Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Osvaldo Esteves Sobrinho Comércio exterior e logística internacional CO M ÉR CI O EX TE RI OR E L OG ÍS TI CA IN TE RN AC IO N AL A Série Universitária foi desenvolvida pelo Senac São Paulo com o intuito de preparar profissionais para o mercado de trabalho. Os títulos abrangem diversas áreas, abordando desde conhecimentos teóricos e práticos adequados às exigências profissionais até a formação ética e sólida. Comércio exterior e logística internacional apresenta os principais modais de transporte internacional e um panorama da estrutura das operações logísticas e da matriz de transporte brasileira. A obra aborda ainda tópicos essenciais do marketing internacional, apontando as principais ações para introduzir, de maneira competitiva, produtos em mercados estrangeiros, além de relacionar os fundamentos do comércio internacional e das operações logísticas de importação e exportação. O objetivo é proporcionar ao leitor um entendimento geral sobre a logística internacional e o comércio exterior, temas que desempenham um papel fundamental no mundo globalizado. M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Simone M. P. Vieira – CRB 8a/4771) Esteves Sobrinho, Osvaldo Comércio exterior e logística internacional / Osvaldo Esteves Sobrinho. – São Paulo : Editora Senac São Paulo, 2022. (Série Universitária) Bibliografia. e-ISBN 978-85-396-3691-4 (ePub/2022) e-ISBN 978-85-396-3692-1 (PDF/2022) 1. Logística 2. Logística internacional : Sistema global de operações 3. Comércio exterior 4. Comércio internacional – Brasil 5. Termos internacionais de comércio : Incoterms 6. Transporte internacional 7. Exportação e importação – Brasil I. Título. II. Série. 22-1691t CDD – 382 658.78 BISAC BUS026000 BUS116000 Índice para catálogo sistemático: 1. Comércio exterior : Logística internacional 382 2. Logística internacional : Administração de materiais 658.78 M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . COMÉRCIO EXTERIOR E LOGÍSTICA INTERNACIONAL M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Osvaldo Esteves Sobrinho Administração Regional do Senac no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Luiz Francisco de A. Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Editora Senac São Paulo Conselho Editorial Luiz Francisco de A. Salgado Luiz Carlos Dourado Darcio Sayad Maia Lucila Mara Sbrana Sciotti Luís Américo Tousi Botelho Gerente/Publisher Luís Américo Tousi Botelho Coordenação Editorial/Prospecção Dolores Crisci Manzano Ricardo Diana Administrativo grupoedsadministrativo@sp.senac.br Comercial comercial@editorasenacsp.com.br Acompanhamento Pedagógico Otacília da Paz Pereira Designer Educacional Aline de Siqueira Nogueira de Sá Revisão Técnica Gabriel Nickolas Cazotto Revisão de Texto Cristine Sakô Projeto Gráfico Alexandre Lemes da Silva Emília Corrêa Abreu Capa Antonio Carlos De Angelis Editoração Eletrônica Creali Comunicação e Marketing Ltda Ilustrações Alexandre Raphael Albuquerque de Brito Imagens Adobe Stock Photos E-book Rodolfo Santana Proibida a reprodução sem autorização expressa. Todos os direitos desta edição reservados à Editora Senac São Paulo Rua 24 de Maio, 208 – 3o andar Centro – CEP 01041-000 – São Paulo – SP Caixa Postal 1120 – CEP 01032-970 – São Paulo – SP Tel. (11) 2187-4450 – Fax (11) 2187-4486 E-mail: editora@sp.senac.br Home page: https://www.editorasenacsp.com.br/ © Editora Senac São Paulo, 2022 Sumário M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 1 Logística e comércio internacional, 7 1 Contexto econômico e geopolítico, 8 2 Comércio internacional, 9 3 Globalização, 13 4 GATT/OMC, 14 5 Blocos econômicos e integração regional, 17 6 Importações e exportações, 18 7 Logística internacional, 20 8 Redes logísticas, 23 Considerações finais, 24 Referências, 25 Capítulo 2 Sistema global de operações da logística internacional, 27 1 Acordos bilaterais e multilaterais, 28 2 Tratamento preferencial, 29 3 Sistema geral de preferências (SGP), 31 4 Sistema global de preferências comerciais (SGPC), 32 5 Barreiras não tarifárias: protecionismo, subsídio, dumping, cotas de importação e barreiras sanitárias e fitossanitárias, 32 6 Barreiras tarifárias, 41 7 Nomenclatura internacional das mercadorias (NCM e SH), 42 Considerações finais, 43 Referências, 43 Capítulo 3 Estrutura da operação logística, 47 1 Estrutura dos portos, 48 2 Estrutura dos aeroportos, 51 3 Portos secos, 55 4 Malha rodoviária, 57 5 Malha ferroviária, 59 6 Estrutura do mercado externo, 62 Considerações finais, 64 Referências, 65 Capítulo 4 Operações globais na cadeia logística, 69 1 Conceito de operações, 70 2 Conceito de operações globais, 70 3 Canais de distribuição: direto, misto e indireto, 71 4 Tipos de distribuição: direta, indireta e produção no exterior (joint venture, subsidiária, filial, licenciamento e franquia), 72 5 Gerenciamento do fluxo nas operações globais, 76 6 Marketing internacional, 77 7 Princípios de marketing (4Ps) no comércio internacional, 78 8 Pesquisa de marketing, 79 9 Planejamento de marketing internacional, 83 10 Pesquisa de mercado externo – Estudo de caso: o falhanço do Walmart no Brasil da década de 1990, 85 Considerações finais, 86 Referências, 87 6 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Capítulo 5 Incoterms® e seguros, 89 1 Lex mercatoria, 90 2 Compreendendo a responsabilidade dos Incoterms®, 91 3 Incoterms® e suas classificações, 92 4 Resumo das responsabilidades e transferência de risco para cada Incoterm®, 93 5 O que são seguros e seguradoras?, 104 6 Segurado e não segurado no comércio internacional, 107 7 Seguros para o comércio internacional: A, B, C, 108 8 Resolução de conflitos, 110 Considerações finais, 111 Referências, 111 Capítulo 6 Comércio internacional no Brasil, 115 1 Órgãos anuentes e intervenientes na estrutura brasileira do comércio internacional e sua estrutura interna, 116 2 Camex, 118 3 Secex, 119 4 Receita Federal no comércio internacional, 125 5 Ação do Banco Central no comércio internacional, 126 6 Apex, 127 7 Ministério dasRelações Exteriores (Itamaraty), 129 Considerações finais, 130 Referências, 130 Capítulo 7 Transporte internacional, 133 1 Movimentação de cargas via contêineres e paletes, 134 2 Tipo de carga: unitizada, granel e individual, 141 3 Modais de transporte e o impacto econômico e comercial, 142 4 Rodoviário, 143 5 Ferroviário, 144 6 Dutoviário, 145 7 Aeroviário, 147 8 Aquaviário: lacustre, fluvial, marítimo e cabotagem, 148 9 Tecnologia para as empresas no transporte internacional e sua gestão, 149 10 Tecnologia para a gestão da rede logística internacional, 150 Considerações finais, 152 Referências, 153 Capítulo 8 Modus operandi da exportação e importação, 155 1 Documentação para o trânsito em comércio internacional, 156 2 Fatura proforma, 159 3 Exportação, 159 4 Siscomex: módulo exportação, 160 5 Formação de preços na exportação, 160 6 Tratamento administrativo da exportação, 162 7 DU-E, 162 8 Incentivos à exportação: drawback, 163 9 Incentivos à exportação: demais incentivos, 164 10 Importação, 164 11 Procedimento administrativo para importação, 165 12 Documentos para importação, 165 13 Procedimentos de importação, 166 14 Tributos de importação, 166 15 Cálculo do custo de importação, 167 16 Declaração de importação (DI), 169 17 Despacho aduaneiro para exportação e importação, 172 Considerações finais, 173 Referências, 173 Sobre o autor, 177 7 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 1 Logística e comércio internacional A globalização se manifesta por meio de um aumento sem prece- dentes, após o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), da circu- lação do capital privado e da expansão generalizada da oferta de bens de consumo, para atender à demanda da sociedade global, em que os estados-nações parecem enfraquecidos em relação às fronteiras que impõem em proteção às culturas locais. 8 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Esse processo impacta em diversos fatores e dimensões da vida, como: a deslocação da mão de obra internacional em função da emigra- ção de pessoas em busca de novos postos de trabalho; a transferência de capital em busca de novos mercados onde haja trabalho ocioso; e também no aumento do transporte internacional de mercadorias, ala- vancando o valor das mercadorias comercializadas internacionalmente, o que será analisado em mais detalhes neste capítulo. Muitas dessas dimensões aparentam ter autonomia própria, mas, em uma análise sistêmica, estão conectadas com fatores de ordem econômica e que afetam diretamente as operações de logística e de co- mércio internacional. A tecnologia, por exemplo, possibilitou a constru- ção de novos meios de transportes, mais velozes, seguros e econômi- cos, além de equipamentos que auxiliam a movimentação internacional de mercadorias de modo mais célere e eficiente, como ocorreu com a invenção do contêiner, em 1956. 