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43 | P á g i n a 
 
 
 
 
 
 
 
Palavras Chave: Transtorno de personalidade limítrofe; Impulsividade; Humor.
JOÃO VICTOR FREIRE DE CASTRO¹ 
JOÃO PAULO FARIAS DA SILVEIRA1 
EMILE NYCOLLE DA SILVA SOUZA1 
RAFAELLY MARIA PINHEIRO SIQUEIRA1 
GILBERTO SANTOS CERQUEIRA1,2 
FRANCISCO EVERTON PEREIRA DA SILVA1 
MARIA CLARA DUARTE DE FIGUEIREDO1 
EDVAR MACIEL BARBOSA NETO1 
ARTUR TELES MOREIRA GOUVEIA COUTINHO1 
VITÓRIA COSTA DE MATOS BARBOSA4 
JOÃO ERIVAN BARRETO FAÇANHA2 
MARCIA DE MOURA SANTOS3 
ISADORA CALISTRO GREGÓRIO5 
JOÃO CHAVES HILUY6 
TRANSTORNO 
BORDERLINE: O DESAFIO 
NO DIAGNÓSTICO, MANEJO 
E TRATAMENTO 
1. Discente da Faculdade De Medicina, Centro Universitário Unichristus 
2. Docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará 
3. Assistente Social do Hospital Santo Antônio, Ceará 
4. Discente da Universidade de Fortaleza 
5. Médica do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto, Ceará 
6. Médico Psiquiatra do Centro Universitário Unichristus 
 
Capítulo 06 
10.59290/978-65-6029-018-1.6 
 
 
44 | P á g i n a 
INTRODUÇÃO 
 
O transtorno de personalidade limítrofe é 
um distúrbio psicológico caracterizado por um 
padrão generalizado de instabilidade na regula-
ção do afeto, controle dos impulsos, dos relaci-
onamentos interpessoais e da autoimagem sem-
do muitas vezes subdiagnosticado e a maioria 
dos pacientes que o apresenta também apre-
senta condições psiquiátricas adicionais e vul-
nerabilidade subjacente a estados emocionais 
de hiperexcitação e estressores sociais e inter-
pessoais (MENDEZ-MILLER et al., 2022). 
Entre os transtornos de personalidade, tem-
se como mais comum o Transtorno de Persona-
lidade Borderline (TPB). Estima-se que a inci-
dência desse transtorno é maior em mulheres do 
que em homens, em uma proporção de 3:1, ten-
dendo a ser mais elevada em pessoas jovens do 
que em idosos. A prevalência do TPB na popu-
lação em geral varia em torno de 6%, podendo 
ser maior em ambientes que atendam pessoas 
com problemas de saúde mental, a exemplo de 
clínicas e hospitais psiquiátricos, nos quais po-
de atingir 20% (LEITE & CAMPOS, 2016). 
É válido ressaltar ainda que de acordo com 
a Associação Americana de Psicologia (APA), 
os índices de morbidade por esta doença são al-
tos, visto que as taxas de suicídio em pessoas 
que possuem TPB podem chegar a 40% (ME-
LO et al., 2021; MAZER et al., 2017). 
Estudos recentes apontam também que o 
TPB pode estar associado a distúrbios compor-
tamentais, que incluem autolesão provocada e, 
em casos mais graves, consumação do próprio 
ato suicida. Além disso, podem estar associados 
a comorbidades, entre as quais podemos citar os 
transtornos alimentares, os transtornos pós-tra-
umáticos, o abuso de drogas e, até mesmo, ou-
tros transtornos de personalidade (GONZALEZ 
et al., 2022). 
O National Institute of Mental Health 
(NIMH) descreve que as principais fontes de 
risco para TPB não são completamente claras, 
mas pesquisas sugerem que a história familiar, 
as mudanças estruturais e funcionais no cére-
bro, os fatores sociais, culturais e ambientais 
podem influenciar o risco de um indivíduo de-
senvolver o transtorno (DE ARAUJO et al., 
2021; NIMH, 2023). No entanto, o fato de o 
risco ser aumentado, não implica, necessaria-
mente, o desenvolvimento do TPB. Da mesma 
forma, indivíduos que não apresentam tais fato-
res de risco podem desenvolver a patologia em 
algum período da vida (NIMH, 2023). No Qua-
dro 6.1, podemos observar os principais fatores 
de risco. 
Portanto, o objetivo desse trabalho é reali-
zar uma síntese dos aspectos epidemiológicos, 
fisiopatológicos, diagnósticos e tratamento da 
referida patologia, e assim poder ajudar e con-
tribuir para o conduzir esclarecimento e condu-
ção dessa doença. 
 
Quadro 6.1 Fatores de risco para desordem Borderline 
Abuso Sexual na Infân-
cia 
Separação ou perda pre-
coce e vínculo parental 
Estresses durante a pri-
meira infância 
Abuso físico na infância 
Personalidade antisso-
cial 
Estresses durante a pri-
meira infância 
Hereditariedade Fatores Sociais 
Fonte: Tabela elaborada pelos autores, a partir de PARIS 
et al., 1994. 
 
