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Organização da Justiça Penal Direito Processual Penal Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ELLEN THAYNNÁ MARA DELGADO BRANDÃO MILENA BARBOSA DE MELO AUTORIA Ellen Thaynná Mara Delgado Brandão Eu, Ellen, tenho graduação em Direito pela Unifacisa – Universidade de Ciências Sociais Aplicadas e pós-graduanda em Docência do Ensino Superior. Atualmente sou professora conteudista e elaboradora de cadernos de questões. Como jurista, atuo nas áreas de Direito Penal, Direito do Trabalho e Direito do Consumidor. Milena Barbosa de Melo Eu, Milena, tenho graduação em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (2004). Doutora em Direito Internacional pela Universidade de Coimbra. Mestre e Especialista em Direito Comunitário pela Universidade de Coimbra. Atualmente, sou professora universitária e conteudista. Como jurista, atuo, principalmente, nas seguintes áreas: Direito à Saúde, Direito Internacional público e privado, Jurisdição Internacional, Direito Empresarial, Direito do Desenvolvimento, Direito da Propriedade Intelectual e Direito Digital. Desse modo, fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Jurisdição e Competência ....................................................................... 12 Jurisdição ............................................................................................................................................. 12 Princípios que Regem a Jurisdição Criminal ............................................ 14 Competência ..................................................................................................................................... 15 Espécies de Competência ................................................................................... 17 Competência Absoluta e Relativa ................................................................... 18 Arguição de Incompetência ................................................................................ 21 Regras de Competência de Foro ..........................................................23 Domicílio ou Residência do Réu como Foro Supletivo .......................................24 A Matéria como Regra Específica de Competência ..............................................25 Prerrogativa de Foro com Regra Específica de Competência .....................27 A Distribuição como Alternativa à Competência Cumulativa Supletiva 30 Conexão e Continência como Regra de Alteração de Competência .... 30 Prevenção como Critério Residual de Fixação de Competência ................ 31 Conexão e Continência Processual .....................................................34 Conexão Material e Conexão Processual ..................................................................... 36 Espécies de Conexão .................................................................................................................. 36 Conexão Intersubjetiva ............................................................................................37 Intersubjetiva por Simultaneidade ...............................................37 Intersubjetividade por Concurso .................................................. 38 Intersubjetiva por Reciprocidade ................................................. 38 Conexão Objetiva ........................................................................................................ 39 Conexão Instrumental ............................................................................................ 40 Espécies de Continência ......................................................................................................... 40 Continência por Cumulação Subjetiva ......................................................... 41 Continência por Cumulação Objetiva ........................................................... 41 Efeitos da Conexão e da Continência ..............................................................................42 Regras para Eleição de Foro Prevalente ...........................................45 Competência Prevalente do Tribunal do Júri..............................................................45 Descoberta da Conexão ou Continência, após a Prolação da Sentença de Pronúncia........................................................................................... 46 Conexão e Continência, Prerrogativa de Foro e Júri ......................... 46 Jurisdição de Mesma Categoria ...........................................................................................47 Jurisdição de Categoria Diversa .......................................................................................... 48 Conflito entre Jurisdição comum e Especial.............................................................. 49 Força Atrativa da Justiça Federal em Face da Justiça Estadual 49 Exceção à Regra da Junção dos Processos em Caso de Conexão e Continência ......................................................................................................................................... 50 Jurisdição Comum e Jurisdição Militar ....................................................... 50 Justiça Comum e Justiça da Infância e da Juventude ..................... 51 Separação dos Processos Devido à Superveniência de Doença Mental ................................................................................................................................... 51 Impossibilidade de Julgamento de Réu Ausente ................................52 Separação dos Processos em Razão da Recusa dos Jurados ...52 Separação Facultativa de Processos ................................................................................53 9 UNIDADE 04 Direito Processual Penal 10 INTRODUÇÃO Esta unidade será dedicada ao estudo da Competência Criminal, sabendo que é um importante tema para se obter conhecimento da jurisdição responsável pelo julgamento dos processos na esfera criminal. Estudaremos o que vem a ser jurisdição e competência e quais as regras para a competência de foro. Em meio as regras para competência de foro, reservamos um capítulo especial para tratar da conexão e continência, por conterem casos especiais de junção de separação de processos. Por fim, trataremos das regras para eleição de foro prevalente, tendo em vista que em vários processos haverá juízos diferentes para julgamento. Empolgados por esse estudo? Vamos lá! Direito Processual Penal 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4 – Organização da justiça penal. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimentodas seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender o que vem a ser jurisdição e competência. 2. Identificar a regra geral de competência de foro. 3. Assimilar a conexão e a continência processual. 4. Conhecer as regras para eleição de foro prevalente. Então? Preparado para adquirir conhecimento de um assunto fascinante e inovador como esse? Vamos lá! Direito Processual Penal 12 Jurisdição e Competência OBJETIVO: Este capítulo será dedicado ao estudo de jurisdição e competência, o que vem a ser cada uma e aprendendo os tipos de competência. Vamos lá!! Jurisdição É nítido o quando a vida em sociedade produz vários conflitos de interesses, a maioria destes são solucionados sem que haja a necessidade de partir para o litígio. Todavia, existem casos em que, para a resolução dos conflitos, uma das partes resista, surgindo a necessidade do Estado, por meio do processo, de resolver este conflito que tem interesses opostos, surgindo a jurisdição. Para Lopes Filho (2019), o conceito de jurisdição no processo penal, deve abandonar a discussão entre jurisdição voluntária e contenciosa, tendo em vista que no processo penal não existe lide. Mas, o que vem a ser jurisdição? Nucci (2011) conceitua jurisdição como o poder atribuído, constitucionalmente, ao Estado para aplicação da lei ao caso concreto, compondo litígios e resolvendo conflitos. Completando o conceito, Tucci (2003) aponta que a jurisdição é uma função estatal inerente ao poder-dever de realização de justiça, mediante atividade substitutiva do Poder Judiciário, sendo concretizada na aplicação do direito objetivo a uma relação jurídica, com a respectiva declaração, e o consequente reconhecimento, satisfação ou asseguração do direito subjetivo material de um dos titulares das situações que a compõem. A jurisdição constitui em um direito fundamental, garantida pelo Constituição Federal em seu art. 5º, XXXV. Dessa forma, toda pessoa tem direito de ser julgado por um juiz natural, imparcial e no prazo razoável. Direito Processual Penal 13 A regra é que a atividade jurisdicional seja exclusiva dos integrantes do Poder Judiciária, todavia, a própria Constituição Federal traz exceções, por exemplo, o art. 52 deste dispositivo legal que traz a possibilidade do Senado Federal de processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade. Desta forma, tendo como função estatal exercida pelo Poder Judiciário, a jurisdição se caracteriza pela aplicação do direito objetivo a um caso concreto. Importante destacar que a jurisdição é una, mas isso não quer dizer que sempre será o mesmo juiz que irá processar e julgar as causas. O Estado tem o dever de distribuir o poder de processar e julgar entre vários juízes e diversos Tribunais. Assim, cada órgão jurisdicional só pode aplicar o direito objetivo nos limites em que lhe foram conferidos na distribuição feita pelo Estado. NOTA: De maneira geral, podemos dizer que todo juiz, acometido de sua função, tem jurisdição e atribuição de compor os conflitos que emergem na sociedade, utilizando da força estatal para proceder a decisão, compulsoriamente. Direito Processual Penal 14 Figura 1 – Juiz Fonte: Freepik (2020). Princípios que Regem a Jurisdição Criminal Podemos elencar os princípios que regem a jurisdição criminal, de acordo com Nucci (2011): 1. Princípio da indeclinabilidade – Garante que o juiz não pode se abster de julgar os casos que lhe forem apresentados. 