1 Contexto econômico e geopolítico Segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998), o estudo do com- portamento político e as capacidades militares podem ser explicados e previstos com base no ambiente físico. Essa influência pode determinar a tecnologia, a cultura e a economia dos estados, sua política interna e externa, e as relações do poder entre eles. A esse objeto de estudo, definido pelo pesquisador, dá-se o nome de geopolítica. Em função da profundidade do tema e da sua vasta literatura, so- bretudo em língua estrangeira, é necessário que um dos fatores deter- minados pela geopolítica seja destacado para compor os temas que permeiam este livro. Nesse sentido, damos destaque ao estudo da eco- nomia, sobretudo em sua abrangência externa, a qual nos conduz para o universo da economia internacional. Esta inclui, em uma visão moder- na, os estudos do comércio internacional e de áreas correlatas, como é o caso da logística internacional. 9Logística e comércio internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Em relação ao contexto econômico contemporâneo, fatos obser- vados mostram que um processo permeia a economia internacional como um todo; e ele parece estar em constante metamorfose e ter es- treita influência sobre o comércio internacional. Trata-se de uma força de eventos que abalaram e continuam a abalar o contexto econômico global, inaugurando uma variedade de temas que abrem inúmeras no- vas questões para discussão e reflexão. Uma amostra dessas questões está nas considerações finais desse capítulo. Considere os fatos observados nas últimas sete ou oito décadas que se sustentam até os dias atuais. Vivemos em um mundo em que esse processo produziu alguns frutos que modelam o atual contexto econô- mico. Entre eles, podemos destacar: o aumento vertiginoso do volume do comércio internacional de bens e serviços; a interdependência das economias e dos seus fatores de produção; a necessidade de busca de novos mercados para incentivar a demanda de bens produzidos em larga escala; e a inauguração de organizações internacionais que legi- timam os valores do livre comércio como meio de distribuição global e equitativa de renda. Observa-se, nesse contexto, a urgência da pesquisa em tecnologia, sobretudo na construção de meios de transportes mais rápidos que movimentam, em uma extensa rede de logística internacional, milhões de contêineres por dia, para atender à demanda dos clientes em fun- ção da concorrência global. A criação de novos postos de trabalho para atender às demandas dos atores privados e das imposições regulató- rias dos estados – por mais contraditória que seja em um ambiente de livre comércio – não poderia deixar de ser destacada nessa lista. A este processo se dá o nome de globalização econômica. 2 Comércio internacional Para Sousa (2009, p. 12), “comércio internacional é o estudo do con- junto das trocas comerciais de bens e/ou serviços entre as diversas nações do globo”. Essa definição é importante para fazer distinção em 10 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .relação aos estudos do comércio exterior. Enquanto o comércio exte- rior se restringe às negociações comerciais bilaterais e à regulamenta- ção aduaneira de um país, o comércio internacional se preocupa com questões de ordem econômica global e relacionadas com os estudos da economia internacional. De acordo com David e Stewart (2010, p. 1) o comércio internacional foi “impulsionado pela noção de que os países se beneficiam, economi- camente, com as trocas mútuas e pela noção de que o comércio con- tribui para o bem-estar da população mundial”. O aumento do fluxo do comércio internacional ocorre nos anos posteriores ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, com destaque a partir de 1970 até os dias de hoje. IMPORTANTE David e Stewart (2010, p. 1) defendem a tese de que o crescimento glo- bal das trocasinternacionais foi facilitado pelos profissionais da logísti- ca internacional, que são responsáveis por uma série de operações, com o objetivo de movimentar interna e internacionalmente as mercadorias de maneira eficiente, segura e com baixo custo, além de garantirem a celeridade no transporte. As seguintes atividades são destacadas pelo autor: garantir que as mercadorias sejam embaladas adequadamente para o transporte; providenciar seguro apropriado das mercadorias em trânsito e estar ciente dos riscos a que estão sujeitas; garantir que as mercadorias sejam acompanhadas dos documentos adequados, para que possam ser liberadas pela alfândega, no país destinatário. O gráfico 1 mostra o total de valores das mercadorias exportadas e importadas mundialmente, nos últimos 70 anos. A corrente de comér- cio global refere-se às somas das exportações e importações. 11Logística e comércio internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Gráfico 1 – Evolução da corrente global de comércio de mercadorias (valores em dólares dos Estados Unidos) 0 30.000.000 40.000.000 10.000.000 20.000.000 19 50 19 55 19 60 19 65 19 70 19 75 19 80 19 85 19 90 19 95 20 00 20 05 20 10 20 15 20 20 Fonte: adaptado de WTO (2022). PARA SABER MAIS O site World Trade Organization (WTO – OMC) disponibiliza uma ferra- menta completa para a extração de uma variedade de dados estatísti- cos de comércio internacional (WTO, [s. d.]). Uma informação importante merece destaque, pois está oculta no gráfico 1. Trata-se dos valores das importações e exportações entre os anos de 2017 e 2021, uma vez que os dois últimos anos (2020 e 2021) sofreram forte impacto em função da pandemia de covid-19. Para me- lhor visualização, as tabelas 1 e 2 concentram o total de valores das mercadorias importadas e exportadas nesse período, respectivamente. 12 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Tabela 1 – Valor total de mercadorias importadas em bilhões de dólares dos Estados Unidos IMPORTAÇÕES 2017 2018 2019 2020 2021 Primeiro trimestre 4.190.135 4.809.244 4.685.918 4.450.920 5.080.985 Segundo trimestre 4.370.652 4.941.118 4.811.395 3.820.391 5.516.189 Terceiro trimestre 4.524.022 4.961.543 4.815.369 4.528.823 5.645.748 Quarto trimestre 4.792.592 5.003.976 4.859.216 4.966.065 TOTAL 17.879.418 19.717.899 19.173.917 17.768.219 16.242.922 Tabela 2 – Valor total de mercadorias exportadas em bilhões de dólares dos Estados Unidos EXPORTAÇÕES 2017 2018 2019 2020 2021 Primeiro trimestre 4.100.352 4.699.143 4.587.154 4.285.893 5.001.857 Segundo trimestre 4.308.220 4.878.885 4.719.032 3.716.014 5.450.619 Terceiro trimestre 4.429.082 4.833.303 4.677.991 4.486.131 5.565.318 Quarto trimestre 4.720.813 4.905.599 4.791.321 4.940.729 TOTAL 17.558.467 19.316.930 18.777.517 17.428.767 16.017.794 PARA SABER MAIS Em relação aos dados das exportações e importações brasileiras, de 2015 a 2020, houve uma evolução significativa na corrente de comércio da ordem de 39%. Entretanto, os dados observados são pífios quando comparados à corrente global de comércio. Por exemplo, no ano de 2015, a corrente de comércio brasileira atingiu o montante recorde de 500.222 bilhões de dólares, mas quando esse valor é relacionado com os montan- tes da corrente de comércio global, do mesmo ano, cujo valor foi de 35 trilhões de dólares, a participação brasileira representou apenas 1,08%. 13Logística e comércio internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. O governo brasileiro disponibiliza um banco de dados para a consulta de estatísticas sobre comércio exterior. Por exemplo, ao pesquisar desco- bre-se que, atualmente, os principais parceiros comerciais do Brasil são: China, Estados Unidos, Argentina e Holanda (BRASIL, [s. d.]). 