ETIOPATOGENIA 
 
Etiologia 
As causas do TPB não são totalmente co-
nhecidas e envolvem uma combinação com-
plexa de pelo menos três elementos: genéticos, 
neurobiológicos e ambientais. A interação entre 
esses aspectos desempenha um papel na predis-
 
45 | P á g i n a 
posição ao desenvolvimento do TPB (BOHUS 
et al., 2021). Existe uma razoável evidência que 
aponta para a presença de fatores genéticos no 
TPB. Estudos realizados em famílias revelaram 
uma maior ocorrência do transtorno entre pa-
rentes de primeiro grau de portadores de TPB 
em comparação com os indivíduos em geral. 
Além disso, pesquisas em estágios iniciais su-
gerem que uma possível causa dos problemas 
interpessoais nesses pacientes pode estar relaci-
onada a alterações na função dos neuropeptí-
deos. Desregulações químicas nos neurotrans-
missores, como a serotonina, também podem 
estar implicadas nesse transtorno. Ademais, si-
tuações traumáticas e experiências adversas na 
infância podem levar ao desenvolvimento do 
TPB. Abuso físico, sexual ou emocional, negli-
gência e instabilidade familiar são fatores que 
podem resultar em dificuldades no desenvolvi-
mento das habilidades de regulação emocional 
e na formação de uma identidade estável, pro-
piciando, dessa forma, uma maior vulnerabili-
dade ao TPB (SKODOL et al., 2019). 
 
Fisiopatologia 
A fisiopatologia relacionada ao transtorno 
de personalidade limítrofe ainda não é total-
mente compreendida, porém há vários fatores 
que colaboram para o seu surgimento. Esses fa-
tores vão desde fatores genéticos, fatores psi-
cossociais, fatores neuronais e, até mesmo, hor-
monais (como o eixo hipotálamo-hipofisário). 
 
Relação do eixo hipotálamo-hipofisário 
(HPA) 
O principal sistema relacionado ao controle 
e regulação do estresse é o eixo hipotálamo-hi-
pófise-adrenal (HPA). Esse eixo funciona da 
seguinte forma: (1) por meio de um estímulo de 
estresse (2) o hipotálamo vai liberar o hormônio 
liberador de corticotropina (CRH). Esse CRH 
vai agir sobre a (3) hipófise anterior, que em 
resposta começa a produzir/secretar o hormônio 
adrenocorticotrófico (ACTH). Por sua vez, o 
ACTH vai, por meio da circulação sistêmica, 
agir no (4) córtex da adrenal, fazendo-o secretar 
o cortisol. O cortisol vai ter várias funções, co-
mo fazer feedback negativo na secreção de 
CRH e ACTH, aumentar os níveis de açúcar no 
sangue e restaurar a homeostase após a exposi-
ção ao fator estressante (DREWS et al., 2019). 
O Borderline tem íntima relação com um 
estado de estresse patológico orgânico. Anor-
malidade no funcionamento desse eixo já é bem 
estabelecido em patologias psiquiátricas, como 
na depressão (MURRI et al., 2014). 
De forma geral, vários estudos foram reali-
zados para aferir a relação entre os níveis de 
cortisol e os sinais e sintomas de pacientes com 
Borderline. Em resumo, vários estudos sugerem 
que há uma supressão patológica de cortisol no 
transtorno de personalidade limítrofe, porém, 
sempre ressaltando, que essas são evidências 
inconsistentes (DREWS et al., 2019). 
 
Fatores psicossociais 
É comum na anamnese de um paciente com 
TPB, relatar-se algum tipo de evento nega-
tivo/traumático, principalmente na infância. 
Porém, ainda não foi feita nenhuma associação 
psicopatológica entre as experiências traumáti-
cas e o desenvolvimento da TPB, na vida adulta 
(LEICHSENRING et al., 2011). É importante 
falar que um dos principais pontos de eventos 
traumáticos relatados são abusos infantis, po-
rém, mesmo eles não são patognomônicos do 
TPB (PARIS et al., 2005). 
 
Fatores genéticos 
Ainda nenhum gene específico foi direta-
mente relacionado ao TPB, porém estudos su-
gerem uma forte ligação entrea associação de 
uma predisposição genética, com os fatores am-
bientais. Umas das principais características 
 
