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DIREITO EMPRESARIAL – SOCIEDADE ANÔNIMA S/A 1. Sociedade Anônima (S/A) Neste segmento, abordaremos a Sociedade Anônima, com um foco principal na Lei 6.404 de 1976, conhecida como a Lei de Sociedades Anônimas. Nosso objetivo é compreender a estrutura do direito societário relacionado às regras estabelecidas por essa lei. 1.1 Características da Sociedade Anônima Vamos examinar as principais características de uma Sociedade Anônima. 1.1.1 Responsabilidade dos Sócios Os sócios de uma Sociedade Anônima têm uma responsabilidade limitada ao valor de emissão de suas ações, conforme estabelecido no Artigo 1° da Lei de S/A: "Art. 1° LSA. A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas." É importante notar que todos os acionistas respondem de forma limitada ao preço de emissão de suas ações, o que difere da ideia de solidariedade na integralização do capital. 1.1.2 Objeto Social Uma característica fundamental da Sociedade Anônima é que, independentemente de seu objeto de negócios, ela sempre atua como uma entidade empresarial. Isso está de acordo com o artigo 2°, §1° da Lei de S/A: "LSA. Art 2°. §1°. Qualquer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio." Portanto, toda Sociedade Anônima é considerada uma sociedade empresarial por força de lei. 1.1.3 Denominação A terceira característica importante é a denominação do nome empresarial de uma Sociedade Anônima, conforme o Artigo 3° da Lei de S/A: "LSA. Art. 3º A sociedade será designada por denominação acompanhada das expressões 'companhia' ou 'sociedade anônima', expressas por extenso ou abreviadamente mas vedada a utilização da primeira ao final." Isso significa que o nome empresarial de uma Sociedade Anônima deve sempre incluir a expressão "companhia" ou "sociedade anônima," mas a expressão "companhia" não pode aparecer ao final do nome empresarial. Por exemplo, "Companhia Tang de Alimentos" indica que se trata de uma Sociedade Anônima (S/A). 1.1.4 Classificação De acordo com o Artigo 4° da Lei de S/A, as Sociedades Anônimas podem ser classificadas como abertas ou fechadas, dependendo de seus valores mobiliários estarem ou não admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários. Art. 4° LSA. Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários. Vale destacar que, conforme o Artigo 4°, §1°, apenas os valores mobiliários de uma companhia registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) podem ser negociados no mercado de valores mobiliários. Essa é a regra geral, mas existem exceções, como a nota comercial prevista na Lei 14.195 de 2021, que permite a negociação de valores mobiliários mesmo em empresas que não são companhias abertas. 1.2 Sociedade Anônima Aberta Uma Sociedade Anônima aberta é aquela que obteve o registro de companhia aberta concedido pela CVM, tornando-se automaticamente uma companhia aberta. Isso permite que ela emita valores mobiliários no mercado de capitais, embora seja importante lembrar que uma companhia aberta não se limita à negociação de ações na bolsa, mas pode incluir outros valores mobiliários. 1.2.1 Mercado Primário As operações no mercado primário são realizadas no mercado de balcão, envolvendo instituições financeiras e corretoras de valores mobiliários. Um exemplo disso é o IPO (Initial Public Offering), que é a oferta pública inicial de ações. 1.2.2 Mercado Secundário O mercado secundário é composto pelo mercado de balcão e pela bolsa de valores, como a B3 em São Paulo. Nesse mercado, ocorrem operações de revenda de valores mobiliários. 1.2.3 Possibilidade de Empresas Públicas serem Companhias Abertas Uma empresa pública pode ser uma companhia aberta, desde que obtenha o registro de companhia aberta da CVM. No entanto, ela não pode negociar ações ou valores mobiliários conversíveis em ações. Por exemplo, o BNDESPAR, uma empresa pública e subsidiária integral do BNDS, é uma companhia aberta que negocia debêntures não conversíveis em ações no mercado de capitais. Dessa forma, uma empresa pública pode se enquadrar na categoria B, na qual a negociação de ações ou valores mobiliários conversíveis em ações é limitada. Este esclarecimento aborda aspectos fundamentais das Sociedades Anônimas e sua classificação, bem como a possibilidade de empresas públicas se tornarem companhias abertas, desde que sigam as regulamentações estabelecidas pela CVM. 1.2.4 PROCEDIMENTO DE ABERTURA DE CAPITAL DE UMA S/A A abertura de capital, também conhecida como IPO (Initial Public Offering), é um processo administrativo complexo que requer aprovação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no Brasil. Isso significa que se tornar uma companhia aberta não é uma tarefa simples. Este procedimento