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1 APOSTILA CLÍNICA E MANEJO DE ANIMAIS SILVESTRES 2 SUMÁRIO Aula 1 – Introdução a clinica de animais silvestres..............................................3 Aula 2 – Medicina da conservação.......................................................................4 Aula 3 – Criação e criadouros...............................................................................5 Aula 4 – Captura e contenção física de animais silvestres....................................8 Aula 5 – Particularidades na anestesia de animais silvestres..............................12 Aula 6 – Clínica de Primatas...............................................................................15 Aula 7 – Clínica de Canídeos..............................................................................18 Aula 8 – Clínica de Felídeos...............................................................................20 Aula 9 – Clínica de Roedores..............................................................................22 Aula 10 – Clínica de Lagomorfos.......................................................................36 Aula 11 – Clínica de Aves...................................................................................31 Aula 12 – Clínica de Répteis...............................................................................38 3 CLÍNICA E MANEJO DE ANIMAIS SILVESTRES AULA 1: INTRODUÇÃO À CLÍNICA DE ANIMAIS SILVESTRES INTRODUÇÃO O Brasil abriga 20% de todas as espécies descritas na Terra, sendo o país com a maior biodiversidade (variabilidade de organismos vivos de todo o planeta), além de possuir um extenso território e ampla costa marinha. Possui o maior sistema fluvial (rios e mares) e uma marcante diversidade geográfica e climática. BIODIVERSIDADE - Promove um equilíbrio entre as espécies e ecossistemas, além de agregar um valor cultura, econômico e social (turismo, principalmente) - Serve também como base para o setor agrícola, pecuário, pesqueiro e florestal - Fornece uma fonte de alimentos, remédios e produtos industriais - Proporciona também a utilização da fauna silvestre para manter e desenvolver criações, bem como obtenção de proteína de alta qualidade (criações de capivaras, jacarés e avestruzes para comercialização da carne) - A biodiversidade também gera rendimento de patentes e tecnologias (como no caso do veneno de jararaca, que a partir dele, desenvolveu-se medicamento para hipertensão, gerando lucro bilionário á empresa) TERMINOLOGIA Animais Silvestres: sinônimo de selvagem, são todos animais que vivem e se reproduzem sem a necessidade de criação humana fauna silvestre nativa: trata-se de espécies, nativas ou migratórias, aquáticas ou terrestres, que todo ou parte do seu ciclo de vida, ocorre em território ou águas brasileiras. - ex.: arara-azul, mico-leão-dourado, tucanos, papagaio, tartaruga-marinha. fauna silvestre exótica: trata-se de espécies, que não possuem seu ciclo natural no Brasil, mas presentes aqui devido introdução humana. - ex.: leão, zebra, elefante, urso, ferret, cacatua. Animais domésticos: animais de processo evolutivo lento, que tornaram-se dependentes da criação humana -ex.: cão, gato, coelho, cavalos, porcos, bovinos, porquinho-da-índia. CONSERVAÇÃO AMBIENTAL Conservação ambiental trata-se de estabilizar um ecossistema, sem intervenção urbana, para possibilitar que os animais de vida selvagem sejam preservados. Ela pode ser feita de duas formas: In situ: local de origem dos animais é preservado, e estes vivem à campo, com número pequeno de pessoas envolvidas e animais permanecem a longo prazo Ex situ: fora do local de origem, como zoológicos, hospitais veterinários, Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) e Centros de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), onde os animais ficam em contato próximo aos seres humanos, e permanecem em curto prazo ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR MÉDICOS VETERINÁRIOS Os médicos veterinários que atuam na área de silvestres, tem ampla escolha no mercado de trabalho (zoológicos, ONGs, clínicas especializadas, parques e unidades de conservação, órgãos públicos, centros de pesquisa, universidades, empresas de consultoria). - Dentro das atividades desenvolvidas estão: atendimento a animais legalizados, controle de doenças infecciosas, criação de recintos, laudos e relatórios técnicos, reabilitação, educação e conscientização - Medicina marinha: uma área com poucas pessoas atuando, e que necessita de profissionais, pelo alto número de encalhes de animais marinhos, e baixa taxa de reabilitação e sobrevivência 4 TOXICOLOGIA AMBIENTAL - Os animais silvestres são bioindicadores da qualidade do meio ambiente (em ambientes com poluição, há aumento da homeostase do ecossistema e de seus habitantes) - Acidentes industriais e ambientais, e consequências da poluição promovem esta toxicologia no ambiente, afetando o habitat de diversos animais silvestres AULA 2: MEDICINA DA CONSERVAÇÃO CONSERVAÇÃO versus EXTINSÃO No Brasil, dentro de toda população de vertebrados (entre 8900 espécies), cerca de 1173 estão ameaçadas de extinção. Por isso, diversas ONGs e Instituições atuam para conservar a biodiversidade da fauna brasileira. - ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade): trabalha na melhoria da conservação das espécies através da avaliação do risco de extinção, identificação da perda da biodiversidade e implementação de planos de ação. ESTADO DE CONSERVAÇÃO Os animais são classificados em categorias, de acordo com critérios que são analisados (declínio da população, tamanho da população, distribuição da população, área geográfica ocupada e grau de fragmentação desta população). - Categorias: EX (após a morte do último indivíduo) EW (população apenas em áreas de cativeiro) CR (extremo risco de extinção à curto prazo) EN (alto risco de extinção à curto prazo) VU (alto risco de extinção à médio prazo) NT (sem risco de ameaça, mas pode vir a ser ameaçada, caso não haja conservação necessária) LC (sem possibilidade de ser extinto atualmente) - Mutum-do-Nordeste: espécie considerada extinta da natureza (EW), sendo encontrada somente em áreas de preservação ambiental - Tamanduá-Bandeira: espécie que se encontra ameaçada de extinção, na categoria vulnerável (VU) Conservação visa atingir a saúde ecológica, que é a união da saúde animal, saúde humana, saúde vegetal e ambiental. PRINCIPAIS GRUPOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL WORLD WILDLIFE FUND (WWF) - Maior rede independente do mundo, que busca a conservação de espécies - Presente em diversos países, inclusive no Brasil, atuando nos principais biomas nacionais (Amazônia, pantanal, Mata Atlântica, Cerrado) FUNDAÇÃO PARQUE ZOOLÓGICO SÃO PAULO (FPZSP) - Atua há 50 anos em práticas de reprodução ex-situ (mantém a continuação de espécies) - Promove também um plano de preservação da fauna silvestre no estado de São Paulo PROJETO ARARA-AZUL - Atua em pesquisas, manejo e conservação das araras azuis desde 1990 - Promove monitoramento dos animais, seus ninhos, ovos e filhotes 5 - As sedes do projeto recebem turistas, e a partir da cobrança de entradas, arrecada-se fundos para o projeto PROJETO TAMAR - Projeto atuante desde 1980 na conservação de tartarugas marinhas - Atua em vários estados, na região litoral do Brasil - Trabalham com cinco espécies de tartarugas-marinhas (todas ameaçadas de extinção) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE VETERINÁRIOS DE ANIMAIS SELVAGENS (ABRAVAS) - Associação civil de interesse público - Não possui fins lucrativos - Promove congressos e encontros relacionados com a área AULA 3: CRIAÇÃO E CRIADOUROS CRIATÓRIOS E ESTABELECIMENTOSQUE CRIAM E COMERCIALIZAM ANIMAIS SILVESTRES JARDIM ZOOLÓGICO - Empreendimento autorizado pelo IBAMA, de pessoa física ou jurídica, constituído de coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semiliberdade e expostos à visitação pública - Finalidades: atender as finalidades científicas, conservacionistas, educativas e socioculturais - Local: deve apresentar segurança aos animais, tratadores e ao público visitante. Barreira física (árvores e plantas), abrigos e ninhos, sistema contra fugas, sistemas de comedouros e bebedouros, resfriamento e aquecimento se a espécie demandar. - Mantenedor: geralmente o local se sustenta através da venda de ingressos para visitas CRIADOURO CONSERVACIONISTA - Todo empreendimento autorizado pelo IBAMA, pessoa física ou jurídica, vinculado a Planos de Manejos reconhecidos, coordenados ou autorizados pelo órgão ambiental competente - Finalidades: criar, recriar, reproduzir e manter espécimes da fauna silvestre nativa em cativeiro para fins de realizar e subsidiar programas de conservação - Local: deve apresentar segurança aos animais e trabalhadores. Barreira física (árvores e plantas), abrigos e ninhos, sistema contra fugas, sistemas de comedouros e bebedouros, resfriamento e aquecimento se a espécie demandar. - Mantenedor: através de doações e campanhas públicas CRIADOURO DE PESQUISAS - Todo empreendimento autorizado pelo IBAMA, somente de pessoa jurídica, vinculada à instituição de pesquisa ou de ensino e pesquisas oficiais - Finalidades: criar, recriar, reproduzir e manter espécimes da fauna silvestre em cativeiro para fins de realizar e subsidiar pesquisas científicas, ensino e extensão - Local: deve apresentar segurança aos animais e trabalhadores. Barreira física (árvores e plantas), abrigos e ninhos, sistema contra fugas, sistemas de comedouros e bebedouros, resfriamento e aquecimento se a espécie demandar. - Mantenedor: através de doações e campanhas públicas CRIADOURO COMERCIAL - Todo empreendimento autorizado pelo Ibama, de pessoa física ou jurídica, para fins comerciais - Finalidades: criar, recriar, terminar, reproduzir e manter espécimes da fauna silvestre em cativeiro para fins de alienação de espécimes, partes, produtos e subprodutos 6 - Local: deve apresentar segurança aos animais e trabalhadores. Barreira física (árvores e plantas), abrigos e ninhos, sistema contra fugas, sistemas de comedouros e bebedouros, resfriamento e aquecimento se a espécie demandar. - Mantenedor: capital gira em torno da comercialização MANTENEDOR DE FAUNA SILVESTRE - Todo empreendimento autorizado pelo Ibama, de pessoa física ou jurídica, para fins de criação e manutenção dos animais silvestres alojados - Finalidades: criar e manter espécimes da fauna silvestre em cativeiro, sendo proibida a reprodução (abriga animais que não podem retornar ao habitat, e os que foram apreendidos e mau-tratados) - Local: mais próximo possível do habitat natural dos animais - Mantenedor: mantidos por pessoas físicas ou jurídicas CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES (CETAS) - Todo empreendimento autorizado pelo IBAMA, somente de pessoa jurídica, para avaliações dos animais - Finalidades: receber, identificar, marcar, triar, avaliar, recuperar, reabilitar e destinar animais silvestres provenientes da ação da fiscalização, resgates ou entrega voluntária de particulares - Local: infraestrutura competente para realização das avaliações e triagens - Mantenedor: próprio IBAMA ou instituições (zoológicos, empresas, fundações, secretarias) CENTRO DE REABILITAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES (CRAS) - Todo empreendimento autorizado pelo IBAMA, somente de pessoa jurídica, para promover reabilitação dos animais silvestres - Finalidades: receber, identificar, marcar, triar, avaliar, recuperar, criar, recriar, reproduzir, manter e reabilitar espécies, visando programas de reintrodução ao habitat - Local: infraestrutura competente para realização de medidas de reabilitação - Mantenedor: próprio IBAMA ou instituições ESTABELECIMENTO COMERCIAL DE FAUNA SILVESTRE - Todo empreendimento autorizado pelo IBAMA, de pessoa jurídica, visando a venda de animais vivos - Finalidades: alienar animais vivos, partes, produtos e subprodutos da fauna silvestre, procedentes de criadouros comerciais credenciados pelo IBAMA - Local: mais próximo possível do habitat natural dos animais (evitando estresse) - Mantenedor: capital próprio, através da comercialização ABATEDOURO E FRIGORÍFICO DE FAUNA SILVESTRE - Empreendimento autorizado pelo IBAMA, somente de pessoa jurídica, com fins de comercialização de produtos - Finalidades: abater animais, beneficiar e alienar partes, produtos e subprodutos da fauna silvestre - Local: deve cumprir regras específicas, respeitando a inspeção e higiene do abate - Mantenedor: capital próprio, através da comercialização PLANTEL Constituído por todos os animais do local (matrizes, reprodutores, ovos, filhotes, larvas), que são procedentes de: criadores, criadouros, mantenedores, zoológicos, estabelecimentos comerciais e importadores autorizados centros de triagem do IBAMA ou conveniados depósitos efetuados pelo IBAMA de forma particular (necessitando de documento que indique a procedência do animal) 7 - A identificação destes animais é realizada através de marcação, e caso venham a óbito, é necessário comunicar o IBAMA, enviando-se a marcação do mesmo, junto ao laudo de necropsia - Métodos de marcação do plantel: microchip, telemetria (marcação remota), anilhas (plásticas ou metálicas), anéis e brincos - Eutanásia de animais silvestres: realizar contenção química (MPA) e anestésicos gerais (bartitúricos são mais utilizados), para procedência do método de eutanásia escolhido. Em casos que não é possível a contenção do animal, permite-se métodos alternativos (arma de fogo, pistola de ar, arpão ou decaptação) QUARENTENA Período em que o animal permanece em edificação dotada de equipamentos e barreiras artificiais ou naturais e de pessoal treinado em medidas de biossegurança, com finalidade de adotar medidas de profilaxia e terapêutica, que visam isolar e limitar a liberdade de movimento dos animais silvestres que foram expostos e podem ser possíveis portadores ou veiculadores de agentes patogênicos, ou são suspeitos de terem entrado em contato com doenças infectocontagiosas. - Quarentenário: deve ser distante da área de exposição, com