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Fundamentos_eticos_da_deontologia_IX_Seminario_CJ_26Set_2008-libre1

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Fundamentos éticos da deontologia profissional
Article · December 2008
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1 author:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Epistemologia de Enfermagem View project
Fim de Vida View project
Lucília M Nunes
Instituto Politécnico de Setúbal
81 PUBLICATIONS   234 CITATIONS   
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Lucília M Nunes on 05 May 2014.
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«10 Anos de Deontologia Profissional em Enfermagem» 
FUNDAMENTOS ÉTICOS DA DEONTOLOGIA PROFISSIONAL1 
 
Lucília Nunes 
 
 
No contexto do IX Seminário de Ética, foi-me proposto estruturar os fundamentos éticos 
da deontologia profissional do enfermeiro. Pode ser interessante, durante um espaço de 
tempo reflexivo, fazer convosco o caminho de indagar acerca dos princípios em que se 
ancora a praxis do enfermeiro. Por isso, nem falarei muito – assim o espero – dos deveres 
ou do normativo deontológico. Vamos centrar-nos no campo que Ricoeur designou por 
«ética anterior», pois sem esta Ética, a deontologia seria como uma casa sem alicerces... 
 
I. DA DEONTOLOGIA 
 
A moral é atravessada pela norma – se tem «lei, «regra», é desta esfera; parâmetros que 
indicam o que se pode ou não pode fazer. Naturalmente, não há regras para tudo... ou 
melhor, apesar das normas existentes (jurídicas, morais...) muitas vezes ficamos na dúvida 
sobre como agir recta e correctamente. Isso porque ou não existem normas que se 
apliquem concretamente, ou não as conhecemos ou não as sabemos interpretar bem. 
Na vida do dia a dia, debatemo-nos frequentemente com problemas que carecem que 
formulemos juízo ou, se preferirem, julgamento moral e para os quais pode não existir 
uma norma concreta. Felizmente, diria. Até porque a realidade não se amansa nem se 
aquieta sob as regras. 
O acto que realizamos, consciente e voluntário, supõe a participação livre de quem age – e 
quando se adere às normas, é, ainda assim, da liberdade de cada um escolher seguir a 
regra. Uma convicção íntima ou pessoal há-de presidir aos nossos actos, diremos assim, 
até porque não poderia tratar-se de uma adopção mecânica, impessoal, ou de uma 
imposição das normas. 
 
Todos os códigos (de direito civil, de direito penal, de direito canónico, de trânsito, 
deontológico), ditam normas que prescrevem deveres, estabelecem regras que devem ser 
obedecidas. Estes códigos têm todos, em comum, uma origem – lugar e data, além dos 
autores – e fundamento ético. A sua génese, na organização social e política, tem um 
sentido próprio. E, fundamentalmente, delimitam, configuram. 
 
Foi Jeremy Bentham que usou, pela primeira vez, a palavra «deontologia», no título de um 
tratado de moral publicado postumamente em 1834: Deontology or the scíence of 
morality. Etimologicamente, é o discurso ou tratado acerca daquilo que se deve fazer. 
 
1 Publicado em Revista da Ordem dos Enfermeiros, nº 31, dezembro 2008, p. 35-47. ISSN 1646-2629. 
http://www.ordemenfermeiros.pt/comunicacao/Revistas/ROE_31_Dezembro_2008.pdf 
http://www.ordemenfermeiros.pt/comunicacao/Revistas/ROE_31_Dezembro_2008.pdf
Página 2 de 18 
Assim, a deontologia toma como objecto do seu discurso o "a-fazer", aquilo que, por 
dever, se nos impõe como tarefa indeclinável, quer enquanto projecto, quer enquanto 
realização concreta. 
Em formato simples, a deontologia é o estudo ou tratado dos deveres, próprios de uma 
determinada situação social, no nosso caso, profissional. Compreensivelmente, pressupõe 
uma teoria geral da acção humana, isto é, uma ética geral e uma teoria especial de acordo 
com a(s) tarefa(s) humana(s) em questão. Associando as duas ideias, podemos seguir a 
concepção de que a Deontologia Profissional seja «o conjunto de normas jurídicas, cuja 
maioria tem conteúdo ético e que regulam o exercício de uma profissão»2. 
De onde, uma deontologia profissional trata de garantir o bom exercício da profissão, 
alicerçando-se, por um lado, nos princípios éticos e por outro na sua própria 
regulamentação – ou seja, na auto-regulação que decorre da formulação e defesa de um 
padrão de competência. Por isso a auto-regulação profissional tem sido perspectivada 
como o sentido último da responsabilidade dos profissionais. 
 
Notemos que o ético não é algo estranho a nós – envolve um juízo e determina, em si, 
uma escolha, uma direcção para agir. E a escolha não é fruto da arbitrariedade, antes se 
constituindo como expressão máxima de um conjunto de valores. 
Se pensarmos que a deontologia visa disciplinar uma actividade profissional, estabelecer 
regras direccionadas para a vivência profissional, o pressuposto é que a ética encerra em 
si a ideia do valor pelo qual se age, e que é fundamental tanto do ponto de vista interno – 
da concepção própria – como externo, na relação social e com o colectivo. 
Fechamos mais o círculo, se quiserem, colocando a deontologia como dimensão ética 
aplicada do agir profissional. 
 
II. DA PROCURA DOS PRINCÍPIOS ÉTICOS NA ANCORAGEM DA DEONTOLOGIA 
 
Enfermagem é uma profissão e, como mostraram muitos estudos, a definição de um 
conjunto de normas e valores próprios constituiu uma dimensão essencial do processo de 
profissionalização. 
Entendemos, neste contexto, profissão como uma construção social e histórica, através 
da qual foram sendo incorporadas, em momentos e com intensidades diferentes, diversas 
componentes, de entreas quais podemos destacar um processo de socialização em 
determinados valores, sistematizado, por vezes, sob a forma de um código. 
 
No tempo e na estruturação como profissão, os enfermeiros foram identificando os 
princípios e os valores, que sempre se encontram presentes, mesmo quando mais difusos 
ou mais ideológicos, diria que uma espécie de cristalização dos pensados sobre a 
experiência ética de ser enfermeiro. Por isso, a deontologia é vista como algo construído a 
partir do interior da profissão, resultante duma reflexão própria sobre a prática, e não 
como algo imposto de fora, por exemplo pelo Estado. 
 