2. Princípio da improrrogabilidade – Diz que as partes, mesmo entrando em acordo, não podem subtrair ao juízo natural o conhecimento de determinada causa, na esfera criminal. 3. Princípio da indelegabilidade – Garante que o juiz não pode transmitir o poder jurisdicional a quem não o tem. 4. Princípio da unidade – Garante que a jurisdição é única, pertencente ao Poder Judiciário, o que o diferencia no poder é à sua aplicação e o grau de especialização, que pode ser civil (federal ou estadual), penal (federal ou estadual), militar (federal ou estadual), eleitoral ou trabalhista. Direito Processual Penal 15 5. Princípio do juiz natural – Princípio é compreendido como o direito de cada cidadão de saber, de maneira prévia, qual autoridade irá processá-lo e julgá-lo, caso venha a praticar uma infração penal. Desta forma, o juiz natural é aquele que é constituído, antes do julgamento do fato delituoso. Este princípio visa assegurar para as partes a imparcialidade e a independência do juiz. Encontra-se tipificação deste princípio na Convenção Americana sobre Direito Humanos (Decreto nº 678/92), em seu art. 8, que diz que toda pessoa tem o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e no prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. Competência A competência caminha lado a lado com a jurisdição, tendo em vista que ela é quem delimita, determinando o espaço em que a autoridade judiciária deve aplicar, o direito aos litígios que lhe são apresentados. Pelo conceito trazido por Lima (2019, p.345), a competência é a medida e o limite da jurisdição, nos quais o órgão jurisdicional poderá aplicar o direito objetivo ao caso concreto. Para completar o conceito, Lopes Filho (2009) diz que a competência é: O poder de fazer atuar a jurisdição que tem um órgão jurisdicional diante de um caso concreto. Decorre este poder de uma delimitação prévia, constitucional e legal, estabelecida segundo critérios de especialização da justiça, distribuição territorial e divisão de serviço. A exigência desta distribuição decorre de evidente impossibilidade de um juiz único decidir toda a massa de lides existentes no universo e, também, da necessidade de que as lides sejam decididas pelo órgão jurisdicional adequado, mais apto a melhor resolvê-las. (LOPES FILHO, 2009, p.133) Direito Processual Penal 16 IMPORTANTE: Podemos dizer que a jurisdição é um poder e a competência é uma permissão legal para exercer este poder na sua fração correspondente. A competência traz reflexos na aplicação do princípio do juiz natural, conforme mencionado. Um dos principais apontamentos a serem feitos é, quando uma nova lei entra em vigor, e em seu conteúdo existe a alteração da competência e sua aplicação imediata aos processos que estejam em andamento. O entendimento jurisprudencial é de que a modificação da competência criminal, que decorre de lei que altere a razão da matéria, não viola o princípio do juiz natural. Segundo Lima (2019), o fundamento é de que na Constituição Federal, este princípio não tem o mesmo alcance daquele previsto em constituições de países estrangeiros, que exigem que o julgamento seja realizado por juízo competente, estabelecido em lei anterior aos fatos, tanto é que o art. 5º em seu inciso LIII da Constituição Federal, assegura somente processo e julgamento frente à autoridade competente, sem exigir que o juízo deve ser pré-constituído ao delito a ser julgado. NOTA: A jurisprudência sustenta que norma que altera competência tem natureza, genuinamente processual, devendo ser praticada nela o princípio da aplicação imediata que consta no art. 2º do CPP, assegurando que a lei processual penal deve ser aplicada desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob vigência da lei anterior. Direito Processual Penal 17 Espécies de Competência De acordo com Lima (2019), a competência é distribuída, levando em consideração quatro aspectos diferentes: 1. Ratione materiae (razão da matéria) – De acordo com o art. 69, III, do Código de Processo Penal, é aquela estabelecida em virtude da natureza da infração penalpraticada. É a competência conferida, por exemplo, em ser a Justiça Eleitoral competente para julgar crimes eleitorais. 2. Ratione funcionae (razão da função) – Nos termos do art. 69, VII, do Código de Processo Penal, leva em consideração as funções desempenhadas pelo agente, como critério para a fixação de competência. Aqui podemos citar o exemplo da competência, estabelecida, na Constituição Federal em seu art. 105, I, a, de que governadores de estado e desembargadores são julgados, perante o Superior Tribunal de Justiça. 3. Ratione loci (razão do local) – Estabelecida pelo art. 69, I e II, do Código de Processo Penal, diz que após delimitada a competência de Justiça, deve ser delimitada em qual comarca ou subseção Judiciária será processado e julgado o agente. Assim, a fixação da competência territorial será fixada seja pelo lugar da infração, seja pelo domicílio ou residência do réu. 4. Competência funcional – Lopes Filho (2009) aponta que esta competência consiste na distribuição feita pela lei, entre diversos juízes da mesma instância ou de instâncias diversas para, num mesmo processo, ou em um segmento ou fase de desenvolvimento, praticar determinados atos. Assim, a competência deve ser fixada, de acordo com a função que cada um dos órgãos estabelece em um processo. A competência funcional é dividida em três: • Competência funcional por fase do processo – Um órgão jurisdicional exerce a competência, de acordo com a fase do processo. Podemos citar o exemplo do processo bifásico do Tribunal do Júri, no qual existe um juiz para a primeira fase e para a segunda. Direito Processual Penal 18 • Competência funcional por objeto do juízo – Cada órgão jurisdicional exerce a competência sobre determinadas questões a serem decididas no processo, como os juízos colegiados heterogêneos. • Competência funcional por grau de jurisdição – Tem o condão de dividir a competência entre órgãos jurisdicionais superiores e inferiores. Desta forma, a competência pode ser originária ou em razão de recurso. Competência Absoluta e Relativa A competência absoluta são as hipóteses de fixação de competência, nas quais não é admitida prorrogação, ou seja, o processo deve ser remetido ao juiz natural que é determinado, pela norma constitucional ou processual, sob pena de nulidade do feito. IMPORTANTE: Esta espécie de competência é indisponível às partes, devido ao fato de ser o interesse público que determina a criação da regra de competência. Encaixa-se neste tipo de competência, a competência em razão da matéria e a competência em razão da prerrogativa de função. Desta forma, caso um juiz que seja, absolutamente incompetente, decida um caso determinado, até o momento em que sua incompetência seja declarada, esta sentença não será inexistente, mas será dotada de nulidade absoluta, dependendo de pronunciamento judicial para que possa ser desconstituída. Direito Processual Penal 19 De acordo com Lima (2019), as principais características da nulidade absoluta são: • Pode ser arguida a qualquer momento, enquanto não houver o trânsito em julgado da decisão. Se a sentença for condenatória ou absolutória imprópria, estas nulidades podem ser arguidas até mesmo, após o trânsito em julgado, por meio da revisão criminal ou do habeas corpus; • O prejuízo é presumido, tendo em vista que a competência absoluta se origina de norma constitucional; a incompetência absoluta terá como resultado um atentado a preceito constitucional, derivando de prejuízo, imprescindível para a declaração de uma nulidade. Assim, conhecendo a incompetência absoluta, o processo deve ser anulado ab initio. A competência relativa, por sua vez, é a hipótese de fixação de competência que admite prorrogação, isto é, não sendo invocada a tempo, a incompetência de foro, o juiz que cometeu o feito se torna competente, não se admitindo, posteriormente, qualquer alegação de nulidade. Desta forma, as principais características da competência relativa são, de acordo com Lima (2019): • Deve ser arguida no tempo certo, em se tratando de incompetência relativa, sua arguição deve ser no momento da resposta à acusação, sob pena de preclusão. • O prejuízo deve ser comprovado. Exemplo de competências relativas são a competência territorial, a competência por prevenção, competência por distribuição e competência por conexão ou continência. IMPORTANTE: A divisão, entre competência absoluta e relativa, não se encontra em disposição legal, mas é dada pela doutrina e confirmada pela jurisprudência. Direito Processual