funcionários exclusivos neste setor (evitar disseminar os patógenos que podem estar presentes neste local) Protocolos de quarentena: répteis e anfíbios : 30 dias de isolamento, promovendo exames (coproparasitológico, hemograma e bioquímico) - vermifugar caso o resultado do coproparasitológico demonstrar vermes (e fazer novamente o exame) - prolongar quarentena caso o primeiro tratamento não seja efetivo, ou haja alterações sistêmicas no animal e se algum contactante veio a óbito recentemente - se atentar a doenças específicas (como a criptosporidiose) aves: 30 a 45 dias, promovendo exames (coproparasitológico semanal, hemograma e bioquímico) - vermifugar caso o resultado do coproparasitológico demonstrar vermes (e fazer novamente o exame) - se atentar a doenças específicas das classes de aves - identificação, sexagem e aparação das penas neste período mamíferos : 30 a 60 dias, promovendo exames (coproparasitológico, hemograma e bioquímico) - vermifugar caso o resultado do coproparasitológico demonstrar vermes (e fazer novamente o exame) - se atentar a doenças específicas (como FIV, FeLV, toxoplasmose em felídeos, e tuberculose em primatas) - promover vacinações nas espécies (raiva, cinomose, panleucopenia, rinotraqueíte), avaliação dentária e se atentar para possíveis zoonoses MEDIDAS DE BIOSSEGURIDADE EM JARDIM ZOOLÓGICO - Medidas sanitárias: limpeza e desinfecção de cozinha, comedouros ebebedouros - Medidas antiparasitárias: controle de ectoparasitas, endoparasitas e doenças infecciosas (vassoura-de-fogo) - Medidas antissépticas: esterilização de materiais cirúrgicos e instrumentos de rotina (como sondas) - Medidas alimentares: manter qualidade e higiene nos alimentos oferecidos - Medidas preventivas: evitar entrada de animais sinantrópicos (como morcegos, escorpiões, ratos e pombos), e de possíveis vetores de doenças (aves, insetos) 8 AULA 4: CAPTURA E CONTENÇÃO FÍSICA DE ANIMAIS SILVESTRES A contenção na clínica de silvestres é sempre um desafio, por se lidar com uma ampla espécie e classe de animais, cada um com suas particularidades. Deve-se saber se a espécie é peçonhenta ou não peçonhenta, como é o mecanismo de defesa da espécie (mordida, arranhaduras, botes) e como é a biologia da espécie durante a contenção (se estressa facilmente durante a contenção). - Motivos para contenção: captura, quarentena, transporte, realização de exames preventivos, tratamentos e vacinação vacinação: geralmente é realizada na quarentena - Avaliar condições psíquicas e físicas (geralmente, os animais são providenciados de resgates) e condições ambientais alguns animais podem vir à óbito somente pelo processo de captura condições ambientais: em temperaturas amenas, é melhor realizado (fim da tarde, ou inicio da manhã) melhor local para captura: deve ser um local amplo, que permite o contentor fugir caso o animal ataque, e já estipular possíveis pontos de fuga, além de ser um local que diminua as chances de fuga do animal, permitindo que este possa atacar outras pessoas - Durante o momento da captura, é necessário ter em mão os equipamentos ESTRESSE POR CAPTURA Um dos problemas mais importantes durante a contenção. O estresse (ruptura da homeostase) é causado por mudanças no ambiente (drásticas, repentinas ou gradativas), como a captura. Existem 3 fases do estresse: o Fase de Alarme: predominância do sistema nervoso simpático (todos tem esta fase) o Fase de Resistência ou Adaptação: alguns podem evoluir para esta fase (recuperam-se do estímulo estressante) o Fase de Exaustão ou Recuperação: alguns podem evoluir para esta fase (estresse gera efeitos adversos) - A intensidade e duração do estresse, irá indicar o grau de resposta do organismo do animal espécies mais agressivas, terão intensidade de estresse maior - Fase de alerta: fase aguda durante o momento da contenção, gerando uma resposta de “Luta ou Fuga”, gerada pelo sistema nervoso simpático frente a uma situação de estresse, que prepara o organismo do animal (para que ele lute ou venha a fugir frente a uma ameaça). Os neurotransmissores que predominam nesta fase são a noradrenalina e adrenalina. A transmissão desses neurotransmissores gera diversas mudanças no organismo: cronotropismo positivo (aumento da frequência cardíaca) seguido de aumento da pressão arterial midríase (aumento da pupila, para que o animal enxergue melhor), broncodilatação (para promover um aumento da capacidade respiratória), hiperglicemia (musculatura demanda de mais energia, promovendo glicogenólise muscular, que é a quebra do glicogênio) e aumento da taxa de metabolismo basal isto gera um desvio sanguíneo para a musculatura estriada esquelética, promovendo o fenômeno de “bomba muscular” (alta concentração de sangue no músculo) - Cervídeos: espécies mais estressantes durante a captura - Alta temperatura, baixa umidade, deficiência de vitamina E e selênio acentuam o estresse por captura - Problemas iniciais: traumatismos devido a resistência à captura (hematomas, contusões, fraturas, lacerações) - Em algumas situações, pode ocorrer o óbito, podendo ser super-agudo (antes de se realizar a captura propriamente dita), agudo (no momento da captura) ou tardio (após alguns dias, devido consequências do estresse) Miopatia de captura (ou miopatia de esforço): uma das causas de óbito tardio nos animais - ocorre quando o animal está se preparando para a resposta de luta ou fuga, mas acaba sendo capturado antes. Isto gera uma brusca interrupção na “bomba muscular”, diminuindo o oxigênio da musculatura. Porém, devido à intensa glicogenólise anaeróbica muscular que está ocorrendo, há intensa formação de ácido lático, promovendo uma acidose metabólica, e hipóxia muscular. A acidose, associada ao calor gerado, gera uma necrose muscular, promovendo morte dos miócitos, liberando mioglobina, potássio (presentes dentro das células musculares), que junto a uma vasoconstrição periférica, irá resultar em nefrotoxicidade. mioglobinúria: mioglobina é extremamente tóxica aos néfrons, gerando necrose destas estruturas, além do animal apresentar urina “cor de Coca-Cola” 9 potássio: exerce em grande concentração uma nefrotoxicidade (insuficiência renal aguda) e cardiotoxicidade (fibrilação ventricular e insuficiência cardíaca aguda) - sinais clínicos: dor e rigidez muscular (acúmulo de ácido lático), incordenação e paresia (sinais neurológicos), oligúria, mioglobinúria (sinais renais), depressão, coma e morte (sinais progressivos) - diagnóstico: anamnese (se o animal passou por algum tipo de captura ultimamente, e se foi estressante), exames clínicos e laboratoriais (sinais de insuficiência renal e acidose metabólica) e achados de necropsia - prognóstico: reservado a ruim - profilaxia: medidas menos estressantes na captura (horários mais frescos com equipe treinada) - tratamento: controle da hipoperfusão (fluidoterapia), podendo suplementar vitamina E e selênio EQUIPAMENTOS PARA CONTENÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES MÃOS NUAS - Primeira ferramenta a ser utilizada (principalmente em aves e répteis de pequeno porte) - Demanda sensibilidade e delicadeza durante o procedimento - Há o risco de lesões nos animais (principalmente devido a pressão exercida) e infecções (devido o grau de exposição do manipulador com o animal) EPIs (EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL) - Roupas e calçados resistentes e fechados, de coloração neutra (que não estimulem o animal) - Principais itens: óculos e máscaras de proteção (protege contra peçonhas, armas anestésicas e pólvora, caso utilizados), luvas, botas e protetores de perna EQUIPAMENTOS COLETIVOS - Cordas e nós de mão: realizados principalmente em crocodilianos, onde se amarram os membros pélvicos e torácicos, porém sem laçar o animal (figura 1) - Focinheira ou mordaça: podem ser de materiais específicos ou adaptadas (figura 2) - Puçás, passaguás e coadores: de diferentes formatos e diâmetros, escolhendo-se de acordo com as espécies (utilizados principalmente em pequenos primatas, felídeos, caninos, procionídeos e aves) (figura 3) - Redes de espera (armadilhas): armadas para animais velozes (principalmente para cervídeos), com intenção de conter todo o corpo do animal, para posterior contenção química (figura 4) - Rede de arremesse: redes são arremessadas em curta distância, com auxílio de um sistema de detonação - Sistema Netgun: sistema de propulsão de longa distância, que são desarmados com rifle, de forma aérea ou terrestre (figura 5) - Cambões: utilizado corretamente e com cuidado (passando na região cervical, e incluir um dos membros torácicos, para diminuir a chance de enforcamento) cambão tipo Ketch-all pole: possui um sistema de travamento e desarme rápido - Tubos: utilizados para serpentes - Pinças: lagartos e serpentes (também utilizada em pequenos mamíferos) laço de Lutz: tipo de pinça, que se fecha no final como um gancho, utilizado para serpentes Fig 1: cordas Fig 2: focinheira (adaptada) Fig 3: puçá (passaguá) Fig 4: rede de espera Fig 5: sistema netgun 10 - cuidado: não elevar a serpente sem dar apoio ao resto do corpo do animal, pois isto pode promover uma luxação na articulação atlantoccipital, levando o animal a óbito - Ganchos: utilizado para manejo de ratitas (como avestruzes),porém podem dar chutes e coices capuz: após a contenção com o gancho (diminui o estresse, pois são animais que se estressam pela visão) - Zarabatanas, dardos e bastão aplicador: utilizados para contenção química - Projetores remotos: pouco utilizados (rifles com objetivo de contenção química) - Currais de contenção: maior planejamento e custo (leva um animal de um lugar para outro, através da abertura e fechamento de portas, mas necessita de contenção posterior) - Armadilhas, caixas e gaiolas do tipo prensa: vários tipos, com tamanho dependendo da espécie TRANSPORTE DE ANIMAIS SILVESTRES Crocodilianos: pode ser feita por amarração do animal (pequenas distâncias) ou em caixas próprias (longas distâncias) Quelônios: caixas com ou sem água (depende se for tartaruga terrestre ou marinha) Serpentes: caixas de madeira com cadeado, ou caixa transparente com furos (ideal) Aves: caixas de madeiras, pequenas (para não se debaterem), escuras e forradas (para não se machucarem) Mamíferos: depende do porte do animal (para pequenos mamíferos, pode-se utilizar caixas de transporte de cães e gatos, ou ainda caixas de madeiras com furos) PARTICULARIDADES DA CONTENÇÃO SERPENTES Ideal ser realizado com pessoal treinado e em equipe. A contenção será diferente em espécies peçonhentas das não peçonhentas. Vários instrumentos podem ser utilizados: ganchos (serpentes pesadas ou pouco ágeis) pinça de longo alcance (serpentes agitadas) tubos (ideal ser transparente, para enxergar a serpente dentro, com circunferência e comprimento proporcional ao tamanho do animal, sendo que espera-se que entre até 1/3 ou 1/2 do corpo do animal no interior, e segura o restante do corpo de fora, com a mão junto ao tubo) - tubo não pode ser muito largo (animal consegue retornar, podendo atacar) - Carregar com duas mãos: uma no corpo do animal, e outra na cabeça, evitando que ocorra luxação répteis possuem somente um côndilo occipital, diferente dos mamíferos que possuem dois côndilos – com isso, pode desenvolver luxação mais facilmente nesta articulação - Técnicas de contenção manual: preferível que sejam realizadas somente nas espécies não peçonhentas técnica com dois dedos (serpente com boca fechada): nunca utilizada em espécie peçonhenta (as presas ultrapassam a região da mandíbula, e quando fecham a boca, podem alcançar o dedo do manipulador) com dois ou três dedos (serpente com boca aberta): segura-se na região cervical (não mantém os dedos pertos da presa, podendo ser utilizada em espécies peçonhentas) LAGARTOS Várias espécies de lagartos, que varia de tamanho. Geralmente são pouco agressivas, mas podem causar lesões. - Utilizar luvas de couro (evitar lesões por arranhaduras e mordeduras) toalhas e canos podem ser utilizados caso não haja luva de coura - Não segurar pela cabeça (possuem somente um côndilo, predispondo a luxações vertebrais), nem pela cauda (possuem o mecanismo de defesa, chamado de autotomia, que é a liberação da cauda do corpo, facilitando a fuga) - Segurar com as duas mãos, uma com os membros torácicos para trás, lateralmente ao corpo, e outra segurando os membros torácicos 11 - Estimulação do nervo vago por digito-pressão: os répteis possuem um plexo vagal, e este nervo passa no fundo do olho destes animais. Ao realizar uma leve pressão dos dois olhos ao mesmo tempo, faz com que o animal entre em uma depressão geral (bradicardia, bradipneia e central), levando o animal a ficar imobilizado. realizar somente em procedimentos rápidos (se realizado muitas vezes, leva a depressão grave e óbito) - Animais grandes (crocodilianos): realizar o uso do cambão, e utilizar focinheira e cobrir os olhos AVES Também varia de acordo com a espécie das aves. Deve ser feita em lugar fechado e climatizado (são animais suscetíveis ao estresse térmico). Possuem o diafragma não funcional (utilizam o músculo intercostal para respiração, não sendo interessante manusear estes animais na região torácica, pois pode atrapalhar a respiração). - Psitacídeos e aves de rapina são mais agressivas (atacam com bico e garras) - Captura repentina: realizada com os dedos entre a cabeça e com a outra mão, fixar os membros pélvicos espécies pequenas, podem ser contidas somente com uma das mãos MAMÍFEROS Grande variedade de espécies, com diversos tamanhos. - Xenarthas (tamanduás, preguiças, tatus): cuidado com arranhaduras, por serem espécies com garras longas pode-se usar fitas nas garras, para proteção segura-se o animal com o dorso voltado para o corpo do manuseador, e ventre para o ambiente - Primatas: promovem mordidas e socos (grandes primatas, realizar contenção química) - Grandes mamíferos: contenção física pouco usada (geralmente contenção química) - Roedores e lagomorfos: cuidado com mordidas 12 AULA 5: PARTICULARIDADES NA ANESTESIA DE ANIMAIS SILVESTRES ANESTESIA Faz-se necessário promover a contenção química dos animais silvestres por duas razões principais: imobilização para permitir o exame físico procedimentos cirúrgicos (perda de consciência, analgesia, relaxamento muscular) AVES Sistema Cardiovascular - Coração: composto por 4 câmaras, que separam o sangue arterial do venoso. possuem artérias mais rígidas, o que mantém a pressão arterial maior (maior preocupação em hemorragias) Sistema Portal-Renal Anestesias dissociativas são mais utilizadas por via intramuscular. As aves, assim como os répteis, recebem o sangue venoso dos membros pélvicos. Este sangue passa pelo sistema porta renal, onde há válvulas que se abrem ou fecham. A importância é que não é aconselhável injeção de agentes anestésicos nas áreas cujo sangue é recolhido pelo sistema porta-renal, já que muito deste seria excretado pelos rins antes de atingir o coração evitando a sua difusão sistêmica músculo peitoral: mais indicado para aplicar os anestésicos Sistema Respiratório Componentes ventilatórios: são as vias aéreas de condução (laringe, traqueia, siringe, brônquios primários e secundários), sacos aéreos, ossos pneumáticos, esqueleto torácico e músculos da respiração sacos aéreos: responsáveis pela inspiração do O2 nas aves, a inspiração e expiração são processos ativos Componentes de troca gasosa: brônquios terciários (parabrônquios) e capilares aéreos aves não possuem alvéolos (diminuindo a resistência da entrada do ar) a troca gasosa ocorre de forma contínua (inspiração e expiração) os sacos aéreos promovem a complacência (expansão) fluxo sanguíneo é oposto ao fluxo do ar (troca gasosa mais rápida) Temperatura - São animais endotérmicos (mantém a temperatura interna): 39 a 42º C - Possuem baixa resistência a altas e baixas temperaturas Considerações anestésicas: exame físico inicialmente na gaiola (avaliar FR, estado físico, das penas, para evitar pegar o animal e estressá-lo) para posteriormente, conter fisicamente o animal (para avaliar a FC) - Jejum: aves com menos de 100 g ou aves gramíferas, possuem metabolismo muito rápido (por isso comem a todo o momento), não sendo necessário promover jejum para estas. Aves de até 300 g, indicar jejum de 3 a 4 horas. Aves de 300 g a 1 kg, indicar até 6 horas de jejum. Aves de rapina (falcão, gavião), indicar 12 a 24 horas de jejum. aves de vida livre: quando não se sabe se o animal comeu, realizar palpação do inglúvio e se houver alimento, retirar, para não haver aspiração nos sacos aéreos - Contenção física: segurar patas e pescoço (para proteger o manuseador) e asas (para proteção da ave) não envolver o tórax com as mãos Anestesia: MPA: opióide (butorfanol) – muitas vezes a MPA está associada já na dissociativa somente com MPA, animal não fica parado Dissociativa: cetamina + benzodiazepínicos (midazolam, diazepam) ou α-2 agonistas (xilazina, detomidina) α-2 agonistas:efeitos adversos (bradicardia, depressão central, respiratória) TIVA (anestesia total intravenosa): propofol (necessita de canular veia ou se fazer intraóssea) Faz com que as aves entrem, troquem, aprofundem e recuperem- se muito rápido nos planos da anestesia inalatória 13 cuidado com propofol, pois pode promover dispneia canulação: mais realizada na veia ulnar, metatarsiana ou jugular intubação: fácil, pois possuem os anéis traquais completos Inalatória: isofluorano é o mais utilizado (rápida indução e recuperação) Monitoramento: avaliar frequência respiratória, capnografia (pressão de CO2), oximetria de pulso (concentração de O2), frequência cardíaca, pressão arterial e temperatura RÉPTEIS Sistema Cardiovascular - O coração dos répteis possui 3 câmaras. Ocorre uma leve mistura entre sangue arterial e venoso shunts: promovem desvios da circulação para um local desejado (como durante a digestão, desviando para o trato gastrointestinal) crocodilianos e répteis semi-aquáticos: conseguem ficar debaixo d’água, pois há desvio pelos shunts da pequena circulação (pulmonar) Sistema Portal-Renal: Exatamente como ocorre nas aves. membro torácico: mais indicado para aplicação de anestésicos Sistema Respiratório - Não possuem diafragma, assim como as aves. - Menor superfície de troca gasosa (metabolismo muito menor) e menor taxa de consumo de O2 - Maioria dos répteis irá entrar apneia quando anestesiados (entubar o animal) - Quelônios e lagartos possuem dois pulmões funcionais, porém as serpentes possuem um pulmão menos vascularizado, que irá funcionar como saco aéreo (atrai o ar na inspiração) em quelônios, há a desvantagem de não poder se ver os movimentos respiratórios Temperatura: - São ectotérmicos (não controlam sua própria temperatura sem auxilio do ambiente) - Temperatura ótima preferida: temperatura onde a fisiologia do animal funciona sem alteração (cada um tem a sua) - Normalmente, a temperatura ideal encontra-se entre os 20 a 38º C Considerações anestésicas: Contenção física: Quelônios: não dificuldade na contenção (ideal é que não permaneça com a cabeça para baixo ou inferior ao corpo por longo tempo, além de evitar rotação brusca) Lagartos: pode-se utilizar a toalha ou a técnica de reflexo vagal (digitopressão dos globos oculares) Serpentes: possuem um único côndilo occipital, podendo luxar em casos que o corpo permanece solto, pesando na cabeça do animal - Jejum: espécies herbívoras, estipular jejum de curta duração. Já os não-herbívoros possuem uma digestão muito longa. Para quelônios e pequenos lagartos, pode-se estipular jejum de até 18 horas, enquanto para grandes lagartos carnívoros e serpentes, de 72 a 96 horas. Anestesia: MPA: benzodiazepínicos (sedam bem serpentes), α-2 agonistas (sedação razoável, além de promover efeitos adversos) acepromazina: demora para recuperação (promove queda de temperatura) e não há antagonista Analgesia: complicada nos répteis, pois não demonstram dor como os outros animais morfina: mais utilizada, quando animal demonstra reflexo de retirada AINEs: utilizados no controle de dor crônica (cetoprofeno, carprofeno, meloxicam) Anestésicos locais: pouco utilizados TIVA: propofol (necessário canular ou feito intracarapaçal em quelônios) 14 Dissociativa: cetamina + midazolam, telazol Inalatória: isofluorano, sevofluorano intubação: como as aves, possuem os anéis traqueais completos Monitoramento: quelônios e lagartos começam o relaxamento muscular no meio do corpo para as extremidades. Serpentes relaxam craniocaudal, e se recuperam caudocranial. teste de reposicionamento: colocar a serpente de cabeça para baixo. Se ela retornar, é porque se recuperou serpentes e alguns lagartos mantém o reflexo corneal e tônus cloacal ausência de resposta a todo e qualquer estímulo indica produtividade do plano anestésico (cuidado!) PEQUENOS MAMÍFEROS ANATOMIA E FISIOLOGIA - Possuem metabolismo muito rápido (se alimentam demais) – necessitam de alta taxa de O2 - Realizam maior troca gasosa (mais alvéolos de menor diâmetro) aprofundam na anestesia mais rápido do que cães e gatos - Difícil acesso às vias aéreas (dificuldade durante a intubação) - Roedores se alimentam mais a noite, logo, os procedimentos cirúrgicos são melhores durante o dia (evita que ocorra dor pós-cirúrgica na noite, pela monitoração durante a tarde) - Coelhos são mais ativos durante o amanhecer e anoitecer - Animais monogástricos, com estreito ângulo na curvatura menor do estômago (impede que eles vomitem) - Jejum: normalmente, de 2 a 4 horas, se necessário - Exame físico: realizar o possível com o animal na gaiola, e o que não for, realizar contenção Considerações anestésicas: Contenção Física: coelhos: possuem a coluna vertebral frágil (predispõe luxações e fraturas de vértebras lombares) – ideal é realizar a contenção na prega do pescoço junto a um apoio ventral camundongo: na prega da pele e da cauda porquinho-da-índia: segurar o corpo e manter a cabeça firme Não pendurar os animais pela cauda Via de administração: subcutânea é ideal, porém não para a anestesia. Na aplicação de anestésicos, faz-se intramuscular (na dissociativa) ou intravenosa Anestesia: MPA: tranquilizantes, benzodiazepínicos, opióides, α-2 agonistas Bloqueios: infiltrativos, epidural (coelhos) TIVA, Dissociativa e Inalatória também podem ser alternativas de uso intubação: mais difícil de realizar nestas espécies (necessita de equipamento específico) Monitoração: compressão da cauda e da orelha em roedores, monitorar os parâmetros vitais, glicemia e temperatura 15 AULA 6: CLÍNICA DE PRIMATAS CLASSIFICAÇÃO - Primatas do novo mundo (ocidente): sagui, macaco-prego, macaco-aranha, bugio e muriqui espécies encontradas no Brasil (nativas) primatas platirrinos: focinhos mais curtos, e narinas laterais - Primatas do velho mundo (oriente): babuíno, mandril, chimpanzé e orangotango espécies não nativas do Brasil (exóticos) primatas catarrinos: focinhos longos, narina para baixo PRIMATAS PLATIRRINOS (NOVO MUNDO) Ampla distribuição geográfica, com diferentes padrões de coloração. São classificados em 5 famílias. - Mamíferos placentários, de hábito arborícola (vivem em árvores) - Fêmeas apresentam duas mamas torácicas (raramente excedem o número de dois filhotes por parto) - Possuem maior volume cerebral, visão estereoscópica (parecida com a humana), e possuem ótima habilidade com o uso das mãos e pés, além de terem a cauda prêensil (cauda funciona como um membro extra) e garras que ajudam na escalada nas árvores - Braquiação: movimentos de se pendurarem com os braços nas árvores Calitriquídeos: espécies que possuem ornamentos na cabeça (tufos, jubas, cristas, bigodes) – estão nesta classe os saguis - reprodução: andam em grupos familiares formados por uma fêmea reprodutora dominante, com um ou mais machos. Pode haver outras fêmeas no grupo, porém estas não serão reprodutoras, sendo conhecidas como subordinadas, e entram em anestro. A fêmea dominante possui elevada concentração de progesterona. - gestação: dura cerca de 125 a 240 dias, e em geral dão cria a gêmeos, uni ou bivitelinos. Os filhotes permanecem com as mães somente até 2 semanas (período de amamentação). Cebídeos e atelídeos: macaco-prego, macaco-aranha, bugios - reprodução: andam em grupos maiores, onde quem exerce a dominância é um casal somente. Estes animais entram em sazonalidade alimentar (algumas estações do ano se alimentam bem menos), e as fêmeas podem permanecer em anestro por 2 a 3 anos. - filhotes: as mães possuem mais cuidado e contato com a cria, permanecendo com os filhotes até que estes amadureçam e entrem na vida adulta NUTRIÇÃO - Problema principal com os animais criados em cativeiro. As espécies possuem hábitos alimentaresdiferentes entre si (proteína, carboidrato, carnívoros, insetívoros, folívoros e frugívoros). Porém, quando criados em cativeiro, a principal fonte de alimentação torna-se a ração, sendo necessário suplementar com outros alimentos, de acordo com o hábito alimentar da espécie. frutas: animais frugívoros, quando suplementados com frutas, começam a trocar a ração por frutas, o que pode acarretar problemas de obesidade e diabetes nestes animais COLHEITA DE MATERIAL BIOLÓGICO - Animais diabéticos: por ser necessário fazer coletas frequentes, estes animais são treinados para o procedimento, e adestrados a tal ponto que ofereçam o braço para o cuidador ou veterinário colher o sangue - Animais de vida livre: necessária contenção física ou química (anestesia geral) coleta: ideal é que seja realizada no plexo arteriovenoso inguinal (perto da artéria femoral) 16 CIRURGIAS - Prática pouco comum nestes animais, sendo mais promovida em casos de brigas por acasalamento, atropelamentos ou cirurgias reprodutoras. o cesárea: devido distocia apresentada durante o parto o vasectomia: feita para controle populacional (não se realiza a orquiectomia, para que o macho não perca a característica de dominância, promovida pela testosterona) - técnica: retirada da cauda do epidídimo (epididimectomia) ou secção dos ductos deferentes - Tratamento periodontal: promovido em casos de cáries ou ainda doença periodontal - Cicatrização destas espécies é rápidas, porém requerem troca diária de curativos (devido estes dois fatores, preconiza-se a realização de suturas intradérmicas) - Pós-operatório: ATB (penicilinas), AINEs (flunixim-meglumine), analgesia (tramadol) e em casos de automutilação que lesiona a cicatriz cirúrgica, utilizar fenotiazínicos (como clorpromazina, acepromazina) ou benzodiazepínicos (diazepam ou midazolam) INSTALAÇÕES - Devem promover proteção contra ruídos externos e desconfortáveis aos animais - Possibilitar a exposição de luz solar matutina (para que haja formação de vitamina D) - Se possível, evitar variações bruscas de temperatura e umidade, impedir contato com fezes, urina e restos de alimento - O local deve ter espaço suficiente para que o animal realize atividades físicas e expresse seu comportamento biológico (arborização para os animais arborícolas, galhos e cordas para que realizam braquiação, poleiros horizontais para saguis, que são espécies corredoras) - Animais mais agressivos, deve-se fazer cambiamento, que é um local de isolamento destes animais, para que seja possível realizar limpeza do local e alimentação destes animais DOENÇAS Trabalha-se com animais silvestres mais com profilaxia do que com tratamento. Exames periódicos são importantes para verificação das principais doenças dos primatas Doenças virais: Herpesvirose: Herpesvírus simples tipo 1 ou tipo 2 considerada uma antropozoonose (animal adquire do humano) no primata, age de forma mais importante (alta morbidade e letalidade) sinais clínicos: lesões ulcerativas orais ou genitais, erupções vesiculares ao redor dos lábios, podendo desenvolver lesões mais graves, como necrose da cavidade oral, conjuntivite, e ainda sinais neurológicos (anorexia, hiperestesia, incordenação, fraqueza e óbito) – filhotes tem sinais mais graves profilaxia: evitar contato muito próximo com o ser humano (transmissão pela saliva) tratamento: aciclovir Raiva: Rhabdovirus (vírus neurotrópico) considerada uma zoonose (primatas são acometidos de forma menos frequente) sinais clínicos: encefalomielite aguda e fatal profilaxia: pode-se fazer vacinação antirrábica (durante o período de quarentena), porém não se sabe se a resposta vacinal desenvolvida é