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Cidades memórias e patrimônios
Ulisses N . Rafael
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Sít ios Históricos e Centros Urbanos Atena Editora 2018
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criações sob termos idênticos.
13
5
UM BECO DE MEMÓRIAS: UM ESTUDO ACERCA 
DA HISTÓRIA DO BECO DOS COCOS
APRESENTAÇÃO
Elayne Messias Passos
Renata de Mello Cerqueira Pereira
José Welington de Jesus, Ulisses Neves Rafael
Luciana Chianca, Ruanna Gonçalves da Silva 
Cadu Ávila
Ulisses Neves Rafael, Victor Marcell Gomes Barbosa
Amanda Scott, Luciana Chianca
Marina Zacchi
Lucas Neiva Peregrino
33O QUE ACONTECE EMBAIXO DA PONTE? 
JUVENTUDES E OCUPAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS
55TERRITÓRIOS E TRABALHO SEXUAL MASCULINO 
NO CENTRO DE ARACAJU
75COPOS, EMOÇÕES, CORPOS E SOCIABILIDADES: 
FORRÓ NO BAR
104O MARACATU ALAGOANO 
E SEUS MAIS DE 110 ANOS DE EXISTÊNCIA
145O SEXO COMO “IDIOMA DO FORRÓ” 
– DE GONZAGA A SAFADÃO
168O TRABALHO DO ANTROPÓLOGO E A CONSTITUIÇÃO 
DO PATRIMÔNIO IMATERIAL NO BRASIL: 
NOTAS SOBRE OS USOS DA NOÇÃO DE SISTEMA
193NO MIOLO DE FEIRA TEM “MUÍDO”: A FOLCLORIZAÇÃO 
DA CULTURA POPULAR NA PATRIMONIALIZAÇÃO 
DA FEIRA DE CAMPINA GRANDE
ENTRE OS BECOS E OS BOULEVARDS: TENSÕES SOCIAIS 
E INTELECTUAIS NA DEFINIÇÃO DA REPRESENTAÇÃO 
DO RIO DE JANEIRO DA PRIMEIRA REPÚBLICA
122
5/208
APRESENTAÇÃO
Reunimos neste livro um conjunto de artigos que, sob variados enfo-
ques, gira em torno de três temas: cidades, memórias e patrimônios. 
Cada um desses termos encerra uma profusão de significados e re-
cebeu, ao longo do tempo, copiosas reflexão e análise, a maioria de 
incontestável plausibilidade.
O primeiro desses temas, a cidade, é indiscutivelmente central na 
Sociologia, e resultou em primorosos estudos e teorias, cuja recons-
tituição passa ao largo dos nossos objetivos no presente livro. Des-
de a Revolução Industrial – que acarretou processos migratórios de 
variadas escalas e expansão radical das áreas urbanas –, a cidade se 
tornou lócus privilegiado da Sociologia Clássica.
A memória é mais comumente associada à historiografia, embora a 
discussão em torno de seu dinamismo extrapole esse campo de conhe-
cimento. Interessa-nos, aqui, remontar à ideia de memória enquanto 
espaço de confrontos e de disputas, por um lado, mas também de con-
fluência e de convergência de interesses, por outro. Ela está na inter-
seção entre a inclinação ao esquecimento e a urgência da lembrança.
6/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS APRESENTAÇÃO
O patrimônio, por sua vez, situa-se no cruzamento entre os dois cam-
pos destacados – a cidade e a memória – e recebe grande atenção 
dos antropólogos contemporâneos, constituindo área privilegiada 
da pesquisa etnográfica nos últimos anos, o que talvez seja decor-
rente da grande proximidade entre as concepções antropológicas 
de cultura e de patrimônio intangível. Não por acaso, é da Antropo-
logia que decorrem as principais orientações para a elaboração de 
metodologias atuais de inventário de referências culturais. Também 
se inicia com os antropólogos a discussão acerca dos riscos de reifi-
cação das práticas e de conhecimentos patrimonializáveis.
Isso posto, restaria ainda aberta a justificativa para a realização de 
uma coletânea como esta, que visa reunir trabalhos sobre temas tão 
densos e tão abundantemente cotejados. Como transpor o desafio 
de não ser repetitivo e enfadonho? Qual abordagem ainda restaria 
como alternativa à profusão de tratados? Quais aportes encontra-
riam ainda ensejo para vir a lume?
Considerando que os temas aqui discutidos alcançam três áreas de 
conhecimento de grande envergadura (Sociologia, História e Antro-
pologia), cumprimos o desafio epistemológico de aproximá-los. Para 
isso, reunimos, neste livro, reflexões cuja maior marca são pesquisas 
de campo envolvendo observação direta. A contribuição desta obra 
advém da especificidade dos recortes aqui apresentados, que com-
binam, de modo criativo e original, os conceitos de cidade, memória 
e patrimônio, fornecidos por essas áreas de conhecimento, e que, re-
conhecemos, têm fronteiras marcadamente porosas e comunicantes.
7/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS APRESENTAÇÃO
Cidades, memórias e patrimônios é um livro que apresenta textos 
inéditos de pesquisas que exigiram empenho e dedicação ao longo 
de trajetórias acadêmicas com duração de dois ou três anos, reali-
zadas por alunos de graduação ou de pós-graduação em Antropo-
logia e em Sociologia. Trabalhos que repercutiram nas trajetórias 
de seus orientadores, instados a repensar também seus objetos e 
temas de pesquisas. Trata-se, portanto, de conclusões ou de trechos 
mais extensos de dissertações e monografias, apresentados em ver-
são reduzida para os fins desta publicação. Não carecem de riqueza 
reflexiva e etnográfica, como se poderá constatar: o material aqui 
exposto se revela de proveitosa utilidade e provoca leitores além 
do circuito acadêmico, posto que envolve situações e contextos de 
grande oportunidade e interesse.
O critério aplicado na seleção dos textos obedece, a princípio, ao 
desejo de fortalecimento da parceria interinstitucional entre a Uni-
versidade Federal de Sergipe e a Universidade Federal da Paraíba. A 
parceria, firmada por meio de interlocução antiga entre os organi-
zadores da coletânea, agora se estende para incorporar orientandos 
e ex-alunos cujas pesquisas se realizaram em torno dos temas que 
norteiam esta obra – cidade, memória e patrimônio.
Esta coletânea tem início com o seminal artigo de Elayne Messias 
Passos, Um beco de memórias: um estudo acerca da história do Beco 
dos Cocos. A autora traz uma provocante apreciação sobre o beco, 
lugar marginalizado, inclusive, dentro da própria antropologia ur-
bana brasileira, em que é categoria flagrantemente desprezada. Seu 
8/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS APRESENTAÇÃO
objetoespecífico é o Beco dos Cocos, um refugo no conjunto arqui-
tetônico que caracteriza o Centro Histórico de Aracaju, capital ser-
gipana. Passos mostra, contudo, que, embora se trate de área des-
prezada pela lógica dos planejadores urbanos e insuficientemente 
debatida em termos acadêmicos, essa parte excessivamente peque-
na da cidade se encontra carregada de sentidos e mostra-se como 
um expressivo espaço de ressignificações acerca das noções locais 
de centralidade e de enobrecimento.
Renata de Mello Cerqueira Pereira, com o seu instigante O que aconte-
ce embaixo da ponte? Juventudes e ocupação de espaços públicos nos 
conduz por outra região também secundária da capital sergipana. 
Trata-se do bairro Industrial, antiga região fabril da cidade, que, ao 
longo do tempo, sofreu intensas e significativas transformações em 
sua dinâmica e estrutura, sobretudo com a construção da ponte que 
liga a capital ao vizinho município de Barra dos Coqueiros, do outro 
lado do rio Sergipe. A autora, contudo, não se rende às impressões 
de decadência associadas ao antigo bairro fabril e volta-se para as 
estratégias de ressignificação e de ocupação por parte da população 
jovem do bairro, que desenvolve variadas maneiras criativas de ocu-
pação do lugar, inclusive, com usos do repertório da cultura hip-hop.
De volta ao centro da cidade, José Welington de Jesus e Ulisses Ne-
ves Rafael nos conduzem pelo secreto universo das interações so-
ciais que ocorrem entre homens que fazem sexo com homens, os 
chamados “garotos de programa”, e seus clientes. O artigo nos apre-
senta determinados territórios propícios aos intercursos sexuais 
9/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS APRESENTAÇÃO
ocasionais e fortuitos não-contratuais, que ocorrem sem a presen-
ça de vínculo amoroso prévio e sem, necessariamente, a prestação 
financeira. Em Territórios e trabalho sexual masculino no centro de 
Aracaju, os autores realizam o levantamento dessas “zonas morais” 
ou “territórios marginais”, cujo tamanho se estende para além do 
centro da cidade e atinge também as regiões das praias, em espe-
cial, Atalaia Velha e Coroa do Meio.
Em João Pessoa (PB), Luciana Chianca e Ruanna Gonçalves da Silva, 
em Copos, emoções, corpos e sociabilidades: forró no bar, analisam 
o ambiente e algumas situações de interação em um bar da cidade, 
observando, por meio de pesquisa participante, seus “dias de forró”. 
Nesse artigo original, o foco ultrapassa o discurso dos músicos de 
forró e atinge a sua própria experiência de trabalho e o constante 
dilema sobre a escolha das músicas a serem executadas. Seguindo a 
teoria da performance, o artigo busca revelar o que a linguagem mu-
sical (letras e sons) e sua execução pública representam para esses 
músicos e qual mensagem pretendem transmitir. A participação do 
público em tais performances musicais também é analisada.
