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1 Síndrome de Felty e Neurorradiologia Introdução A paciente do presente caso disparador queixa-se de dores articulares (mãos, punhos e pés), associado a rigidez matinal. A partir do exame físico, constataram-se alterações articulares e, na região do abdome, o baço estava palpável (esplenomegalia). Após a realização do hemograma, confirmou-se a leucopenia (principalmente às custas de neutropenia), completando a clássica tríade da Síndrome de Felty. Frente a esses achados, foram solicitados exames laboratoriais (provas inflamatórias) e US de abdome total com a finalidade de dimensionar o tamanho do baço – exame de escolha inicial para avaliar visceromegalias. Além disso, o RX simples foi solicitado para avaliar as alterações articulares. Achados Radiológicos das Mãos na AR – RX simples não é critério diagnóstico, mas avaliar o comprometimento articular ● Sinal da Gaivota ● Desvio Ulnar dos Dedos ● Subluxação das articulações metacarpofalangeanas ● Redução ou Perda do Espaço Articular ● Anquilose óssea: quando os ossos fundem-se entre si ● Tumefação das articulações interfalangeanas ● Sinais de osteopenia periarticular: redução da densidade óssea periarticular ● Cistos subcondrais e erosões ● Dedo em pescoço de cisne Laudo: sinais de osteoartropatia destrutiva e generalizada de mãos, punhos e pés – nos pés os achados são os mesmos, porém mais discretos. Achados Ultrassonográficos do Baço na Esplenomegalia – quantificação da esplenomegalia e avaliação do aspecto morfológico do baço (calcificações, nódulos, etc) TC e RM são feitas somente em casos de nódulos esplênicos e cistos. O US é feito no hipocôndrio esquerdo com o paciente em decúbito dorsal: a manobra pode ser feita subcostal, intercostal, entre outras técnicas. Em relação ao aspecto biométrico, o mais usado e mais prático é o comprimento longitudinal do baço: para adultos, o tamanho máximo é de 12 centímetros e para homens longilíneos de 14,5 centímetros. Lembre-se: o baço é um órgão intraperitoneal: líquido livre intraperitoneal leva a ascite, hemoperitônio (por trauma esplênico); rins, aorta, veia cava inferior são retroperitoneais. Aspecto morfológico O baço repleto de “pontinhos brancos” é comumente associado a granulomas. Esplenomegalia associados a nódulos podem ser avaliados pela RM, sendo que um diagnóstico diferencial nesse caso é de linfoma. 2 Neurorradiologia Lobos O lobo da ínsula é profundo e observado ao afastar o sulco lateral (de Sylvius). 3 Núcleos da Base São estruturas atreladas às diversas vias de condução sináptica. No esquema acima é possível observar a divisão entre substância cinzenta (periférica, mais escura) – onde predominam os corpos neuronais – e substância branca (central, mais clara) – onde predominam os axônios, ricos em mielina, uma estrutura formada por lipoproteínas, garantindo a cor esbranquiçada dessa região. 4 As meninges Como visto no esquema acima, a ordem das meninges é, de externa para interna, dura-máter, aracnóide e pia-máter (DAP). Na TC de crânio são feitos diversos cortes finos da base do crânio – onde começa o seio frontal – até a região occipital, na transição craniocervical. As imagens são geradas no corte axial (divide a parte de cima da parte de baixo): Na região anterior e medial, observa-se o septo nasal e, lateralmente, os seios maxilares com seu interior preto (cheios de ar). As partes brancas representam os ossos e as partes cinzas posteriores, o parênquima cerebral. 5 Centralmente, o mesencéfalo. A porção escura em volta é o líquor cefalorraquidiano – presente no espaço subaracnóideo, no sistema ventricular (3º e 4º ventrículos, assim como ventrículos laterais) e nas cisternas que são as eventrações da aracnóide que entram nos espaços cerebrais. A estrutura poligonal anteriormente é o polígono de Willis, de onde saem os grandes vasos (artéria cerebral média, anterior, etc). 