suficiente para proteção do animal Febre amarela: Flavivirus primatas são considerados hospedeiros vertebrados deste vírus (participam do ciclo silvestre) mosquitos silvestres são hospedeiros invertebrados (participam do ciclo silvestre) Aedes aegypti: também é um hospedeiro invertebrado, porém do ciclo urbano zoonose de letalidade elevada e evolução rápida (principalmente em bugios, saguis e macaco-aranha) outros primatas podem desenvolver somente a forma subclínica da doença 17 - Ciclo silvestre: somente fazem parte os primatas e mosquitos silvestres os humanos são infectados neste ciclo somente quando adentram as matas, e não são vacinados - Ciclo urbano: Aedes aegypti infecta o ser humano (considerado erradicado este ciclo) sinais clínicos: síndrome febre (durante a viremia), insuficiência hepática aguda (levando a icterícia), CID (diminuição da síntese de proteínas e fatores de coagulação), além de lesões em tecidos específicos (coração e rins), choque e óbito profilaxia: vacinação (primatas e humanos) – maior problema são os primatas de vida livre que não são vacinados Doenças bacterianas: - Klebsiella (promove pneumonias, de difícil controle), Campylobacter, Shigella e Salmonella (promove diarreia) salmonelose: antropozoonose (devido contaminação humana nos alimentos de animais em cativeiro) - Tuberculose (Mycobacterium): zoonose e antropozoonose de ampla importância primatas, quando chegam na quarentena, recebem um controle bem rigoroso contra tuberculose, onde se realiza o teste de tuberculinização (injeta-se o extrato, chamado de tuberculina, na região palpebral superior, aguardando se há reações locais, de 24 a 48 horas – as reações podem variar desde de eritema a edema) - animais positivos: isolados e tratados (se não responder, é eutanasiado) doença de caráter insidioso, granulomatosa, de processo inflamatório crônico e debilitante Doenças fúngicas: - Dermatofitoses (diversos agentes fúngicos) – poucos relatos tratamento: anfotericina B Doenças parasitárias: - Toxoplasmose: adquire a partir de alimentos contaminados com oocistos de Toxoplasma gondii pneumonia, hepatite e encefalite - Tripanossomíase: cursa com miocardite em primatas - Acanthocephala: promove inflamação e necrose intestinal hospedeiro: baratas (realizar o controle destes insetos) Vermifugação e coproparasitológico: realizado pelo menos 1 vez ao ano Antiparasitários: albendazol ou praziquantel (em casos de coproparasitológico positivo) Problemas dentários: principalmente em animais de cativeiro (devido a alimentação rica em carboidratos) - Saguis e Mico-leão-dourado: são mais suscetíveis (jovens principalmente) - Gengivites, cáries, fraturas e ausência de dentes, retração gengival e exposição de dentina - Tratamento odontológico para resolução Doenças neoplásicas: pouco frequentes (principalmente em animais idosos em cativeiro, que tem perspectiva de vida maior) – são mais frequentes no trato gastrointestinal 18 AULA 7: CLÍNICA DE CANÍDEOS SILVESTRES INTRODUÇÃO As espécies de canídeos silvestres mais conhecidas no Brasil são: Cachorro-do-mato, Cachorro-vinagre, Lobo-guará e a Raposa-do-campo. cachorro-vinagre e lobo-guará: há algum tempo atrás eram espécies endêmicas, mas atualmente tornaram-se espécies ameaçadas em extinção BIOLOGIA - Dentição: adaptada ao tipo de dentição (carnívoros possuem os caninos bem desenvolvidos) caninos adaptados para a apreensão do alimento molares e pré-molares são responsáveis por rasgar o alimento Cachorro-do-mato Canídeo de médio porte (pesam de 4,5 a 8,5 kg), coloração acinzentada. Encontrado em todo território nacional - Vivem e caçam aos pares, e possuem hábito de caça noturno Lobo-guará Considerado o maior canídeo brasileiro (pesam de 20 a 30 kg), tem coloração avermelhada e membros enegrecidos. Encontrado em todo o território nacional, mas principalmente no cerrado. - Vivem sozinhos ou aos pares, e possuem hábito de caça noturno Raposa-do-campo Menor canídeo brasileiro (pesam de 2,5 a 4 kg), tem coloração cinza e face mais amarelada. Considerada ainda endêmicano Brasil, encontrada em maior parte no cerrado e pantanal - Vivem sozinhos, aos pares ou em grupos, e possuem hábito de caça noturno DIETA E NUTRIÇÃO - São onívoros, se alimentando tanto de proteína animal quanto proteína vegetal (exceto o cachorro-vinagre que possui maior parte de sua dieta por proteína animal) - Lobo-guará: 60% da sua dieta é de proteína vegetal, e 40% são de proteína animal - Cachorro-do-mato: também possui dieta predominante de proteína vegetal - Alimentam-se de insetos, peixes, frutas, anfíbios, mamíferos e aves - Em cativeiro, recebem ração canina, associada com frutas e vegetais ração: promove cristalúria (cristais na urina), que em excesso, leva a formação de cálculos - Filhotes: recebem leite ou sucedâneo, até chegar a idade jovem, onde começam a receber ração na dieta - Espécies que ingerem maior quantidade de proteína animal, pode-se oferecer roedores, aves vivas e insetos pouco realizado, devido as medidas de bem-estar da presa DIAGNÓSTICO - Contenção química: realizada devido à agressividade destas espécies, não bastando somente a contenção física realizada com uso da zarabatana e anestésico - Exame clínico: semelhante ao dos cães domésticos (mudando somente os valores de referência) lobo-guará cachorro-do-mato raposa-do-campo cachorro-vinagre 19 - Pode-se fazer hemograma, bioquímico ou sorológico através da coleta de amostras - Coleta de sangue: veia jugular ou cefálica (como nos cães) CIRURGIA - Procedimentos ortopédicos: devido atropelamentos e traumas osteossíntese (em casos de trauma) ou confecção de talas ortopédicas DOENÇAS Principais preocupações são as zoonoses e as transmissíveis de canídeos para caninos domésticos. Destruição dos habitats naturais, faz com que os animais venham ao ambiente urbano, fazendo com que tenham contato com caninos, e resultando, muitas vezes, em transmissão de doenças. Cinomose: Morbilivirus (doença contagiosa, que afeta frequentemente animais jovens) altamente contagiosa, tendo transmissão por aerossóis, contato direto ou fômites acomete animais jovens, mas também adultos e idosos sinais clínicos: respiratório, gastrointestinais e neurológicos - hiperqueratose dos coxins: assim como ocorre na dos cães domésticos, ocorre nos canídeos tratamento de suporte (fluidoterapia, manejo nutricional, antibióticos nos sinais respiratórios, e anticonvulsivantes em caso de sinais neurológicos) Parvovirose: Parvovírus canino (acomete principalmente os filhotes) transmissão por via oral (contaminação fecal), geralmente adquirida por contato com cão doméstico sinais clínicos: diarreia, gastroenterites sanguinolenta ou mucosa (desidratação) tratamento de suporte (fluidoterapia, antibioticoterapia, isolamento dos animais acometidos) Raiva: Lyssavirus (mais importante doença dos canídeos silvestres, pois estes não possuem vacinação como é realizada nos cães domésticos) transmissão direta entre as espécies (geralmente por mordedura de morcegos, ou outros animais) maior incidência no nordeste (devido maior aglomerado de cachorro-do-mato nesta região) Leishmaniose Visceral: Leishmania chagasi (infantum) transmitida pelo mosquito-palha (Lutzomia longipalpis) canídeos silvestres podem ser reservatórios de leishmaniose independente de apresentares sinais clínicos ou não, são considerados reservatórios sinais clínicos: mesmos apresentados pelo cão (dermatopatias, onicogrifose, anorexia, hepatopatia) doença de notificação obrigatória em animais silvestres recomendação: eutanásia, quando diagnosticado Sarna sarcóptica: Sarcoptes scabiei (hábito de escavação de túneis) – zoonose dermatite parasitária (escabiose): prurido, eritema, processo inflamatório dermatológico, alopecias generalizadas, hiperqueratose diagnóstico: raspado de pele tratamento: selamectina ou ivermectina, ou banho de amitraz (difícil de fazer, devido a agressividade) MEDICINA PREVENTIVA - Quarentena: chegada de um animal novo, num período de 30 dias realiza-se coleta de materiais biológicos (hemograma, bioquímico, coproparasitológico, urinário) coleiras a base de deltametrina em áreas endêmicas para leishmaniose vacinações: de preferências as monovalentes com de vírus inativado – Cinomose, Parvovirose e Raiva recomenda-se realizar coproparasitológico e vermifugação em casos positivos 20 AULA 8: CLÍNICA DE FELÍDEOS SILVESTRES INTRODUÇÃO Distribuição geográfica praticamente mundial. Alguns ameaçados de extinção. - Brasil: agrega os felídeos neotropicais (presentes em toda América), e existem 3 gêneros: Panthera (onça-pintada) Puma (suçuarana e gato-mourisco) Leopardus (jaguatirica, gato-do-mato, gato-maracujá) BIOLOGIA Jaguatirica: espécie muito agressiva, de porte médio (7 a 16 kg) e pelagem curta - De hábito noturno, vivem solitárias, e são escaladoras - Vivem em média 21 anos Suçuarana ou Onça-parda: segunda maior espécie do Brasil (53 a 72 kg), coloração acinzentada - De hábito noturno e diurno, vivem solitárias - Preferem lugares escuros, e também são escaladoras Onça-pintada: maior felídeo das Américas (57 a 100 kg) - Também possui uma variante da espécie de coloração enegrecida (onça-preta) - Vivem em média 20 anos - De hábito noturno, vivem solitárias, são nadadoras e mergulhadoras - Possuem hábito mais terrestre (não escala muito) Outras espécies: gato-mourisco, gato-palheiro, gato-do-mato NUTRIÇÃO - São predominantemente carnívoros (diversos animais na sua dieta) - Em cativeiro, eles possuem baixa aceitação de ração doméstica, sendo necessário oferecer proteína animai (carne bovina, pescoço cru e pintinhos vivos) ingestão de carne crua: ocasionalmente, a carne pode estar contaminada com Toxoplasma - Recinto em cativeiro, deve haver capim, para que ingiram e provoquem a êmese regurgitação de pelos INSTALAÇÕES Grandes recintos para abrigar as espécies (dependendo da espécie, há um tamanho mínimo) - Normalmente, estes animais vivem em pares em cativeiro - Enriquecimento ambiental: piscinas (hábito aquático), árvores (hábito de escalada) - Fêmeas prenhes são isoladas, para diminuição do estresse - Filhotes nascidos em cativeiro, devem passar por separação gradativa da mãe - Cambiamento: realizado para alimentação, nas fêmeas prenhes e nos filhotes após separação das mães jaguatirica suçuarana onça-pintada 21 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL - Comportamento estereotipado: estresse, faz com que animal desenvolva este comportamento (automutilação, andar em círculos, lambeduras constantes, sucção da cauda, arrancar pelos) está relacionado a falta de enriquecimento ambiental, animais em recintos pequenos ou que vivem sozinhos - No momento da alimentação, pode-se fazer o enriquecimento ambiental: esconder alimento durante a refeição; oferecer picolés de carne (animal permanece mais tempo se alimentando); trilhas de carne; alimentos pendurados ou embrulhados, oferecendo trabalho ao animal - Caixas, balanços, redes, que promovam distração ao animal, diminuindo o seu estresse DIAGNÓSTICO - Contenção química (devido a agressividade), para inspeção geral e coleta de material inspeção das garras: animais em recintos não possuem desgaste das garras, podendo desenvolver pododermatites por crescimento excessivo das garras - Coleta de sangue: veia jugular, cefálica ou safena - Anil na carne: animal defeca com coloração do anil, identificando as fezes do animal que se quer coletar as fezes CIRURGIAS Pouco realizadas, por possuírem um pós-operatório difícil e deiscência de pontos. - Osteossínteses: em animais atropelados ou fraturados - Nodulectomias e tratamentos odontológicos: em felídeos em cativeiro odontologia: exposição traumática da polpa, doença periodontal, cárie, abrasão dental (devido estresse, onde os animais mordem algum objeto, gerandodesgaste) – promove-se exodontia (extração do dente), periodontia (tratamento periodontal) e endodontia (como formação de canais dentários) DOENÇAS INFECCIOSAS Rinotraqueíte: Herpesvírus felino tipo 1 infecção respiratória (rinite), conjuntivite, úlceras orais, pneumonia PIF: Coronavirose Panleucopenia: vírus da panleucopenia felina comum em situações de surtos vômitos, diarreia Vírus da Leucemia Felina(FelV) e Vírus da imunodeficiência Felina (FIV) Outras doenças: Cinomose, Raiva, Hemoparasitoses DOENÇAS PARASITÁRIAS Endoparasitoses (toxoplasmose, giardíase): tratamento a base de antiparasitários (ivermectina, praziquantel) MEDICINA PREVENTIVA - Quarentena: período em que serão realizados os exames e vacinações (calicivirus, rinotraqueite, panleucopenia e raiva) e controle parasitário dos animais (coproparasitológico e vermifugação dos positivos) 22 AULA 9: CLÍNICA DE ROEDORES INTRODUÇÃO São considerados pets exóticos (não são oriundos do nosso território nacional). - Domesticados, fáceis de criar, dóceis, pelagem característica - Principais espécies domesticadas: camundongos, hamsters, chinchilas, porquinhos-da-índia, ratos - Originalmente são animais de laboratório BIOLOGIA - Caracterizados por possuírem dois pares de dentes incisivos afiados, com grande capacidade reprodutiva e gestação curta (muitos filhotes) - Têm o hábito de coprofagia (comportamento normal, pois possuem dificuldade na absorção intestinal da vitamina B, e para que possam absorvê-la de forma natural, comem as fezes, que é onde a vitamina B é excretada) vitamina B: possui papel importante na digestibilidade Existem dois grupos principais: - Grupo Myomorpha (com duas famílias): o Família Muridae: camundongo, rato e ratazana o Família Cricetidae: hamster-sírio, gerbilo, hamster-chinês - Grupo Hystricomorpha (com uma família) o Família Cavidae: porquinho-da-índia e chinchila ANATOMIA E FISIOLOGIA - Possuem crânio alongado - Lágrimas possuem porfirinas, conferindo uma coloração marrom avermelhada (excesso desta coloração pode ser devido alguma situação de estresse) - Possuem abertura restrita da boca (dificulta a avaliação da cavidade oral) - Dentição: possuem os incisivos, pré-molares e molares (não possuem dentes descíduos) incisivos maxilares: medem de ⅓ a ¼ dos incisivos mandibulares diastema: área entre incisivos e pré-molares que não há dentição, onde há