46 | P á g i n a 
clínicas sugeridas na TPB é a agressividade, 
sendo está altamente relacionada a uma res-
posta serotoninérgica reduzida, e assim, alguns 
genes podem estar envolvidos no sistema sero-
toninérgico. Diante disso, o principal gene rela-
cionado foi o gene transportador de serotonina 
(5-HTTLPR), fazendo que desde um haplótipo 
(com alelo curto) seja relacionado ao desenvol-
vimento da doença, até a uma resposta ruim ao 
tratamento com fluoxetina (LEICHSENRING 
et al., 2011). 
 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 
O TPB é uma condição de grande variabili-
dade em relação ao seu quadro clínico, o que 
leva a uma dificuldade de entendimento por 
parte de profissionais da saúde, porém suas ca-
racterísticas compreendem três grandes domí-
nios: emoções fortes e instáveis, senso de iden-
tidade volátil e inconstante e dificuldade na re-
lação entre pessoas. A pessoa com TPB também 
pode apresentar diversas outras manifestações 
tais como automutilação, ideação suicida, sen-
timentos crônicos de vazio, empenho extremo 
para evitar o abandono e surtos de agressivi-
dade, os quais são o reflexo das alterações dos 
domínios já citados ou o método de confronto 
deles (BOHUS et al., 2021; LEICHSENRING 
et al., 2023). Outras características clínicas me-
nos comumente associadas ao transtorno de 
personalidade limítrofe incluem sintomas dis-
sociativos graves e comportamentos não condi-
zentes com a idade (LEICHSENRING et al., 
2023). Na Figura 6.1 podemos observar algu-
mas das principais manifestações clínica do 
Borderline. 
 
Figura 6.1 Principais manifestações clínicas do Border-
line 
 
DIAGNÓSTICO 
 
O diagnóstico do TPB, também conhecido 
como transtorno de personalidade limítrofe, é 
feito por profissionais de saúde mental, como 
psiquiatras ou psicólogos clínicos. Eles geral-
mente seguem diretrizes estabelecidas pelo Ma-
nual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais (DSM-5), que é um guia amplamente 
utilizado para diagnóstico psiquiátrico (GUN-
DERSON et al., 2018). No Quadro 6.2 obser-
vamos alguns critérios do DSM-5-TR. 
 
Quadro 6.2 Critérios diagnósticos para transtorno de personalidade Borderline segundo DSM-5-TR 
Critérios diagnósticos para TPB segundo DSM-5-TR 
Esforços frenéticos para evitar o abandono real ou imaginário 
Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos que são caracterizados por extremos de 
idealização e desvalorização 
Distúrbio de personalidade: instabilidade acentuada e resistente da autoimagem ou do senso de identidade 
 
47 | P á g i n a 
Impulsividade em pelo menos duas áreas que são potencialmente autodestrutivas (por exemplo, gastos, sexo, abuso 
de substâncias, direção imprudente ou compulsão alimentar) 
Comportamento, gestos ou ameaças suicidas recorrentes ou comportamento de automutilação 
Instabilidade afetiva devido a uma marcada reatividade do humor (por exemplo, intensa disforia, irritabilidade ou 
ansiedade geralmente durando algumas horas e raramente durando mais do que alguns dias) 
Sentimento crônico de vazio 
Raiva inapropriada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por exemplo, demonstrações de temperamento, 
raiva constante ou brigas físicas recorrentes) 
Ideação paranoide transitória relacionada ao estresse ou sintomas dissociativos graves 
Fonte: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition Text Revision [DSM-5-TR]), 2022 
 
Para que esses critérios sejam coletados é 
realizada uma entrevista clínica com o paciente, 
para obter informações sobre sintomas, histó-
rico médico, histórico familiar e funcionamento 
psicossocial. 
 
Diagnóstico diferencial 
Muitos pacientes com TPB constantemente 
buscam o tratamento em virtude de exacerba-
ções de um ou mais transtornos mentais que co-
existem com o TPB, sem que sejam previamen-
te diagnosticados com TPB. Portanto, torna-se 
necessária uma avaliação minuciosa das psico-
patologias apresentadas pelo indivíduo para a 
detecção, confirmação ou dissociação das cau-
sas psicológicas responsáveis pelo quadro do 
paciente (GUNDERSON et al., 2018). 
Outros transtornos que podem estar presen-
tes em indivíduos com TPB são as alterações de 
humor, caracterizadas pelo transtorno depres-
sivo maior ou transtornos bipolares, ansiedade, 
transtornos de estresse agudo ou pós-traumá-
tico, transtornos dissociativos, em relação ao 
uso de substâncias com álcool e drogas, com-
portamento disruptivo ou somatoforme, trans-
torno de déficit de atenção com hiperatividade 
(TDAH), além de outros transtornos de perso-
nalidade (SKODOL et al., 2019). 
A quantidade e o tipo de distúrbio que po-
dem coexistir com o TPB é próprio para cada 
paciente, não sendo possível o estabelecimento 
de um padrão único para a apresentação das vá-
rias possibilidades de quadros psicológicos que 
uma pessoa com TPB possa ter. Apesar do 
DSM possibilitar o diagnóstico de múltiplos 
transtornos que possam estar associados com o 
TPB, que possuem tratamentos específicos com 
várias drogas distintas, o que realmente é efe-
tivo é uma terapêutica que seja efetiva e possa 
proporcionar qualidade de vida para o paciente, 
muitas vezes não correspondendo aos tratamen-
tos típicos dessas enfermidades. Pode-se, tam-
bém, levar em consideração para o diagnóstico 
a resposta ao tratamento na vigência da investi-
gação de um possível transtorno, uma vez que é 
comum pacientes com TPB não responderem a 
antidepressivos e possuírem a regressão da de-
pressão após a melhora do TPB (GUNDER-
SON et al., 2018). 
Deve-se, portanto, ater-se às características 
apresentadas pelo paciente que não se enqua-
dram a outro ou outros distúrbios, a fim de pos-
sibilitar a construção do perfil único do indiví-
duo com TPB, levando em consideração as suas 
peculiaridades, a vigência de demais transtor-
nos que coexistem, seus principais gatilhos, os 
fatores exacerbadores e a resposta a medicações 
(PERROTTA, 2020). No Quadro 6.3 observa-
mos os principais diagnósticos diferenciais do 
TPB. 
 