3 Globalização A globalização é um tema de largo interesse e não há consenso en- tre os autores sobre quando exatamente esse processo surgiu, mas os fatos contemporâneos sugerem que seu ápice tenha ocorrido no início dos anos 1990, com o fim da guerra fria e o advento da internet. O apro- fundamento de seus fundamentos teóricos e os impactos adversos que esse fenômeno exerce nos agentes econômicos transnacionais, públi- cos e privados, vão muito além da proposta deste livro. A diversidade da literatura sobre o tema é gigantesca e seria inocente afirmar que, em nenhuma delas, a reflexão teórica apresenta considerações de cunho ideológico, seja contra, seja a favor desse processo. Considere que vários fatores contribuíram para que esse fenômeno tenha atingido um grau sem precedentes que ultrapassa as fronteiras da economia e se manifesta em várias dimensões da vida. Nas três últimas décadas, as interações transacionais conheceram uma intensificação dramática, desde a globalização dos sistemas de produção e das transferências financeiras, à disseminação, a uma escala mundial, de informação e imagens através dos meios de comunicação social ou às deslocações em massa de pessoas, quer como turistas, quer como trabalhadores migrantes ou refugiados. A extraordinária amplitude e profundidade destas interações transna- cionais levaram a que alguns autores as vissem como ruptura em relação às anteriores formas de interações transfronteiriças, um fe- nômeno novo designado por “globalização”. (SANTOS, 2002, p. 25) 14 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 4 GATT/OMC O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (em inglês, General Agreement on Tariffs and Trade – GATT) foi assinado no ano de 1947 por 23 países, inclusive o Brasil. Tal acordo baseava-se na justificati- va da doutrina do livre comércio para facilitar o intercâmbio comercial entre as nações, e seu conteúdo foi uma das bases para a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995 (LUDOVICO, 2018). Para entender melhor a perspectiva histórica da criação do GATT é necessário ressaltar alguns pontos importantes. Como explica Trevisan (2018), em 1946, o governo dos Estados Unidos propôs, no âmbito das Nações Unidas, uma Conferência Mundial sobre Comércio e Emprego, que ocorreu em Havana, Cuba, entre 21 de novembro de 1947 e 24 de março de 1948. IMPORTANTE Em 1944, aconteceu uma conferência em um vilarejo de nome Bretton Woods, nas montanhas de New Hampshire, Estados Unidos. Esse histó- rico encontro, com a participação de 44 países, ficou conhecido como Conferência de Bretton Woods, cuja proposta era reorganizar a arquite- tura econômica e financeira internacional, pós-Segunda Guerra Mundial. A partir dessa conferência surgiram três instituições que inauguraram uma nova ordem econômica e financeira mundial: o Fundo Monetário Internacional e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvi- mento Econômico, que representavam um marco importante para legi- timar os efeitos positivosdo livre comércio; além da Organização das Nações Unidas (ONU), criada em 1945 com o objetivo de manter a paz e a segurança internacionais. Houve também a tentativa de criar uma Or- ganização Internacional do Comércio, sem êxito, dando lugar ao GATT, instituído em 1947. 15Logística e comércio internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Um dos objetivos principais da Conferência de Bretton Woods era a criação de uma Organização Internacional do Comércio (OIC), a qual abrangeria diversos temas, como emprego, práticas comerciais restri- tivas, investimentos e serviços e serviria como órgão que conduziria a cooperação do comércio internacional entre as nações. Esses temas eram demasiadamente extensos e foram definitivamen- te rejeitados pelo congresso dos Estados Unidos, país que inicialmente colocou na mesa as discussões, porém acabou recuando. A Carta de Havana, como ficou conhecida, não se consolidou e a OIC nunca saiu do papel. Entretanto, algo foi aproveitado dessas discussões, pois havia outros grupos de discussão trabalhando com temas específicos. Nesse meio tempo, durante o ano de 1947, em Genebra, outras fren- tes de trabalho discutiram alguns temas estritamente relacionados a reduções tarifárias recíprocas ao comércio internacional. O conteúdo em pauta nos encontros em Genebra já estava previsto no capítulo IV da Carta de Havana e basicamente consolidou-se na composição do tex- to original do GATT-47, acordado em 30 de outubro de 1947, em Nova Iorque (TREVISAN, 2018). O texto desse acordo permanece, com altera- ções, até os dias atuais, e serviu como base para o anexo 1 da ata final constitutiva da OMC, em que se incorporam os resultados da Rodada Uruguai, concluída em 15 de abril de 1994. Ressalte-se que o GATT-47 não é uma instituição, trata-se de um tratado internacional de comércio que foi sendo modificado ao logo de quase cinco décadas e que servirá como base para a inauguração da OMC, em 1995. PARA SABER MAIS No Brasil, o GATT-47 foi internalizado pela Lei nº 313, de 30 de julho de 1948 (BRASIL, 1948). 16 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 4.1 OMC A OMC, com sede em Genebra, Suíça, foi definitivamente instituída em 1º de janeiro de 1995, ao final da Rodada Uruguai de negociações multilaterais. Desde então, passa a ser a instituição reguladora perma- nente que supervisiona o comércio internacional, tendo como tarefa básica aplicar as regras do livre-comércio (DAVID, 2016). Seu objetivo, de acordo com a ata constitutiva, é a elevação dos níveis de vida e o pleno emprego. O texto original do GATT-47, com as sucessivas alterações que ocor- reram ao longo dos anos, foi incorporado ao anexo 1A da ata constitu- tiva da OMC, e foi chamado de Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994 ou GATT-1994. PARA SABER MAIS A ata constitutiva da OMC foi assinada em Marraqueche em 15 de abril de 1994. No Brasil, a OMC foi reconhecida e internalizada pelo Decreto Federal nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994 (BRASIL, 1994). De acordo com Nasser (2002), dois fenômenos podem ser observa- dos na gênese da OMC, isto é, desde o GATT-47. O primeiro é o fato de o mundo ter saído de um conflito bélico de proporções globais, ensejan- do a necessidade de se criar mecanismos de cooperação mútua entre os países. O segundo é a fase histórica pela qual passava o mundo capitalista. As principais potências econômicas, principalmente os EUA, e, em me- nor grau, a Grã-Bretanha, sentiam a necessidade de abrir novos merca- dos para seus produtos, o que seria possível pela instituição de maior liberdade comercial (NASSER, 2002). Esse período, segundo Ludovico (2018), é classificado como idade contemporânea (1947-1995). Para o 17Logística e comércio internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. autor, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as economias dos países envolvidos no conflito estavam arrasadas, o que ensejou a ne- cessidade de reconstrução no âmbito mundial. 5 Blocos econômicos e integração regional Na lição de Sousa (2009), o objeto central dos processos de integra- ção regional, ao menos em suas fases iniciais, basicamente tem um úni- co interesse: a redução das tarifas de importação e de barreiras quan- titativas. A integração de vários países, que podem compartilhar suas fronteiras, forma um mercado de maiores dimensões que passa a ser chamado de “blocos econômicos”, como é o caso da União Europeia, do Mercosul, do United States-Mexico-Canada Agreement (USMCA), entre diversos outros. Cada grau de integração apresenta aspectos distintos, que se soma as configurações de uma fase de integração mais simplificada. Essas fases de integração econômica podem ser divididas em cinco, como explicam Sousa (2009) e Prazeres (2008) (quadro 1). Quadro 1 – Fases de integração econômica FASE CARACTERÍSTICAS Zona de preferências aduaneiras Países celebram entre si margens de preferências nas tarifas aduaneiras Exemplo: Associação Latino-americana de Integração (Aladi) Zonas de livre comércio As tarifas e barreiras de importação sobre as mercadorias que circulam no interior do bloco são eliminadas Exemplo: USMCA (anteriormente, Nafta) União aduaneira Eliminação das tarifas de importação sobre mercadorias que circulam no interior do bloco e a adoção de uma tarifa externa comum (TEC) Exemplo: Mercosul (cont.) 18 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . FASE CARACTERÍSTICAS Mercado comum Pressupõe, além das condições para uma zona aduaneira, a livre circulação de pessoas, bens, mercadorias, serviços, capitais e fatores produtivos, eliminando toda e qualquer forma de discriminação União monetária Inclui, além das condições das etapas anteriores, uma política monetária com a adoção de uma moeda única, visando à estabilidade de toda a região por onde o bloco se estende, com o objetivo de controle da inflação e dos déficits públicos Exemplo: União Europeia 6 Importações e exportações O estudo das exportações e importações é algo relativamente recen- te nas universidades brasileiras. Na década de 1990, o ramo de comér- cio exterior estava subordinado à área de administração de empresas; entretanto, com o passar dos anos, notou-se uma crescente especiali- zação, exigindo cada vez mais uma demanda especializada de profis- sionais que possuam estreita relação com as operações de importação e exportação. 