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A EDUCAÇÃO INFANTIL E A GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA INFÂNCIA Ana Keli Moletta A organização dos espaços na educação infantil Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar a relação entre o espaço e a aprendizagem na educação infantil. Descrever os elementos constituintes do espaço. Identificar a importância da qualificação dos espaços externos/pátios das escolas de educação infantil. Introdução Neste capítulo, você vai aprender a respeito do espaço, um elemento curricular que deve ser pensado como uma estrutura de oportunidades. O espaço, seja ele interno ou externo, é o lugar do desenvolvimento de múltiplas habilidades, a partir da sua riqueza e da sua diversidade. Como você vai ver, ao organizar os espaços para as crianças, é preciso levar em consideração a quem eles se destinam, a idade dos sujeitos, suas expectativas, anseios e medos. O espaço e a sua relação com a aprendizagem Se você consultar a legislação estabelecida a partir da década de 1980, vai veri- fi car avanços nas políticas relacionadas à criança, que passa a ser reconhecida como um sujeito de direitos. Além disso, tal legislação compreende a educação como um direito da criança. Dessa forma, buscando estabelecer políticas que elevem o padrão de qualidade do atendimento oferecido nas instituições que se dedicam ao cuidado e à educação dos menores de cinco anos, o Ministério da Educação (MEC) desenvolveu, ao longo dos anos, diferentes documentos normativos que abordam a qualidade dos espaços educacionais. Um desses documentos se chama “Critérios para um Atendimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamentais das Crianças” (BRASIL, 1995). Ele aborda, entre outros assuntos, o direito das crianças a espaços que contemplem o engatinhar, o caminhar, o brincar, o explorar e o interagir em espaços internos e externos. Além disso, menciona atividades como correr, pular, saltar e jogar bola, na creche ou nas suas proximidades. Esse documento foi reeditado em 2009. Em 1996, foi criada a Lei nº 9.394 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional). No seu art. 70, tal lei contempla a manutenção, a construção e a conservação das instalações e equipamentos necessários ao ensino, em todos os níveis (BRASIL, 1996). Um pouco mais tarde, em 1998, o Ministério da Educação publicou o documento “Subsídios para Credenciamento e Funcionamento de Instituições de Educação Infantil”. Entre outros aspectos, esse documento esclarece a im- portância dos espaços físicos nas instituições de educação infantil, tendo em vista que eles expressam a pedagogia adotada pela instituição (BRASIL, 1998a). No mesmo ano, foi lançado o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ele chama a atenção para a estruturação dos espaços nas instituições de educação infantil, para as formas como os materiais devem ser organizados e para a sua qualidade e a sua adequação (BRASIL, 1998b). Um ano depois, o ParecerCEB nº 1, de 7 de abril de 1999, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Nelas, o espaço físico aparece associado às propostas pedagógicas como um dos elementos que possibilitam a adoção, a execução, a avaliação e o aperfeiçoamento das diretrizes (art. 3º, VIII). Seguindo essa linha, no ano de 2000, por meio do Parecer CEB nº 4/2000, foram aprovadas as Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil. Um dos aspectos normativos tratados diz respeito aos espaços físicos e recursos materiais para a educação infantil. Além desses documentos, se destacam também: os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRA- SIL, 2006a), que abordam a importância da organização do tempo e do espaço para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças; os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006b), que chamam a atenção para o importante papel que o professor tem como organizador dos espaços onde ocorre o processo educacional; a Resolução CNE/CEB nº 5/2009, que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil; o Parecer CNE/CEB nº 20/2009, sobre a revisão das Diretrizes Curri- culares Nacionais para a Educação Infantil; a reedição do documento “Critérios para um Atendimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamentais das Crianças” (BRASIL, 2009a); A organização dos espaços na educação infantil2 os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009b), que