Prévia do material em texto
ICT ERÍC IA NEONATALICT ERÍC IA NEONATAL @ S T U D Y P E D I A T R I A P E D I A T R I A Icterícia NeonatalIcterícia Neonatal Definição N E O N A T O L O G I A Sua excreção ocorre quando a bilirrubina é transportada por meio da bile, pelas vias biliares, para o intestino (duodeno) e é desconjugada pela ação das glicuronidases bacterianas para formar o urobilinogênio, que é excretado nas fezes. Outra parte é eliminada pela urina e outra volta para o fígado pelo sistema porta, encerrando o ciclo entero- hepático da bilirrubina. Fisiopatologia Captação Armazenamento Conjugação Secreção Hepática O metabolismo da bilirrubina é divido em: A bilirrubina é um produto da degradação do grupamento heme, que deriva da hemoglobina. Com a ruptura das hemácias e liberação dela, esta é captada por macrófagos que a transformam em biliverdina. A biliverdina é convertida em bilirrubina livre pela enzima biliverdina redutase. Este processo de captação e conjugação não está plenamente desenvolvido nos primeiros dias de vida. Mas para ser transportada no plasma, a bilirrubina livre liga-se à albumina, sendo chamada também de bilirrubina não conjugada ou indireta (BI). Ao chegar no fígado, ela é captada → chega aos hepatócitos → liga-se a uma proteína (ligandina) → formando então a bilirrubina direta (BD) ou conjugada, no retículo endoplasmático. No RN a falha está na captação e na conjugação. O QUE CONTRIBUIU ? Isso é devido a imaturidade da ação das ligandinas e também da UDP glicuroniltransferase. Outro fator que contribui para a maior quantidade de BI no neonato é o aumento da circulação enterro-hepática decorrente de um intestino estéril, ou seja, menor quantidade de glicuronidases bacterianas e também, devido a maior quantidade de beta-glicuronidase presente no leite materno. RN com PN de 2.000 a 2.500 g e/ou IG entre 35 e 38 semanas apresentam risco aumentado de hiperbilirrubinemia. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA HIPERBILIRRUBINEMIA Menor meia-vida dos eritrócitos; Redução da conjugação pelos hepatócitos; Aumento da produção da bilirrubina - O RN produz 2 a 3 vezes + bilirrubina do que o adulto Trato Gastrointestinal estéril; Maior quantidade de glicuronidase no leite; Aumento da carga de bilirrubina para ser metabolizada pelo fígado: como nas anemias hemolíticas e na policitemia, clampeamento tardio do cordão umbilical, presença de céfalo-hematoma e infecção; Meningite, asfixia e prematuridade = fragilizam a BHE, fazendo com que a bilirrubina indireta tenha mais chance de entrar no SNC (núcleos base: kernicterus); Os RN apresentam tal sinal clínico na primeira semana de vida. É definida pelo aumento da concentração sérica da bilirrubina indireta (BI) > 1,3-1,5mg/dL ou bilirrubina direta (BD) > 1,5mg/dL desde que tal valor seja mais que 10% da bilirrubina total (BT). A hiperbilirrubinemia indireta é mais frequente, atinge cerca de 98% dos RN e apresentam níveis séricos de BI > 1mg/dL. Neurotóxica: A bilirrubina é lipossolúvel e pode chegar facilmente atravessando a BHE → lesa o tecido cerebral → quadro de encefalopatia bilirrubínica (complicação grave denominada kernicterus) Expressa como coloração amarelada quando os níveis de BI ultrapassa 5 a 7 mg/dL. RESUMINDO Bilirrubina Direta Estercobilina Urobilinogênio BI 6 BI 9 BI 12 BI 15 BI 18 + 3 @ S T U D Y P E D I A T R I A 1. Formação da BI nas células do retículo endotelial; 2. Transporte da BI pelo plasma, ligada à albumina; 3. Captação da BI pelo hepatócito; 4.Conversão da bilirrubina não conjugada em conjugada, no hepatócito; 5. Transporte da bilirrubina conjugada pela membrana biliar 6. Fluxo da bilirrubina pelo sistema biliar até o intestino ✓ A alteração em qualquer um destes passos pode ocasionar icterícia ICTERÍCIA FISIOLÓGICA Frequente em RN prematuros; Regride espontaneamente; Surge nas primeiras 24-36 horas de vida; Pico entre: 2º a 4º dias de vida; Velocidade hemólise – BI < 0,5 mg/dl/h em 24horas; Níveis séricos de bilirubina ↑ numa taxa maior do que 5 mg/kg/dia; Níveis séricos de