6.1 Importação A gestão da importação requer múltiplas especialidades que deman- dam profissionais com conhecimento gigantesco, pois envolvem vários aspectos no gerenciamento de suas operações. Como explica Ludovico (2018), importação significa introdução em um país, estado ou municí- pio de mercadorias procedentes de outro local. O ato de introduzir mercadorias no país, ao menos no Brasil, de- pendede gestores com habilidade e experiência teórica e prática em relação aos itens a seguir: mapeamento dos concorrentes nacionais que vendem bens similares aos importados; precificação dos bens; e domínio em relação às normas administrativas, aduaneiras e cambiais 19Logística e comércio internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. de comércio exterior, por sua vez prolixa e burocrática. A depender da mercadoria a ser importada, o gestor de importação deve ter experiên- cia com as normas sanitárias que regulamentam a efetiva entrada dos bens estrangeiros. O modus operandi da importação está explicado no capítulo 8. Ressalta-se que a introdução de mercadorias no país só é possível com o apoio de gestores especializados em logística internacional, os quais estão preparados para oferecer o modal de transporte mais van- tajoso, após a análise de variáveis que combinam custo, segurança, e tempo de entrega. As vantagens e desvantagens dos principais modais de transporte estão explicados com mais detalhes no capítulo 7. 6.2 Exportação De acordo com Ludovico (2018), a exportação deve ser criteriosa- mente estudada e planejada sob todos os aspectos administrativos e operacionais, pois o principal objetivo do plano de exportação é a ma- ximização das vendas nos mercados externos e, como consequência direta, a maximização dos lucros esperados. Como ocorre no processo de importação, a exportação exige uma equipe com larga experiência na área, pois qualquer erro de gestão ope- racional pode comprometer a saúde financeira da empresa, levando à sua falência ou, em casos mais graves, à destruição de sua imagem internacional. O modus operandi da exportação está explicado no capí- tulo 8. É pacífico o entendimento de que é imperativa uma análise prévia dos riscos existentes no mercado externo, antes da exportação das merca- dorias. Esses riscos comportam variáveis complexas e, por vezes, im- previstas. Cateora, Gilly e Graham (2013) identificam essas variáveis no ambiente externo como forças ou fatores incontroláveis: econômicas; 20 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .competitivas; tecnológicas; estrutura de distribuição; geografia e infra- estrutura; políticas; legais; e as forças culturais. 7 Logística internacional Na contribuição de Sousa (2020, p. 19) a: Logística internacional é um sistema integrado, composto de vá- rios elementos que devem funcionar de forma sincronizada, abran- gendo várias áreas funcionais da empresa e inter-relacionando atividades, de forma a otimizar a eficiência empresarial e garantir o nível de serviço acordado com os clientes. Como explica David (2016), não há uma definição precisa e original para a logística internacional, uma vez que esta se alicerça nas atribui- ções desempenhadas pela logística interna. Os gestores da logística interna trabalham com operações específi- cas relacionadas ao movimento de mercadorias; fabricação e produção; compra e aprovisionamento; marketing; gerenciamento de estoques; fi- nanças e serviço ao cliente. Trata-se, portanto, de um subconjunto de atividades pertencentes a um ramo de maior amplitude que vem se de- senvolvendo desde 1980, o da gestão da cadeia de suprimentos (DAVID; STEWART, 2010), que se preocupa com as decisões estratégicas con- centradas na alta gerência. Em relação ao serviço ao cliente, em especial no âmbito das opera- ções globais, vale citar a seguinte consideração: O nível de serviço oferecido aos clientes deverá ser seguido por todas as empresas que compõem o sistema logístico, pois é, pro- vavelmente, o fator que mais diferencia as empresas e aquele em que a logística tem papel importante a desempenhar. Qualquer in- consistência nesse nível poderá conduzir a uma insatisfação dos clientes, podendo neutralizar todo o esforço logístico empregado até o momento. Uma vez que as operações internacionais são 21Logística e comércio internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. mais complexas, para assegurar o nível de serviço é necessário planejá-las cuidadosamente e garantir que serão executadas por empresas idôneas e de reconhecida capacidade técnica. (SOUSA, 2020, p. 20) As atividades desempenhadas pelos profissionais ligados à gestão de cadeia de suprimentos envolvem aspectos que vão além do foco interno da empresa, que se concentra na produção, estocagem e ma- nuseio das mercadorias. Nesse ramo, David e Stewart (2010) destacam o gerenciamento de toda a cadeia de fornecedores, com o objetivo de garantir a entrega da mercadoria até o consumidor final. O foco das atividades, portanto, no contexto da gestão de cadeia de suprimentos, deixa de ser somente interno e passa a ser também externo, junto aos parceiros comerciais de negócios, sobretudo quanto à satisfação dos clientes. Em relação à cadeia de suprimentos, faz-se necessário desta- car a seguinte definição: A gestão da cadeia de suprimentos é um conjunto de abordagens que integra, com eficiência, fornecedores, fabricantes, depósitos e pontos comerciais, de forma que a mercadoria é produzida e dis- tribuída nas quantidades corretas, aos pontos de entrega e nos prazos corretos, com o objetivo de minimizar os custos totais do sistema sem deixar de atender às exigências em termos de nível de serviço. (SIMCHI-LEVI; KAMINSKY; SIMCHI-LEVI, 2010, p. 33) Nesse sentido, os ramos da logística e da gestão da cadeia de su- primentos internacionais aproveitam as operações de logística interna e as estratégias adotados na gestão da cadeia de suprimentos, mutatis mutandis, no mercado global, que envolve vários aspectos (administra- tivo, comercial, estratégico e aduaneiro) relacionados às operações de exportação e importação de mercadorias e que serão explicados neste livro em capítulos específicos. Para Ludovico (2014), os procedimentos logísticos aplicados ao co- mércio exterior assemelham-se aos do mercado interno. Apenas são adaptados o desenho do fluxograma das operações internacionais; a 22 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .contratação de serviços de armazenamento; além do manuseio e do transporte das mercadorias a serem exportadas, ou importadas. A figura 1 elucida os envolvidos nas áreas de logística interna e logís- tica internacional. Figura 1 – Logística interna, logística internacional e gestão de cadeia de suprimentos Gestão de cadeia de suprimentos Empresa Fornecedores domésticos Consumidores domésticos Fornecedores estrangeiros Consumidores estrangeiros Logística interna Logística internacional Fonte: adaptado de David e Stewart (2010). IMPORTANTE David e Stewart (2010) destacam alguns elementos importantes espe- cíficos da logística internacional, que tornam essa atividade mais com- plexa e arriscada quando comparadacom a logística interna. São eles: a questão da língua e da cultura, que não devem ser subestimadas; a infraestrutura da logística encontrada nos outros países; as decisões na escolha do tipo de transporte internacional; os riscos e danos inerentes às embalagens para o transporte internacional; a complexidade na con- tratação do seguro de transporte internacional; as exigências aduanei- ras exigidas pelos governos dos países exportadores e importadores; a 23Logística e comércio internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. emissão de documentos utilizados no comércio internacional; o risco de calote no recebimento do pagamento internacional; e o entendimento da correta aplicação dos Incoterms. 