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Fichamento Manual de processo penal volume único 2019 - Renato Brasileiro Título 4 (Competência) - Capítulo V e VI

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UNEB – Universidade do Estado da Bahia 
Disciplina: Direito Processual Penal I 
Docente: 
Discente: 
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 7. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2019. 
Renato Brasileiro em sua obra Manual de Processo Penal extrai todo o conteúdo do Processo Penal Brasileiro e consegue sintetizar de forma clara e acessível os temas relevantes. Nesse fichamento serão sintetizados os temas constantes no Título 4 (Competência) - Capítulo V e VI.
CAPÍTULO V 
COMPETÊNCIA DE JUÍZO
1. DETERMINAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE
	A competência territorial é determinada com anterioridade lógica sobre a competência de juízo, dispondo a súmula n° 206 do STJ que a existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não altera a competência territorial resultante das leis de processo. Inicialmente, essa competência é fixada a partir do fundamento jurídico – material da demanda (penal, cível, trabalhista, etc.). Desse modo, restará estabelecida a competência dos juízos criminais caso estejamos diante do exercício de pretensão acusatória pelo Ministério Público ou pelo ofendido.
	Essa competência pode ainda ser firmada pela natureza da infração penal imputada, haja vista a possibilidade de especialização de varas para o processo e julgamento de determinadas infrações penais (v.g., varas especializadas para o processo e julgamento de crimes de lavagem de capitais, tráfico de drogas, acidentes de trânsito, etc.). De fato, segundo o art. 74 do CPP, a competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. Portanto, cabe à lei de organização judiciária (federal ou estadual) determinar a competência de juízo, podendo estabelecer diversos critérios para tal divisão, tais como: a) a qualidade da pena principal (reclusão, detenção, multa); b) o elemento subjetivo (dolo/culpa); c) a natureza da infração penal; d) o bem jurídico protegido (vida, integridade corporal, patrimônio, etc.). 
2. JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
	Caracterizada hipótese de violência doméstica e familiar contra a mulher, a competência deste Juizado abrange crimes e contravenções penais. Por isso, em caso concreto relativo a agente que desferiu socos e tapas no rosto da vítima, porém sem deixar lesões, caracterizando, portanto, a conduta do art. 21 da Lei de Contravenções Penais (vias de fato), a 3ª Seção do STJ afastou a competência do Juizado Especial, por entender ser inaplicável a Lei n° 9.099/1995 aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, ainda que se trate de contravenção penal.
	O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher funciona, em regra, perante a Justiça Estadual. Presente os pressupostos do art. 109, §5º, da Constituição Federal (crime praticado com grave violação aos direitos humanos + risco de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, em virtude da inércia do Estado-membro em proceder à persecução penal), afigura-se possível o incidente de deslocamento da competência da Justiça Estadual para a Justiça Federal, a ser decidido pelo Superior Tribunal de Justiça mediante provocação do Procurador-Geral da República. 
	Para a caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, não é necessário que a violência seja perpetrada por pessoas de sexos distintos. O agressor tanto pode ser um homem (união heterossexual) como outra mulher (união homoafetiva)581. A propósito, basta atentar para o quanto disposto no art. 5o, parágrafo único, da Lei n° 11.340/06, que prevê que as relações pessoais que autorizam o reconhecimento da violência doméstica e familiar contra a mulher independem de orientação sexual. Assim, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros de identidade feminina estão ao abrigo da Lei Maria da Penha, quando a violência for perpetrada entre pessoas que possuem relação afetiva no âmbito da unidade doméstica ou familiar.
	É perfeitamente possível o reconhecimento da violência doméstica nas relações de parentesco. A Lei Maria da Penha pode ser aplicada entre irmãos ou entre ascendentes e descendentes. Por isso, em caso concreto em que a violência foi perpetrada contra cunhada do acusado, que vivia há mais de um ano com o casal sob o mesmo teto, concluiu o STJ ser possível a incidência da Lei Maria da Penha, nos termos do art. 5o, II, da Lei n° 11.340/06.
	Configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer das ações elencadas no art. 7º (violência física, psicológica, sexual patrimonial ou moral) praticada contra a mulher em razão de vínculo de natureza familiar ou afetiva:
I) no âmbito da unidade doméstica;
II) no âmbito da família;
III) em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
3. JUÍZO COLEGIADO EM PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO PARA O JULGAMENTO DE CRIMES PRATICADOS POR ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS
3.1. Conceito legal de organizações criminosas
	A despeito da profusão de referências legislativas ao termo organizações criminosas, sempre houve controvérsia acerca da existência desse conceito legal no ordenamento pátrio. Conquanto a revogada Lei 9.034/95 definisse e regulasse meios de prova e procedimentos investigatórios referentes a ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo (art. Io, caput), não havia, no bojo da referida lei, uma definição legal de organizações criminosas. Por isso, referido diploma normativo sempre teve aplicação restrita às quadrilhas (CP, antiga redação do art. 288) e às associações criminosas (v.g., Lei n° 11.343/06, art. 35; Lei n° 2.889/56, art. 2º). 
3.2. Formação do juízo colegiado em primeiro grau
	O II Pacto Republicano de Estado, assinado em 2009, estabeleceu como diretriz a criação de colegiado para julgamento em Io grau de crimes perpetrados por organizações criminosas, para trazer garantias adicionais aos magistrados, em razão da periculosidade das organizações e de seus membros. Some-se a isso a morte de quatro juízes nos últimos tempos – Leopoldino Marques do Amaral, Antônio José Machado Dias, Alexandre Martins de Castro Filho e Patrícia Acioli. Tem-se aí o pano de fundo que deu origem à Lei n° 12.694/12, que passou a dispor sobre a formação de um juízo colegiado em primeiro grau de jurisdição formado por 3 (três) juízes para o julgamento de crimes praticados por organizações criminosas.
	 A convocação e atuação do colegiado deverá atender aos seguintes requisitos e formalidades: 
1) Investigação criminal ou processo penal dotado de elementos de informação ou de provas que demonstrem que o crime objeto da persecução penal fora praticado no contexto de uma organização criminosa:
2) Decisão do juiz de primeiro grau determinando a formação do órgão colegiado
3) Escolha dos outros 02 (dois) juizes que irão integrar o órgão colegiado por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência criminal em exercício no primeiro grau de jurisdição (Lei n° 12.694/12, art. Io, § 2º
4) Comunicação aos órgãos correicionais
5) Possíveis reuniões sigilosas do colegiado e decisões fundamentadas sem qualquer referência a voto divergente de qualquer membro
4. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO PENAL
	Nos exatos termos do art. 2o da Lei de Execução Penal, a jurisdição penal dos juízes ou tribunais da justiça ordinária, em todo o território nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade da Lei n° 7.210/84 e do Código de Processo Penal, igualmente se aplicando a LEP ao preso provisório e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária. Uma primeira questão a ser abordada no tocante à competência do juízo da execução penal refere-se às condenações impostas pelas Justiças da União, aí abrangidas a Justiça Federal, a Justiça Militar da Uniãoe a Justiça Eleitoral. Como já foi visto ao tratarmos da competência da Justiça Federal (item pertinente à execução penal), a súmula n° 192 do STJ (“Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual”) deixa entrever que, para fins de fixação da competência do juízo da execução, interessa aferir a natureza do estabelecimento penitenciário em que se encontra o condenado: se estadual, o juízo das execuções será estadual; se federal, o juízo das execuções será federal; se militar, o juízo das execuções será militar. 
	A justificativa para adoção desse entendimento nos é trazida por Alberto Silva Franco: “a natureza e a sede do estabelecimento penitenciário em que o sentenciado cumpre a reprimenda determinam a competência do juiz para, no exercício da atividade jurisdicional, dirimir os incidentes da execução da pena, pois outro entendimento levaria a uma inadmissível dualidade jurisdicional em um mesmo presídio, criando, às vezes, inconciliáveis situações em relação a presos numa mesma situação, num mesmo estabelecimento penal, apenas e tão-somente porque suas condenações foram decretadas por justiças diferentes”.
5. COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO
	Caso haja na comarca dois ou mais juizes igualmente competentes, deverá a competência ser determinada por meio da distribuição, tal qual dispõe o art. 75 do CPP, o qual preceitua que a precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente. Consiste a distribuição, portanto, em um critério de fixação de competência entre juízes igualmente competentes pertencentes a uma mesma comarca ou circunscrição judiciária. Para que seja preservado o princípio do juiz natural, impedindo que se possa escolher de antemão o juiz, deve ser feita de maneira aleatória e imediata, observando-se rigorosa igualdade (art. 285 do novo CPC). Aliás, dispõe a Constituição Federal, em seu art. 93, XV, que “a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição”. 
6. COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO
	A competência também pode ser fixada pela prevenção, tal qual estabelece o art. 69, inciso VI, do CPP. A palavra prevenção deriva de prevenire, que significa vir antes, chegar antes, antecipar, significando em direito conhecimento anterior. A competência por prevenção ocorre quando, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com competência cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato ou na determinação de alguma medida, mesmo antes de oferecida a denúncia ou queixa (CPP, art. 83).
	Cuida-se de hipótese de fixação de competência cuja inobservância tem o condão de produzir mera nulidade relativa. Como preceitua a súmula 706 do STF, é relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência por prevenção.622 Enquanto no cível, o simples registro ou a mera distribuição da petição inicial já têm o condão de tomar prevento o juízo (art. 59 do novo CPC) –, no âmbito criminal, qualquer ato do processo praticado pelo magistrado que contenha certa carga decisória, ainda que anterior ao oferecimento da peça acusatória, já é suficiente para prevenir a jurisdição.
	A fim de que essa diligência anterior à denúncia fixe a competência por prevenção, duas condições devem estar presentes: a) existência de prévia distribuição: o art. 83 do CPP deve ser compreendido em conjunto com o art. 75, parágrafo único, ou seja, só se pode cogitar de prevenção da competência quando a decisão, que a determinaria, tenha sido precedida de distribuição, por isso que não previnem a competência decisões de juiz de plantão, nem as facultadas, em caso de urgência, a qualquer dos juizes criminais do foro;623 b) deve a medida ou diligência apresentar o mesmo caráter cautelar ou contra cautelar (a fiança é exemplo de contracautela) encontrado nas hipóteses exemplificadas na regra contida no parágrafo único do art. 75 do CPP. Vejamos alguns exemplos de diligências que previnem o juízo: b.l) concessão de fiança (arts. 321 a 350); b.2) conversão da prisão em flagrante em preventiva ou temporária (CPP, art. 310, II); b.3) decretação de prisão preventiva (arts. 311 a 316 do CPP) ou de prisão temporária (Lei n° 7.960/89);624 b.4) pedidos de medidas assecuratórias dos arts. 125 a 144 do CPP; b.5) pedidos de provas, como expedição de mandado de busca e apreensão, interceptação telefônica ou quebra de sigilo bancário;625 b.6) manifestação do juízo acerca da regularidade da prisão em flagrante delito, quando comunicado nos termos do art. 5o, inciso LXII, da Carta Magna.
CAPÍTULO VI
MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA
1. CONEXÃO E CONTINÊNCIA
1.1. Introdução
	Em determinadas circunstâncias, em virtude da íntima ligação entre dois ou mais fatos delituosos, ou entre duas ou mais pessoas que praticaram um mesmo crime, apresenta-se conveniente a reunião de todos eles em um só processo, com julgamento único (simultaneus processus). Além de possibilitar a existência de um processo único, contribuindo para a celeridade e economia processual, a conexão e a continência permitem que o órgão jurisdicional tenha uma perfeita visão do quadro probatório, evitando-se, ademais, a existência de decisões contraditórias.
	Em síntese: as regras de conexão são aplicáveis a causas que, em princípio, seriam examinadas em separado e que, verificada a conexão entre os feitos, deve-se recorrer aos critérios de modificação ou prorrogação das competências. Se incabíveis as regras modificativas da competência, as atribuições jurisdicionais originárias devem ser mantidas, porquanto a competência absoluta não se modifica ou prorroga. Logo, só se admite que a conexão possa alterar competências de natureza relativa, tomando competente para o caso concreto juiz que não o seria sem ela.
1.2. Conexão
	A conexão pode ser compreendida como o nexo, a dependência recíproca que dois ou mais fatos delituosos guardam entre si, recomendando a reunião de todos eles em um mesmo processo penal, perante o mesmo órgão jurisdicional, a fim de que este tenha uma perfeita visão do quadro probatório. Funciona, pois, como o liame que se estabelece entre dois ou mais fatos que, desse modo, se tomam ligados por algum motivo, oportunizando sua reunião no mesmo processo, de modo a permitir que os fatos sejam julgados por um só magistrado, com base no mesmo substrato probatório, evitando o surgimento de decisões contraditórias. 