apontam a necessidade de os ambientes físicos da instituição de educação infantil refletirem uma concepção de educação e cuidado respeitosa às necessidades de desenvolvimento das crianças, em todos os seus aspectos: físico, afetivo, cognitivo, criativo; as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009c), que esclarecem sobre a organização de materiais, espaços e tempos; a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017), que convoca a reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas as crianças. Como você pode verificar por meio das normativas legais elencadas, o significado do espaço nos ambientes educativos foi se modificando ao longo dos anos. Hoje, o espaço é um dos elementos primordiais para uma educação de qualidade para as crianças de 0 a 5 anos de idade. Sendo uma construção social, o espaço mantém estreita relação com as atividades desempenhadas pelas pessoas que dele fazem parte. A respeito do assunto, Zabalza (2007) chama a atenção para seguinte situação: quando você entra em determinado local, suas paredes, movéis, espaços inativos, pessoas e decorações revelam o tipo de atividade realizada ali. Isso se aplica também ao ambiente escolar. O espaço da escola revela o tipo de atividade educacional que se realiza ali, a comunicação estabelecida entre alunos e professores, seus interesses e relações com o mundo externo, suas expectativas, etc. Sendo uma estrutura de oportunidades, o espaço escolar pode tanto estimular quanto limitar as atividades nele realizadas. Ou seja, quanto maiores os desafios que o espaço proporciona, mais significativa é a aprendizagem da criança. Enquanto contexto de aprendizagem, o espaço constitui uma rede de estruturas espaciais, de linguagens, de instrumentos e, finalmente, de possibilidades ou li- mitações para o desenvolvimento das atividades formadoras (ZABALZA, 2007). Assim, ao planejar o espaço, é essencial considerar a que faixa etária ele se destina, tendo em vista que as atividades educacionais ali realizadas devem ser referenciadas pelas necessidades das crianças. Essa organização deve ser feita em cooperação (professor e criança). Ao se manifestarem, as crianças imprimem a sua personalidade, os seus desejos e sonhos ao ambiente, como também reconstroem a sua representação do mundo social (HORN, 2017). Nesse contexto, o professor deve estar consciente de que as crianças passam por diferentes estágios de desenvolvimento. Logo, têm necessidades distintas em relação ao meio em que estão inseridas. Veja: 3A organização dos espaços na educação infantil Os espaços deverão possibilitar, portanto, a exploração por meio de todos os sentidos, a descoberta de características e relações dos objetos ou materiais mediante experiência direta, manipulação, transformação e combinação de materiais variados, a utilização do corpo com propriedade, a interação com outras crianças, enfim, a oportunidade de construir a própria autonomia na resolução de suas necessidades (HORN, 2017, p 10.). O espaço deve oportunizar às crianças a interação com seus pares, com o meio, com a natureza, com os objetos que o compõem e que estão dispostos nele. Os espaços Um dos primeiros requisitos para que um espaço seja adequado e seguro para as crianças é considerar o nível de desenvolvimento dos alunos. De acordo com Gonzalez-Mena (2014), crianças pequenas que brincam em um pátio para crianças em idade escolarpodem se machucar. Nesse mesmo sentido, bebês engatinhando em uma sala organizada para crianças em idade pré-escolar podem se deparar com diversos objetos perigosos. Quando as crianças são separadas por idade, tornar o ambiente seguro é mais simples, mas, se esse não for o caso, é necessário um pouco de consideração e atenção do professor: [...] um programa para bebês tem exigências diferentes das de um programa para crianças que já caminham, que serão diferentes das de um programa para crianças em idade escolar. O tamanho dos móveis deve ser adequado ao tamanho das crianças; não adianta colocar bebês em cadeiras de pré-escola, com seus pés balançando acima do chão, e esperar que eles se habituem. Móveis confortáveis e de tamanho adequado devem ser fornecidos para crianças de qualquer tamanho e faixa etária. Da mesma forma, ao planejar um ambiente, considere as necessida- des e habilidades específicas das crianças (GONZALEZ-MENA, 2014, p. 187). Diferente do que ocorre nas etapas educacionais