O artigo da lavra de Cadu Ávila: O maracatu alagoano e seus mais de 
110 anos de existência se presta a resgatar os motivos do desapare-
cimento dessa modalidade artístico-cultural no contexto alagoano, 
sobretudo a partir do “Quebra de 1912”. Trata-se de episódio de ex-
trema violência contra as principais casas de cultos de presença afri-
cana em Alagoas e que teve função decisiva também no sumiço dos 
maracatus, os quais mantinham estreitas relações com os terreiros 
10/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS APRESENTAÇÃO
alagoanos de Xangô. O autor realiza um importante levantamento 
das notícias acerca da presença festiva dos maracatus nos carnavais 
de Maceió nas primeiras décadas do século XX e do seu súbito desa-
parecimento da vida pública e da crônica local.
Victor Marcell Gomes Barbosa, no artigo Entre os becos e os boule-
vards: tensão social e intelectual na definição da representação do Rio 
de Janeiro da Primeira República também se debruça sobre período 
semelhante ao do artigo anterior para analisar o fenômeno que se 
denominou “boemia literária”, no Rio de Janeiro, na passagem entre 
os séculos XIX e XX. Por um lado, o autor tem interesse pelo clima de 
tensão social que envolve a parcela pobre da então capital federal, 
frente aos processos de disciplinarização e de controle exercidos pelo 
Estado à época. Também analisa, por outro lado, o papel da chamada 
“boemia carioca” e o posicionamento da elite intelectual na defesa 
dos preceitos higienistas frente à dura realidade social brasileira.
Contemplando a memória musical do Nordeste brasileiro, represen-
tada, aqui, pelo forró, desde suas origens até uma de suas expressões 
mais contemporâneas, o forró eletrônico, Amanda Scott e Luciana 
Chianca trazem o artigo O sexo como “idioma do forró”, de Gonzaga 
a Safadão. Parafraseando Evans-Pritchard (1978), que identificou o 
gado como “idioma” dos Nuer, as autoras revelam que o sexo é o 
idioma do forró desde sua invenção no qual a sociedade “fala sobre 
si”. Elas partem de Luiz Gonzaga, que mantinha um jogo discreto e 
disfarçado com o sexo e o erotismo em suas canções, e chegam às 
atuais músicas do forró eletrônico, quando o caráter sexual das rela-
11/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS APRESENTAÇÃO
ções afetivas é desmascarado. Nesse sentido, o forró eletrônico não 
aponta para rupturas com os demais estilos de forró; ao contrário, 
guarda uma vital continuidade com suas raízes mais profundas, nas 
quais o amor, o sexo e o romance mantêm um lugar privilegiado in-
dependentemente de suas inovações estéticas e sociais.
Temos a elegante reflexão de Marina Zacchi, O trabalho do antropó-
logo e a constituição do patrimônio imaterial no Brasil: notas sobre 
os usos da noção de sistema, na qual a autora se dispõe a tratar das 
maneiras pelas quais os usos da noção de sistema possibilitam (ou 
não) a constituição do patrimônio cultural de natureza imaterial, es-
capando à materialização da cultura. Para tanto, Zacchi destaca os 
usos dessa noção nos dossiês do Registro da Arte Kusiwa – pintura 
corporal e arte gráfica Waiãpi; do Ofício das Baianas de Acarajé; e do 
Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro.
E por fim, o artigo de Lucas Peregrino também aborda a constituição 
dos patrimônios, desta feita através do caso do Registro da Feira de 
Campina Grande (PB). Em No miolo de feira tem “muído”: a folclori-
zação da cultura popular na patrimonialização da Feira de Campina 
Grande, o “miolo” é um território vivo e muito dinâmico onde se rea-
lizam negociações de diversas ordens – de produtos e serviços con-
sagrados (como raizeiros, venda de flores, carnes, comidas prontas), 
até produtos industrializados, como roupas e sapatos, pen drives 
de músicas de sucesso etc. O “muído” da feira são as negociações 
em torno da definição desse patrimônio cultural nacional: acompa-
nhando os momentos finais desse registro, o autor identifica uma 
12/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS APRESENTAÇÃO
importante tensão (e, por vezes, cisão) entre a transformação e a 
modernização da feira versus a folclorização e a estereotipização de 
algumas de suas expressões.
Este livro é, portanto, uma obra que revela a atualidade e a pujança 
dos estudos de antropologia em torno da cidade, do patrimônio e da 
memória, tomando como foco a produção de jovens pesquisadores 
de duas universidades públicas federais nordestinas, a de Sergipe e 
da Paraíba. Ensejamos que esta publicação contribua para o debate 
em torno desses importantes temas com perspectivas que deverão 
cativar estudiosos e outros leitores interessados em conhecer me-
lhor a diversidade cultural do Nordeste do Brasil e os modos como 
tal diversidade vem sendo discutida localmente na atualidade.
Luciana Chianca (UFPB)
Ulisses Neves Rafael (UFS)
Aracaju/João Pessoa, 23 de agosto de 2020.
13/208
UM BECO DE MEMÓRIAS: UM ESTUDO ACERCA 
DA HISTÓRIA DO BECO DOS COCOS
Elayne Messias Passos1
INTRODUÇÃO
Aracaju, capital sergipana, foi fundada em 17 de março de 1855, a par-
tir de um projeto arquitetônico peculiar,que estruturava a cidade tal 
qual um tabuleiro de xadrez. O traçado rigoroso atribuído ao local era 
estratégico para reunir os prédios públicos e as residências da alta so-
ciedade, evitando o soerguimento de espaços desordenados que pu-
dessem ser ocupados de forma tumultuada aos olhos dos gestores da 
época. Tal planejamento urbano acabou, de certo modo, privilegian-
do as classes mais abastadas socialmente, em detrimento dos grupos 
menos favorecidos, excluídos das principais regiões da urbe. 
A despeito da rigidez do projeto, nesse mesmo horizonte histórico, sur-
giu o Beco dos Cocos, travessa constituída justamente numa “sobra” de 
espaço no coração do centro aracajuano, que funcionava, primordial-
mente, como rota de passagem para o desembarque e o abastecimen-
1 Antropóloga. Professora da Rede Pública Estadual de Sergipe/Técnica em educação da 
Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura de Sergipe (SEDUC). Doutoran-
da em Antropologia (PPGA/UFBA).
14/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS LUCIANA CHIANCA E ULISSES NEVES RAFAEL
to de cocos no incipiente comércio central da cidade. No curso dos tem-
pos, o Beco transformou-se desse simples local de passagem de cargas 
a um reduto boêmio, endereço de famosos cabarés, convertendo-se, 
depois, também em uma das maiores zonas de tráfico de entorpecen-
tes da capital sergipana, até se tornar o que é hoje, estacionamento de 
veículos ciclomotores e quase um banheiro a céu aberto.
Este artigo procura investir na reflexão acerca da vida urbana de Ara-
caju e na compreensão do funcionamento da cidade sob a ótica da 
história do Beco dos Cocos. Trata-se de desdobramento de pesquisa 
desenvolvida por ocasião do mestrado realizado junto ao Programa 
de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal de Ser-
gipe, a qual buscou percorrer a origem e as transformações ocorridas 
no Beco dos Cocos simultaneamente ao desenvolvimento de Aracaju, 
para, assim, entender os processos que levaram a comunidade ara-
cajuana a se transformar no que ela é atualmente. A diferença deste 
estudo para outros inseridos na Antropologia Urbana está na opção 
pelo beco como objeto para obtenção das respostas pretendidas, já 
que a categoria escolhida é flagrantemente pouco frequentada na 
comparação com outros grupos de observação, tais quais o bairro ou 
a rua, apenas para citar dois exemplos muito mais visitados.
A peculiaridade desta proposta, portanto, pauta-se no fato de focali-
zar a análise do beco, uma parte excessivamente pequena da cidade e 
insuficientemente debatida em termos acadêmicos. Nesse contexto, 
o uso do Beco dos Cocos como laboratório de estudo é de grande uti-
lidade, haja vista as várias ressignificações do local, o qual experimen-
tou momentos de apogeu e hoje se encontra abandonado.
15/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS LUCIANA CHIANCA E ULISSES NEVES RAFAEL
Nesse ponto, cumpre salientar que o destaque atribuído ao ocaso do 
Beco dos Cocos não representa, absolutamente, um alinhamento às 
visões superficiais e estigmatizantes sobre as localidades marginais 
e secundárias dos centros urbanos. Ao mostrar a decadência do lu-
gar, acreditamos estar fazendo ver a característica “sanitária” que 
foi imputada, quase que forçosamente, àquele local, no sentido de 
que ele foi, paulatinamente, colocado em esquecimento para que, 
relegado, pudesse cumprir missões menos “nobres” às vistas da so-
ciedade e do Estado, a exemplo de reunir, em toda a sua cercania, o 
consumo de drogas e serviços sexuais, além de servir de refúgio aos 
desabrigados, características tais que, desnecessário dizer, são, de 
maneira geral, negligenciadas.
Assim sendo, a manutenção dos becos como ocupações clandesti-
nas, sujas, escuras e, enfim, repulsivas e desordenadas simboliza o 
contraponto aos espaços da cidade que trilham o caminho do de-
senvolvimento e que, nessa condição, repelem o atraso econômico 
e as mazelas sociais, convenientemente escondidos nos becos. 