6 Essa linha mais esbranquiçada é a saída da artéria cerebral média, estrutura de grande importância quando se trata de um AVC hiperagudo: nesse quadro, o sinal mais precoce é o aumento da densidade da artéria cerebral média. Cornos frontais e occipitais dos ventrículos laterais. 7 Nessa imagem é possível observar a transição da substância cinzenta e da substância branca, que na TC são mais claras e mais escuras, respectivamente. Observe que na substância cinzenta os sulcos são mais acentuados, um dado que pode ajudar na sua diferenciação. É importante enxergar essa diferenciação, uma vez que algumas condições apagam a interface a substância branca e cinzenta. Traumatismo cranioencefálico (TCE) Consequência comum de acidentes automobilísticos, quedas de altura, agressão física e esportes. Compreende toda e qualquer lesão craniana desde o couro cabeludo até o parênquima cerebral. A indicação do exame de imagem vai depender da escala de coma de Glasgow, que pode ser leve, moderada ou grave. Caso o Glasgow seja moderado ou grave (menor que 13), o exame de imagem com TC é obrigatório – caso não seja disponível no serviço, encaminhar o paciente para outro serviço. Em casos leves, o paciente deve ser mantido em observação. Indicações de TC na TCE ● Todos com TCE moderada ou grave (Glasgow) ● Pacientes com TCE leve (≥14) e alteração neurológica: ○ Confusão mental ○ Perda de consciência >2 minutos ○ Amnésia ○ Sinais focais (parestesia, paresia, etc) ○ Pupilas isocóricas ○ Convulsões pós traumáticas ○ Intoxicação por álcool, drogas ou outros depressores centrais ○ História de coagulopatia 8 Hematoma subgaleal A gálea aponeurótica é uma membrana que reveste a parte óssea da calota. Frente a contusões, a coleção de sangue pode ficar externa à calota craniana e inferior à pele. Fraturas Existe uma janela específica na TC para melhor visualização dos ossos, a janela óssea (ou janela aberta, que possui baixo contraste). Toda fratura é uma solução de continuidade nos ossos. 9 Pneumoencéfalo Condição onde uma quantidade de gás entra no parênquima cerebral, isto é, invade a calota craniana. A causa mais comum do pneumoencéfalo é a fratura de um dos seios paranasais; também pode acontecer por solução de continuidade que permita a entrada de bolhas de ar. Hemorragias Extra-Axiais São as condições mais graves, que recebem esse nome pois estão localizadas nos espaços meníngeos. As hemorragias intra-axiais acontecem dentro do parênquima cerebral. Dentro das hemorragias extra-axiais há outras classificações – nas TCs, tudo que é espontaneamente branco é sangramento até que se prove o contrário. ● Hemorragia epidural Quando há coleção sanguínea acima da dura-máter, diz-se hemorragia epidural. Sua origem é sempre arterial, mais especificamente da artéria meníngea média. A transição da substância cinzenta e branca preservada é um sinal que não há edema cerebral. O sangramento epidural não ultrapassa a linha média. A hemorragia epidural apresenta o intervalo lúcido até o coma em 50% dos casos: período de tempo em que um paciente com traumatismo cranioencefálico (TCE) apresenta-se consciente/orientado, antes de sofrer uma deterioração neurológica repentina subsequente. 