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( • CAPí_o •• Introdução Triagem ou classificação de risco é uma ferramenta de manejo clínico de ris- co empregada nos serviços de urgência por todo o mundo, para efetuar a cons- trução dos fluxos de pacientes quando a necessidade clínica excede a oferta. Essas ferramentas pretendem assegurar a atenção médica de acordo com o tempo de resposta e de acordo com a necessi- dade do paciente. As primeiras triagens nos serviços de urgência eram feitas de forma mais intuitiva que metodológica e não eram, portanto, nem replicáveis entre os profissionais, nem auditáveis. O Grupo de classificação de risco de Manchester foi formado em novem- bro de 1994 com o objetivo de esta- belecer consenso entre médicos e en- fermeiros do serviço de urgência para um padrão de triagem ou classificação de risco. Ficou rapidamente claro que o objetivo do grupo podia ser facada em cinco tópicos, conforme Quadro 1.1. Quadra 1 Premissaspara classificação de risco Desenvo imento de umo nomenclatura comum Desenvolvimento de definições comuns Desenvolvir.ento de uma sólida metodologia de triagem Desenvolvimento de um programa de capacitação Dese» olvimento de um guia de auditoria para a triagem Nomenclatura e definições Revisão das nomenclaturas e defini- ções dos modelos de triagem que estavam em uso na década de 1990 mostrou diferença consideráveis entre eles. Uma representação simples dessas diferenças pode ser vista no Quadro 1.2, no qual as categorias de prioridade estão à es- querda e o tempo máximo para o primei- ro coníot com o médico está listado nas colunas à direita. Apesar dessa expressiva variabilida- de, licoi. claro que existiam pontos co- muns ent-e os vários sistemas de triagem, como está demonstrado no Quadro 13. Quadra 1.2 Diferenças entre modelos de triagem na década de 9r Hospital 1 Hospital 2 Hospital 3 Prioridade Tempo- Prioridade Tempo- Prioridade Tempo- resposta resposta resposta Vermelho O A O Imediato O B <10 Urgente 5-10 Amarelo <15 C <60 Semiurgente 30-60 Verde <120 D <120 Azul <240 E TempoAceitável Hospital 4 Prioridade Tempo- resposta O 2 <10 3 3 Comparação entre modelos de triagem Protocolo 1 Protocolo 2 Máximo de tempo (min.) O Protocolo 3 Protocolo 4 Máximo de tempo (min.) O Máximo de tempo (min.) O <10 <60 <120 <15 <120 <240 _-c; vez. identificados os critérios co- - _r: :::9 -riagem, rapidamente chegou-se .:: co senso quanto a um novo sistema de -::;-2 catura. Para cada nova priorida- ::r.:: -: ::;~ atribuídos um número, uma cor ~ _--orne e definido o tempo-resposta :-=-::: ::;-;:; a primeira avaliação médico. - realizadas reuniões de âmbito na- ::::r:: -::: eino Unido entre os representantes _ = -2"'lagem e dos médicos dos serviços :E _-_ª1c'a para a discussãoe apresentação ~::: ::-:::;_-0 deste trabalho: uma escala nacio- _ ce -'::::gem,conforme o Quadro 1.4. :::; _= c 4 omendatura do Sistema Manchester~ = _:--::ação de Risco orne Cor Tempo-respostamáximo (min.) O 10 60 120 240 =~e'gência _ -c urgente laranja .Agente Amarelo =:: ::0 urgente _ ::::Jurgente _ :: ssc-orn-ss 20 anos desde que a me- -='-"': Jg'a e a escala de classificação de =:: :::9 cinco cores foram implementadas :: -=-::::' do mundo. Os tempos-resposta _ ::;::::0 região eram influenciados tan- Máximo de tempo (min.) O 5-10 30·60 <10 to por políticas de saúde como médicas, principalmente nas prioridades mais bai- xas. Entretanto, o conceito das várias prio- ridades clínicas se mantém atual. Port'Igal introduziu a cor branca para identificar todos os pacientes com eventos ou situações/queixa não compatíveis com o servi .0 de urgência como, por exemplo, pacientes admitidos para procedimentos eletivos ou programados, retornos, atesta- dos, ete. Nesse caso deve-se registrar a cor bronco e o motivo de tal identificação. Metodologia da classificação de risco De forma geral, um método de classi- licocó. de risco pode tentar fornecer ao profissional um diagnóstico, uma exclusão diagnóstico ou uma prioridade clínica. O grupo de clossíhcocóo decidiu rapida- mente que a metodologia de classifica- ção dp. risco deveria ser planejada para definir a prioridade clínica. A decisão foi baseada em três grandes princípios. Pri- meiro o foco da realização da classifico- ção de risco em um serviço de urgência é tonto facilitar o gestão do clínico de cada 3 paciente quanto a gestão de todo o servi- Prioridade e manejo ço. E issoé mais bem alcançado por meio da alocação exata de uma prioridade clí- nica. Segundo, o tempo da realização da classificação de risco é tal que qual- quer tentativa de se fazer um diagnóstico do paciente nesse momento está fadado ao fracasso. Finalmente, é evidente que o diagnóstico clínico não está precisamente associado à prioridade clínica; a priorida- de reflete aspectos de uma apresentação/ queixa particular do paciente. Por exem- plo, um doente com diagnóstico final de distenSãõdo tornozelo pode apresentar-se com dor intensa, moderada ou nenhuma dor e a sua prioridade clínica deve refletir esse contexto. Em linhas gerais, a metodologia de classificação de risco apresentada neste livro requer que o profissional defina a queixa ou o motivo que levou o usuário a procurar o serviço de urgência, selecio- ne uma das várias apresentações e, en- tão, procure um número limitado de sinais e sintomas em cada nível de prioridade clínica. Os sinais e sintomas que fazem a discriminação entre as prioridades clíni- cas são chamados de discriminadores e estão apresentados na forma de fluxogra- mas para cada condição apresentada - os fluxogramas de apresentação. Os discriminadores que indicam níveis de prioridade mais altos são os primeiros a serem procurados; a ausência de discri- minador pertinente vai alocar a grande parte dos pacientes classificados como não urgentes. 4 É comum confundir prioridade clíni- ca com manejo ou gestão clínica de um paciente. A prioridade clínica requer a coleta de informações suficientes que permitam enquadrar o paciente em uma das cinco prioridades definidas, já apresentadas. A gestão clínica, por sua vez, pode exigir compreensão mais profunda das necessidades do paciente e pode ser afetada por alto número de fatores extrínsecos, tais como a hora do dia e a disponibilidade tanto de pesso- al como de leitos. Além disso, os fluxos de cada especialidade para determina- dos grupos de pacientes podem reque- rer recursos diferentes. Isso não altera a prioridade clínica definida. Afeta, sim, o percurso e o cuidado do paciente em de- terminadas situações subordinadas a uma linha de cuidado. Capacitação em classificação de risco Este livro e o curso que o acompanha se propõem a fornecer a capacitação necessária para a realização de uma classificação de risco padronizada. Não se pretende que a mera leitura do livro e a frequência em um curso impliquem a produção imediata de uma capaci- dade de se fazer a classificação. Esse processo, pelo contrário, vai apresentar a metodologia e permitir aos profissionais o desenvolvimento de competências na utilização do material disponível. Este é o :: -•.