bilirrubina < 13 mg/dl em um RN a termo ou 14 mg/dl em um RN pré-termo; ICTERÍCIA PATOLÓGICA Causas: maior volume de hemácias circulantes, com vida média + curta; eritrócitos com menor tempo de sobrevida, sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito: maior turnover das proteínas heme, aumento da circulação entero-hepática, menor captação de bilirrubina no fígado, menor conjugação de BI por redução da atividade da UDPG-T e menor excreção hepática de bilirrubina. IG < 37 semanas Aparecimento nas primeiras 24h de vida; BT > 13 BI acima de 0,5 mg/dL/h em 24horas; Pico: 5º a 7º dias de vida; Duração: além de 14 dias; BD acima de 2 mg/dL; Sintomas: vômitos, letargia, perda de peso, apneia e distermia; Risco: encefalopatia bilirrubínica AVALIAÇÃO CLÍNICA ZONAS DE KRAMER Zona 1 → cabeça e pescoço (BT 4 a 8 mg/dl); Zona 2 → Tronco até umbigo (BT 5 até 12 mg/dl); Zona 3 → Hipogástrio até joelhos (BT 6 a 16 mg/dl); Zona 4 → Mãos e pés (BT 11 a 18 mg/dl); Zona 5 → Palmas e plantas do pé (BT > 15 mg/dl); Face = média 6 mg/dL Atinge metade do abdome = média 12 mg/dL Pés = média 18 mg/dL ↑ B.D ❖ Coleta do sangue do RN: Pode-se prever quais RN têm risco de desenvolver valores elevados na 1ª semana de vida. Nomograma de Buthani, foi construído baseados nos percentis 40, 75 e 95 com os valores de BT séricas colhidas do RN. O Coombs é o teste sanguíneo que encontra anticorpos que estão sensibilizando os eritrócitos. POSITIVO -> não dita uma icterícia fisiológica e sim de um processo hemolítico, se for + aglutina O Coombs indireto permite analisar se há anticorpos anti-D no plasma materno, enquanto o Coombs direto avalia a presença ou não de anticorpos maternos anti-D nas hemácias do neonato. Qualquer RN ictérico com IG ≥ 35 semanas é necessário determinar o risco (mínimo, intermediário ou maior) de desenvolver hiperbilirrubinemia, ou seja, BT > 25mg/dL. Esta avaliação deve ser feita antes da alta na maternidade, com período máximo de 72h. RN ≥35 semanas e peso ao nascer ≥2.000 g. @ S T U D Y P E D I A T R I A DIAGNÓSTICO Bilirrubinas totais e frações - BI e BD; Hemograma: dosagem de Hb, Ht -> hemólise (?) Contagem de reticulócitos; Tipo sanguíneo RN + mãe ; Rh RN + mãe; Teste de Coombs direto + indireto (mãe); Esfregaço de sangue periférico; Dosa ❖ Investigação da hiperbilirrubinemia: p95 - sempre tratar p75 - tratar, se fator de risco p40 - não tratar AVALIAÇÃO DA BILIRRUBINA TRANSCUTÂNEA (BILICHECK) Realizado de preferência no esterno; Os aparelhos utilizados apresentam coeficiente elevado de correlação (0,91 a 0,93) com a BT sérica até valores de 13 a 15 mg/dL em RN a termo e pré- termo, independentemente da coloração da pele; Valores ≥ 13 mg/dL devem ser confirmados pela mensuração sérica de BT; Complicações ENCEFALOPATIA BILIRRUBÍNICA Síndrome neurológica resultante da deposição de bilirrubina não conjugada nos gânglios da base e no tronco cerebral. Envolve interação de: - Bilirrubina não conjugada - Passagem pra BHE - Suscetibilidade do neurônio à lesão Kernicterus (forma crônica da doença) é a peça anatomopatológica com impregnação de bilirrubina nos núcleos da base. Quadro Clínico: - Letargia, recusa alimentar, perda do reflexo de Moro, convulsões, hipertonia e hipertermia. - Surgem com 2 a 5 dias de nasc. RN a termo; - Em RN prematuro ocorre tardiamente, após o 7º dia de vida; - Mau prognóstico e morte; Na incompatibilidade, a mãe antígeno D é negativo e RN positivo (Coombs indireto positivo) enquanto o RN possui suas hemácias recobertas pelos anticorpos anti-D produzidos pela mãe (Coombs direto positivo). Vale ressaltar que no RN costuma acontecer com maior gravidade em gestações subsequentes, pois nestes casos a mãe já sensibilizada previamente desenvolve anticorpos do tipo IgG que atravessam a placenta levando a eritroblastose fetal. Por este motivo é fundamental dessensibilizar as mães Rh negativo no pós-parto com imunoglobulina anti-D, promovendo proteçãocontra anticorpos anti-D de até 99%. @ S T U D Y P E D I A T R I A RESUMINDO Para que tenha incompatibilidade é obrigatório