 
2 GUEDES DA COSTA, Orlando - Direito Profissional do Advogado. Coimbra: Almedina. 2003. 
Página 3 de 18 
Enfermagem é uma profissão que tem uma finalidade moral e ao enfermeiro é exigível 
que regule a sua actividade por uma ética profissional. Vejamos que, de acordo com o 
enquadramento conceptual, afirmamos que o さexercício profissioミal da eミferマageマ 
centra-se na relação interpessoal de um enfermeiro e uma pessoa ou de um enfermeiro e 
um grupo de pessoas (família ou comunidades).ざ3 
Partindo da premissa que quer o enfermeiro, quer as pessoas clientes dos cuidados de 
enfermagem, possuem quadros de valores, crenças e desejos, decorre que o enfermeiro 
se distingue pela formação e experiência – e, de modo central para o que aqui nos 
interessa – por respeitar os outros numa perspectiva multicultural. Assim, evidencia-se o 
princípio humanista de respeito integral pelas pessoas. 
Mais afiヴマaマos ケue a さrelação terapêutica promovida no âmbito do exercício profissional 
de enfermagem caracteriza-se pela parceria estabelecida com o cliente, no respeito pelas 
suas capacidades e na valorização do seu papel. Poヴ isso afiヴマaマos ケue os さcuidados de 
enfermagem tomam por foco de atenção a promoção dos projectos de saúde que cada 
pessoa vive e persegueざ4. 
Posto isto, regressemos à demanda da finalidade. Quais os fins que a Enfermagem 
persegue. O que queremos? 
Com a pessoa, ao longo de todo o ciclo vital, (1) さprevenir a doença e promover os 
processos de readaptaçãoざ,(2) さpromover a satisfação das necessidades humanas 
fundamentais e a máxima independência na realização das actividades da vida, 
considerando a adaptação funcional aos défices e a adaptação a múltiplos faItoヴesさ5 
 
Premissas Caracterização da profissão Finalidades da acção 
o enfermeiro e as 
pessoas possuem 
quadros de valores, 
crenças e desejos 
 
perspectiva humanista 
de respeito integral 
pelas pessoas 
centra-se na relação interpessoal de um enfermeiro 
e uma pessoa ou um grupo de pessoas 
 
 
a procura do 
interesse e do bem 
estar do Outro 
relação terapêutica caracteriza-se pela parceria 
estabelecida com o cliente, no respeito pelas suas 
capacidades e na valorização do seu papel. 
cuidados de enfermagem tomam por foco de 
atenção a promoção dos projectos de saúde que 
cada pessoa vive e persegue 
 
Podemos agora re-centrar na preocupação com as implicações éticas do ser enfermeiro. 
Pois que existe uma dimensão ética deste agir, própria, que nos leva a firmar a existência 
de uma ética de enfermagem. Quais os fundamentos dessa ética? E, antes, qual a noção 
de fundamento? 
 
A NOÇÃO FILOSÓFICA DE PRINCÍPIO E DE FUNDAMENTO 
Na linguagem clássica falava-se de princípio - Aristóteles atribuiu à «arquê» várias 
acepções, sintetizadas por Comparato6: 
 
3 ORDEM DOS ENFERMEIROS, Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros, 2001. 
4 Idem, p. 8. 
5 Idem, p. 9 
6 Cf. COMPARATO, Fábio Konder – Fundamento dos direitos humanos. Institutos de Estudos Avançados da 
Universidade de S. Paulo. Disponível em http://www.iea.usp.br/artigos (20. Agosto, 17:50). Sd. 
http://www.iea.usp.br/artigos
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(1) o sentido do começo de uma linha ou de uma estrada, o ponto de partida de um 
movimento – físico ou intelectual; 
(2) o elemento primeiro e imanente do futuro, ou seja, algo que evolui ou se 
desenvolve – podem ser exemplo as fundações de uma casa; 
(3) a causa primitiva e não imanente da geração ou de uma acção – portanto, os pais 
em relação aos filhos ou um insulto em relação a um combate; 
(4) a palavra «princípio» também se usa para designar a pessoa, cuja vontade é causa 
de movimento ou de transformação 
(5) e ainda, é princípio, numa demonstração lógica, as premissas em relação à 
conclusão. 
 
Foi preciso chegar a Kant para o desenvolvimento da noção de principio para 
fundamento. Na Fundamentação da metafísica dos costumes7, abordando com 
profundidade o problema do imperativo moral, irredutível a qualquer outro fundamento 
anterior, Kant quer encontrar o último fundamento da moralidade, a que viria a chamar 
«imperativo categórico» isto é, um princípio que é fundamento último para todas as 
acções humanas. Na sua obra A religião nos limites da simples razão8, a noção de princípio 
ético, no sentido de razão justificativa, foi inteiramente substituída pela noção de 
fundamento. 
Enquanto na teoria geral do Direito, a noção de fundamento diz respeito à validade das 
normas jurídicas e à fonte de irradiação dos efeitos decorrentes, na filosofia moral 
procuramos o princípio ético, que justifica (se formos kantianos) a conduta humana. 
 
Uma das tendências marcantes do pensamento hoje, é a convicção generalizada que o 
verdadeiro fundamento não deve ser procurado na esfera da revelação religiosa nem 
numa abstracção metafísica como essência imutável de todos os seres humanos. Se o 
direito, por exemplo, é uma criação humana, o seu valor deriva, justamente, daquele que 
o criou. O que significa que o fundamento não é outro senão o próprio homem, 
considerado na sua dignidade substancial de pessoa. 
 
Como é que passamos para a ideia de dignidade humana? 
Para responder, precisamos de tomar posição sobre a essência do ser humano. 
Ou seja, de formular uma antropologia filosófica, pois é a concepção que temos do ser 
humano que orienta as outras formulações. 
Já nos filósofos antigos se destacou a concepção do ser humano, aliás, a pergunta «O que 
é o homem?» é fundante da reflexão filosófica. 
 
7 KANT – Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 1992. 
8 KANT - A Religião nos limites da simples razão. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1992. Kant 
compreende que a religião não é um objecto do conhecimento teórico, e sim da disposição prática subjectiva, o que 
pressupõe, no seu ponto de partida, que a moral conduz à religião e não o contrário. A religião racional tem como 
princípio a formação moral do indivíduo, que torna sensível a percepção da lei moral para o homem, que por sua vez, 
procura dentro de si um princípio subjectivo que possa orientá-lo na formulação de máximas morais para a sua vida. 
Verdadeiramente, pode dizer-se que a vontade é livre se as leis da acção são dadas pelo próprio sujeito da acção, de 
forma autónoma. Ou seja, a famosa máxima do «pensar por si mesmo». 
Página 5 de 18 
Diria Protágoras que «o homem é a medida de todas as coisas». Afirmava Plotino que o 
lugar do homem é entre os deuses e as feras. Sem dúvida que a especificidade da condição 
humana se foi modificando, tendo, por isso mesmo, carácter histórico. 
 
