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Aula 03 Riscos ocupacionais relacionados à prática odontológica A prática clínica diária do cirurgião dentista envolve situações que caracterizam possibilidade de diversos tipos de danos à saúde dos profissionais. A Odontologia é uma das atividades laborais que requerem mais esforço físico e mais insalubre. Riscos ocupacionais são o conjunto de circunstâncias que têm o potencial de causar efeito danoso ao profissional (tecnopatias). PRINCIPAIS RISCOS OCUPACIONAIS NA ODONTOLOGIA: Riscos físicos Riscos químicos Riscos ergonômicos Riscos mecânicos ou de acidente Riscos biológicos Riscos físicos: Exposição dos profissionais a agentes físicos (ruído, vibração, radiação, temperaturas extremas, iluminação deficiente ou excessiva, umidade e outros). Caneta de alta rotação, compressor de ar, equipamento de RX, equipamento de laser, fotopolimerizador, autoclave, condicionador de ar, etc. Procedimentos para minimizar os riscos físicos: Utilizar protetores auriculares Usar óculos de proteção para os procedimentos odontológicos e o manuseio de equipamentos que possuem luz alógena e o laser; Utilizar equipamentos de proteção radiológica, inclusive para os pacientes; Manter o ambiente de trabalho com iluminação eficiente; Proteger o compressor de ar com caixa acústica; Tomar cuidado ao manusear os instrumentais com temperatura elevada. Riscos químicos Exposição dos profissionais a agentes químicos (poeiras, névoas, vapores, gases, mercúrio, produtos químicos em geral e outros) Amalgamadores, desinfetantes (álcool, glutaraldeído, hipoclorito de sódio, ácido peracético, clorexidina) e os gases medicinais (óxido nitroso e outros) Procedimentos para minimizar os riscos químicos: Utilizar Equipamentos de Proteção Individual – EPIs (luvas, máscaras, óculos e avental impermeável) adequados para o manuseio de produtos químicos desinfetantes; Usar EPI completo durante o atendimento ao paciente e disponibilizar óculos de proteção ao mesmo para evitar acidentes com produtos químicos. Acondicionar os resíduos de amálgama em recipiente inquebrável, de paredes rígidas, contendo água suficiente para cobri-los, e encaminhá-los para coleta especial de resíduos contaminados. Armazenar os produtos químicos de maneira correta e segura, conforme instruções do fabricante, para evitar acidentes. Fazer manutenção preventiva das válvulas dos recipientes contendo gases medicinais. Riscos ergonômicos: Causado por agentes ergonômicos como postura incorreta, ausência do profissional auxiliar e/ou técnico, falta de capacitação do pessoal auxiliar, ritmo excessivo, atos repetitivos, entre outros. Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT): Síndrome caracterizada por uma série de microtraumatismos osteomusculares, em articulações, ligamentos, tendões, vasos sanguíneos e nervos, que se acumulam e podem evoluir para problemas mais graves. As consequências dos DORT podem ser dor, parestesia, edema, rigidez, tendinites, podendo conduzir à desabilitação funcional do membro. Síndrome do túnel carpal: a repetição ou o esforço continuo com desvio ulnar ou palmar ocasiona parestesia e dor, que pode levar à inflamação e à degeneração, culminando com a desabilitação funcional, incapacitando o indivíduo à prática profissional Procedimentos para minimizar o risco ergonômico: Organizar o ambiente de trabalho; Realizar planejamento do atendimento diário; Trabalhar preferencialmente em equipe. Proporcionar à equipe de trabalho capacitações permanentes. Incluir atividades físicas diárias em sua rotina. Realizar exercícios de alongamento entre os atendimentos, com a orientação de profissional da área. Risco mecânico ou de acidentes: Exposição da equipe odontológica a agentes mecânicos ou que propiciem acidentes. Espaço físico subdimensionado; arranjo físico inadequado; instrumental com defeito ou impróprio para o procedimento; perigo de incêndio ou explosão; edificação com defeitos; improvisações na instalação da rede hidráulica e elétrica; ausência de EPI e outros. Procedimentos para minimizar o risco mecânico ou de acidentes: Adquirir equipamentos com registro no MS, preferencialmente modernos, respeitando a ergonomia. Instalar os equipamentos em área física adequada, de acordo com as normas da Anvisa. Utilizar somente materiais, medicamentos e produtos registrados na Anvisa. Manter instrumentais em número suficiente e com qualidade para o atendimento aos pacientes. Instalar extintores de incêndio obedecendo ao preconizado pela NR-23 e capacitar a equipe para sua utilização. Realizar manutenção preventiva e corretiva da estrutura física, incluindo instalações hidráulicas e elétricas. Risco biológico: Probabilidade da ocorrência de um evento adverso em virtude da presença de um agente biológico. 