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Função Renal 1 Função Renal Fisiologia da função renal interpretação dos biomarcadores séricos para avaliação da função renal, incluindo o clearance; interprestação dos biomarcadores urinários para avaliação da função renal, incluindo o clearance; Introdução Os rins são órgãos pares localizados na cavidade retroperitoneal, sendo os principais envolvidos na manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico do organismo. A função renal desempenha um papel vital na homeostase do organismo, mantendo a composição adequada do sangue, a pressão arterial, o equilíbrio ácido-base e a eliminação de produtos metabólicos tóxicos. Este capítulo abordará a fisiopatologia da função renal, a interpretação de biomarcadores séricos e urinários para avaliação da função renal, incluindo o clearance, destacando sua relevância na atualidade. História A compreensão da função renal remonta aos tempos antigos, quando civilizações como a egípcia e a grega já reconheciam a importância dos rins na saúde. No entanto, a verdadeira revolução na compreensão da fisiopatologia renal ocorreu no século XX, com a descoberta da filtração glomerular e a identificação de hormônios renais, como a renina e a eritropoietina. Isso pavimentou o caminho para estudos mais aprofundados sobre a função renal. Atualidades baseadas em Artigos Científicos Nos dias de hoje, a pesquisa em função renal é altamente ativa. Avanços recentes incluem o uso de técnicas de imagem avançada, como a ressonância magnética, para estudar o fluxo sanguíneo renal e a análise genética para identificar mutações Função Renal 2 associadas a doenças renais hereditárias. Além disso, novos biomarcadores estão sendo explorados para diagnóstico precoce de lesões renais e monitoramento de doenças crônicas, como a doença renal crônica. Epidemiologia A disfunção renal é um problema global de saúde pública. A doença renal crônica (DRC) afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com uma prevalência crescente devido a fatores de risco como diabetes, hipertensão e envelhecimento da população. A insuficiência renal aguda também é uma preocupação significativa em pacientes hospitalizados, com taxas de mortalidade associadas alarmantes. Atualmente, a DRC está presente em cerca de 5-10% da população brasileira, e a incidência tem aumentado devido ao número aumentado de pacientes portadores de DM, hipertensão arterial e o aumento da longevidade. Relevância no Tema na Atualidade A função renal é crucial para a saúde humana, e a compreensão de sua fisiopatologia e avaliação é fundamental para o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz de doenças renais. Além disso, a pesquisa contínua nessa área é essencial para o desenvolvimento de terapias inovadoras e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes com doença renal. Fisiopatologia da Função Renal A função renal é complexa e envolve diversos processos, incluindo filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular. Alterações em qualquer uma dessas etapas podem levar a disfunção renal. Doenças como a glomerulonefrite, a diabetes mellitus e a hipertensão arterial são exemplos de condições que podem afetar a função renal. As unidades funcionais dos rins são os néfrons, estruturas tubulares onde acontece os processos de filtração, reabsorção e secreção envolvendo a formação da urina. O néfron é organizado em Cápsula de Bowman, túbulo contorcido proximal, alça de Função Renal 3 Henle, túbulos contorcido distal e ducto coletor. Na interface glomérulo-cápsula de bowman acontece a filtração, onde o peso molecular vai ser um fator determinante para o tipo de molécula a ser filtrada. O glomérulo consiste em uma espiral de capilares cujo endotélio é fenestrado e, devido à estrutura componente do corpúsculo renal, possibilita a filtração de água e pequenos solutos, como uréia, glicose, sódio ou pequenas proteínas. No túbulo proximal tem reabsorção de glicose, aminioácidos, ureia, ácido