Penal 20 Para sintetizar as diferenças entre as competências absoluta e relativa, podemos traçar o seguinte quadro comparativo: Quadro 1 - Diferenças entre a competência absoluta e a competência relativa COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA Regra de competência criada com base no interesse público. Regra de competência criada com base no interesse preponderante das partes. A regra não pode ser modificada, isto é, trata-se de competência improrrogável ou imodificável. A regra pode ser modificada, isto é, cuida-se de competência prorrogável ou derrogável. Incompetência absoluta é causa de nulidade absoluta: pode ser arguida a qualquer momento, mesmo após o trânsito em julgado. O prejuízo é presumido. Incompetência relativa é causa de, no máximo, nulidade relativa: deve ser arguida no momento oportuno, sob pena de preclusão. O prejuízo deve ser comprovado. Pode ser reconhecida ex officio pelo magistrado, enquanto não esgotada sua jurisdição pela prolação de sentença. Pode ser reconhecida ex officio pelo magistrado, porém somente até o início da instrução processual. Pode ser arguida por meio de exceção de incompetência, todavia, como o magistrado pode conhecê-la de ofício, nada impede que a parte aborde a incompetência absoluta de outra forma. Pode ser arguida por meio de exceção de incompetência, todavia, como o magistrado pode conhecê-la de ofício, nada impede que a parte aborde a incompetência absoluta de outra forma. Se a competência absoluta não admite modificações, a conexão e a competência, que são causas modificativas da competência, não podem alterar uma regra de competência absoluta. Como a competência relativa admite modificações, a conexão e a continência podem funcionar como critérios modificativos da competência, tornando competente para o caso concreto, juiz que não o seria sem elas. Exemplo: ratione materiae, ratione funcionae e competência funcional. Exemplos: ratione loci, competência por distribuição, competência por prevenção, conexão e continência. Fonte: Elaborado pelas autoras com base em LIMA (2019). Direito Processual Penal 21 Arguição de Incompetência O art. 95, II, do Código de Processo Penal, traz a exceção de incompetência. O art. 108, deste mesmo dispositivo legal, diz que ela pode ser arguida de, forma verbal ou por escrito, no prazo de defesa, de 10 dias. É importante ressaltar que tanto a incompetência absoluta quanto a relativa, podem ser conhecidas de ofício pelo juiz, pois entende-se que o magistrado tem a competência para delimitar sua própria competência. Desta forma, quais são as consequências da incompetência absoluta e relativa? O art. 567 do CPP diz que a incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente. Assim, os atos praticados por juízo incompetente são atos nulos e não inexistentes, o reconhecimento da incompetência não acarreta a extinção do processo. Quando houver incompetência relativa serão anulados os atos decisórios, todavia, quando for absoluta a incompetência, serão anulados os atos decisórios e os atos probatórios. RESUMINDO: Estudamos neste capítulo que a jurisdição é o poder atribuído, constitucionalmente ao Estado, para aplicação da lei ao caso concreto,compondo litígios e resolvendo conflitos. Vimos que a regra é que a atividade jurisdicional seja exclusiva dos integrantes do Poder Judiciária. Direito Processual Penal 22 Em seguida, estudamos os princípios da jurisdição criminal que são: indeclinabilidade, improrrogabilidade, indelegabilidade, unidade e juiz natural. Já no que diz respeito à competência, é a medida e o limite da jurisdição, nos quais o órgão jurisdicional poderá aplicar o direito objetivo ao caso concreto. Estudamos que a competência é distribuída, levando em consideração quatro aspectos diferentes: Ratione materiae, Ratione funcionae, Ratione loci e competência funcional, sendo a competência funcional, dividida em competência funcional por fase do processo, competência funcional por objeto do juízo e competência funcional por grau de jurisdição. Vimos a diferença da competência absoluta e da relativa, na qual a absoluta são as hipóteses de fixação de competência que não é admitida prorrogação e a relativa é a hipótese de fixação de competência que admite prorrogação; o prazo para arguição de incompetência é de 10 dias. Direito Processual Penal 23 Regras de Competência de Foro OBJETIVO: Neste capítulo estudaremos sobre as regras de competência de foro, indo da regra geral, até as regras específicas. Elencaremos os órgãos que têm competência especial e traremos conceitos novos do processo penal. Empolgados? Vamos lá! Estudamos no capítulo anterior sobre o que vem a ser a competência. Nesse estudaremos como são as regras para estabelecimento destas competências. Para que se possa determinar o juízo que tem competência para processar e julgar uma determinada infração penal, devemos fazer uma série de perguntas: 1. Qual a Justiça competente para julgar? 2. O acusado tem prerrogativa de função? 3. Em que foro, a infração penal deve ser processada e julgada? 4. Qual o juízo competente para processar e julgar a infração penal? 5. Qual o juiz ou órgão internamente competente? 6. Qual órgão jurisdicional compete o julgamento de eventual recurso? O art. 69 do Código de Processo Penal estabelece os seguintes critérios, de determinação da competência jurisdicional, no tocante ao processo penal comum: 1. O lugar da infração. 2. O domicílio ou residência do réu. 3. A natureza da infração. 4. A distribuição. 5. A conexão ou continência. 6. A prevenção. 7. A prerrogativa de função. Direito Processual Penal 24 Como regra, é o lugar da infração o foro competente para ser julgada a causa, pois é o local onde a infração penal ocorreu, atingindo o resultado, perturbando a tranquilidade social e abalando a paz e o sossego da comunidade. Nos casos de crime tentado, deve-se verificar onde se deu o último ato executório, esse será o local do foro competente. (NUCCI, 2011, p. 254) O processo penal brasileiro adotou a teoria do resultado que diz que é competente para apurar a infração penal, aplicando a medida cabível ao agente, o foro onde se deu a consumação do delito. Além da teoria do resultado, existe a teoria da atividade, que leva em consideração o lugar onde ocorreu a ação, desconsiderando o local do resultado e a teoria da ubiquidade, considerada de forma indiferente como lugar do crime tanto o da ação quanto o do resultado. Após estudarmos a regra, vamos estudar as demais regras de competência. Domicílio ou Residência do Réu como Foro Supletivo Quando não tiver certeza do lugar onde houve a consumação da infração, utiliza-se a regra do domicílio ou residência do acusado. Se o réu tiver mais de um domicílio, deve ser aplicada a regra da prevenção, que consiste de acordo com o art. 83 do CPP, em sempre que concorrendo dois ou mais juízes, igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa. Consoante a isto, o art. 72, §1º do CPP estabelece que a existência de mais de uma residência indicará o uso da prevenção. Estudamos mais sobre a prevenção em um ponto mais adiante. Quando o acusado não tiver residência fixa, também será utilizada a regra da prevenção, de acordo com o §2º, do art. 72, que dispõe que se o réu não tiver residência certa ou não souberem seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato. Direito Processual Penal 25 NOTA: Nos casos de ação penal privada, o querelante que elege o foro que preferir, de acordo com o art. 73 do CPP. A Matéria como Regra Específica de Competência Existem hipóteses em que a lei leva em conta a razão da matéria para considerar o local de eleição do foro, deixando assim de lado o critério do lugar da infração e do domicílio do réu. Nesta hipótese, deve-se observar a natureza da matéria, a fim de que seja eleito o juiz competente. O art. 5º, XXXVIII, d, da Constituição Federal, traz uma destas hipóteses de crime que a competência é decorrente da matéria, que é o caso da competência privativa da vara do Júri, na qual lhe cabe julgar os delitos dolosos contra a vida, delitos que estão previstos no Capítulo I, do Título I, da Parte Especial do Código Penal, podemos citar o exemplo os tipos de homicídios, suicídio, aborto. IMPORTANTE: A vara do Júri não é responsável pelo julgamento de latrocínio, sendo este crime de responsabilidade do juiz singular. Direito Processual Penal 26 Existem duas hipóteses de desqualificação do Tribunal do Júri, de acordo com Nucci (2011): 1. Quando o juiz de vara privativa do júri verificar, por ocasião do julgamento da admissibilidade da acusação, que não se trata de crime doloso contra a vida, deverá alterar a classificação, deixando, desta forma, de ser competente para prosseguir no processamento do feito, enviando-o ao juiz singular. 