O BECO EM ANALOGIA À RUA: 
USO E APROPRIAÇÕES DO ESPAÇO 
Historicamente, parece haver uma tendência em negligenciar, em 
uma esfera mais intelectual, objetos considerados marginais. Como 
observou Sandra Jatahy Pesavento ao categorizar alguns espaços 
da cidade como “lugares malditos”, o beco faz parte de uma zona 
estigmatizada da urbe (PESAVENTO, 1999, p. 196). Através da lingua-
gem, Pesavento traduz os aspectos da sociabilidade presente no vo-
16/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS LUCIANA CHIANCA E ULISSES NEVES RAFAEL
cabulário próprio da cidade, com foco na “especificidade da lingua-
gem da estigmatização urbana, que visualiza uma ‘cidade maldita’ 
ou ‘condenada’ dentro de uma cidade concreta, tomada para aná-
lise” (PESAVENTO, 1999, p. 196). É com essa perspectiva que o beco 
por nós estudado se relaciona: um lugar marginal que se contrapõe 
à ordem e à moral, representando, assim, um obstáculo à ideia de 
modernização almejada pelas grandes cidades.
Segundo a historiadora gaúcha, o beco caminha na contramão das 
perspectivas de intervenções urbanas propostas na época do seu 
surgimento, que desejavam, além de equipar, expulsar desses espa-
ços o que ela chama de “socialidades2 indesejadas”. No caso, a sua 
aniquilação seria a solução mais eficaz, visto que esses espaços não 
existiriam sem que neles se apresentassem algumas práticas margi-
nais. Símbolos do atraso, os “becos” seriam o alvo de um discurso 
moralista, que visava a varrer os pobres do centro da cidade e que 
passava a ser veiculado com mais intensidade após a República, na 
última década do século XIX (PESAVENTO, 1999, p. 198). 
Nesse período, o termo beco passa a representar, como uma espé-
cie de estigma, os lugares marginalizados das cidades. O espaço era 
considerado sinistro, sujo, perigoso e feio. “É o mau lugar, por onde 
circulam personagens perigosas praticantes de ações condenáveis” 
(PESAVENTO, 2001, p. 115). No imaginário popular, o beco era o re-
2 Em algumas passagens do texto a autora se utiliza do termo “socialidades”, que, de acor-
do com a nossa livre interpretação, remete ao conceito de “sociabilidade”, amplamente 
aplicado nas Ciências Sociais.
17/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS LUCIANA CHIANCA E ULISSES NEVES RAFAEL
duto dos excluídos, como prostitutas, bêbados, criminosos etc., ou 
seja, nessa localidade podiam-se encontrar os tipos mais “repug-
nantes” da sociedade. O beco correspondia, “de forma exemplar, a 
uma bela demonstração do que poderíamos chamar a maneira con-
flitiva de construir o espaço público” (PESAVENTO, 2001, p. 115).
Topograficamente falando, o beco, por definição, é considerado um 
assentamento supostamente subnormal, deveras encontrado em 
regiões periféricas e ocupações clandestinas, ou seja, é uma via fora 
do padrão, construída de forma desordenada. Segundo Sandra Ja-
tahy Pesavento, o “beco” é 
[...] na sua acepção usual, uma rua estreita e curta, ge-
ralmente fechada num extremo. “Beco” poderá ainda, 
numa acepção brasileira, designar esquina e, numa ex-
pressão figurada – “beco sem saída” – referir-se a uma 
situação dificílima, embaraçosa. Quer parecer que, no 
caso em pauta, os “becos” seriam tanto as ruas estrei-
tas e curtas, de designação genérica, quanto evocariam 
o significado da expressão figurada, como lugares difí-
ceis e causadores de problemas a quem neles se aven-
turasse. (PESAVENTO, 1999, p. 198)
Assim, nosso objeto é visto por muitos como um lugar escuro e peri-
goso, digno de ser evitado, uma espécie de anomalia, um apêndice 
prestes a supurar. Ou seja, o beco, sob um prisma polarizado, repre-
sentaria a desordem perante os lugares “legitimados” que desejam, 
hipoteticamente, ordenar-se. Essa representação foi e é calcificada 
diariamente no imaginário popular. O ideal de cidade desinfetada 
da sordidez e da degradação se alia à tão sonhada modernidade.
18/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS LUCIANA CHIANCA E ULISSES NEVES RAFAEL
É dessa maneiraque Bruno Halley percebe as travessas (e não mais 
“becos”) e seu processo de higienização que, por sua vez, fora inicia-
do a partir da exclusão da forma pejorativa como esses lugares eram 
denominados, ratificando a tese de Pesavento, que aloja o beco em 
uma zona estigmatizada da cidade. O autor acredita que ao (re)ba-
tizá-los com os nomes de alguns heróis pernambucanos, as concep-
ções discriminatórias aos becos eram “materializadas, numa cidade 
que buscava se modernizar eliminando feições coloniais e tropicais 
do seu traçado urbano. Logo, a palavra beco fora apregoada como 
um nome do passado” (HALLEY, 2012, p. 07).
Esse processo de “redenominação” dos becos, transformando-os 
em travessas, também passou por Aracaju, de forma similar ao pro-
cesso ocorrido em Recife. No entanto, aqui, observamos o apadri-
nhamento desses lugares em homenagem a pessoas que, acredita-
mos nós, exerciam alguma influência na sociedade da época.
O BECO DOS COCOS E SEU ENTORNO
Como já se fez destacar, a região central de Aracaju foi designada origina-
riamente a receber as residências das classes mais abastadas, além de 
prédios estatais. De imediato, porém, viu-se cercada por um público dife-
rente do previsto, formado, mormente, por migrantes, pequenos comer-
ciários e trabalhadores braçais, que se fixaram de maneira desalinhada.
A densa população ali concentrada, composta, sobretudo, de ho-
mens, logo fez surgir prostíbulos, estabelecimentos voltados à ex-
ploração de jogos de azar e outros pontos boêmios, que se assen-
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taram, preferencialmente, em espaços mais ocultos aos olhos da 
sociedade conservadora. Dentre tais locais, veio a se sobressair o 
Beco dos Cocos, o qual, muito bem situado no centro de Aracaju, 
tornou-se, àquele momento, um dos principais destinos de diversão 
e entretenimento da jovem capital.
O Beco é formado pela proximidade de dois quarteirões que fazem 
fronteira com o prédio da Alfândega, antiga Mesa de Rendas Oficiais, 
cujo valor simbólico é representado pelo fato de ter sido o primei-
ro prédio oficial construído em Aracaju, quando da transferência da 
capital sergipana3. Um desses quarteirões foi ocupado ao longo do 
tempo por diversas instituições oficiais, como a Secretaria de Esta-
do da Saúde, antiga cadeia pública. O outro quarteirão é estrutura-
do por uma extensa construção padronizada em torno de dois pisos, 
com fachadas elegantes a ponto de ter sido comparada pelos pró-
prios moradores da região com o Vaticano. Assim, o Beco parte da 
praça General Valadão, onde foi construído o prédio da Alfândega, 
e estende-se até a rua Santa Rosa, o que revela a sua centralidade, 
pelo menos em termos topográficos. 
Sebastião Pirro foi o arquiteto responsável pelo projeto de fundação 
da nova capital, que resultou no que depois seria denominado de 
quadrilátero de Pirro. O projeto proposto para a edificação da nova 
capital estabelecia medidas da largura das ruas e da distância entre 
as casas e o meio fio. O que tal projeto também deixa antever é o 
3 Antes, a capital sergipana era a cidade de São Cristóvão, localizada, atualmente, no que 
se convencionou chamar de grande Aracaju.
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fato de que Pirro, a todo momento, buscou construir uma cidade 
“moralizada”, no sentido da manutenção de uma ordem estética e 
higiênica. No espaço urbanístico proposto pelo engenheiro não ca-
biam práticas “degradantes” como a prostituição.
Em contrapartida, os atores que usufruíam dessa região central 
necessitavam de um local para a prática e o consumo do sexo, que 
deveriam ser velados e escondidos. Mas a dificuldade de acesso 
às “zonas de entretenimento adulto”, a exemplo da imposta pelo 
Morro do Bonfim4 e suas dunas, prejudicava a “diversão” desses 
“homens de bem” e “trabalhadores” que desejavam saciar os seus 
impulsos sexuais. Talvez por isso, a proximidade do Beco de locais 
que abrigavam diversos tipos de trabalhadores – como os carre-
gadores de coco, que lá desembarcavam carregamentos do fruto, 
marinheiros, estivadores, além de personalidades da sociedade 
“legítima”, como os políticos locais, dentre outros –, possibilitou a 
instalação de cafés, boates e cabarés especializados na oferta do 
sexo na região central de Aracaju.
Entre os anos de 1855 e 1860, Aracaju triplica o seu contingente po-
pulacional. Essa marca é alcançada graças à forte migração de tra-
balhadores oriundos da zona rural do estado. Trata-se de agricul-
4 O Morro do Bonfim era uma região composta por uma formação de dunas que circundava a 
área mais habitada do centro, separando-a da parte mais a oeste da região, onde se verifica-
vam práticas escusas e renegadas, conforme registros do poeta sergipano Mario Cabral (2002). 
Sua derrubada se deu na década de 1950 e representou um avanço considerável para o pla-
no urbanístico da cidade, já que no próprio espaço que correspondia ao Morro do Bonfim, foi 
construída a primeira estação rodoviária da cidade, além de suas areias terem possibilitado o 
aterramento de outras áreas de Aracaju, permitindo a criação de novas ruas e avenidas.
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tores que aqui se instalavam para ajudar a construir a nova capital, 
mas esse grupo de operários não usufruía dos espaços projetados 
da cidade, estabelecendo-se nas regiões adjacentes, formando uma 
nova área precária e desestruturada (SANTOS, 2010, p. 96).