	Portanto, a conexão provoca a reunião de ações penais num mesmo processo, funcionando como causa de ‘modificação da competência relativa mediante a prorrogação de competência. São espécies de conexão, segundo o rol taxativo do art. 76 do CPP:
 a) conexão intersubjetiva: envolve vários crimes e várias pessoas obrigatoriamente. Logo, se várias pessoas praticarem um único delito, não haverá conexão, mas sim continência por cumulação subjetiva (CPP, art. 77, inciso I). Em se tratando de conexão intersubjetiva, pouco importa se as várias pessoas estão reunidas em coautoria ou se os delitos são praticados por reciprocidade. São subespécies de conexão intersubjetiva: a.l) conexão intersubjetiva por simultaneidade (conexão subjetivo-objetiva ou conexão intersubjetiva ocasional; a.2) conexão intersubjetiva por concurso (ou concursal); a.3) conexão intersubjetiva por reciprocidade; 
b) conexão objetiva, lógica ou material ou teleológica;
c) conexão instrumental, probatória ou processual.
1.3. Continência
	Configura-se a continência quando uma demanda, em face de seus elementos (partes, pedido e causa de pedir), estiver contida em outra. Cuida-se, pois, de “um vínculo jurídico entre duas ou mais pessoas, ou entre dois ou mais fatos delitivos, de forma análoga a continente e conteúdo, de tal modo que um fato delitivo contém as duas ou mais pessoas, ou uma conduta humana.
	As espécies de continência são Continência por cumulação subjetiva ou continência subjetiva e Continência por cumulaçãoobjetiva.
1.4. Efeitos da conexão e da continência
	Trabalhados os conceitos e espécies de conexão e de continência, importa analisar seus efeitos jurídicos: 
1) processo e julgamento único (simultaneus processus): dispõe o art. 79 do CPP que a conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo no concurso entre a jurisdição comum e a militar, ou no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. Essa modificação de competência não viola a garantia do juiz natural: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados (Súmula 704 do STF). Caso haja conexão e continência entre crimes de ação penal pública e privada, estabelecer-se-á litisconsórcio ativo entre o Ministério Público e o titular do jus querelandi.
2) força atrativa {forum attractionis ou vis attractiva): o juízo competente vai trazer para si o processo e julgamento único. Tem-se aí uma hipótese de prorrogação de competência, tomando-se competente o juízo que, em abstrato, não o seria, caso se levasse em consideração o lugar da infração, o domicílio do réu, a natureza da infração e a distribuição. Seu efeito é a sujeição dos acusados ou dos diversos fatos delituosos a um só juízo, a fim de serem julgados por uma única sentença, sem que disso resulte qualquer alteração da natureza das infrações penais cometidas.
1.5. Foro prevalente
1.5.1. Competência prevalente do Tribunal do Júri
	Cuidando-se de conexão e continência entre crime comum e crime da competência do júri, quem exercerá força atrativa é o júri, de acordo com o art. 78, inciso I, do CPP. Ex: estupro e homicídio cometidos em conexão. Ambos os delitos serão julgados pelo tribunal do júri, pouco importando se ambos os crimes foram cometidos na mesma comarca ou no mesmo Estado da Federação. No entanto, se o crime conexo for militar, deverá ocorrer a separação de processos, na medida em que ambas as competências estão previstas na Constituição Federal - a do Tribunal do Júri para o julgamento de crimes dolosos contra a vida, e a da Justiça Militar para o julgamento dos crimes militares (CPP, art. 79, inciso I; CPPM, art. 102, “a”). Imagine-se a hipótese de determinado agente invadir um quartel das Forças Armadas, e de lá subtrair uma arma de fogo, posteriormente utilizada para o cometimento do homicídio de um desafeto. Nessa hipótese, caberá à Justiça Militar o julgamento do crime patrimonial (lembre-se: a Justiça Militar da União, ao contrário da Justiça Militar dos Estados, tem competência para processar e julgar civis), ao passo que ao Tribunal do Júri caberá o julgamento do crime de homicídio. 
	Ao ampliar a competência do Tribunal do júri para processar e julgar as infrações penais conexas e originárias da continência, a lei processual penal não malfere a Constituição Federal, pois esta, na verdade, estabelece uma competência mínima do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida (CF, art. 5o, XXXVIII, “d”), o que, todavia, não impede que lei ordinária possa ampliar sua competência. 
