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Inclusão de Pessoas com Distúrbios e Transtornos Cognitivos Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria VIRNA MAC CORD CATÃO AUTORIA Virna Mac Cord Catão Sou Pedagoga, especialista em Administração Escolar e EAD e Mestra em Educação, com experiência técnico-profissional e docente de mais de 15 anos. Passei por instituições educacionais públicas e privadas. Já atuei como docente na Educação Básica (Prefeitura do Rio de Janeiro, Colégio Pedro II etc.), principalmente em turmas de alfabetização e classes de progressão, inserindo-me em diversos e diferentes contextos de aprendizagem, como também na Educação Superior (UNIABEU, UFRRJ etc.). Na área técnica, já fui Pedagoga do CAP UERJ e do IFRJ e, inclusive, Supervisora da UNIVESP. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Distúrbios da Aprendizagem .................................................................. 10 Transtorno, Distúrbio e Dificuldade de Aprendizagem ...............20 Características dos Distúrbios de Aprendizagem .........................23 Processo de Inclusão e os Distúrbios de Aprendizagem ........... 25 7 UNIDADE 01 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 8 INTRODUÇÃO Você sabia que os transtornos e distúrbios de aprendizagem tem sido uma área muito estudada por educadores, professores e psicólogos, além de profissionais de outras áreas das ciências humanas? Isso tem ocorrido devido às transformações e necessidades atuais. Transformações no que diz respeito ao entendimento de que as pessoas são diferentes umas das outras, implicando a necessidade de dar voz e vez às pessoas com transtornos e distúrbios. Todas as pessoas têm suas potencialidades de formas diferentes e essas diferenças devem ser respeitadas. Mas, para isso, precisamos entender como se processa a vida, o conhecimento, as possibilidades de avanço que as pessoas têm. Precisamos entender, nesta perspectiva, o que é a aprendizagem, como se caracterizam esses transtornos/distúrbios e os princípios de inclusão dessas pessoas na sociedade. Percebeu a importância desta temática? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1 - Inclusão de pessoas com distúrbios e transtornos cognitivos. Nosso objetivo é auxiliar você a atingir os seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar os processos fundamentais de aprendizagem. 2. Diferenciar transtorno, distúrbio e dificuldade de aprendizagem. 3. Caracterizar os distúrbios cognitivos e comportamentais. 4. Discernir sobre a importância do processo de inclusão de pessoas com dificuldades de aprendizagem. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 10 Distúrbios da Aprendizagem OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como ocorre a aprendizagem e o que caracteriza e diferencia dificuldades de distúrbios/transtornos da aprendizagem. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, seja como professor ou em outra área que estuda a neuroeducação como possibilidade de intervir em processos de aprendizagem. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Atualmente, o tema “Distúrbios de Aprendizagem” vem sendo uma questão muito debatida e que gera preocupações. Percebe-se que há uma generalização, por partes de algumas pessoas, de que toda dificuldade é um distúrbio, porém, é importante enfatizar que o erro faz parte do processo de construção do conhecimento e que nem sempre ele é uma fatalidade para a aprendizagem. Nessa direção, é necessário explicar, primeiramente, que a aprendizagem é o momento de construção, de interação, de mediação etc. Além disso, deve-se enfatizar que o erro faz parte desse processo. Uma dificuldade de aprendizagem não significa um distúrbio, tampouco um transtorno, sendo estas definições distintas que precisamos compreender para sabermos como agir, pois é com base nessa distinção que encontraremos possibilidades de ação. Por vezes, apenas adaptações às necessidades da pessoa são suficientes para a promoção da aprendizagem e, caracterizando essas questões, abrimos portas para o processo de inclusão de pessoas que aprendem de formas diferentes. Podemos definir a aprendizagem como uma mudança de comportamento oriunda de uma experiência que pode ocorrer tanto naturalmente, ao nos relacionarmos com o mundo e as pessoas, como intencionalmente, a exemplo do que ocorre no caso de instituições de ensino, cujo objetivo é a promoção da aprendizagem. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 11 Figura 1 - Aprendizagem intencional na escola Fonte: (cc)Pixabay. Quando não conseguimos aprender na escola, dizemos que houve um “fracasso da aprendizagem”. Este fracasso da aprendizagem tem diversas causas e um deles pode ter origem associada aos próprios sistemas de ensino, por não conseguirem compreender nem atender aos alunos, às suas alteridades e às suas culturas. Nesse caso, a escola deve estar atenta às diversas formas de manifestação das aprendizagens, uma vez que as pessoas são diferentes e oriundas de espaços e culturas também diferentes. Claramente existe a possibilidade de ocorrerem falhas por parte da escola nesse processo, no entanto, os demais contextos em que os alunos estão inseridos também interferem em suas aprendizagens, levando ao fracasso mútuo da absorção de conteúdo do aprendiz e de seu cumprimento enquanto agente educador. Esses fatores, aos quais os alunos estão expostos, podem não ser determinantes, e por muito tempo acreditou-se nisto, mas são considerados interferências no processo de aprendizagem. Alguns exemplos são: o contexto familiar e cultural, as relações sociais, as condições econômicas e políticas etc. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 12 Neste sentido, o fracasso da aprendizagem não é um objeto de estudo isolado, posto que deve ser lido e compreendido num contexto que envolve pelo menos três dimensões. Figura 2 - As dimensões do fracasso da aprendizagem Fonte: Elaborado pela autora (2019). O objetivo não é buscar culpados, isso seria “chover no molhado”, o que queremos é compreender melhor como a aprendizagem é constituída e, desse modo, pensar em maneirasde intervenção para revertermos o quadro de falhas e fracassos em resultados de sucesso. Conforme observamos, temos a dimensão psicológica que implica diretamente o entendimento do que é aprendizagem e a sua promoção. Mas, o que é aprendizagem? Para melhor compreensão sobre o contexto, tomaremos como referencial as teorias interacionistas, ou melhor, o pensamento piagetiano. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 13 Para Piaget, o conhecimento é produzido por meio de uma interação do sujeito com seu meio, a partir de estruturas já existentes. Seguindo este pensamento, entendemos que a aquisição de conhecimentos depende tanto das estruturas cognitivas do sujeito como de sua relação com os objetos/meio. Figura 3 - Jean Piaget Fonte:@Wikimedia VOCÊ SABIA? Piaget nasceu na Suíça no ano de 1896 e faleceu em 1980. Vindo de uma família culta, Piaget, ainda muito pequeno, precisamente aos 7 anos, tinha o interesse por determinados estudos de ordem científica. Sua formação inicial foi em Biologia, mas também estudou Filosofia e aos 22 anos finalizou o Doutorado em Ciências Naturais e lançou diversos livros tendo muita influência no campo da Psicologia. Teve preocupações eminentemente epistemológicas, tendo-se dedicado ao estudo de como o ser humano constrói conhecimento. Na verdade, estudando as origens dos seres vivos, por meio dos estudos da ontogênese e filogênese, é que Piaget foi caminhando suas pesquisas para as características essencialmente humanas. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 14 IMPORTANTE: De acordo com Piaget, a inteligência é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Essa adaptação refere-se ao meio exterior. Para ele, os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e estímulos oferecidos pelo meio em que vivem. O comportamento de cada um de nós é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Essa teoria é caracterizada como interacionista, e afirma que quanto mais complexa for essa interação, mais “inteligente” será o indivíduo. Para Piaget a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e a gênese depende de uma estrutura de maturação, dessa forma a aprendizagem depende do desenvolvimento. Sua teoria nos mostra que o indivíduo só aprende determinada coisa se estiver preparado para recebê-la. Ou seja, se puder