Aracaju delineava seu processo urbanístico em moldes segregacio-
nistas, como conclui Antônio Carlos Campos (2005) ao analisar a tese 
do geógrafo sergipano Fernando Porto (1991) de que, mesmo tendo 
sido construída à luz de ideais que propunham a liberdade, o mode-
lo adotado era excludente. Ou seja, os migrantes que se instalavam 
na região “somente poderiam construir suas casas de palha no alto 
das dunas e fora da área denominada como ‘Quadrado de Pirro’, res-
peitando as normas contidas no Código de Postura de 1856, uma 
espécie de plano diretor da época” (SANTOS, 2010, p. 207).
Tendo em vista que Aracaju passa a se destacar (dentro do estado de 
Sergipe) economicamente nos anos de 1900, são os primeiros trinta 
anos do século XX que se enquadram como marco no desenvolvi-
mento da capital, que, por sua vez, recebe uma melhora nos seus 
serviços públicos, na sua infraestrutura e em outros aspectos:
[...] na primeira metade do séc. XX, o crescimento eco-
nômico do Estado influenciou diretamente na vida da 
cidade, quando houve o primeiro grande aumento da 
população e dos investimentos das classes dominantes 
na capital. Nessa época, o Estado iniciou a implantação 
dos equipamentos urbanos importantes, como água 
encanada e bondes a tração animal (1908), energia elé-
trica (1913), serviços de esgoto (1914), rede de telefonia 
(1919) e bondes elétricos (1926). (CAMPOS, 2005, p. 208)
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O implemento de novas tecnologias, na década de 1930, permitiu 
que Aracaju avançasse de forma considerável no tocante ao de-
senvolvimento e à construção de uma rede de transportes, o que a 
aproximou de algumas fronteiras interestaduais. É nesse momen-
to da história da capital sergipana que começamos a verificar in-
dícios substanciais da participação do Beco nesse processo, pois é 
em meados de 1940 que o espaço começa a se caracterizar como 
o maior reduto boêmio da capital, segundo os dados colhidos nas 
obras de alguns memorialistas sergipanos.
O memorialista sergipano Murilo Melins, ao falar das Boates e dos 
Cassinos aracajuanos nas décadas de 1940 e 1950, descreve o inte-
rior do Beco dos Cocos da seguinte maneira:
[...] no Beco dos Cocos, além do Cassino Bela Vista e o 
Dancing Xangai, estava a Pensão de Marieta, a mais ele-
gante e seleta, frequentada por banqueiros, comercian-tes, industriais e rapazes da elite, ali encontravam-se as 
mais caras e bonitas damas da noite. Mulheres da vida, 
mas que devido à descrição [sic] dos seus trajes e da 
maquiagem, frequentavam normalmente o comércio 
das Ruas João Pessoa e Laranjeiras, iam à matinês do 
Rio Branco, Rex e Vitória, confundindo-se com as ma-
dames e senhoritas. Lembramos algumas, que por lá 
passaram. Linda, a mais bonita de todas, Princesinha, 
Verdinha, Fuenga, Tufi bela morena, bem educada e an-
tiga professora, Helena Jabá, Arlete, Maura e a famosa 
Gilda, que possuía o maior número de vestidos, sapa-
tos e joias. Esse apelido foi dado, devido à aparência 
física e porte, com a estrela do cinema americano Rita 
Hayworth, que desempenhou em um filme a persona-
gem Gilda, título do filme. (MELINS, 2007, p. 365)
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Como se depreende dessa citação, o Beco dos Cocos havia se torna-
do uma das principais zonas de meretrício da cidade entre os anos 
1940 e 1950, concentrando uma quantidade significativa de “caba-
rés”. Alguns muito sofisticados, outros com uma decoração particu-
lar e curiosa, como o Xangai, ornamentado com temas orientais. 
Quanto aos atores envolvidos em tal ambiente, muitos dos que de-
veriam restringir sua circulação ao reduto escuso do Beco, a exem-
plo das “mulheres da vida”, travestiam-se de “moralidade”, com 
roupas e maquiagem inspiradas nos trajes usados pelas “pessoas 
de bem”, para conviver, mesmo que apenas nas sessões de cine-
ma, igualitariamente, a ponto de não ser possível diferenciar as 
prostitutas das madames.
Quanto à clientela, o público frequentador daquele reduto não 
se limitava apenas aos trabalhadores braçais e estivadores que 
circulavam pelos arredores do Beco dos Cocos. Os cabarés loca-
lizados no Beco também recebiam comerciantes, banqueiros e 
membros da elite sergipana.
Nesse período, meados dos anos 1940, o Beco dos Cocos passa a 
reunir artistas, intelectuais e pessoas dos mais variados segmentos 
da sociedade em busca de divertimento. Lá foi firmado um comple-
xo integrado de boates e prostíbulos. Os mais conhecidos da cidade, 
além dos que já foram aqui mencionados, ficavam no próprio Beco 
ou ao seu redor – o Miramar, o Night and Day, o Luz Vermelha e o 
Fresca. Entre as motivações para frequentar as boates e os cafés do 
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local, além do interesse sexual, estava também o encontro com ami-
gos, evento muito apreciado e que atraiu para esses ambientes a eli-
te intelectual da cidade, o que corrobora a vocação boêmia do Beco.
Merece anotação especial, entre esses ambientes, o já mencionado 
“Vaticano”. Trata-se de uma construção descomunal para os padrões 
arquitetônicos da cidade, pois o edifício ocupava todo um quarteirão, 
obedecendo sempre ao mesmo estilo na fachada. A intenção dos seus 
proprietários era usar o prédio como ponto comercial e quiçá para resi-
dências. Porém, a sua ocupação atendeu a outros princípios. Tornou-se 
espaço para o funcionamento de um sortido comércio e também serviu 
de moradia para várias pessoas. Foi sob esse aspecto que ele perdeu a 
sua característica inicial, conforme se depreende da citação abaixo:
[...] o Vaticano, “labirinto intricado”, concebido para 
ser o maior prédio de Sergipe, obra invejável, acabou 
tendo a sua imensidão tomada por operários, prosti-
tutas, marinheiros, “índios” e outros. Jogos, prostitui-
ção, bebedeiras, confusões. Tudo isto instalado numa 
região próxima da sede do Governo, zona central da 
cidade. (MAYNARD, 2009, p. 141)
Devido a suas dimensões e seu estilo arquitetônico, recebeu o nome 
do Estado Papal (MELINS, 2007, p. 363). Lá estavam abrigados desde 
comerciantes até prostitutas que ganhavam a vida nas adjacências 
do prédio. Mário Cabral descreve com riqueza a arquitetura do pré-
dio e os tipos que lá habitavam:
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[...] o Vaticano (...) é um monstruoso prédio (...). O Va-
ticano de outrora sem as modificações introduzidas 
posteriormente. Você penetraria um largo pórtico, pór-
tico de museu ou de igreja. E subiria, logo depois, uma 
escadaria imponente. Ao chegar ao primeiro pavimen-
to você estaria perdida, desorientada, em um terrível 
meandro de salas, quartos e corredores, sem saber 
recuar ou prosseguir. Você atravessaria dezenas de sa-
las, dezenas de quartos, dezenas de corredores, você 
subiria e desceria dezenas de pequenas escadas, mas, 
ao fim de ingente esforço, você necessitaria do auxílio 
de um morador no sentido de acertar com a porta da 
saída. Eis o Vaticano, minha amiga. Uma multidão de 
seres reside ali, naquele labirinto intrincado. Operários, 
canoeiros, soldados, prostitutas e marinheiros. Em bai-
xo, no andar térreo, ficam os bilhares, as casas de jogo, 
os bares frequentados pela gente do cais, pelos estiva-
dores e pelos maloqueiros. A cachaça corre com fartura 
e rara noite não sucede um conflito, uma luta corporal, 
luta de “peixeiras” afiadas e reluzentes. Mas, embora, 
no centro da cidade, a ronda policial evita intervir nas 
questões internas do Vaticano. Hoje o Vaticano está 
modificado. O labirinto foi desfeito. Mas, assim mesmo, 
é interessante percorrer as dependências. Você verá o 
Vaticano de Aracaju. Lá não há luxo e esplendor, mas 
sujeira e miséria. Os ratos, enormes, nojentos e agres-
sivos, também são donos do velho casarão. Assim é o 
Vaticano da minha terra. (CABRAL, 2002, p. 132)
O Vaticano de Aracaju funcionou durante um período como uma es-
pécie de antítese à ordem moral que vigorava na sociedade araca-
juana. Batizar como Vaticano um prédio que abrigava famílias po-
bres, operários das fábricas de tecido próximas ao centro da cidade, 
mas que também recebia prostitutas e contraventores, é algo, no 
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mínimo, curioso. Não acreditamos que o idealizador dessa obra, ao 
elaborar o projeto do edifício, tenha tido a intenção de associá-lo a 
uma edificação religiosa. Se houve alguma inspiração, acreditamos 
que ela tenha ocorrido de forma inconsciente, mas, se a edificação 
foi assim denominada, pode ter sido por pura chacota e ironia por 
parte dos moradores e transeuntes da região.
Segundo o historiador e jornalista Luiz Antônio Barreto, o centro da 
cidade “concentrava os navios e todos os tipos de embarcações, os 
trens, os caminhões que abasteciam o Mercado, as marinetes, sendo 
por isso mesmo área preferencial dos boêmios, notívagos” (BARRE-
TO, 2005, on-line). Devido a isso, essa região se consagrou por rece-
ber “os cabarés e zonas de meretrício, que ganharam fama ao longo 
da história da cidade, marcando território para a boemia” (BARRE-
TO, 2005, on-line).
Além do entretenimento adulto, a região investigada também se orga-
niza em torno de outras atividades econômicas, dentre elas, prostíbu-
los e cassinos. Lá era possível encontrar também algumas “funilarias, 
vendedores de cordas, fumo de rolo, querosene, fifós e os concorridos 
‘bumbas’ que vendiam os vinhos de jenipapo, murici e jurubeba do 
‘burril’ e ‘as cachaças de Zé Manequim’” (MELINS, 2007, p. 352).