2. Quando os jurados, no Tribunal do Júri, concluírem que a infração não é de sua competência, em vez do juiz remeter o feito ao juiz singular, ele mesmo julgar, até por questão de economia processual, levando em consideração que houve uma grande trajetória para que o feito atingisse a fase de decisão em plenário. Cabe, desta forma, ao magistrado presidente decidir o caso. Outro caso em que deve ser observada a matéria é com relação à Justiça Militar. O art. 124 da Constituição Federal diz que compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares, definidos em lei. O art. 125, em seu §5º diz que compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, de forma singular, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. Desta forma, qualquer militar deve ser julgado pela Polícia Militar. SAIBA MAIS: Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o art. 9º do Código Penal Militar, clicando aqui. É importante destacar o fato de um civil cometer algum crime, vinculado por conexão ou continência ao delito militar, deverá responder perante a Justiça Comum. Direito Processual Penal http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1001.htm 27 Prerrogativa de Foro com Regra Específica de Competência Se toma a competência pela qualidade da pessoa que está em julgamento. Podemos citar, por exemplo, o prefeito de uma cidade do interior que deve ser julgado pelo Tribunal de Justiça da capital do Estado. Desta forma, de acordo com Nucci (2011), o foro privilegiado é uma maneira de dar especial relevo ao cargo ocupado pelo agente do delito e jamais pensando em estabelecer desigualdade entre os cidadãos. Após estudarmos o que vem a ser prerrogativa de foro e de material, devemos apresentar a divisão judiciária, que são estabelecidas por normas constitucionais e infraconstitucionais com relação aos julgamentos, de acordo com Nucci (2011). 1. SupremoTribunal Federal é encarregado de julgar: • Nas infrações penais comuns – Presidente da República, Vice- Presidente, membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros, Procurador-Geral da República e o Advoga-Geral da União. • Nas infrações penais comuns e crimes de responsabilidade em competência originária – Ministros de Estado (rol elencado no art. 25, parágrafo único da Lei nº10683/2003), membros dos Tribunais Superiores, integrantes do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter pertinente. 2. Superior Tribunal de Justiça é encarregado de julgar: • Nas infrações penais comuns – Governadores de Estados e do Distrito Federal. • Nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade – Desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, integrantes dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Eleitorais e do Trabalho, membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e do Ministério Público da União, oficiantes nestes tribunais. Direito Processual Penal 28 3. Superior Tribunal Militar é encarregado de julgar nos crimes militares, os oficiais generais das Forças Armadas, assim como habeas corpus, mandado de segurança, entre outros. 4. Tribunais Regionais Federais são encarregados de julgar, nas infrações penais comuns e de responsabilidade, juízes federais da área da sua jurisdição, sendo incluídos os magistrados da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, assim como os membros do Ministério Público da União e Prefeitos. 5. Tribunais Regionais Eleitorais são encarregados de julgar, nas infrações eleitorais juízes e promotores eleitorais, Deputados estaduais e Prefeitos. 6. Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal são encarregados de julgar, nas infrações penais comuns e de responsabilidade, os juízes de direito e membros do Ministério Público. 7. Tribunal de Justiça Militar do Estado é encarregado de julgar, nos crimes militares, o Chefe da Casa Militar e o Comandante Geral da Polícia Militar. 8. Juízes Eleitorais são encarregados de julgar nos crimes eleitorais qualquer pessoa. 9. Justiça Comum de primeiro grau: • Juízes Federais – Crimes praticados em detrimento de bens, serviços e interesses da União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas; crimes políticos; crimes previstos em tratados ou convecção internacional, quando teve a execução iniciada no Brasil, consumando-se ou devendo consumar-se no exterior, ou vice-versa; crimes contra a organização do trabalho, quando envolver interesses coletivos dos trabalhadores; crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, nos casos apontados por Lei; crimes cometidos a bordo de navios; crimes de ingresso, reingresso e permanência irregular de estrangeiros no Brasil; crimes cometidos contra comunidades indígenas; Direito Processual Penal 29 cumprimento de cartas rogatórias e sentenças estrangeiras, homologadas pelo Superior Tribunal de Justiça; causas relativas a direitos humanos. • Juízes estaduais – Têm competência residual, ou seja, todas as demais infrações não abrangidas pela Justiça Especial e pela Justiça Federal, que é especial em relação à Estadual. 10. Justiça Política, sendo composta pelos seguintes órgãos: • Senado Federal – Julga os crimes de responsabilidade do Presidente e Vice-Presidente da República, Ministros de Estado e Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, do Procurador-Geral da República, do Advogado-Geral da União e membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público. • Tribunal Especial – Julgar, nos crimes de responsabilidade, o Governador, Vice-Governador e os Secretários de Estado, nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles, bem como o Procurador-Geral de Justiça e o Procurador-Geral do Estado. • Câmara Municipal – Julgar, nos crimes de responsabilidade, os Prefeitos. Direito Processual Penal 30 A Distribuição como Alternativa à Competência Cumulativa Supletiva Existindo na comarca mais de um juiz competente para julgar matéria criminal, não havendo distinção entre a natureza da infração, deve-se ter o critério de competência por distribuição, sendo determinado pela sorte o magistrado competente. Conexão e Continência como Regra de Alteração de Competência De acordo com Nucci (2011), a conexão e a continência, em regra, institutos que visam a alteração de competência e não sua fixação inicial. Mas o que vem a ser cada um destes institutos? Nucci (2011) diz que conexão significa o liame existente entre infrações, cometidas em situações de tempo e lugar que as tornem indissociáveis. Assim ela é o nexo, a dependência que as coisas ou os fatos têm entre si. Nos termos do art. 76, I do CPP, a conexão ocorre se, houver duas ou mais infrações sendo praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas ou por várias em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras. Separar estas ações será dificultar os esclarecimentos, fazendo com que as provas sejam enfraquecidas e ocorra o risco de ter sentenças dissonantes e contraditórias. Já a continência é quando um fato criminoso contém outros, tornando assim todos como uma unidade indivisível. O art. 77, do CPP diz que a continência será determinada, quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração, quando houver concurso de pessoas e quando houver concurso formal. A continência é fundamental para que haja uma avaliação unificada dos fatos criminosos que são gerados por um ou mais autores. Direito Processual Penal 31 As exceções à conexão e continência encontram-se no art. 79 do CPP: quando houver concurso entre a jurisdição comum e a militar e no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. Estudaremos no próximo capítulo, detalhadamente, a conexão e a continência. Prevenção como Critério Residual de Fixação de Competência O critério da prevenção é aplicável, quando não se podem ser utilizados os outros critérios para estabelecimento da competência do juiz, pelo motivo de pela situação, gerada mais de um juiz possa conhecer o caso. Assim, quando a infração se espalhar por mais de um local, não encontrando o domicílio do réu, inexistindo o critério da natureza do delito, e também, não puder o feito ser distribuído, tendo que vista que os magistrados estão em comarcas diferentes, e ainda, não estar presente nenhuma regra de conexão ou continência, deve-se ser usada a regra residual nos moldes do art. 83, na qual, quem primeiro conhecer do feito, é competente para julgá-lo. Nucci (2011) pontua a diferenciação do critério de prevenção sob duas óticas: 1. Se não souber onde se deu a consumação do delito, assim como quando não tiver ciência do local de domicílio ou residência do réu, a prevenção funciona como foro subsidiário. 