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A América e o mundo Origem do homem americano A América foi ocupada por povos cuja origem está em ampla discussão. Os primeiros grupos humanos podem ter chegado ao continente americano entre 15 e 60 mil anos atrás. Tradicionalmente, existem duas teses para explicar a origem do homem americano: A- A Passagem pelo estreito de Bering Os cientistas defendem que os primeiros grupos humanos chegaram à América por volta de 15 mil anos atrás, a pé, atravessando o atual estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca, que durante a era do gelo, eram ligados por uma faixa de terra. Essa teoria surgiu na década de 1930, pois encontraram vestígios de um povo caçador em Clóvis (Novo México-EUA). Deu origem ao chamado modelo Clóvis de povoamento da América, há 11.500 anos. Esses povos caçadores atravessaram o estreito e chegaram à região que atualmente corresponde ao Alasca. Quando a Terra sofreu um aquecimento da temperatura, os grupos humanos atravessaram os EUA, onde foram encontrados os vestígios Clóvis, e de lá partiram para o restante da América. B- A travessia do Pacífico Segundo alguns cientistas, o homem americano teria vindo, pelo mar, da Polinésia, ou da Austrália, constituindo a corrente de povoamento malaio-polinésia ou australiana. A vinda desses grupos humanos foi realizada em duas etapas distintas: os primeiros a chegarem foram povos negroides, como mostra o fóssil Luzia, encontrado em Minas Gerais. Em seguida, vieram povos cujos descendentes atuais são os indígenas, habitantes com os quais Colombo e Cabral travaram contato ao chegarem neste continente e que apresentam características asiáticas. Com base nessas hipóteses, outra questão passou a ser levantada pelos cientistas: o que aconteceu com os primeiros povos que viviam aqui? Luzia descoberta em Minas Gerais Segundo descobertas recentes, os povos da segunda migração possuíam armas que lhes proporcionavam maior alcance e precisão e, muito provavelmente, eles aniquilaram os antigos habitantes ou, então, os grupos se miscigenaram; ainda não se tem uma resposta definitiva. Arqueólogos, antropólogos e paleontólogos estão escavando sítios arqueológicos em vários pontos da América a procura de respostas. O que sabemos de fato, é que Colombo não descobriu a América. Ele incorporou ao domínio das nações europeias territórios que já eram habitados por vários povos que apresentavam características próprias. A esses povos foi dado o nome de civilizações pré-colombianas, dentre as quais se destacaram a dos maias, a dos astecas e a dos incas. As grandes civilizações pré-colombianas: olmeca e maia A civilização Olmeca Na região entre o sul da América do Norte e parte da América Central, desenvolveram-se as primeiras civilizações americanas. Essa região é conhecida como Mesoamérica. Por volta do século XIII a.C., surgiram os olmecas, que organizaram os primeiros centros urbanos. Construíram aquedutos com pedras para garantir o fornecimento regular de água. Avançadas técnicas agrícolas garantiam-lhes a colheita do milho três vezes ao ano. O excedente agrícola era comercializado com as regiões vizinhas, promovendo intercâmbio comercial e cultural. A sociedade olmeca era dirigida por sacerdotes e as cidades se erguiam ao redor de um centro cerimonial. Os deuses mais cultuados eram o Jaguar, metade homem e metade felino, e a deusa-mãe, que garantia colheitas abundantes. Civilização Olmeca Misteriosamente, as cidades foram abandonadas, e o povo, aos poucos, foi perdendo sua identidade. Os olmecas desapareceram, mas deixaram vários vestígios, como as cabeças gigantescas esculpidas em basalto. Civilização Maia Surgiram por volta do século VII a.C., na península de Yucatán, no México, e dominaram as regiões da Guatemala, Honduras e Belize. O