Prévia do material em texto
Trauma do sistema nervoso central Na avaliação inicial de um paciente vítima de TCE, é imprescindível esclarecer se há lesão traumática intracraniana e qual é a natureza da lesão porventura existente para definir se o tratamento será clínico ou cirúrgico. A Escala de Coma de Glasgow (ECG) é o indicador clínico mais utilizado para se mensurar a gravidade do TCE; entretanto, é um método inespecífico, uma vez que pacientes igualmente apresentando baixos escores nessa escala podem ter diferentes tipos de lesão traumática intracraniana e, portanto, prognósticos e tratamentos diferentes. • Radiografia simples Não é capaz de excluir lesão intracraniana. • Tomografia computadorizada É o método por imagem mais adequado no atendimento inicial ao paciente vítima de TCE, pois, quando comparada à RM, é mais disponível, tem menor custo, é mais sensível à caracterização de fraturas cranianas e detecta hemorragias agudas com alta sensibilidade, permitindo rapidamente a identificação de lesões potencialmente fatais que necessitem de tratamento cirúrgico imediato. • Ressonância magnética Permite excelente definição das estruturas encefálicas, muito superior em relação à TC, gerando imagens multiplanares, sendo um método mais sensível do que a TC para a detecção de lesões intracranianas, especialmente aquelas não hemorrágicas, hemorrágicas de pequeno volume ou de localização profunda ou infratentorial. Porém, a RM tem algumas restrições que impossibilitam sua larga utilização no atendimento inicial à vítima de TCE; entre elas: alto custo, menor disponibilidade, maior tempo de execução do exame e elevado campo magnético. ➔ Indicações Perda da consciência ou amnésia, ECG menor que 15, déficit neurológico focal, suspeita de intoxicação, trauma craniano visível, extremos de faixa etária e história de coagulopatias. • Classificação do trauma As lesões causadas por TCE podem ser classificadas de duas formas principais: lesões focais e difusas ou lesões primárias e secundárias. As lesões traumáticas primárias são originadas diretamente do evento traumático inicial: neste grupo se incluem as lesões do couro cabeludo, as fraturas cranianas e vários tipos de lesões intracranianas. As lesões traumáticas secundárias são danos que ocorrem em consequência das reações fisiológicas regionais ou sistêmicas em resposta ao trauma inicial. Neste grupo se incluem edema, herniação e infarto cerebral, hemorragia secundária. • Lesão traumáticas primarias Fraturas cranianas e lesões superficiais extracranianas Lesões dos planos superficiais extracranianos estão presentes na grande maioria dos traumatismos cranianos. Na TC, observa-se aumento volumétrico e densificação da gordura do subcutâneo, indicando sinais de contusão dos tecidos superficiais. Esses achados podem ser superponíveis aos de infeções dos tecidos superficiais e a correlação com a história clínica é fundamental • Trauma cranioencefálico penetrante Entre os ferimentos cranioencefálicos penetrantes, o mais prevalente é o PAF, sendo uma das mais importantes causas de óbito ou de sequelas permanentes nos pacientes vítimas de TCE. A gravidade desse ferimento depende do tipo de projétil • Hemorragias extra-axiais traumáticas Há quatro tipos básicos de hemorragia extra- axial traumática: • hematoma extradural ( Epidural ) • hematoma subdural • hemorragia subaracnoide • hemorragia intraventricular. ➔ Hematoma extradural Hematoma extradural (HED) é uma coleção hemorrágica localizada entre a tábua interna da calota craniana e a dura-máter, no espaço extradural. A maioria dos HED (85 a 95%) tem sua origem a partir de uma fratura craniana lacerando ramos arteriais meníngeos ou seios venosos durais. Classicamente, o HED apresenta-se à TC como uma coleção extra-axial que afasta o córtex da tábua interna da calota craniana, tendo formato de uma lente biconvexa homogeneamente hiperatenuante. ➔ Hematoma subdural O hematoma subdural (HSD) localiza-se no espaço subdural, em geral ao longo das convexidades corticais, da foice cerebral ou da tenda cerebelar, frequentemente causando acentuados desvios das estruturas encefálicas da linha mediana e herniações cerebrais. O HSD agudo classicamente apresenta-se à TC como uma coleção hiperatenuante de morfologia semelhante a uma lente côncavo- convexa, com sua face côncava amoldando- se geralmente à convexidade cortical. Cerca de 40% dos HSD apresentam valores de atenuação heterogêneos, com áreas hiperatenuantes e hipoatenuantes mescladas, representando sangue não coagulado, diferentes fases do desenvolvimento do coágulo ou liquor proveniente de uma laceração aracnoide. Os HSD isoatenuantes, por terem a mesma atenuação que o parênquima encefálico são de difícil visualização. Os HSD crônicos estáveis classicamente apresentam-se como uma coleção hipoatenuante homogênea à TC. • Tem outras imagens • Agudo/ sub agudo • Sub agudo ➔ Hemorragia subaracnoide traumática Hemorragia subaracnoide traumática consiste em extravasamento de sangue ao espaço subaracnoide em decorrência de laceração de artérias ou veias corticais