2. Havendo incerteza entre os limites territoriais de duas ou mais comarcas, assim como não souber onde foi cometido exatamente o delito, e também, quando se tratar de infração continuada ou permanente, a prevenção serve como regra de fixação de competência. Direito Processual Penal 32 Mas o que vem a ser infração continuada e infração permanente? Prates (2006) aponta que infração continuada surge, quando dois ou mais ilícitos da mesma espécie são realizados de modo similar. Acentuando este o art. 71 do Código Penal diz que o crime continuado é quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplicando a pena de somente um dos crimes, se idênticas, ou a mais grave se foremdiversas, devendo ser aumentada em qualquer caso de um sexto a dois terços. Já no que se refere à infração permanente, Prates (2006) diz que existe quando há um único ato ilícito cuja conduta perdura no tempo. Assim, o crime permanente é aquele que se consuma por meio de uma única conduta, embora o crime se prolongue, durante um tempo até quando queira o agente. Como exemplo que o delito permanente, podemos citar o sequestro. Em suma, Nucci (2011) aponta que os casos de aplicação da prevenção são: • Crimes ocorridos na divisa de duas ou mais jurisdições, sendo o limite entre elas incerto ou, ainda que seja certo, não se saiba precisamente o sítio do delito ou, também, quando a infração atingiu mais de uma jurisdição. • Crimes continuados ou permanentes, cuja sua execução se prolonga no tempo, podendo atingir o território de mais de uma jurisdição. • Quando o réu não tem domicílio certo ou tiver mais de uma residência ou mesmo, quando não for conhecido seu paradeiro, não tendo sido a competência firmada pelo lugar da infração. • Quando houver mais de um juiz competente, no concurso de jurisdição, sem possibilidade de aplicação de critérios desempatadores. Direito Processual Penal 33 RESUMINDO: Estudamos neste capítulo as regras de competência de foro, vimos que o art. 69 do CPP estabelece os critérios para determinação da competência jurisdicional: lugar da infração, domicílio ou residência do réu, natureza da infração, distribuição, conexão ou continência, prevenção e a prerrogativa de função. Vimos que a regra geral é o lugar da infração o foro competente para ser julgada a causa, pois é o local onde a infração penal ocorreu, atingindo o resultado, perturbando a tranquilidade social e abalando a paz e o sossego da comunidade. Em seguida, estudamos caso a caso, vendo que quando não tiver certeza do lugar onde houve a consumação da infração, utiliza-se a regra do domicílio ou residência do acusado, que existem hipóteses, em que a lei leva em conta a razão da matéria, para considerar o local de eleição do foro; outras em que a competência leva em consideração a qualidade da pessoa que está em julgamento, que há casos de distribuição de processo. Vimos ainda o que vem a ser conexão e continência e quando deve ser utilizada a regra de prevenção, quando não podem ser utilizados os outros critérios para estabelecimento da competência do juiz, pelo motivo da situação gerada, mais de um juiz pode conhecer o caso. Direito Processual Penal 34 Conexão e Continência Processual OBJETIVO: Abordaremos neste capítulo, de forma mais abrangente, o que vem a ser conexão e continência e os seus tipos, fazendo as devidas distinções, mostrando o quanto estas hipóteses acarretam em maior celeridade para a justiça. Vimos no capítulo anterior, o que é conexão e continência. Todavia, é importante conhecer a fundo cada um destes institutos. É importante reforçar o conceito de cada uma.. Trazemos agora a definição de conexão, estabelecida por Lima (2019), que diz que pode ser compreendida como o nexo, a dependência recíproca que dois ou mais fatos delituosos guardam entre si, recomendando a união de todos eles em um mesmo processo penal, perante o mesmo órgão jurisdicional, com a finalidade de que este tenha uma perfeita visão do quadro probatório. Por sua vez, no que diz respeito ao conceito de continência, Lima (2019) diz que ela se configura, quando uma demanda, em face de seus elementos, sendo eles as partes, o pedido e a causa de pedir, estiver contida em outra. Assim, ela é um vínculo jurídico entre duas ou mais pessoas, ou entre dois ou mais fatos delitivos, de forma análoga, continente e conteúdo, de tal modo que um fato delitivo contém as duas ou mais pessoas, ou uma conduta humana contém dois ou mais fatos delitivos, e sua consequência jurídica, com exceção de causa impeditiva, a reunião das duas ou mais pessoas, ou dos dois ou mais fatos delitivos, em um único processo penal perante o mesmo órgão jurisdicional. Assim, após retomamos estes conceitos, podemos ver que a reunião destes processos acarreta em uma maior celeridade e economia processual, além de permitir que o órgão jurisdicional tenha uma melhor visão das provas, evitando decisões contraditórias. Direito Processual Penal 35 EXEMPLO: Uma comarca tem duas varas criminais “A” e “B”. O Ministério Público oferece uma denúncia perante a vara “B”, em face de um indivíduo ter praticado um saque contra um posto de gasolina. Posteriormente, devido a um inquérito policial diverso, sendo distribuído a vara “A”, o Promotor de Justiça oferece uma denúncia em face de outro acusado, pela prática de um crime patrimonial que foi cometido, no mesmo lugar, e na mesma hora que o delito, anteriormente citado. Assim, o correto é o Parquet requerer a remessa para à vara “B”, tendo em vista que já existe conexão com outro crime nos moldes do art. 76, I do Código de Processo Penal. Um importante ponto a ser levantado é que a conexão e a continência só podem ser aplicadas em caso de competência relativa, tendo em vista que a competência absoluta não pode ser modificada, sendo assim aplicável de forma subsidiária o art. 54 do Código de Processo Civil, que diz a competência relativa pode ser modificada pela conexão ou pela continência, devendo ser observado o disposto na seção. EXEMPLO: Tendo em vista que a Constituição Federal estabelece a competência da Justiça Eleitoral e da Justiça Militar, em razão da matéria, que são espécies de competência absoluta, havendo conexão entre crimes eleitorais e militares, não poderão os feitos serem reunidos em um único processo. Sintetizando, de acordo com Lima (2019), as regras de conexão são aplicáveis a causas que, em princípio, seriam examinadas em separado e que, sendo verificada a conexão entre os feitos, deve ser corrido aos critérios de modificação ou prorrogação das competências. Se forem incabíveis, as regras modificativas da competência, as atribuições jurisdicionais originárias devem ser mantidas, porquanto a competência absoluta não se modifica ou prorroga. Desta forma, somente é admissível que a conexão possa alterar competências de natureza relativa, tornando competente para o caso concreto juiz que não o seria sem ela. O que acontece se não forem observadas às regras de conexão e continência? Direito Processual Penal 36 Não sendo observadas estas regras, só será causa de nulidade relativa, devendo ser arguida no momento oportuno sobre a pena de preclusão, devendo ser comprovado o prejuízo. Conexão Material e Conexão Processual É mister diferenciamos o que vem a ser conexão material e conexão processual, tendo em vista que a doutrina faz a diferenciação. Tornaghi (1967) diz que a conexão é material, quando os próprios crimes são conexos, todavia é processual, quando não há nexo entre os delitos, mas a comprovação de uns termina refletindo na de outros. Desta forma, é chamada de conexão material, quando no caso concreto, tiver alguma consequência de ordem penal; nos demais casos será sempre processual. Espécies de Conexão Sabendo que a conexão reúne as ações penais em um mesmo processo, de forma a funcionar como causa de modificação relativa mediante a prorrogação de competência, ela é dividida em espécies: • Conexão intersubjetiva, que pode ser dividida em: 1. Intersubjetiva por simultaneidade. 2. Intersubjetiva por concurso. 3. Intersubjetiva por reciprocidade. • Conexão objetiva. • Conexão instrumental. Vamos estudar em que consiste cada uma. Direito Processual Penal 37 Conexão Intersubjetiva A conexão intersubjetiva é a que, obrigatoriamente, envolve várias pessoas e vários crimes. Assim, é importante frisar que, de acordo com o art. 77, I, do Código de Processo Penal, se várias pessoas praticarem um único delito, não haverá conexão, mas sim continência por cumulação subjetiva. Destaforma, Nucci (2011) aponta que se tratando de conexão intersubjetiva pouco importa, se as várias pessoas estão reunidas em coautoria ou se os delitos são praticados por reciprocidade. Intersubjetiva por Simultaneidade A hipótese de intersubjetividade por simultaneidade diz respeito a vários agentes, cometendo infrações diferentes, embora sendo estas praticadas ao mesmo tempo, no mesmo lugar. “A simultaneidade dos fatos e da atuação dos autores faz com que seja conveniente uma apuração conjunta, por um único juiz” (NUCCI, 2011, p. 288). Esta situação vem elencada no art. 76, I, no qual conta que será determinada a competência por conexão se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas. Desta forma, essa situação serve para que haja uma melhor apuração probatória do ocorrido, pois evita que a mesma prova seja valorizada de forma diferente por outro magistrado. EXEMPLO: Quando em jogos de futebol, os torcedores começam a depredar um estádio. Direito Processual Penal 38 Intersubjetividade por Concurso Consiste na situação em que vários agentes que, em tempo e lugar diferente, cometem infrações penais, apesar de umas serem destinadas, devido ao vínculo subjetivo que liga os autores, a seguir de suporte às seguintes. Nucci (2011) pontua que é uma espécie de concurso de agentes dilatado no tempo, que envolve infrações diversas. O autêntico concurso de agentes, que está previsto no Código Penal, envolve o cometimento de um único delito por vários autores. Já neste caso que estamos estudando, cuida-se da hipótese de delinquentes cúmplices, que pretendem cometer crimes seguidos. Esta hipótese encontra previsão, na segunda parte do art. 76, I, do CPP que comenta ocorrer conexão, quando duas ou mais infrações tiverem sido cometidas por várias pessoas em concurso, ainda que em tempo e local diversos. EXEMPLO: A cada dois meses, três indivíduos praticaram quatro crimes de roubo. Haverá, deste modo, conexão intersubjetiva por concurso entre os quatro crimes, praticados pelos agentes, nos