1.5.2. Jurisdições distintas
1.5.2.1. Concurso entre a jurisdição comum e a especial
	No concurso entre a jurisdição comum e a especial (ressalvada a Justiça Militar - CPP, art. 79, inciso I), prevalece a especial (CPP, art. 78, inciso IV). Logo, caso um crime eleitoral seja conexo a um crime comum de competência da Justiça Estadual, prevalece a competência da Justiça Eleitoral para julgar ambos os delitos. Como visto ao tratarmos da competência da Justiça Eleitoral, essa força atrativa da Justiça Eleitoral limita-se aos crimes de competência da Justiça Comum Estadual. Apesar de haver julgado antigo da Suprema Corte afirmando a competência da Justiça Eleitoral para julgar os crimes eleitorais e também as infrações conexas, ainda que de competência da Justiça Federal, somos levados a acreditar que, na medida em que a competência da Justiça Federal vem preestabelecida na própria Constituição Federal, não poderia ser colocada em segundo plano por força da conexão e da continência, normas de alteração de competência, previstas em lei ordinária. Há precedente do Superior Tribunal de Justiça corroborando nossa posição.
1.5.2.2. Concurso entre órgãos de jurisdição superior e inferior
	No concurso de jurisdições de diversas categorias, predomina a de maior graduação (CPP, art. 78, inciso III). Exemplificando, se um crime de furto for praticado em concurso de agentes por um prefeito municipal, cuja competência originária é do Tribunal de Justiça, e por um cidadão que não seja titular de foro por prerrogativa de função, cujo juiz natural seria um juiz de direito, prevalece a competência do Tribunal de Justiça para julgar ambos em virtude da continência por cumulação subjetiva. Nesse sentido, aliás, dispõe a súmula 704 do STF que não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados. 
1.5.2.3. Concurso entre a Justiça Federal e a Estadual
	Havendo conexão entre crimes de competência da Justiça Federal e da Justiça Estadual, prevalece a competência da Justiça Federal. É exatamente esse o conteúdo da súmula n° 122 do STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal.
1.5.3. Jurisdições da mesma categoria
	Apesar de o art. 78, inciso II, do CPP, fazer menção ao “concurso de jurisdições da mesma categoria”, dando uma ideia de que existiriam duas ou mais jurisdições, cumpre lembrar que a jurisdição, como função estatal de aplicação do direito objetivo ao caso concreto, é una (princípio da unidade da jurisdição). Por conseguinte, apesar de ser tecnicamente errado falar-se em “jurisdições”, quando a lei assim o faz visa à diferenciação entre as diversas justiças (comum, especial; federal, estadual) ou entre juízes de primeiro grau e tribunais. Vejamos, pois, as regras a serem aplicadas: 
a) força atrativa do juízo da comarca em que tiver sido praticado o delito mais grave;
b) força atrativa do juízo do local do maior número de infrações, se as penas forem de igual gravidade; e
c) se a gravidade do delito for igual e o número igual, a competência firma-se pela prevenção.
1.6. Separação de processos
	A conexão e a continência têm como finalidade garantir a união dos processos de forma a propiciar ao julgador uma melhor visão do quadro probatório, permitindo-lhe entregar a melhor prestação jurisdicional e evitando-se, com isso, a existência de decisões conflituosas. Não por outro motivo, um dos efeitos da conexão e da continência é exatamente a unidade de processo e julgamento perante o juízo prevalente (CPP, art. 79, caput). Ocorre que essa junção nem sempre será cogente, prevendo a própria lei hipóteses em que deverá se dar a separação dos processos, ora de maneira obrigatória, ora de maneira facultativa. 
1.6.1. Separação obrigatória dos processos
	Como já foi dito, tanto a conexão quanto a continência têm como finalidade precípua evitar-se decisões contraditórias, colaborando para a formação de um quadro probatório mais coeso. Ocorre que, em algumas situações, não haverá conveniência para a existência de um processo e julgamento único. Vejamos, então, cada uma dessas hipóteses.
1.6.1.1. Concurso entre a jurisdição comum e a militar
	Como visto anteriormente, havendo conexão e/ou continência entre um crime militar de competência da Justiça Militar e um crime comum de competência da Justiça Comum, impõe-se a separação dos processos, nos exatos termos do art. 79, inciso I, do CPP, e do art. 102, “a”, do CPPM. Exemplificando, se um policial civil e um policial militar, ambos em serviço, praticarem, em concurso de pessoas, lesão corporal de natureza grave contra um civil, impõe-se a separação dos processos. O policial civil será julgado pelocrime comum (CP, art. 129, § Io) perante a justiça comum, ao passo que o policial militar será julgado pelo crime militar de lesão grave (CPM, art. 209, § Io, c/c art. 9o, II, “c”) perante a Justiça Militar Estadual. Relembre-se que, como civil que é, o Policial Civil não pode ser julgado pela Justiça Militar, ex vi do art. 125, § 4o, da Constituição Federal. 