8 Redes logísticas Rede logística, na leitura de Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi (2010) é um outro nome dado à cadeia de suprimentos. A rede logística está relacionada às instalações físicas e aos agentes econômicos que executam transações comerciais de compra e venda. Consiste em for- necedores, centros de produção, depósitos, centros de distribuição, va- rejistas e clientes; além de matérias-primas, estoques de produtos em processo e produtos acabados que se deslocam entre as instalações. Como explicam Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi, a cadeia deve ser gerenciada de maneira conjunta, com o objetivo de tornar toda a rede mais eficiente em termos de produção e nos custos associados a esto- cagem e transporte. Duas definições importantes devem ser ressaltadas em relação ao fluxo das atividades da cadeia de suprimentos, como explica David (2016). Define-se cadeia a montante quando o fluxo das atividades está direcionado para o fornecedor; enquanto a cadeia a jusante está rela- cionada a atividades de distribuição, no sentido do consumidor final. O termo jusante tem sua origem na observação do sentido da correnteza em um curso de água, da nascente para o seu ponto de desaguamento. Alguns desafios para a gestão eficiente das redes logísticas globais destacados por Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi (2010) são: • A complexidade de unidades de ampla distribuição geográfica que, em muitos casos, atinge o mundo inteiro e pode compro- meter o lead time, isto é, o prazo de entrega do produto, desde a colocação do pedido, passando pela produção, transporte, de- sembaraço aduaneiro, etc. 24 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . • Objetivos diferentes e conflitantes entre os parceiros integrantes da rede logística. Ou seja, alguns fornecedores pressionam as empresas produtoras para que comprem grande quantidade de insumos para a produção de seus bens finais. Todavia, a empresa produtora pode rejeitar a se comprometer com pedidos em altas quantidades para futura entrega, uma vez que ela depende das oscilações da demanda do mercado, que podem impactar em au- mento excessivo de estoques, sem perspectiva de venda. Em relação às variáveis que podem interferir na decisão para o local dos depósitos, destacam-se: condições geográficas e de infraestrutura; recursos naturais e de mão de obra disponível; regulamentações para a indústria local e legislação tributária e interesse público. PARA SABER MAIS O estudo aprofundado das redes logísticas e das estratégias para a ges- tão da cadeia de suprimentos é extenso e merece uma pesquisa mais ampla. Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi (2010) abordam vários tó- picos em detalhes, por exemplo: a cadeia de desenvolvimento; a gestão da incerteza e do risco; a evolução e complexidade da gestão da cadeia de suprimentos; o controle de estoques; os efeitos da incerteza na de- mandas; o compartilhamento dos riscos; a gestão do estoque na cadeia de suprimentos; a configuração e o projeto da rede logística, que englo- bam a coleta de dados e a agregação de dados; as tarifas de transporte e custos com depósitos; os contratos de suprimento e os contratos para cadeias de suprimentos para estoque; além de vários estudos de caso. Considerações finais A criação das instituições alicerçadas no livre comércio ao final de 1944 e, em especial, o estabelecimento de um acordo sobre livre comér- cio (GATT-47), que culminou na fundação da Organização Mundial do Comércio, parecem ter sido os motores para o avanço da globalização 25Logística e comércio internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. econômica, impactando positivamente no volume da corrente de comér- cio mundial e na criação de novas áreas de especialização, o que pro- piciou a criação de novos empregos, em todos os graus de hierarquia, relacionados ao comércio exterior, à logística internacional e à gestão de cadeia de suprimentos. Em função da extensão dos temas deste capitulo e da vasta lite- ratura, algumas questões precisam ser levantadas para uma reflexão mais madura, em especial sobre a globalização. Quais são as forças que conduzem o processo de globalização? A globalização chegou ao seu auge ou esse processo não tem limites? Será que os efeitos da glo- balização são benéficos a todos? Será que os objetivos idealizados pela GATT, em 1947, e legitimados pela ata constitutiva da OMC serão um dia alcançados? Quais são os grupos a favor, ou contra, a expansão da globalização? Qual o impacto nos empregos atuais? Referências BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. BRASIL. Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994. Promulgo a Ata Final que Incorpora os Resultados da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do GATT. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, n. 248-A, p. 21394, 31 dez. 1994. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/antigos/d1355.htm. Acesso em: 10 fev. 2022. BRASIL. Lei nº 313, de 30 de junho de 1948. Autoriza o Poder Executivo a aplicar, provisoriamente, o Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio; reajusta a Tarifa das Alfândegas, e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, p. 11189, 3 ago. 1948. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/1930-1949/l313.htm. Acesso em: 18 jul. 2022. BRASIL. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. ComexVis. Comex Stat, [s. d.]. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis. Acesso em: 9 fev. 2022. 26 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .CATEORA, P; GILLY, M. C; GRAHAM, J. L. Marketing internacional. 15. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. DAVID, P. Logística internacional: gestão de operações de comércio internacional. São Paulo: Cengage Learning, 2016. DAVID, P.; STEWART, R. Logística internacional. São Paulo: Cengage Learning, 2010. LUDOVICO, N. Logística de transportes internacionais: um enfoque em comércioexterior. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. LUDOVICO, N. Logística internacional: um enfoque em comércio exterior. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. NASSER, R. A. A OMC e os países em desenvolvimento. São Paulo: Aduaneiras, 2002. PRAZERES, T. L. A OMC e os blocos regionais. São Paulo: Aduaneiras, 2008. SANTOS, B. S. (org.). Os processos da globalização. São Paulo: Cortez, 2002. SIMCHI-LEVI, D.; KAMINSKY, P.; SIMCHI-LEVI, E. Cadeia de suprimentos: projeto e gestão. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. SOUSA, J. M. M. Fundamentos do comércio internacional. São Paulo: Saraiva, 2009. SOUSA, J. M. M. Logística internacional e operações globais. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2020. (Série Universitária). TREVISAN, R. O imposto de importação e o direito aduaneiro internacional. São Paulo: Aduaneiras, 2018. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). WTO stats. WTO, [s. d.]. Disponível em: https://stats.wto.org/. Acesso em: 10 fev. 2022. 27 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 2 Sistema global de operações da logística internacional Neste capítulo, iremos analisar alguns pontos relacionados com o comércio internacional. Nota-se, no decorrer da segunda metade do século XX, um fortalecimento dos acordos bilaterais ou regionais de comércio internacional, em detrimento dos acordos multilaterais. Tais acordos sustentam-se nos pilares da cooperação mútua e da reciproci- dade entre as partes envolvidas, justificadas pelos ideais do livre merca- do e pela crença de que os efeitos decorrentes desses acordos favore- cerão o nível de vida dos agentes econômicos envolvidos. 28 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Além desses acordos recíprocos, foram criadas, ao longo da segun- da metade do século XX, outras formas de negociação comercial entre países, em que o pilar da reciprocidade entre os estados se desconstrói e dá lugar às preferências unilaterais e não recíprocas, como explicado no sistema geral de preferências (SGP). Todos esses acordos, de uma forma ou outra, têm como objetivo a elevação dos níveis de riqueza das nações, ao facilitar o fluxo do comércio internacional, por meio da re- dução gradual ou da eliminação das barreiras tarifárias e não tarifárias. Nesse contexto, em que o livre comércio aparenta ser a única via para a redução da assimetria global econômica, aparecem políticas de proteção ao comércio internacional, ou seja, barreiras tarifárias e não tarifárias cujo objetivo é proteger o produtor interno em detrimento de bens estrangeiros, como será visto adiante. 