•..eiro passo para utilização do sistema = :::elle ser seguido de avaliação contínua ::: processo de trabalho. "toria da classificação de riSCO o Grupo de Triagem dedicou um tem- po considerável na tentativa de estabele- cer "diagnósticos-sentinela", ou seja, diagnósticos que poderiam ser identifi- cados retrospectivamente e ser utilizados como "marca dores" de uma classificação de risco precisa. Pelas razões supracita- das, tornou-se rapidamente evidente que mesmo os diagnósticos retrospecti- vos não se permitem prever com exatidão a prioridade clínica real. O uso de um método sólido de audi- toria é essencial para o futuro de qual- quer metodologia normalizada para que seja demonstrada a sua possibilidade de replicação entre profissionais e entre os diversos serviços de urgência. Auditoria é discutida em mais detalhes nocapítulo 6. Para além da classificação no serviço de urgência o conceito de classificação (determi- nando a necessidade clínica como me- todologia de gestão do risco clínico) e o processo descrito neste livro (identificação da queixa de apresentação seguida pela escolha de um fluxograma e definição de um discriminador) são aplicáveis em outros contextos. O sistema pode ser implantado da mesma forma em unidades de acesso à clínica médica, cirúrgica e pediátrica, como nos Serviços de Urgência. Muita de- manda pode chegar por telefone, na Aten- ção Primária à Saúde e nas Unidades de Pronlo-Atendir-tento24h. Uma modificação do Protocolo de Triagem de Manchester (PTM) pode ser usada para esse fim, como é descrito no pítulo 7 As informações obtidas durante o pro- cesso de classificação de risco podem também ser usadas de outras formas para melhorar o cuidado do paciente. É impor- tante, por exemplo, que os profissionais de saúde reconheçam o mais rapidamen- te possível qualquer agravamento no es- tado dos pacientes e os reclossiliquern. Finalmente, nota-se que o resultado do processo de classificação de risco pelo Protocolo de Manchester - a seleção do fluxograma de apresentação, a procura do discriminador e a escolha da priorida- de - é colocar determinado paciente em uma das 265 opções, numa matriz apre- sentação-prioridade de 53 fluxogramas x cinco prioridades clínicas. Essa matriz apre- sentação-prioridade fXide ser utilizada para definir os circuitos e/ou linhas de cuidados. A combinação específica de fluxograma de apresentação - prioridade pode sugerir um circuito particular, por exemplo: dor torácico - laranja - sala de reanimação. Resumo A classificação de risco é uma par- te fundamental da gestão do risco clí- nico em todas os serviços, quando a demanda por assistência ultrapassa os recursos disponíveis. A classificação de risco pelo Protocolo de Manchester 5 nos Serviços de Urgência para defini- ção de uma prioridade c'ínica é uma metodologia que pode ser ensinada e ouditodo. O método não foi projetado para julgar se os pacientes deveriam estar ou não num serviço de urgência, mas para assegurar que aqueles que precisam de cuidados de urgência e emergência os recebam de forma adequada e rápida. Pode também ser utilizado para sinalizar fluxos de aten- dimento, monitorar as linhas de cuida- do, além de destacar a necessidade de adequações de recursos humanos, administrativos, físicos e materiais. o futuro o Sistema de Classificação de Risco do Protocolo de Manchester pode ser utilizado como uma das ferramentas de gestão do serviço de urqêr» ia, uma vez que produz indicadores que poderão ser aplicados pelo serviço no estabelecimento de contratos de q ua lida de e pactuações internas e externas. A classificação de ris- co precisa ser reprodutível e auditável se for usada para tal finalidade Projeção internacional e acional do Protocolo de Manchec: er Os autores ingleses e portugueses, com a finalidade de formalizarem um fárum internacional de div Igação de 6 conhecimentos, formaram o International Working Group. Este Grupo constitui consenso internacional e é responsável pela atualização contínua e adaptação para compatibilizar o método do proto- colo com os avanços da Medicina de forma uniforme nos diversos países. A partir da internacionalização, foi possível a implantação do Protocolo em instituições de saúde de várias re- alidades geográficas e populacionais, tais como: Reino Unido, Áustria, Brasil, Alemanha, México, Noruega, Portu- g~Holanda, Espanha, entre outros. O primeiro curso ministrado no Bra- sil aconteceu em 2007, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais e teve como grande parceiro o Grupo Portu- guês de Triagem (GTP). Hoje a utiliza- ção do Sistema Manchester de Clas- sificação de Risco saiu das fronteiras de Minas Gerais e ganhou espaço em todo o país, a exemplo do que vem ocorrendo na Europa. O Grupo Brasileiro de Classifica- ção de Risco (GBCR) foi constituído no pressuposto da manutenção do pa- drão internacional para garantir que o Sistema Manchester se mantenha seguro não só para o cidadão, mas também para o profissional e a institui- ção de saúde que o utiliza. •• Processo de Tomada de Decisão e a Classificacão de Risco· I Tomar decisões é parte importante da prática médica e de enfermagem. A ava- liação clínica de um paciente requer tanto raciocínio como intuição e ambos devem se basear em conhecimento e experiência profissional. Muitos profissionais acredi- tam que a tomada de decisões depende apenas do "senso comum" ou comportam mera "solução de problemas". Até certo ponto, eles têm razão. Decidir, entretanto, é muito mais que isso, pois requer certo nível de competência. Parte desse proces- so de tomada de decisão consiste em: Interpretar Discriminar Avaliar É necessária interpretar, discriminar e avaliar a informação coletada dos pa- cientes e fazer uma análise crítica de suas ações após essa decisão. As de- cisões tomadas serão instáveis, aleató- rias e potencialmente inseguras se não houver uma estrutura de referência onde se basear. Uma capacidade sólida de tomada de decisão é essencial para um cuidado de boa qualidade ao paciente. A clossilicocôo de risco é tradicio- nalmente uma função do enfermeiro. Os primeiros processos de classifi- cação de risco na década de 1980 eram baseados em entrevistas e não orientavam para o resultado. As deci- sões da clcssilicocôo de risco eram potencialmente específicas de cada 8 triador, sendo parte inerente do seu próprio processo de tomada de deci- são. Essa decisão podia ser questio- nável por não haver uma estrutura de referência. Tal problema só poderia ser resolvido com o uso de uma ferramenta de referência (metodologia) no proces- so de classificação de risco e com a concepção de um sistema que permitis- se ao profissional obter a competência necessória para a sua implementação. o desenvolvimento da capacidade lá uma curva de aprendizado do pro- fissional que evolui conforme sua prática e a aquisição de conhecimento. À medida que os profissionais vão melhorando, vão adquirindo competências e aprendendo com as suas experiências. Esse processo pode ser facilitado com o uso de uma fer- ramenta baseada em um sistema comum e metodologicamente sólido por meio do qual se avalia a sua eficácia. Estratégias de tomada de decisão Emum processo de tomada de decisão, recorre-se a certas estratégias, tais como: Raciocínio Reconhecimento de padrões Formulação repetitiva de hipóteses Representação mental Intuição Raciocínio Há essencialmente dois tipos de racio- cínio envolvidos no pensamento crítico: o indutivo e o dedutivo. O raciocínio indutivo é a capacidade de se avaliar todas as possibilidades. Ele parte da análise de vários casos particu- lares, ou premissas, para inferir uma con- clusão e é especialmente útil aos menos experientes. Envolve um processo moroso de análise de todas as informações co- letadas de um paciente para conseguir uma decisão concreta quanto aos cuida- dos necessários. O raciocínio dedutivo é a capacidade de selecionar simultaneamente possíveis soluções enquanto está coletando as in- formações do paciente. Essa estratégia é frequentemente ignorada e não reconheci- da, mas faz parte da prática de um profis- sional experiente e permite a rápida dis- tinção entre as informações importantes e as irrelevantes para tomar uma dec~o. Reconhecimento de padrões Esta é a estratégia mais usada pelos profissionais de saúde. Tem particular im- portância na tomada rápida de decisão ao usar um número limitado de informa- ções necessárias durante a classificação de risco. O reconhecimento de padrões consiste em juntar as peças da informa- ção disponível com o objetivo de analisá- -Ias. Os profissionais interpretam os pa- drões dos sinais e sintomas do paciente por comparação e associação com casos anteriores. Isso conduz a um diagnásticoou a uma decisão sobre o bem-estar do paciente. A capacidade de usar essa fer- ramenta de tomada de decisão vem com a experiência e, por vezes, pode pare- cer intuição. Os profissionais principiantes, mesmo extremamente competentes, podem precisar recorrer à solução consciente de problemas para chegar a uma decisão, enquanto que os mais experientes podem utilizar o reconhecimento de padrões. Formulação repetitiva de hipóteses A formulação repetitiva de hipóteses é usada pelos médicos a fim de testar o raciocínio do diagnóstico. Uma decisão pode ser tomada pela obtenção de da- dos para a confirmação ou eliminação de hipóteses. Esse método pode ser indutivo ou dedutivo, dependendo do grau de ex- periência do profissional. Representação mental A representação mental é um método que consiste em simplificar um contexto para obter um panorama geral, para que se possa focar nas informações im- portantes. Essa estratégia é geralmente usada em problemas muito complexos ou prementes. O uso de analogias ajuda o profissional a visualizar a situação pela simplificação do problema, permitindo-lhe uma perspectiva diferente. As decisões de classificação de risco têm de ser rápidas e o uso desse método é limitado nessa fase de atenção ao paciente. 