1.6.1.2. Concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores
	No concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores, impõe-se a separação dos processos (CPP, art. 79, inciso II). Assim, caso um fato criminoso seja praticado por um maior e um menor de 18 (dezoito) anos em coautoria, ao juízo da infância e da Juventude caberá o julgamento do menor, enquanto que o maior deverá ser processado perante a Justiça comum. Perceba-se que não é a inimputabilidade a causa exclusiva para a separação dos processos, visto que, no caso do doente mental, também considerado inimputável nos termos do art. 26, caput, do CP, o julgamento é afeto ao juiz criminal comum. Assim, como adverte Nucci, embora ao inimputável seja aplicada pena e ao inimputável, medida de segurança, há um só foro competente para ambos.
1.6.13. Doença mental superveniente à prática delituosa
	Se sobrevier doença mental a um dos acusados, em qualquer caso cessará a unidade de processo (CPP, art. 79, § Io), ficando suspenso o processo quanto ao enfermo. Quando um dos acusados passa a sofrer de doença mental após a prática do delito, deve se dar a separação dos processos. Nesse caso, e verificando o juiz que a doença mental sobreveio à infração, o processo penal ficará suspenso em relação ao enfermo, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento, cabendo ao magistrado providenciar a nomeação de curador (CPP, art. 152). Essa suspensão atende aos princípios da ampla defesa e do contraditório (CF, art. 5o, LV), e deve perdurar até que o acusado se recupere e possa acompanhar o processo. Vale ressaltar que, como a lei silencia acerca do assunto, sendo inviável a aplicação da analogia em prejuízo do réu diante do silêncio legal, tem-se que a prescrição não fica suspensa durante o período de suspensão do processo. 
1.6.1.4. Citação por edital de um dos corréus, seguida de seu não-comparecimento e não- -constituição de defensor
	Por força do art. 366 do CPP, se acaso um processo criminal for instaurado contra vários acusados, sendo um deles citado por edital, daí resultando seu não comparecimento e não constituição de defensor, deverá o processo ficar suspenso tão somente em relação a sua pessoa. Para aqueles acusados que foram citados pessoalmente, deixando de apresentar resposta à acusação, o processo seguirá normalmente, devendo o juiz nomear-lhe defensor dativo (CPP, art. 396-A, § 2o, com redação dada pela Lei n° 11.719/08). Por outro lado, àquele que foi citado por hora certa que não comparecer, também deverá o juiz providenciar-lhe a nomeação de dativo (CPP, art. 362, parágrafo único), dando-se prosseguimento ao processo.
1.6.1.5. Antiga hipótese de ausência de intimação da pronúncia ou de não-comparecimento do acusado à sessão de julgamento do júri, em se tratando de crime inafiançável
	Antes da reforma processual de 2008, dizia o Código de Processo Penal que, no processo do júri, quando um dos acusados não fosse intimado da pronúncia (revogados arts. 413 c/c 414 do CPP) ou deixasse de comparecer à sessão de julgamento, em se tratando de crime inafiançável (revogado art. 451, § Io, do CPP), seu julgamento não poderia ser realizado. Daí dispor o art. 79, § 2o, do CPP, que a unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461. Tinha-se, então, que o processo ficaria paralisado em relação ao corréu até que fosse encontrado e preso. Em regra, sua prisão era decretada com fundamento na garantia de aplicação da lei penal. Tal hipótese dava ensejo à separação de processos, na medida em que somente poderiam ser julgados aqueles que tivessem sido intimados ou que estivessem presentes à sessão designada. 
1.6.1.6. Recusas peremptórias no júri
	No âmbito do Tribunal do Júri, o exercício das recusas peremptórias (sem motivação) no procedimento de seleção dos jurados que irão compor o Conselho de Sentença pode acarretar a separação dos processos.