48 | P á g i n a 
Quadro 6.3 Principais diagnósticos diferenciais do TPB 
Doença Características 
Transtorno bipolar 
(TB) 
As alterações entre a síndrome depressiva e a elevação do humor perduram por mais tempo 
(dias a meses), sendo associadas a eventos ambientais, enquanto os estados afetivos dos pa -
cientes com TPB possuem uma oscilação mais rápida (horas ou dias) e se relacionam a fa -
tores estressores, como o fracasso ou a rejeição. 
Transtorno depres-
sivo maior (TDM) 
Presença de disforia na maior parte do dia, em quase todos os dias por duas semanas. Há 
relação com sintomas neurovegetativos sustentados relacionados ao sono, ao apetite e à 
energia. Pacientes com TPB possuem várias flutuações de humor durante um único dia e 
são marcados por perturbação da identidade e dos esforços constantes para evitar um possí-
vel abandono, não sendo características de TDM. 
Transtorno depres-
sivo persistente 
(TDP) 
Compartilha alguns sintomas com TPB, como a disforia crônica, excesso de alimentação e 
a baixa autoestima. Porém apresenta sintomas sustentados rela cionados a sono e energia, 
não presentes no TPB. 
Transtorno de es-
tresse pós-traumático 
(TEPT) 
Compartilha a presença de um evento traumático anterior com o TPB, no entanto, apresenta 
sintomas relacionados à reexperiência do acontecimento traumático, evitação, elevação da 
excitação e entorpecimento, além de ser exacerbado por gatilhos ambientais específicos. O 
TPB não apresenta essas características, sendo marcado por problemas de autoimagem, re -
lações interpessoais características e exacerbação por gatilhos estressores e frustrações ge-
rais ou menosprezos interpessoais percebidos, não existentes no TEPT. 
Transtorno dissocia -
tivo de identidade 
(TDI) 
Apresentaduas ou mais identidades ou estados de personalidade distintos, cada qual com 
seu padrão específico de comportamento. O TPB possui um senso de identidade instável e 
flutuante com variações efêmeras de si, em relação à sua imagem, objetivos e valores. Em -
bora partilhem de distúrbios de identidade, suas apresentações são distintas. 
Transtorno de déficit 
de atenção e hipera -
tividade (TDAH) 
É caracterizado pela presença de desatenção e partilha com o TPB a labilidade afetiva e a 
impulsividade. No entanto, a tendência de automutilação, o medo do abandono ou as rela -
ções interpessoais com alterações de extremos de idealização e desvalorização não são ma -
nifestados no TDAH. 
Fonte: elaborado pelos autores, adaptado de SKODOL et al., 2019; PERROTTA, 2020. 
 
TRATAMENTO 
 
Para os guidelines de alguns países, como 
Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, a 
psicoterapia é o tratamento de escolha para a 
Desordem de Personalidade Borderline (DPB). 
Nesse contexto, esses guias enfatizam que não 
há um tratamento farmacológico específico 
para o distúrbio, uma vez que as drogas que são 
utilizadas, normalmente, têm enfoque em even-
tuais comorbidades ou sintomas pontuais, tais 
quais impulsividade e inquietação severas, an-
siedade e perturbação do sono (DOERING, 
2019). 
Dentre as psicoterapias, cujo grau de evi-
dência está cada vez maior, há cinco tratamen-
tos bem estabelecidos para a condução da DPB, 
que serão explicitados no Quadro 6.4. 
De forma geral, a condução do paciente 
com DPB pode ser iniciada por um médico clí-
nico geral, por meio de método denominado 
Manejo Psiquiátrico Geral (MPG), ou por um 
médico psiquiatra generalista, em uma aborda-
gem denominada Manejo Clínico Estruturado 
(MCE) (CHOI-KAIN et al., 2017). 
O MPG se ocupa de intervenções e hábitos 
que são realizados fora do ambiente de terapia, 
ou seja, o objetivo maior é despertar no paciente 
o foco prioritário em suas próprias vocações, 
 
49 | P á g i n a 
bem como seu papel na sociedade, em vez de 
relacionamentos românticos ou resolução de 
sintomáticos. Além disso, esse método também 
se ocupa da educação em saúde, reforçando o 
que é a doença e como se dá seu prognóstico, o 
que por vezes envolve uma equipe multiscipli-
nar e várias consultas individuais e com a famí-
lia, pois parte do pressuposto que problemas e 
abalos interpessoais desencadeiam uma piora 
do DPB. Já o MCE tem como base um conjunto 
de “consensos de experts”, reunindo o que há 
de melhor, na prática clínica, para o tratamento 
de DPB, o que significa dividir informações 
sobre a doença com o paciente e estabelecer um 
“contrato terapêutico” com o indivíduo. Assim, 
são estabelecidos pontos a serem melhorados e 
a cada consulta são debatidos os avanços e as 
dificuldades do paciente acerca desses aspec-
tos. A comparação entre as duas formas de 
acompanhamento está no Quadro 7.5. 
 