período de maior desenvolvimento dessa civilização foi entre os séculos III e IX de nossa era. Os maias organizavam-se em cidades-Estado que se desenvolveram em torno de edifícios cerimoniais como Palenque, Tikal, Chinchén-Itzá, Uxmal, Tulum e outros. A cidade de Chinchén-Itza foi construída perto de poços naturais (cenotes) que eram utilizados para rituais religiosos e sacrifícios humanos. Em Chichén-Itzá, a grande atração é a pirâmide de Kukulkán (que significa deus da serpente emplumada), de 30 metros de altura. Possui 52 painéis em sua fachada. Os templos maias eram adornados com ricos afrescos, como os de Bonampak, ao sul do México. Os maias apresentaram notável desenvolvimento nos campos da matemática e da astronomia. Conheciam a escrita, elaboraram um sistema de numeração de base 20 e conheciam o zero. A partir do século XI, as cidades foram abandonadas e a civilização maia desapareceu. As razões do abandono continuam sendo um mistério. Várias hipóteses já foram levantadas: guerras entre as cidades, disputas internas pelo poder político, revoltas sociais, invasões de outros povos, esgotamento do solo, seca prolongada. Pesquisas foram feitas, mas não acharam nenhuma resposta definitiva. Templo de Kukulkán Cenote proximo a Chic`hén-Itzá Serpente emplumada Civilização asteca-mexica No século XIX, o cientista alemão Georg F. Krause cunhou a palavra asteca quando estudava a região de Aztlán. O termo asteca se difundiu e foi adotado mundialmente para designar a civilização que se desenvolveu na região do México. Mais tarde, descobriu-se que os verdadeiros habitantes eram os mexicas, mas aí o termo asteca já havia se popularizado. Segundo a lenda, o chefe asteca-mexica, Tenoch, recebeu dos deuses a ordem para liderar o povo até a região do lago Texcoco e deveria erguer uma cidade no local onde estivesse “uma águia com uma serpente na boca, pousada num cacto que cresce em uma pedra ou caverna cercada de água. No planalto central do México, os mexicas-astecas ergueram a capital de seu império, tenochtitlán, “rocha de cactos”, por volta de 1330. A antiga capital asteca foi destruída pelos espanhóis e, atualmente, abriga a Cidade do México, capital do país, uma das maiores cidades do mundo. Numa região distante 40Km de Tenochtitlan, os astecas dominaram uma cidade, que devido aos templos ali existentes, foi por eles denominada de Teotihuacán, que significa lugar dos deuses. Os astecas organizaram um império submetendo os povos vizinhos por meio de guerras. Os militares representavam a classe dominante, tendo à frente o rei. Os sacerdotes, responsáveis pelo culto aos vários deuses, também eram valorizados e temidos. Eles incorporaram à sua religião vários deuses dos povos conquistados. O mais importante era o Colibri Azul, deus do Sol do meio-dia. A sociedade asteca valorizava a guerra, e era por meio dela que o pobre poderia reverter sua situação: a bravura demonstrada em combates era recompensada com títulos, terras e escravos. A educação visava a formação de sacerdotes que acumulavam as funções de médicos-curandeiros, pois eles dominavam os rituais de cerimônias e também as ervas medicinais. Os filhos da nobreza eram educados para compor o quadro de chefes militares, enquanto os pobres recebiam treinamento militar e aprendiam a obedecer, a usar armas de guerra e a cuidar da limpeza dos templos e da alimentação dos guerreiros nos campos de batalha. Graças a essa organização militar, os astecas construíram um império que abrangia inúmeras cidades e milhões de habitantes. As cidades também funcionavam como grandes centros de troca. Nos mercados, eram comercializados produtos agrícolas, carne, vestimentas e utensílios em geral. A moeda era a semente de cacau, cujo produto, o chocolate, era muito valorizado e considerado a bebida dos deuses. Os