1.6.1.7. Suspensão do processo em relação ao colaborador
	Consoante disposto no art. 4º, § 3º, da nova Lei das Organizações Criminosas, o prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional. Supondo, assim, a existência de um processo penal instaurado em desfavor de mais de um acusado, na hipótese de um deles resolver colaborar com os órgãos responsáveis pela persecução penal, fornecendo informações úteis para a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa, revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa, a prevenção de infrações penais, a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais, ou a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada, o prazo para o oferecimento da denúncia ou o próprio processo criminal poderão ser suspensos por até 6 (seis) meses, exclusivamente em relação ao colaborador. Por consequência, de modo a se evitar o prolongamento indevido do processo em relação aos demais acusados, notadamente quando um deles estiver preso, o que viria de encontro à garantia da razoável duração do processo, surge aí mais uma hipótese de separação obrigatória dos processos.
1.6.2. Separação facultativa de processos
	De acordo com o art. 80 do CPP, será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação. 
1.6.2.1. Infrações praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes
	Essa primeira hipótese de separação facultativa dos processos deve ser analisada à luz das espécies de conexão/continência. Ora, se essa hipótese de separação demanda que as infrações tenham sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, forçoso é concluir não ser possível sua aplicação no caso de conexão intersubjetiva por simultaneidade, na medida em que esta espécie de conexão prevista na primeira parte do inciso I do art. 76 traz como pressuposto que as duas ou mais infrações tenham sido praticadas ao mesmo tempo, por diversas pessoas ocasionalmente reunidas (sem intenção de reunião), aproveitando-se das mesmas circunstâncias de tempo e de local. Situação semelhante ocorrerá no caso de conexão intersubjetiva por reciprocidade (CPP, art. 76,1, parte final), na medida em que esta exige a prática de infrações por pessoas que agem umas contra as outras, pressupondo-se que estejam no mesmo lugar e ao mesmo tempo.
1.6.2.2. Excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória
	A hipótese de separação facultativa do art. 80, 2a parte, do CPP, aplica-se a todos os casos de conexão e continência. Traz em si dois requisitos: a) excessivo número de acusados; b) não prolongamento da prisão provisória de um dos acusados.
1.6.23. Motivo relevante pelo qual o juiz repute conveniente a separação
	Como o legislador não pode prever todas as situações em que a separação dos feitos seja necessária, a parte final do art. 80 do CPP possibilita que o juiz, por qualquer motivo relevante, determine a separação dos processos. Podemos citar, como exemplos de motivos relevantes a ensejar a separação dos processos, o excessivo número de acusados soltos prejudicando o andamento do processo, ou quando o simultaneus processus possa dar causa à extinção da punibilidade de um dosacusados pela prescrição.
1.7. Perpetuação da competência nas hipóteses de conexão e continência
	A existência de um simultaneus processus por conta da conexão ou da continência não impede que o magistrado do juízo prevalente, ao julgar o feito, conclua pela incompetência do juízo que exerceu a força atrativa, quer porque houve absolvição em relação à infração que atraiu a competência, quer porque ocorreu a desclassificação para outra, que não era originariamente de sua competência. Nesse caso, indaga-se: continuará este juízo competente em relação aos demais processos? A resposta à indagação consta do caput do art. 81 do CPP: verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória (acrescentamos, por interpretação extensiva, também a decisão declaratória extintiva da punibilidade) ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação aos demais processos. 
2. PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA
	Prorrogar significa aumentar a extensão da competência de um órgão jurisdicional de modo a alcançar causas que, abstratamente, não seriam de sua competência, mas que, por algum motivo, passaram a ser concretamente. Prorrogação de competência, por conseguinte, “é a modificação na esfera de competência de um órgão jurisdicional, que seria abstratamente incompetente, mas se tomou concretamente competente com referência a determinado processo, em razão de um fato processual modificador”. Se a competência absoluta é aquela fixada com base no interesse público, tem-se que não pode ser modificada, ou seja, a competência absoluta é improrrogável, inderrogável. Logo, só é possível haver prorrogação de competência quando a competência possuir natureza relativa. 
3. PERPETUAÇÃO DE COMPETÊNCIA
	Uma vez iniciado o processo penal perante determinado juízo, deve nele prosseguir até o seu término. No entanto, ao longo do curso do processo, várias alterações podem ocorrer, hipótese em que se questiona se a competência será mantida ou não. Conquanto não haja dispositivo legal expresso no Código de Processo Penal acerca do assunto, tem prevalecido na jurisprudência a possibilidade de aplicação subsidiária do disposto no art. 43 do novo CPC: “Determina-se a competência no momento do registro ou distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta”.

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