Quadro 6.4 Psicoterapias realizadas e seus respectivos objetivos 
Psicoterapia Objetivo 
Terapia Comportamental Dialética 
Propõe que o indivíduo seja mais eficaz no gerenciamento de suas 
sensibilidades e interações, fazendo com que o indivíduo regule suas 
emoções e tolere melhor o sofrimento. 
Tratamento Baseado na Mentalização 
Utiliza como base a percepção do indivíduo sobre si e sobre os outros para 
que isso não resulte em erros de compreensão que gerem ações que tentem 
dar sentido a sentimentos incompreensíveis. 
Terapia Focada em Esquemas 
Utiliza uma variedade de técnicas cognitivas, comportamentais e 
experiências concentradas na relação terapêutica para gerar mudanças 
estruturais na personalidade do paciente. 
Psicoterapia Focada na Transferência 
Projeta sentimentos sobre pessoas e situações do passado para indivíduos e 
eventos do presente com o intuito de ajudar os pacientes a alcançar formas 
mais equilibradas e coerentes de pensar sobre si e sobre os outros. 
Treinamento de Sistemas para 
Previsibilidade Emocional e Resolução de 
Problemas 
Contempla sessões de grupo com planos de aula detalhados consistindo em 
elementos cognitivo-comportamentais, treino de competências e uma 
componente de sistemas. 
Fonte: Quadro elaborado pelos autores, a partir de CHOI-KAIN et al., 2017. 
Quadro 6.5 Comparação entre Manejo Clínico Estruturado (MCE) X Manejo Psiquiátrico Geral (MPG) 
Ações Manejo Clínico Estruturado (MCE) Manejo Psiquiátrico Geral (MPG) 
Foco Redução de sintomas e reabilitação social do indivíduo 
Fortalecimento interpessoal para a 
vida cotidiana fora da terapia 
Função do mé-
dico 
Acompanhamento do caso, psicoeducação, técnicas de terapia 
dialética de comportamento e de tratamento baseado em 
mentalização 
Flexibilidade, construção da relação 
de confiança, acompanhamento do 
caso, psicoeducação. 
Terapia Individual, em grupo de resolução de problemas, familiar Individual, em grupo, familiar 
Manejo da 
crise 
Tratamento de suporte e resolução de problemas Prevenção 
Medicação 
Conduta conservadora e prescrição para comorbidades as-
sociadas ao DPB 
Conduta conservadora 
Fonte: Quadro elaborado pelos autores, a partir de CHOI-KAIN et al., 2017. 
 
50 | P á g i n a 
Como o DPB é associado a diversas comor-
bidades, é comum que os pacientes utilizem 
medicações para o controle dessas repercus-
sões, cujas principais são outras desordens 
mentais (ex.: depressão), abuso de substâncias, 
ideação e comportamento suicida, ansiedade, 
insônia, entre outras. Dessa forma, as classes 
mais utilizadas são discutidas no Quadro 6.3, 
que relaciona a droga com indicações, meca-
nismo de ação e efeitos adversos (GAR-
TLEHNER et al., 2021; DEL CASALE et al., 
2021). É importante reconhecer que o paciente 
com DPB pode, por vezes, utilizar de 4 a 5 ou 
mais fármacos psicotrópicos (CHOI-KAIN et 
al., 2017), pois é possível que ocorra interação 
medicamentosa com outras drogas e, assim, o 
quadro clínico do paciente se altere, conforme 
o exposto do Quadro 6.6. 
 
Quadro 6.6 Principais classes utilizadas para manejo de comorbidades do DPB 
Antipsicóticos 
Droga Indicações Mecanismo de ação Efeitos adversos* 
Olanzapina 
 
Dose 2,5-5mg/dia: 
- Melhora da raiva intensa; 
- Instabilidade afetiva; 
- Sensação crônica de vazio; 
- Distúrbio de identidade; 
- Impulsividade; 
- Relacionamentos instáveis; 
 