envolve regras complexas e a necessidade de contratar vários serviços especializados, como auditoria externa, underwriter e um escritório de advocacia especializado, para auxiliar na solicitação de registro junto à CVM. Uma vez iniciada a solicitação de registro da companhia aberta na CVM, é necessário elaborar um prospecto. Esse documento descreve a empresa, suas atividades, seu potencial econômico, por que seria vantajoso adquirir seus valores mobiliários e as expectativas para o futuro a curto, médio e longo prazo. O prospecto também deve incluir informações sobre os riscos da operação, conforme regulamentação da CVM. Após o registro, a empresa realiza um road show, apresentando-se a investidores profissionais qualificados para convencê-los a fazer pedidos de reserva para comprar os valores mobiliários oferecidos no IPO (Oferta Pública Inicial). O processo continua com o anúncio da publicação, a colocação dos títulos no mercado e, finalmente, o anúncio do encerramento do IPO. 1.2.5 UNDERWRITER O underwriter desempenha várias funções essenciais no processo de abertura de capital: A) Ele analisa a viabilidade da oferta. B) Realiza um procedimento de due diligence para verificar a veracidade das informações fornecidas pela empresa. C) Auxilia na elaboração do prospecto, garantindo que este siga as regras da CVM. D) Ajuda no registro da oferta na CVM. E) Contribui para a definição do preço dos valores mobiliários. F) Participa na realização do road show. G) Contribui para a elaboração do Plano de Distribuição dos valores mobiliários. Há diferentes tipos de garantias que podem ser acordadas em contratos de underwriting: · Garantia Firme: A instituição financeira se compromete a adquirir todos os títulos para posterior oferta no mercado. Isso garante que o IPO tenha êxito, já que a instituição adquire todos os títulos. · Garantia do Melhor Esforço: A instituição financeira não se compromete a adquirir os valores mobiliários em caso de insucesso na operação, mas faz o melhor esforço para garantir o sucesso da oferta. · Garantia Residual: A instituição financeira se compromete a adquirir os títulos que não forem absorvidos pelo mercado, garantindo que todos os valores mobiliários sejam vendidos. 1.2.6 CVM E BOLSA DE VALORES É fundamental compreender a diferença entre a CVM e a bolsa de valores: A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda. Ela atua como agente regulador do mercado de capitais no Brasil. A CVM estabelece as regras e regulamentos para empresas de capital aberto, garantindo a integridade e a transparência do mercado. A bolsa de valores, como a B3 no Brasil, é uma empresa privada que funciona como um mercado secundário para a negociação de valores mobiliários. As ações da B3 também são negociadas no mercado. A bolsa de valores se preocupa em tornar o mercado de capitais seguro e atrativo, buscando a confiança legítima dos investidores. O Novo Mercado da B3 é um ambiente mais seguro e transparente, onde as companhias listadas comprometem-se a seguir regras mais rigorosas de governança corporativa. Isso incluimaior transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade socioambiental. 1.3 FECHAMENTO DE CAPITAL O fechamento de capital é o processo inverso à abertura de capital. Envolve a transição de uma companhia aberta para uma companhia fechada. Os detalhes desse processo serão discutidos no próximo bloco. Vamos discutir o fechamento de capital e o procedimento envolvido. Como mencionado anteriormente, há um processo para abrir o capital de uma Sociedade Anônima (S/A) e torná-la uma S/A de capital aberto. Da mesma forma, existe um procedimento para reverter esse processo, ou seja, para cancelar o registro de companhia aberta e voltar a ser uma S/A de capital fechado. Portanto, é importante prestar atenção ao Artigo 4º, Parágrafo 4º da Lei das S/A. O Artigo 4º, Parágrafo 4º estabelece que o registro de companhia aberta para negociação de ações no mercado só pode ser cancelado se a companhia emissora de ações, o acionista controlador ou a sociedade que a controle, direta ou indiretamente, fizer uma oferta pública para adquirir a totalidade das ações em circulação no mercado. Essa oferta deve ser feita a um preço justo, pelo menos igual ao valor de avaliação da companhia, que pode ser determinado com base em vários critérios, como patrimônio líquido contábil, patrimônio líquido avaliado a preço de mercado, fluxo de caixa descontado, comparação por múltiplos ou cotação das ações no mercado de valores mobiliários. Para encontrar esse preço justo, a companhia aberta interessada em fechar o capital precisa contratar uma instituição financeira para elaborar um laudo de avaliação das ações. Esse laudo determinará o preço