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1 Rafaela Pamplona Psicologia Médica II Reações Psicológicas ao Adoecimento .................................................................................................................................................1 Reações Psicológicas ao Adoecimento .................................................................................................................................................2 Cronicidade e Tratamento .....................................................................................................................................................................4 Reações Psicológicas ao Adoecimento Sobre as reações à doença e ao adoecer “Deixa de se interessar pelas coisas do mundo externo porque não dizem respeito ao seu sofrimento; (...) enquanto sofre, deixa de amar" Freud A doença é vista pelo indivíduo como uma ameaça do destino Modifica a relação da pessoa com o mundo e consigo mesmo Traz à tona o sentimento de impotência e mortalidade Sentimento que deixou de ser dono(a) de seu próprio corpo Desenvolvimento psicossocial (Erikson) História pessoal composta pelas experiências vivenciadas ao longo do tempo permite que novas habilidades sejam conquistadas e que alguns modos de se comportar sejam abandonados na vida adulta Enfrentamos uma série de crises ao longo da vida A personalidade dependerá do modo como essas crises são superadas Momentos em que alcança conquistas Momentos de enfrentar fracassos Tanto o adoecimento quanto a crise, definem o modo como a pessoa enfrenta a nova situação, que transforma seu modo de ser e estar, isto é: como ela se depara com as perdas (SIMON, 2019) Desencadeia uma série de sentimentos, como: angústia, impotência, desesperança, desvalorização, temor (medo da morte), apreensão Cada indivíduo é um ser único, por maior esforço que façamos ninguém vai sentir como ele A intensidade das reações pode variar de acordo com algumas características da doença e do indivíduo, e da relação com o médico, enfermeiro e demais membros da equipe Pode-se dizer que tais reações variam em torno de três possibilidades: a. Usuários que se entregam à doença, à dor e ao desespero; são aqueles que não lutam b. Usuários que tratam a doença como se fosse banal, mesmo sendo grave c. Usuários que promovem mudanças em sua vida, tentando se adaptar à situação adversa O sofrimento nos ameaça a partir de três direções (Freud) 1. Do nosso corpo condenado à dissolução - Perda da saúde 2. Do mundo externo que podem se voltar contra nós - Perda da liberdade 3. Dos nossos relacionamentos com outros seres humanos Fases do adoecimento (Sebastiani) Reação de alarme (percepção de que algo está errado) - Choque e contrachoque, tentativa de adaptação frente às mudanças ocorridas no ambiente hospitalar, se consegue lidar com esse estresse volta ao estado anterior, caso contrário, busca o reequilíbrio físico e emocional passando por outras fases Resistência (inicio do adoecimento) - Inquietação motora, agitação irritabilidade intensa, alterações do sono, agressividade, dificuldade de concentração Exaustão ou esgotamento (última fase) - O comportamento da fase anterior é substituído pela angústia e depressão e seu estado emocional se torna frágil e desestruturado Durante sua existência, o homem sempre busca recursos para não adoecer, ou seja, para não enfrentar a morte (CAMPOS, 2005) Apesar do sofrimento pelo fato de estar doente “ganhos” Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce 2 Rafaela Pamplona Mecanismo de defesa do ego Alguns mecanismos são ativados - Regressão - Negação - Deslocamento - Sublimação - Projeção Atitudes profissionais necessárias para o enfrentamento da doença pelo paciente Identificar a fase e os mecanismos utilizados pelo paciente para o enfrentamento da crise Observar e ouvir a linguagem verbal e não verbal do paciente Favorecer a expressão e o autorreconhecimento das angústias e sofrimentos no contexto hospitalar Buscar, junto com o paciente, a superação do momento de crise Possibilitar a expressão dos medos das perdas (da autonomia, da saúde, do dinheiro, do convívio familiar) Identificar também os ganhos secundários (companhia, atenção, cuidado) Colaborar para o alívio do sofrimento psíquico, ajudando-o a identificar o que está vivenciando e buscar novas formas de enfrentamento Auxiliar a pessoa a expressar suas ideias e atitudes, reforçando a percepção da realidade, para que assim adquira capacidade de enfrentamento no adoecimento e tratamento Reações Psicológicas ao Adoecimento Atendimento médico e o comportamento do paciente As pessoas evitam buscar o atendimento médico por diversas razoes: - Acreditam não ser algo grave - Costumam se automedicar - Questões financeiras - Medo de ser grave - Dúvida da capacidade do sistema de saúde O “estar doente” depende da percepção do sujeito em relação a sua condição Encarar este momento de sofrimento pode, finalmente, ser positivo ou se tornar uma situação com consequências negativas, dependendo da cultura do médico e da maneira de encarar a vida do paciente A doença é vista pelos pacientes como uma ameaça ao destino. Ela desencadeia diversos sentimentos como impotência, apreensão, desesperança, medo e