Digo hoje que uma das características essenciais do homem – e não estou a escamotear a 
racionalidade – é a razão axiológica, ou seja, a nossa capacidade de apreciação de valores 
(éticos, estéticos, religiosos, políticos...) e de livre escolha em relação a eles. 
E se não é possível fundar a ética com recursos a princípios puramente formais, pois que o 
suposto da ética é a Pessoa humana, na sua racionalidade e afectividade - pode fundar-se 
nas preferências axiológicas. 
O homem é um ser dotado de vontade, ou seja, da capacidade de agir livremente. E 
voltamos a chegar a Kant, naturalmente, com o homem como fim emsi mesmo. E ao 
imperativo categórico que ouvimos já muitas vezes - さage de マodo a tヴataヴ a huマaミidade, 
ミão só ミa tua pessoa マas ミa de todos Ioマo uマ fiマ e jaマais Ioマo uマ マeioざ. 
Ponto assente, então. 
 
Do ponto de vista filosófico, princípio remete-nos para o início, para a ausência de algo 
anterior pois que ele mesmo inicia. Causa primeira, fundamento de que derivam outras 
proposições, com nexo lógico, de consequência ou de relação subordinada. 
Pensando numa teoria da acção, podemos assim retomar a ideia do «agir» em que 
«agere» tanto significa comandar como desencadear um processo, imprimir um 
movimento. O princípio instala-se como «o começo», inspirador e fundante do que se 
sucede. 
 
O princípio, na realidade, não obriga nem impõe – ou não fosse ele do domínio da ética. 
Mas o princípio é gerador da norma, que enquanto enunciado de aplicação obrigatória, já 
saiu da esfera da ética para a do direito. 
Entendendo o princípio como requerido pela Ética, a norma como sendo do campo do 
Direito, a sabedoria prática tem a ambição de conciliar ambos, em situação concreta, 
singular, de conflito e incerteza. 
Claramente, coloco aqui a concepção de Ricoeur, de que o horizonte é de procura de uma 
vida boa, com e para com os outros, em instituições justas. 
Assim, quem formula os princípios são as pessoas. 
Na assunção de que se possa viver bem e uma vida boa. 
A ideia directriz é que os princípios fundamentam os procedimentos e que estes viabilizam 
a construção de uma sociedade livre e equitativa. 
 
Então, que princípios estarão colocados, cuja finalidade da acção do enfermeiro possa ser 
a procura do bem estar e do que cada um entende como «qualidade de vida»? 
 
PRINCÍPIOS DO AGIR PRÓPRIO DO ENFERMEIRO 
 
O primeiro que pode parecer–nos relevante é o facto de さtoマaヴmos conta da vidaざ. 
Poderíamos pensar num princípio de protecção da vida, e não «direito à vida» porque 
Página 6 de 18 
este, sendo um direito, seria ele mesmo fundamentado num princípio ético. Princípio este 
que proclamaria o valor da vida e a exigência ética da protecção da vida. 
Sendo assim, percebemos que proteger a vida pode ser feito de várias formas. 
Protejo a vida, quando actuo no sentido de prevenir que ela esteja em risco ou venha a 
poder ser colocada em causa. Protejo a vida, quando ela está ameaçada e intervenho com 
cuidados de reparação. Protejo a vida quando coloco taipais de protecção em redor de 
andaimes, para evitar que quem vai a passar se magoe. E sigo o mesmo princípio, quando 
lavo as mãos ou quando asseguro o bom funcionamento dos equipamentos. 
Este eventual princípio de protecção da vida tem um amplo espectro de aplicações... 
Na nossa área de acção, tanto justifica a protecção ou promoção da saúde como justifica a 
intervenção curativa e os tratamentos. 
De que vida se trata? Do ponto de vista ético, da vida humana. 
Que tem, ela mesma, condições de ambiente para existir. Por isso, protecção da vida 
humana. Mas também protecção do ambiente, dos meios necessários à vida. É para 
proteger a vida que se deve proteger a água, por exemplo. 
Portanto, não será difícil consensualizar que este não seria um princípio específico. 
 
A dimensão que o torna mais específico pode ser pensá-lo na área da saúde? 
Mas não poderemos trocar por さprotecção da saúde” – não apenas porque é hoje 
considerada um direito civilizacional, o que implica que a sua salvaguarda é 
responsabilidade da sociedade e das suas instituições democráticas, como, no nosso caso, 
é assumido como direito constitucional. 
Aliás, o direito à saúde literalmente entendido seria um estranho e curioso direito, que 
ninguém poderia assegurar e, portanto, ninguém poderia ter como dever. Por isso, o 
direito reporta a cuidados de saúde com o correlativo dever de desenvolver esforços 
tendo em vista a recuperação da saúde, a prevenção da doença ou a reabilitação e 
reinserção das pessoas. 
Realmente, não se consegue assegurar o (desejável) fim de garantir um determinado nível 
de saúde e existem inúmeros factores que aqui intervêm (sejam eles pessoais, sociais, 
culturais ou organizacionais). 
O direito a cuidados de saúde é uma exigência primária do direito à vida. 
 
Podemos pensar que temos por valores finais a preservação da vida e a diminuição do 
sofrimento. Estes fins operacionalizam-se com meios políticos, isto é, a protecção da 
saúde como um direito de todo cidadão, considerando que toda a vida é importante em 
si, desagua na razão de dever do Estado. 
É, hoje, um direito democrático dos cidadãos que se estabeleceu a partir de uma 
racionalidade comunicativa, como diria Habermas, na qual a razão se constitui, fundada 
no diálogo, na argumentação e, portanto, no reconhecimento do outro como sujeito ético 
e político. 
Por detrás da implementação prática das políticas públicas ressentem-se conflitos ético-
políticos seja pelas pressões de uma ética mais utilitarista como defendem alguns ou uma 
ética da さヴespoミsaHilidadeざ Ioマo defiミia WeHeヴ, que dá mais ênfase aos resultados a 
serem obtidos. 
Página 7 de 18 
 
Portanto, reconhecemos que a protecção da saúde não basta como princípio pois «tomar 
conta da vida humana» acompanha para lá dos limiares onde a protecção da saúde é 
possível e acompanha nos processos de morrer, temos de recuar um pouco mais e 
equacionar um princípio ético, que se coloque antes das normas e das leis, e que estas 
dele derivem. 
 