agir sobre o objeto de conhecimento para inseri-los num sistema de relações. Em sua teoria, Piaget afirma que há dois processos fundamentais para a organização do pensamento, a assimilação e a acomodação: Dois mecanismos são fundamentais nessa relação: a organização e a adaptação, que constituem as invariantes funcionais de todo ser vivo. Sem organização, não é possível ao ser vivo ter um comportamento finalista, voltado para a satisfação de suas necessidades biológicas fundamentais. É a organização que dota o ser vivo da capacidade de ter condutas seletivas, isto é, eficientes do ponto de vista do atendimento das demandas fundamentais à adaptação. A adaptação tem duas faces que estão indissoluvelmente ligadas: assimilação e acomodação. Em tempo real, numa ação adaptativa, ambas são como faces da mesma moeda, continuamente interligadas. Apensar desta inter- relação no funcionamento, a assimilação e a acomodação são conceitualmente distintas, opostas e complementares. (AZENHA, 1998, p. 25) Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 15 Na teoria construtivista, o sujeito aprendente é ativo, ou seja, Piaget parte do fundamento de que há ações “inteligentes” perante o conhecimento. É no relevantamento de hipóteses e na alternância entre erro e acerto que o sujeito operacionaliza o conhecimento. Para ocorrer esse processo, Piaget observou e ponderou a ideia de adaptação do sujeito ao meio, em que essa adaptação é promovida pelo processo de reequilibrações sucessivas. Isso significa que, ao se deparar com algo desconhecido ou com um novo objeto de conhecimento, tem- se um desordenamento dos esquemas já internalizados. Figura 4 – Processo de equilibração Fonte: Elaborado pela autora (2019). É sendo desafiado e estimulado ou buscando preencher alguma lacuna que o sujeito se “desequilibra” intelectualmente, fica curioso e, por meio de assimilações e acomodações, procura retornar ao equilíbrio. No caso da aprendizagem da língua escrita, o pensamento piagetiano muito influenciou o processo de ensino-aprendizagem. Equivocadamente, a influência foi até confundida como método em algumas escolas. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 16 Figura 5 - Escrita Fonte: (cc)Freepik. Apesar das ideias construtivistas não serem métodos, elas demonstram algumas questões sobre a aprendizagem da escrita, como o fato de que as manifestações escritas de crianças têm origem na sua relação com o mundo e na estruturação de seu pensamento. Então, um erro nem sempre é um erro como pensamos, e sim uma hipótese de fato inteligente e elaborada a partir das experiências realizadas. O erro muitas vezes é visto no processo de aprendizagem como algo fatal e um fim em si mesmo. Muitas pessoas dizem que quem erra não sabe, mas será mesmo que não sabe? O erro é parte das ideias elaboradas para se tentar chegar ao acerto, assim como o erro pode ser apenas uma dificuldade que, com a intervenção correta, promoverá a aprendizagem. Nesta direção, estamos contestando a ideia de que a aprendizagem é algo estático ou que só depende do sujeito aprendiz. Podemos entender que a aprendizagem depende de todos os fatores já supracitados, inclusive do respeito aos diferentes níveis e formas de aprender. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 17 EXEMPLO: Tratando-se da aprendizagem na escola, algo muito polêmico diz respeito à organização em ciclos. O ciclo não indica aprovação automática e sim a progressão continuada da aprendizagem, embora muitos sistemas e escolas que o implantaram tenham difundido essa questão de forma equivocada. Quando falamos em progressão continuada, estamos observando, principalmente no que diz respeito ao processo de aprendizagem, a ideia de inacabamento, pois não podemos aprisionar a aprendizagem dos alunos no ano-calendário. Alguns aprendem a lógica da escrita e sua representação em dois meses, outros em dez meses. Portanto, o respeito aos diferentes ritmos também é um dos princípios fundamentais do ciclo na educação escolar. Figura 6 - O tempo para a aprendizagem Fonte: (CC)Pixabay. A aprendizagem é um processo contínuo que ocorre constantemente ao longo da vida, pois sempre estamos aprendendo alguma coisa. Não há um único ritmo de aprendizagem pelo fato de que as pessoas, inseridas em diversos contextos, são diferentes e possuem características que as distinguem das outras pessoas que aprendem, portanto, de formas e em tempos e ritmos também diferentes. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 18 Figura 7 - As pessoas são diferentes Fonte: (CC) Freepik. Para que o ato de aprender ocorra no âmbito fisiológico, são necessárias algumas integridades básicas, como as funções psicodinâmicas (ativadas ao internalizarmos as experiências que buscam a assimilação de forma hierárquica), as funções do sistema nervoso periférico (responsáveis pelos canais sensoriais da aprendizagem) e funções do sistema nervoso central (armazenamento, elaboração e processamento). Porém, observaremos melhor essas funções mais à frente, quando abordarmos os distúrbios e transtornos de forma mais específica. Nesse processo de aprender, primeiro ocorre o input, ou seja, a recepção das informações pelos sentidos visual e auditivo em um processo no qual a cognição é ativada a partir dessas informações. A cognição é responsável pela memorização, densidade, simultaneidade e sequência das informações e o output é a resposta devolvida, que é responsável pelos processos motores,como desenhar, ler, escrever, e resolver problemas. Outro processo importante é a retroalimentação, responsável pela organização de todo o processo e que inclui tarefas como a capacidade de repetição, o controle e realização das atividades. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 19 Figura 8 - O ciclo da aprendizagem Fonte: Elaborado pela autora (2019). Alguns elementos podem causar alterações na aprendizagem. Como exemplo. temos os fatores orgânicos, o baixo peso ao nascer, as más formações congênitas, a prematuridade, além do fator genético, que é outro elemento que também altera a aprendizagem. Enfim, de acordo com este pensamento, entendemos que a aprendizagem de um sujeito não pode ser analisada como um fato isolado, tampouco como incapacidade. Para a análise, é necessária uma abordagem holística com a finalidade de se compreender como a aprendizagem ocorre em cada um e como pode ser potencializada. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 20 Transtorno, Distúrbio e Dificuldade de Aprendizagem A expressão “dificuldade de aprendizagem” possibilita entender e explicar por qual motivo o processo de aprendizagem de uma pessoa não ocorreu devidamente. No entanto, existe um problema conceitual anunciado no meio dessa questão, em que a dificuldade é confundida com o distúrbio ou transtorno. Figura 9 - Dificuldade de aprendizagem Fonte: (CC)Freepik. De uma forma simples e direta, Furtado (2008) busca elementos de diferenciação: Constata-se que o termo distúrbio está quase sempre associado a disfunções e lesões neurológicas, que acabam acarretando prejuízos e danos à aprendizagem. Já a dificuldade de aprendizagem geralmente está relacionada aos fatores metodológicos e internos do sujeito, como aspectos emocionais e familiares (FURTADO, 2008, p. 15). Uma pergunta central que deve ser feita antes de definir se um determinado caso se trata de uma dificuldade, de um distúrbio ou de um transtorno de aprendizagem é: “por que determinada pessoa não aprende?” Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 21 Esse questionamento faz como que nos movamos em direção à pesquisa. Precisamos, antes de tudo, observar e dialogar com os sujeitos para que busquemos pistas sobre sua aprendizagem. A pesquisa faz parte do cotidiano de quem trabalha com educação e aprendizagem. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 1996, p. 32). VOCÊ SABIA? Paulo Freire foi um educador brasileiro de referência no mundo todo. Seu principal questionamento diz respeito ao posicionamento político da educação e seu papel na vida dos alunos. Quando falava de posicionamento político, não se referia à politicagem e sim à capacidade de fazer escolhas, ou melhor, de se posicionar perante o mundo. No livro “Pedagogia da Autonomia”, o educador aborda de forma crítica os saberes necessários à prática educativa, dentre eles o fato de que “ensinar exige pesquisa”. Em alguns casos, não encontraremos respostas, teremos apenas pistas que colaborarão para que