considerado justo. Com base nesse preço, a companhia aberta publicará um edital com uma oferta pública para adquirir todas as ações em circulação no mercado, ou seja, aquelas que não estão sob o controle do acionista controlador, dos administradores ou da própria companhia. Essa oferta pública é direcionada aos acionistas minoritários ou titulares das ações em circulação no mercado. No entanto, pode haver desconfiança em relação ao preço justo estabelecido no laudo, e os titulares de pelo menos 10% das ações em circulação têm o direito de convocar uma assembleia especial para deliberar sobre uma nova avaliação, que pode ser feita pela mesma instituição financeira ou outra. Essa revisão do valor da oferta visa garantir que os acionistas minoritários não sejam prejudicados. No entanto, o Artigo 4º-A, Parágrafo 3º prevê que os acionistas que solicitarem a nova avaliação e aqueles que votarem a favor dela deverão reembolsar a companhia pelos custos incorridos, caso o novo valor seja igual ou inferior ao valor inicial da oferta pública. No entanto, se menos de 5% das ações emitidas pela companhia permanecerem em circulação após o prazo da oferta pública, a assembleia-geral pode deliberar o resgate dessas ações pelo valor da oferta, desde que deposite o valor de resgate em um banco autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários. Assim, o procedimento de fechamento de capital envolve uma oferta pública por um preço justo e a possibilidade de a companhia cancelar compulsoriamente o registro de companhia aberta se menos de 5% das ações permanecerem em circulação. 1.4 DIREITOS ESSENCIAIS DOS ACIONISTAS Agora, vamos abordar os direitos essenciais dos acionistas em uma Sociedade Anônima (S/A). Esses direitos são estabelecidos no Artigo 109 da Lei das S/A. O Artigo 109 da Lei das S/A estabelece que os acionistas não podem ser privados dos seguintes direitos: I - Participar dos lucros sociais; II - Participar do acervo da companhia em caso de liquidação; III - Fiscalizar a gestão dos negócios sociais de acordo com o previsto na lei; IV - Ter preferência na subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observando o disposto nos Artigos 171 e 172; V - Retirar-se da sociedade nos casos previstos na Lei. Esses direitos são considerados essenciais, mas não são absolutos, pois a própria Lei das S/A pode impor restrições a esses direitos, mesmo que sejam essenciais. Por exemplo, o direito de retirada está sujeito às condições estabelecidas no Artigo 137 da Lei das S/A. Além disso, o direito de preferência pode ser restringido pelo estatuto da companhia, desde que seja de acordo com a Lei Especial sobre Incentivos Fiscais, conforme previsto no Artigo 172. É importante notar que o direito de voto não é essencial e pode ser ausente, como no caso de ações preferenciais sem direito de voto. 1.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES As ações em uma Sociedade Anônima podem ser classificadas em ações ordinárias e preferenciais. O Artigo 15 da Lei das S/A estabelece que as ações podem ser classificadas em ações ordinárias, preferenciais ou de fruição. No entanto, as ações de fruição são, na realidade, ações preferenciais ou ordinárias que foram amortizadas, ou seja, a amortização antecipou os valores que os acionistas teriam direito no futuro em caso de liquidação da companhia. Portanto, nos concentraremos nas ações preferenciais e ordinárias. 1.5.1 AÇÕES PREFERENCIAIS As ações preferenciais conferem certos privilégios aos acionistas em relação às ações ordinárias. O Artigo 17 da Lei das S/A estabelece que as preferências ou vantagens das ações preferenciais podem consistir em: I - Prioridade na distribuição de dividendos fixos ou mínimos; II - Prioridade no reembolso do capital, com ou sem prêmio; III - Acumulação das preferências e vantagens dos dois primeiros itens. Além disso, as ações preferenciais também podem ter outros privilégios especificados no estatuto da companhia. Por exemplo, podem garantir o direito de participar de ofertas públicas de alienação de controle, conforme estabelecido no Artigo 254-A. No entanto, é importante observar que as ações preferenciais podem ou não ter direito de voto. Se tiverem direito de voto, normalmente é restrito a questões específicas, como a alteração de direitos dos acionistas preferenciais. O direito de voto das ações preferenciais pode ser restrito pelo estatuto da companhia, desde que isso seja feito de acordo com a Lei. 1.5.2 AÇÕES ORDINÁRIAS As ações ordinárias são ações comuns que normalmente conferem direito de voto nas deliberações da companhia em proporção ao número de ações detidas. Os acionistas detentores de ações ordinárias têm direito a voto nas assembleias gerais, o que lhes permite participar na tomada de decisões da companhia. É importante ressaltar que as ações ordinárias não têm preferências específicas em relação a dividendos ou reembolso de capital, ao contrário das ações preferenciais. No entanto, elas têm o direito de participar de qualquer distribuição de lucros da companhia, juntamente com os acionistas preferenciais. Em suma, as ações ordinárias representam a participação no capital social da companhia com direito a voto, enquanto as ações preferenciais representam a participação com preferências em relação aos dividendos ou reembolso de capital. 