astecas apresentaram notável desenvolvimento nos campos de astronomia e da matemática, mas a maior parte de seus conhecimentos se perdeu quando os conquistadores espanhóis chegaram à América, destruíram sua cultura e derreteram os objetos de arte feitos de metais preciosos, para enviarem a Espanha Cidade de Teotihuacán A civilização inca ou incaica Na região andina, na Américado Sul desenvolveu-se esta civilização que ocupou as regiões onde hoje se encontram o Peru, a Colômbia, o Equador, a Bolívia e parte do Chile e da Argentina. Fundaram a capital de seu império em Cuzco, no Peru, por volta dos séculos Xi e XIII. O termo inca designava o imperador, que era adorado como representação do Sol na Terra. Os incas para se estabelecerem na região andina, conquistaram e dominaram outros povos. A sociedade inca dividia-se em três estamentos: o rei e a nobreza, que era composta não só de parentes do Inca mas também de comandantes militares; o clero, sacerdotes que gozavam do poder e prestígio devido ao papel de intermediários entre os homens e os deuses. Faziam previsões e rituais de oferendas, como os sacrifícios humanos; o povo, camponeses e artesãos que tinham por obrigação o pagamento da mita- trabalhos obrigatórios em obras do Estado. Para aproveitar as terras altas do interior, os incas construíram terraços para cultivo nas vertentes das montanhas, com paredes de pedra. Os canteiros eram adubados com guano (excremento de aves marinhas). Cultivavam inúmeros produtos, destacando-se a batata e o milho, que era considerado um alimento sagrado para os maias e os astecas. Além da agricultura, dedicavam-se à criação de lhamas, alpacas e vicunhas, que lhes fornecia lã, carne e leite. As terras eram divididas em três partes: terras do deus-Sol, Inti, reservadas aos sacerdotes; terras de Ingá, de propriedade do imperador e família; e terras do povo, distribuídas às famílias para seu próprio sustento. O povo, além do trabalho em suas terras, era obrigado a trabalhar nas terras do imperador e na dos sacerdotes e também em obras públicas, como canais de irrigação, aquedutos e estradas, além de servir no Exército. Esse trabalho obrigatório denominado mita, mais tarde, foi adotado pelos espanhóis em larga escala. Diariamente, os sacerdotes faziam o culto ao Sol e ao seu filho (o imperador), quando o sol estava a pino (não projetando sombra alguma). Os incas valorizavam uma celebração anual no solstício de inverno, quando o Sol ficava mais distante da Terra, para homenagear seu deus supremo, a fim de que continuasse a brilhar sempre. Atualmente essa cerimônia é conhecida como Festa do Sol (Inti Raymi) e acontece todos os anos à mesma época. Para o povo andino é marcada como afirmação dos valores nativos e resistência contra a conquista espanhola. Ruínas de Machu Piccho Terraços usados pelos incas para a agricultura O contato entre brancos e índios No início, os índios receberam muito bem os europeus em geral. Mas a cobiça dos brancos por ouro, prata e artigos exóticos logo mudaram essa relação pacífica. Além da destruição física propriamente dita, os nativos americanos tiveram sua cultura, seus usos e seus costumes destruídos pelos europeus, que, em nome da civilização e da religião, impuseram-lhes novos idiomas e uma nova fé. O contato com os astecas Uma antiga profecia asteca afirmava que um dia o deus Quetzalcoatl (a serpente emplumada), que era retratado como um homem de pele clara e de barba, viria em pessoa pelo mar. Quando os espanhóis chegaram, saindo das águas com vestimentas brilhantes (armaduras), de pele e olhos claros e barbudos, os astecas acreditaram que a profecia estava se concretizando. Para agradar a esse deus, o imperador Montezuma II recebeu, com presentes e festas, Fernão Cortez, que ficou impressionado com a grandiosidade dos