encaminhamentos aos especialistas sejam realizados. De qualquer forma, elementos de compreensão serão incorporados e intervenções possíveis na aprendizagem, realizadas. Porém, nem sempre intervenção significa medicação. Isso ocorre quando as mudanças metodológicas por parte dos que ensinam conseguem colaborar para que o aluno chegue ao objetivo proposto, superando as dificuldades de aprendizagem. A dificuldade de aprendizagem, etimologicamente falando, está associada ao vocábulo “difficultatem” que significa não conseguir fazer algo, um obstáculo, uma barreira que impede que os sujeitos realizem e alcancem determinados objetivos. A barreira à qual os indivíduos em déficit de aprendizado estão sujeitos precisa ser descoberta e revelada. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 22 Esta barreira ou obstáculo estaria associado às questões internas, como fatores biológicos, ou às questões externas, como fatores sociais, por exemplo. Obter a definição clara é de suma importância para saber se se trata de uma dificuldade, de um distúrbio ou de um transtorno de aprendizagem. Figura 10 - Criança com dificuldade de se concentrar Fonte: (CC)Freepik. Os transtornos de aprendizagem vão além do padrão de dificuldade, pois geralmente estão associados à capacidade cognitiva que é alterada por algum distúrbio orgânico, sendo na maior parte das vezes de origem neurológica. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 23 Características dos Distúrbios de Aprendizagem Reconhecendo o fato de que muitas crianças durante o período escolar apresentam limitações em seu processo de aprendizagem, podemos concluir que os fatores internos e externos podem estar diretamente ligados a estas limitações. Quando falamos de dificuldades de aprendizagem, estamos nos referindo, exclusivamente, às implicações dos fatores externos. No entanto, quando se trata de casos de distúrbios ou transtornos de aprendizagem, os envolvimentos podem estar ligados à fatores internos, principalmente de origem neurológica. De modo geral, os distúrbios de aprendizagem alteram capacidades mais específicas como o recebimento, o processamento, a análise e/ou armazenamento de informações. Neste caso, por exemplo, é possível relacionar os efeitos à linguagem ou até mesmo afetar a aprendizagem de conhecimentos matemáticos. De acordo com Furtado (2008), uma criança com distúrbio de aprendizagem tem algumas características peculiares, tais como: • Uma discrepância manifestada entre o potencial intelectual esperado e o nível real de realização da aprendizagem na escola. • Desordenamento básico do processo de aprendizagem, manifestado em situações como o indivíduo não consegue organizar fatos em sequência lógica. • Apresentação ou não de disfunção do sistema nervoso central, que é responsável pela linguagem, estruturação do pensamento etc. • Não apresentação de vestígios de debilidade mental, de privação cultural, de perturbação emocional ou de privação sensorial (visual ou auditiva). • Amostras de dificuldades de percepção, disparidades comportamentais e problemas no processamento da informação. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 24 Furtado (2008), fazendo menção ao National Joint Committee of Learning Disabilities resume o conceito de distúrbios de aprendizagem com a seguinte afirmação: Distúrbios de aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escola e do raciocínio matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida. (FURTADO, 2008 p. 16) Os distúrbios ou transtornos, por terem origens biológicas e/ou fisiológicas, necessitam de uma avaliação de uma equipe multiprofissional constituída por médicos, pedagogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros profissionais que juntos irão analisar as condições de aprendizagem dos sujeitos. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 25 Processo de Inclusão e os Distúrbios de Aprendizagem OBJETIVO: A inclusão de pessoas com distúrbios de aprendizagem é um desafio para os educadores, para as instituições e para os próprios sujeitos. Na verdade, todas aquelas pessoas que são diferentes possuem o desafio de serem incluídas na sociedade e em suas instituições de forma que o acolhimento contemple suas necessidades.. A educação é um direito de todose a nossa legislação atual afirma que todos devem estar matriculados regularmente no fluxo de ensino. De acordo com essa afirmação, A política de educação inclusiva diz respeito à responsabilidade dos governos e dos sistemas escolares de cada país com a qualificação de todas as crianças e jovens no que se refere aos conteúdos, conceitos, valores e experiências materializados no processo de ensino-aprendizagem, tendo como pressuposto o reconhecimento das diferenças individuais de qualquer origem. (GLAT, 2007, p. 16) EXPLICANDO MELHOR: Quando falamos de educação inclusiva, não podemos limitar o discurso e a prática à educação especial, embora o modelo de educação inclusiva também a englobe. O processo de inclusão, em amplo sentido, simboliza ações para que as pessoas acessem ensino adequado, permaneçam em constante aprendizado e obtenham sucesso escolar. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 26 Falar de inclusão compreende o fato de que as pessoas são diferentes em diversos aspectos e que a escola deve criar estratégias para que o ensino chegue a todos os indivíduos independentemente de etnia, cor, gênero, dificuldade, cultura, ritmos de aprendizagem, entre outros fatores. Neste sentido, é necessário que haja respeito por parte das escolas a todos os sujeitos, suas particularidades e seus respectivos contextos, além de um olha sempre atento a cada uma destas singularidades para que a proposta apresentada de ensinar a todos seja efetivamente cumprida. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “Repensando os distúrbios de aprendizagem a partir da psicologia histórico-cultural” (TULESKI; EIDT, 2007), acessível aqui. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n3/v12n3a10 27 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a aprendizagem é um processo inerente a todo ser humano, porém nem todos têm as mesmas condições de realizá-lo. Por sermos pessoas diferentes, aprendemos de formas diferentes e em tempos diferentes e isto significa que o que aparenta ser uma não aprendizagem pode estar relacionado aos padrões estabelecidos de formas e tempos de ensinar. Também aprendemos que dificuldade de aprendizagem não é a mesma coisa que distúrbios e transtornos de aprendizagem, e grande parcela da humanidade pode estar sujeita a isso em algum momento, devido ao fato de que estas dificuldades muitas vezes estão associadas aos fatores externos. Já os distúrbios e transtornos de aprendizagem estão ligados às questões biológicas, indo além de dificuldades comuns e exigindo diagnósticos e intervenções específicas de uma equipe multidisciplinar. Compreendendo estas questões, entendemos que o processo de inclusão de pessoas com dificuldades, distúrbios e transtornos de aprendizagem é importante, pois a aprendizagem é um dever intrínseco ao direito à educação. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 28 REFERÊNCIAS CATÃO, V. Fazeres e saberes do dotidiano de classes oriundas das distorções de fluxo escolar: refletindo sobre o fracasso escolar instituído. Revista UNIABEU, v. 2, p. 57-65, 2009.. Disponível em: http://revista. uniabeu.edu.br/index.php/RU/article/viewFile/72/125. Acesso 08 ago. 2019. CIASCA, S. M. (org.). Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FURTADO, V. Q. Dificuldades na aprendizagem da escrita: uma intervenção psicopedagógica via jogos de regras. Petrópolis: Vozes, 2008. GLAT, R. (org.). Educação inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007. DOMINGUES, K.; ROSEK, M. (orgs.). As Dificuldades de aprendizagem e o processo de escolarização. Porto Alegre: EIPUCRS, 2017. SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z. Porto Alegre: Artmed, 2001. WEISS, M. L. L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: D.P & A. 1997. Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem http://revista.uniabeu.edu.br/index.php/RU/article/viewFile/72/125 http://revista.uniabeu.edu.br/index.php/RU/article/viewFile/72/125 Distúrbios da Aprendizagem Transtorno, Distúrbio e Dificuldade de Aprendizagem Características dos Distúrbios de Aprendizagem Processo de Inclusão e os Distúrbios de Aprendizagem
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