quais devem todos responder por estes crimes em um único processo, respeitado a existência de causas impeditivas. Intersubjetiva por Reciprocidade Esta hipótese encontra-se descrita, na parte final do art. 76, I do CPP, que traz dizendo ser a situação em que agentes cometem crimes uns contra os outros, ou seja, quando duas ou mais infrações tiverem sido cometidas por diversas pessoas umas contra as outras. Tendo em vista estarem contidos no mesmo cenário, é oportuno que haja a reunião dos processos para um só julgamento. EXEMPLO: João desfere um tiro em Marcelo, com a finalidade de matá- lo. Todavia, em contrapartida, Marcelo também desfere um tiro em Direito Processual Penal 39 João com a mesma intenção. Não pode nenhum dos dois falarem em legítima defesa, sendo ambos delinquentes, devendo a decisão do juiz ser proferida em conjunto, tendo em vista que as testemunhas e demais provas devem ser as mesmas. Conexão Objetiva Também é conhecida como conexão consequencial, lógica ou teleológica. Encontra-se fundamentada no art. 76, II, do Código de Processo Penal, no qual explicita-se que há vários autores cometendo crimes para facilitar ou ocultar outros, bem como para garantir a impunidade ou a vantagem do que já foi feito. Qual a diferença existente entre esta hipótese e a conexão intersubjetiva por concurso de pessoas? A diferença consiste em que no, caso do concurso de pessoas, as infrações são previamente organizadas, devendo ser desenvolvidas em tempo e lugares diversos. Já caso da conexão objetiva, as infrações são ligadas por objetividade, ou seja, ou autores não eram cúmplices de maneira prévia, auxiliando-se em seguida. EXEMPLO: Marcos resolve roubar um banco, ao fazê-lo nota que uma testemunha o viu e relata o caso a seu irmão, Júlio. Júlio, por conta própria, para assegurar a impunidade do irmão vai e mata a testemunha. Desta forma, mesmo não tenha havido plano prévio entre Marcos e Júlio, as infrações têm ligação objetiva, porque o resultado de uma terminou por servir à garantia de impunidade da outra. Direito Processual Penal 40 Conexão Instrumental Sendo também conhecida como conexão probatória ou processual. Está prevista taxativamente no art. 76, III, do CPP, diz respeito à autêntica forma de conexão processual, significando que todos os feitos somente deveriam ser reunidos, se a prova de uma infração servisse de algum modo, para a prova de outra, bem como se as circunstâncias elementares de uma terminassem, influindo para a prova de outra. É importante observar que para que haja este tipo de conexão não existe exigência de relação de tempo e espaço entre os dois delitos, bastando que a prova de um crime tenha capacidade para influir na prova de outro delito. EXEMPLO: Maria comete uma receptação, não sabendo quem é o autor do furto, mas ciente da origem ilícita do bem. Descobre-se que João, que foi o autor do furto. Deste modo, é conveniente que haja a união do julgamento de Maria e de João, pois a prova de um crime influenciará a do outro. Espécies de Continência Sabe-se que a continência é a hipótese de um fato criminoso conter outros, tornando todos indivisíveis. Assim como a conexão, ela tem espécie e de acordo com Lima (2019): • Continência por cumulação subjetiva. • Continência por cumulação objetiva. Estudaremos cada uma delas. Direito Processual Penal 41 Continência por Cumulação Subjetiva Encontra-se prevista no art. 77, I, do Código de Processo Penal, ocorrendo quando duas ou mais pessoas são acusadas pela mesma infração penal. Ocorre com o concurso de pessoas, no qual Nucci (2011) diz que justifica a junção de processos contra diferentes réus, contanto que eles tenham cometido crime em conluio, com unidade de propósitos, tornando único o fato a ser apurado, haja vista que são vários autores praticantes do mesmo fato delituoso. Analisando este conceito, vemos a semelhança deste tipo de continência com a conexão por concurso de pessoas. Assim em que consiste a diferença de ambas? A conexão por concurso de pessoas consiste em vários agentes, praticando vários fatos criminosos, o que torna esta conexão útil, tanto para a produção de provas quanto para a avaliação do juiz. Já no caso da continência, o fato é um só, cometido por vários agentes. EXEMPLO: Homicídio praticado por duas pessoas. Continência por Cumulação Objetiva Hipótese prevista no art. 77, II, do Código de Processo Penal, ocorrendo nas hipóteses de concurso formal de crimes do art. 70 do Código Penal, que consiste na prática de uma única ação ou omissão pelo agente, provocada a realização de dois ou mais crimes; na hipótese de aberatio ictus ou erro na execução do art. 73, segunda parte, do CP, diz respeito à regra de aplicação do concurso formal quando o agente, por acidente ou erro ,no uso dos meios de execução, além de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa. Na hipótese de aberratio delicti ou resultado diverso do pretendido contido no art. 74, segunda parte, do CP, também prevê a aplicação do concurso formal, quando o agente, por erro na execução, atinge não somente o resultado desejado, mas também outro, além de sua expectativa inicial. Direito Processual Penal 42 Assim, Nucci (2011) aponta que em todos os casos, se está diante de concurso formal, razão pela qual na essência, o fato a ser apurado é um só, embora existam dois ou mais resultados. A conduta do agente é única, merecendo a apuração por um único magistrado, evitando qualquer tipo de erro judicial. EXEMPLO: Mário quer matar Eudes, mas na hora da execução do delito com um único tiro mata Eudes e Ellen. Desta forma, haverá um único processo para julgar Mário. De forma geral, podemos trazer com as palavras de Tornaghi (1967), a diferença entrecrime único, conexão e continência, que consiste em: • Crime único – havendo vários fatos, mas a prática de um só delito. • Conexão – havendo vários fatos, detectando-se o cometimento de inúmeros delitos, existindo entre eles elementos em comum. • Continência – havendo um fato único, porém com a prática de vários crimes. Efeitos da Conexão e da Continência Após analisarmos os conceitos e as espécies de conexão e continência, é importante mencionar seus efeitos jurídicos, de acordo com Lima (2019): • Processo e julgamento único – de acordo com o art. 79 do CPP, a conexão e a continência importarão em uma unidade de processo e julgamento, salvo no concurso entre a jurisdição militar e a comum, ou no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menos. • Força atrativa – o juízo competente atrai para si o processo e julgamento único. Isto é caso de prorrogação de competência, tendo em vista que o juízo competente atrai para si competência que não o seria, caso levasse em consideração o lugar da infração, o domicílio do réu, a natureza da infração e a distribuição. Direito Processual Penal 43 IMPORTANTE: Se um dos processos já tiver sentença, não haverá de se falar mais em reunião de processos. Com relação à avocatória, o art. 82, do CPP, dispõe que se não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação penal. Esta soma ou unificação das penas é de competência do juiz da execução penal. RESUMINDO: Estudamos que conexão é o nexo, a dependência recíproca que dois ou mais fatos delituosos guardam entre si, recomendando a união de todos eles em um mesmo processo penal, perante o mesmo órgão jurisdicional, com a finalidade de que este tenha uma perfeita visão do quadro probatório. E continência se configura, quando uma demanda, em face de seus elementos, sendo eles as partes, o pedido e a causa de pedir, estiver contida em outra. Vimos que conexão é material, quando os próprios crimes são conexos e é processual, quando não há nexo entre os delitos, mas a comprovação de uns termina refletindo na de outros. Estudamos que as espécies de conexão são: intersubjetiva, que pode ser simultânea (diz respeito a vários agentes cometendo infrações diferentes, embora sendo estas infrações praticadas ao mesmo tempo, no mesmo lugar), por concurso (consiste na situação em que vários agentes que em tempo e lugar diferentes, cometem infrações penais, apesar de umas serem destinadas, devido ao vínculo subjetivo que liga os autores, a seguir de Direito Processual Penal 44 suporte às seguintes) e por reciprocidade (situação em que agentes cometem crimes uns contra os outros); conexão objetiva (demonstra que há vários autores cometendo crimes para facilitar ou ocultar outros, bem como para garantir a impunidade ou a vantagem do que já foi feito); conexão instrumental (diz respeito à autêntica forma de conexão processual, significando que todos os feitos somente deveriam ser reunidos, se a prova de uma infração servisse de algum modo, para a prova de outra, bem como se as circunstâncias elementares de uma terminassem influindo para a prova de outra). E vimos que as espécies de continência são por cumulação subjetiva (ocorrendo quando duas ou mais pessoas são acusadas pela mesma infração penal) e cumulação objetiva (ocorrendo nas hipóteses de concurso formal de crimes, na de aberatio ictus e de aberratio delicti). Por fim, estudamos os efeitos da conexão e da continência que são o processo, julgamento único e a força atrativa. Direito Processual Penal 45 Regras para Eleição de Foro Prevalente OBJETIVO: Devido ao estudo sobre conexão