Pouco a pouco, acompanhando as transformações da cidade, o 
Beco dos Cocos, que antes fora um ponto de escoamento da produ-
ção de cocos do município e onde se localizavam muitos dos mais 
afamados prostíbulos de Aracaju, inclusive pelo grau de sofisticação 
e luxo, passou a funcionar como um ponto de comércio em franca 
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decadência. Nesse particular, não se aponta um acontecimento es-
pecífico responsável pela decadência do Beco; sua trajetória, na ver-
dade, foi acompanhando as mudanças e contradições da cidade, a 
ponto de, conforme relatam os comerciantes que ainda atuam na 
área, esse local ter sido excluído dasações públicas, deixando de ser 
uma preocupação das autoridades locais. 
Mesmo com todas as evidências históricas da sua importância, o 
Beco dos Cocos não está incluso no complexo que corresponde ao 
Centro Histórico de Aracaju tombado pelo Patrimônio Histórico Es-
tadual e não participou de uma reforma considerável ocorrida no 
seu entorno no final dos anos 1990. A área que foi restaurada por 
meio de investimentos subsidiados pelo Banco do Nordeste (BNB) 
através do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste I 
(PRODETUR/NE) só atingiu o Mercado Municipal, conforme a seguin-
te distribuição: restauração do Mercado Antonio Franco (5.500mm²) 
e Mercado Thalles Ferraz (3.600 m²). Reurbanização e paisagismo 
dos largos Misael Mendonça e Manoel M. Cardoso (2.400 m² cada) no 
valor de U$ 2.174.754,76; e a área do Centro Histórico de Sergipe: Re-
forma /ampliação calçadas e rede de micro-drenagem (40.000 m².). 
Reforma balaustrada Rio Sergipe (1.150 m), iluminação pública, mo-
biliário urbano e arborização (33,34,35), no valor de U$ 2.196.640,46.
Tais reformas apresentaram e geraram melhorias para os Mercados, 
o que atraiu uma clientela de maior poder aquisitivo para a região, 
fato que fomentou a consolidação do centro de Aracaju como a maior 
zona de comércio estadual. Entretanto, o Poder Público optou pela 
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não inclusão do Beco – uma das principais rotas de acesso aos Mer-
cados – nesse processo de revitalização. As melhorias na estrutura, 
na higiene, dentre outros, permitiram que os Mercados Centrais se 
formalizassem também como ponto de atração turística da capital 
sergipana. Por outro lado, os mesmos investimentos públicos e pri-
vados não aportaram no Beco, que passou a concentrar “problemas 
sociais”, principalmente à noite: a presença de mendigos, prostitu-
tas, viciados em drogas etc.
Portanto, assim podemos resumir a história do Beco: de um sim-
ples local de passagem de cargas a um reduto boêmio, endereço 
de famosos cabarés, conhecido como uma das maiores zonas de 
prostituição e tráfico de entorpecentes da capital sergipana, a qua-
se um banheiro a céu aberto.
CONCLUSÃO
São diversas as formas que nos levam a conhecer e a compreender 
uma cidade. Aqui, optamos pelo viés apresentado pelo beco, mais 
especificamente o Beco dos Cocos. Através da leitura dessa peque-
na ruela à luz do processo histórico de Aracaju, buscamos desvendar 
alguns traços da complexidade da cidade presente nesse espaço. 
Para nós, é interessante pensar como em uma cidade que sempre 
enfatizou os traços de sua modernidade, tanto nos discursos quanto 
na exploração de imagens que remetem ao modelo de primeira ca-
pital projetada do país, poderia existir um beco que representava o 
contrário, o obsoleto, o antiquado.
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É sobre a desordem do traçado proposto por Pirro que nossas hipóte-
ses foram construídas, como a necessidade de atenção sobre os espa-
ços marginalizados de Aracaju, que tem no Beco dos Cocos o seu epi-
centro. É intrigante, na rememoração da história do Beco, identificar a 
virada sofrida pelo local, que passou a ser marginalizado, abandonan-
do a imagem romântica e idealizada – que coletamos na fala de alguns 
memorialistas sergipanos – para se tornar um verdadeiro problema.
Concluímos que a existência de um beco repleto de prostíbulos não 
coadunava com ideia de modernidade que Aracaju buscava desde 
a sua inauguração. E a melhor alternativa para a edificação de uma 
cidade futurista seria apagar as marcas da história que a relacionas-
sem a um passado de “libertinagem”. Tanto que, seguindo o exem-
plo de outras cidades, o Beco dos Cocos teve a sua nomenclatura 
alterada para travessa em meados dos anos 1940, quando passou 
a ser chamado de Travessa Silva Ribeiro, em homenagem a um rico 
comerciante da época, patrocinador da Academia Sergipana de 
Letras (ASL). Claro que esse esforço não foi suficiente para apagar 
da memória dos habitantes da cidade o passado relevante do local 
nem para a conivência da população com o novo nome, já que ele 
continua conhecido e aludido pela antiga referência.
Não identificamos com exatidão o momento em que Beco entra em 
declínio total. Acreditamos que esse processo esteve atrelado ao 
sucateamento do Centro Histórico, o qual o segmentou em dois po-
los, o sul, com o comércio voltado para artefatos de luxo, e o norte, 
onde o Beco está localizado, voltado para o comércio informal, com 
a presença de vendedores ambulantes e prostitutas.
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Mesmo quando houve a revitalização do centro comercial de Araca-
ju, no final da década de 1990, o Beco dos Cocos não foi agraciado 
com as reformas. O local continuou a servir como um sanitário a céu 
aberto, para evoluir até hoje, ano de 2019, para uma das maiores zo-
nas de tráfico de entorpecentes da capital, segundo a Secretaria de 
Segurança Pública do Estado de Sergipe.
A última intervenção ocorrida no Beco aconteceu no ano de 2009, 
e parece ter se constituído apenas numa maquiagem, já que não 
buscou cuidar dos problemas estruturais do complexo. Ou seja, não 
houve nenhuma intervenção patrimonial que buscasse restaurar os 
edifícios históricos presentes no Beco. As paredes foram grafitadas 
de forma aleatória, sem nenhum esquema prévio.
Este trabalho buscou na sua essência não encontrar conclusões en-
gessadas sobre a história do Beco dos Cocos, concomitante à edi-
ficação da suposta primeira capital planejada do Brasil, mas, sim, 
apontar alguns passos que nos levem a compreender os processos 
de interação social, históricos etc., ocorridos em uma cidade a partir 
de suas zonas estigmatizadas. O que aqui fizemos foi implementar 
algumas discussões sobre as possíveis mudanças ocorridas no ima-
ginário urbano, incluindo todos os elementos que o compõem. 
Ou seja, buscamos resgatar o sentido que a interação com o beco 
tem para cada indivíduo que o consome de alguma forma – um 
transeunte usando-o como rota de passagem, um comerciante, 
adquirindo o seu sustento diário. Para nós, o estudo do beco é 
capaz de elucidar alguns desses questionamentos, fazendo-nos 
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compreender, além da personificação real das transformações e 
dos usos do nosso objeto, o modo como essas mudanças influen-
ciam na organização da cidade.
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O QUE ACONTECE EMBAIXO DA PONTE? 
JUVENTUDES E OCUPAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS
Renata de Mello Cerqueira Pereira1
INTRODUÇÃO
O crescimento da cidade de Aracaju proporciona questionamentos 
acerca da ocupação dos espaços urbanos. No histórico da cidade, e 
no caso desta pesquisa2, é no bairro Industrial que surge o ponto de 
partida para o estudo do espaço cultural criado após a construção da 
ponte que liga a capital Aracaju ao município Barra dos Coqueiros. 
Mediante uma etnografia feita através de observação participante, 
entrevistas e questionários, foram colhidas informações relevantes 
a respeito do grupo “Sintonia Periférica”, um dos grupos que, em 
manifestação artística e política, ocupa o espaço embaixo da ponte 
com atividades que envolvem o movimento hip-hop. 
Tal pesquisa teve como principal objetivo observar e analisar a 
forma como os jovens dessa localidade vêm ocupando e transfor-
mando o espaço, e as relações entre as intervenções artísticas e a 
1 Antropóloga. Doutoranda em Artes pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
2 Realizada entre os anos de 2014 e 2016 durante o mestrado em Antropologia Social pela 
Universidade Federal de Sergipe.
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reurbanização e o crescimento da cidade. Perceber a dimensão das 
relações e seus modos de ação consequentes da reestruturação ur-
bana demonstra as várias maneiras possíveis de novas formas de 
organização social e estrutural da cidade. Assim, pretendemos con-
tribuir com a construção de conhecimentos não somente para área 
acadêmica, mas também para a administração pública e para a co-
munidade em geral, pois ações como essas são respostas diárias à 
maneira como a cidade vem sendo ordenada e às suas consequên-
cias na vida cotidiana de seus moradores.
PERCORRENDO A CIDADE
Os citadinos desenvolvem capacidades criativas para se integrar às 
realidades em que vivem; acham brechas na organização social e 
transformam problemáticas urbanas em atitudes revolucionárias. 
Transitam, elaboram estratégias, criam e recriam em cima das ne-
cessidades de sobrevivência e das vontades de viver da melhor for-
ma possível dentro da cidade. 
Aracaju, capital do estado de Sergipe, é uma cidade relativamente 
nova, que cresce rapidamente. Em seus últimos dez anos, passou 
por modificações espaciais significativas: novas construções, refor-
mulações no trânsito, revitalizações, reurbanizações, reformas in-
tensas em prol da modernização e da inovação da malha urbana.