1 Acordos bilaterais e multilaterais Como vimos no capítulo 1, em 1947, 23 países assinaram o Acordo geral sobre Tarifas e Comércio. Nota-se, em função do número de partes contratantes que integram esse acordo desde a sua fundação, um im- portante elemento, a pluralidade dos membros. Nesse sentido, Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 856) ensinam que um acordo multilate- ral geralmente é instituído “quando um certo número de Estados, pre- visto no próprio acordo, manifestou a vontade definitiva de participar, mediante as formalidades prescritas para a aceitação do ato institutivo”. Outros acordos de comércio, assim como o GATT-47, foram cria- dos entre os anos de 1947 e 1994 por meio de sucessivas rodadas de negociação. Destacamos uma delas, a Rodada Uruguai, iniciada em Punta del Leste, em 1986, e concluída em 1994, com a assinatura de 123 países do acordo constitutivo da OMC, inaugurada em 1º de janeiro de 1995. A criação dessa organização internacional, segundo Nasser (2002) fortaleceu o sistema multilateral de comércio,1 uma vez que pas- 1 Conjunto de normas internacionais de comércio e das instituições responsáveis por aplicá-las. 29Sistema global de operações da logística internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. sou a reforçar a estrutura institucional de todo o sistema comercial, es- tabelecendo um fórum permanente de discussão. No âmbito dos acordos multilaterais, destaca-se o Acordo de Facilitação de Comércio, assinado por 112 membros da OMC. O acordo entrou em vigor em 22 de fevereiro de 2017 com o objetivo de conferir mais transparência à relação entre governos e intervenientes privados que operam no comércio exterior e reduzir impactos burocráticos sobre importações e exportações. Nos acordos bilaterais, por sua vez, participam apenas dois estados ou blocos econômicos, com o propósito de favorecer o comércio entre eles por meio de concessão de vantagens recíprocas. Um exemplo é o Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e Egito, assinado em 2 de maio de 2010 e promulgado no Brasil por meio do Decreto nº 9.229, de 6 de dezembro de 2017 (BRASIL, 2017). O objetivo desse acordo é criar condições mais favoráveis para o desenvolvimento sustentável, para novas oportunidades de emprego, para a diversificação do comércio entre si e para a promoção da cooperação comercial e econômica em áreas de interesse comum com base na igualdade, no benefício mútuo, na não discriminação e no direito internacional, além de contribuir para o fortalecimento do sistema multilateral de comércio. 2 Tratamento preferencial Para entender o contexto do tratamento preferencial, é necessária a leitura do artigo I do GATT-47: Qualquer vantagem, favor, imunidade ou privilégio concedido por uma parte contratante em relação a um produto originário [produzi- do] de ou destinado a qualquer outro país, será imediata e incondi- cionalmente estendido ao produto similar, originário do território de cada uma das outras partes contratantes ou ao mesmo destinado. Este dispositivo se refere aos direitos aduaneiros e [...] à importa- ção e exportação bem como aos assuntos. (BRASIL, 1948) 30 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Esse artigo refere-se à cláusula da nação mais favorecida (CNMF) e precisa ser esclarecido para sua melhor compreensão. Suponha ao menos três partes contratantes de um acordo, por exemplo, os Estados Unidos, o Brasil e a França. Considere que uma empresa situada nos Estados Unidos importa produtos similares originados do Brasil e da França, por exemplo, queijos. Nesse sentido, quando os queijos entram no território dos Estados Unidos, a autoridade aduaneira daquele país apli- ca uma determinada tarifa de importação sobre o valor das mercadorias. Considere que esta tarifa de importação seja da ordem de 10% sobre o valor do queijo. Essa alíquota deve ser exatamente a mesma, sendo vedada a concessão de preferências a terceiros, independentemente do país de origem do produto. Considere que o governo dos Estados Unidos decida reduzir a tarifa de importação sobre o queijo, de 10% para 2%, apenas sobre os queijos originados do Brasil, sem estender a concessão dessa vantagem aos queijos similares originados da França. Essa hipótese não reflete o estabelecidopelo artigo I do GATT-47. A par- te contratante, ao oferecer um privilégio ou tratamento privilegiado a um produto originário de outro país deve, de forma imediata e sem impor qualquer condição, estender o mesmo benefício para todas as outras partes contratantes envolvidas. Portanto, no caso do exemplo, a França deveria ser igualmente beneficiada com a vantagem da redução da tari- fa de importação de 10 para 2%. Não havia base jurídica para condicionar o nível de desenvolvimento econômico de um país como justificativa para receber privilégios unila- terais de países desenvolvidos. A redação desse artigo, portanto, conduz a uma forte restrição aos acordos bilaterais ou regionais de comércio e a um apelo para que o sistema mundial de comércio se baseie nos cri- térios de reciprocidade mútua, sem preferências regionais ou bilaterais. A eficácia dessa cláusula perdeu força no decorrer dos anos seguin- tes à constituição do GATT-47, abrindo espaço para “exceções à cláusu- la”, principalmente na década de 1960, com os esforços do economista 31Sistema global de operações da logística internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. argentino Raul Prebisch quando exerceu, nas décadas de 1950 e 1960, o cargo de secretário executivo da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) e de secretário geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Uma dessas exce- ções à CNMF é o sistema geral de preferências (SGP), explicado a seguir. 3 Sistema geral de preferências (SGP) O SGP constitui um programa de benefícios tarifários concedidos pelos países industrializados aos países em desenvolvimento, na for- ma de redução ou isenção do imposto de importação incidente sobre determinados produtos (BRASIL, 2011). Esse benefício é uma exceção à CNMF e, como explica Nasser (2002), foi reconhecido pelo GATT-47, que dispensou a aplicabilidade do artigo I, em 25 de junho de 1971. Algumas características desse programa são: a não reciprocidade, em outras palavras, quando um benefício tarifário é concedido por um país desenvolvido a outro país, em desenvolvimento, este país não tem o dever legal de favorecer aquele; a voluntariedade, ou seja, os países desenvolvidos não são obrigados a aderir ao programa; a temporalida- de, uma vez que os beneficiados do sistema podem ser excluídos do programa a qualquer momento. PARA SABER MAIS O Brasil, na qualidade de país em desenvolvimento, é outorgado do pro- grama e tem como grande parceiro os Estados Unidos. Para saber mais acesse o site do Departamento de Comércio dos Estados Unidos (U.S. DEPARTMENT OF COMMERCE, [s. d.]). 32 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 4 Sistema global de preferências comerciais (SGPC) O Acordo sobre o Sistema Global de Preferências Comerciais entre os países em desenvolvimento (SGPC) tem, por princípio, a concessão de vantagens mútuas de modo a trazer benefícios a todos os seus par- ticipantes, considerados seus níveis de desenvolvimento econômico e industrial, seus padrões de comércio exterior, suas políticas e seus sis- temas comerciais (BRASIL, 2011). Faz se necessária uma distinção entre o SGP o SGPC. O primeiro se caracteriza pela assimetria econômica entre as partes com base em concessões não recíprocas. No caso do SGPC, o propósito é a coope- ração por meio de concessões comerciais mútuas entre as partes con- tratantes, constituídas de países em desenvolvimento e de menor grau de desenvolvimento. PARA SABER MAIS Para saber mais sobre o SGPC e os países que integram o programa, acesse o site da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, [s. d.]). 