posteriores (ensino fun- damental, médio e superior), na educação infantil a criança aprende em todos os espaços. A aprendizagem e o ensino podem ocorrer no banheiro, no cor- redor, na sala de atividades, no espaço externo. Dessa forma, criar ambientes favoráveis à aprendizagem não é uma tarefa que se faz de uma só vez, mas algo contínuo. Assim como acontece no ambiente doméstico, nas creches e pré-escolas os ajustes e melhorias devem ser constantes. Considerando que todos os espaços são educativos, eles devem transparecer os valores e as prioridades dos indivíduos que os frequentam. O primeiro ponto a considerar é a visão. Os espaços devem ser convidativos, agradáveis, A organização dos espaços na educação infantil4 iluminados. Além de atentar à visão, deve-se dar atenção à audição. As creches devem manter o mínimo de ruído possível, tendo em vista que ele produz estresse e pode inibir o desenvolvimento da fala das crianças. Além da visão e da audição, não se pode esquecer do olfato: cheiros desagradáveis não são convidativos e devem ser evitados (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2008). Como você sabe, as crianças aprendem o tempo todo. O que elas aprendem e o modo como o fazem dependem da relação com o ambiente e da maneira como ele está organizado. Assim, o mobiliário não deve ser estático. Tanto ele quanto o espaço devem contar a história das crianças que os utilizam. Goldschmied e Jackson (2008) destacam que as cores do ambiente devem ser preferencialmente claras, para que se possa exercer a criatividade em murais, tapeçarias, móbiles, forros de almofada, fotos e outros objetos facilmente removíveis e substituíveis. Para os bebês que ainda estão se adaptando a creches, o espaço pode ser mais restrito, pois suas atividades principais se relacionam às suas necessidades físicas. As crianças nessa idade precisam de locais tranquilos onde possam dormir e acordar com segurança, sem estímulos indevidos. No geral, o espaço deve se expandir com o aumento das capacidades das crianças, e o plano geral da sala deve oferecer maior campo de ação para as atividades motoras brutas. Além dos colchões e almofadas, elementos indis- pensáveis aos bebês, é necessário considerar uma superfície firme para pisar. Aqui, entra a necessidade do carpete para dar-lhes segurança. Com relação aos cantos, ou espaços de interesses, eles devem necessa- riamente adequar-se à idade e aos estágios de desenvolvimento das crianças. Porém, cabe uma ressalva: se os cantos forem desordenados, as crianças vão aprender lições diferentes das aprendidas por aquelas crianças expostas a um ambiente calmo e ordenado. Elementos constituintes do espaço escolar Cada etapa da educação infantil requer uma organização distinta. A seguir, veja quais são os quatro elementos condicionantes a serem observados nos espaços educativos: 1. os elementos estruturais 2. o mobiliário 3. os materiais 4. criança 5A organização dos espaços na educação infantil Elementos estruturais São os elementos permanentes na estrutura do edifício. Ou seja, uma vez determinados, não podem ser modifi cados. Veja a seguir. Dimensão da sala de aula — pode facilitar ou dificultar o planejamento dos espaços para as atividades. Espaços extras (além da sala de aula) — podem facilitar a criação de diferentes ambientes de aprendizagem, como descanso, jogos, etc. Posição das janelas — deve ser considerada no planejamento dos espaços de leitura ou atividades gráficas, pela iluminação. Ponto de água — deve ser considerado no planejamento do espaço de artes plásticas ou modelagem, que demanda pontos de água próximos. Armários embutidos ou estantes fixas — criam ao seu redor uma área de espaço inutilizado, fato que deve ser levado em consideração. Piso — se for de madeira, algumas atividades podem ser realizadas dire- tamente nele; se for de lajotas, é necessário utilizar tapetes e colchonetes. Mobiliário Com relação ao mobiliário, é preciso considerar a quantidade e o tipo de móvel. Veja a seguir. Quantidade — tanto o excesso quanto a falta de móveis exercem um papel significativo na organização dos espaços. Tipo de material — é necessário levar em conta alguns aspectos, como você pode ver a seguir. ■ leveza: o mobiliário pesado condiciona o espaço. Se for de difícil movimentação, ele atua enquanto um elemento fixo. O mobiliário leve ou com rodinhas transforma a sala de aula em um espaço dinâmico, pois é