Os fins é o que se visa, o que se quer alcançar como resultado final. 
Os princípios serão o de onde se parte, que fornecem os critérios que orientam as 
decisões que conduzem aos fins. Não será, então, o bem estar que se pode colocar como 
princípio. Aquilo que se visa, que se tem como fim, não pode ser princípio... 
 A enfermagem tem como finalidade o bem estar das pessoas, com conforto, sem ou com 
o menor sofrimento possível, com capacitação do Outro para o autocuidado. 
É porque somos pessoas, que a nossa vida não é meramente biológica. 
E o facto de nascermos pessoas confere, a cada um, dignidade. 
Ela é o princípio e assumir-se-á como valor, ao constituir-se como critério das decisões. 
O princípio da dignidade humana é um princípio ético. 
Que tem repercussões na deontologia como tem no direito ou na moral. 
E porque a dignidade diz respeito ao ser humano, nela se ancoram a autonomia, o 
respeito pelas escolhas de cada um, a tolerância activa face às diferenças, o respeito pelas 
opiniões e convicções pessoais. 
E o princípio da dignidade humana pertence, se quisermos, à ética anterior. 
É, aliás, reconhecido, no Código Deontológico do Enfermeiro, como princípio geral, pois 
さas intervenções de enfermagem são realizadas com a preocupação da defesa da 
dignidade e da liberdade da pessoa humana e do enfermeiroざ9. 
 
Princípio 
Ética anterior 
Decorrentes Travessia pela norma Fundamento ético 
do agir 
Dignidade 
humana 
Autonomia 
Respeito pelas escolhas de cada 
um, opiniões e convicções 
pessoais 
Tolerância activa face às 
diferenças 
as intervenções de 
enfermagem são realizadas 
com a preocupação da defesa 
da dignidade e da liberdade da 
pessoa humana e do 
enfermeiro 
??? 
 
Como é que, atravessando a norma, se transforma em princípio da ética aplicada à acção 
do enfermeiro? O modo específico como o enfermeiro operacionaliza este princípio? 
 
Diria que o cuidado humano é o eixo que permite que seres humanos percebam e se 
reconheçam uns aos outros, pois existe um compromisso, uma responsabilidade 
profissional. O cuidado como uma forma de relacionamento com o Outro ser humano e 
com o mundo, enfim, como uma forma de viver plenamente. 
Cuidado humano dirigido ao tomar conta da vida. 
 
9 DL 104/98, SECÇÃO II, Do código deontológico do enfermeiro, Artigo 78.º, nº1. 
Página 8 de 18 
O cuidado emerge quando nos preocupamos com alguém, quando nos responsabilizamos, 
nos fazemos profissionalmente presentes. 
Funda-se num interesse pelo bem-estar do Outro, pelo despender atençãoao Outro. 
 
Bem vistas as coisas, o cuidado pode bem ser um imperativo moral das profissões de 
saúde. 
Temos então o cuidado humano, que se assume como respeitador da pluralidade e da 
diversidade. Da multiculturalidade. 
Portanto, o cuidado não ignora o Outro, nem a sua autonomia ou o seu desenvolvimento. 
Não substitui o Outro quando ele precisa de apoio parcial. 
Promove o seu desenvolvimento e a optimização das suas capacidades. 
Se imitássemos Kant, e construíssemos um imperativo diríamos: «Age sempre de tal 
maneira que a tua acção de cuidado seja protectora da vida e da dignidade humanas» 
 
Princípio 
Ética anterior 
Decorrentes Travessia pela norma Fundamento ético do 
agir do enfermeiro 
Dignidade 
humana 
Autonomia 
 
Respeito pelas escolhas de cada 
um, opiniões e convicções 
pessoais 
 
Tolerância activa face às 
diferenças 
as intervenções de 
enfermagem são realizadas 
com a preocupação da 
defesa da dignidade e da 
liberdade da pessoa 
humana e do enfermeiro 
o cuidado humano 
dirigido ao tomar 
conta da vida 
«Age sempre de tal maneira que a tua acção de cuidado seja protectora da vida e da dignidade 
humanas» 
 
Existe uma relação anunciada entre a preocupação da defesa da dignidade e da liberdade. 
Não tomemos, portanto, uma pela outra. 
Seres humanos igualmente dignos e livres, eis Quem são os destinatários dos cuidados do 
enfermeiro. Mas colocados numa posição assimétrica, uns em relação aos outros. 
Se pensarmos num eixo de «dar e receber», há uma clara assimetria na relação entre o 
enfermeiro e a pessoa de quem cuida. Como é que se equilibra esta assimetria? Já lá 
iremos.... 
 
Vejamos quais são os valores universais10 a observar na relação profissional. Trata-se um 
conjunto. Podia aqui evocar a formulação da teoria dos conjuntos e a concepção abstracta 
que o que os torna conjunto é terem uma propriedade comum. 
Ao caso, terem sido formulados como os valores universais da praxis do enfermeiro. 
Quatro pares e um isolado. 
Isolada está a igualdade, que aparece sozinha. Depois, 4 paヴes: さa IoマpetZミIia e o 
apeヴfeiçoaマeミto pヴofissioミalざ, さo altヴuísマo e a solidaヴiedadeざ, さa veヴdade e a justiçaざ e a 
さliHeヴdade ヴespoミsávelざ, seミdo ケue este teマ uマ desIヴitivo assoIiado – さIoマ a 
IapaIidade de esIolha, teミdo eマ ateミção o Heマ Ioマuマざ. 
 
10 DL 104/98, SECÇÃO II, Do código deontológico do enfermeiro, Artigo 78.º, nº2 
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Tomo a liberdade do os organizar em torno de eixos ligeiramente diversos: 
- inerentes ao papel assumido perante a sociedade - a liberdade responsável; a verdade e 
a justiça 
- centrados no Outro – a igualdade; o altruísmo e a solidariedade 
- virados para o exercício da profissão - a competência e o aperfeiçoamento profissional. 
 
Porquê assim? Os valores valem como critérios orientadores da decisão. E a própria 
actividade dos enfermeiros tem preconizados três princípios orientadores da acção, a 
saber: 
さa) A responsabilidade inerente ao papel assumido perante a sociedade; 
b) O respeito pelos direitos humanos na relação com os clientes; 
I) A exIelZミIia do exeヴIíIio ミa pヴofissão eマ geヴal e ミa ヴelação Ioマ outヴos pヴofissioミais.ざ 
 
E como estes são princípios da ética aplicada, da acção, posso pensar que existem 
princípios éticos anteriores, em que estes se ancoram e fundamentam. 
Resta identificar quais são... 
 