9 Intuição A intuição está profundamente liga- da à experiência e é vista geralmente, como a capacidade do profissional em solucionar o problema com relativamen- te poucos dados. A intuição raramente é uma análise consciente e é frequente- mente expressa como insight ou "forte palpite". Profissionais experientes veem a situação de uma forma holística e aproveitam de sua experiência prévia. Muito do seu saber está baseado na prática e na vivência (conhecimento tá- cito), sendo que as decisões eficazes são tomadas por meio da associação do conhecimento com a teoria da ~ mada de decisão e com o pensamento intuitivo. Muitos profissionais experientes não estão conscientes dos processos mentais que usam na avaliação e na gestão de pacientes. Embora a intuição continue a ser imensurável, o seu valor para a prática clínica é reconhecido e está bem documentado. Tomada de decisão na classificação de risco Apesar de todas as teorias, a toma- da de decisões consiste simplesmente em uma série de passos para chegar a uma conclusão. Ela é composta de três fa- ses identificação de um problema, de- terminação das alternativas e seleção da alternativa mais adequada. Tem sido descrita uma abordagem para a tomada de decisão crítica em cinco passos: 10 Identificação do problema Coleta e análise das informações relacionadas à soluçõo Avaliação de todas as alternativas e escolha de uma delas para implementaçãa Implementação da alternativa escolhida Monitoramento da implementação e avaliação dos resultados Esta abordagem inclui determinado número de teorias e métodos. Quando aplicadas à classificação de risco, as de- cisões são formadas do seguinte modo: Identificação do problema É feita pela obtenção de informa- ções do próprio paciente, do acompa- nhante ou cuidador ou de qualquer pro- fissional da atenção pré-hospitalar. Esta fase permite a identificação do fluxogra- ma de apresentação pertinente. Coleta e análise das informações relacionadas à solução Uma vez identificado o fluxograma, esta fase torna-se mais fácil, já que os dis- criminadores podem ser procurados em cada nível de prioridade. Os fluxogramas facilitam a avaliação rápida ao fornece- rem perguntas estruturadas. O reconheci- mento de padrão também desempenha importante papel nesta fase. Avaliação de todas as alternativas e escolhas de uma delas para implementação o profissional de saúde coleta grande quantidade de dados sobre o paciente que está avaliando. Essas in- formações são coletadas pela mente do profissional e armazenadas na sua memória em compartimentos de fácil re- cordação. Esse processo é mais eficaz se estiver associado a uma estrutura organizacional ou de avaliação. Essa estrutura serve de guia de avaliação e é organizada em compartimentos com subtítulos. Os fluxogramas fornecem a estrutura organizacional que irá ordenar o raciocínio durante a classificação de risco. Os fluxogramas associam o pro- cesso de tomada de decisão ao quadro clínico. Eles auxiliam a tomada de de- cisão ao fornecer essa estrutura e ser- vem também de apoio aos principiantes enquanto eles adquirem competência no processo de tomada de decisão. Implementação da alternativa selecionada Só há cinco categorias possíveis de prio- ridade na classificação de risco a serem selecionados. E como foi discutido no Capí- tulo 1, cada uma delas possui um nome e uma definição específica. Os profissionais da classificação de risco definem a cate- goria que melhor se adapta à urgência da condição apresentada pelo paciente A clossilicoçôo de risco é dinâmica e deve responder tanto às necessidades dos doentes quanto às do serviço de urgência, não podendo ser apenas um passo isolado que ocorre no início da jor- nada do paciente no serviço de saúde. Uma vez atribuída uma prioridade, inicia- -se o respectivo percurso do paciente nos fluxos pa tuados na instituição. O classifica- dor deve utilizar sua capacidade de tomar decisões e sua experiência para identificar os pacientes que possam requerer acompa- nhamento. monitoromento e reclassificação. Monitor amento da implementação e avaliacào dos resultados O metodo de classificação de risco delineado neste livro assegura que o processo que leva à tomada de deci- sões esteja de acordo com o que foi determinado. Os profissionais deverão estar, portanto, aptos a identificar como e por que chegaram ao resultado (priori- dade clínica). Isso facilita a identificação da necessidade de reavaliação e poste- rior confirmação ou alteração de cate- goria. Acurácia e reprodutibilidcde das ~ecisões asseguram que esse processo pode sei auditado. Alterando a atual prática de tomada de decisão A introdução de um novo método de tomada de decisão na classificação de risco pode causar alguma ansiedade para rnulos profissionais de saúde mais experientes. Seria difícil desaprender mé- todos individuais de tomada de decisão que foram desenvolvidos ao longo dos anos de prática. Essa mudança, entretan- to, deverá ser vista como um aperfei- çoamento posterior do seu sistema atual, proporcionando, pela primeira vez, uma 11 lógica clara para sua tomada de deci- são, contando, ainda, com a vantagem de ser um sistema passível de auditoria. Essa abordagem sistemática é de grande valia para o desenvolvimento de competências nos profissionais principian- tes, que tanto dependem de experiência para informar e orientar sua própria prá- tica profissional. 12 o atual processo de tomada de de- cisão na classificação de risco apre- sentado neste livro é efetivo, adaptável a qualquer serviço de urgência e valioso para qualquer profissional, independen- temente do seu grau de experiência. CAPíTUL~ 3 •• Método de Classificacão de Risco I t Metodologia o método delineado nesre livro foi cria- do para permitir 00 prohss onol do clas- sificação de risco a atribuiçao rápido de uma prioridade clínica ao paciente que chego ao serviço de urqênc.o. O sistema identifico os doentes com mo or prioridade e não tem o pretensão de realizar o diag- nóstico. Essa formo de opero é proposital ao se constatar que os servi .os de urgên- cia respondem, no maioria dos vezes, às demandas dos pacientes de acordo com os sinais e sintomas apresenrados. As de- cisões tomadas no classificação de risco seguem cinco passos (Quadre 31) Quadro 3.1 Passos para tomada d decisão na classificação de risco Identificação do probler io t Coleta e análise das informações relacionadas à soluce. Avaliação de todas as alternativase e colha de uma delas para implementoçó Implementação da oIternativa escolhida Monitoramento do irnplerneruocôo e ovoliocôo dos resultodos Identificação do problem A prático clínicogiro em torno do conceito do queixo inicial lU principal sinal e sintoma que motivo o paciente o procurar o serviço de urgênc a. Apresen- tamos uma lista de condiçoes conside- rados pertinentes à clossilicocôo de risco (Quadro 3.2) Esta lista foi compilado apos consenso e abrange quase