úrico, bicarbonato, cloretos, íons H+, fosfatos, água, etc. Nessa porção, acontece também a secreção de amônia, íons H+ e drogas. Na alça de Henle, tem reabsorção de água na porção descendente, enquanto a porção ascendente é impermeável à água, fazendo absorção de Na e Cl. Já no túbulo distal, tem reabsorção de NaCl e água e ação dos hormônios ADH e aldosterona, que atuam na reabsorção de água e Na. Esse hormônios também irão atuar na regulação da osmolaridade da urina no ducto coletor. Funções renais: 1. Formação da urina 2. Regulação do fluido e balanço eletrolítico 3. Regulação do equilíbrio ácido-base 4. Excreção de toxinas e produtos do metabolismo proteico 5. Função hormonal: eritropoietina (importante na síntese de hemácias - paciente renal tem deficiência na síntese de hemácias com anemia); 1,25- dihidroxicolicalciferol (percursos da Vit D), e o paciente renal desenvolve osteoporose devido à deficiência de vit D que não favorece absorção intestinal de cálcio; renina (importante na manutenção da PA); PGI2 6. Conservação de proteínas (manter as proteínas dentro do sistema plasmático; no vaso e não no interstício): importante para manutenção da pressão coloidosmótica Formação da Urina O processo envolve basicamente três processos: Filtração, Reabsorção e Secreção. Função Renal 4 O Rim recebe ~ 25% do débito cardíaco no adulto. Cada Rim filtra ~170-200 L de sangue/dia. Substâncias com PM > 60.000 Da normalmente não ultrapassam a barreira de filtração nos glomérulos. Substâncias entre 15000 e 60000 D são parcialmente filtradas O componente filtrado é chamado de ultrafiltrado pois sua composição é essencialmente a do plasma, com exceção de moléculas cujo PM > 15000 D. A albumina tem 66000 D, próxima ao limiar renal. Uma mínima fração da albumina é excretada. No entanto, quando a barreira de filtração está prejudicada, a albumina é liberada na urina —> detectado por albuminúria e microalbuminúria Reabsorção: moléculas filtradas podem ser totalmente ou parcialmente reabsorvidas ao longo do néfron, especialmente no túbulo contorcido proximal. As moléculas podem ser reabsorvidas de forma ativa ou passiva. Substâncias totalmente reaborvidas: glicose, aminoácidos Substâncias parcialmente reabsorvidas: creatinina, sódio Reabsorção/secreção de bicarbonato —> importante para controle de equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-base Secreção: moléculas diretamente secretadas no túbulo proximal, como algumas drogas, fenosulftaleína, creatinina Interpretação dos Biomarcadores Para avaliar a função renal, são utilizados biomarcadores séricos e urinários. Os níveis de creatinina sérica e o clearance de creatinina são frequentemente usados para estimar a taxa de filtração glomerular (TFG). Além disso, a albuminúria é um importante biomarcador de lesão renal. Novos marcadores, como o NGAL (lipocalina associada à gelatinase neutrofílica) e o KIM-1 (molécula-1 induzida por lesão renal), estão sendo investigados para identificar lesões renais precoces. AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL Função Renal 5 A avaliação da função renal deve ser dividida em (1) função glomerular e (2) função tubular, já que constituem funções distintas dos néfrons. Testes de Função Renal 1) Taxa de filtração glomerular: é a taxa em mL/min em que as substâncias são filtradas através dos glomérulos. Depende das pressões hidrostáticas e oncótica ao longo da arteríola aferente através do filtro glomerular. Utilizada para avaliar grau de insuficiência renal e sua evolução. O teste bioquímico, no entanto, não avalia a causa da doença, sendo necessária avaliação também por exame de sedimento urinário (ESU), a medida de excreção urinária de proteínas, estudos radiológicos e/ou biópsia renal. Nessa avaliação, é importante verificar a capacidade renal em filtrar volume suficiente e reter proteínas e elementos figurados do sangue. Clearence = depuração = volume de plasma em que uma quantidade de substância X é completamente eliminada na urina por unidade de tempo Sendo D = Depuração; U = concentraçãoda urina (mg/dL); V = Fluxo urinário (mL/min); P = concentração plasmática (mg/dL) Para identificar a área de superfície corporal, é utilizado um Normograma, que leva em conta a altura e peso do paciente. Para uma substância ser um bom marcador para filtração glomerular, é importante que: Ela seja filtrada livremente pelos glomérulos Tenha uma depuração dependente apenas da filtração glomerular D = (U ∗ V /P) ∗ (1, 73/ readocorpo(m2))Á Função Renal 6 Não seja secretado ou reabsorvido pelos túbulos Tem uma taxa de produção estável a) Depuração da Inulina Padrão ouro: por ser exógeno, é possível comparar a quantidade administrada com a filtrada. É possível fazer curva exata da passagem. Polissacarídeo exógeno administrado ao paciente por um período conhecido - infusão constante (para obter estado estacionário de concentração) É feita coleta de amostra de sangue e urina em tempo cronometrados. Desvantagem: demorado, paciente INTERNADO, por isso muito pouco utilizado na clínica. Tem pequena quantidade de extrarrenal de depuração. Por isso, não é um método usual. Por isso, só é usado em pacientes em estágio mais avançado Uma alternativa é o uso de sinistrina, que é uma polifrutose mais solúvel que inulina e mais fácil administração intravenosa Relatos de reações anafiláticas b) Depuração da Creatinina: método atual mais utilizado para avaliar filtração glomerular A creatina é uma molécula endógena sintetizada a partir de glicina, arginina e S-metionina no fígado. Ela é armazenada nos músculos como fonte de reserva energética (como a fosfocreatina muscular) para a contração muscular. Uma vez metabolizada, a creatinina é sintetizada a partir da creatina, sendo liberada do músculo para a circulação de maneira constante (1-2%/dia do total). Quanto mais músculo tem, maior quantidade de creatina e creatinina. Mesmo assim, é excelente para avaliar filtração glomerular. Por ser endógeno e de fácil mensuração plasmática e na urina —> método prático e rápido É livremente filtradas pelos glomérulos (possui apensa 113 Da); não é reabsorvida e apenas uma pequena parte é secretada (7-10%) Função Renal 7 reflete a TFG indiretamente; relação inversamente proporcional entre concentração sérica de creatinina e a TFG Em estágios avançados da doença renal, a secreção de creatinina é mais significativa, podendo superestimar a TFG A produção de concentração estável e proporcional à massa muscular - produto do metabolismo Eliminada exclusivamente pelos rins Sofre influência de alguns fatores: aumento da secreção tubular ou drogas que diminuem a secreção tubular (cimetidina) rabdomiólise padrão de alimentação, suplementação com creatina excreção extrarenal por aumento de bactérias intestinais ou da atividade creatininase na doença renal crônica Indicado para GNA, acompanhamento de terapia, Doença glomerular, comprometimento da função renal A diminuição do clearence de creatinina é um indicador muito sensível da redução das taxas de filtração glomerular Procedimento: Hidratar o paciente com pelo menos 500 ml de água O paciente deve esvaziar a bexiga completamente e anotar a hora. Recolher toda a urina em um período de tempo determinado (4, 12, 24 h) A coleta incompleta da Urina pode incorrer em valores falsamente baixos Obter amostra de sangue Medir o volume de urina e calcular o fluxo, por unidade de tempo Determinar a concentração de creatinina na urina e no soro Calcular o clearence pela fórmula Função Renal 8 VR varia 80-140 mL/min dependendo do sexo e idade Técnica para determinação de creatinina em Soro e Urina - Reação de Jaffe (1886) Grande capacidade e sensibilidade para identificação de creatinina Em meio alcalino, a creatinina reage com picrato, gerando picrato de creatinina que possui absorção específica em 485 nm (coloração vermelho-alaranjada) Interferências Proteína, glicose, piruvato, ácido ascórbico, acetona, acetoacetato, ácido úrico, bilirrubina Algumas análises são feitas para amenizar interferentes através de métodos cinéticos, ao aferir a quantidade de cromógenos formados em um dado período de tempo - esse método cinético possui menos interferentes do que o método de ponto final Outros métodos para determinação de creatinina Enzimas, como creatininase, creatina-D-aminase os métodos enzimáticos são mais caros e também sofrem interferência de analitos d) Radioisótopos Exame de alta precisão Alto custo e difícil execução: não rotineiro Função Renal 9 Biomarcadores séricos É feita a dosagem dos nitrogenados não proteicos (tem N mas não são proteínas) que são sintetizados no organismo como resultado do metabolismo de ácidos nucleicos, aminoácidos e proteínas. Uréia Formada no fígado como produto final do catabolismo proteico que tem como intermediário a amônia livre. Diretamente relacionada com função metabólica do fígado e excretora dos rins. > 90% da uréia é excretada pelos rins. Função Renal 10 É também marcador de sangramento gastrointestinal e de desidratação —> não específico para função renal, pode ter causa pré-renal por fatores de perfusão inadequada dos rins Por isso, não deve ser avaliado como único fator para função renal É livremente filtrada por glomérulos e essa é a única forma de depuração. Mas não tem taxa de produção estável devido a variáveis não renais: dieta rica em proteínas, desnutrição, desidratação, síntese hepática, etc Hiperuremia (> 40 mg/dL), doenças: Pré-renal: perfusão inadequada dos rins - filtração diminuída - função renal normal. Aumenta a ureia sem a cretinina. Relação ureia/creatinina isolada. Relação ureia/creatinina > 40 —> azotemia pré-renal Causas: Diminuição do fluxo sanguíneo renal, ICC, choque, hemorragia, desidratação, corticosteroides, dieta rica em proteínas, infusão de aminoácidos, febre, estresse Função Renal 11 Renal: filtração glomerular diminuída - retenção de ureia Glomerulonefrite, necrose tubular aguda, nefrite intersticial aguda, doença vascular aguda Pós-renal: obstrução do trato urinário - reabsorção de ureia Obstrução ureteral, obstrução na saída da bexiga Hipouremia - Amônia aumentada Produto intermediário do metabolismo de proteínas, antes de formar ureia. Toxicidade celular. Coma hepático: na doença hepática grave, o mecanismo de remoção da ureia não está funcionante, aumentando sua concentração no plasma. A toxicidade é agravada na presença de alcalose (formação de gás amoníaco NH3). Na acidose, forma-se o íon amônio (NH4), menos tóxico. O aumento de NH3 e NH4 no cérebro pode induzir ao coma. O aumento de amônia pode diminuir os níveis de ureia devido a esse prejuízo no metabolismo. A hipouremia pode estar relacionada com Insuficiência hepática, desnutrição e hiperhidratação. Técnica analítica: ureia Reação de Fearon Ureia mensurada no plasma e urina, através de cromógeno gerado em 540 nm —> não muito utilizada Urease Função Renal 12 Creatinina Hipercreatininemia O aumento de creatinina sérica possui uma boa correlação com a falência renal. É um teste rápido e fácil de ser feito Detecta grandes alterações, mas pode não detectar pequenas perdas É esperado menor concentração em crianças e idosos por terem menor massa muscular. —> A realização simultânea da ureia séria ajuda a minimizar uma de suas limitações —> os fatores que interferem na dosagem de ureia (desidratação, ingestão excessiva de proteínas, hemorragia digestiva) não são os mesmos que alteram a de creatinina sérica Pré-natal: nercose muscular ou atrofia Função Renal 13 Renal: lesão glomerular Pós-renal: Urolitíase É possível, ainda, calcular a Depuração renal estimada sem coletar a urina 24h, por meio de cálculos. Ácido Úrico produto final do catabolismo das bases púricas (adenina e guanina) Formado principalmente no fígado a partir da xantina pela enzima xantina oxidase Filtrado e reabsorvido no túbulo proximal e secretado no túbulos distal + de 50% da produção diária provém da síntese metabólica e outros 50% da dietaFatores que influenciam níveis sanguíneos e urinários de ácido úrico Sexo: maior no homem Obesidade: aumentado Dieta: ricas em proteínas, ácidos nucleicos, álcool Função Renal 14 Não é um excelente marcador, pois possui relação com síndrome metabólica e inflamações; gota em que aumento de ácido úrico promove depósito de cristais em articulações, mas não relacionado com problema renal Uricosúria: uricemias persistentes, pré-menopausa, gota Determinação do Ácido Úrico Paciente não necessita de jejum Amostra: soro, plasma heparinizado, urina de 24 horas (com conservante alcalino, 5g de bicarbonato de sódio por L de urina) Métodos Ácido fosfotungístico: reage com ácido úrico em solução alcalina, formando azul de tungstênio Uricase: cataliza a oxidação do ácido úrico a alantoína com formação de H2O2 Quantificação: diferença da absorção antes e depois da ação da uricase Medida colorimétrica da H2O2 produzida Medida de O2 consumido na reação VR: Soro (H): 3,5 - 7,2 mg/dL Soro (M): 2,6 - 6,0 mg/dL Urina (24 h): 250-750 mg/dL Cistatina C sérica Proteína de baixo peso molecular e potente inibidor de proteases de cisteína; alto ponto isoelétrico —> facilmente filtrada pela membrana glomerular Pouca influência da idade, sendo excelente para crianças, idosos e até cirróticos Função Renal 15 Medido por imunoensaio, imunoensaio turbidimétrico ou nefelométrico com partículas látex Concentração sérica não é influenciada pela massa muscular, dieta ou, aparentemente, gênero. Custo elevado quando comparado à depuração de creatinina Proteinúria Uma vez que uma das funções renais é filtrar proteínas, a identificação de proteínas na urina é uma das formas de se avaliar a função e lesão renal. Então o aumento de proteínas na urina pode acontecer por: 1) carga filtrada aumentada 2) capacidade de reabsorção diminuída Proteinúria é definida como a presença anormal de proteínas na urina. Embora uma pequena quantidade de proteína esteja presente no ultrafiltrado produzido pelo glomérulo (PM < 20.000 Da), grande parte é reabsorvida pelos túbulos, sendo uma quantidade mínima excretada através da urina. Componentes da urina: albumina em baixas concentrações (até 30mg/dia), microglobulinas, tubulares, proteínas de Tamm-Horsfall e proteínas de secreção prostáticas, seminais e vaginais. Em alguns situações, pode haver proteinúria não relacionda à lesão renal (embora os mecanismos sejam mal compreendidos): Proteinúria ortostática: proteinúria em amostra ao longo do dia, mas primeira urina da manhã normal. É benigna em adultos e dados ausentes para crianças Proteinúria febril: leve (menor ou igual a 2+) Proteinúria e hematúria induzida por exercícios: devido à sobrecarga de células e conteúdo proteico para o sangue. Normalmente se resolvem expontaneamente após 48h de repouso Estresse emocional Dieta hiperproteica Função Renal 16 Urina altamente concentrada Proteinúria constante / patológica - considerada nefrótica (se > 3g, nas 24h) ou subnefrótica (200 mg - 3 g, 24 h) : Síndrome nefrótica Glomeruloesclerose segmentar focal Nefropatia IgA Nefropatia membranosa Hipertensão essencial Diabetes Lupus Função Renal 17 Diagnóstico de Proteinúria: Urina de 24 horas: Padrão outro: detecta variações de excreção no decorrer do dia; utilizado para quantificação Proteinúria quantitativo: reação de biureto Jejum de 8 horas, suspender medicação De acordo com a concentração de proteína, adquire diferentes tonalidades de lilás Adultos: proteinúria > 150 mg proteínas/dia Crianças: proteinúria > 4 mg / m2 / hr Proteinúria Qualitativo Tira reagente: - até ++++ ou Teste do Ácido sulfosalicílico: - até ++++ 1+ proteína pode ser significativa em amostra diluída (Sp Gr 1.005 - 1.015) 2+ proteína pode ser significativa em amostra concentrada (Sp Gr > 1.015) Microalbuminúria Possível identificar valores cerca de 10 vezes menores do que na proteinúria Perda de proteínas na urina com valor entre 30 e 300 mg em 24 horas. Função Renal 18 O surgimento de de albumina na urina é gradual, iniciando na forma de microalbuminúria (30-300 mg/dia), mas pode evoluir para macroalbuminúria ( > 300 mg / dia) —> até síndrome nefrótica com perda maciça de albumina (hipoalbuminemia) A resposta hepática para essa condição é a hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia Quanto maior a lesão —> maior perda de proteínas na urina Determina de maneira precoce o aumento de excreção de prot Pode ser realizado em urina isolada ou 24 h 2) Avaliação da função tubular a) Densidade urinária: medida de concentração de soluto na urina Elevada: urina concentrada; Diminuída: urina diluída Coleta de primeira amostra da urina matinal, com privação hídrica Função: avaliar a capacidade de concentração e excreção renal Verificar presença ou ausência de proteinúria ou glicosúria Complementa os resultados de exames do tipo 1 de urina Função Renal 19 Referência em adultos: 1.005 a 1.030 (valores diminuem com a idade) Densidade aumentada: Desidratação —> reduz fluxo sanguíneo renal e a FG —> ativa SRAA e liberação de ADH —> urina mais concentrada Outras causas para redução de fluxo sanguíneo renal: ICC, cirrose hepática, síndrome nefrótica —> diminui volume plasmático —> —> ativa SRAA e liberação de ADH —> urina mais concentrada Secreção inapropriada de ADH (tumor de hipófise, tumor de pulmão) Proteinúria e glicosúria Densidade diminuída: Hiper-hidratação DM insípido: resulta da não liberação de ADH ou da não responsividade do rim ao ADH (água não reabsorvida, dilui mais a urina) Doença renal crônica: reduz néfrons e a capacidade de concentrar a urina Uso de diuréticos Nefropatias intersticiais b) Osmolaridade urinária: avalia número de partículas presentes na urina, sendo uma medida mais exata da concentração de solutos na urina Avalia capacidade de concentração urinária também Monitoramento de equilíbrio hidroeletrolítico Diagnóstico de doença renal, sindrome da secreção inapropriada de ADH e DM insípido Função Renal 20 b) Glicosúria: toda a glicose filtrada é reabsorvida pelos túbulos renais (TCP) através de transportadores. Quando glicose em excesso, os transportadores ficam saturados (glicemia > 180 mg/dL) ou quando tem aumento da FG e da glicose filtrada (doença de Fanconi). Causa mais comum: DM Se glicosúria —> mandatório dosagem de glicemia c) pH: indica o equilíbrio ácido-básico, refletindo função dos túbulos renais na manutenção do pH (4,6 - 8 —> média de 6) —> comparar com pH sérico Valores elevados: alcalemia - para manter homeostase, os rins excretam o excesso de base para corrigir desequilíbrio acidobásico infecções das vias urinárias: bactérias que matabolizam ureia em amônia (Proteus mirabilis) aspiração gástrica e vômitos Função Renal 21 dieta vegetariana acidose tubular renal Valores diminuídos: acidemia: para manter a homeostasia, rins excretam H+ —> redução do pH urinário DM e inanição —> ácidos cetônicos Acidose respiratória e DPOC —> retenção de CO2 é compensada pela excreção de H+ Ingestão excessiva de proteínas de origem animal Interferentes: Demora no processamento da urina Proliferação de bactérias metabolizadores de ureia —> pH mais alcalino Frasco aberto —> evaporação de CO2 —> pH mais alcalino Drogas Bicarbonato de sódio, antiácidos —> aumentam o pH Cloreto de amônia, ácido mandélico, tiazídicos —> diminuem o pH Novos biomarcadores precoces Uma vez que a lesão renal tem início anterior ao diagnóstico detectável pela creatinina séria, o diagnóstico será sempre tardio. Novos biomarcadores precisam ser utilizados para identificação delesão renal mesmo antes do decréscimo da TFG NGAL O NGAL é o biomarcador precoce para doença renal em estudo mais conhecido. É uma proteína filtrada livremente pelo glomérulo e reabsorvida no TCP. Função Renal 22 Comercialmente, são encontrados kits para imunoensaio turbidimétrico para determinação quantitativa de NGAL em amostra de urina e plasma. Níveis baixos de NGALda urina Injúria renal, efeitos nefrotóxicos, sepse —> aumenta produção de NGAL por tecidos (rim, pulmão e TGI) —> reduz absorção renal e aumenta níveis na urina cerca de 30 minutos após lesão (precedendo outros marcadores) KIM-1 Glicoproteína transmembrana expressa na membrana de túbulos com lesão aguda e crônica, com função na regeneração. Detectada em urina de paciente com Necrose Tubular Aguda (NTA) e marcador útil para lesão tubular proximal —> diagnóstico precoce e discrima entre formas de IRA. IL-18 Citocina pró-inflamatória que induz síntese de outras citocinas e também modula células imunológicas. Estudos mostram que pacientes com NTA apresentam níveis elevados de IL-18 urinários, sendo bom marador precoce para IRA. Principais afecções do sistema Urinário Glomerulonefrite aguda Processo inflamatório asséptico —> oligúria, febre e hematúria Comum em crianças e adultos jovens Relacionada com infecção do trato respiratório por bactérias Streptococcus do grupo A —> produzem toxinas que se complexam com anticorpos, e esses complexos se depositam na membrana glomerular, válvulas cardíacas, etc Diagnóstico laboratorial aumento plasmático de nitrogenados não proteicos hematúria Função Renal 23 proteinúria com cilindros hialinos, granulares, hemáticos e leucocitários Nefrite intersticial aguda Inflamação do interstício com disfunção renal, mas sem prejudicar glomérulos ou vasos Etiologia diversa: pielonefrite aguda, intoxicação medicamentosa, septicemia, rejeição de transplante e distúrbios imunológicos Achados laboratoriais: Hematúria Leucocitúria com cilindros leucocitários, sem presença de bactérias Proteinúria leve a moderada Glomerulonefrite crônica Reicidiva de distúrbios glomerulares Hematúria em jovens —> pode evoluir para nefropatia e glomerulonefrite membranosa Insuficiência renal aguda Perda aguda da função renal relacionada a várias causas —> redução da TFG e excreção dos catabólitos Acompanha oligúria e aumento de nitrogenados não proteicos Pré-renal: Deficiência na perfusão por desidratação grave, com aumento desproporcional entre uréia e creatinina 15:1 Renal: Processos inflamatórios na presença de hematúria com cilindros hemáticos Pós-renal: obstrução por tumores ou litíase presença de cálculos é a mais comum Função Renal 24 pode haver vários tipos de cristais: ácido úrico, oxalato de cálcio, cistina, fosfato e cálcio Insuficiência renal crônica Perda progressiva da função renal de forma irreversível Pode ser o estágio final da glomerulonefrite Deve-se avaliar pela perda progressiva pelo índice de filtração que declina em 3 a 6 meses Pode apresentar: hiperfosfatemia, hipocalcemia (deficiencia de Vit D) e anemia (devido à deficiência de eritropoietina) Síndrome nefrótica Manifesta com proteinúria acima de 3,5 g / dia Acompanha hipoalbuminemia, hiperlipidemia, hipercoagulabilidade e edema Quadro laboratorial: uremia Função Renal 25 hipercreatinemia baixa TFG hipocalcemia presença de cilindros é um bom indicativo Função Renal 26 Conclusão A função renal desempenha um papel crucial na manutenção da homeostase do organismo, e seu entendimento é essencial para a prática clínica e a pesquisa biomédica. A fisiopatologia renal e a interpretação dos biomarcadores são fundamentais para o diagnóstico e o tratamento de doenças renais. À medida que novas tecnologias e biomarcadores são desenvolvidos, nossa capacidade de avaliar e tratar eficazmente as disfunções renais continua a evoluir. Os exames laboratoriais de rotina são importantes para o diagnóstico precoce e evitar o avanço da doença até estágios terminais, sendo necessária terapia substitutiva da função renal. Os biomarcadores apontados são importantes indicadores quantitativos para processos patológicos, empregados a fins de diagnóstico ou monitoramento terapêutico. Função Renal 27 Bibliografia 1. Guyton, A. C., & Hall, J. E. (2015). Tratado de Fisiologia Médica. Elsevier Brasil. 2. Taal, M. W., Chertow, G. M., & Marsden, P. A. (2012). Brenner and Rector's The Kidney. Elsevier Health Sciences. 3. Inker, L. A., & Levey, A. S. (2014). Measurement of kidney function. 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