Valores universais na relação 
profissional 
Travessia pela norma e ligação aos 
princípios orientadores 
 
Fundamentos éticos 
igualdade centrados no Outro 
(respeito pelos direitos humanos) 
?? 
o altruísmo e a solidariedade 
liberdade responsável inerentes ao papel assumido perante a 
sociedade (responsabilidade...) 
?? 
a verdade e a justiça 
a competência e o 
aperfeiçoamento profissional 
virados para o exercício 
(excelência do exercício) 
?? 
 
Vejamos um a um. 
 
A responsabilidade é inerente ao papel assumido perante a sociedade – portanto, decorre 
– é consequente - de um compromisso profissional de cuidado humano, que é, em meu 
entender, anterior ao pacto de cuidado, concreto, que estabelecemos no dia a dia. 
A assunção de um pacto decorre de um contacto estabelecido – habitualmente, por parte 
das pessoas que recorrem aos enfermeiros (directamente ou indirectamente, através dos 
serviços de saúde) podendo igualmente acontecer que seja o enfermeiro a estabelecer o 
contacto (em situações de saúde comunitária, saúde escolar ou no trabalho, entre outros). 
E em cada contexto – de acordo com modalidades diferentes – o pacto de cuidado 
reveste-se de formas diversas, podendo ir do serviço público ao privado, ao regime liberal 
e até voluntariado. 
 
Julgo o pacto posterior ao compromisso, pois é necessário que o enfermeiro seja 
enfermeiro (isto é, tenha um título profissional) e tenha assumido a responsabilidade de 
prestar cuidados de enfermagem, de acordo com determinados standards, previamente a 
estar em situação efectiva de contrato ou de prestação de serviço. Assim, a precedência é 
claramente do compromisso sobre o pacto. 
Página 10 de 18 
Comprometemo-nos a cuidar profissionalmente das pessoas, em termos abstractos. 
É requisito deste compromisso que exista um perfil de competências – a aquisição de 
competências na formação inicial é enriquecida e desenvolvida, no tempo e nos contextos 
de prestação de cuidados, através da reflexão sobre a acção. 
 
Reorganizando, a Enfermagem tem como essência e especificidade o cuidado ao ser 
humano na área da saúde. 
Assiマ se eミteミde ケue o foIo de ateミção dos Iuidados seja さa pヴoマoção dos pヴojeItos de 
saúde ケue Iada pessoa vive e peヴsegueざ ヴelevaミdo-se que, ao longo de todo o ciclo vital, 
se pヴoIuヴa さpヴeveミiヴ a doeミça e pヴoマoveヴ os pヴoIessos de ヴeadaptação após a doeミça, 
procura-se a satisfação das necessidades humanas fundamentais e a máxima 
independência na ヴealização das aItividades da vida diáヴiaざ. 
Por isso se desenvolvem actividades de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação 
da saúde, actuando em equipas multiprofissionais a todos os níveis de organização dos 
serviços de saúde. 
Se quisermos, o compromisso profissional de cuidado é o princípio que suporta a 
responsabilidade e de onde ela deriva. 
 
Valores universais na relação 
profissional 
Travessia pela norma e ligação aos 
princípios orientadores 
 
?? Fundamentos éticos 
igualdade centrados no Outro 
(respeito pelos direitos humanos) 
 
o altruísmo e a solidariedade 
liberdade responsável inerentes ao papel assumido perante a 
sociedade (responsabilidade...) 
Compromisso profissional 
de cuidado humano a verdade e a justiça 
a competência e o 
aperfeiçoamento profissional 
virados para o exercício 
(excelência do exercício) 
 
 
Vejamos o segundo, neste processo de «andarmos para trás»- 
O respeito pelos direitos humanos na relação com os clientes é princípio orientador da 
actividade. 
 
Vale perguntar o que se eミteミde poヴ さdireitos humanosざ. 
Enquanto reivindicação moral, os direitos humanos nascem quando devem e podem 
nascer. Como bem realçou Norberto Bobbio, não nascem todos de uma vez e nem de uma 
vez por todas. 
Para Hannah Arendt, os direitos humanos não são um dado mas um constucto, uma 
invenção humana, em constante processo de construção e de reconstrução. 
 
A concepção contemporânea dos direitos humanos começou no pós-guerra, como 
resposta às atrocidades e horrores cometidos pelo regime nazi. Estamos a falar do envio 
de 18 milhões de pessoas para campos de extermínio, da morte de 11 milhões, 6 dos 
quais judeus. E o conhecimento dos factos provocou o esforço de reconstrução dos 
direitos humanos como paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional 
contemporânea. 
O maior marco desse esforço, data de 1948, 10 de Dezembro. 
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Inaugura a concepção da universalidade e da indivisibilidade dos direitos humanos. 
Universalidade, porque a convicção é de que a condição de pessoa é o requisito único 
para a titularidade de direitos, considerandoo ser humano como um ser essencialmente 
moral, dotado de unicidade existencial e dignidade. 
Indivisibilidade, porque há uma visão integral dos direitos, sejam eles civis e políticos ou 
sociais, económicos e culturais. 
 
“e a DUDH afiヴマa ケue さtodos os seヴes huマaミos ミasIeマ livヴes e iguais eマ digミidade e eマ 
diヴeitosざ Y justaマeミte poヴケue os homens não são iguais por natureza – se assim fosse, o 
conteúdo dessa declaração seria, no mínimo, supérflua. 
A esfera pública caracteriza-se pela igualdade – por natureza, os homens não são iguais; 
só o acto político pode gerar igualdade. 
A liberdade e a igualdade não são dados de facto, existentes, mas valores a defender. 
Nesta perspectiva, a DUDH é um instrumento político da igualdade e, mais ainda, há quem 
afirme que forneceu o lastro axiológico e unidade valorativa a um campo do direito. 
Disse Nobbio que os direitos humanos nascem como direitos naturais universais, 
desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando cada constituição incorpora 
declarações de direito) para encontrarem a sua plena realização como direitos positivos 
universais. 
O sistema internacional de protecção dos direitos humanos é integrado por tratados 
internacionais de protecção que reflectem, sobretudo, a consciência ética 
contemporânea, partilhada entre os Estados, na medida em que invocam o consenso 
internacional acerca de parâmetros mínimos de protecção (o «mínimo ético irredutível»). 
 