todos os situações apre- sentados nos serviços de urgência. A lista foi atualizado nesta edição e aperfeiçoada 14 após pesquisas e estudos internacionais, em relação às edições anteriores. Tais situ- ações enquadram-se, de formo geral, nos categorias doença, criança, alteração de comportamento e trauma. Quadro 3.2 lista de fluxogramas de apresentação Sinal/Sintoma de Apresentação Agressõo Alergia Alteração do comportamento Asma Autoagressão Bebê chorando Cefaleia Convulsões Corpo estranho Criança abusada ou negligenciada Criança irritadiça Criança mancando Desmaio Diabetes Diarreia e/ou vômitos Dispneia em adulto Dispneia em criança Doença mental Doença sexualmente transmissível Dor abdominal em adulto Dor abdominal em criança Dor cervical Dor de garganta Dor lombar Dor testicular Dor torácica Embriaguez aparente Erupção cutãnea Exposição a agentes químicos Feridas Gravidez Hemorragia digestiva Infecções locais e abscessos . Mal-esta em adulto Mal-estar em bebê Mal-estar em criança Mal-estar em neonato Mordeduras e picadas Overdose e envenenamento Pais preocupados Palpitações Problemas dentários Problemas em extremidades Problemas em face Problemas em olhos Problemas em ouvidos Problemas urinários Quedas Queimaduras Sangramento vaginal Trauma cranioencefálico Trauma maior Trauma toracoabdominal A primeira parte do método de classifi- cação requer que o profissional descreva a situação-queixa do paciente. Ao identifi- car essa condição, o profissional é levado a uma lista de fluxogramas de apresenta- ção que possui discriminadores que permi- tem a determinação da prioridade clínica. Houve o máximo cuidado para asse- gurar que os fluxogramas fossem consisten- tes na sua abordagem, já que, como se sabe, muitas queixas podem levar a mais de um fluxograma. Assim, por exemplo, um paciente com mal-estar, dor de cabe- ça e rigidez de nuca será classificado na mesma prioridade se o profissional usar um das fluxogramas: Mal-estar no Adulto, Dor Cervical ou Cefaleia. Coletando e analisando nlomacêes A escolha do fluxograma é, na maioria das vezes, definida pela Situação-queixa apresentada pelo paciente Após essa es- colha, é necessário coletar e analisar as informações poro definir a prioridade na- quele momento. O fluxograma organiza o processo ao mostrar discriminadores-chave (perguntas) em cada nível de prioridade. A avaliação é feita pela determinação da prioridade mais alta na qual a pergunta proposta for considerada positiva (ou que não se pode negar). Os discriminadores são deliberadamente colocados na forma de perguntas para facilitor o processo. Oiscriminadores Discriminadores, como o nome indi- ca, são características que diferenciam pacientes entre si de tal forma que eles possam ser alocados em uma das cinco prioridades clínicas. Os discriminadores podem Ser gerais ou específicos. Os pri- meiros aplicam-se a todos os doentes, in- dependentemente da Situação-queixa e, portanto, aparecem repetidas vezes ao longo dos fluxogramas. Em todas as oca- siões, os discriminadores gerais levarão o profissional da classificação de risco para a mesma prioridade clínica. Os discriminadores específicos aplicam-se a apresentações individuais ou a pequenos grupos de apresentação. Tendem a re- lacionar-se com características-chave de condições particulares. Assim, enquanto dor agudo é um discriminador geral, dor ptecotdio. e dor pleurítica são discrimi- nadores específicos. Os discriminadores gerais aparecem em muito mais fluxogra- mas ~ue os discriminadores específicos. Todos os discriminadores usados estão definidos no dicionário de discrimina- dores no fim do livro. As definições dos discriminadores específicos usados em fluxogramas individuais são repetidas nas notas da página ao lado que acompa- nham o fluxograma, permitindo uma con- sulta mais fácil. Todos os fluxogramas e discriminado- res foram revistos na 3° edição inglesa que corresponde a 2° edição brasileira. Poro informações adicionais consulte: www.gbcr.org.br Os discriminadores gerais são uma ca- racterística recorrente dos fluxogramas e é fundamental que sejam compreendidos para uma adequada aplicação do método 15 de classificação de risco. Seis discrimina- dores gerais serão apresentados a seguir: Ameaça à vida Nível de consciência Hemorragia Temperatura Dor Início e evolução da situação-queixa---- Ameaça à vida Para o médico ou enfermeiro do serviço de urgência, os discriminadores que repre- sentam sinais de ameaça à vida são pro- vavelmente os mais óbvios de todos. Qual- quer ausência ou instabilidade de sinais vitais (A B C - airway, breathing, circulation - via aérea, respiração, circulação) coloca o paciente no primeiro grup~ de priorida- des (emergente - vermelho) (Figura 3.1). •Obstrução de vias aéreas Estridor Baba-se Respiração inadequada Choque Figura 3.1 Ausência ou instabilidade de sinais vitais. A - O paciente que não é capaz de manter sua via aérea pérvia por qual- 16 quer período de tempo tem obstrução de via aérea. Além disso, pacientes com estridor inspiratório ou expira- tório apresentam grave risco em sua via aérea. O estridor é melhor audível quando se respira de boca aberta. A apneia é definida como ausência de respiração ou de esforço para respirar, avaliada por visão direta e ausculta durante 10 segundos; B - Respiração inadequada é um con- ceito mais difícil, mas em termos ge- rais os pacientes que não conseguem respirar bem o suficiente para manter adequada oxigenação apresentam respiração ineficaz. Pode haver au- mento de esforço respiratório, sinais de ventilação ineficaz ou exaustão; C - A ausência de pulso só é diagnos- ticado por palpação de um pulso cen- tral durante cinco segundos. O choque pode ser difícil de detectar. Os sinais clássicos incluem sudorese, palidez, taquicardia, hipotensão e redução do nível de consciência. N vel de consciência O nível consciência é avaliado sepa- radamente em adultos e crianças. No adulto, apenas pacientes convulsionando no momento da avaliação são sempre classificados como emergentes (verme- lho), enquanto todas as crianças que es- tão convulsionando ou que não respon- dem ao comando verbal ou ao estímulo doloroso são alocadas nesta prioridade. Paciente adulto que está com alteração do nível de consciência (resposta à voz ou à dor ou não responsivo) é categori- zado na prioridade clínica loron]o (muito urgente). Todo paciente com história de perda de consciência deve ser classifica- do como urgente (amarelo). Pode parecer discordante do prá- tica clínica atual o fato de se classifi- car como muito urgente [loronjc] todo paciente com alteração do nível da consciência, principalmente se eles es- tiverem intoxicados ou sob a influência de álcool ou outras drogas. Devem ser pontuadas duas questões a este respei- to. Primeiro, a etiologia da alteração do nível de consciência é irrelevante para a classificação do risco do paciente. Ní- vel de consciência alterado por drogas ou álcool tem a mesma importãncia clí- nica que aquele provocado por outras causas. Em segundo lugar, a maior par- te dos pacientes embriagados não tem clterocóes do nível de consciência. As Adulto Convulsionando ~ situações específicas para avaliar uma prioridade clínica para esses pacientes aparentemente embriagados são trata- dos em um fluxograma de apresentação exclusivo (Figura 3.2). ~err Jrrag A hemorragia é um evento que apa- rece em muitos fluxogramas de apresen- tação - principalmente, mas não exclusi- vamente, naqueles envolvendo trauma. Os discriminadores de hemorragia são hemor- ragia exsanguinante, hemorragia maior in- controlável ou menor incontrolóvel.O fato de se conseguir controlar um sangramento é um critério de priorização, [ó que uma hemorr~ia contínua tem risco clínico mais alto. As definições dos discriminadores de hemorragia foram elaboradas para facili- tar a decisão do profissional, embora, na prática, às vezes se]o difícil decidir em que categoria se enquadra um sangramento. (riança Convulsionondo Crianção não reativa ~ Resposta à voz Sim Sim ou à dor apenas/ LaranjaAlteração do nível Laranja Alteração do nívelde consciência de consciência NãO! Não História de Sim História de Sim• Amarelo • Amareloinconsciência inconsciência Figura 3.2 Alteração do nível de consciência e prioridade clínica em adultos e crianças. 