dependendo do “tom” com que o emissor se dirige ao receptor, este pode se ressentir pelo que foi dito, não pelo teor da mensagem, mas pela forma como foi emitida, o “jeito” que a pessoa falou. Adquirimos a habilidade de identificar a intenção comunicativa do emissor apenas pela leitura da forma como se dirigiu ao receptor. Se a intenção foi de atingir de forma negativa seu interlocutor, o “tom” vai revelar tal intenção. A mesma leitura ocorre quando a intenção do emissor é de se fazer entender com uma emissão mais polida, mais cautelosa, mais sensível, com o objetivo de se comunicar de modo mais cortês, com mais civilidade,urbanidade. Alguns recursos linguísticos podem ser utilizados para que essa intenção seja emitida de forma mais evidente. O emissor pode usar pronomes de tratamento mais corteses, bem como expressões de gentileza, como “por favor”, “por gentileza”, “obrigada”, “com licença”. Saiba mais Em meio à cultura surda, também são convencionadas essas gentilezas, as formas de tratamento amigável. As demonstrações de interesse e simpatia também são estratégias de polidez. Inclusive, é comum o uso do sinal “brincadeira” quando fazemos um comentário sem a intenção de ofender. O uso deste faz parte da cultura linguística em contexto no qual o interlocutor sinalizante quer deixar claro que não está falando sério. Ainda em Ferreira-Brito (1995), destacamos algumas variáveis sociais que definem contextos, em que as relações sociais já dão o “tom” na intenção comunicativa do emissor. Distância social Reflete a classe social de cada interlocutor e os bens materiais ou não materiais que possuem. Poder Mostra a relação assimétrica, a hierarquia entre os interlocutores. Expressões visuais e corporais dão o “tom” da intenção comunicativa do sinalizante. Tanto pessoas surdas quanto ouvintes, já proficientes e convivendo cotidianamente com a língua, conhecem essas expressões e identificam a intenção comunicativa do sinalizante. O “jeito” como o sinalizante expressa a mensagem pode significar diferentes intenções comunicativas. Se o sinalizante expressa: a) CHEGOU CEDO! Escala de Imposição Envolve o valor do que é pedido ou o tempo gasto. Intimidade ou Familiaridade Pode ser definida como a relação familiar existente entre os participantes de uma interação e não depende das classes sociais a que pertencem. b) CHEGOU CEDO. Pode ser com expressão de interjeição ou afirmação. A interjeição pode significar uma intenção comunicativa de ironia, tentando chamar a atenção do interlocutor devido a um atraso. Na afirmação, o emissor pode ter a intenção comunicativa de comentar a chegada do seu interlocutor antes do horário combinado. O que o interlocutor usuário da fala oral é capaz de expressar por meio do tom da voz, o interlocutor usuário da fala sinalizada é capaz de expressar por meio do “tom” da língua de sinais. É uma língua que compartilha dos mesmos fenômenos linguísticos das línguas orais-auditivas. Os estudos semânticos e pragmáticos revelam o potencial comunicativo desta língua visuo-corpóreo-espacial, que não difere ou limita em nada a expressão comunicativa, seja de que contexto for. Produção de sentido em Libras No vídeo a seguir, você compreenderá a produção de sentido em Libras por meio de explicações e exemplos sobre campo lexical e semântico, metáforas e expressões idiomáticas, e pragmática. Vamos lá! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O estudo do significado abrange dois campos: o lexical e o semântico. O campo lexical se faz por meio de um conjunto de palavras pertencentes a uma mesma ideia, enquanto o campo semântico engloba a possibilidade de uma palavra assumir um conjunto de significados, algo que podemos consultar em um dicionário. Dessa forma, assinale a alternativa relacionada com o campo lexical. Parabéns! A alternativa D está correta. O léxico “família” compõe um conjunto de palavras que fazem parte de uma mesma ideia, um mesmo pensamento. Ao ouvir tal léxico, vem à nossa mente palavras relacionadas como: pai, mãe, filhos, avó, avô, tios e primos. Questão 2 A pragmática busca explicar fenômenos da linguagem em uso, em seus diferentes contextos, levando em conta os princípios de comunicação, as inferências de seus interlocutores frente aos estímulos da expressão comunicativa. Tomando por base esse conceito, assinale a alternativa que apresente uma reação de inferência por parte do receptor. A Casa: residência, habitação. B Pessoa: ser, indivíduo, cidadão. C Trabalho: ocupação, ofício, labor. D Família: pai, mãe, filhos, avó, avô, tios, primos. E Rua: logradouro, via, caminho. A Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém levanta e fecha a