Para quem assume uma postura crítica diante do mundo da produção intelectual sobre os 
direitos humanos, dois aspectos chamam a atenção: (1) a enorme dimensão quantitativa e 
(2) o caracter predominantemente pacífico da evolução conceptual... 
さNasIidos Ioマo ヴesposta polítiIa, Ioミtiミgeミte e IoミIヴeta a uマ aIoミteIiマento 
monstruoso, impensável apriori, tal como o Holocausto, o seu desenvolvimento teórico 
esteve marcado por um extraordinário consenso universal baseado no repúdio mundial ao 
plano insano de aniquilação em massa de um povo. O enorme consenso político 
promoveu amplo consenso teórico e este, objectivamente, o empobrecimento intelectual 
do seu deseミvolviマeミto.ざ11 
Paradoxalmente, enquanto cresce o carácter conflituoso da política em ternos críticos de 
direitos humanos, ou seja, enquanto se multiplicam as violações dos direitos mais 
elementares, expande-se incessantemente a lista de direitos humanos referentes ao 
desenvolvimento económico e social. 
さÉ veヴdade ケue o マaioヴ aIolhiマeミto dos diヴeitos huマaミos IoミtヴiHui paヴa a paz soIial. No 
entanto, não é menos verdade que a paz social e a estabilidade democrática são o único 
ambiente onde os direitos humanos podem desenvolver-se de forma genuína e 
susteミtávelざ12. 
 
11 MÉNDEZ, Emilio Garcia – Origem, sentido e futuro dos direitos humanos: reflexões para uma nova agenda. In SUR Revista 
Internacional de Direitos Humanos. Ano 1, N.º 1, 1º semestre 2004. Rede Universitária de direitos humanos, p. 7- 20. (cit. p. 7) 
12 MÉNDEZ, idem, p. 16. 
Página 12 de 18 
 
Mas se, numa primeira fase, a protecção dos direitos humanos foi marcada pela tónica da 
protecção geral, com base na igualdade formal, percebe-se que é insuficiente considerar a 
pessoa de forma genérica, geral e abstracta. 
Faz-se necessária a especificação do sujeito de direito na sua particularidade. 
Assim, determinados sujeitos de direitos ou determinadas violações de direitos, exigem 
uma resposta específica e diferenciada. さAo pヴoIesso de expaミsão dos diヴeitos huマaミos 
soma-se o pヴoIesso de espeIifiIação de sujeitos de diヴeitos.ざ13 
É neste cenário que as mulheres, as crianças, as pessoas portadoras de deficiência, os 
migrantes, são consideradas categorias vulneráveis e devem ser vistas nas especificidades 
e particularidades da sua condição social. 
Como afirma Boaventura, さteマos o diヴeito de seヴ iguais ケuaミdo a ミossa difeヴeミça ミos 
inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos 
desIaヴaIteヴizaざ14. Por isso, uma dupla necessidade: de uma igualdade que reconheça as 
diferenças e uma diferença que não produza, alimente ou reproduza desigualdades. 
Ao lado do direito à igualdade surge o direito à diferença. 
 
Qual o fundamento ético? O respeito à diferença e à diversidade. 
 
O facto da Pessoa ter dignidade própria é uma convicção relativamente recente, no 
percurso histórico-filosófico da humanidade - quando Kant, em 1785, escreveu que as 
pessoas têm valor absoluto, e devem ser consideradas "sempre e simultaneamente como 
fim e nunca simplesmente como meio"
15, estava a definir o que faz com que o ser humano 
seja dotado de dignidade especial. É também super-conhecida a sua afirmação de que 
"No reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma 
coisa tem um preço, pode pôr-se, em vez dela, qualquer outra coisa como 
equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não 
permite equivalente, então ela tem dignidade"
16
 
E esta dignidade da pessoa humana é o núcleo essencial dos direitos humanos 
fundamentais. 
 
Todavia, se trouxe de Kant a ideia de Respeito – da dignidade e da Pessoa como Fim-em-
si-mesmo - iria a Hegel buscar a ideia de Reconhecimento17. 
Talvez por ser mais básica, mas sobretudo por implicar a relação com o Olhar do Outro. 
O significado de «reconhecimento» remonta à filosofia de Hegel que usou o conceito para 
descrever a estrutura interna da relação ética entre dois sujeitos. 
 
13 PIOVESAN, Flávia – Direitos sociais, económicos e culturais e direitos civis e politicos. In SUR Revista Internacional de 
Direitos Humanos. Ano 1, N.º 1, 1º semestre 2004. Rede Universitária de direitos humanos, p. 21-47 (cit. p. 29) 
14 SANTOS, Boaventura de Sousa – Por uma concepção multicultural de direitos humanos. In “Reconhecer para libertar: os 
caminhos do cosmopolitismo cultural”. Rio de janeiro: Civilicação, 2003. p. 458 
15 KANT, Immanuel - Fundamentação da Metafísica dos Costumes. (1785) Trad. Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1986. p.69 
16 Idem, p. 77. 
17 Vidé Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida – Reflexão ética sobre a dignidade humana. Documento de Trabalho. 26/ 
CNECV/ 1999. Disponível (20.08.2006, 16h) em http://www.cnecv.gov.pt/NR/rdonlyres/C718779C-F747-43D0-A3D0-
67F394F937EC/0/P026DignidadeHumana.pdf 
http://www.cnecv.gov.pt/NR/rdonlyres/C718779C-F747-43D0-A3D0-67F394F937EC/0/P026DignidadeHumana.pdf
http://www.cnecv.gov.pt/NR/rdonlyres/C718779C-F747-43D0-A3D0-67F394F937EC/0/P026DignidadeHumana.pdf
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Para o jovem Hegel (à época), o processo de formação da identidade tem como 
pressuposto o reconhecimento recíproco entre sujeitos, de modo que somente quando 
um indivíduo vê confirmada sua autonomia pelos demais é que pode chegar a uma 
compreensão completa de si mesmo como sujeito social. Em termos semelhantes, sugere 
Charles Taylor que a identidade é construída dialogicamente, a partir da relação do sujeito 
com os demais membros da sociedade que faz parte. 
 
A dignidade é, realmente, efeito do reconhecimento recíproco que fazemos uns aos 
outros. E tendo a noção de que o ser humano é capaz de se elevar acima das 
circunstâncias imediatas do seu ambiente para colocar questões sobre o sentido do real e 
da Vida. Ademais, nós não conferimos dignidade às pessoas – fazemos o reconhecimento 
da dignidade. E é este reconhecimento da dignidade que constitui, assim o afirma o 
preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o fundamento da liberdade, 
da justiça e da paz no mundo" 
 
Posta esta divagação, voltemos ao nosso assunto. Ou seja, a identificação do fundamento 
ético do princípio orientador da actividade, que é «o respeito pelos direitos humanos». 
Agora, parece muito mais fácil responder... O fundamento é o reconhecimento do Outro. 
 
Um cuidado profissional que pode – tem que ter a capacidade de – realizar uma 
trajectória com diferentes modalidades: quer seja em substituir, ouseja, fazer por alguém; 
em ajudar, num fazer com a pessoa; em orientar, em termos de ensinar para; em 
encaminhar para outros recursos, dirigir para, e em avaliar o caminho percorrido com a 
pessoa. As modalidades de ajuda têm de ser ajustadas a cada um, de acordo com as suas 
necessidades. 
Este caminho é o de tornar autónomo tanto quanto seja possível, no sentido de ajudar a 
prover a força, a vontade ou o saber, daí que releve a expressão do autocuidado. 
O trabalho do enfermeiro desenvolve-se no sentido de se tornar dispensável, de que o 
outro deixe de necessitar da ajuda por se bastar a si mesmo. A finalidade é, claramente, 
autonomizar, no sentido do autocuidado. 
Reconhecendo no Outro a condição de Pessoa, ser em projecto e em desenvolvimento. 
 
Entendo, portanto, que o reconhecimento do Outro é fundamento para o princípio 
orientador do respeito pelos direitos humanos do mesmo modo que o compromisso de 
cuidado é fundamento para a responsabilidade profissional. 
 
Valores universais na relação 
profissional 
Travessia pela norma e ligação aos 
princípios orientadores 
 
?? Fundamentos éticos 
igualdade centrados no Outro 
(respeito pelos direitos humanos) 
Reconhecimento do 
Outro como Pessoa o altruísmo e a solidariedade 
liberdade responsável inerentes ao papel assumido perante 
a sociedade (responsabilidade...) 
Compromisso de cuidado 
a verdade e a justiça 
a competência e o 
aperfeiçoamento profissional 
virados para o exercício 
(excelência do exercício) 
?? 
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Vamos ao terceiro princípio orientador da actividade, a excelência do exercício na 
profissão em geral e na relação com outros. 
 
A excelência do exercício remete-nos para um dever que é esperado e que o conteúdo 
profissional exige, de carácter fiduciário, ou seja, assente na confiança. 
Entendemos que a vida em sociedade, em geral, e na saúde, em particular, assenta sobre 
redes de confiança, que repousam sobre a crença no cumprimento das promessas ou dos 
compromissos. Estamos perante a relação entre a obrigação profissional e a protecção da 
pessoa através da excelência do exercício. 
 
De base, entendemos que a excelência é uma exigência ética, antes de ser deontológica. 
A qualidade dos cuidados demanda níveis de realização, entrecruzados da capacidade 
científica, da execução técnica e da relação interpessoal. 
Parece-nos que, além dos aferidores profissionais (padrões de qualidade), da avaliação 
das práticas e da gestão do risco, a personalização do cuidado é traço universal da 
qualidade. 
De base fiduciária, estruturada a partir da confiança, a relação de cuidado prometeu-se ao 
nível do melhor possível ou, pelo menos, ao mínimo desejável, abaixo do qual não se 
cumpre o prometido e se lesa quem se confia ao cuidado. 
Estamos na esfera da competência ou do poder como capacidade para. 
 
No plano ético, cada um de nós é responsável pelo Outro e, neste sentido, cuidador do 
Outro. 
A obrigação especial dos enfermeiros mediará no sentido da persecução da excelência e 
da protecção das pessoas – do que nos parece resultar a relação com aferidores de 
excelência (comummente designados legis artis) e a valoração do respeito (próprio e do 
Outro). 
Mais do que limitar-se a seguir os aferidores de excelência, a qualidade dos cuidados 
reporta a uma assistência qualificada à pessoa, detectando e reduzindo os factores que 
possam des-personalizar, des-respeitar. Por isso, se ergue a questão das condições 
exteriores (por exemplo, os contextos e recursos do exercício profissional nos locais 
IoミIヴetos) assiマ Ioマo da difeヴeミça do ケue a さケualidadeざ ヴepヴeseミta paヴa Iada uマ. 
 
A procura da qualidade é demanda da excelência em cada acto profissional, parecendo-
nos que se distancia da auto-complacência tanto quanto de uma satisfação extática com o 
já alcançado. 
O cuidado na acção decorre da obrigação profissional assumida para agir de determinado 
modo. Os adquiridos são uma espécie de pedras, de degraus, sobre os quais não é suposto 
que se fique mas de onde se prossiga para o nível seguinte. Portanto, do desenvolvimento 
da capacidade... ou melhor, da competência. 
 
 
 
 
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Valores universais na relação 
profissional 
Travessia pela norma e ligação aos 
princípios orientadores 
 
?? Fundamentos éticos 
igualdade centrados no Outro 
(respeito pelos direitos humanos) 
Reconhecimento do Outro 
como Pessoa o altruísmo e a solidariedade 
liberdade responsável inerentes ao papel assumido perante a 
sociedade (responsabilidade...) 
Compromisso de cuidado 
a verdade e a justiça 
a competência e o 
aperfeiçoamento profissional 
virados para o exercício 
(excelência do exercício) 
Competência – poder 
enquanto capacidade – 
 
Façamos agora a prova final - «a prova dos nove» - do sentido destes fundamentos. 
Procurando articulá-los e verificar se não se contradiz a ideia de princípio fundante. 
 
SÍNTESE DOS FUNDAMENTOS ÉTICOS DA DEONTOLOGIA 
 
A cada ser humano incumbe a ética tarefa de desenvolver a sua potencialidade, de 
auxiliar o Outro neste sentido de persecução dos projectos de uma vida boa, relevando 
igualmente a obrigação de participação no mundo. 
Diヴia RiIoeuヴ, ケue se tヴata de pヴoIuヴaヴ さo seミtido de uマa vida Hoa, Ioマ e paヴa Ioマ os 
outヴos, eマ iミstituições justasざ.... 
 
A cada enfermeiro incumbe a tarefa de agir no sentido de se desenvolver, de prestar um 
cuidado equitativo e excelente, que se reflecte na melhoria na qualidade de vida da 
pessoa. 
(1) Respeitar os direitos do Outro, com base no fundamento do reconhecimento do Outro 
como pessoa 
(2) assumir a responsabilidade numa perspectiva que se ancora no encargo confiado e no 
compromisso profissional, 
(3) e procurar a excelência, fundamentada na sua competência para agir, no seu poder-
capacidade. 
 
Esta é a nossa tese, portanto. 
Que os fundamentos éticos da deontologia são: 
(1) Reconhecimento do Outro como pessoa 
(2) Compromisso profissional 
(3) Competência para agir, no seu poder-capacidade. 
 
Afirmei que o princípio da dignidade humana ancora o princípio do cuidado humano, no 
agir do enfermeiro. 
Portanto, faltaria ancorar os fundamentos da ética posterior (ética aplicada, deontologia) 
na ética anterior (filosófica). Chegam-nos dois – a dignidade e a liberdade. 
 
 
 
 
 
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PRINCÍPIOS 
 ÉTICA ANTERIOR 
TRAVESSIA 
PELA NORMA 
ÉTICA DE ENFERMAGEM FUNDAMENTOS 
ÉTICOS DA DEONTOLOGIA 
DIGNIDADE HUMANA 
Responsabilidade 
o cuidado humano - 
dirigido ao tomar 
conta da vida 
Compromisso de 
cuidado 
Respeito pelos direitos 
humanos 
Respeito por Si e 
pelo Outro 
Reconhecimento do 
Outro como Pessoa 
LIBERDADE Excelência do exercício 
Aferidores de 
excelência 
Competência – poder 
enquanto capacidade 
 
Sendo certo que temos um compromisso profissional, por um lado, cada um de nós 
escolheu tê-lo, ou seja, ser enfermeiro; e é possível enraizá-lo numa «ética da promessa», 
relacionando com o poder da confiança que depositamos uns nos outros, confiança esta 
que provem de compromissos mútuos e da vivência em organismos constituídos por 
acordo. 
Nesta confiança se estabelece a entrega e a aceitação de encargo (por isso, confiado), 
pelo que estaremos na esfera da responsabilidade fiduciária, exactamente assente sobre 
os vínculos que a confiança entretece. E os nossos utentes entregam-se ao nosso cuidado. 
 
Note-se que do fundo ético da dignidade da pessoa decorrem outros princípios basilares. 
Apontamos, pela relação com a prática dos cuidados, a individisibilidade da pessoa e, 
portanto, não poder ser abordada como a doença de um órgão ou em função de uma 
necessidade específica – neste sentido, a linguagem técnica mais corrente atraiçoa, por 
vezes, este princípio. Quando se afirma que alguém é hipertenso, está-se perante a fusão 
da entidade nosológica com a pessoa, a confusão entre ser e ter uma condição patológica. 
As pessoas não são as doenças que têm... 
 
O cuidado protector carece da reciprocidade da confiança e do respeitopelo outro, como 
pessoa única, que se radica no reconhecimento do Outro. 
Consequentemente, o processo de cuidado constitui-se como uma relação interpessoal, 
em que a competência da enfermeira se fundamenta no seu compromisso de cuidar do 
outro e na intenção de o afirmar como pessoa, configurando um cuidado protector. 
Portanto, indo ao «mais atrás», ao anterior, o que possibilita o reconhecimento da 
dignidade da pessoa é o reconhecimento do Outro como pessoa. 
 
A condição de pessoa é o requisito e a base para todas as derivações, desde a dignidade à 
liberdade. E considerar o Outro como diferente de Si em incontornável alteridade, só não 
se transforma em distância por via da compaixão e da solicitude. 
E aqui, já saímos do fundamento para o processo, o recurso operativo. 
É atendendo à fragilidade da pessoa, com destaque para o respeito de Si, do Outro 
próximo, de cada um, que se exige visão prospectiva e cuidado na acção. 
 
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Os enfermeiros escolheram comprometer-se ao cuidado ao Outro, no trajecto vital da 
finitude irrecusável, da fragilidade e da vulnerabilidade; é verdadeiramente autónomo o 
enfermeiro capaz de conduzir o seu trajecto na convergência do compromisso, da 
capacidade e da atestação. 
 
Deixem-me evocar o 1º dever da deontologia. 
a) Exercer a profissão com os adequados conhecimentos científicos e técnicos, com o 
respeito pela vida, pela dignidade humana e pela saúde e bem-estar da população, 
adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e 
serviços de enfermagem; 
reolhemos a frase: 
 
Exercer a profissão ........................... Que é a praxis real e concreta 
com os adequados conhecimentos 
científicos e técnicos, ......................... 
com o respeito pela vida, 
 pela dignidade humana 
 
O «com» assinala o que tem de lá estar.. 
Conhecimentos + respeito pela vida e pela 
dignidade humana + 
 e pela saúde e bem-estar da 
população 
Respeito pela saúde e bem estar 
 que são realmente a nossa «diferença 
específica». 
adoptando todas as medidas que 
visem melhorar a qualidade dos 
cuidados e serviços de enfermagem; 
Como se realiza? É operativo este 
«adoptar TODAS as medidas» que 
cumpram o fim de melhorar a qualidade... 
 
Reencontramos os princípios orientadores – responsabilidade, respeito pelos direitos 
humanos e excelência do exercício. 
Mas atrás, em suporte anterior, encontramos o compromisso - «exercer a profissão» -, o 
reconhecimento do outro como pessoa e a atestação de competência, quer ao nível 
cognitivo (dos conhecimentos), quer operativo (adoptar medidas). 
Não só não encontramos contradição – um princípio importante para quem pensa – como 
sai reforçada a convicção de que são estes os fundamentos éticos da deontologia. 
 
Em quem posso confiar para cuidar de mim no momento em que estou vulnerável para 
cuidar de mim mesmo? No enfermeiro. 
Entendo, portanto, 
que o reconhecimento do Outro, com recurso à solicitude, niveladora das assimetrias, é 
fundamento para o princípio orientador do respeito pelos direitos humanos 
do mesmo modo que 
o compromisso de cuidado é fundamento para a responsabilidade profissional 
e que a competência, enquanto poder-para, fundamenta a excelência do exercício. 
 
E os princípios primeiros são a dignidade e a liberdade, respectivamente, condição de 
nascer pessoa e princípio da moralidade, em Kant. 
Página 18 de 18 
Reformulo, agora, o imperativo ético prático da deontologia dos enfermeiros: 
 
 
«Age sempre de tal maneira que a tua acção de cuidado, 
inspirada pelo compromisso profissional, 
reconheça o Outro como pessoa 
e se ancore na atestação de competência.» 
 
 
De que derivará que os processos sejam de fazer recurso à solicitude e à compaixão, bem 
como a demanda concreta da qualidade do que se faz. Mas isto seria outra conversa... 
 
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