possível adequá-la às necessidades das crianças. ■ polivalência: é interessante que um mobiliário possa ser usado para diferentes fins. ■ funcionalidade: um mobiliário deve ser acessível às crianças, não oferecer riscos e permitir a autonomia na sua utilização. A organização dos espaços na educação infantil6 Materiais Com relação aos tipos de material, você deve considerar os itens listados a seguir. Variedade — a variedade de materiais cumpre a função de estimular, provocar a imaginação e a criatividade da criança. Segurança — é preciso selecionar materiais que não representam riscos à saúde das crianças. Organização — os materiais devem ser organizados de forma a favorecer a autonomia da criança. Quantidade — os materiais precisam ser em quantidade suficiente para a realização das atividades com as crianças. Crianças Com relação às crianças, é conveniente levar em consideração os aspectos a seguir. Idade — em função do nível de autonomia que a criança apresenta em cada fase do seu desenvolvimento, é dever do professor: adaptar os espaços e os materiais de forma que sejam acessíveis a elas, que sejam de fácil utilização, que ofereçam segurança e que estimulem a sua atividade. Necessidades — cada criança é única e suas necessidades também são distintas. Assim, é necessário organizar os espaços de forma a permitir diferentes atividades concomitantemente. Por exemplo: espaços de descanso e, ao mesmo tempo, espaços que permitam atividade intensa. Características do ambiente do qual procedem: a escola deve vincular os interesses e as atividades habituais das crianças e, ao mesmo tempo, abrir novos horizontes. De acordo com os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (2006), à medida que as crianças crescem, os espaços educacionais devem se expandir, favorecendo a exploração e o desenvolvimento físico e motor. Sobre o assunto, Horn (2017) acrescenta que, para as crianças maiores, outros móveis, objetos e acessórios tornam-se indispensáveis. 7A organização dos espaços na educação infantil As crianças devem se apropriar do ambiente. Os diferentes espaços devem oferecer a elas segurança, mas sem limitar suas possibilidades de exploração. O trabalho com diferentes espaços busca ampliar os olhares, visando a cons- truir um ambiente promotor de aventuras, descobertas, criatividade, desafios e aprendizagem, que facilite a interação entre crianças e adultos. Ou seja, o espaço infantil deve ser vivo, dinâmico, “brincável”,explorável, transformável e acessível para todos (BRASIL, 2006). O ambiente é um professor. Por isso, é preciso planejá-lo e combiná-lo às necessidades, aos níveis de desenvolvimento e aos interesses das crianças. De acordo com Gonzalez-Mena (2014), é necessário planejar não só o que se coloca no ambiente, mas também a sua organização. Nisso inclui-se o tamanho da turma. Colocar 10 crianças em uma sala muito ampla não é recomendado, assim como colocar esses mesmos 10 alunos em um espaço restrito, onde eles não podem executar suas atividades com liberdade, é prejudicial ao seu desenvolvimento. É indispensável que o professor assuma a perspectiva da criança, ou seja, coloque-se em seu lugar: ande descalço pelo chão, deite nos colchões, se encoste nas almofadas, brinque com os diferentes brinquedos, sente nas cadeirinhas, se imagine como uma criança e perceba se aquilo que foi organizado é viável ou não. Craidy e Kaercher (2007) fazem algumas sugestões de organização dos espaços, considerando cantos e temas, uma prática que, segundo elas, tem sido bem-sucedida em diferentes ambientes. As autoras propõem espaços fixos e alternativos. Veja a seguir. Espaços fixos Casa de bonecas, com fogão, geladeira, TV, cama, mesa, etc. (utensílios que podem ser confeccionados com material de sucata). Canto da fantasia, com pedaços de pano, tule e demais utensílios. Canto da biblioteca, com almofadas, livros, revistas e jornais. Canto da garagem, com tacos de madeira para construção, carros, trilhas, placas com sinais de trânsito. A organização dos espaços na educação infantil8 Nos espaços fixos, outra possibilidade é considerar os campos de experi- ências apresentados pela Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). São eles: “O eu, o outro e o nós”; “Corpo, gestos e movimentos”; “Traços, sons, cores e formas”; “Escuta, fala, pensamento e imaginação”; “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”. Espaços alternativos Podem