17 A hemorragia é dita exsanguinante quando a morte ocorrera rapidamente se ela não for estancado. Hemorragia maior incontrolável é aquela cujo san- gramento se mantém abundante apesar da compressão local direta e sustentada ou aquela que rapidamente encharca grandes curativos. Hemorragia menor in- controlável deve ser considerada quan- do o sangramento for discreto ou se o sangue se mantiver escorrendo lentamen- te após compressão local. Qualquer sangramento menor e con- trolável não se adequa aos significados dos discriminadores da Figura 3.3. •Hemorragia exsanguinante Sim--. Vermelho Não ~•Hemorragia maior ~ incontrolóvel Laranja Hemorragia menor ~ incontrolóvel Amarelo Figura 3.3 Hemorragia e prioridade ínica. Temperatura A temperatura é usada como um dis- criminador geral. Pode ser difícil obter uma aferição precisa durante o processo de classificação de risco, embora os ter- mômetros digitais inhovermehos possam ajudar. Alternativa seria uma impressão clí- 18 nica da temperatura da pele, seguida de avaliação exata do valor da temperatura corporal, logo que possível. Clinicamente, é dito muito quente se a pele está muito quente ao toque - isso corresponderia à temperatura de 41°C ou mais. Da mesma forma, se a pele estiver quente ao toque, diz-se que o paciente está quente, o que significa temperatura de 38,5°C ou mais. Paciente com a pele pouco quente preenche o discriminador febril - temperatura de 37,YC ou mais. Pacientes com a pele fria são clinicornente hipotérmicos - este discriminador corres- ponde à temperatura inferior a 35°C. Para agilizar o processo de classificação de risco, os meios de medição rápida da . temperatura devem estar disponíveis (Fi- gura 3.4, Quadros 3.3). •Neanato quente Bebê quente Criança muito quente Adulto muito quente Hipotermia Laranja Neonato febril Criança quente Adulta quente Sim ---. Amarelo Bebê febril Criança febril Adulto febril Figura 3.4 Temperatura corparal e prioridade clínica de acordo com a faixa etória Quadro 3.3 Temperatura corporal por faixa etária Temperatura (Adultos) Hipotermia Muito Quente Quente Febril <35"C 241,0°C 38,5 - 40,9 37,5 - 38,4 Temperatura Neonato (s; 28 dias)---Hipotermia Quente <35"C 238YC 37,5"C - 38,4°CFebril Temperatura Bebê (S;12 meses),...--- Hipotermia < 35°C Quente 238,5"C Febril 37,SOC - 38,4°C Temperatura Crianças (212 meses) Hipotermia < 3SOC _ Muito Quente 241°C_ Quente 38YC - 40,9°C 37,SOC - 38,4°CFebril A dor é um fator determinante de prio- ridade na perspectiva do paciente. O uso da dor como discriminador geral ao lon- go dos fluxogramas reconhece esse fato e preconiza que toda classificação de risco deva incluir uma avaliação da dor. A ava- liação da dor é detalhada no capítulo 4. Em termos gerais, o discriminador dor in- tenso representa uma dor insuportável, ge- ralmente descrita como a maior de todas [ó vivenciadas. A dor moderado refere-se a uma dor intensa, significativa, mas supor- tável. Qualquer paciente com dor de início há menos de sete dias e de intensidade inferior à dor moderada tem dor leve recente, devendo ser oIocado na prio- ridade pouco urgente (verde) em vez da não urgente (azul), a não ser que outro determinan p indique maior prioridade. Na prioridade não urgente (azul) serão colocados, por exclusão, os pacientes com dor leve há sete dias ou mais. O discr minador geral dor descreve apenas a i tensidade ou graVidade da dor. Outras características da dor, tais como a localização, irradiação e perio- dicidade, definem discriminadores espe- cíficos em outros fluxogramas de apre- sentação particulares (dor precordial ou cardíaca, dor pleurítica, dor epigástrica, entre outros (Figura 3.5). Dor i~nsa Sim Laranja Dor mod roda ~ Amarelo Não ~.-Dor leve r -cente _ Figura 3.5 Dor e prioridade clínico. Iníc \ e e\ lução da Situação-queixa Certas convenções foram pactuadas nessa metodologia de classificação de risco para ojudor na consistência da ferramenta. O termo abrupto/repentino é usado para indicar início do evento 19 em segundos ou minutos; súbito indica início em até 12 horas; agudo indica período em até 24 horas. Sinais e sinto- mas recentes são aqueles que surgiram há menos de sete dias. A prioridade clínica não urgente (azul) corresponde a sinais e sintomas que surgiram há sete dias ou mais. A maioria dos profissionais não tem dúvidas em aceitar que o curto tempo de instalação do problema possa ajudar na avaliação da prioridade, mas há cer- ta controvérsia no argumento de usar a cronicidade (no caso, sete dias ou mais) para definir uma não urgência. Um tem- po relativamente longo de existência de um problema, sem agravamento nem si- nais de risco, indica que o paciente pode ser incluído na prioridade nãolurgente - azul (atendimento médico em até quatro horas), sem risco clínico. O método de classificação de risco foi elaborado de tal forma que, se houver outros discrimi- nadores gerais ou específicos relevantes para a condição apresentada, o paciente será classificado em prioridade superior (Figura 3.6, Quadro 3.4). • ~---Evento recente NãO~ Azul I Figuro 3.6 Início e evolução do situação-queixo e prioridade clínico. 20 Quadro 3.4 Tempo de início e evolução dos sinais/sintomas Início do Queixa / Agravamento Repentino / Abrupto Minutos / Segundos Súbito S 12 horas Agudo Recente s 24 horas < 7 dias 27 diasNão recente O uso deste discriminador de tempo não se destina a "punir" pacientes por procurarem indevidamente o serviço de urgência nem se propõe a fazer com que aqueles que possuem lesão ou doença clínica há muito tempo tenham seu tempo de espera prolongado. O tempo de es- pera para paciente com problema estável e que não tenha aparecido recentemente vai depender do perfil de pacientes e da superlotação do serviço de urgência, além dos recursos disponíveis. Avaliando e escolhendo uma alternativa A escolha de um fluxograma de apre- sentação leva à seleção de determinado número de discriminadores gerais e espe- cíficos que serão usados frente ao caso do paciente. A habilidade de classificar o risco do paciente por essa ferramenta é basea- da na aplicação desse método. O classi- ficador deve decidir se os critérios para o discriminador escolhido estão sendo com- pletamente contemplados e qual discrimina- dor é o mais aplicável na categoria mais alta. Por exemplo: para um paciente que se queixa de dor moderada no pescoço após um trauma direto no pescoço, o discrimina- dor mais apropriado será trauma direto no pescoço e não dor moderada, visto que o primeiro fornece informações mais significa- tivas a respeito do paciente. Implementando a alternativa escolhida Esta etapa é basicamente processual. A coleta, análise e avaliação das informa- ções discutidas anteriormente levarão in- variavelmente à decisão sobre qual seria o discriminador (geral ou específico) que é positivo ou que não se pode negar no mais alto nível de prioridade. Este passo leva à atribuição de uma das prioridades mostradas no Quadro 3.5. Quadro 3.5 Nomenclatura do Sistema Manchester de Classificação de Risco Nome Cor 1 2 3 4 5 Emergência o Muito Urgente 10 min Urgente Amarela 60 min Pouco Urgente _ 120 min Não Urgente _ 240 min Documentação A classificaçãode risco implica o registro da prioridade escolhida. O mé- todo de classificação de risco descrito neste livro permite que a documentação seja muito simples e precisa. Em todos os pontos de classificação deve estar disponí- vel a ficha de registro manual da classifica- ção de risco (Quadro 36), que obrigato- riamente contém: • data, nome completo, data de nascimento, sexo; • horário de início e términoda classificação; • queixa principal, fluxograma, discrimi- nador, prioridade clínica e parâmetros solicitados. • reclossilicocôo de risco (discriminador,prio- ridade clínica e parâmetros solicitados); • identificação do classificador. Avaliação do paciente Simplificando, a classificação de risco é uma abordagem rápida e focada, cuja infor- mação é coletada e a metodologia aplicada para se definir uma prioridade. Essetipo de avaliação é uma competência a ser adquiri- da. ~ Quadro 3.7 pode ser utilizado para ensinar o processo aos classificadores, asse- gurando que as decisões sejam baseadas em dados relevantese adequados. É importante que a avaliação do pa- ciente seja sistemática e que todos os dados sejam reunidos para fornecer um quadro completo dos problemas do pa- ciente. Por essa razão, o profissional da classificação de risco deve ter experiência suficiente de cuidados de urgência e boas relações interpessoais para se comunicar eficazmente com pacientes e familiares. A avaliação do paciente para olocó-lo em uma prioridade clínica que orientará uma tomada de decisão pode ser rápida e reprodutível se for aplicado um processo sistemáttco facilitado pela metodologia de classificação de risco. 