que cursam por este espaço, ou por extensão de hemorragia proveniente de contusões corticais. Está presente na maioria dos casos de TCE moderados ou graves e classicamente localiza-se na cisterna interpeduncular ou silviana, podendo ocorrer em qualquer região do espaço subaracnoide. Na TC é identificada como conteúdo hiperatenuante preenchendo as cisternas e os sulcos corticais. Em A nota-se hiperdensidade na cisterna suprasselar (seta preta), fissura inter- hemisférica (seta branca maior), cisterna cerebelopontina (cabeça de seta preta) e fissura sylviana (seta branca menor). Observa-se, ainda, hidrocefalia secundária no ventrículo lateral (cabeça de seta branca. Em B visualiza-se hiperdensidade moderada nos espaços suprasselares (seta menor) e cisternas perimesencefálicas (seta maior). ➔ Lesão axonal traumática A lesão axonal traumática (LAT) foi introduzida nos últimos 20 anos como uma entidade clinicopatológica, geralmente associada a trauma grave. Clinicamente, esse tipo de lesão é definido pelo coma pós- traumático que se inicia logo após o trauma e perdura por mais de 6 horas, sem alterações parenquimatosas evidentes demonstráveis pelos métodos de imagem. Embora a TC seja o método de escolha para o diagnóstico da maior parte das lesões traumáticas, no cenário da LAT, a RM apresenta uma sensibilidade muito maior para a detecção das discretas lesões parenquimatosas. As características típicas da LAT são: ■ São pequenas lesões, ovais ou elípticas. ■ Medem entre 5 e 15 mm. ■ Geralmente são hipoatenuantes na TC e/ou com hipersinal em T2 / FLAIR (se não tiverem hemorragia associada). ■ Podem estar associadas a hemorragia puntiforme, nesses casos variando sua atenuação/seu sinal de acordo com a fase de degradação da hemoglobina e apresentando hipossinal nas sequências de suscetibilidade magnética. ■ Podem apresentar restrição difusional (se tiverem edema citotóxico associado) localizada mais frequentemente na transição corticossubcortical lobar, no corpo caloso (principalmente no esplênio) e na região dorsolateral do mesencéfalo. ■ Geralmente são menores nas regiões mais periféricas e maiores nas regiões mais profundas. LAT com hematoma LAT sem hemorragia➔ Contusões corticais São o segundo tipo mais frequente de lesão traumática intra-axial, ocorrendo em até 43% dos traumas cranianos fechados. É uma alteração estrutural caracterizada por ruptura do parênquima e lesões necro-hemorrágicas que acometem a substância cinzenta cortical, podendo ou não se estender à substância branca subjacente, dependendo da intensidade do trauma. É causada predominantemente por forças de aceleração / desaceleração. O aspecto de imagem da contusão varia de acordo com a existência apenas de lesão necrótica, ou a coexistência de lesão necrótica com hemorrágica, esta última podendo variar desde pequenos focos hemorrágicos petequiais até extensas áreas hemorrágicas confluentes. Mostram-se como áreas corticais de limites imprecisos, hipoatenuantes na TC e com hipersinal em T2/ FLAIR, se não estiverem associados a componente não hemorrágico. Na fase aguda, determinam efeito tumefativo, com apagamento dos sulcos regionais. No caso de componente hemorrágico agudo associado, observam-se focos hiperatenuantes na TC de permeio, que podem não se apresentar imediatamente, mas surgir no controle evolutivo. • Nos lobos frontais, principalmente à D, áreas de hemorragia (hiperdensas) e edema (hipodensas), correspondendo a contusões. Outro foco hemorrágico no cerebelo, comprometendo o lóbulo semilunar superior E (1º. corte), provavelmente corresponde a lesão de contragolpe. ➔ Lesões traumáticas secundarias As lesões traumáticas secundárias são danos que ocorrem em consequência de reações fisiológicas regionais ou sistêmicas em resposta ao trauma inicial. Nesse grupo se incluem edema, herniação, isquemia e infarto cerebrais, hemorragia secundária, infecção e hidrocefalia. ➔ Herniação cerebral E o deslocamento de uma estrutura encefálica, resultante de um efeito de massa, do seu compartimento original para outro espaço adjacente. Há vários tipos de herniações, a saber: ■ Subfalcina; ■ Transtentorial descendente ou uncal; ■ Transtentorial ascendente; ■ Transtentorial central ou diencefálica; ■ Tonsilar; ■ Transalar ou transesfenoidal; ■ Herniação extracraniana; As herniações mais comuns são a subfalcina e a transtentorial descendente. A herniação subfalcina pode ser anterior ou posterior, sendo caracterizada pelo deslocamento do giro do cíngulo (anterior ou posterior) por baixo da margem livre da foice cerebral. A herniação transtentorial descendente, também denominada herniação uncal, é caracterizada pelo deslocamento medial do uncus e do giro para-hipocampal sobre a incisura da tenda cerebelar. Os sinais que podem ser observados na TC e RM são: Desvio medial do corno temporal do ventrículo lateral. ■ Obliteração da cisterna suprasselar. ■ Alargamento da cisterna perimesencefálica. ■ Compressão do pedúnculo cerebral contralateral contra a borda livre do tentório. ■ Compressão e deslocamento contralateral dos corpos mamilares.