porta. B Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém olha e se certifica da afirmação. C Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém levanta e coloca um peso para permanecer aberta. D Parabéns! A alternativa A está correta. O estudo da pragmática investiga a habilidade do sujeito da interlocução, na figura do receptor, de interpretar a intenção comunicativa de seu emissor. No caso da expressão “a porta está aberta”, em um contexto no qual o receptor está ciente do clima frio e de um vento entrando pela porta, agravando a sensação de frio, pode entender que há uma sugestão para fechar a porta na tentativa de aumentar a temperatura do ambiente. Essa inferência é uma habilidade linguístico-cognitiva sofisticada, cujos processos são objeto de estudo da pragmática. Considerações �nais Como vimos, os estudos de conceitos linguísticos de Saussure sobre signo, significante e significado se aplicam e se explicam tanto em Língua Portuguesa quanto em Libras, o que confere às línguas de sinais o mesmo status linguístico das línguas orais. Estes estudos introduzem as discussões sobre o significado em situações comunicativas, que se constituem de diversos fenômenos semânticos refletidos em sinonímia e antonímia, parônimos, polissemia e homonímia, além dos campos lexical e semântico, sendo complementados com a análise do discurso e a pragmática em seus atos da fala. Nos estudos semânticos em língua de sinais, podemos considerar que as expressões linguísticas são motivadas por nossas experiências visuo-corpórea-espaciais vivenciadas na língua em uso, nos contextos reais que proporcionam ao sujeito interlocutor os inputs e outputs linguísticos. Essas experiências também subsidiam os processos de outro fenômeno linguístico: as metáforas. As línguas de sinais são ricas em metáforas e passam por um processo que a Linguística Cognitiva vem chamar de Mesclagem. Este se constitui a partir de Espaços Mentais que se relacionam em busca do sentido. Para finalizar, discutimos sobre os estudos do significado a partir da intenção comunicativa do interlocutor, a forma como tal significado é recebido e interpretado pelo receptor, e a análise desses processos em nível neurológico. A mente é capaz de desenvolver habilidades que relacionam diferentes funções cerebrais, em um trabalho articulado e complexo, que culmina na dominância comunicativa dos interlocutores em receber, interpretar e subentender. A análise do discurso e os estudos pragmáticos privilegiam o entendimento da língua de forma holística, em contextos de uso reais, tanto em línguas orais quanto de sinais, atribuindo ao ato da comunicação, um objeto em movimento, pulsante, que revela a sua complexidade e superioridade. Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém olha e chora. E Está frio. Uma voz ecoa: “A porta está aberta”. Alguém levanta e abre a janela também. Explore + Leia os seguintes textos: Alguns aspectos semânticos da Libras: um estudo do léxico de seus sinais em suas relações de sinonímia, antonímia, homonímias, homógrafas e polissemia, artigo de Ediane Lima e outros, disponibilizado pela Associação de Linguística e Filologia da América Latina (ALFAL). Semântica e pragmática, de Magdiel Aragão Neto, disponibilizado na biblioteca virtual da UFPB. Semântica da Libras: hiperônimos e hipônimos e o desenvolvimento linguístico da criança surda, de Marcos de Moraes Santos, dissertação de mestrado disponibilizada pela UFAL. Assista aos seguintes vídeos: Níveis da Linguística: Semântica, Pragmática e Discurso, com a pesquisadora Ronice Quadros, disponível em seu canal no YouTube. Vídeo Semântica Libras, disponível no canal Letras Libras UFRB. Referências BALLARDIN, E.; ZOCCHIO, M. Pequeno dicionário ilustrado de expressões idiomáticas. São Paulo: Schaffer Editorial, 1999. BERGEN, B. K.; LINDSAY, S.; MATLOCK, T.; NARAYANAN,S. Spacial and linguistic aspects of visual imagery in sentence comprehension. In: Cognitive Science, 31, 2007. DUQUE, P. H. Simulação semântica e compreensão de textos. In: Cadernos do CNLF, vol. XVI, N. 03. Livro do Minicurso e Oficinas. 2012. FAUCONNIER, G.; TURNER, M. Conceptual integration networks. Cognitive Science Society, 1998. FERRARI, L. Introdução à linguística cognitiva. São Paulo: Contexto, 2014. FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro, 1995. GALLARDO, C. P. Área de Broca e Wernicke: função e diferenças. In: Psicologia online, 23 nov. 2020. LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas de la vida cotidiana. Chicago: University of Chicago Press. Cátedra, 2015. QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre, 2004. RIBEIRO, V. P. 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