e continência e sua essencialidade para celeridade e economia processual, estudaremos neste capítulo como funcionam as regras para eleição de foro prevalente, quando da junção dos processos. Vamos lá! . Como já estudamos, quando há conexão ou continência, haverá a junção dos processos, devido às razões já expostas. Desta forma, devemos estudar qual o foro que tem a atração, ou seja, qual que deve prevalecer sobre os demais, atraindo o julgamento dos fatos delituosos para si. De acordo com Nucci (2011), isso é chamado de prorrogação de competência, na qual se torna competente o juízo que, originalmente, não seria, caso se levasse em conta o lugar da infração, o domicílio do réu, a natureza da infração e a distribuição. A prorrogação tem como efeito fazer com que o acusado esteja sujeito a um único juízo, com a finalidade de ser julgado por meio de uma única sentença, sem que haja qualquer alteração da natureza das infrações penais cometidas. Competência Prevalente do Tribunal do Júri É importante iniciar este ponto dizendo que o art. 78, I, do Código de Processo Penal, considera o Tribunal do Júri como órgão do Poder Judiciário, mencionando que na determinação da competência por conexão ou continência, havendo concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri. Direito Processual Penal 46 EXEMPLO: Se for cometido em conexão, um estupro e um homicídio, ambos serão julgados pelo Tribunal do Júri, pouco importa se os crimes tiverem sido cometidos na mesma comarca ou no mesmo Estado. Este dispositivo não está indo contra a Constituição Federal, pois está em seu art. 5º, XXXVIII, d, que diz ter o júri competência para julgar os crimes dolosos contra a vida. Desta forma, havendo continência ou conexão, é natural que o Tribunal do Júri atraia para si as outras infrações penais. Descoberta da Conexão ou Continência, após a Prolação da Sentença de Pronúncia Utilizando de forma análoga o art. 421, §1º do Código de Processo Penal, o juiz deve modificar a pronúncia, abrindo vista às partes para manifestação, devendo ser levado em conta a possibilidade de aditamento da denúncia pelo Ministério Público. Assim, será oferecida nova pronúncia para ser acolhida, no mesmo contexto, as infrações conexas ou continentes. Conexão e Continência, Prerrogativa de Foro e Júri De acordo com Nucci (2011), se houver conexão ou continência entre infrações penais, que envolva a prerrogativa de foro e o Tribunal do Júri, a cada agente deverá ser destinado o seu juízo competente. Desta forma, se um juiz e um cidadão comum matarem alguém, mesmo havendo continência, não se aplicará a regra do foro prevalente, ou seja, o do júri. Desta forma, sabendo que o foro privilegiado e o Tribunal do Júri são assegurados pela Constituição Federal, é necessário que o feito seja desmembrado, ficando a conexão ou continência, em segundo plano. Direito Processual Penal 47 EXEMPLO: Adriano, juiz de Direito, e João, um civil, praticam um homicídio qualificado em concurso de pessoas. Neste caso, não haverá conexão entre os casos, no qual Adriano será julgado pelo Tribunal de Justiça e João, pelo Tribunal do Júri. Jurisdição de Mesma Categoria Sabemos que jurisdição é a possibilidade que os membros do Poder Judiciário têm para aplicar o direito, ao caso concreto. Todavia, sabemos que a lei separa a jurisdição em categorias, sendo elas superior e inferior, comum e especial, estadual e federal, entre outras. O art. 78, II, do Código de Processo Penal considera a jurisdição de mesma categoria aquela que une magistrados aptos a julgar o mesmo tipo de causa. Desta forma, os juízes de primeiro grau têm a mesma jurisdição, modificando a eleição de foro, apenas pelas regras de competência estudadas no capítulo dois. Todavia, existem casos que pode ocorrer conflito real entre os magistrados. EXEMPLO: João furta um celular e comete o crime de receptação, sendo estes crimes, apurados em diversasdelegacias, distribuídos para vários juízes em uma mesma Comarca. Havendo entre estes crimes conexão instrumental, é viável que sejam julgados por um único juiz. Dessa forma, as regras para a escolha do foro prevalente são as seguintes: a. Art. 78, II, a, do CPP – foro no qual foi cometida a infração mais grave – sabendo que o primeiro critério de escolha é o lugar da infração, sabe-se que é possível que existam dois crimes, sendo apurados em foros diferentes, tendo em vista que as infrações ocorreram em lugares diversos. Desta forma, deve eleger o foro pelo mais grave dos delitos. Podemos concluir que no exemplo mencionado, se for um furto qualificado e uma receptação simples, o foro deve ser o do local do furto. Direito Processual Penal 48 b. Art. 78, II, b, do CPP – foro no qual foi cometido o maior número de infrações – neste caso, podemos supor que existem três crimes de, sendo apurados na Comarca de São Paulo, enquanto um furto esteja tramitando na Comarca de Santo André. Embora as penas de furto e de receptação sejam iguais, o julgamento dos quatro crimes deve ser realizado na Comarca de São Paulo que tem o maior número de infrações. c. Art. 78, II, c, do CPP – foro residual, estabelecido pela prevenção – a prevenção tem como principal função solucionar os problemas de conflito de competência, em que as regras específicas são insuficientes. Assim, Nucci (2011) diz que havendo magistrados de igual jurisdição em confronto e não sendo possível escolher pela regra da gravidade do delito, nem pelo número de delitos, o juiz deve ser eleito pela prevenção, ou seja, por aquele que primeiro conhecer um dos processos, tornando-se ele competente para julgar ambos. Jurisdição de Categoria Diversa O art. 78, III, do CPP, traz a divisão legal entre jurisdição superior e inferior, sendo considerado jurisdição superior como o poder jurisdicional, reservado aos tribunais que tenham a competência de rever as decisões de outras cortes e, também, dos juízes monocráticos. Já no que se refere à jurisdição inferior são os tribunais que não podem rever as decisões, todavia, na justiça inferior há a divisão entre primeiro e segundo grau. Desta forma, é sabido que entre o concurso existente entre a jurisdição inferior e a superior, prevalecerá a superior. EXEMPLO: Se o Presidente da República, que deve ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal, comete com crime com coautoria com João, civil, que não tem a mesma prerrogativa, devem ambos serem julgados pelo Supremo Tribunal, em virtude da continência. Nestes temos, a Súmula 704 do STF diz que não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro, por prerrogativa de função de um dos denunciados. Direito Processual Penal 49 Conflito entre Jurisdição comum e Especial Nucci (2011) conceitua comum como a jurisdição, estabelecida como regra para todos os casos que não contiverem regras especiais, em razão da matéria tratada. Já a especial, é a jurisdição que cuida de assuntos específicos, que foram preestabelecidos na Constituição Federal. Desta forma, como já mencionado, em matéria criminal, são especiais a Justiça Eleitoral e a Justiça Militar. De acordo com o art. 78, IV, do CPP, quando houver conflito entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá a força atrativa da especial. Força Atrativa da Justiça Federal em Face da Justiça Estadual É importante ser ressaltado que, embora a Justiça Federal seja considerada comum, em relação à Justiça Estadual, é considerada especial. Sendo elencado no art. 109 da Constituição Federal, os delitos que são de competência da Justiça Federal. Desta forma, se houver conflito entre crime federal e estadual, tendo conexão ou continência entre eles, fica sendo competência da Justiça Federal julgar os crimes. IMPORTANTE: Existe uma ressalva com relação a esta regra, é o caso das contravenções penais. A Súmula 38 do Superior Tribunal de Justiça diz que compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades. Direito Processual Penal 50 Exceção à Regra da Junção dos Processos em Caso de Conexão e Continência Jurisdição Comum e Jurisdição Militar De acordo com o art. 79, I, do Código de Processo Penal, deverá haver a separação dos processos, quando estiverem envolvidos, ainda que no mesmo contexto, crime comum e crime militar, ou quando houver coautoria, entre militar e civil para a prática de um único delito, conforme o caso. Todavia, Nucci (2011) apontam regras especiais que devem ser observadas: • Civis podem ser julgados pela Justiça Militar Federal, quando cometerem crimes militares, previstos na Lei de Segurança Nacional ou no Código Penal Militar, desde que contra as instituições militares federais. Assim, nesta hipótese, tanto o civil quanto o militar seriam julgados, quando forem coautores, na esfera militar. Em contrapartida, se o civil praticar um crime comum e o militar, um delito de caráter militar, embora sejam conexos, deverão os processos serem separados. • Os militares que cometerem crimes dolosos, contra a vida de civil, devem ser julgados pela Justiça Comum, de acordo com a Lei nº 9299/96. • Se um militar, juntamente com um civil, cometer um delito comum, devem ser julgados pela Justiça Comum, tendo em vista que o fato não se encontra previsto no Código Penal Militar. A competência da Justiça Militar é em razão do crime e não em razão da pessoa do militar, não se tratando de