1. Transmissão por sangue e outros fluidos orgânicos: Percutânea: contato com instrumentos perfurantes e cortantes; Mucosa: contato com respingos na face envolvendo olhos, nariz e boca; Cutânea: contato com pele com dermatite ou feridas abertas; Mordedura humana: consideradas exposição de risco quando há presença de sangue 2. Transmissão por via aérea: gotículas e aerossóis; 3. Transmissão pelo contato direto ou indireto com o paciente: pele/superfícies Procedimentos para minimizar o risco de transmissão por sangue e outros fluidos orgânicos: Usar EPI completo; Ter a máxima atenção durante a realização dos procedimentos; Não utilizar os dedos como anteparo durante a realização de procedimentos que envolvam materiais perfurocortantes; Colocar os coletores específicos para descarte de material perfurocortante próximo ao local onde é realizado o procedimento e não ultrapassar o limite de dois terços de sua capacidade total; Não reencapar, entortar, quebrar ou retirar as agulhas das seringas com as mãos; Procedimentos para minimizar o risco de transmissão aérea: Usar sugadores de alta potência; Evitar o uso da seringa tríplice na sua forma spray, acionando os dois botões ao mesmo tempo; Regular a saída de água de refrigeração; Manter o ambiente ventilado; Usar máscaras de proteção respiratórias; Usar óculos de proteção. Procedimentos para minimizar o risco de transmissão pelo contato direto ou indireto com o paciente: Uso do EPI completo; Higienização das mãos; Manter os cabelos presos; Desinfecção adequada dos artigos e superfícies potencialmente contaminadas. Condutas após acidente com material perfurocortante: 1.Manter a calma. As quimioprofilaxias contra HBV e HIV devem ser iniciadas até 2 horas após o acidente. 2. Lavar exaustivamente com água e sabão o ferimento ou a pele exposta ao sangue ou fluido orgânico. Uso de anti-sépticos tópicos como álcool 70% pode ser adotado. Lavar as mucosas com soro fisiológico ou água em abundância. Não provocar maior sangramento do local ferido. 3. Dirigir-se imediatamente (acidentado e paciente-fonte) ao Centro de Referência no atendimento de acidentes ocupacionais da região. Realizar a notificação e emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT. 4. Obter do paciente-fonte uma anamnese recente e detalhada sobre seus hábitos de vida, história de hemotransfusão, uso de drogas, vida sexual, uso de preservativos, história de hepatite e DSTs e sorologias anteriores. 5. Avaliar a carteira de vacinação do acidentado, informar sobre o estado vacinal e dados recentes de saúde. 6. Coletar amostras de sangue do acidentado e do paciente-fonte, devidamente identificados, que serão encaminhados imediatamente ao laboratório de referência. ATENÇÂO: O paciente-fonte pode recusar-se a se submeter à realização da sorologia para HIV. Caso isso ocorra, deve-se considerar o paciente como sendo soropositivo e com alto título viral. 7. Em paciente-fonte positivo para HIV, iniciar com quimioprofilaxia, seguindo orientações do fluxogramado Ministério da Saúde. Fazer a coleta de sangue do profissional para o seguimento e avaliação da quimioprofilaxia. 8. No paciente-fonte com HIV desconhecido ou que o resultado do teste anti-HIV demorar, iniciar com o esquema básico de antiretroviral e procurar o serviço especializado para reavaliar o acidente. 9. Paciente-fonte positivo para hepatite B e profissional não vacinado, iniciar vacinação. Se o paciente-fonte for negativo, não é necessário o acompanhamento sorológico do profissional 10. Repetir as sorologias seis semanas, três meses, seis meses e um ano após o acidente ou a critério do médico. 11. O profissional acidentado, em uso de quimioprofilaxia antiretroviral, deverá retornar à consulta médica semanalmente, ou conforme protocolo do serviço, para acompanhamento clínico dos sinais de intolerância medicamentosa.