21 Quadro 3.6 Exemplo de ficho de registro de clossihcocõo de risco - Protocolo de Manchester Identificaçôo do Paciente Nome: Sexo: ( ) feminino ( ) ma <ulino Transporte: ( ) Meios próprio Queixa principal: Fluxograma: Parômetros: Prioridade Clínica: Fluxo interno: Classificador: Discriminador: Parômetras: Prioridade Clínica: Classificador: Observaçôes: 22 Glicemia capi or (mg/dll Temperatura timpônica (oe: Data: Idade: Hora chegada: Data de nascimento: 1 SAMU ) Corpo de Bombeiros Classificação de Risco Discriminodor: Escalo de Como de Glasgow: Glicemia copilor (mg/dl) Temperatura timpônica (OCi ( ) Muito urgente até 10 minutos Escala da dor: COREN/CRM ( ) Urgente até 60 minutos Reclassificação Escala de Coma de Glasgow Perfusôo capilar periférica: ( ) Muito urgente até 10 minutos Escala da dor: COREN/CRM ( ) Urgente até 60 minutos ) Outros Pulso (bpm) Ritmo: ( ) regular ( ) irregular Saturação de 02: ( 1 ar ambiente ( )°2 Perfusôo capilar central: • •• • •• - - ~ra)nco .- -.- .- :.1• • • FR(irpm) PA (mmHg): Hora de Início CR Hora Fim CR FR(irpm) Pulso (bpm): Ritmo: ( ) regular ( ) irregular Saturaçôo de 02: ) ar ambiente 1°2 PA (mmHg): Perfusôo capilar central:•..•..--.- -. - . - :..• • • Hora de Inicio CR: Hora Fim CR Quadro 3.7 Abordagem do paciente na Classificação de Risco Componente de abordagem Cumprimentando o paciente A história Queixo de apresentação Entrevista (perguntas direcionadas) Exame físico e outros parãmetros Avaliação da dor Prioridade do cuidado Documentação Reavaliação Atividade de Classificação de Risco A avaliação começo logo na chegado do pociente. Observe como ele se aproximo do área de triagem procurando sinais como: • Nível de mobilidade; • Lesão óbvia; • Idade. Pergunte 00 paciente o que o trouxe 00 serviço de urgência. • Esta história será breve, conciso e subjetivo sobre o ferimento/doença/situação/queixa do paciente. A queixa de apresentação deve ser definido da istória subjetiva fornecido pelo paciente. • Isto leva o profissional o escolher o fluxograml de apresentação mais apropriado para a situação/queixo. Nesta fase, o conhecimento e a competência d profissional estão mais evidentes. O profissional deve dominar conhecimentos anatãmicos e o padrão de queixas de apresentação, além de ter habilidade em recor ecer com rapidez situações que coloque em risco o vida do paciente. • Perguntas direcionadas podem ser usadas para se obter mais detalhes, por exemplo, duração do problema, mecanismo de trauma, u o de medicação, ete. • O formato dessas perguntas é direcionado p 10S discriminadores do fluxograma de apresentação escolhido. Se pertinente: • Localização real das lesões; • Registro de parõmetros mensuráveis (glicemia .opílor, saturação de oxigênio, frequência e ritmo de pulso, alteração do nível :e consciência, temperatura timpãnica, dor e pressão arterial) A escola de dor tanto subjetiva (do paciente) q Janto objetiva (do profissional) foz parte do Sistema Manc ester de Classificação de Ri :0 e deve ser registrada. Defino o prioridade usando o mais alto dlscrirrunodor atribuível ao paciente. • Descreva de forma sucinta qualquer outra dei 1anda identificado no processo. O registro dos informações deve ser feito em f matação padronizada e, de novo, clara, concisa, relevante e associada à queixa de apresentação. No caso de classificação de risco informatiz da, cuide para que a atenção esteja voltada para o paciente e não para a tela ou teoada do computadar. Registre ainda: • Alergias; • Medicação usual; • Passado mórbido prévio relevante; • Medidas iniciais feitas ainda na clcssihccçô de risca; • Observações; • Medicação usado na triagem (se houver protocolo). Assinatura legível. Registre quando for necessária reavaliação. nistrativa ou O seu USO para procedimen- tos ele! vos ou não urgentes agrava a pressão sobre esses serviços, além de estimular sua utilização dístorcido não só pelos pacientes, como também pelos Cor branca na classificação de risco A utilização indevida dos serviços de urgência como porta de entrada cdrni- 23 profissionais. Identificado o problema, e dada à diferença de cultura e postura no Reino Unido em relação a essas situ- ações (que não são autorizadas), o Gru- po Português de Triagem propõs uma cor que identificasse esses casos - a cor branca, adotada também no Brasil. A cor branca permite qucntilicor o pro- blema nos serviços, pora que seja feito um planejamento de ações que promovam a correta utilização dos recursos disponíveis. Cabem aos serviços o monitoramento e o planejamento de medidas corretivas para cumprimento deste objetivo. Critérios para cor branca Problemas administrativos: • paciente de outro serviço que pre~sa de registro para fazer exame comple- mentar por acordo entre instituições; • óbito que precisa de registro administrati- vo para ser encaminhado ao necrotério; • paciente chamado para terapêutica não programada (transplante); • paciente admitido para procedimento programado que utiliza o serviço ad- ministrativo da urgência para admissão; • paciente readmitido após 24 horas de transferência para outro serviço para in- terconsulta com retorno programado. Problemas clínicos: • paciente referenciado por médico sem estar em situação aguda ou de urgên- cia, seja para procedimento, exame complementar ou avaliação médica não urgente (por exemplo, doente en- 24 caminhado para reavaliação clínica, remoção ou renovação de gesso, etc.); • paciente referenciado por médico para inclusão em protocolo científi- co, sem estar em situação aguda ou de urgência. Outros problemas: • pacientes admitidos para reavaliação por terem sido observados anteriormen- te no serviço de urgência, mas não mais apresentam situação aguda ou urgente; • coleta de sangue para contra prova da detecção de álcool ou drogas - por in- dicação de autoridade policial. Não são critérios para cor branca • paciente readmitido há menos de 24 horas após transferência para outro ser- viço para interconsulta (deverá ser usa- do o prontuário anterior); • paciente referenciado por médico ao serviço de urgência em situação aguda ou urgente (este paciente deverá ser sub- metido à classificação de risco); • usuário que procura espontaneamente o serviço de urgência para exame ou procedimento não compatível com o ser- viço de urgência(pode ser recusado e encaminhado para serviço mais indica- do e anulado seu registro); • paciente transportado pelo Serviço Mó- vel de Urgência (SAMU) ou outro servi- ço pré-hospitalar (se grave ou instável, deverá ser levado à sala de emergência e ser classificado, mesmo que a poste- riori, sem interrupção do tratamento); • vítima de acidente de trabalho: deve ser registrado e classificado normalmente. Monitoramento e avaliação A prioridade clínica pode mudar e, por isso, a classificação de risco deve ser dinã- mico. O método descrito neste livro pode ser aplicado