prerrogativa de função. • Militar Estadual, autor de infração militar, deve ser jugado pela Justiça Militar, ainda que no Estado no qual a cometeu, que não é o seu, não exista Justiça Castrense. Desta forma, de acordo com a súmula 78, do Superior Tribunal de Justiça, é de competência da Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa. Direito Processual Penal 51 Justiça Comum e Justiça da Infância e da Juventude Nos termos do art. 228 da Constituição Federal, os menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, sujeitos às normas da legislação especial. Está legislação citada na Constituição Federal, é o Estatuto da Criança e do Adolescente, que traz em seu art. 104 que são penalmente inimputáveis os menores de 18 anos. A regra contida no art. 79, II, do CPP é exemplar com relação à conexão e continência, desta forma, nem o maior de dezoito anos poderá ser julgado pelo juízo da infância e da juventude, mesmo havendo conexão ou continência, nem o menor poderá ser julgado pela Justiça Comum. Separação dos Processos Devido à Superveniência de Doença Mental É importante observar que se um processo tem a possibilidade de ter conexão ou continência, para garantir que as decisões sejam uniformes, utilizando da mesma prova, esta possibilidade deve ser cedida, quando não houver mais conveniência na união dos fatos. Isso ocorre no caso de um dos corréus vir a sofrer de doença mental, após a data do crime, implicando no caso, a suspensão do processo até que se recupere e possa acompanhar a instrução, de acordo com o art. 152, do CPP. De acordo com Nucci (2011), a medida tem a finalidade de acautelar a ampla defesa e a possibilidade efetiva do contraditório. Desta forma, não é cabível que a decisão de suspensão do processo deva atingir a todos os demais acusados que, devido a conexão ou continência, estejam reunidos na mesma relação processual. “Todavia, caso a enfermidade mental esteja presente à data do fato criminoso para um dos corréus, um único processo pode prosseguir contra todos, instaurando-se no que se refere ao doente, o incidente de insanidade mental” (NUCCI, 2019, p.303). Direito Processual Penal 52 IMPORTANTE:Mesmo se a enfermidade estiver presente à data do fato criminoso, o juiz também poderá separar os processos, tendo em vista que o incidente que suspende a instrução, pode prejudicar a celeridade do processo. Impossibilidade de Julgamento de Réu Ausente É importante, caso haja a unidade dos processos e um corréu estiver foragido, que seja observado, se a lei autoriza o prosseguimento do feito. Existe a hipótese de o trâmite processual ser paralisado até a pessoa ser encontrada. É o caso da fase de citação, que nos termos do art. 366 do CPP, é feita por edital e o réu não constituindo advogado que possa defendê-lo, é considerado ausente e o processo deve ser suspenso. Assim, como o juiz deve proceder se houver coacusados? Nos termos de Nucci (2011), o juiz deve separar o curso do feito, devendo dar prosseguimento, somente quanto a quem está ciente da ação penal. É importante notar que a ausência por si só não constitui causa de separação do processo, pois se o réu for citado pessoalmente, e não se apresente para interrogatório, nem contrate advogado, deverá ser nomeado um defensor público, que prosseguirá até o julgamento final, havendo ou não corréus. Deste modo, será desnecessária a separação. Separação dos Processos em Razão da Recusa dos Jurados O art. 469, §1º do Código de Processo Penal estabelece que a separação dos julgamentos somente deverá ocorrer, em razão das recusas, quando não for obtido o número mínimo de sete jurados, para compor o Conselho de Sentença. Direito Processual Penal 53 Assim, se houver no Tribunal do Júri a possibilidade de existirem recusas peremptórias, que sejam dadas sem nenhuma motivação no procedimento de seleção de jurados que deverão compor o Conselho de Sentença; é necessário verificar se não haverá a necessidade de separar o processo devido à disparidade de recusas, capazes de provocar o que a doutrina chama de estouro de urna. NOTA: De acordo com Nucci (2011), o estouro de urna consiste na inexistência do número mínimo de sete para o Conselho de Sentença. Separação Facultativa de Processos Sabemos que a conexão e a continência visam garantir a união dos processos, para que haja uma melhor apreciação da prova pelo juiz e uma maior celeridade e economia processual. Todavia, existem processos nos quais a junção é inconveniente, pois pode tornar a fase probatória mais difícil, ou as vezes, por conter muitos réus, entre outras razões que o caso concreto pode determinar. Assim, existem de acordo com Lima (2019), três tipos de separação facultativa: • Separação facultativa em caso de tempo ou lugar diferenciado - o art. 80 do CPP diz que será facultativa a separação dos processos, quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstância de tempo ou lugar diferentes. Nucci (2011) diz que é inconveniente a separação devido a circunstâncias de tempo ou lugar a casos de continência, tendo em vista que estando presente a coautoria, torna-se imperioso o julgamento em conjunto. Direito Processual Penal 54 • Separação facultativa em virtude do excessivo número de acusados – Constando na segunda parte do art. 80 do CPP, que mostra ser facultativa a separação dos processos, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a provisória. Esta hipótese é aplicável a todos os casos de conexão e continência, todavia, deve ser observada que consiste em um binômio, devendo ser analisado se existe um excessivo número de acusados e ainda se pela natureza dos prazos e das provas a serem produzidas, houver uma extensão da prisão provisória, decretada contra um ou contra vários. Assim, devem ser analisados os dois itens para que possa ocorrer essa separação. • Separação facultativa em face de motivo relevante – Por fim, o art. 80 do CPP diz que será facultativa a separação dos processos, quando por outro motivo relevante o juiz reputar conveniente a separação. Deste modo, fica a critério do juiz a separação dos processos por qualquer motivo relevante, que é impossível ser previsto de forma prévia na lei, mas que pode causar mais conturbação do que ajudar na produção de provas. RESUMINDO: Estudamos neste capítulo que a prorrogação tem como efeito fazer com que o acusado esteja sujeito a um único juízo, com a finalidade de ser julgado por meio de uma única sentença, sem que haja qualquer alteração da natureza das infrações penais cometidas. Vimos que havendo concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri. Todavia, se houver conexão ou continência entre infrações penais que envolva a prerrogativa de foro e o Tribunal do Júri, a cada agente deverá ser destinado o seu juízo competente. Direito Processual Penal 55 No que diz respeito à jurisdição de mesma categoria, vimos que as regras para escolha do foro prevalente são: foro no qual foi cometida a infração mais grave; foro no qual foi cometido o maior número de infrações e foro estabelecido pela prevenção. No que diz respeito à jurisdição de categoria diversa, vimos que no concurso existente entre a jurisdição inferior e a superior, prevalecerá a superior. Na jurisdição comum e especial, prevalecerá a força atrativa da especial. Já entre a jurisdição comum e a militar, elencamos as regras especiais que devem ser observadas. Vimos que o menor de 18 deve ser julgado pelo juízo da infância e da juventude, não podendo haver conexão ou continência nos seus processos e, quando houver réu ausente, o processo deve ser suspenso. Por fim, vimos os casos de separação facultativa: em caso de tempo ou lugar diferenciado, em virtude do excessivo número de acusados e em face de motivo relevante. Direito Processual Penal 56 REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República [1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. Decreto nº678 de 6 de novembro de 1992. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1992]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm. Acesso em: 20 abr. 2020. BRASIL. Decreto-Lei nº2848 de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1940]. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado. htm. Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. Decreto-Lei nº 1001 de 21 de outubro de 1969. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1969]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1002.htm. Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. Lei nº 3689 de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1941]. Disponível em:http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. Lei nº 9099 de 26 de setembro de 1995. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1995]. Disponível em:http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. Lei nº 11343 de 23 de agosto de 2006. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [2006]. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm Acesso em: 13 abr. 2020. Brasil. Lei nº 13105 de 16 de março de 2015. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [2015]. Disponível em:http://www. Direito Processual Penal http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1002.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm
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