5 Barreiras não tarifárias: protecionismo, subsídio, dumping, cotas de importação e barreiras sanitárias e fitossanitárias Protecionismo, em comércio internacional, é a denominação adota- da para identificar uma política econômica, em determinado período de tempo, a favor da indústria doméstica e de seus empregos. Nesse sen- tido, o governo de um país ou os líderes de um bloco econômico podem 33Sistema global de operações da logística internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. adotar alguns instrumentos específicos de política comercial, como as barreiras não tarifárias, a fim de regular as importações de modo a pre- judicar a introdução de bens estrangeiros no país. Como explica Sousa (2009, p. 147), barreiras não tarifárias se clas- sificam como qualquer “medida pública que não seja um direito adua- neiro e tenha por efeito criar uma distorção nas trocas comerciais”. A distorção ocorre no sentido de que essas barreiras podem proteger ex- cessivamente os produtores nacionais de certos bens a ponto de impe- dir, restringir ou dificultar a importação de bens estrangeiros similares no mercado interno, caracterizando um mercado protecionista. Essas distorções culminam em vários efeitos aos agentes econômicos inter- nos, em especial ao consumidor final, que demanda esses bens, uma vez que reduz a opção de alternativas de compra de bens concorrentes a preços competitivos. Note que há uma diferença importante na definição de duas termi- nologias que são utilizadas nos estudos do protecionismo. Faz-se ne- cessário, portanto, separar o entendimento em relação às medidas não tarifárias e às barreiras não tarifárias. Medidas não tarifárias têm por objetivo a proteção da saúde pública ou do meio ambiente decorrentes de bens introduzidos no país, por exemplo, a imposição pelo Ministério da Agricultura do Brasil, ou órgão similar, de um limite na quantidade de sódio dos alimentos importados, além de regular as formas de rotula- gem desses alimentos. Ocorre que, quando os efeitos econômicos dessas medidas extra- polam seus objetivos, elas passam a ser classificadas como barreiras não tarifárias ao comércio, uma vez que causam um efeito econômico no comércio internacional de mercadorias, alterando vários aspectos, entre eles a escolha dos parceiros comerciais, as quantidades negocia- das, os preços dessas mercadorias, entre outros efeitos que distorcem o mercado. O quadro 1 apresenta algumas dessas medidas. 34 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Quadro 1 – Exemplos de medidas não tarifárias DENOMINAÇÃO OBJETIVO EXEMPLO Medidas sanitárias e fitossanitárias Proteger a vida humana e a animal de riscos decorrentes de organismos que podem causar doenças diversas Coleta de amostra de um lote de laranjas importadas para checar o nível residual de pesticidas Barreiras técnicas ao comércio Atender a procedimentos para avaliação da conformidade e de normas técnicas Refrigeradores devem ter uma etiqueta indicando o tamanho, o peso e o nível de consumo de energia elétrica Medidas de defesa comercial Medidas implementadas para neutralizar os efeitosadversos no mercado do país importador, causados por certas importações, após o cumprimento de requisitos processuais regulados pela legislação do país que sofreu os efeitos danosos País A aplica uma medida antidumping sobre a importação de determinados produtos originados do país B para compensar um dano material causado pelas importações do país B Contingentes ou cotas não tarifárias sobre importações Restringir a quantidade de bens importados Determinado país impõe uma cota máxima de 100 toneladas, por ano, de peixe importado (soma das importações) Fonte: adaptado de UNCTAD (2022). Entre as medidas apresentadas no quadro 1, destacam-se as de de- fesa comercial. Esse tema tem forte discussão no comércio internacio- nal em função da sua complexidade e dos danos que podem causar aos agentes econômicos públicos e privados dos países envolvidos. Para uma melhor compreensão em relação às medidas, é imperativo o estudo de dois importantes temas, os subsídios e o dumping. Ambos são reconhecidos pela OMC por meio de acordos específicos e con- siderados como práticas proibidas ou desleais de comércio. Cabe ao governo do país que sofrer os efeitos dos danos causados por tais prá- ticas adotar medidas compensatórias ou medidas antidumping, para compensar os danos materialmente provados. A seguir veremos uma breve explicação de cada uma dessas práti- cas e suas respectivas medidas de defesa. 35Sistema global de operações da logística internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 5.1 Subsídio De acordo com a legislação brasileira que regula o tema, apoiada no Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias, da OMC, consi- dera-se a existência de subsídio quando houver contribuição financeira por governo ou órgão público, no território do país exportador, nos casos em que a prática do governo implique a transferência direta de fundos, doações, empréstimos, aportes de capital, ou potenciais transferências diretas de fundos ou de obrigações, entre outros (BRASIL, 2021). Os subsídios são considerados proibidos quando essa ajuda finan- ceira é direcionada a um setor específico da atividade econômica (por exemplo, a aeronáutica ou a produção de algodão) com o propósito de fomentar as exportações a preços desleais, ou de proteger o mercado doméstico da importação de bens estrangeiros. Os efeitos dessa práti- ca podem causar grave impacto nos produtores globais de bens simila- res. Nesse caso, a OMC, após um extenso processo investigatório, pode autorizar os países prejudicados a adotar medidas para compensar os danos materiais causados. PARA SABER MAIS O Brasil participou de duas grandes disputas sobre subsídios: o con- tencioso entre a Embraer e a canadense Bombardier e a dos subsídios oferecidos aos produtores de algodão nos Estados Unidos. Uma rápida pesquisa nos mecanismos de busca on-line traz conteúdo de relevante interesse nesses dois casos. 5.2 Dumping Dumping é uma prática comercial desleal e condenada pela OMC. Dumping não deve ser classificado como medida de defesa comer- cial. Essa defesa, denominada medida antidumping, ocorre em algum 36 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .momento posterior à prática do dumping e do dano material à indús- tria doméstica do país importador, decorrentes dos efeitos causados por essa prática, e é preciso cumprir requisitos específicos após um extenso processo investigatório, o qual é conduzido pelo governo do país onde se situa a indústria doméstica. De acordo com David (2018, p. 433), dumping é uma: Estratégia que alguns exportadores seguem para vender os pro- dutos que exportam a um preço considerado “demasiadamente baixo” pela autoridade aduaneira do país importador. A explicação do autor, apesar de relativamente correta, não contem- pla a definição jurídica estabelecida na redação do artigo 7º do Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013, que regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping: Para os efeitos deste Decreto, considera-se prática de dumping a introdução de um produto no mercado doméstico brasileiro, inclu- sive sob as modalidades de drawback, a um preço de exportação inferior ao seu valor normal. (BRASIL, 2013) Nesse mesmo sentido, Barral e Brogini (2007, p. 38) explicam que dumping é a: prática de discriminação de preços em mercados distintos: uma empresa exportadora vende um produto no mercado importador a um preço inferior ao valor normal praticado em seu mercado de origem. Nota-se, na explicação de Barral e Brogini e no artigo 7º do Decreto nº 8.058, um termo em comum que precisa ser elucidado: o valor normal. O entendimento desse valor é relativamente complexo, neste capítulo, sem adentrar nas acaloradas discussões dos juristas especializados no tema, considere-se o valor normal nos termos do artigo 8º do mesmo decreto: “o preço do produto similar, em operações comerciais normais, 37Sistema global de operações da logística internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. destinado ao consumo no mercado interno do país exportador” (BRASIL, 2013). Acrescenta-se à definição do valor normal a seguinte síntese: O valor normal é o preço comparável realmente pago ou a pagar, no curso de operações comerciais normais, por produto similar destinado ao consumo do país de exportação ou de origem, deven- do ser levada em consideração a base de formação de preço da mercadoria, sendo deduzidos os impostos e frete incidentes para torná-lo ex-fábrica. (GUEDES; PINHEIRO, 2002, p. 88) Ressalte-se a importância de compreender outro termo, além do valor normal, que não pode ser descartado para o entendimento des- sa prática: o preço de exportação conforme a redação do artigo 18º do Decreto nº 8.058/2013: Caso o produtor seja o exportador do produto objeto da investiga- ção, o preço de exportação será o recebido, ou o preço de exporta- ção a receber, pelo produto exportado ao Brasil, líquido de tributos, descontos ou reduções efetivamente concedidos e diretamente relacionados com as vendas do produto objeto da investigação. (BRASIL, 2013) A figura 1 ilustra um caso hipotético de ocorrência de dumping. Figura 1 – Exportação de cadeados originados da China com preços de exportação praticados com dumping Uma empresa chinesa fabricou 10.000 cadeados em 2022. 