pregas mucosas, que facilitam a armazenagem do alimento nesta região, e que deglutam o alimento sem mastigar dentição classificada em duas formas: elodontes (dentes de crescimento contínuo do dente) elodontes hipsodontes: hábito de crescimento contínuo rápido chinchila e porquinho-da-índia possuem todos os dentes com esta característica incisivos das outras espécies possuem esta caractersística elodontes braquiodontes: hábito de crescimento mais lento pré-molares e molares possuem esta característica hamsters e camundongos apresentam os incisivos mandibulares móveis bolsa jugal: local de armazenagem do alimento por longos períodos de tempo NUTRIÇÃO - Porquinhos-da-índia: possuem deficiência de vitamina C, necessitando de suplementação diária chinchila hamster camundongo porquinho-da-índia gerbilo 23 quando há criação mista com coelho, eles podem não ser suplementados suficiente suplementação: por via oral, por água de beber, ou ainda por alimentos ricos em vitamina C - Hamster e gerbilos: são herbívoros, mas ingerem vitamina animal ocasionalmente quando os animais são criados, não há ingestão dessa proteína animal ração específica para a espécie pode suprir esta necessidade - Ratos: herbívoros preferenciais, mas também podem ser alimentados com proteína animal - Porquinhos-da-índia e chinchilas: totalmente herbívoros possuem o ceco funcional, que promove digestão das fibras por fermentação ideal que tenham até 35% da dieta composta de fibras (alfafa, feno, verduras frescas) necessitam das fibras para que ocorra desgaste da dentição (devido o crescimento contínuo) longos jejuns podem gerar convulsão e automutilação caso não haja ingestão necessária de fibras, há aumento do pH, fazendo bactérias da microbiota aumentar, gerando enteropatias e diarreia - Água: animais que possuem dieta com mais concentração de sementes e ração, necessitam de mais água, enquanto os animais que se alimentam com fibras, ingerem menos água camundongos: não se alimentam se não houver água hamster: não ingerem muita água (espécie desértica) Animais debilitados: necessitam de 1,5 a 3 vezes a quantidade superior da oferecida normalmente fluidoterapia e dieta pastosa (ração peletizada moída junto com vegetais) filhotes: sucedâneo de leite porquinhos-da-índia e chinchilas: podem apresentar baixa motilidade intestinal quando debilitados, podendo se administrar medicamentos pró-cinéticos, que aumentam a motilidade intestinal (cisaprida e metoclopramida) probióticos: oferecer para reposição da flora (principalmente para os de ceco funcional, e animal que está recebendo antibiótico) INSTALAÇÕES E MANEJOS - Gaiolas e caixas de vidro que ofereçam conforto, abrigo, com ventilação e seja possível a alimentação do animal caixas de vidro são menos indicados, por se manter um ambiente fechado (problemas respiratórios por menor ventilação e inspiração de amônia da urina) - Muito contato com fezes e urina, pode gerar pododermatites (limpeza diária) - Túneis e labirintos para diminuição do estresse destes animais - São animais sensíveis a hipertermia, podendo vir a óbito (ratos e camundongos não possuem glândulas sudoríparas) – temperatura ideal é de 18 a 26º C - Água: deve ser trocada diariamente (se persistir muito tempo a água, pode haver proliferação de bactérias) ideal: bebedouros e comedouros de cerâmica ou inox (resiste ao hábito de roer) bebedouros por gotejamento, podem deixar o ambiente muito úmido - Cama: mais utilizado de serragem e maravalha (porém desaconselhados, pois animal pode ingerir, além de contribuírem para reprodução de patógenos) indicado: jornais, papéis toalha - Brinquedos que estimulem as atividades físicas (tubos, rodas) – principalmente chinchilas, que são mais ativas HISTÓRICO E EXAME FÍSICO - Avaliar o manejo do animal (dieta, instalação, ambiente, limpeza, contactantes) - Inspeção: avaliar os pelos, comportamento do animal, postura, aspecto de fezes e urina, e pesar o animal - Exame do pelo: presença de alopecia (ligado ao estresse e automutilação em chinchilas), presença de ectoparasitas 24 - Avaliar os olhos, orelhas, narinas e cavidade oral com auxílio do otoscópio (amplia visualização) e palpar a mandíbula, para identificar a presença de assimetrias (comum em alterações odontológicas) - Avaliação de mucosas (coloração, secreções), palpação de linfonodos e abdômen - Temperatura: possível em espécies maiores (porquinho-da-índia e chinchilas) - Auscultação é difícil devido o tamanho dos animais (necessita de estetoscópio neonatal) chinchilas e porquinhos-da-índia: realizar auscultação abdominal (normal de 1 a 2 movimentos por minuto) COLHEITA DE MATERIAL Bastante limitada, também devido o tamanhos destes animais - Coleta: principalmente pelas veias laterais da cauda (para visualizar facilmente, fazer tricotomia, e aquecer digitalmente, ou fazer pressão na base da cauda) veia femoral (ratos, gerbilos e hamsters) e jugular (chinchilas, porquinhos-da-índia, gerbilos e hamsters) também podem ser utilizadas para coleta de amostras CIRURGIAS - Mais comuns são as cirurgias do sistema reprodutivo (OSH, orquiectomia para controle populacional, cesarianas em distocias e mastectomias em fêmeas com nódulos). - Cistotomias em presença de urolitíases (devido consumo de fibras ricas em cálcio) - Amputação de cauda (principalmenteem chinchilas, por serem predispostas a sofrerem avulsão de cauda) - Enucleação em problemas oftálmicos graves (prolapso de globo ocular devido manuseio errôneo) - Cirurgia de prolapso de reto (ocorre como sequela de doenças intestinais que aumentam a motilidade) pode ser reduzido ou amputado (em casos de necrose intensa) VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS E FLUIDOTERAPIA - Via oral: mais fácil de realizar em chinchilas - Via subcutânea: mais utilizada - Via intramuscular: pouco utilizada, por suportar pequenos volumes, além de promover necrose dependendo do medicamento administrado (sulfas, trimetropinas) - Via intravenosa: nas veias safena e cefálica (acesso para contenção química) - Via intraperitoneal: mais utilizado em animais de laboratório (risco de rompimento de vísceras) - Via intraóssea: menos utilizada (fêmur ou crista da tíbia) FLUIDOTERAPIA - Reposição: feita baseada na desidratação do animal (para cada 1% de desidratação, faz-se 10 ml/kg) pode-se fracionar, quando atinge-se o limite possível de aplicação pela via de administração escolhida DOENÇAS DE PELE Mais frequentes em roedores. Cursam com alopecia, estando relacionadas a erro de manejo. - Atopias (hamsters, ratos), alopecias simétricas (doenças endócrinas em porquinhos), alopecias inespecíficas (hamsters), automutilação (comportamental em chinchilas), mutações genéticas (camundongos e hamsters) - Ectoparasitoses: sarnas (notoédrica e demodécica), piolhos e pulgas tratamento: ivermectina ou amitraz tópico (com gaze, passando no dorso) - Bacterinas: abscessos, linfadenites e pododermatites (associadas a erro de manejo) tratamento: antibioticoterapia sistêmica (amicacina, ampicilina, enrofloxacina, metronidazol, sulfa+trimetropim) e em casos de linfadenite, promover procedimento cirúrgico, AINE (meloxicam) - Fúngicas: dermatofitoses (diagnosticados pela lâmpada de Wood ou cultura fúngica de pelos) tratamento: itraconazol 25 - Neoplásicas: melanoma, neoplasia da glândula ventral (glândula próxima a cicatriz umbilical), entre outras. - Leishmaniose tegumentar: causada pela Leishmania enrietti, acometendo especialmente os porquinhos-da-índia, levando a formação de nódulos e úlceras DOENÇAS DO TRATO GASTROINTESTINAL - Síndrome da doença dentária progressiva adquirida: ocorre quando não há o fornecimento adequado de fibras para o desgaste dentário, podendo fazer desenvolver pontas e pontes dentárias, má-oclusão da dentição superior e inferior pontas e pontes: atrito na mucosa oral, levando lesões ulcerativas e formação de abscesso, e doença periodontal (por acúmulo de alimento) sinais clínicos: salivação, hiporexia, perda de peso, bruxismo (ranger dos dentes) diagnóstico: avaliação oral (com otoscópio) ou radiografia tratamento: alteração da dieta (oferecer fibra para desgaste natural de dentição) e se necessário, promover o desgaste manual com animal anestesiado, antibioticoterapia e AINE (em casos de abscessos) DOENÇAS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Bastante frequentes, estando relacionadas a problemas de manejo e instalações (ventilação, clima, superpopulação, falta de limpeza do ambiente, excesso de amônia) - Bactérias: em situações de estresse, as bactérias da microbiota respiratória tornam-se oportunistas - Alergias: geralmente ao alimento ou pela composição da cama tratamento: nebulização com corticoide (dexametasona) - Dermatite nasal: ocorre em gerbilos (secreção nasal) - Oxigenoterapia (se necessário) e tratamento com nebulização e antibiótico (enrofloxacina ou sulfa+trimetropim) DOENÇAS MUSCULO-ESQUELÉTICAS - Principalmente as fraturas (quando animais se lesionam em brinquedos) – lesões de coluna são mais difíceis de tratar possuem cicatrização óssea muito boa (não necessitam de procedimento cirúrgico) – talas e pensos (porém podem roer estes materiais) chinchilas: cicatrização óssea é deficiente (dependendo da fratura, deve-se realizar osteossíntese) DOENÇAS OCULARES - Sialodacrioadenite: provocada por um vírus que inflama e obstrução do ducto nasolacrimal, causando epífora no animal (lacrimejamento excessivo) - Conjuntivite: inflamação da conjuntiva ocular (bacteriana, ou devido reação a amônia) sinais clínicos: blefarite (inflamação da pálpebra), hifema (acúmulo de sangue na região ocular) tratamento: pomada tópica a base de tetraciclina - Úlcera de córnea: associadas a conjuntivite não tratada ou contactantes - Catarata 26 AULA 10: CLÍNICA DE LAGOMORFOS INTRODUÇÃO - São animais de distribuição mundial (exceto Oceania e Antártida) - Animais utilizados na indústria alimentícia, na caça e no comércio de pele e como pets - São animais inteligentes, de fácil treinamento BIOLOGIA, ANATOMIA E FISIOLOGIA Tatipi (Sylvilagus brasiliensis) - presente desde o México até a Argentina - pesa entre 1 e 1,5 kg, tem orelhas curtas, coloração que vai do cinza-claro ao marrom - membros pélvicos curtos, comprimento do corpo entre 21 e 47 cm - o macho geralmente menor que a fêmea Lebre (pertencem aos gêneros Lepus, Caprolagus e Pronolagus) - existem aproximadamente 32 espécies, que foram introduzidas em diversas partes, exceto Antártida - pesam entre 2 e 5 kg, e ao sinal de perigo correm e se escondem nas tocas - as lebres correm grandes distâncias,têm hábitos crepusculares e noturnos, e são boas nadadoras - têm orelhas grandes e crânio longo Coelho doméstico (Oryctolagus cuniculus) - teve seus ancestrais provenientes do oeste da Europa e nordeste da África (mais de 50 raças) - apresentam a pele fina, coberta por pelos de diferentes densidades (cuidado durante a contenção) - não possuem coxim plantar e palmar - orelhas são grandes e desempenham função importante no controle térmico corpóreo, graças à vasodilatação e vasoconstrição periférica da mesma (não se deve conter o animal pelas orelhas) - campo visual lateral é de 190° (por ser presa, torna possível a percepção de potenciais predadores) e têm um ponto cego na frente do focinho - possuem dois cornos uterinos e duas cérvices - possuem baixa absorção de cálcio sérico, sendo este diretamente proporcional ao obtido pela dieta RAÇAS DE COELHOS Mistos Lionhead Nova Zelândia Azul de Viena Hotot Holandês Minilop Rex 27 DENTIÇÃO - Possuem os dentes incisivos, pré-molares e os molares - Sua dentição é do tipo heterodonte e elodonte (os dentes têm crescimento contínuo), e arradicular (não possuem a raiz verdadeira) - Possuem o diastema, que é um espaço entre os incisivos e os pré-molares - Incisivos: 4 incisivos maxilares e 2 incisivos mandibulares SISTEMA GASTROINTESTINAL - Produzem fezes e cecótrofos (alimentos processados no ceco a partir da celulose) - A microbiota cecal, formada por Bacteroides sp., estreptococos, colibacilos, Clostridium perfringens, protozoários ciliados e Cyniclomydes guttulatulus, é responsável pela fermentação da ingesta - Cecotrofagia (ingestão dos cecótrofos) é necessária, pois são ricos em nutrientes essenciais ácido fólico, vitaminas C, B e K e aminoácidos, e os cecótrofos são produzidos na porção final do intestino grosso, onde há baixa absorção intestinal, sendo necessário reintroduzir estes compostos na dieta (através da cecotrofagia) - Portanto, lagomorfos realizam cecotrofagia e não coprofagia REPRODUÇÃO - Gestação de 30 a 33 dias, e de parto é rápido e silencioso - Problemas mais frequentes em criações de lagomorfos são canibalismo, hipotermia e trauma, causados geralmente por manipulação inadvertida dos filhotes por pessoas caso o filhote se afaste do ninho, a mãe não o resgata (podendo vir a morrer pela tríade neonatal – hipotermia, hipoglicemia e desidratação) - Caso seja necessário manipulação do ninho ou dos filhotes, o odor do manipulador deve ser mascarado com o odor da cama dos animais (passar a cama nos filhotes) evitar manipulação dos filhotes até os 21 dias de amamentação - Após 21 dias de amamentação, os filhotes iniciam a ingestão de alimento sólido (momento crítico, quando distúrbios gastroentéricos podem ocorrer) - Entre 6 e 8 semanas os filhotes tornam-se independentes NUTRIÇÃO - Estritamente herbívoros (verduras e fenos são os alimentos principais) - Ração comercial não pode ser o único alimento, pois diminui o desgaste dentário (associar com feno) - Verduras verdes escuras, por possuírem alta concentração de cálcio, podem predispor a formação de cálculos - Cenouras e frutas devem ser oferecidos somente como petiscos (frutose em excesso pode causar disbiose) INSTALAÇÕES - Sistemas externos: animais são mantidos em espaços abertos e com pouco controle sobre a umidade e temperatura ambiente, devendo ter área sombreada e fresca, para amenizar nos dias quentes e abrigo contra chuvas piso deve ser de terra gramada para que os animais façam suas tocas em galerias as paredes ou telas devem ser aprofundadas no solo, pois como são animais construtores de galerias, podem