templos, com a cidade e com o povo. O povo, que já ouvira falar que aqueles deuses possuíam raios que matavam (arcabuzes), ficou aterrorizado com a visão daqueles homens brilhantes montados em “monstros que soltavam fumaça pelo nariz” (cavalos, animais desconhecidos até então). Com apenas 11 navios, 500 soldados, 16 cavalos e 10 canhões, Fernão Cortez conquistou o Império Asteca, que, na época, possuía cerca de 15 milhões de habitantes. Além da superioridade bélica, conseguida com cavalos e canhões, que os nativos não conheciam, os espanhóis contaram com o apoio de outros povos, dominados pelos astecas que não aceitavam essa subordinação, incentivando as disputas internas e as revoltas. Com o intuito de demonstrar sua força, Cortez exigiu vinte bravos guerreiros astecas. Ao ter o pedido atendido, decepou as mãos dos guerreiros na frente do imperador Montezuma, que foi aprisionado e teve de pagar pelo resgate, 800 kg de ouro asteca. Em seguida os espanhóis iniciaram a destruição da cidade. O povo asteca reagiu à invasão espanhola como pôde e o imperador Montezuma foi morto. Seu sucessor, Guatemozin, enfrentou os espanhóis e foi derrotado em 13 de agosto de 1521. Ao se tornar prisioneiro dos espanhóis, foi barbaramente torturado durante três anos, até que Cortez resolveu enforcá-lo. Cortez e Montezuma O contato com os maias Após a conquista do México, Fernão Cortez enviou Pedro Alvarado para a região de Yucatán, em 1523. Aterrorizados pelas armas de fogo e pelos cavalos, os descendentes maias sucumbiram ao poder espanhol. Além da belicosidade espanhola, os nativos foram derrubados por epidemias desconhecidas por eles, como a gripe, a varíola e o sarampo. Mesmo conquistados, os descendentes maias preservaram variações da língua maia, especialmente na península de Yucatán e na Guatemala. Ninguém sabe porque os maias abandonaram suas cidades, tampouco como conseguiram resistir até os dias atuais, mantendo tradições milenares. O contato com os incas Em 1531, Francisco Pizarro partiu para o Peru para anexar o império Inca à Espanha. Contava com cerca de 180 homens, 37 cavalos e algumas armas de fogo A sucessão do chefe supremo inca não era muito bem definida e a disputa pelo poder desencadeava lutas sangrentas entre os candidatos ao título. À época da chegada dos espanhóis, o império estava sendo disputado entre dois irmãos. Atahualpa ganhou de seu irmão Huáscar tornando-se o Sapa-inca. Quando Pizarro chegou aos altiplanos andinos, encontrou-se com Atahualpa, que foi aprisionado. Pizarro exigiu um fabuloso resgate pela vida do imperador, uma sala de ouro e prata. No total os espanhóis receberam mais de cinco toneladas de ouro. Mesmo assim, a vida de Atahualpa não foi poupada. A prisão e morte do imperador inca derrubaram qualquer resistência aos espanhóis, de imediato. Os nativos abandonaram as cidades e os povoados e iniciaram a reação ao domínio espanhol. O último imperador andino foi Tupac Amaru, que efetivou a última grande revolta contra o domínio espanhol. Executado em 1572, seu nome tornou-se símbolo da luta pela liberdade. No século XVIII, seu descendente João Gabriel Tupac Amaru liderou uma rebelião indígena contra os espanhóis. Após violentos enfrentamentos, Tupac Amaru foi preso, torturado e morto em Cuzco, em 1781. O nome Tupac Amaru e o uso de ornamentos da nobreza inca foram proibidos ao público. Francisco Pizarro e Atahualpa Conclusão A exploração do continente americano pelos europeus promoveu uma inter-relação cultural e étnica que deu origem a uma outra civilização. Os europeus acabaram por adotar hábitos, como os da alimentação, dos povos que eles dominaram, com o cultivo da batata, do milho, do cacau, da mandioca, demonstrando a dinâmica da história, em que vencidos e vencedores dão origem a uma nova cultura, um novo povo.