1.6 ASSEMBLEIA GERAL A assembleia geral é o órgão máximo de deliberação da Sociedade Anônima, onde os acionistas têm a oportunidade de exercer seus direitos, tomar decisões importantes e fiscalizar a gestão dos negócios sociais. A assembleia geral é regulamentada pelos Artigos 121 a 137 da Lei das S/A. Aqui estão alguns pontos importantes relacionados à assembleia geral: · Convocação: A assembleia geral deve ser convocada pelo órgão de administração ou pelos administradores no prazo previsto em lei ou no estatuto da companhia. A convocação deve ser feita com antecedência mínima de 15 dias, e o edital de convocação deve ser publicado com todas as informações necessárias. A Lei das S/A estabelece que os acionistas minoritários, que representem, no mínimo, 5% do capital social, têm o direito de convocar a assembleia geral, desde que as razões para a convocação sejam justificadas. · Direito de Voto: Os acionistas têm direito a voto nas deliberações da assembleia geral de acordo com o número de ações que possuem. O direito de voto nas açõespreferenciais pode ser restrito em alguns casos, conforme estabelecido na Lei das S/A. Por exemplo, os acionistas preferenciais podem ter direito de voto apenas em questões específicas que afetem seus interesses, como a alteração de direitos conferidos a eles. · Deliberações: As deliberações da assembleia geral podem incluir a eleição dos membros do conselho de administração, a aprovação das demonstrações financeiras, a destinação dos lucros, a remuneração dos administradores e outros assuntos importantes. Além disso, os acionistas minoritários têm o direito de apresentar propostas que serão incluídas na ordem do dia da assembleia. · Atas: As deliberações da assembleia geral são registradas em atas, que devem ser assinadas por todos os presentes. As atas são documentos importantes para demonstrar as decisões tomadas na assembleia. · Voto Múltiplo: A Lei das S/A prevê a possibilidade de adoção do voto múltiplo em certas situações. Isso permite que os acionistas votem em candidatos específicos para o conselho de administração, em vez de votar na chapa proposta pelos administradores. · Reuniões Virtuais: A Lei das S/A também permite a realização de assembleias gerais por meio eletrônico ou virtual, desde que sejam observados os requisitos estabelecidos na lei. A assembleia geral desempenha um papel crucial na governança das Sociedades Anônimas, garantindo a participação dos acionistas na tomada de decisões e na fiscalização dos negócios da companhia. 1.7 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO O conselho de administração é um órgão de grande importância em uma Sociedade Anônima e desempenha um papel fundamental na gestão da companhia. O conselho de administração é regulamentado pelos Artigos 138 a 146 da Lei das S/A. Aqui estão algumas das principais características e funções do conselho de administração: · Composição: O conselho de administração deve ser composto por, no mínimo, 3 membros e, no máximo, 11 membros, conforme estabelecido no Artigo 138 da Lei das S/A. A maioria dos membros deve ser composta por acionistas, e pelo menos 1 membro deve ser membro do conselho de administração. No entanto, é importante observar que o estatuto da companhia pode estabelecer outras regras em relação à composição do conselho. · Prazo de Mandato: Os membros do conselho de administração são eleitos pela assembleia geral por um prazo de até 2 anos, podendo ser reeleitos. O mandato do conselho não pode ser superior ao prazo do mandato dos administradores. · Funções e Responsabilidades: O conselho de administração é responsável por tomar decisões estratégicas e de longo prazo para a companhia, fiscalizar a gestão dos administradores e garantir o cumprimento dos objetivos sociais. Ele pode nomear e destituir os diretores e determinar suas atribuições, entre outras responsabilidades. · Reuniões: O conselho de administração deve se reunir regularmente para discutir os assuntos da companhia. As reuniões são registradas em atas, que devem ser assinadas por todos os membros presentes. · Direito de Informação: Os membros do conselho de administração têm o direito de acessar todas as informações e documentos relacionados à companhia, a fim de desempenhar suas funções adequadamente. · Conselho de Administração Consultivo: A companhia pode estabelecer um conselho de administração consultivo para aconselhar o conselho de administração ou a diretoria da empresa. No entanto, esse órgão não tem poder de decisão e não interfere nas funções do conselho de administração. O conselho de administração desempenha um papel fundamental na governança corporativa das Sociedades Anônimas, garantindo a tomada de decisões estratégicas e a fiscalização da gestão da empresa. 