facilmente cavar túneis sob a área cercada e fugir - Sistemas internos: animais são mantidos em ambiente controlado, entre 15 e 24°C, aproximadamente, é ideal que o animal passe um tempo solto, pois deve receber cerca de 12 horas de luz por dia e se exercitar também podem ser utilizadas caixas plásticas grandes e gaiolas com piso telado COLHEITA DE SANGUE - Procedimento igual ao dos cães (veia jugular ou cefálica) - A aplicação de medicamentos e fluidos é realizada pela artéria central ou veia marginal da orelha 28 FLUIDOTERAPIA - Mais utilizada pelas vias subcutânea e intravenosa (pela veia ou artéria da orelha) - A desidratação provoca redução da motilidade e alteração da microbiota, gerando compactação intestinal - A dose de manutenção é 80 a 100 mℓ/kg/dia DISBIOSE - Desequilíbrio da microbiota intestinal, sendo geralmente causado devido o uso de antibiótico pela via oral, que alteram a população bacteriana, gerando diarreia, ou fezes úmidas a pastosas - Tratamento: oferecer probióticos - Prevenção: antibioticoterapia por outras via parenteral (SC, IM, IV) CIRURGIAS MAIS REALIZADAS EM LAGOMORFOS - Castrações para controle populacional (OSH e orquiectomia) - Exodontia: realizada em casos de processos inflamatórios crônicos, onde o tratamento conservativo é ineficaz - Remoção de neoplasias cutâneas (em animais mais idosos) - Cistotomias (para a remoção de cálculos urinários) - Osteossínteses (em casos de traumas ósseos) ULCERAÇÃO GÁSTRICA - Mais comuns nas regiões fúndicas e pilóricas, sendo que a prevalência aumenta com a idade - A etiologia provável é estresse e colapso hipovolêmico (menor perfusão da mucosa gástrica) - Sinais clínicos: anorexia, bruxismo, relutância em se movimentar, mucosas pálidas, dispneia, melena e choque, abdômen agudo e sepse (em úlceras perfuradas) - Diagnóstico: radiografia, ultrassonografia e endoscopia do trato digestório alto - Tratamento: deve ser profilático e sintomático e inclui protetores de mucosa gástrica, fluidoterapia, analgesia, antibioticoterapia e suporte nutricional protocolo mais usado: ranitidina (protetor de mucosa) + ranitidina (tratamento da úlcera) + sulfa ou enrofloxacina (ATB - prevenir contra peritonite e sepse) ESTASE GASTROINTESTINAL E ILEUS - Segunda doença clínica de maior prevalência na clínica médica de coelhos (atrás somente de má-oclusão dentária) - Presença de pelos e material alimentar impactado no estômago pode ser uma das causas - Porém, a causa mais comum é obstrução mecânica (seja pela desidratação, compactação da ingesta, presença de corpo estranho, lesão infiltrativa - Outra causa é por falha na propulsão do conteúdo (anormalidades na inervação mioentérica ou por falha na contratilidade da musculatura lisa gástrica) - Sinais clínicos: hiporexia ou anorexia, diminuição no tamanho das fezes, perda de peso, depressão, desidratação, morte (muitas vezes animal já chega em estado de desidratação extrema) - Diagnóstico: presuntivo (sinais clínicos), palpação abdominal (massa firme de fezes pequenas e desidratadas), auscultação (diminuição ou aumento de ruídos intestinais) e diagnóstico por imagem como raio-x, ultrassonografia e endoscopia (fecham o diagnóstico) - Tratamento: aquecer e hidratar o paciente em hipotermia, pró-cinéticos para induzir o esvaziamento gástrico (metoclopramida), estimulante de apetite (ciproeptadina), ATB (sulfa ou enrofloxacina) e suporte nutricional MIXOMATOSE - Causada por um Mixomavirus, a mixomatose é endêmica em lagomorfos, sendo que a transmissão ocorre principalmente por insetos hematófagos (pulgas, moscas) ou ainda por fômites - Em surtos graves, a taxa de mortalidade pode chegar a 100% 29 - Sinais clínicos: edema periocular, na base da orelha ou em regiões genitais, blefaroconjuntivite (inflamação da pálpebra e conjuntiva ocular), hiporexia progressiva até anorexia (devido a dor pelos nódulos), gerando morte - Diagnóstico: sinais clínicos, ELISA e PCR - Tratamento: tratamento de suporte + ATB ou eutanásia (não há tratamento específico) ABSCESSOS - Processo inflamatório circunscrito por cápsula - O pús dos coelhos é altamente espesso, o que dificulta a drenagem - Fatores predisponentes: odontopatias, subnutrição, ventilação inadequada, condições sanitárias insatisfatórias e feridas traumáticas - Locais de apresentação: cabeça, face, extremidades, articulações - Diagnóstico: sinais clínicos, citologia aspirativa e exames de imagem (abscesso interno) - Tratamento: antibiótico sistêmico, curetagem do abscesso, com lavagem do local com antibiótico impregnado de resina acrílica no local da curetagem (resina permite maior aderência do ATB). Também pode-se realizar marsupialização do abscesso (exteriorizar a cavidade do abscesso para tratamento e evitar recidiva). Em estágios avançados, amputação ou remoção cirúrgica. PODODERMATITE ULCERATIVA - Áreas de pele ulceradas e infectadas, geralmente localizadas na face ventral das regiões társicas e metatársicas, ocasionalmente também em região metacarpiana, sendo elas ulceradas e dolorosas - Agentes bacterianos envolvidos podem ser Pasteurella multocida e Staphylococccus aureus - Fatores predisponentes: obesidade, piso inadequado, trauma constante, nutrição inadequada, falta de higiene, feridas cutâneas e recintos pequenos - Sinais clínicos: dor, hiporexia, anorexia, hipotricose ou alopecia focal, claudicação, hiperqueratose epitelial, septicemia, podendo evoluir para morte - Tratamento: retirar a causa base e antibioticoterapia SÍFILIS DO COELHO - Também conhecida como espiroquetose venérea, treponematose ou vent disease, é uma doença sexualmente transmissível (DST) causada pela espiroqueta Treponema cuniculi - Também ocorre a transmissão da mãe aos filhotes - Sinais clínicos: lesões crostosas nas junções mucocutâneas do nariz, lábios, pálpebras e genitália - Diagnóstico: sinais clínicos e biópsia diagnóstico diferencial: sarna - Tratamento: penicilina benzatina (1 aplicação por semana, repetindo 3 vezes) ECTOPARASITAS - As principais são as sarnas (Psoroptes cuniculi, Sarcoptes scabei, Notoedres cati) - As lesões podem ser visíveis a olho nu ou somente pelo raspado de pele - Sinais clínicos: lesões seborreicas, geralmente em pescoço e dorso, e também crostas e inflamação nas orelhas, associadas a prurido - Diagnóstico diferencial: sífilis - Tratamento: Ivermectina, selamectina, imidacloprida 10%, moxidectina 10% (até negativar o raspado de pele) CORONAVIROSE E ROTAVIROSE - Rotavírus: geralmente assintomática, mas pode causar sinais clínicos em pacientes sob estresse e com infecção secundária. Em filhotes, pode gerar morte por desidratação 30 - Coronavírus: acomete mais frequentemente coelhos jovens, e o sinal clínico principalé diarreia, além de anorexia, desidratação e morte de jovens - Diagnóstico: sorológico - Tratamento: suporte (sinais clínicos) – prognóstico reservado DOENÇAS OFTÁLMICAS - Conjuntivite: inflamação da conjuntiva, pálpebra e esclera ocular (podendo ser secundária a dacriocistite, que é inflamação do ducto nasolacrimal por obstrução) sinais clínicos: epífora (lacrimejamento), alopecia periocular, pigmentação da pele e queda dos pelos, secreção mucopurulenta tratamento: anestesia geral para lavagem do ducto nasolacrimal (quando a causa é obstrução do mesmo) ou colírio de antibiótico (tobramicina) outras causas de conjuntivite: secundária a infecção periodontal, abscessos retrobulbares, exoftalmia, ceratite de exposição, pasteurelose (doença que cursa com rinite, pneumonia, otite, abscessos, septicemia, necessitando de antibioticoterapia sistêmica para tratamento) MÁ-OCLUSÃO - Doença clínica mais comum, causada pelo crescimento excessivo dos incisivos - Causas: prognatismo ou braquignatismo, dieta com pouca fibra - Sinais clínicos: Perda de peso, hiporexia ou disfagia, anorexia, seletividade alimentar, sialorreia, automutilação, exoftalmia, presença de alimento não digerido nas fezes, ranger de dentes (bruxismo), aumento de volume facial, corrimento nasal e ocular. - Tratamento: conservativo (oferecer mais fibra na dieta) ou cirúrgico(exodontia) 31 AULA 11: CLÍNICA DE AVES ORDEM PSITTACIFORMES - Representantes da ordem: Araras, papagaios, cacatuas, calopsitas e periquitos o ordem mais usada como pets, pela interação e natureza sociável - Coloração exuberante (atrai os proprietários) e tem a capacidade de imitar sons - Porém, os proprietários destes pets geralmente não possuem os conhecimentos nutricionais, ambientais, zootécnicos e sanitários das espécies (papel do médico veterinário) ASPECTOS BIOLÓGICOS A ordem Psittaciformes é constituída por duas famílias: Psittacidae (araras, papagaios, periquitos, maritacas) Cacatuidae (cacatuas, calopsitas) Loridae (lóris) – alguns autores não incluem esta família como Psitacídeos - Distribuição mundial, principalmente em áreas tropicais (América do Sul e Austrália) - Brasil possui uma ampla variedade de espécies nativas (arara, periquito, papagaio e maritaca), contando com 85 espécies (22 em extinção, e 1 já extinta, que é a arara-azul-pequena) - São aves de hábito diurno, arborícolas e escaladoras. Possuem alta destreza com os dígitos (ajuda a levar o alimento à boca) e são de diversos tamanhos e cores ANATOMIA E FISIOLOGIA - Possuem o bico articulado com o crânio, sendo o superior mais arqueado que o inferior, revestido por queratina, e possuindo um osso no bico - Mandíbula e maxila promovem movimentos complexos - São zigodáctilos (possuem dois dedos para frente e dois dedos para trás) SISTEMA RESPIRATÓRIO - No palato encontra-se a coana, abertura que conecta o sistema respiratório superior com a orofaringe - O ar passa através da coana até a laringe e entra na traqueia - O sistema respiratório inferior das aves inclui a traqueia, os pulmões e os sacos aéreos - Não possuem epiglote (fácil de entubar o animal na anestesia), mas possuem a siringe, que separa a cavidade oral do inicio da traqueia - Pulmões praticamente não apresentam expansibilidade, comunicando-se com os sacos aéreos através de pequenos orifícios (óstios) - Sacos aéreos: não realizam troca gasosa (somente os pulmões), mas têm a função de reduzir densidade (deixam o animal mais leve no voo), ventilar a cavidade celomática (mantêm a temperatura corpórea estável) e reservatório de ar sacos aéreos se encontram na cavidade celomática das aves (não possuem divisão em cavidade torácica e abdominal, sendo ela unida, denominada de celomática) sacos aéreos também possuem divertículos que penetram nos ossos longos (úmero, fêmur, clavícula),e origina os ossos pneumáticos, que possuem uma densidade menor que os ossos não pneumáticos, facilitando o voo - Não possuem diafragma, sendo que a respiração realizada pelo músculo peitoral e intercostal (contenção física no tórax dificulta a respiração) - Não possuem glândulas sebáceas nem sudoríparas (calor somente é eliminado pela respiração, o que leva esses animais a serem naturalmente taquipneicos) - Glândula uropigiana: presente em alguns psitacídeos, no dorso da base da cauda, que realiza a secreção oleosaque tem a função de impermeabilização das penas 32 SISTEMA DIGESTÓRIO - Inicia no bico, que remete o alimento ao esôfago - Inglúvio ou papo: dilatação presente no esôfago, onde o alimento é armazenado por um tempo, sendo umedecido e preparado para posterior digestão - Alimento segue ao pró-ventrículo (considerado estômago verdadeiro, por fazer a digestão química dos alimentos) e moela (considerado estômago mecânico, composto por fibras musculares, onde há pedras e areia ingeridas, que auxiliam na digestão) - A ingesta continua pelo intestino delgado, terminando no intestino grosso, e desemboca na cloaca - Órgãos anexos: fígado e pâncreas como nos mamíferos - Cloaca: estrutura onde desembocam o reto (sistema digestório), ureteres (sistema urinário) e os órgãos genitais (sistema reprodutor), além de ter a capacidade de reabsorção de água SISTEMA GENITOURINÁRIO - Rins são trilobulados, e de coloração vermelho-acastanhada - 90% da urina é composta por ácido úrico (produto nitrogenado), o que confere o aspecto concentrado e esbranquiçado da urina (fezes e urina são eliminados juntas na cloaca) - Não possuem bexiga urinária nem uretra (urina é produzida continuamente, sem ser armazenada) - Em fêmeas, somente o oviduto esquerdo é funcional (o oviduto direito é atrofiado) REPRODUÇÃO - São animais dioicos (possuem macho e fêmea) e ovíparos (realizam a postura de ovos) - Maioria são monomórficos (não é possível diferenciar o macho da fêmea), e alguns possuem dimorfismo sexual o papagaio-eclectus: o macho tem a plumagem verde e a fêmea vermelha o ringneck: somente o macho possui estrutura que circunda o pescoço em coloração enegrecida sexagem é realizada por exame laboratorial pela coleta de sangue ou penas - Atraem o parceiro pela vocalização, e formam “famílias” que andam sempre juntas - São monogâmicos formando casais que podem permanecer unidos por toda a vida - Fazem seus ninhos em cavidades arbóreas, barrancos ou cupinzeiros - Macho costuma regurgitar na boca da fêmea (forma de atração) e ambos alimentam os filhotes - Tanto os machos como as fêmeas costumam preparar o ninho, mas só a fêmea incuba os ovos macho busca o alimento e regurgita a fêmea durante as primeiras semanas de incubação - Filhotes: nascem sem penas, e atingem a maturidade sexual de 3 a 5 anos (aves de maior porte) e 8 meses a 3 anos (aves de menor porte), sendo em média 1 a 3 filhotes por estação - Estação reprodutiva especialmente em épocas mais quentes (primavera e verão) NUTRIÇÃO - Na natureza são generalistas (são especialmente granívoros, mas alguns são frugívoros, onívoros e nectarívoros) sementes, brotos, castanhas, coquinhos, frutas, flores, vegetais insetos e pequenos animais (espécies maiores, que são onívoras) - Alimentação em cativeiro: são alimentados praticamente de rações (de boa qualidade, em pellets e coloridas, que leva a atração da ave), porém muitas vezes, as rações são pobres em substâncias essenciais (vit. D3, vit. A, cálcio e outros minerais), necessitando assim de adição de sementes, frutas e vegetais na dieta excesso de sementes: por serem altamente calóricas, gera alta