2.000 foram vendidos no mercado doméstico chinês, e as 8.000 unidades restantes, exportadas para o Brasil $ 10 $ 12 E são introduzidos no Brasil ao preço de exportação de USD 10/unidade 2 mil cadeados são destinados ao consumo no mercado interno chinês pelo valor normal de USD 12/unidade Haverá dumping quando 38 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .O que se nota de estranho no exemplo da figura 1 é o preço de ex- portação introduzido no Brasilser inferior em 2 dólares por unidade, em relação ao valor praticado no mercado chinês. Essa diferença é denomi- nada de margem de dumping apurada e seu entendimento é necessá- rio para justificar a aplicação de medidas ou direitos antidumping. Para apurar a margem de dumping, basta calcular a diferença entre o valor normal e o preço de exportação. Nesse caso, apura-se a margem de dumping de 2 dólares/unidade. Em quantidades significativas, a introdução de bens no Brasil com- promete a indústria doméstica de bens similares, causando, em certo prazo, danos materiais irreversíveis que podem levar à sua falência. Nesse contexto, os exportadores fortalecem o segmento oligopolis- ta (no país afetado) em relação à distribuição dos bens introduzidos com preços desleais. Essa prática é condenada pela OMC e justifica a aplicação da medida de defesa comercial denominada de direito anti- dumping, definida no inciso 2, artigo 784, do Decreto nº 6759, de 5 de fevereiro de 2009: Direito antidumping, o montante em dinheiro, igual ou inferior à margem de dumping apurada, com o fim exclusivo de neutralizar os efeitos danosos das importações objeto de dumping, calculado mediante a aplicação de alíquotas ad valorem ou específicas, ou pela conjugação de ambas. (BRASIL, 2009) 5.3 Cotas de importação De acordo com Sousa (2009), as cotas de importação, também de- nominadas contingentes, referem-se a restrições quantitativas permiti- das quanto à importação de certos bens. Essas cotas dividem-se em: tarifárias e não tarifárias. Um mecanismo que exemplifica as cotas tarifárias está previsto no âmbito do Mercosul pela Resolução nº 49/2019 do Grupo do Mercado 39Sistema global de operações da logística internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Comum. Tratam-se de ações pontuais e de caráter temporário para garantir o abastecimento normal e fluido da região resultante de dese- quilíbrios entre oferta e demanda, em decorrência de: inexistência tem- porária de produção regional do bem; existência de produção regional do bem, mas o estado parte produtor não conta com oferta suficiente para atender às quantidades demandadas; existência de produção re- gional de um bem similar, mas este não possui as características exi- gidas pelo processo produtivo da indústria do estado parte solicitante. (MERCOSUL, 2019). Em relação às cotas não tarifárias, inserem-se as salvaguardas, pre- vistas, de forma genérica, no artigo XIX do GATT-47. Somente em 1994, ao final da Rodada Uruguai, o acordo específico sobre salvaguardas foi assinado e incorporado ao escopo de acordos da OMC. No Brasil, foi internalizado pelo Decreto nº 1.488, de 11 de maio de 1995, artigo 1º: Poderão ser aplicadas medidas de salvaguarda a um produto se de uma investigação resultar a constatação, de acordo com as dispo- sições previstas neste regulamento, de que as importações desse produto aumentaram em tais quantidades e, em termos absolutos ou em relação à produção nacional, e em tais condições que cau- sem ou ameacem causar prejuízo grave à indústria doméstica de bens similares ou diretamente concorrentes. (BRASIL, 1995) PARA SABER MAIS No Brasil, a aplicação das salvaguardas é muito tímida. Recorde-se o caso relacionado aos brinquedos, decidido pela Portaria Interministerial MICT/MF nº 21, de 19 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996). 40 Comércio exterior e logística internacional Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 5.4 Barreiras sanitárias e fitossanitárias O Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias foi internalizado no ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994, o qual promulga a ata final que incorpora os resultados da Rodada Uruguai de Negociações Multilaterais do GATT (BRASIL, 1994). O objetivo geral desse acordo é o estabelecimento de um arcabouço multilateral de regras para orientar a elaboração, a ado- ção e a aplicação de medidas sanitárias e fitossanitárias relacionadas à proteção da saúde humana, da saúde animal e da situação sanitária no território de todos os membros signatários, com vistas a reduzir, ao mínimo, seus efeitos negativos sobre o comércio internacional. Nesse sentido, de acordo com o preâmbulo do aludido acordo, ne- nhum país signatário deve ser impedido de adotar ou aplicar medidas necessárias à proteção da vida ou da saúde humana, animal ou vege- tal, desde que tais medidas não sejam aplicadas de modo a constituir discriminação arbitrária ou injustificável entre membros em situações em que prevaleçam as mesmas condições, ou uma restrição velada ao comércio internacional (BRASIL, 1994). Um exemplo foi o estabelecimento de requisitos específicos para o processo de produção de gelatina exigidos pela França, em 1997. A medida estabeleceu requisitos mínimos para o método de produção de gelatina, como uma imposição de segurança em virtude da encefalo- patia espongiforme bovina (BSE), também conhecida como “doença da vaca louca”, a qual interrompeu as exportações brasileiras. Ocorre que não havia justificativa ou embasamento científico e, após algumas con- sultas bilaterais entre Brasil e União Europeia, a França suspendeu a restrição, liberando as exportações brasileiras de gelatina (CNI, 2017). 41Sistema global de operações da logística internacional M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 6 Barreiras tarifárias As barreiras tarifárias são mecanismos de política comercial, ado- tadas por um governo ou bloco econômico, com o objetivo de regular a introdução de bens estrangeiros que possam concorrer com bens si- milares produzidos pela indústria doméstica. Ressalte-se que, no Brasil, à luz do direto tributário e aduaneiro, a denominação da tarifa é ina- dequada para conferir sua natureza legal, sendo que a correta é o im- posto de importação, espécie de tributo que incide sobre mercadorias estrangeiras. Do ponto de vista econômico, essa tarifa (imposto) de importação reveste-se de uma característica contraditória, incomum aos tributos em geral, que é a sua função arrecadatória. O imposto de renda, por exemplo, pode ter a sua alíquota majorada com o objetivo de alavancar a receita da União e cobrir os gastos públicos. A fórmula é simples: ma- jora-se a alíquota de um tributo, arrecada-se mais dinheiro. No caso do imposto de importação, essa função não se observa. Sua alíquota, a qual incide sobre o valor aduaneiro da mercadoria es- trangeira, se majorada de 2 para 14%, terá como efeito a diminuição no volume das importações, a fim de proteger a indústria doméstica. Nesse sentido, parte da doutrina classifica o imposto de importação como um tributo “extrafiscal”. Nessa linha, Sehn (2021) explica que, nos tributos extrafiscais, o objetivo não é perder receita, mas atingir um efei- to econômico ou regulatório. Outra espécie de tributo considerada uma barreira tarifária é o adi- cional ao frete para a renovação da marinha mercante (AFRMM), o qual incide sobre o frete aquaviário da carga de qualquer natureza descar- regada em porto brasileiro, com base nas seguintes alíquotas: 25% na navegação de longo curso, 10% na navegação de cabotagem e 40% nas navegações fluvial e lacustre, quando do transporte de granéis líquidos nas regiões Norte e
Compartilhar