1.8 ADMINISTRADORES Os administradores são as pessoas físicas que gerenciam efetivamente a companhia e tomam decisões operacionais no dia a dia. Eles são responsáveis por implementar as políticas e diretrizes definidas pelo conselho de administração e pela assembleia geral. Aqui estão algumas das principais características e funções dos administradores: · Nomeação e Destituição: Os administradores são nomeados pelo conselho de administração e podem ser destituídos por ele a qualquer momento, desde que observem os requisitos legais. Os administradores também podem ser eleitos em assembleia geral, dependendo do que estiver previsto no estatuto da companhia. · Atribuições: Os administradores têm atribuições específicas de acordo com as políticas e diretrizes definidas pelo conselho de administração. Suas funções podem incluir a administração de áreas como finanças, recursos humanos, operações, produção e vendas. · Mandato: O mandato dos administradores é determinado no ato de sua nomeação e pode ser revogado a qualquer momento pelo órgão que os nomeou. · Responsabilidades Legais: Os administradores têm responsabilidades legais perante a companhia e seus acionistas. Eles devem agir com diligência, lealdade e honestidade, sempre buscando o interesse da companhia. · Relatórios Financeiros: Os administradores são responsáveis pela elaboração e divulgação das demonstrações financeiras da companhia, que devem ser auditadas por auditores independentes. · Conflitos de Interesse: Os administradores devem evitar conflitos de interesse e agir de forma ética e transparente. Caso surjam conflitos de interesse, eles devem ser devidamente informados e tratados. · Direito de Informação: Os administradores têm direito de acessar todas as informações e documentos da companhia necessários para o desempenho de suas funções. · Remuneração: A remuneração dos administradores é determinada pela assembleia geral ou pelo conselho de administração, conforme estabelecido no estatuto da companhia. Os administradores desempenham um papel crucial na gestão operacional da companhia e devem agir em conformidade com as políticas e diretrizes estabelecidas pelos órgãos superiores. 1.9 AUDITORIA INDEPENDENTE A auditoria independente é um processo crucial para a transparência e a prestação de contas nas Sociedades Anônimas. A Lei das S/A estabelece a obrigação de contratação de auditores independentes para examinar as demonstrações financeiras da companhia. Aqui estão algumas informações relevantes sobre a auditoria independente: · Contratação de Auditores: A companhia deve contratar auditores independentes registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para examinar suas demonstrações financeiras anualmente. Os auditores independentes têm a responsabilidade de verificar se as demonstrações financeiras estão em conformidade com os princípios contábeis e se apresentam uma imagem fiel da situação financeira da companhia. · Relatórios de Auditoria: Os auditores independentes emitem relatórios de auditoria que são anexados às demonstrações financeiras da companhia. Esses relatórios indicam se as demonstrações financeiras foram auditadas em conformidade com os padrões profissionais e se estão livres de distorções relevantes. · Independência dos Auditores: Os auditores independentes devem atuar com independência e imparcialidade, sem conflitos de interesse que possam comprometer sua objetividade. Eles devem seguir as normas profissionais e éticas que regem a profissão de auditoria. · Responsabilidades dos Auditores: Os auditores têm a responsabilidade de planejar e executar a auditoria, obter evidências suficientes e adequadas, avaliar os controles internos, identificar riscos de distorção relevante nas demonstrações financeiras e emitir uma opinião sobre a fidedignidade das informações financeiras. · Comunicação de Descobertas: Se os auditores encontrarem irregularidades, fraudes ou outras questões significativas durante a auditoria, eles devem comunicar essas descobertas à administração da companhia, ao conselho de administração e, em alguns casos, à CVM. · Responsabilidades dos Administradores: Os administradores da companhia são responsáveis por fornecer informações precisas e completas aos auditores independentes, bem como por colaborar na condução da auditoria. · Voto na Assembleia Geral: Os acionistas têm o direito devotar pela contratação ou substituição dos auditores independentes na assembleia geral. A auditoria independente desempenha um papel fundamental na garantia da qualidade das informações financeiras divulgadas pelas Sociedades Anônimas, contribuindo para a confiabilidade e a transparência nos mercados de capitais. 