energia, gerando lipidose hepática - Mudança abrupta de alimentação leva o animal a rejeitar o alimento (deve ser modificada gradualmente) - Excesso de suplementação, também promove lipidose 33 INSTALAÇÕES - Zoológicos: ideal que sejam recintosgrandes e amplos, poleiros (hábito de empoleirar) e pouca vegetação - Criadouros: utilizam-se viveiros suspensos, onde o animal não tem contato próximo com os dejetos - Domésticos: são criados em gaiolas apropriadas ao tamanho do animal e para movimento o IBAMA: possui especificações dos tamanhos adequados em recintos (instrução normativa) - Comedouros e bebedouros: devem ser resistentes (de cerâmica ou aço), evitando que o animal ingira alguma parte - Cama: não deve ficar em contato direto com o animal (ideal é de papel) - Interessante haver brinquedos, para animal se exercitar e distrair EXAME FÍSICO - Em geral, os sinais clínicos tendem a ser inespecíficos em aves, exigindo do médico veterinário uma anamnese detalhada e um exame físico minucioso - Inspeção: começa na observação inicial da gaiola ou do recinto e o exame visual do paciente à distância, avaliando gaiola, aves coabitantes, poleiros, comedouros, alimentos, higiene, brinquedos e espaço para a ave se movimentar com relação à ave, deve ser avaliada a postura, a locomoção, , a qualidade das penas e se há secreções oculares ou na cloaca do animal abre-bicos para visualizar toda a cavidade oral (avaliar se há lesões, úlceras e secreções) pesagem da ave deve ser feita regularmente inspeção e palpação dos ossos, bicos e penas, avaliar na palpação o tamanho dos músculos peitorais (que deve ter uma leve projeção para frente quando o animal está em condição normal de saúde), mensurando o escore (de 1 a 5) inspeção da cloaca (com um espéculo) e aspecto das fezes avaliar a hidratação pela turgidez da pele, principalmente nas pálpebras - A auscultação é mais difícil nas aves devido ao pequeno tamanho dos animais e às particularidades fisiológicas, porém a presença de taquicardia nestas espécies é fisiológica COLETA DE AMOSTRAS - Veia jugular direita, preferencialmente em espécies pequenas, e pelas veias dos membros torácicos (veia braquial/ulnar) e pélvicos (veia tibiotársica) - O exame coproparasitológico deve ser realizado como parte da avaliação geral da ave CONTROLE DO VOO - Aves de companhia com plena capacidade de voo e mantidas fora de gaiolas podem fugir e sofrer acidentes. Para evitar estes transtornos, em alguns casos é necessário restringir a capacidade de voo. Aparar as rêmiges (penas das asas) é o procedimento mais indicado o deixar intactas de 4 a 5 rêmiges primárias para evitar que a ave traumatize as falanges da asa o ideal é realizar o corte das rêmiges bilateral PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS - Ingluviotomia: a abertura do inglúvio é realizada principalmente na presença de corpos estranhos e biopsias - Reparo de Fístulas de inglúvio: fístulas formadas a partir da ingestão de alimento quente ou cáusticos desnutrida normal obesa 34 - Cloacoplastia: proporciona um estreitamento do orifício da cloaca (temporário ou permanente), sendo realizado nos casos de redução de prolapso ou atonia cloacal suturas nas laterais da cloaca, diminuindo a abertura do canal - Cloacopexia: indicado em casos de prolapso cloacal crônico, em virtude de parasitas intestinais, enterites, neoplasias ancora a parte ventral da cloaca na parede abdominal - Celiotomia (lateral ou ventral): abertura da cavidade celomática (principalmente para OSH) - Procedimentos Ortopédicos: em casos de lesões ósseas ou traumas - Excisão de cisto de pena ALTERAÇÕES DE BICO - Trauma, infecção, neoplasia e má oclusão congênita: podem afetar diretamente seu crescimento e seu formato e, muitas vezes, a ave deve ser submetida a desgastes frequentes para evitar deformações e fraturas que possam prejudicar a oclusão o desgaste do bico pode ser realizado com lixas e brocas, sendo aconselhável realizar radiografia lateral do bico para delimitar até que ponto e em que região o bico pode ser desgastado - Crescimento excessivo da maxila e a hiperqueratose da ponta do bico: são alterações que podem estar associadas a hepatopatias (por excesso de sementes) - Hemorragias: controlar por pressão direta, aplicação de gel hemostático, adrenalina tópica ou cauterização FRATURAS DE PENAS - Comum em aves que vivem em gaiolas com superlotação ou de tamanhos e formatos inadequados, mas também pode ocorrer após aterrissagens desequilibradas decorrentes de corte unilateral (ideal é realizar corte bilateral - Caso haja hemorragia grave, o canhão da pena danificado deve ser removido (facilita a coagulação e cessa sangramento) - Quando a fratura é dentro do folículo, impossibilitando a retirada da pena, deve-se aplicar compressão física sobre o folículo ou inserir algodão estéril dentro dele para auxiliar na hemostasia DISTÚRBIOS NUTRICIONAIS OBESIDADE - Distúrbio nutricional comum, especialmente em psitacídeos criados em cativeiro. Uma ave pode ser considerada obesa quando apresenta peso superior a 15% do peso ideal para a espécie - Causas: dietas excessivamente energéticas, sedentarismo, idade avançada - Consequências: lipidose hepática, hipertensão arterial, diabetes mellitus, ICC, arterosclerose, neoplasias - Tratamento: dieta específica e balanceada (menos fonte energética) e estimular atividade física DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A - Vitamina A: importante para a visão, reprodução, imunidade, integridade das membranas, crescimento, e manutenção das células epiteliais - Causa: aves que são alimentadas exclusivamente com sementes (pobres em vit. A) - Sinais clínicos: caracterizada principalmente por metaplasia escamosa de diferentes epitélios associados às membranas mucosas dos tratos digestório, respiratório e geniturinário, predispondo as aves a infecções secundárias por agentes diversos (placas esbranquiçadas na coana, conjuntivite, hiperqueratose podal) - Tratamento: suplementação com vitamina A: 5.000 UI/kg, por via IM, a cada 24 h, durante 14 dia e após, 1.000 UI/kg, por via VO, a cada 24 h vitamina A na forma de betacaroteno (manga, melancia e melão) – menor chance de intoxicação por vit. A - Excesso de vitamina A na ração: pode acarretar em pancreatite e doenças reprodutivas 35 DEFICIÊNCIA DE CÁLCIO - A exigência de cálcio é maior durante a fase de crescimento e na estação reprodutiva - Causa: deita deficiente em cálcio, levando a alterações do metabolismo - Sinais clínicos: alterações nos sistemas esquelético (deformidades ósseas), reprodutor (baixo desempenho e qualidade da casca) e nervoso (ataxia a convulsões) - Consequências: hipoparatireoidismo secundário nutricional (retirada de cálcio dos ossos) e hipocalcemia aguda (tremores, fraqueza, convulsões) - Tratamento: dieta adequada balanceada, suplementar cálcio e vitamina D3 (pela via oral), sol (ativação da vitamina D3, que permite a absorção intestinal de cálcio) DISTÚRBIOS METABÓLICOS GOTA ÚRICA - Causada pelo depósito de cristais de ácido úrico em diferentes tecidos do organismo (nas aves, o ácido úrico é produto do metabolismo de proteínas) - Causas: excesso de proteína, hipovitaminose A (vitamina A em excesso promove lesão renal, impedindo a excreção do ácido úrico), hipercalcemia, micotoxinas - Em caso alta concentração de ácido úrico, este pode vir a se acumular nas articulações, vísceras, rins e ureteres - Sinais clínicos: na forma articular, cursa com claudicação, aumento de volume nas articulações, relutância em andar em virtude de dor. Na forma visceral, cursa com anorexia, apatia, prostração e perda de peso - Tratamento: alopurinol (para a redução das concentrações de ácido úrico) INTOXICAÇÃO POR METAIS PESADOS - Normalmente por chumbo (Pb) e zinco (Zn), que são metais de revestimento em gaiolas, comedouros, bebedouros e brinquedos, que o animal pode vir a ingerir partes - Sinais clínicos: letargia, fraqueza, polidipsia, poliúria, diarreia, regurgitação e refluxo, morte súbita intoxicação por chumbo leva a sinais mais graves (nervosos) - Diagnóstico: presençade metais no pró-ventrículo (estômago da ave) no raio x - Tratamento: cálcio EDTA (quelante de metais) DISTÚRBIOS REPRODUTIVOS RETENÇÃO DE OVOS - Causas: deficiência nutricional (p. ex., cálcio e vitamina A), estresse, obesidade, miopatia, salpingite, malformação dos ovos e problemas sistêmicos (comumente observada em calopsitas e periquitos australianos) - Sinais clínicos: alteração na postura, depressão, esforço excessivo, dispneia, distensão abdominal, sangramentos, ausência de fezes e dificuldades de locomoção - Diagnóstico: palpação abdominal (presença do ovo), raio x abdominal (ovos de casca mole não são palpáveis) após formado, o ovo deve sofrer postura em 24 a 48 horas – mais que isto, é considerado retenção de ovos - Tratamento: a ave deve ser internada em ambiente calmo, pouca luminosidade, com aquecimento e umidade gliconato de cálcio, IM, a cada 3 a 6 h alimentação forçada de fácil digestão e alto teor de açúcar (proporciona uma fonte rápida de energia) ocitocina intramuscular (pouca eficácia) caso o ovo possa ser visualizado na abertura da cloaca, realiza-se a ovocentese pela cloaca (agulha calibrosa introduzida e drena o conteúdo interno do ovo, e depois a casca é fracionada, para a remoção com uma pinça) caso o ovo esteja no interior da cavidade, e a ave apresente angústia respiratória, realiza-se a ovocentese transcutânea (agulha deve ser introduzida no ovo por via transcutânea e o conteúdo deve ser aspirado, e o ovo é fracionado com uma leve pressão digital, e a casca geralmente é expelida dentro de 48 h) em alguns casos, a celiotomia pode ser necessária (pode-se fazer acupuntura, como pós-operatório) 36 DISTÚRBIOS COMPORTAMENTAIS - Agressividade : podem causar ferimentos graves nas pessoas. A agressividade pode ser expressa por bicadas ou até mesmo com voos para atacar o objeto-alvo de sua agressão. causas: ciúme, medo, dominância, maturidade sexual, territorialismo e dor - Vocalização excessiva: as aves vocalizam ruidosamente, particularmente no início da manhã e ao entardecer. As causas mais comuns de vocalização excessiva estão relacionadas com a busca por atenção (aves aprendem que quando fazem barulho, os proprietários se aproximam) - Bicamento das penas (automutilação): tem etiologia multifatorial (devem-se descartar outras doenças dermatológicas), mas geralmente está relacionada ao estresse Tratamento: alterar manejo, descobrir a causa e retirar, promover mudanças na dieta e no ambiente com enriquecimento ambiental e social para o animal, e em casos mais graves, uso de fármacos antidepressivos DOENÇAS INFECCIOSAS Clamidiose : causada pela bactéria Chlamydophila psittaci, considerada zoonose, e transmitida por fezes e secreções o sinais clínicos: conjuntivite (sinal mais comum), respiratório, digestório, geniturinário, prostação, anorexia, secreção ocular, nasal e conjuntival, dispneia e diarreia o diagnóstico: PCR e isolamento através do swab da secreção o tratamento: doxiciclina, desinfecção diária com luvas e máscara (por se tratar de uma zoonose), melhorar o manejo e dieta (evitar cálcio, pois este promove diminuição ou inibição da absorção e ação da doxiciclina) Micoplasmose: causada pela bactéria Mycoplasma gallisepticum, atinge os tratos respiratório, urinário e reprodutor, sendo transmitida por alta densidade populacional, ambientes fechados, extremos de temperatura, poeira e ar quente, que contribuem para a disseminação da bactéria no ar o sinais clínicos: espirros, exsudato nasal, sinusite, conjuntivite o diagnóstico: PCR e isolamento o tratamento: tilosina, estreptomicina ou eritromicina Candidíase : causada pela levedura Candida albicans, que está presente na microbiota e é oportunista em casos de imunossupressão, estresse, falta de higiene manejo inadequado. É transmitida pela ingestão de água e alimentos contaminados, ou por fômites. o sinais clínicos: gastrointestinais (anorexia, apatia, regurgitação em filhotes), cursando principalmente em animais adultos com placas esbranquiçadas e necrosadas em cavidade oral o diagnóstico: citológica da cavidade oral ou fezes coradas em coloração de Gram o tratamento: nistatina, cetoconazol, itraconazol DOENÇAS PARASITÁRIAS - Endoparasitas: os principais são Eimeria, Isospora, Giardia e Ascarídeos (das famílias Ascaridia e Capillaria) o tratamento: praziquantel e fenbendazol - Ectoparasitas: Knemidocoptes pilae (sarna), ácaros vermelhos (Dermanyssus gallinae) e piolhos o tratamento: ivermectina tópica a cada 2 semanas DOENÇAS VIRAIS Doença do bico e das penas: causada pelo circovírus (DNA vírus), atingindo principalmente cacatuas, sendo transmitida principalmente por via aerógena ou fecal-oral. o sinais clínicos: distrofia de penas, depressão, pneumonia, enterite, sepse, crescimento e deformidade do bico o não há tratamento específico (alta letalidade, muitas vezes resultando em eutanásia da ave) 37 NEOPLASIAS - Comum de ocorrer em aves idosas de cativeiro, que atingem uma idade de vida maior comparada as de vida livre - Mais comuns: colangiocarcinoma, linfoma, lipomas, lipossarcomas, hemangiossarcomas, carcinoma de células escamosas, xantomas MEDICINA PREVENTIVA - Veterinário deve esclarecer aos proprietários questões fundamentais relativas ao correto manejo, nutrição e sanidade - Aves recém-adquiridas devem obrigatoriamente ser submetidas a um período de quarentena - Uso de vacinas em aves silvestres no Brasil é restrito (pode ocorrer reversão da virulência) - Avaliações periódicas da ave (pelo menos anual), as quais incluem anamnese e exame físico completo, pesagem, corte de penas de asas ou de unhas - Exames complementares podem ser solicitados, tais como parasitológico, hematológico, exames de imagem ou testes sorológicos 38 AULA 12: CLÍNICA DE RÉPTEIS INTRODUÇÃO - Os répteis encontram-se distribuídos em 4 ordens: Crocodila (crocodilianos, caimans, jacarés) Testudines (cágados, tartarugas, jabutis) Squamata: família Lacertilia (iguanas, camaleões, lagartos), Ophidia (serpentes) e Amphisbaenia (lagartos ápodes, que são as “cobras-cegas”) Sphenodonta (tuatara, espécie