Dose 5-20 mg/dia: 
- Ideação paranoica 
- Dissociação 
- Irritabilidade 
- Comportamentos suicidas 
- Depressão e ansiedade 
Antagonistas dos recep-
tores serotonina 5HT2A 
e dopamina D2 
Sonolência, ganho de 
peso, movimentos in-
controláveis da muscu-
latura facial, suor em 
mãos e pés, leucope-
nia. 
Quetiapina 
Dose 150-300 mg/dia: 
- Raiva Intensa 
- Instabilidade afetiva 
- Sensação crônica de vazio 
- Distúrbio de identidade 
- Esforços constantes para evitar 
abandono 
- Relacionamentos instáveis 
- Ansiedade e depressão 
Antagonistas dos recep-
tores serotonina 5HT2A 
e dopamina D2 
Pode causar sonolên-
cia, ganho de peso, au-
mento dos níveis de 
triglicerídeos em jejum 
e resistência à insulina. 
Haloperidol 
Dose de 1-5 mg/dia: 
- Depressão, raiva, hostilidade e 
impulsividade 
- Algumas características esqui-
zotípicas, ex.: ilusões de ideação 
paranoide e ideias de referência 
Bloqueador do receptor 
D2 da dopamina, redu-
zindo sintomas de psi-
cose e possíveis com-
portamentos agressivos 
e hiperativos 
Pode causar sintomas 
extrapiramidais 
Aripiprazol 
Dose de 5-15 mg/dia: 
- Tratamento de sintomas do 
transtorno obsessivo-compulsivo 
(TOC) 
- Insegurança em relações soci-
ais 
- Depressão, ansiedade, hostili-
Agonista parcial do re-
ceptor D2 da dopamina, 
sendo considerado um 
antipsicótico atípico 
Acatisia, agitação. 
 
51 | P á g i n a 
dade/agressividade 
- Sintomas de fobias 
- Pensamentos paranoides 
Paliperidona 
Uso oral (3-6 mg/dia) ou injeção 
de longa ação (50-150 mg/dia): 
- Raiva 
- Impulsividade 
-Ideação paranoide 
- Sintomas dissociativos 
Antagonistas dos recep-
tores serotonina 5HT2A 
e dopamina D2 
Hiperprolactinemia e 
sintomas extra -pirami-
dais 
Ziprazidona 
Dose 80 mg/dia: 
- Controle da raiva 
- Ideação paranoide 
- Impulsividade 
- Instabilidade emocional (ex-
ceto ansiedade e sintomas de-
pressivos) 
Afinidade com os recep-
tores serotonina 5HT1B 
e 5HT2A e dopamina D2 
(antipsicótico atípico) 
Taquicardia, dispneia, 
sensação de desmaio, 
rash, aumento da glice-
mia sérica. 
Antidepressivos 
Droga Indicações Mecanismo de ação Efeitos adversos 
Fluoxetina 
Dose 20-80 mg/dia: 
- Redução da impulsividade, 
comportamento de autoagressão 
e sensibilidade à rejeição 
- Instabilidade de humor, de-
pressão, ansiedade 
- Sintomas de TOC 
- Impulsividade, incluindo o uso 
de substância e reações exagera -
das 
Melhora a neurotrans-
missão serotoninérgica 
por meio de uma po-
tente e seletiva inibição 
da recaptação de seroto-
nina e 
Insônia, cefaleia, ton-
tura, tremor, perda de 
apetite, boca seca. 
Fluvoxamina 
Dose 50-200 mg/dia: 
- Tratamento de depressão em 
pacientes obesos e TOC, e paci-
entes com bulimia nervosa, que 
pode ser uma comorbidade do 
DPB. 
- Mudança rápida de humor no 
DPB 
Facilita a transmissão 
serotoninérgica por 
meio da inibição potente 
e seletiva da recaptação 
de serotonina nos neurô-
nios pré-sinápticos 
Insônia, ansiedade, vi-
são turva, sentimento 
de extrema infelici-
dade. 
Antiepilépticos 
Droga Indicações Mecanismo de ação Efeitos adversos 
Valproato 
- Irritabilidade, sintomas impul-
sivos e agressivos 
- Sentimento interpessoal de 
raiva/hostilidade 
Bloqueia os canais de 
sódio voltagem-depen-
dentes e aumenta os ní-
veis do ácido gama-ami-
nobutírico (GABA) no 
cérebro 
Disforia, cefaleia, ar-
tralgia, perda de apetite 
etc. 
Lamotrigina 
- Instabilidade afetiva e impulsi-
vidade geral 
- Agressividade, raiva 
Bloqueia os canais de 
sódio voltagem-depen-
dentes 
Cefaleia, tontura , visão 
borrada, tremor, boca 
seca, insônia. 
 
52 | P á g i n a 
Outras opções 
*Ainda não se sabe o papel de algumas drogas no DPB, tais como memantina, naloxona/naltrexona, nalmefene, 
baclofen, clonidina, ocitocina e ômega -3. Estudos que exploram o papel hipotético dessas drogas têm como fator 
comum o uso de pequenas populações e, portanto, seria necessário aumentar o aporte amostral para que os efeitos 
farmacológicos pudessem ser mais abrangentes. 
Fonte: Quadro elaborado pelos autores, a partir de GARTLEHNER et al., 2021; DEL CASALE et al., 2021. 
*Os efeitos adversos são dose-dependentes. 
 