1.10 DELIBERAÇÕES DOS ACIONISTAS E ASSEMBLEIAS ESPECIAIS Além das assembleias gerais ordinárias e extraordinárias, os acionistas também podem tomar decisões e deliberar em assembleias especiais e por meio de processos especiais. Vamos abordar esses aspectos a seguir: · Assembleias Especiais: Além das assembleias gerais ordinárias e extraordinárias, que ocorrem regularmente, as Sociedades Anônimas podem convocar assembleias especiais para deliberar sobre assuntos específicos. Por exemplo, pode haver uma assembleia especial para aprovar uma fusão ou aquisição importante. As regras para convocação e deliberação em assembleias especiais são estabelecidas na Lei das S/A e no estatuto da companhia. · Acordos de Acionistas: Os acionistas também podem tomar decisões importantes por meio de acordos de acionistas. Esses acordos são contratos celebrados entre acionistas e podem abordar questões como a eleição de membros do conselho de administração, direitos de compra e venda de ações (tag-along e drag-along), entre outros. Os acordos de acionistas são privados e não precisam ser divulgados publicamente. · Voto Múltiplo e Voto de Acionistas Minoritários: Conforme mencionado anteriormente, a Lei das S/A permite a adoção do voto múltiplo em certas situações. Isso permite que os acionistas votem em candidatos específicos para o conselho de administração, em vez de votar na chapa proposta pelos administradores. Além disso, os acionistas minoritários têm direitos de voto específicos para aprovar fusões e incorporações, bem como para impugnar deliberações que prejudiquem seus interesses. · Direito de Retirada: Os acionistas minoritários também têm o direito de se retirar da sociedade em certos casos, como no caso de incorporação, fusão ou alteração do objeto social. O direito de retirada é uma proteção aos acionistas minoritários que podem não concordar com determinadas decisões. Esses mecanismos e processos permitem que os acionistas tenham voz nas decisões da companhia e ajudam a garantir a proteção dos interesses dos acionistas minoritários. 1.11 FUSÕES, INCORPORAÇÕES E CISÕES As Sociedades Anônimas podem realizar operações de fusão, incorporação e cisão para reorganizar sua estrutura e atividades. Essas operações são regulamentadas pela Lei das S/A e envolvem diferentes procedimentos e requisitos. · Fusão: A fusão ocorre quando duas ou mais Sociedades Anônimas decidem se unir em uma única companhia. Isso pode ser feito por meio da incorporação de uma empresa em outra ou da criação de uma nova empresa que absorve as empresas fundidas. A fusão deve ser aprovada pela assembleia geral das companhias envolvidas e seguir um processo de avaliação e divulgação detalhado, incluindo um laudo de avaliação das ações. · Incorporação: A incorporação acontece quando uma empresa é absorvida por outra, resultando na extinção da empresa incorporada. A incorporação deve ser aprovada pela assembleia geral da empresa incorporada e, assim como na fusão, deve seguir procedimentos de avaliação e divulgação. · Cisão: A cisão ocorre quando uma empresa divide seus ativos, passivos e atividades em duas ou mais empresas distintas. Cada empresa resultante da cisão herda parte dos ativos e passivos da empresa original. Os acionistas da empresa original recebem ações das empresas resultantes da cisão. A cisão também deve ser aprovada pela assembleia geral e seguir procedimentos específicos. · Laudo de Avaliação: Em todos esses processos, um laudo de avaliação das ações deve ser elaborado por uma instituição financeira ou empresa de auditoria independente. Esse laudo determina o valor das ações das empresas envolvidas, garantindo que os acionistas recebam uma justa contrapartida pelas suas participações. · Direito de Retirada: Em operações de fusão e incorporação, os acionistas minoritários têm o direito de retirada se não concordarem com a operação. Eles podem optar por vender suas ações de volta à companhia a um preço justo. · Divulgação e Aprovação: Além do laudo de avaliação, as operações de fusão, incorporação e cisão requerem divulgação detalhada aos acionistas e aprovação nas assembleias gerais das companhias envolvidas. Essas operações visam reorganizar as atividades e o capital de Sociedades Anônimas e podem ser realizadas para ganhos estratégicos ou financeiros. Elas devem seguir um processo rigoroso para proteger os interesses dos acionistas. 