desvalorização A doença modifica a relação do paciente frente ao mundo e também consigo mesmo Ela fere as sensações de imortalidade e onipotência do ser humano A doença serve para nos lembrar de que nosso corpo é mortal, e que podemos morrer, que não somos mais donos de nós mesmos. O impacto da doença imobiliza e traz a vivência de que houve uma quebra da linha de continuidade da vida Tipo e intensidade de reações frente a doença O tipo e a intensidade de reações frente a doença variam para cada indivíduo e para cada doença Portanto, essas reações dependem de diferentes fatores como - Caráter da doença: breve ou duradouro? - Prognóstico da doença: quais as possibilidades de evolução da doença? Há chance de cura? - Personalidade do individuo e sua capacidade de tolerância as mas situações e frustrações - Relação do paciente com o médico e os membros da equipe de saúde Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce 3 Rafaela Pamplona Relações transferenciais Transferência é a relação entre o paciente e o médico onde há um “deposito” das questões que afetam o paciente, podendo ser boa ou ruim O médico é feito pelo reconhecimento do doente, sendo ele o responsável por curar a sua dor, ou seja, é endereçado ao pedido de ajuda A transferência só acontece na relação com o outro, e este outro se faz presente através da subjetividade, pela presença do inconsciente, e pela alteridade, na medida em que o outro influencia na contribuição da subjetividade Contratransferência é a relação do médico para com o paciente, podendo ser também boa ou ruim Benefícios da doença Ganhos primários - Consistem na diminuição de ansiedade e conflitos resultantes da formação de um sintoma - Referem-se ao conflito inicial (interno) que gerou o sintoma psíquico - Para evitar o contato com a ansiedade que o conflito gera a pessoa “desenvolve” o sintoma e concentra sua atenção nele (e não no conflito e na ansiedade) “eles se queixam da doença, mas exploram com todas as suas forças; e se alguém tenta afastá-la deles,defendem- na como a proverbial leoa com seus filhotes” Freud Ganhos secundários - Referem-se a benefícios que um transtorno ou doença pode fornecer ao paciente, que passa justificar o desejo do paciente em continuar doente Ex.: maior atenção de amigos e familiares, diminuição de responsabilidades, licença no trabalho ou escola e até uma aposentadoria precoce Sendo assim, independente dos “ganhos” obtidos, todo processo de adoecer ativa mecanismos fisiológicos para reestabelecer defesas psicológicas no paciente Entre as possíveis reações emocionais podemos destacar: regressão, negação, minimização, raiva e culpa, “depressão”, “Doctor shopping”, rejeição, pensamento mágico e aceitação Reações emocionais e mecanismos fisiológicas de defesa Regressão - É a primeira e mais frequente das consequências psíquicas. - O paciente age de maneira infantil, de dependência e egocentrismo - Essa reação é útil quando o paciente se deixa ajudar, renuncia temporariamente as suas atividades habituais e aceita a hospitalização Negação - O paciente recusa o fato de estar doente - "Não, não é, não pode ser!" - Esse mecanismo de defesa é encontrado nas fases iniciais de doenças agudas, como infarto, ou doenças de prognóstico ruim (câncer) Minimização - O paciente tenta diminuir ou ignora a gravidade do seu problema Raiva e culpa - “Porque logo eu?” “O que foi que eu fiz para merecer isto?” - Um dos primeiros alvos é o médico: o paciente questiona a validade do diagnóstico, troca de profissional - Esses sentimentos podem ser dirigidos também a outras pessoas de convívio próximo ou a si próprio Depressão - Todo paciente, independente do diagnóstico e da gravidade do seu problema, apresenta um componente "depressivo" consequente à perda de sua saúde - Ocorre devido ao ataque à imagem corporal, à autoestima e ao sentimento de identidade do indivíduo “Doctor shopping” - O paciente sai em busca de alternativas ou de pessoas que se proponham a restabelecer sua saúde - Faz um verdadeiro “shopping” de médicos Rejeição - O paciente já tomou conhecimento de sua doença, tem certeza de sua existência, mas evita falar ou realizar atividades que lembrem a enfermidade Pensamento mágico - É a crença de que um ritual pode reverter o seu quadro Ex.: pacientes que fazem uso de simpatias, garrafadas Aceitação - Tentativa de buscar uma convivência razoável com a doença - “Não sou a doença, estou com a doença” Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce 4 Rafaela Pamplona Cronicidade e Tratamento O paciente e sua família Os transtornos que envolvem a doença e o sofrimento psíquico desencadeado por ela são realidades inerentes ao homem desde tempos primitivos A maneira pela qual esses fenômenos são vivenciados, manipulados e entendidos depende do contexto social e emocional em que estão inseridos A ocorrência de uma doença na família deve ser considerada e compreendida como um fenômeno social e pode ocasionar intensa angústia e desorganização psicológica É necessário compreender os processos que regem a psicodinâmica familiar O diagnóstico de doença crônica afeta significativamente a sua qualidade de vida (QV), que pode ser definida como a percepção subjetiva de como os fatores relacionados à saúde (biológico, social, psicológico, espiritual) podem influenciar no bem-estar e contribuir para o resultado do tratamento A doença crônica é uma condição de adoecimento que apresenta curso longo, podendo ser incurável, deixar sequelas, impor limitações às funções do indivíduo e requerer adaptação Essa doença pode ter uma sintomatologia constante ou permitir períodos de tempo de ausência de sintomas e implicar a adesão a regimes terapêuticos específicos e muitas vezes rigorosos O “ser com doença crônica” implica em uma série de mudanças, que podem pôr em risco o bem-estar psicossocial e contribuir para o aumento da sintomatologia psicológica por causa da redução da acessibilidade a experiências positivas da vida Pode envolver sintomas depressivos, conflitos conjugais, ajustamentos, distúrbios do humor, pessimismo, afastamento/isolamento social e redução de convívios de lazer Fatores psicossociais que podem interferir nas reações da família A gravidade da doença O prognóstico e a idade em que a doença se manifesta. A pré-existência de distúrbios emocionais e familiares. Os efeitos advindos do tratamento As limitações na vida familiar e social A atenção centrada na família considera o indivíduo e o sistema familiar como um marco de referência para melhor compreensão da situação de saúde, e parte dos recursos que os indivíduos dispõem para manterem-se sãos ou recuperarem sua saúde O grupo familiar é um sistema intercomunicacional, no qual o comportamento de um dos seus membros somente pode ser compreendido considerando o contexto de todo o sistema grupal (aspectos sociais, culturais, psicológicos e biológicos) A adaptação dos membros familiares à doença não é homogênea, devendo ser considerados os papéis que cada um desenvolve antes de seu surgimento, bem como cabe ao profissional diagnosticar como a família lida com as etapas de transição e identificar formas de melhor intervir no grupo Diagnóstico da doença crônica na criança ou adolescência e a dinâmica familiar O impacto de uma doença crônica na criança ou adolescente pode provocar necessidades adaptativas na dinâmica familiar O cuidado do familiar associado à preocupação com a situação de adoecimento, faz com que o cuidador foque suas atividades diárias somente nas necessidades do paciente Diante da situação de crise vivenciada pela família, surge o conceito de vulnerabilidade familiar - sentimento de familiares que são ameaçados em sua autonomia, sob pressão da doença, da própria família e da equipe em uma situação de adoecimento e hospitalização de um filho A experiência de vulnerabilidade pode trazer consequências positivas à família, tornando-se uma força positiva que a impulsiona na busca do resgate de sua autonomia, ameaçada pela condição existencial humana e pela interação com a equipe Para uma melhor compreensão das reações emocionais da família, é importante considerar o nível de ajustamento psicológico dos pais anteriormente à doença Rupturas de grandes proporções nos laços familiares comumente são geradas por instabilidade e alterações desencadeadas pelo distanciamento familiar e mudanças na sua dinâmica e nos papéis sociais As reações afetivo-comportamentais que podem ser manifestadas pelos pais após o diagnóstico de uma doença crônica podem ser caracterizadas como - Negação - Ansiedade - Estresse - Limitação - Medo - Dependência emocional - Depressão - Angústia Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce 5 Rafaela Pamplona - Impotência - Culpa - Superproteção - Isolamento social A família deve ser vista como um paciente a ser cuidado, assegurando-lhe todo acompanhamento necessário para ajudá-la a lidar com as dificuldades do adoecer Os membros da família não se adaptam de forma uniforme ao surgimento de uma doençacrônica, pois cada um possui uma experiência acerca do adoecer, vivenciando-a de formas diferentes e de acordo com o nível de conhecimento e envolvimento com a situação Características da organização familiar que podem favorecer o enfrentamento das situações mais difíceis - Capacidade de comunicação: habilidades para conversar claramente, resolver problemas e estabelecer empatia - Coesão familiar: vinculo emocional mantido entre membros de uma família, bem como a preservação da autonomia individual - Adaptabilidade: capacidade da família em mudar a sua estrutura e dinâmica funcional, isto é, seus papeis e funcionamento em virtude de situações de estresse Aspectos psicossociais para enfrentamento da situação-problema Recursos individuais - Estabilidade emocional - Habilidade para cuidar e acolher - Capacidade cognitiva adequada - Capacidade para mudanças reformulação, reorganização e adaptação - Valorização das relações interpessoais (sentimento de pertencimento) Recursos familiares - Coesão - Integração - Flexibilidade - Organização - Empatia entre os membros Recursos ambientais - Redes de apoio social - Serviços de saúde - Trabalho - Políticas públicas A superação de uma crise não representa retorno a situação anterior Pode ocasionar mudanças desejáveis e vivenciadas como uma possibilidade de crescimento ou insatisfatórias ao sistema familiar Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce Maria Clara Realce
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