É importante ressaltar que há poucas evi-
dências acerca do tratamento farmacológico do 
DPB. Nesse sentido, a abordagem realizada é 
baseada na oportunidade psicoterapêutica para 
manejar cenários clínicos complicados e even-
tuais comorbidades que o paciente possa apre-
sentar. Dessa forma, inicialmente, o paciente é 
referenciado para a terapia e as medicações, se 
necessárias, são voltadas aos sintomas e às ou-
tras condições clínicas que podem ocorrer si-
multaneamente ao DPB. Dentre as principais 
condições coexistentes que se inserem no ma-
nejo terapêutico estão a ansiedade, o transtorno 
bipolar, a depressão e a psicose (WU et al., 
2022). 
Como é possível que o paciente faça uso de 
várias medicações, é necessária atenção quanto 
às interações medicamentosas. Estas, por sua 
vez, são classificadas em (1) graves, quando 
oferecem risco de vida e requerem intervenção; 
(2) moderadas, quando são capazes de exacer-
bar a condição clínica do paciente e demandam 
a modificação do esquema terapêutico; e (3) le-
ves, quando as interações apenas limitam o 
efeito clínico da terapia (SUNNY et al., 2022). 
No Quadro 6.7 observamos as interações me-
dicamentosas no paciente com distúrbios psi-
quiátricos/DPB. 
 
 
Quadro 6.7 Interações medicamentosas no paciente com distúrbios psiquiátricos/DPB 
Interações Efeitos 
Ziprasidona + Haloperidol Prolongamento do intervalo QT e maior risco de arritmias ventriculares 
Quetiapina + Lamotrigina A exposição à Lamotrigina reduz os níveis séricos de Quetiapina 
Risperidona + Sertralina Prolongamento do intervalo QT e maior risco de arritmias ventriculares 
Risperidona + Fluoxetina 
Fluoxetina causa elevação da concentração sérica de certos neurolépticos 
quando administrados em conjunto. Dessa forma, há maior risco de efeitos 
extrapiramidais adversos. 
Fonte: Quadro elaborado pelos autores, a partir do trabalho de GUO et al., 2012; ALVAREZ & PAHISSA, 2010. 
 
Para além das interações medicamentosas, 
ressalta-se que a escolha adequada dos fárma-
cos a serem utilizados pelo paciente deve ser in-
dividualizada e efetiva, visto que algumas op-
ções estão relacionadas ao ganho de peso, o que 
pode contribuir para maior labilidade emocio-
nal, baixa autoestima e estresse (SILK, 2011). 
A exemplo dessa situação, antipsicóticos de se-
gunda geração, tais como Olanzapina, estão as-
sociados a efeitos metabólicos, como ganho de 
peso, diabetes mellitus e dislipidemia. En-
quanto isso, antipsicóticos de primeira geração 
 
53 | P á g i n a 
estão mais relacionados a sintomas de parkin-
sonismo e discinesia (GUO et al., 2012), o que 
reforça a premissa de que o tratamento deve ser 
direcionado e avaliado quanto aos riscos e be-
nefícios para cada paciente. 
 
PROBLEMAS SOCIAIS DOS PA-CI-
ENTES COM BIPOLARIDADE OU 
TRANSTORNO DO HUMOR BIPO-
LAR 
 
No dia a dia da atuação do assistente social 
é possível observar através das visitas domicili-
ares e atendimentos nos leitos dos pacientes que 
a questão social interfere na eficácia do trata-
mento, visto que na maioria das vezes a falta de 
conhecimento e esclarecimento acerca do diag-
nóstico acarreta a não aceitação da doença e faz 
com que o paciente e familiares não busquem 
tratamento, pois desacreditam que há trata-
mento para o referido diagnóstico, se fazendo 
necessário a intervenção de profissionais. Há 
casos em que mesmo fazendo o tratamento, o 
paciente e familiares desistem em virtude das 
dificuldades encontradas no Sistema Único de 
Saúde, como por exemplo a demora na marca-
ção e realização das terapias. 
É fundamental que pacientes com bipolari-
dade ou transtorno do humor bipolar tenham 
apoio da rede familiar, e que tanto o paciente 
quanto a família aceitem o diagnóstico e seja re-
alizado o tratamento adequado para que o paci-
ente possa ter uma melhor qualidade de vida. 
O Assistente Social passa a ter papel funda-
mental quando a enfermidade é identificada pe-
los profissionais com emissão de laudo cons-
tando CID, passando a orientar ao paciente e fa-
miliares dos direitos e deveres, inclusive da 
possibilidade do direito de um benefício, auxí-
lio-doença ou até mesmo aposentadoria por in-
validez, orientando que nos casos que este be-
nefício for concedido deverá ser utilizado para 
fins da saúde do paciente. Assim, torna-se ne-
cessário também, esclarecer o Art. 196. Da 
Constituição Federal que rege: A saúde é direito 
de todos e dever do Estado, garantido mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à re-
dução do risco de doença e de outros agravos e 
ao acesso universal e igualitário às ações e ser-
viços para sua promoção, proteção e recupera-
ção. 
 