variar conforme o interesse das crianças ou os temas que estão sendo trabalhados. Veja os exemplos a seguir. Canto da música, com utensílios que podem ser confeccionados com material de sucata. Canto do museu, com objetos colecionados pelas crianças em passeios e viagens. O Grupo Ambiente-Educação (GAE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concentra pesquisadores das áreas de arquitetura, desenvolvimento sustentável, psicologia e educação que se dedicam a pesquisas relacionadas à melhoria da qualidade de vida nos ambientes escolares. O foco principal é a reflexão sobre os ambientes destinados à educação infantil. Para conhecer o trabalho do grupo, acesse: https://goo.gl/UKSzpB A importância dos espaços externos Alguns autores vêm se dedicando, ao longo dos anos, ao estudo do espaço externo nas instituições de educação infantil. Entre eles: Goldschmied e Jack- son (2008), Horn (2013, 2017), Zabalza (2007) e Janet Gonzalez-Mena (2014). 9A organização dos espaços na educação infantil Sobre a importância de se planejar o espaço externo, Goldschmied e Jackson (2008) chama a atenção para as inúmeras oportunidades que ele fornece, seja com relação ao brincar e às experiências sociais, ou ainda com relação ao aprendizado que “[...] nenhum livro pode ensinar, sobre as coisas vivas [...]” (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2008, p. 195). Nessa mesma linha de raciocínio, Horn (2013, 2017) discorre sobre a impor- tância da organização dos espaços externos, onde as crianças podem colocar-se em relação umas com as outras e sentirem-se desafiadas a interagir com diferentes materiais, legitimando o princípio de que todos os espaços são potencialmente promotores da brincadeira e da interação. Essa preocupação contempla os eixos brincar e interagir das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil: Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Edu- cação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, garantindo experiências que: I – promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimen- tação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; [...] VIII – incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questio- namento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza; [...] X – promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais (BRASIL, 2009c, art. 9). Partindo dessa discussão, Zabalza (2007) discorre sobre as características e equipamentos do espaço externo e a importância de pensá-los como elementos condicionantes. Gonzalez-Mena (2014) considera igualmente importantes o espaço externo e o espaço interno, pois ambos cumprem a função de transmitir segurança e oferecer muitas oportunidades de aprendizado. A partir dessas contribuições, você pode considerar que o espaço externo é um prolongamento das salas de atividades. A junção dos espaços interno e externo possibilita que a criança observe, categorize, escolha, proponha, descubra, respeite e interaja com as demais crianças, com os professores e com os elementos inerentes e construídos no ambiente. A organização dos espaços na educação infantil10 Ao trabalhar ao ar livre, as crianças entram em contato direto com a natureza e a sua energia. Nesse espaço, podem criar, utilizar e reaproveitar materiais, contribuindo para a preservação do meio ambiente. Além disso, elas descobrem possibilidades, se aventuram, se desafiam e se relacionam com os elementos ao seu redor. Tudo isso possibilita aprendizagens neces- sárias e prazerosas. As interações estabelecidas pelas crianças nesse espaço recebem a influên- cia de diferentes fatores presentes na construção e no planejamento das áreas externas. Horn (2017) sugere alguns elementos que podem ser utilizados na organização desse espaço educativo. Veja no Quadro 1, a seguir. Fonte: Adaptado de Horn (2017). Área para jogos tranquilos Jogos de montar, jogos de tabuleiro, espaço para leitura de livros ou para conversas. Área para brinquedos de manipulação e construção Pedaços de madeira, baldes, pás, entre outros. Área para equipamentos de parque Balanço, gangorra, trepa-trepa, escorregador, entre outros. Área para jogos imitativos Casa de bonecas e casa na árvore. Área não estruturada para jogos de aventura e imaginação Cordas atadas às árvores, pontes de madeira interligando as árvores, cantos para se esconder, buracos em cercas e ramadas. Quadro 1. Elementos para a organização