1.12 OBRIGAÇÕES DE INFORMAÇÃO E DIVULGAÇÃO As Sociedades Anônimas têm obrigações significativas de informação e divulgação, destinadas a garantir a transparência e a prestação de contas aos acionistas e ao público em geral. Essas obrigações incluem: · Demonstrações Financeiras: A companhia é obrigada a divulgar demonstrações financeiras auditadas periodicamente, normalmente em intervalos anuais e trimestrais. Essas demonstrações incluem o balanço patrimonial, a demonstração do resultado do exercício, o demonstrativo de fluxo de caixa e as notas explicativas. As demonstrações devem ser preparadas de acordo com os princípios contábeis estabelecidos pela legislação. · Relatório da Administração: Além das demonstrações financeiras, a administração deve preparar um relatório da administração que acompanha as demonstrações. Esse relatório fornece informações adicionais sobre o desempenho e a situação da companhia. · Notas Explicativas: As notas explicativas às demonstrações financeiras fornecem detalhes adicionais sobre as políticas contábeis, eventos subsequentes ao fechamento do exercício, contingências e outras informações relevantes. · Comunicados e Fatos Relevantes: A companhia é obrigada a divulgar informações importantes que possam afetar o mercado e a decisão dos acionistas, como eventos extraordinários, negociações de ações pela administração, mudanças no controle acionário e decisões de assembleias gerais. · Relatórios Anuais: As companhias devem publicar relatórios anuais que incluem informações sobre seu desempenho financeiro, operações, estratégias e governança corporativa. Esses relatórios são disponibilizados aos acionistas e ao público em geral. · Obrigações Perante a CVM: As companhias registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) têm obrigações adicionais de prestação de contas e divulgação perante a autarquia reguladora do mercado de capitais. Essas obrigações visam garantir que os acionistas e o mercado tenham acesso a informações precisas e atualizadas sobre a companhia, permitindo uma tomada de decisão informada e promovendo a transparência no mercado de capitais. 1.13 RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES E AUDITORES Os administradores e os auditores independentes das Sociedades Anônimas têm responsabilidades significativas perante a companhia, seus acionistas e o público. Eles devem agir com diligência, ética e em conformidade com a legislação aplicável. Aqui estão algumas das principais responsabilidades desses profissionais: Responsabilidades dos Administradores: · Dever de Diligência: Os administradores devem exercer suas funções com diligência e cuidado, tomando decisões informadas e agindo no melhor interesse da companhia. · Dever de Lealdade: Os administradores devem agir com lealdade à companhia e evitar conflitos de interesse. Eles não podem usar informações privilegiadas em seu benefício próprio ou de terceiros. · Transparência: Os administradores devem fornecer informações completas e precisas à assembleia geral, aos auditores independentes e a outros órgãos reguladores. · Responsabilidade pelas Demonstrações Financeiras: Os administradores são responsáveis pela preparação e divulgação das demonstrações financeiras. Eles devem assegurar que as demonstrações estejam em conformidade com os princípios contábeis e forneçam uma imagem fiel da situação financeirada companhia. · Comunicação de Irregularidades: Os administradores devem comunicar ao conselho de administração e à assembleia geral quaisquer irregularidades que possam afetar as operações da companhia. · Responsabilidade Legal: Os administradores podem ser responsabilizados legalmente por decisões inadequadas ou por atos ilícitos no exercício de suas funções. Responsabilidades dos Auditores Independentes: · Independência: Os auditores independentes devem agir de forma independente, sem conflitos de interesse que possam comprometer sua objetividade. Eles não devem ter nenhum vínculo com a companhia que possa influenciar seu julgamento. · Auditoria de Demonstrações Financeiras: Os auditores independentes são responsáveis por auditar as demonstrações financeiras da companhia, verificando se elas estão em conformidade com os princípios contábeis e se estão livres de distorções relevantes. · Emissão de Opinião: Os auditores emitem uma opinião sobre a fidedignidade das demonstrações financeiras. Se encontrarem irregularidades, fraudes ou outras questões relevantes, devem comunicar essas descobertas. · Responsabilidade Perante Terceiros: Os auditores independentes também podem ser responsabilizados perante terceiros, como acionistas e investidores, por negligência ou falta de zelo na execução da auditoria. O cumprimento dessas responsabilidades é fundamental para a integridade do mercado de capitais e para a confiança dos investidores nas Sociedades Anônimas. 