rapidamente e com confian- ça por profissional capacitado, sendo, assim, uma ferramenta útil para múltiplas reavaliações da prioridade clínica durante a espera do paciente por atendimento. - 25 • Avaliacão da Dor como I Parte do Processo de Classificacão de Risco I A dor é uma questão-chave para os pacientes nos serviços de urgência. A avaliação da dor tem evoluído desde a primeira edição do Protocolo de Man- chester, portanto, esta avaliação deve compor o método de classificação de risco de modo que seja avaliada e abor- dada adequadamente. A dor é uma questão importante, por uma série de razões: A maiar parte das pacientes das urgências sente algum grau de dor O grau de dor influencia a prioridade A gestão adequada da dor é um critério-chave para a satisfação do paciente Os pacientes com dores podem tornar-se agitados e agressivos Os pacientes com dores desesíobilizorn tanto os profissionais quanto os outros pacientes Os pacientes sempre têm a expectativa de que o sua dor seja trotada De fato, é extremamente vantajoso reali- zar a avaliação da dor como parte do pro- cesso de classificação de risco, o que ga- rante que ela seja tratada desde o início da abordagem ao paciente. Se a dor for con- trolada, é possível atribuir uma prioridade inferior ao paciente, o que permite à equipe tratar de outros que requerem uma observa- ção urgente, além de reduzir a ansiedade e melhorar a comunicação no serviço. o processo de avaliação da dor na classificação de risco A avaliação da dor integra a metodo- logia da classificação de risco proposta. Consiste no reconhecimento da importân- 28 cia da dor nesse processo. Isso porque a avaliação da dor ajuda a enquadrar alguns pacientes em categorias de maior prioridade que até então, o que represen- ta uma verdadeira mudança na prática corrente, na qual a dor nem sempre é va- lorizada como quinto sinal vital. Se a ava- liação formal da dor do paciente é feita na classificação de risco e se o resultado dessa avaliação ajuda a determinar a ur- gência com que esse paciente deve ser atendido pelo médico, isso significa que todos os profissionais têm de ser compe- tentes na sua avaliação - e que esta deve ser válida e reprodutível. Não deve ser considerada apenas a avaliação subjeti- va do paciente durante o processo, nem somente a avaliação subjetiva do profis- sional da classificação de risco. AVjliação da dor na urgência A avaliação da dor na urgência pode ser difícil. De um lado, os pacientes se sentem pressionados a dizer que têm do- res para justificar a sua ida ao serviço. De outro lado, entretanto, alguns deles - especialmente as crianças - podem negar as dores para evitar tratamentos ou a internaçâo no hospital. A avalia- ção e o tratamento da dor por alguns profissionais podem ser influenciados por fluxos clínicos e atitudes "tradicionais". Por exemplo, os pacientes com fraturas recebem analgésicos imediatamente, en- quanto que os que têm dores abdominais não os recebem até serem observados por um cirurgião. Se for observada uma crionco que não chora frequentemente, - oentende-se que ela está sem dores. ar outro lado, pode haver a preocu- oocôo de outro paciente em se queixar "1ais para ser classificado numa priorida- e mais elevada, se pensar que isso vai 'esultar em um tratamento mais rápido. nstrumentos para avaliação da dor Alguns serviços de urgência já estão u ilizondo um instrumento formal para a valiação da dor. No entanto, a maior parte desses instrumentos foi desenvol- ida para utilizar em doentes no pós- -operatório ou com doenças crônicas. De ato, não foi investido muito trabalho na avaliação da pertinência da sua utiliza- ão no ambiente das urgências. Existem três tipos principais de instru- mentos de avaliação: Escala descritiva verbal Escala visual ano lógica Instrumentoscomportamentais da dor =scalé. c-scntiva verbal (EDV Este instrumento consiste num certo nú- mero de palavras, normalmente de três a cinco, que estão classificadas por ordem numérica. Os termos mais comuns são: Nenhuma Leve Moderada Intensa Dilacerante o correspondente valor numérico au- menta com a gravidade da dor. A escala descritiva verbal é simples e relativamente fácil de ser usada pelos pacientes e já é empregada no ambiente de serviço de ur- gência (Quadro 4.1). Quadro 4. Escala descritiva verbal: vantagens e desvantagens Vantagens Desvantagens O usa de uma só palavra de uma lista limitada pode não refletir a dor que o paciente sente Não é adequada para pacientes que não falem a mesma língua do triador Representa a avaliação subjetiva do paciente Fornece uma classificação fácil de ser analisada pelo profissional Tende a produzir dados conlióveis Pode ser modificada para uso em crianças E cala ual analógca (EVA) Habitualmente, esta escola consiste em uma Ifnha reto que represento vários níveis de dor, com expressôes verbais fi- xos em cada extremidade. No avaliação, os pacientes podem assinalar um ponto qualquer no linho. Para facilitar a classificação e a compa- ração, podem ser acrescentados descri- tivos logo abaixo da linha - além das expressôes existentes nas extremidades - ou mesmo segmentá-Ia numericamente (Figura 4.1 e Quadro 4.2). Figura 4 Escala visual analógica. 29 Quadro 4.2 Escala visual analógica vantagens e desvantagens Vantagens Esta escala pode ser mais sensível do que a escala verbal Desvantagens Não é adequada para pacientes que não falem a mesma língua do triadar Alguns pacientes acham a EVA abstrata, especialmente os que sentem dor aguda, os que têm um grau de instrução inferior ou os que são portadores de qualquer deficiência de coordenação motora. As pessoas idosos têm alguma dificuldade em usar essas escalas. Representa o avaliação subjetivo do paciente Represento o avaliação subjetivo do paciente Se for usada corretamente é reprodutível e confióvel Pode ser modificado paro uso em crianças rrêfltos comportar "L C r (I~D\ Esses instrumentos foram desenvolvidos com base no princípio de que os doentes com dores têm certos comportamentos e alterações fisiológicas. Esses instrumentos (Quadro 4.3) podem medir comportamentos e alterações fisiológicas pora priorizor a dor: Resposta verbal linguagem corporal Expressão facial Alterações comporta mentais Nível de consciência Alterações fisiológicos Instrumento ideal para avaliação da dor Jm instrumento ideal para utilização err um serviço de urgência deve ser rá- pido e simples de usar, deve ter sido pre- viamente aferido e deve fornecer resulta- do confiáveis e replicáveis. Além disso, precisam ter em conta tanto as informa- ções do paciente como as do observa- do (Figura 4.2). A squa da dor Não há, necessariamente, um instru- mento de avaliação da dor melhor que ou o, embora alguns pareçam estar mais adaptados a certas áreas clínicas. A ré- gua da dor é um instrumento de avalia- ção reconhecido, que parece prestar-se ma s ao uso no serviço de urgência que as demais alternativas. Suas principais var tag8ns são: • mede a intensidade da dor e os seus efe os nas funções normais; • ombina o uso dos descritivos verbais com uma escala visual analógica; • rápida e fácil de usar; • ~ facilmente ponderada pora permitir que a avaliação da dor faça parte do processo de classificação de risco; Vantagens Quadro 4.3 Instrumentos comportamentais da dor: vontoqe e desvantagensDesvantagens Escola complexo e difícil de analisar e comparar Avaliação ubjetiva do paciente não é incluída Dificuldade de assegurar que os alterações observadas sãoonsequências apenas do dor Tempo do avaliação extenso, em torno de 5 o 15 minutos Pode ser utilizada em qualquer paciente, especialmente nos que apresentam dificuldade de comunicação 30 Semclo[ 1)- Atividades narmais Pauco impacto nas atividades (ousa dificuldades foz o maioria dos coisas Interrompe certos atividades Incopacitantes Interrompe atividades normais Dor intensa: 8-10 na Régua da Dor Dor moderada: 5-7 na Régua da Dor Dor leve: 1-4 (todos que nõo sõo incluídos nos anteriores) Figura 4.2 Régua de dor de adultos. • 00 facilitar o avaliação das funções nor- mais, permite ao profissional envolver-se no processo de avaliação da dor do paciente; • promove o diálogo, o que, por sua vez, demonstra ao paciente que o sua dor está sendo valorizado; • produz uma classificação que facilita a avaliação contínuo; • o resultado da avaliação é rápido e fácil de documentar; • pode ser iocilrnente adaptado paro o uso com crianças. A Figuro 4.3 represento a Régua da Dor Pediátrica: Dor Leve < 7 dias ;:o 7 dias Avaliação da dor na classiêcação de risco A avaliação do dor é um processo que exige perícia técnica em qualquer ambiente, e a avaliação feito durante a classificação de risco não é exceção. Há certas restrições nesse ambiente que refle- tem a natureza da urgência dos pacientes e o falto de tempo paro a avaliação. No entanto, é essencial o enquadramento pre- ciso da dor dos pacientes em uma das prioridades da figura a fim de garantir a prestação de cuidados no tempo ideal. 