endêmica na Nova Zelândia) São animais que começaram a ser domesticados, devido o fascínio do homem por serem animais diferentes. Oferecem um baixo custo de manutenção, sem a necessidade de passarem muito tempo sobre os cuidados diários. Facilmente manejados em cativeiro, não emitem sons e a alimentação varia de 1 a 30 dias, dependendo da espécie. PROBLEMAS RELACIONADOS AO CATIVEIRO - A causa mais comum de doenças e problemas encontrados nestes animais, é devido a dieta imprópria que eles recebem. A segunda causa é de recintos impróprios onde o animal habita PRINCIPAIS ENFERMIDADES EM RÉPTEIS HIPOVITAMINOSE A - Comum em quelônios (jabutis e tigres d’água principalmente), a deficiência de vitamina A acomete em maior número os animais jovens, que recebem uma dieta pobre na vitamina, como alface ou camarões - Ocorre uma metaplasia escamosa epitelial, cursando com hiperqueratose do epitélio respiratório e ocular - Sinais clínicos: blefaroedema (edema de pálpebra) com ou sem secreção amarelada uni ou bilateral, anorexia, letargia, perda de peso, descarga nasal e ocular. Em casos crônicos, ocorre um crescimento anormal de queratina nas escamas e entre os escudos do casco proprietário se queixa que o animal permanece de olhos fechados (alivia a dor) - Diagnóstico: histórico da dieta (anamnese), sinais clínicos e resposta ao tratamento - Consequências: infecções secundárias (pneumonias concomitantes, por bactérias oportunistas) diagnóstico da pneumonia: através do teste de flutuação, radiografia, reflexo de tosse, abre a boca e abaixa a cabeça (devido a intensa dispneia)- Tratamento: o vitamina A intramuscular (1.500 a 2.000 UI, 1 vez por semana, durante 2 a 6 semanas) o remoção dos debris com auxílio de cotonete o comprometimento respiratório: ATB (enrofloxacina) o pacientes não se alimentarão até a abertura total dos olhos o correção da dieta com alimentos ricos em beta-caroteno (folhas verde escuras, como mostarda, espinafre, brócolis, vegetais e frutas amarelas e alaranjadas, como cenoura, batata, frutas de estação e rações comerciais) o temperatura ambiente da água do aquário entre 24 a 28º C - Prognóstico: reservado a bom DOENÇA ÓSSEO METABÓLICA (DOM) - Enfermidade relativamente comum em répteis cativos (como iguanas e quelônios), sendo provocada pelo desequilíbrio entre cálcio e fósforo (deficiência nutricional), que causa uma osteodistrofia fibrosa - Também pode ser consequência de hiperparatireoidismo secundário nutricional teste de flutuação: quando colocado em uma lâmina d’água e com pneumonia, o animal tende a emborcar seu corpo para o lado do pulmão que está afetado (pulmão torna-se mais consolidado) 39 - Deficiência de cálcio ou vitamina D, ou ainda por falta de exposição aos raios UV (impede a ativação da vitamina D, que é essencial para a absorção de cálcio) que promove um desequilíbrio entre cálcio e fósforo - Pela hipocalcemia, o cálcio dos ossos é mobilizado, principalmente dos ossos da face, e este tecido ósseo é substituído por tecido fibroso - Manifestação clínica: animais jovens: osteodistrofia fibrosa e fraturas animais adultos: paresia, tremores musculares (devido a hipocalcemia) - Sinais clínicos: incapacidade de levantar o corpo (arrasta-se pelo chão), maxilar e mandíbula de borracha (tecido fibroso), fraqueza, anorexia, letargia, fraturas frequentes (mais em ossos longos e mandíbula) - Quelônios em fase de crescimento: são os mais afetados e desenvolvem anormalidades em carapaça e plastão (carapaça pequena em relação ao corpo do animal), crescimento piramidal da carapaça, dificuldade em caminhar ou crescimento exagerado de bico e unhas - Diagnóstico: histórico, dieta, sinais clínicos, radiografia (perda da densidade cortical do osso) - Tratamento: estabilizar o paciente e manusear cautelosamente os animais acometidos, alimentação forçada, se necessário (em casos de anorexia associada) suplementação com raios UV, cálcio, vitamina D3 e calcitonina em casos de fraturas ósseas, imobiliza-las gluconato de cálcio a 10% (em casos graves) animais insetívoros: são animais que necessitam de suplementação sempre de cálcio (carbonato de cálcio) - Prognóstico: reservado (sem tratamento, animal vem a óbito) DOM demora meses para desenvolver, e meses para tratar ANOREXIA, CONSTIPAÇÃO E REGURGITAÇÃO - Condições patológicas que acometem iguanas que não se adaptam ao cativeiro, devido mudança brusca no ambiente, dieta, ou de proprietário (estresse no ambiente, superpopulação, alimentação inadequada, competição por alimento, temperatura inadequada, ingestão de corpo estranho do substrato também são algumas causas) - Diagnóstico: exame físico, anamnese, radiografia (identifica o corpo estranho - Tratamento: estabilizar o animal e administrar fluidoterapia aquecida (desidratação), e aquecer o ambiente e dieta adequada em casos de obstrução, realizar enemas ou banhos mornos (banho morno faz com que o animal relaxe a musculatura e venha a defecar em casos de constipação) alimentação forçada (em caso de anorexia) RETENÇÃO DE OVOS (DISTOCIA) - Um dos principais problemas em jabutis criados em cativeiro - Causas: ovos grandes ou deformados, hipocalcemia, hipomotilidade do oviduto, processos obstrutivos do oviduto ou do canal pélvico (como fraturas ou em casos de Doença ósseo metabólica) e temperatura local inadequada, falta de ninho (quelônios têm o hábito de cavar para botar seus ovos) - Sinais clínicos: variados (procura de ninho pela fêmea, diminuição da atividade do animal, anorexia, perda de peso) - Diagnóstico: radiografia, tomografia, ultrassonografia (presença dos ovos na imagem) - Tratamento clínico: suplementação de cálcio e administrar ocitocina (para encorajar a postura dos ovos) - Tratamento cirúrgico: celiotomia para salpingotomia (com uso de anestésicos voláteis) para retirar os ovos retidos, seguido de histerectomia do animal (retirada do oviduto) tanto no clínico, quanto no cirúrgico, promover correção no manejo nutricional e ambiental pós-operatório é bem complicado - Prognóstico: bom (clínico) a reservado (cirúrgico) 40 PROLAPSO DE PÊNIS - Frequente em quelônios, mas também pode ocorrer em cobras e lagartos cobras e lagartos possuem hemipênis (pênis bipartido) - Causas: trauma, inflamação, hiperparatiroidismo secundário nutricional, déficit neurológico ou traumático (envolvendo o músculo retrator do pênis ou esfíncter cloacal), parasitas intestinais, cálculo vesical ou cloacal, separação forçada durante a cópula - Tratamento: avaliação da mucosa em casos que o pênis está viável, realizar compressa de gelo e tentar reduzir em casos que o pênis está inviável, realizar penectomia (administrar lidocaína, e transfixar os dois corpos cavernosos com vicryl na base do pênis, que é o lugar que possui maior vascularização, e remover a porção distal do pênis, realizado logo após uma sutura do coto peniano, em ponto simples contínuo) se necessário, pode-se realizar antibioticoterapia (enrofloxacina, IM, VO ou via cloacal) - Prognóstico: bom (sem complicações posteriores) DISECDISE - Distúrbio na muda da cobertura epidérmica velha de serpentes em cativeiro (retenção de pele durante a muda) - Causas: animal desidratado, má-nutrido, baixa umidade no recinto, falta de substratos abrasivos adequados (como pedras, onde as cobrar se atritam para retirar a pele), presença de ectoparasitas - Tratamento: banho com água morna durante 30 a 60 minutos, para remoção gentil dos pedaços de pele retido e fragmentos com toalha úmida escudo ocular retido: pele que recobre os olhos (em caso de retenção, deve-se fazer banho ou compressas úmidas sobre os olhos por 15 minutos para retirar o escudo) - Local de retenção: em serpentes, na região caudal distal à cloaca, e em lagartos, nos dígitos (se não retirada, a pele retida forma bandas de constrição que irão promover oclusão vascular, podendo causar necrose) LESÕES EM CASCO DE QUELÔNIOS - Ocorrem devido atropelamentos, ataque de cães, quedas, brigas ou ainda por lesão por tinta tóxica - Se for uma lesão aberta, pode haver o desenvolvimento de miíase - Diagnóstico: anamnese e achados clínicos, radiografia (lesão interna ou acometimento em outros órgãos) - Tratamento: estabilizar o paciente, fluidoterapia, justaposição dos bordos (com suturas com aço cirúrgico ou resina de dentista), antibioticoterapia (enrofloxacina, gentamicina, tobramicina, amicacina) também pode-se associar o tramadol para controle da dor - Prognóstico: dependerá da extensão da lesão, se houve perda de sangue, exame anterior da saúde do animal e grau de desenvolvimento e comprometimento interno FERIDAS POR MORDEDURA - Ocorre em serpentes alimentadas por presas vivas, porém que não se alimentam da mesma (quando no período reprodutivo, gestacional ou em muda, que são os períodos em que serpentes costumam não se alimentar) roedor ataca a serpente e promove lesões, podendo ser ferimentos superficiais, lesões em periósteo e ossos, lesões oculares em narina, língua, bainha da língua - Tratamento: limpeza e debridamento do tecido, podendo se suturar se possível ou cicatrização por segunda intensão quando há perda extensa de tecido (demora meses) antibioticoterapia (enrofloxacina + metronidazol) e terapia de suporte bandagem, manter recipiente com toalhas embebidas com PVPI ou clorexidine, manter local limpo muitas vezes, pelo animal apresentar dor e anorexia, opta-se por eutanásia -Defeitos cutâneos: causado em todo animal que cicatriza, provocando disecdise (necessita de retirada manual da pele que é retida) 41 ESTOMATITE INFECCIOSA (“Mouth Rot”) - Comum em serpentes criadas em cativeiro (menos casos em quelônios e lagartos) - Infecção causada por bactérias (Aeromonas, Pseudomonas, Staphylococcus ou Streptococcus) que promove a formação de petéquias, úlceras e necrose caseosa na cavidade oral, podendo evoluir até necrose, perda de dentes ou até infecção sistêmica (sepse) - Fatores predisponentes: lesões na cavidade oral, queda na imunidade (estresse crônico, desnutrição, falta de higiene no recinto do animal) - Tratamento: debridamento das lesões e limpeza da cavidade oral (PVPI e água oxigenada), antibioticoterapia tópica e parenteral, e suplementação de vitamina C - Prognóstico: sempre reservado PARAMIXOVIROSE - Acomete serpentes viperídeas com alta mortalidade (serpentes venenosas) e boídeos com baixa mortalidade (serpentes constritoras), causada pelo Paramixovirus ofídio - Sinais clínicos: sinais nervosos e respiratórios, perda do tônus muscular, rasteja anormalmente, respiração com boca aberta, pode expelir material purulento e caseoso da glote alguns animais podem ter o vírus, porém serem portadores assintomáticos - Diagnóstico: PCR e sequenciamento viral - Tratamento: não existe tratamento (eutanásia) RETROVIROSE (IBD – Doença do corpúsculo de inclusão viral) - Acomete serpentes boídeos (serpentes constritoras), porém só promove sinais clínicos nas serpentes do gênero Python, enquanto nas serpentes do gênero Boas (jiboias) são carreadoras assintomáticas - Sinais clínicos: desordens nervosas, sinais de encefalite (opistótono, déficit de propriocepção, perda do reflexo postural), podendo levar o animal à óbito quando se vira a cobra de ponta cabeça, ela não consegue retornar (déficit de propriocepção) - Tratamento: não há tratamento eficaz (eutanásia) ECTOPARASITAS Ophionyssus natricis: conhecido como “piolho de cobra”, é um ácaro de maior importância na criação de cobras. Também pode acometer sáurios (lagartos), quelônios e crocodilianos. São pequenos e promovem hematofagia. Podem carrear Aeromonas e Retrovírus infestação: promove disecdise, anemia, debilidade, irritação, desconforto Amblyomma rotundatum: em infestações causa danos na pele dos animais e anemia, além da transmissão de hemoparasitas e vírus. - Tratamento: tricloforn 0,2% (banho de imersão) ou fipronil em veículo alcoólico (aspersão no corpo do animal) AMEBÍASE (Entamoeba invadens) - Quelônios e crocodilianos são reservatórios naturais e não apresentam sinais clínicos, enquanto as serpentes e lagartos são hospedeiros acidentais, que irão desenvolver o quadro clínico - Zoológicos: pela criação de espécies que são reservatórios naturais concomitante com espécies que são hospedeiros acidentais, pode ocorrer a contaminação, por ingestão de água contaminada com cistos - Sinais clínicos: diarreia, perda de peso, fezes sanguinolentas a mucosas, regurgitação, letargia, anorexia, desidratação, abscessos pulmonares - Diagnóstico: coproparasitológico (trofozoitos alongados e cistos redondos quadrinucleados) - Tratamento: metronidazol 42 - Prevenção: higiene dos locais, tratar água com hipoclorito de sódio antes do descarte, e não manter serpentes e lagartos no mesmo recinto de quelônios aquáticos e crocodilianos CRIPTOSPORIDIOSE (Cryptosporidium serpentis) - Grande problema em criadouros de conservação e comercial de serpentes, podendo gerar morte e eutanásia do plantel - Promove doença gástrica, além de algumas serpentes serem portadoras assintomáticas - Sinais clínicos: anorexia, gastrite, regurgitação, aumento de volume abdominal, letargia, perda de peso - Diagnóstico: morfológico (coproparasitológico corado), imunológico (ELISA, IF), biologia molecular - Tratamento: não há tratamento (colostro bovino hiperimune pode ser utilizado para melhora do quadro clínico) HELMINTOSES - Ascarídeos: Ophidascaris e Polydelphis (serpentes), Sulcascaris e Angusticaecum (quelônios) sinais clínicos: regurgitação, obstrução, intussuscepção diagnóstico: coproparasitológico (achado de ovos nas fezes) tratamento: anti-helmíntico - Helmintos pulmonares: Rhabdias (serpentes) e Entomelas (lagartos) sinais clínicos: estresse respiratório, pneumonia, salivação excessiva diagnóstico: achado de ovos embrionados tratamento: anti-helmíntico - Oxiurídeos: lagartos e quelônios sinais clínicos: impactação intestinal, anorexia diagnostico: coproparasitológico (achado de ovos nas fezes) tratamento: anti-helmíntico - Pentastomídeos: serpentes sinais clínicos: aumento dos sons respiratórios, produção de muco oral viscoso diagnóstico: achado de ovos arredondados com embrião tratamento: ivermectina e remoção cirúrgica de parasitas mortos