Em minhas andanças pela cidade, sobretudo nas idas ao centro, per-
cebi a quantidade de casas antigas e abandonadas e o número redu-
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zido de residentes onde já foi um dos lugares mais bem localizados 
para moradia. Percebi os movimentos variados do dia e da noite, 
as sutilezas dos usos, a representatividade dos lugares e pude, tam-
bém, ressignificar minhas impressões em relação à cidade.
A mudança do olhar sobre os espaços e sobre as relações dos habi-
tantes com eles me fez rememorar experiências vividas em lugares 
diferentes da cidade, os diferentes bairros em cada fase de minha 
vida. Os caminhos percorridos entre mudanças e transformações, re-
conhecendo e reinventando não só os lugares onde morei, mas ou-
tros por onde andei, despertaram-me sobre como as transformações 
da cidade criam possibilidades de relação com os espaços, geram 
significados, sentimentos e mudanças em nosso comportamento.
Os questionamentos acerca das consequências das mudanças no es-
paço urbano se deram através das experiências que desenvolvi como 
artista. A vontade de usar os espaços urbanos como palco me impul-
sionou a perceber os diferentes usos possíveis para a cidade. Através 
da arte, pude encontrar pontos onde aconteciam movimentações ar-
tísticas que utilizavam o espaço público, e percebi em outras pessoas 
e em outras partes da cidade a mesma vontade que pulsava em mim. 
Foi assim que o espaço embaixo da ponte Aracaju-Barra, situado no 
bairro Industrial, zona norte de Aracaju, apareceu nessas minhas ca-
minhadas. A estética do lugar, a imponência da ponte e sua locali-
zação geraram indagações sobre a relação entre os moradores da 
região e esse espaço que se abriu após sua construção. Foi lá que 
conheci o evento chamado Sintonia Periférica, que utilizei como 
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objeto de estudo para tecer considerações sobre relações de res-
significações dos espaços. O evento acontece embaixo da ponte e 
tem como proposta a conscientização política das juventudes das 
periferias de Aracaju. Busca, através da arte, levar conhecimento e, 
também, discutir temáticas que envolvem as realidades dos jovens 
em suas comunidades, por meio de palestras, shows de rap, reggae, 
exposição de documentários, discotecagem, poesia, dança, grafite e 
variadas atividades inseridas na cultura hip-hop, que abrem espaço 
para exposições das produções artísticas dos participantes.
O espaço e a manifestação cultural demonstraram uma íntima rela-
ção com o modo de arrumação da cidade. As revitalizações e a reur-
banização no bairro apresentaram influências diretas na maneira 
como a comunidade se relaciona com os espaços transformados. 
Isso demonstra a necessidade de entender, através desses proces-
sos, a relação do crescimento da cidade com as manifestações so-
ciais que ocupam os espaços e seus usos cotidianos. 
No livro Roteiro de Aracaju, Mário Cabral lança seu olhar para as 
pontes da cidade. O autor fala de outras pontes, mas com o mesmo 
olhar sensível às manifestações artísticas embaixo delas: 
Quero falar [...] das pontes pobres e tôscas, mas que tem 
vida própria. Se for noite de lua você ouvirá, de cima do cáis, 
na Avenida Rio Branco, uma canção plena de nostalgia, uma 
canção que falará de amor e de morte. Você pensará, tal-
vez, que aquela música venha do fundo da terra ou do fun-
do do mar. Na verdade a música virá dos maloqueiros. Virá 
de debaixo das pontes da Cidade de Aracaju, dôce música 
dos infelizes, dos que não têm nada na sociedade, mas que 
parecem ser donos da região, donos das feiras, donos do 
mar, donos da capital sergipana. (CABRAL, 1948, p. 119-120)
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Nesta pesquisa, tratamos especificamente da ponte Construtor João 
Alves. Com 1,8 km de extensão e localizada no bairro Industrial, liga 
a capital sergipana à cidade Barra dos Coqueiros. Os dois municípios 
são separados pelo rio Sergipe; à margem direita, situa-se Aracaju e, 
à esquerda, o município Barra dos Coqueiros. Com a dificuldade de 
deslocamento apresentada pela presença do rio entre as duas cida-
des e, principalmente, pelo fato de a Barra dos Coqueiros possuir um 
porto marítimo desde 1985, por muitos anos e por muitas administra-
ções municipais, cogitou-se a possibilidade de construção da ponte 
para facilitar o transporte de mercadorias entre o porto e a capital e, 
também, o acesso a outros municípios do litoral sul do estado. 
O bairro Industrial, como é conhecido desde a chegada das fábricas 
de tecido na cidade em 1884, possui uma população de 18.007 habi-
tantes, com uma área de 1.7097 km², a maior parte dela constituída 
por indivíduos com idade entre 15 a 64 anos3. Situado ao norte da 
cidade, divide suas limitações territoriais ao sul com o bairro Centro, 
ao norte com o bairro Porto Dantas, a oeste com o bairro Santo An-
tônio, e a lestecom o rio Sergipe. Esse bairro traz consigo uma vasta 
e importante bagagem histórico-cultural, e é diante dessas caracte-
rísticas que a investigação se conduziu.
“Entre o sopé da colina e o rio Sergipe encontravam-se uma faixa de 
manguezal e outra habitada por esparsas moradias”4 (SANTOS et al, 
3 Disponível em: http://www.populacao.net.br/. Acesso em: 26 abr. 2019.
4 Relatório escrito por múltiplos autores para uma matéria de graduação em Geografia da 
Universidade Federal de Sergipe. Disponível em http://cadernoestudante.blogspot.com.
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2011), principalmente ocupadas por pescadores, o Maçaranduba, 
como era conhecida a região que crescia após a mudança da capi-
tal, de São Cristóvão para Aracaju, em 1855, e onde hoje se localiza o 
bairro Industrial. Essa extensão era zona de escoamento açucareiro, 
já que era o lugar mais próximo do oceano, pelo rio Sergipe. Um 
ano antes da mudança definitiva da capital para a praia do Aracaju, 
o Presidente da província Inácio Barbosa transferiu a sede dos Cor-
reios e instalou uma subdelegacia na região, fazendo-se necessário 
aterrar uma via – onde hoje é a Av. João Ribeiro – para facilitar o des-
locamento na nova capital. Ante a essa situação, outras habitações, 
becos e ruelas foram surgindo na região (GRAÇA, 2005, p. 28-30).
Desde a confirmação de Aracaju como nova capital e a construção 
do Centro da cidade, o bairro Industrial ficou fora do projeto urbano, 
fora do “Quadrado de Pirro”, tal como ficou conhecido o trabalho 
feito pelo engenheiro Sebastião Basílio Pirro, que idealizou o centro, 
da cidade de Aracaju fazendo alusão a um tabuleiro de xadrez. O 
bairro Industrial parecia já ter seus limites e fronteiras delimitados 
física e socialmente desde a fundação da capital. No decorrer de seu 
desenvolvimento, o Centro se fortaleceu como núcleo político admi-
nistrativo da cidade e o bairro mais uma vez mudou de nome, fican-
do conhecido, na década de cinquenta, como Chica Chaves – “uma 
simpática mulata” muito querida pelos moradores da região. Não se 
sabe ao certo sobre a existência dessa personagem, há somente um 
registro bibliográfico no livro Diário de Chica Chaves, de Nobre La-
cerda, obra de ficção da literatura Sergipana (GRAÇA, 2005, p. 153). 
br/2011/02/relatoriobairro-industrial.html . Acesso em: 01 mai. 2019.
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Transformações intensas e significativas, sobretudo para a econo-
mia da cidade, ocorreram com a chegada das fábricas de tecido a 
essa região. A Sergipe Industrial e a Fábrica de Fiação e Tecelagem 
Confiança foram indústrias que desempenharam papéis importan-
tes na configuração do bairro. Thales Ferraz, um dos administrado-
res da Sergipe Industrial, teve uma significativa distinção na história 
local, pois foi idealizador e criador de uma área de cultura e lazer 
para os operários das fábricas. O Parque Sergipe Industrial foi o pri-
meiro complexo cultural da cidade, nele, além de quadras de espor-
tes, havia cinema, teatro, palco para apresentações musicais, entre 
outras atividades disponibilizadas para os operários (GRAÇA, 2005).
A fábrica de tecidos Confiança também interferiu no desenvolvi-
mento urbano do bairro, construindo casas populares para abri-
gar os operários. Assim surgiu a Vila Operária. Com a iniciativa 
de Sabino Ribeiro, proprietário da fábrica, também foram criadas 
uma policlínica, creches e escolas, além da bastante conhecida 
agremiação de futebol, a Associação Desportiva Confiança, que 
perdura até hoje como uma das mais importantes instituições es-
portivas do estado (GRAÇA, 2005).
Por muitos anos, os trabalhadores das fábricas constituíram a popu-
lação do então bairro Industrial de Aracaju; por mais de cinco déca-
das, essa foi a característica social, econômica e espacial do lugar. 
Entre os anos de 1970 e 80, houve um grande aumento de constru-
ções de conjuntos habitacionais, o que gerou um crescimento da po-
pulação do bairro e modificações em suas dinâmicas sociais. Outro 
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fator de agitação foi a ida de grandes empresas para esse distrito, 
como a Construtora Celi e a Viação Halley, e o aparecimento de em-
presas locais de médio porte, como a Casa do Panificador e a Distri-
buidora de bebidas Raimundo Juliano, que também incentivaram o 
desenvolvimento econômico do bairro (GRAÇA, 2005, p. 61-68).