31 \ Oi5Cfe\0Dor e"e 3 MooeroOo '\1 Gro"e .\. o\i"O m05 5Uporl0"e Mu'IIO ruim \5ignl IC. nle ruim 8 I<e\o\\"ome ---7'----- /7'.__ "\.,6 Sem oor Atividades normais Pouco impacto nas atividades Faz a maioria das coisas Causa dificuldades Interrompe certas atividades Dor intensa: 8-10 na Régua da Dor Dor moderada: 5-7 na Régua da Dor Dor leve: 1-4 (todas que não ~o incluídas nas anteriores) Incapacitantes Interrompe atividades normais < 7 dias Dor Leve .. ;;::7 dias Figura 4.3 Régua de dor pediátrica. •Destaca-se, ainda, que o responsável pela classificação de risco deve levar em conta alguns fatores que influenciam os pacien- tes na percepção da sua dor (Figura 4.4), Dor intensa (8-10) Não ~ Idade Dor moderada (5-7) As crianças tendem a imaginar o pior dos resultados possíveis em relação à sua dor. Isso contribui para o aumento da an- siedade e do medo, o que ajuda a ampliar ou omitir a sua percepção da dor. O clas- sificador deverá ser capaz de perceber os sinais de dor em crianças que ainda não se comunicam e adaptá-Ias à régua da dor. Muitos idosos sofrem de múltiplas pro- blemas álgicos e podem considerar um nível significativo de dor como aceitável. Dar leve < 7 dias (1-4) Dor leve ;;::7 dias (1-4) Sim -----+.; Laranja Sim -+- Amarelo 32 Figura 4.4 Fluxograma para priorização da dor. _.-:::: aceitem a dor e lidam bem com uadro 4.4). :; -eca 4.4 Avaliação da dor conforme idade Técnica de avaliação --- centilicor os pacientes co]o idade afeta a avoliação da dor. - ::ercepção da dor aumentou ou diminuiu? :omo esta situação pode ser superada?- - riência prévia de dor s pacientes são influenciados pelas experiências anteriores de dor. Po- ::-2"T' comparar essa dor com episódios ::--er'ores, considerando a nova situa- ::3c -nois ou menos grave. São também _.é enciados pela forma como a dor foi ~rada anteriormente (Quadro 4.5). "" adro 4.5 Avaliação da dor de acordo com a ~riência prévia do paciente Técnica de avaliação eruilicor se o paciente [ó teve anteriormente uma dor semelhante. O que é dif~ente desta vez? Como a dor d~aciente foi tratada anteriormente2_ ultura o comportamento na doença e, conse- quentemente, na dor tem um componente fortemente cultural. E é devido às diferen- tes influências culturais e sociais que nem iodos os indivíduos expressam a dor da mesma forma. Os comportamentos na dor são reforçados ao longo da vida pelo gru- po social em que o indivíduo está inserido. Os diversos grupos culturais não sentem menos dor que os outros. A diferença está na formo como respondem à dor ou como o expressam. É essencial que o profissio- nal da classificação de risco reconheça que os seus próprios antecedentes culturais e sociais vão inevitavelmente influenciar a sua formo de interpretar o comportamento do paciente com dor. Esse fato identifico uma dificuldade particular em se confiar nos instrumentos de avaliação que têm em conto apenas a avaliação subjetiva dos doentes ou dos profissionais (Quadro 4.6). Quadro 4.6 Avaliação da dar conforme componente cultural dos pacientes~-----------Técnica de avaliação Reconhecer os seus próprios antecedentes culturais e também os dos pacientes. Como o nível cultural do paciente influencia o sua percepção da dor? Como o nível cultural do paciente pode influenciar na interpretação do observador? Ansiedade Existe uma correlaç~o entre o grau mais elevado de ansiedade e a classifica- ção mais elevada do grau de dor. Os pa- cientes podem estar ansiosos por vários razões: pela preocupação com o efeito do doença/ocidente no suo capacidade de executar os suas atividades cotidianos; pelo simples fato de estarem sendo aten- didos em um hospital; ou pelo que pode estar realmente acontecendo com eles. Assim sendo, existem benefícios consi- deráveis em tratar da dor dos pacientes a partir da clossihcocõo de risco, uma vez que ficará claro paro eles, desde o primei- ro contato com o serviço, que a suo dor 33 não seró ignorada. A íronquilidode e a ex- plicação pelo enfermeiro da classificação de risco podem desempenhar um papel na redução da ansiedade e, consequente- mente, da dor (Quadro 4.7). Quadro 4.7 Avaliação da dor conforme nível de ansiedade Técnica de avaliação Reconhecer o grau de ansiedade do paciente. Ouois as razões que o levam a estar ansioso? Como a ansiedade afeta a percepção da dor pelo paciente? Interrupção de atividades normais do paciente Qualquer indivíduo assume um nível de vida que considera ser normal. A dor pode destruir sua capacidade de agir na- turalmente, afetando o seu bem-estar físico e emocional, a sua situação financeira e a sua posição social. A percepção que cada paciente tem da sua dor pode, até .J certo ponto, ser influenciada pela maneira como a dor os impede de viver normal- mente. Pode não ser possível avaliar de forma completa o nível de ruptura dos do- entes com as suas atividades habituais. En- tretanto, o classificador deve ser capaz de ajudar o paciente a concentrar-se no efeito da dor, utilizando-se de perguntas como: a dor o impede de comer / beber/ dor- mir / de respirar bem? A dor o impede de andar, de se assentar? A dor o impede de trabalhar / ir à escola? (Quadro 4.8). Se, de um lado, um paciente classifica a sua dor como 10 (pontuação móxima na es- 34 cala) e, entretanto, demonstra estar em con- dições de executar as suas atividades habi- tuais, o classificador deve, então, ponderar outros fatores que possam estar influencian- do na percepção da dor pelo paciente. Quadro 4.8 Avaliação de acordo com as atividades habituais Técnica de avaliação Reconhecer o grau de incapacidade para as atividades normais. Como pode ser avaliado o grau de incapacidade2 Como o grau de incapacidade se relaciona com a percepção do paciente em relação à dor2 Outras considerações Alguns pacientes podem não estar ap- tos a participar no processo da avaliação de dor. Eles podem estar confusos, an- gustiados ou ter dificuldades cognitivas. Podem, também, não saber ler ou não entender a língua. Deve-se pensar em cada um como um indivíduo e proceder à análise de quais instrume~os alternativos podem ser usados (Quadro 4.9). Quadro 4.9 Avaliação da dor em paciente especiais Técnica de avaliação Reconhecer que não existe um só instrumento de avaliaçãoque se adapte a todos os pacientes que se apresentam com dores Pode este paciente participar da sua avaliação por este método? Que outros métodos de avaliação da dor são mais apropriados?-- - Reforçando conceito.s o classificador deve atribuir uma pon- tuação à dor quando responder aos dis- -'"'llinadores gerais: dor intensa, dor mo- cercdo ou dor leve" Outras dores típicas -:;"s como dor precordial ou cardíaca, dor :: eurítico, dor epigástrica, dor irradiada coro o dorso, dor irradiada para o ombro, ::or abdominal e cólicas levam em cansi- deração a localização, a periodicidade e a possibil dade de irradiação e caracteri- zam discr-rninodores específicos nos quais a descriçao da dor é mais importante que a intensidade e, portanto, não são avaliá- veis pela égua da dor 35