10 Justificar o pedido da tomografia de crânio na TCE O paciente chegou com bom nível de consciência, mas rebaixou/apresentou Glasgow leve, mas com alterações neurológicas associadas. Descreva a imagem da hemorragia epidural Imagem espontaneamente hiperdensa em formato de lente biconvexa, acompanhando a tábua óssea interna da calota craniana. Por que a hemorragia epidural não ultrapassa a linha média? O sangramento epidural não atravessa a linha média devido à sua localização em relação à fonte de sangramento na artéria meníngea média e à anatomia da dura-máter, que impede o sangue de se espalhar para o outro lado do cérebro. Lembre-se que a dura-máter envolve a porção central de cada metade cerebral, existindo uma barreira física entre os dois lados. ● Hemorragia subdural Quando há coleção sanguínea abaixo da dura-máter, diz-se hemorragia subdural. A hemorragia subdural“escorre” mais pelas periferias da calota craniana, descrito como aspecto lenticular – ou em meia lua. É mais incidente que a hemorragia epidural e mais fatal; normalmente o paciente é admitido já com baixo escore na escala de Glasgow que o paciente com hemorragia epidural. O sangramento subdural é sempre de origem venosa, ultrapassando a linha média. Esse paciente é mais grave, uma vez que desvia intensamente a linha média cerebral contralateralmente (observe a posição dos ventrículos laterais): efeito de massa. Essa condição cria um grande aumento da pressão intracraniana. 11 Tempo de Evolução das Hemorragias Na fase aguda, inicia-se espontaneamente hiperdenso e conforme evolui (se não for drenado), o sangue começa a ser reabsorvido e a imagem torna-se isodensa (densidade semelhante ao parênquima) na fase subaguda. Em fases crônicas, a densidade torna-se semelhante à densidade do líquor, isto é, hipodenso. Devido a reabsorção, o efeito de massa também tende a diminuir conforme o tempo passa. ● Hemorragia subaracnóide (HSA) Quando há coleção sanguínea abaixo da aracnóide, diz-se hemorragia subaracnóide. Na hemorragia subaracnóide, o sangue se encontra entre os sulcos e giros corticais ou mesmo nas cisternas. A imagem é espontaneamente hiperdensa, alongada e com aspecto serpingiforme – um padrão sinuoso ou em zigue-zague. Pode acontecer tanto por lesões arteriais (principalmente) quanto venosas. Pode estar bastante associada a ruptura de aneurismas. Eventualmente o sangramento atingir os ventrículos (hemoventrículo): 12 Hemoventrículo Hemorragias intraparenquimatosas (contusões cerebrais) Nessas condições, onde a hemorragia é no parênquima, a localização do sangramento não é muito nítida. É importante notar um diferencial: em volta das hemorragias existem halos hipodensos, representando o edema gerado nessas lesões. Subdural Epidural Intraparenquimatosa Apresenta grande efeito de massa Associada a hematoma subgaleal Associada a subaracnóidea (?) 13 Lesão axonal difusa (LAD) É uma das consequências mais graves do TCE, correspondendo a cerca de 50% dos casos e pode chegar a 60% de mortalidade. O mecanismo da lesão é a aceleração/desaceleração das fibras axonais, muito comum nos pilotos de fórmula 1 e acidentes automobilísticos de forma geral; também pode acontecer na síndrome do bebê sacudido. Em outras palavras, o mecanismo de lesão é a “sacudida” que a cabeça sofre. Além do rompimento das fibras axonais, pequenos vasos localizados entre a interface cinzenta/branca são perfurados, podendo apresentar sinais de hemorragia (hiperdensidade espontânea). É mais grave porque pode acontecer em todo o cérebro e também rompe os axônios, prejudicando toda a condução nervosa. Achados da LAD ● Sinais de edema cerebral difuso ● Microfocos de hemorragia puntiforme na transição branca-cinzenta ● Para olhos destreinados, a TC pode parecer “normal” Como identificar edema cerebral difuso? Acontece o apagamento dos sulcos e giros, assim como o apagamento da transição branca-cinzenta. Sabe-se que além desses achados, na imagem acima o lado direito apresenta-se “pior”, uma vez que o ventrículo lateral direito está comprimido. 14 Microfocos de hemorragia puntiforme na transição branca-cinzenta. Diferente das hemorragias intraparenquimatosas, não há presença de halo hipodenso em volta das áreas hemorrágicas.