o bebê tenha Coombs (CD) +. Os anticorpos maternos passam pela placenta → feto → ligam às hemácias fetais, levando à destruição das mesmas. O Coombs direto identifica a presença de anticorpos ligados nas hemácias, enquanto Coombs indireto detecta a presença de anticorpos séricos. O Du + (D fraco positivo) com Rh- se comparta de maneira imunologica semelhante ao Rh+. Se for Rh- com Du - está tudo bem.incompatibilidade RH (antígeno D) DOENÇAS HEMOLÍTICAS - Hemólise Dosa-se a BT e o hematócrito a cada 6-8h até as 36h de vida a fim de calcular a velocidade de hemólise, ou seja, o aumento de bilirrubina em mg/dL/h de modo que valores > 0,5-1 mg/dL/h indicam gravidade do quadro. Valor gravidade: BT > 4 mg/dL Hemoglobina < 12 mg/dL e/ou ICTERÍCIA POR LEITE MATERNO - Inicio entre 3 e 5 dias de vida; - Aleitamento eficaz - Pico após 2 semanas, declínio lento; - BI de 10-27 em RN que se alimenta bem, ganha peso; - É icterícia benigna e não há necessidade de suspender, apenas orientação aos pais; - Fator causal = pode ser devido a glicuronidase presente no leite → ↑circulação entero-hepática e reabsorção de BI à circulação do bebê. ↪ LH - excesso de β glucoronidase ICTERÍCIA DO ALEITAMENTO MATERNO - Ingestão inadequada do leite /pega incorreta; - Início precoce - primeiros dias de vida 2-3º dia; - Aumento de BI; - Associado à pequena quantidade de ingestão do leite + desidratação do neonato; - Incentivar aleitamento incompatibilidade ABO Não é preciso haver sensibilização, sendo resultante de um RN com tipo A ou B com mãe O, seja RH positivo ou negativo. É importante realizar o teste do eluato por congelamento, pois este permite verificar a presença dos anticorpos anti-A e anti-B no sangue do RN. Se der positivo, apenas indica a presença dos anticorpos e não a gravidade da doença. Distúrbios genéticos - Síndrome de Gilbert A redução na glucorunidação da bilirrubina ocorre em decorrência da enzima responsável pela conjugação, a UDPGT1, reduzindo a formação de glucoronídeos da bilirrubina o que causa a síndrome. Diagnóstico: histórico familiar e ausência de outras hepatopatias. Tratamento: fenobarbital - Sindrome de Crigler - Najjar tipo I e II Deficiência congênita. A tipo I há ausência da atividade da enzima e possui valores de BI 25-35 mg/dL nos primeiros dias. A tipo II reduz a glicuronil-transferase. Diagnóstico: ↓ de T4 e ↑ dos níveis de TSH, ICTERÍCIA PATOLÓGICA > Atresia de vias biliares > Síndromes genéticas > Fibrose Cística > Tumor > Galactosemia > Deficiência de alfa-1-antitripsina > Tirosinemia @ S T U D Y P E D I A T R I A Tratamento O tratamento consiste em evitar a concentração de BI elevada no sangue em níveis neurotóxicos. Através da fototerapia de alta intensidade no espectro de luz azul (425 a 475nm) e radiância de 15 a 30mW/cm²/nm e, em caso de fracasso, exsanguineotransfusão. A bilirrubina na pele converte a energia da luz, por fotoisomerização, ou seja, modifica a estrutura da molécula de bilirrubina. Esse mecanismo converte bilirrubina não conjugada tóxica nativa para bilirrubina não conjugada, um isômero capaz de ser excretado na bile e via urinária. FOTOTERAPIA EXSANGUINOTRANSFUSÃO Utilizada para diminuir a intensidade da reação imunológica na doença hemolítica, de remover a BI e de corrigir a anemia. - Aumento de BI > 0,5mg/h em 2 dosagens consecutivas em intervalo de 6 horas; Indicação: em RN com IG igual ou acima de 35 semanas de vida. No máximo 2 exsanguinotransfusão. DIRETA INDIRETA MECANISMO MISTO > Sepse > Infecção Congênita - Toxo, Rubéola, CMV, Sífilis > Asfixia > Filho de mãe diabético OBSTRUÇÃO VIAS BILIARES REDUÇÃO SECREÇÃO DE BD TESTE DE COOMBS HEMOGLOBINA ALTA - Transmissão feto-fetal - Atraso no clampeamento - PIG HEMOGLOBINA NORMAL/BAIXA - RETICULÓCITOS Se ↑ : esferocitose, desidrogenase, eliptocitose, def. glicose 6-fosfato > INCOMPATIBILIDADE Rh > INCOMPATIBILIDADE ABO ↘ ↗ - RETICULÓCITOS Se NORMAL: hemorragias, hematomas, asfixia, ingestão calórica inadequada, sd. de gilbert. Estenose hepática, obstrução intestinal, íleo meconial, íleo paralítico