do espaço externo 11A organização dos espaços na educação infantil No Quadro 2, a seguir, você pode ver materiais e equipamentos para os espaços externos. Fonte: Adaptado de Horn (2017). Materiais e equipamentos fixos Cabana, casinha, caixa de areia, canos com água, piscina, fonte ou similar; troncos grandes; túneis ou tubos, rodas fixas no chão, bancos para crianças e adultos, rampas de cimento, caixas para os brinquedos do pátio, montes de terra, cordas para subir, ônibus, carro ou trem de madeira; circuitos e jogos pintados no solo, toldos, lonas, valas, área para animais, elementos de jardinagem ou horta. Materiais e equipamentos semimóveis Bancos, troncos; rodas de caminhão; pedaços grandes de madeira. Materiais e equipamentos móveis Rodas de carro, caixas plásticas, tábuas; motocas, patinetes, skate; caixa com rodas, mangueira, potes de plástico; materiais da caixa de areia, cordas, ferramentas, bolas, aros, regadores. Quadro 2. Materiais e equipamentos para espaços externos Como você viu, o espaço, seja ele interno ou externo, não é apenas um local onde se desenvolve o trabalho. Ele é um instrumento de trabalho educativo, ou seja, um parceiro, um aliado, um educador. Se devidamente planejado e organizado, ele possibilitadiferentes experiências, que auxiliarão os alunos em seu desenvolvimento pessoal e social. Porém, cabe destacar mais uma vez a necessidade de modificar, reconstruir e ressignificar cotidianamente o espaço, a partir das relações e interações que são estabelecidas nele e com ele. É por meio dessas interações que o espaço se transforma em ambiente e que a criança se desenvolve com segurança, tranquilidade e entusiasmo. A organização dos espaços na educação infantil12 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Congresso Nacional, 1996. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 1/1999. Brasília: MEC/CNE/CEB, 1999. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 4/2000. Brasília: MEC/CNE/CEB, 2000. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 5/2009. Brasília: MEC/CNE/CEB, 2009. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 20/2009. Brasília: MEC/CNE/CEB, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. Brasília: MEC, 1995. BRASIL. Ministério da Educação. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. Brasília: MEC, 2009a. BRASIL. Ministério da Educação. Indicadores da qualidade na educação infantil. Brasília: MEC, 2009b. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação infantil. Brasília: MEC, 2006b. BRASIL. Ministério da Educação. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília: MEC, 1998b. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros nacionais de qualidade para a educação infantil. Brasília: MEC, 2006a. BRASIL. Ministério da Educação. Subsídios para credenciamento e funcionamento de instituições de educação infantil. Brasília: MEC, 1998a. BRASIL. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: Congresso Nacional, 2009c. CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G. E. P. S. (Org.). Educação infantil: para que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2007. GOLDSCHMIED, E.; JACKSON, S. Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em creche. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. GONZALEZ-MENA, J. O cuidado com bebês e crianças pequenas na creche: um currículo de educação e cuidados baseado em relações qualificadas. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. 13A organização dos espaços na educação infantil HORN, M. G. S. Estudo propositivo sobre a organização dos espaços internos das unidades do Proinfância em conformidade com as orientações desse programa e as Diretrizes Cur- riculares Nacionais para Educação Infantil (DCNEIs) com vistas a subsidiar a qualidade no atendimento. Brasília: [s.n.], 2013. HORN, M. G. S. Brincar e interagir nos espaços da escola infantil. Porto Alegre: Penso, 2017. ZABALZA, M. A. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2007. Leituras recomendadas ALTEMAR, L. M. S. Teatralidades no espaço escolar: uma investigação com crianças da educação infantil. 2018. 157 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018. NUNES, H. M. C. A organização do espaço na educação infantil: contribuições da teoria histórico-cultural. 2018. 155 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2018. A organização dos espaços na educação infantil14 Conteúdo: