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Doenças Renais OS RINS A principal função do rim consiste em manter o equilíbrio hidreletrolítico e os solutos orgânicos. O rim normal desempenha essa função em uma ampla faixa de flutuações do sódio, da água e dos solutos. Essa tarefa é realizada pela filtração contínua do sangue, com alterações na secreção e reabsorção desse líquido filtrado. O rim recebe 20% do débito cardíaco e filtra cerca de 1.600 L/dia de sangue, produzindo 180 L de líquido denominado ultrafiltrado. Por meio de processos ativos de reabsorção de certos componentes e da secreção de outros, a composição desse ultrafiltrado é transformada em 1,5 L de urina excretada em média em um dia. Cada rim consiste de quase 1 milhão de néfrons funcionais, constituídos por um glomérulo conectado a uma série de túbulos. Os túbulos consistem em diferentes segmentos: o túbulo contorcido proximal, a alça de Henle, o túbulo distal e o ducto coletor. Se um segmento de um néfron for destruído, esse néfron em sua totalidade não é mais funcional. O glomérulo é uma massa esférica de capilares circundados por uma membrana, a cápsula de Bowman. O glomérulo produz o ultrafiltrado, que é então modificado pelos próximos segmentos do néfron. A produção de ultrafiltrado é principalmente passiva e depende da pressão de perfusão gerada pelo coração e suprida pela artéria renal. Os túbulos reabsorvem a maioria dos componentes que compõem o ultrafiltrado. Grande parte desse processo é ativa e exige um gasto considerável de ATP. O túbulo é uma estrutura singular; diferenças na permeabilidade entre os vários segmentos e as respostas hormonais permitem que o túbulo produza a urina final, que pode variar amplamente na sua concentração de eletrólitos, osmolalidade, pH e volume. Por fim, essa urina é canalizada nos túbulos coletores comuns e na pelve renal. A pelve renal se estreita, passando a constituir um único ureter por rim, e cada ureter transporta a urina para dentro da bexiga, onde ela se acumula antes de sua eliminação. NEFROLITÍASE Formação de cálculos renais. A nefrolitíase caracteriza-se por ocorrências frequentes durante a quarta e a quinta décadas de vida, com alta taxa de recidiva. Fatores de risco Baixo volume de urina História familiar de cálculos renais Dieta Clima Atividade física extenuante Gota Obesidade Medicamentos. Fisiopatologia A formação de cálculos renais é um processo complexo, que consiste em saturação; supersaturação; nucleação; crescimento ou agregação de cristais; retenção de cristais; e formação de cálculo na presença de promotores, inibidores e formadores de complexos na urina. Os cálculos de cálcio são os mais comuns: 60% dos cálculos consistem em oxalato de cálcio, 10% em oxalato de cálcio e fosfato de cálcio, e 10% em fosfato de cálcio. Outros cálculos incluem 5% a 10% de cálculos de ácido úrico, 5% a 10% de estruvita e 1% de cistina. Obesos que formam cálculos excretam quantidades aumentadas de sódio, cálcio, ácido úrico e citrato e apresentam pH urinário mais baixo. A obesidade é o preditor mais forte de recidiva de cálculos nos indivíduos que formam cálculos pela primeira vez. Conforme a massa corporal aumenta, a excreção de cálcio, oxalato e ácido úrico também aumenta. Estes pacientes também apresentam redução da excreção de amônia e comprometimento do tamponamento de íons hidrogênio. Com o aumento do IMC, os cálculos de ácido úrico tornam-se mais dominantes do que os de oxalato de cálcio, sobretudo nos homens. Os cálculos de ácido úrico são comuns na presença de diabetes mellitus tipo 2. A hiperinsulinemia também pode contribuir para o desenvolvimento de cálculos de cálcio por meio de aumento da excreção urinária de cálcio. Manifestações clínicas Cólica renal (dor lombar com irradiação trato geniturinário), náuseas, vômitos, sudorese, pode apresentar hematúria. Complicações: infecção urinária, insuficiência renal aguda e/ou crônica. Tratamento Clínico (citrato de potássio, alopurinol, diuréticos), litotripsia (extracorpórea/ percutânea), ureteroscopia, cirurgia. Dietoterapia ✓ Ingestão normal de proteínas: evitar qualquer excesso ✓ Ingestão normal de cálcio: 1.000 mg com 50 anos de idade. Dividir a ingestão em três ou mais refeições; escolher fontes não lácteas ou de laticínios ✓ Evitar alimentos com teor de oxalato moderado a alto se a excreção urinária de oxalato estiver elevada ✓ Consumir 2,5 L de água ou mais; ✓ Evitar alimentos com alto teor de purinas ✓ Evitar suplementação de vitamina C. ✓ Reduzir ingestão de sódio para pacientes com hipercalciúria (2300 mg/dia) Suplementação com vitamina C, na dose de 1.000 mg/dia, foi associada a um aumento de duas vezes no risco de cálculos renais em homens. Chá, café, café descafeinado, suco de laranja, cerveja e vinho têm sido associados a uma redução do risco de formação de cálculos. O café e o chá induzem diurese moderada em virtude de seu conteúdo de cafeína. Como o café descafeinado não tem cafeína, foi sugerido que outros mecanismos possam estar envolvidos, como fitoquímicos com propriedades antioxidantes. O álcool também ajuda devido à diurese. O suco de laranja contém citrato, que fornece uma carga alcalina. O citrato inibe os cálculos urinários por meio da formação de um complexo com cálcio na urina. Por conseguinte, há menos disponibilidade de cálcio para a ligação do oxalato urinário, o que ajuda a prevenir a formação de cálculo de oxalato de cálcio e de fosfato de cálcio. A acidose tubular renal (acidose acompanhada de hipopotassemia), a síndrome de má absorção com hiperoxalúria entérica e o consumo excessivo de carne (pH urinário mais baixo) estão associados à redução das concentrações urinárias de citrato. Para muitos indivíduos formadores de cálculos, a restrição do oxalato dietético pode ser uma intervenção relativamente ineficaz para diminuir a excreção urinária de oxalato. Com uma ingestão muito baixa de cálcio, de menos de 200 mg/dia, a absorção de oxalato aumenta; ela cai quando há maior ingestão de cálcio (1.200 mg). O aconselhamento dietético para reduzir a absorção de oxalato é benéfico para os indivíduos formadores de cálculos que apresentam alta ingestão de alimentos ricos em oxalato e que excretam mais de 30 mg (350 µmol) de oxalato por dia. Os indivíduos formadores de cálculos apresentam ingestão de potássio baixa a normal e alta ingestão de sódio, resultando em uma proporção Na:K adversamente elevada. A ingestão de potássio está inversamente relacionada com o risco de formação de cálculos renais. Estas pessoas devem ser incentivadas a aumentar o potássio da dieta, consumindo frutas e vegetais com baixo teor de oxalato várias vezes ao dia. O excesso de fosfato na urina contribui para o risco de formação e cálculos de fosfato de cálcio, porém não é um fator de risco tão importante quanto o pH urinário, que determina a quantidade de fosfato que estará na forma de fosfato de hidrogênio (HPO4). A frutose pode aumentar a excreção urinária de cálcio e de oxalato. É o único carboidrato conhecido que aumenta a produção de ácido úrico e a sua excreção urinária. LESÃO RENAL AGUDA (LRA) Anteriormente conhecida como insuficiência renal aguda (IRA), caracteriza-se por redução súbita na taxa de filtração glomerular (TFG), quantidade de filtrado por unidade nos néfrons e por uma alteração na capacidade do rim de excretar a produção diária dos produtos de degradação metabólica. A LRA pode ocorrer em associação com oligúria (redução do débito urinário) ou com fluxo urinário normal; entretanto, nos casos típicos, ocorre em rins previamente saudáveis. A duração varia de alguns dias a muitas semanas. Causas Perfusão renal inadequada pré-renal (desidratação grave; colapso circulatório) Doenças intrínsecas no parênquima (necrose tubular aguda; nefrotoxicidade; reaçãolocal a fármacos; distúrbios vasculares; glomerulonefrite aguda) Obstrução do trato urinário pós-renal (hipertrofia prostática com retenção urinária; carcinoma de bexiga ou de próstata; câncer retroperitoneal ou pélvico; cálculos ureterais e obstrução bilaterais; rabdomiólise). A relação entre nitrogênio ureico sanguíneo (BUN) e creatinina pode ser utilizada com fins diagnósticos para avaliar a localização e o dano renal. Dependendo do local de ocorrência da agressão, o BUN aumenta devido à filtração deficiente e sofre reabsorção mais ativa. Nessa situação, com uma relação BUN/Cr superior a 20:1, a lesão é pré-renal (antes dos rins). Quando o dano é intrínseco (dentro do rim), a relação BUN/Cr diminui para menos de 10:1. Em geral, se uma atenção cuidadosa for dirigida para o diagnóstico e a correção das causas pré-renais ou obstrutivas, a LRA é de curta duração e não exige nenhuma intervenção nutricional específica. Uma nova forma de classificação para ajudar os médicos a avaliar a gravidade e a progressão da lesão renal aguda, utilizando o acrônimo RLIPD (Risco, Lesão, Insuficiência, Perda e DRET), indica a probabilidade de um paciente se recuperar ou evoluir para a insuficiência renal crônica. Isso, por sua vez, ajuda os nutricionistas a saber se devem aumentar as metas de ingestão proteica ou se devem ser moderados para preservar a função renal. Na LRA, quanto menor a diurese, maior a taxa de mortalidade, e a maioria dos pacientes que sobrevive necessita de diálise. A presença de LRA é condição clínica comum nas unidades de terapia intensiva. Tratamento clínico A evolução clínica e o prognóstico dependem