Na década de 80 surgem novos loteamentos nas proximidades de 
“São Sebastião, Novo Paraíso, o conjunto habitacional João Pau-
lo II construído para abrigar os moradores da favela do Bonfim” 
(GRAÇA, 2005, p. 55). Outras habitações também foram construí-
das nas redondezas, incentivadas pela COHAB-SE (Companhia de 
Habitação Popular de Sergipe). Os espaços vazios aos poucos fo-
ram sendo ocupados, e o bairro se ampliando e modificando junto 
com suas características sociais.
Em 2001, uma obra de revitalização da Orlinha estimulou outro setor 
de desenvolvimento da localidade, o turismo. A revitalização teve 
como objetivo torná-la mais um cartão postal da cidade, salientar 
as memórias do bairro impulsionando uma conexão com o passado, 
incentivar a apreciação das belezas natural e cultural do lugar, além 
de melhorar as instalações, calçadas, bares e os acessos às ruas, tor-
nando a região mais atrativa. Na apresentação do livro da professora 
Tereza Cristina da Graça, o ex-governador Marcelo Deda – na época 
das obras, o então prefeito e idealizador do projeto – faz de maneira 
emotiva um convite à população para conhecer a “Nova orlinha”:
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Venha conosco. Sente-se num desses banquinhos da 
Nova Orlinha e abra seu livro. Você desfrutará de uma 
agradável viagem ao passado, onde poderá conversar 
com Chica Chaves no alpendre do Maçaranduba, tomar 
um bonde e visitar as fábricas [...] compartilhando os 
sofrimentos e as alegrias dos operários. Dê uma passa-
dinha na Feirinha do Tecido, experimente uma cocada, 
mas cuidado com o anel de ouro que o “turco” lhe ofe-
recer! Pegue uma tocha e acompanhe o 1°de Maio de 
1911 ou suba no carro alegórico do Bloco Papai saco-
de. [...] Converse com um pescador e acerte sua canoa 
para acompanhar a Festa de Bom Jesus dos Navegan-
tes. Pegue na mão de Dona Finha e assista a uma par-
tida de futebol no campo do Confiança. [...] São tantas 
pessoas e lugares para visitar... Pare um pouco, e res-
pire esse ar gostoso e contemple orgulhoso esse novo 
lugar, um velho e amado lugar que ficou novo e mais 
bonito para todos! (GRAÇA, 2005, p. 11)
As “modernizações” desencadearam alterações de hábitos; os bares 
à beira-rio ganharam estruturas maiores e com mais espaço; foram 
construídos quiosques, quadras, um centro de artesanato. Uma re-
novação aparente e funcional, que transformou o cotidiano de quem 
morava e andava por ali e de toda a cidade.
O bairro continuou a passar por constantes modificações estrutu-
rais, como uma nova revitalização, a “Segunda etapa da orlinha”, 
que iniciou em 20155 e foi entregue à população em 20166. Também 
5 Dado retirado do site do Governo de Sergipe. Disponível em: http://www.agencia.se.gov.
br/noticias/governo/especial-aracaju-zona-norte-da-capital-tera-nova-paisagem. Acesso 
em: 01 mai. 2019.
6 Dado retirado do site da Secretaria de Infraestrutura e Urbanização de Sergipe. Disponível 
em: http://www.seinfra.se.gov.br/index.php?pag=8&id=2&cod=372. Acesso em: 01 mai. 2019.
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em 2015, o prédio da antiga fábrica Sergipe Industrial foi demolido 
para dar lugar a um shopping. Um fato curioso foi que a população 
em geral não se chocou com a demolição completa da fábrica, pou-
cos enxergavam a importância da construção antiga como patrimô-
niohistórico e cultural. Entretanto, a possibilidade de demolição da 
capela da Paróquia São Pedro Pescador, que existia dentro das ins-
talações da fábrica, gerou mobilização de muitos moradores, que 
prontamente fizeram um abaixo assinado para que se mantivesse a 
pequena igreja dentro do shopping. As obras do novo ponto comer-
cial no bairro foram iniciadas no mesmo ano e a capela foi incorpo-
rada à planta por manter o seu valor simbólico-religioso e atender 
as reivindicações da população do bairro7. Através dessas modifica-
ções, pude ver como o bairro e, consequentemente, a cidade vem 
interagindo com os sujeitos que nela vivem, como os indivíduos a 
enxergam, o que esperam e o que devolvem para ela.
EMBAIXO DA PONTE
Andando pela orlinha ou seguindo pela avenida paralela, é possível 
chegar à parte debaixo da ponte. O espaço hoje é limitado por duas 
ruas em suas laterais, ambas com o nome Sabino Ribeiro. Da rua nor-
te, bifurcam-se três ruas sem saída, e perpendiculares a elas, do lado 
sul, existe um grande muro da instalação da indústria têxtil Santa 
Mônica, repleta de grafite em toda sua extensão. A leste, passa a ave-
7 Informação retirada da Revista Rever. Disponível em: https://reveronline.com/2015/01/26/
bairro-industrial-de-aracaju-e-o-conflito-entre-a-historia-e-o-desenvolvimento/.
Acesso em: 01 mai. 2019.
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nida da orlinha, Av. General Calazans, que recentemente foi ampliada, 
e a oeste, a Av. João Rodrigues. As vias se dispõem de tal maneira que 
se forma um grande canteiro retangular no meio, exatamente embai-
xo da rampa de saída e chegada da ponte na parte de Aracaju. Nesse 
lugar foram construídos uma quadra, um espaço com mesas de jogos 
de tabuleiro, um espaço para apresentações artísticas com uma ar-
quibancada e um palco, uma pista de skate e um ringue de boxe. 
Essa estrutura fez parte do projeto do governo do estado inaugura-
do em 2011, o “Complexo Esportivo Dona Finha”, que fica no lado 
norte do canteiro. Na época da pesquisa, o complexo tinha como 
coordenador o ex-pugilista Valter Duarte, do projeto social Punhos 
de Ouro8. Em todas as idas a campo, só presenciei o funcionamento 
do centro em parceria com o projeto Academia da Cidade, da pre-
feitura de Aracaju, cujo foco é organizar atividades físicas supervi-
sionadas para a terceira idade e que tem o bairro Industrial como 
polo da região norte da cidade. O centro também possui controle da 
iluminação elétrica embaixo da ponte, que nem sempre fica ligada 
por completo, apenas quando solicitado formalmente por meio de 
ofício para eventos programados no local. 
No entorno desse canteiro, no lado oposto ao muro com as artes 
urbanas, há algumas casas (principalmente nas três ruas perpendi-
culares), o centro de esportes e um pequeno prédio chamado Re-
8 Dado retirado do Site da Punhos de Ouro. Disponível em: http://punhosdeouro.blogspot.
com.br/. Acesso em: 01 mai. 2019.
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sidencial Jardim Confiança, que foi construído para hospedar os 
engenheiros na época da construção da ponte, segundo os atuais 
moradores. Há controvérsias sobre a forma de ocupação atual, mas 
algumas famílias se empilham nas pequenas quitinetes, pratica-
mente embaixo da ponte. Os moradores desse condomínio são de 
grande importância para as atividades do evento Sintonia Periférica, 
pois são eles que forneciam energia para ligação da aparelhagem de 
som da maioria dos eventos que acompanhei.
O lugar tem características peculiares sob as estruturas grandiosas 
da ponte. Nele, aparecem pinturas e “pixações”9 indecifráveis – uma 
linguagem que sobressai das superfícies dos muros e parece tomar 
vida ali embaixo. O que para alguns pode parecer uma poluição 
visual, para outros, é uma maneira de se comunicar. “Acredita-se, 
porém, que o pichador não tem como objetivo poluir visualmente 
a cidade quando marca os muros, e, sim, afirmar sua presença em 
uma disputa privada por visibilidade de uma tribo urbana” (SPINEL-
LI, 2007, on-line). As tintas “coloridas das paredes podem desvendar 
informações sobre a memória da cidade e a vida social que passou 
9 Preferi usar a grafia “pixação” por possuir uma maior representatividade no movimento 
de arte urbana brasileiro, que vai além do significado básico da palavra escrita corretamen-
te e encontrado nos dicionários, e possui características diferentes do Graffiti. Segundo o 
dicionário Michaelis, Pichação: s.f. ato ou efeito de untar com piche; pichamento. A maneira 
informal de escrever pichação vem do movimento do “Pixo” na cidade de São Paulo, que 
consiste em aplicar escritas nos muros. Para melhor entender o movimento do Pixo em São 
Paulo e no Brasil, recomenda-se assistir ao documentário “PIXO”. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=skGyFowTzew. Acesso em: 01 mai. 2019.
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por ali” (SPINELLI, 2007, on-line). Esse cenário se constrói e modifica 
-se a cada dia, as cores e as formas são expressão da variedade dos 
usos e de indivíduos que juntos dão sentido ao lugar. 
O espaço parece ser um lugar que traz liberdade para seus frequen-
tadores. Há uma concessão informal relativa aos horários e aos usos 
pelos diferentes grupos de usuários. Pela manhã, logo cedo, ocorre 
a atividade da Academia da Cidade; no início da tarde, as crianças 
tomam conta do ambiente conjuntamente com alguns skatistas; no 
final da tarde, quando as crianças começam a ir para casa e mais 
uma turma da Academia da Cidade vem fazer aula de ginástica, che-
gam os adolescentes para fazer uso da maconha e conversar. Essas 
práticas habituais se contrapõem frente ao dia a dia das obrigações 
com a escola ou com o trabalho e proporcionam variadas formas de 
lazer e de utilização do lugar.