PROGNÓSTICO 
 
O primeiro estudo prospectivo de acompa-
nhamento, em larga escala, do TPB foi o 
McLean Study of Adult Development (MSAD), 
que começou em 1992 e permanece em anda-
mento (ZANARINI et al., 2005). Neste estudo, 
290 pacientes com TPB e um grupo controle 
com 72 pacientes com outros transtornos de 
personalidade, foram recrutados em unidades 
de internação no McLean Hospital. Utilizando 
uma escala de avaliação global, os pesquisado-
res do MSAD definiram a obtenção de 61 pon-
tos como “boa recuperação”. Pode ser obser-
vado que os pacientes com TPB apresentaramuma remissão mais lenta de seu distúrbio pri-
mário do que os pacientes pertencentes ao 
grupo controle. Após 10 anos de segmento, 
50% dos pacientes com TPB apresentaram a re-
missão dos sintomas e após 16 anos de seg-
mento, 60% dos pacientes com TPB alcança-
ram esse resultado (ZANARINI et al., 2010). 
Posteriormente, os pesquisadores realizaram 
uma análise mais rigorosa de “excelente recu-
peração”, definida como uma pontuação 71 na 
escala de avaliação global, associada ao cum-
primento de todos os critérios de boa recupera-
ção mais a ausência de um distúrbio comórbido 
que interferisse na funcionalidade do paciente 
com TPB. Verificou-se que apenas 39% dos pa-
cientes com TPB (em comparação com 73% 
dos pacientes controle) alcançaram a remissão 
 
54 | P á g i n a 
dos sintomas em 20 anos de acompanhamento 
(ZANARINI et al., 2018). 
O curso do TPB sugere uma apresentação 
heterogênea e tem a possibilidade de remissão 
do transtorno, definida pelo não preenchimento 
dos critérios de diagnóstico para TPB, por um 
período mínimo de dois anos consecutivos 
(SKODOL et al., 2007). As taxas de remissão 
do TPB podem variar com a idade do diagnós-
tico, a adesão ao tratamento proposto, a manu-
tenção de uma rede de apoio à pessoa com TPB 
e diversos fatores. 
Após o controle da gravidade, preditores 
como a idade mais jovem; ausência de história 
de abuso sexual na infância; ausência de histó-
ria familiar de abuso de substâncias (álcool e/ou 
drogas); ausência de transtornos de personali-
dade do grupo ansioso; baixo neuroticismo, alta 
socialização e um bom histórico vocacional são 
variáveis que predizem significativamente o 
tempo mais precoce para a remissão do TPB 
(ZANARINI et al., 2006). 
O prognóstico é melhor em pacientes cujas 
histórias incluem experiências positivas de rea-
lização e relacionamentos interpessoais durante 
a infância ou adolescência. Quanto maior o nú-
mero de experiências positivas e quanto maior 
o período de desenvolvimento que elas atraves-
saram, melhor o prognóstico, sendo significati-
vamente associado à remissão do transtorno 
(SKODOL et al., 2007). 
Uma história escolar ou ocupacional está-
vel, um temperamento com maior nível de agra-
dabilidade são fortes preditores do tempo para 
remissão. O neuroticismo, embora seja um as-
pecto da personalidade normal, também é uma 
compilação de estados sintomáticos do TPB, 
como raiva, ansiedade e depressão. Claramente, 
os pacientes com TPB que são sobrecarregados 
com um grau mais alto desses estados ou traços 
teriam mais dificuldade em fazer progresso sin-
tomático. Pacientes com personalidade mais 
extrovertida ou agradável podem ter mais faci-
lidade em conseguir que outras pessoas os 
apoiem e auxiliem emocionalmente. Isso, por 
sua vez, pode ser crucial para o processo de me-
lhora sintomática, pois pode amenizar as preo-
cupações de abandono à medida que o pro-
gresso está sendo feito (ZANARINI et al., 
2006). 
O tratamento precoce projetado para pro-
mover forças e competências pessoais e desen-
volver habilidades interpessoais pode benefi-
ciar pacientes jovens diagnosticados com trans-
tornos de personalidade (SKODOL et al., 
2007). 
As recorrências do TPB são relativamente 
raras, variando de 36% após uma remissão de 
dois anos a 10% após uma remissão de oito 
anos. As taxas de perda de recuperação após 
uma recuperação de dois anos são de 44% para 
pacientes TPB e, após uma recuperação de oito 
anos, são de 20%. O comprometimento vocaci-
onal é a principal razão pela qual os pacientes 
falham em atingir e/ou manter a recuperação do 
TPB. Para alguns pacientes, o estresse relacio-
nado às atividades ocupacionais pode levar a 
um surto de impulsos suicidas ou episódios de 
automutilação. Desse modo, esses pacientes de-
vem tentar trabalhar apenas quando a maioria 
de seus sintomas mais graves estejam total-
mente resolvidos (ZANARINI et al., 2012; TE-
MES & ZANARINI, 2018). 
Alguns pacientes serão capazes de alcançar 
um bom ajuste vocacional e recuperação geral 
com o mínimo de apoio daqueles de quem são 
próximos. Outros, porém, conseguirão essa 
adaptação com muito apoio e esforço pessoal. 
E ainda outros simplesmente não podem ou não 
trabalharão de forma consistente e/ou compe-
tente e, portanto, não atingirão essa definição 
multifacetada de recuperação. Eles também 
precisarão de apoio para suportar o sentimento 
de vergonha e o desapontamento decorrentes de 
não conseguirem alcançar a vida que um dia so-
nharam e planejaram (ZANARINI et al., 2012). 
 
55 | P á g i n a 
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