principalmente da causa subjacente. Alguns pacientes podem ser tratados clinicamente, enquanto outros necessitam de terapia renal substitutiva (TRS) com hemodiálise (HD) padrão ou diálise peritoneal (DP) para remover os produtos de degradação e líquidos até o restabelecimento da função renal. Dietoterapia Krause KDOQI Energia 25 a 40 Kcal/kg 25 a 30 kcal/kg Proteínas (g/kg) 0,5 a 0,8 (sem diálise) 0,8 a 1 (sem diálise) 1 a 2 (em diálise) 1 a 1,5 (em diálise) 1,5 a 2,5 (diálise contínua) Até 1,7 (diálise contínua) 0,8 a 1 (estável) Lipídeos (g/kg) -- 0,8 a 1 Líquidos Repor o débito do dia anterior -- (vômitos, diarreia, urina) + 500 mL Sódio 20 a 40 mEq/dia (fase oligúrica) -- Potássio 30-50 mEq/dia (fase oligúrica) -- Fósforo Limitar conforme necessário -- SÍNDROME NEFRÍTICA A síndrome nefrítica incorpora as manifestações clínicas de doenças caracterizadas pela inflamação das alças capilares do glomérulo, também chamadas de glomerulonefrites agudas, que podem ter rápida resolução, evolução para síndrome nefrótica ou Insuficiência Renal Crônica. Glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) Doença aguda, de base imunológica, que acomete todos os glomérulos de ambos os rins. A doença aparece após infecção pelo streptococo beta hemolítico do GRUPO A (SGA). Mais comum em crianças. Fisiopatologia Reação inflamatória no glomérulo → perda da integridade da membrana basal → diminuição do ritmo de filtração glomerular → diminuição do volume filtrado. Ocorre retenção de K, H, Cr, ureia, creatinina e outros metabólitos que levam a LRA. A diminuição do volume filtrado leva a oligúria. Aumento da reabsorção tubular de sódio e água → expansão do volume extracelular = hipervolemia (edema). Manifestações clínicas Caracteriza-se por hematúria, hipertensão arterial, mal estar, dor abdominal, náuseas, dor lombar bilateral. Complicações: manifestações cardiovasculares, encefalopatia hipertensiva, edema agudo de pulmão, convulsão, insuficiência renal. Tratamento clínico Antibiótico para infecção ativa, repouso relativo no leito durante a fase aguda, diuréticos, diálise (edema de pulmão refratário, insuficiência renal grave). Dietoterapia Objetivos: Corrigir anormalidades metabólicas; reduzir a PA e o edema; manter o balanço hídrico; poupar proteína/reparo dos tecidos; evitar o atraso do crescimento em crianças; melhorar o funcionamento renal. Energia – 30 a 35 kcal/kg Proteína – 0,8 a 1 g/kg (adulto) 1 a 2g/kg (criança) 0,6 g/kg (ureia > 150g ou presença de sintomas urêmicos) Carboidrato – 60% VET Lipídeos – 30% VET Sódio – 2g (retirar na oligúria, edema, HAS) Potássio – restringir na fase de oligúria OU 29 a 87 mg/kg Líquidos – 20 ml/kg ou 300 a 400ml + diurese do dia anterior Acrescentar sal aos poucos devido a anorexia, náuseas e vômitos. SÍNDROME NEFRÓTICA Grupo heterogêneo de doenças, cujas manifestações decorrem da perda da barreira glomerular à proteínas. Fisiopatologia A doença se inicia com o aumento de permeabilidade da membrana basal glomerular, com a consequente proteinúria maciça e hipoalbuminemia. Pode ter origem nos rins e acometer apenas esses órgãos, sendo chamadas de primárias: nefropatia membranosa, glomeruloesclerose segmentar e focal e glomerulonefrite menbranosa proliferativa; ou secundárias a outras doenças, como diabetes, hepatites, doenças autoimunes, Diabetes mellitus, LES e amiloidose. Glomerulonefrite membranosa (GNM) Caracterizada por uma instalação insidiosa com o espessamento da membrana basal dos capilares sem o aumento destas células, acometendo mais comumente pacientes do sexo masculino com idade entre 45 e 50 anos, mas pode ocorrer em qualquer faixa etária. Glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF ou GSF) Doença caracterizada por fibrose de parte do glomérulo. É responsável por 15 a 20% das síndromes nefróticas idiopáticas dos adultos, podendo ser secundária a outra patologia (HIV, obesidade, refluxo vésico-ureteral) ou primária. Glomerulonefrite Membrano Proliferativa (GNMP) Doença renal caracterizada por lesão da membrana basal e mesângios dos glomérulos dos néfrons, partes dos rins essenciais para a boa filtração do plasma sanguíneo. Quadro clínico-laboratorial Edema generalizado (anasarca) Proteinúria maciça (> 3,5g/dia em adultos) e em crianças >50mg/kg/dia Hipoalbuminemia Hiperlipidemia (↑colesterol e triglicerídeos) Lipidúria Tratamento Medicamentoso: diuréticos, hipotensores, inibidores da angiotensina, corticosteróides e imunossupressores (lúpus), estatinas (dislipidemia prolongada). Dietoterapia A mesma para síndrome nefrítica. Priorizar carboidratos integrais devido a tendência a hipertrigliceridemia (usar fibras solúveis).
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