Dessa relação micro com o espaço embaixo da ponte, pude identi-
ficar uma relação maior ainda com a cidade, suas fronteiras e suas 
construções cheias de significados e representações. Foi por meio 
da observação das expressões estéticas associadas às situações co-
tidianas que vi aflorar a vida da cidade sob uma perspectiva subjeti-
va e sentimental daqueles que fazem uso do lugar.
Minhas visitas iniciais ao local me transformam diretamente como 
indivíduo. A escolha desse objeto se deu, inicialmente, pelo distan-
ciamento daquela realidade, mas estar lá me mostrou quão inserida 
eu me sentia, o quanto as expressões me estimulavam criativa e po-
liticamente como artista e pesquisadora. 
46/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS LUCIANA CHIANCA E ULISSES NEVES RAFAEL
Nesse espaço comum, cotidianamente trilhado, vão 
sendo construídas coletivamente as fronteiras simbó-
licas que separam, aproximam, nivelam hierarquizam 
ou, em uma palavra, ordenam as categorias e os grupos 
sociais nas suas mútuas relações. Por esse processo, 
ruas, praças e monumentos transformam-se em supor-
tes físicos de significados compartilhadas. Penso que 
lugares sociais assim construídos não estão simples-
mente justapostos uns aos outros como se fossem um 
grande mosaico. A meu ver, sobrepõem-se e, entrecru-
zando-se de um modo complexo, formam zonas simbó-
licas de transição[...]. (ARANTES, 1994, p. 191)
Espaços de transição, zona liminares, onde os indivíduos e o espaço 
interagem e criam conexões. Romper a linha simbólica “zona sul/
zona norte” com a qual eu convivi por anos me colocou em contato 
com a minha própria cidade. Percebi que fui aos poucos estabele-
cendo novas relações, com outras pessoas e com o espaço.
A paisagem da ponte vista de longe do bairro Industrial chama a 
atenção pela imponência, mas quando se chega perto dela surge 
uma sensação de discordância com o resto do ambiente. O antago-
nismo dos pilares de sustentação da ponte entra em conflito visual 
com a arquitetura das outras construções do entorno,como se em 
algum momento tivessem aberto um buraco no bairro e a encaixa-
do, ficando nítida a discrepância entre um “antigo” e um “novo”, en-
tre o que estava ali e o que não está mais. 
Em uma das visitas ao campo, circulei pela orlinha, fiz um lanche em 
um dos restaurantes à beira do rio e percebi que havia muitas pessoas 
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na porta de um galpão com um letreiro grande escrito “Alma Viva”, 
que – só em outro momento tive conhecimento – é uma empresa 
de telemarketing. Muitos carros e motos, um fluxo grande de gente 
saindo e entrando; eu não fazia ideia de que essa empresa era tão 
movimentada e que se localizava lá no entorno da ponte. Durante 
todo meu processo de trabalho, não percebi nenhuma interação das 
pessoas que trabalhavam nessa empresa com o ambiente da ponte. 
Noutro dia, sentada no bar chamado Iemanjá, que fica bem no fim 
da orla e no início do canteiro central embaixo da ponte, pude ver 
o que acontecia embaixo dela, em um horário diferente do que eu 
costumava passar. Nos primeiros dias, percebi que poucas pessoas 
circulavam no espaço à noite – lembrava uma praça pouco ilumina-
da e quase sem movimento, só a luz da parte leste da ponte estava 
ligada para clarear a avenida que dá seguimento à orla. A fraca lumi-
nosidade parecia intimidar mais ainda a ida ao lugar. 
Em outro momento, sentada no ringue de boxe com uns amigos, co-
nhecemos “Carequinha”, vestido somente com uma bermuda, des-
calço e aparentemente andando sem direção. Quando nos viu, logo 
puxou uma brincadeira: ele cantava uma música e nós continuáva-
mos. Cantou algumas canções e contou sobre ser bastante “famoso” 
na redondeza; disse-nos que se apresentava toda semana no bar O 
Sapatão, um dos bares mais conhecidos do bairro e que estava fe-
chado há alguns anos. Por não ter mais onde cantar, ele cantava na 
rua para as pessoas. Após algumas canções, saiu em direção à orla. 
Não o encontrei novamente em minhas visitas a campo e nunca sou-
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be se ele era de fato uma figura conhecida no bairro ou se aquele en-
contro casual o proporcionou a apresentação de suas experiências.
O que essas experiências em campo fizeram perceber é que em Ara-
caju as transformações são em prol da cidade como entidade maior, 
colocada à frente das pessoas. É mais importante a estrutura físi-
ca com boa qualidade e exuberância do que funcionalidade para a 
população. Tudo sem muita cautela com as dinâmicas sociais, com 
a história ou com a questão ambiental. Acredito que tais circuns-
tâncias não sejam exclusividade da capital aracajuana e, sim, uma 
característica constante diante do modelo de organização pública, 
estrutural e do sistema político do qual fazemos parte. 
Através das entrevistas, pude perceber que o grupo Família Milgrau, 
organizador do evento Sintonia Periférica, já atuava com manifes-
tações desse caráter antes mesmo da explosão de atividades desse 
tipo em outras partes da cidade. Acredito que o meu desconheci-
mento se dava principalmente pelas fronteiras socioeconômicas e 
culturais demarcadas pela organização social. Percebi que certas 
localidades, como o bairro pesquisado, já realizavam atividades de 
lazer e festas em suas proximidades, em razão, principalmente, da 
falta de políticas públicas que abarcassem a diversidade dos estilos 
musicais e das dinâmica das festas, que são diferentes em outros 
locais da cidade tidos como mais “nobres”, onde prevalece a cultura 
de massa legitimada pela mídia.
Apesar de não ser considerada um grande centro urbano, Aracaju apre-
senta as seguintes características, descritas por Magnani (1998, p. 29-30):
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as populações dos bairros da periferia dos grandes 
centros urbanos são em sua maioria constituídas por 
trabalhadores de baixa renda, de origem rural recente 
ou remota, inseridos de diferentes maneiras no apa-
relho produtivo capitalista, sujeitos à ação dos media 
– membros, enfim de uma sociedade complexa, nela 
ocupando, não sem conflitos, os últimos escalões da 
estratificação social. 
A ocupação de espaços públicos como lugar para apresentações artís-
ticas tem sido uma saída, principalmente para alguns estilos culturais 
alternativos que não acham espaços favoráveis para suas apresenta-
ções em locais privados. Essas ocupações são, também, uma posição 
política em relação à maneira como a cidade vem reorganizando seus 
espaços de sociabilização e cultura, especificamente as festas.
Durante minhas visitas a outros eventos, pude perceber que a prin-
cipal diferença entre eles – os eventos de ocupação de espaço pú-
blico na periferia e os eventos da classe média – é a escolha do lu-
gar na cidade. Ambos parecem ter total consciência política sobre 
a ação de interagir com o espaço público; ao menos aqueles que 
organizam têm essa proposta de manifestar seu posicionamen-
to com relação às mudanças da cidade e, consequentemente, as 
mudanças das relações sociais. As escolhas feitas pelos grupos da 
periferia que atuam através de manifestações como o Sintonia Pe-
riférica prezam por um ponto de encontro acessível para a maioria 
das pessoas que participam, normalmente as praças do bairro. Já 
os grupos de classe média escolhem lugares representativos his-
toricamente ou lugares turísticos, como a Orla da cidade, a praça 
Fausto Cardoso, o Viaduto do DIA - Distrito Industrial de Aracaju.
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Em dados colhidos nas entrevistas, chamou atenção o fato de que 
nenhum dos jovens que participou assiduamente das atividades 
embaixo da ponte possuía ensino superior completo, mesmo ten-
do idade suficiente para a sua conclusão. Somente sete deles es-
tavam cursando o ensino superior e a maioria continua no ensino 
fundamental, o que comprova a dificuldade no acesso a espaços 
institucionais de escolarização. “O sistema escolar contribui para 
reproduzir os privilégios dentro da sociedade, manipula aspirações 
e modifica a qualidade social daqueles que detêm a titulação ge-
rando expectativas diante do futuro” (BOURDIEU, 1983, p. 112-121). 
É visível a diferença no grau de escolaridade entre os participantes/
organizadores dos eventos na periferia e os dos eventos em locais 
mais frequentados pela classe média da cidade, confirmando a tese 
de Bourdieu sobre os privilégios sociais da educação.
CONCLUSÃO
O crescimento das cidades vem causando uma separação espacial 
entre seus habitantes e mudando o caráter das relações interpessoais 
e dos indivíduos com as instituições sociais, gerando alterações de 
comportamento na sociedade contemporânea. As juventudes vêm 
desenvolvendo maneiras de acompanhar essas mudanças, criando 
táticas de subversão e de interferência no cenário urbano de acordo 
com as situações do dia a dia. A carência em vários setores da vida 
social começa a produzir inquietações, necessidades de trocas de per-
cepções e dissolução de alguns paradigmas. Uma nova maneira de 
estar e agir no mundo germina através de associações de sentimentos 
e de práxis equivalentes com o desejo de alterar a ordem cotidiana.
51/208 CIDADES, MEMÓRIAS E PATRIMÔNIOS LUCIANA CHIANCA E ULISSES NEVES RAFAEL
Questionamentos relativos às problemáticas sociais aparecem 
diante das circunstâncias em que a nossa sociedade se encontra, no 
tocante à política, à educação, à mobilidade urbana, ao incentivo 
à cultura e à arte etc. Em Aracaju, essas indagações também aconte-
cem mediante a busca pela ocupação e ressignificação dos espaços 
públicos. A rua se torna cada vez mais um lugar de posicionamento 
político e de possibilidades artístico-culturais para os jovens que al-
mejam mudança diante do padrão cultural hegemônico da cidade.
Atreladas a essa nova maneira de se

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