1.14 INFRAÇÕES E SANÇÕES A Lei das S/A estabelece sanções para empresas e indivíduos que cometem infrações ou violam as disposições da legislação. Essas sanções visam assegurar o cumprimento das normas de governança corporativa e a proteção dos acionistas e do mercado de capitais. Aqui estão algumas das principais sanções e penalidades: · Multas: A Lei das S/A prevê multas em casos de infrações, que podem variar dependendo da gravidade da infração e do valor envolvido. · Proibição de Atuação: Pessoas físicas envolvidas em infrações graves podem ser proibidas de atuar como administradores, diretores ou membros do conselho de administração de outras empresas. · Responsabilidade Civil e Penal: Administradores e outras pessoas envolvidas em irregularidades podem ser responsabilizados civil e penalmente por seus atos. Isso pode incluir a obrigação de reparar danos causados à companhia ou a terceiros. · Suspensão de Registro na CVM: A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pode suspender o registro de companhias que não cumpram as obrigações legais ou que estejam envolvidas em irregularidades. · Intervenção Judicial: Em casos graves, um juiz pode decretar a intervenção judicial na companhia para proteger os interesses dos acionistas e credores. · Responsabilidade de Auditores Independentes: Os auditores independentes podem ser responsabilizados por suas ações ou omissões na auditoria das demonstrações financeiras. Isso pode incluir ações judiciais e sanções profissionais. É importante observar que o cumprimento das disposições da Lei das S/A é fundamental para a operação transparente e eficaz das Sociedades Anônimas e para a proteção dos direitos dos acionistas e do público. 1.15 CONSIDERAÇÕES FINAIS As Sociedades Anônimas (S/A) são estruturas empresariais complexas e altamente regulamentadas que desempenham um papel fundamental nas economias de muitos países. Elas oferecem a oportunidade de angariar capital de forma eficiente e proporcionar uma ampla base de acionistas. No entanto, para operar de maneira eficaz, as S/A devem seguir as regras de governança corporativa, prestar contas aos acionistas e ao público, e cumprir as obrigações legais. A governança corporativa desempenha um papel crucial na promoção da transparência, da integridade e da confiança nas S/A. Ela inclui mecanismos como a assembleia geral, o conselho de administração, os administradores, os auditores independentes e as obrigações de divulgação. Os acionistas desempenham um papel importante na tomada de decisões e na fiscalização das atividades da companhia. Os acionistas preferenciais têm direitos específicos em relação a dividendos e reembolso de capital, enquanto as ações ordinárias conferem direito de voto nas deliberações da assembleia geral. É essencial que os administradores atuem com diligência, lealdade e transparência no melhor interesse da companhia. Os auditores independentes desempenham um papel fundamental na auditoria das demonstrações financeiras para garantir que elas sejam precisas e fidedignas. Além disso, as operações de fusão, incorporação e cisão podem ser usadas para reorganizar as atividades das S/A e proporcionar ganhos estratégicos. Todas essas estruturas e processos, juntamente com as sanções em caso de infrações, contribuem para a operação eficaz das S/A e para a proteção dos interesses dos acionistas e do público. A conformidade com a Lei das S/A e a prática de boas políticas de governança corporativa são fundamentais para o sucesso e a sustentabilidade das Sociedades Anônimas. B) Direito de Voto das Preferenciais O direito de voto das ações preferenciais é a regra, pois geralmente elas possuem esse direito. No entanto, em alguns casos, o estatuto da empresa pode proibir expressamente o direito de voto para as preferenciais. Vale lembrar que, de acordo com a legislação, o estatuto só pode limitar esse direito em até 50%. Ou seja, as ações preferenciais devem, em sua maioria, ter direito de voto. No entanto, mesmo que as ações preferenciais não possuam direito de voto, existem situações em que os titulares dessas ações podem exercer seu direito de voto. Vamos explorar quatro cenários em que os acionistas de ações preferenciais sem direito de voto podem exercer esse direito. 1. Assembleia Especial para Criação de Ações Ordinárias com Voto Plural (Lei nº 14.195, de 2021): · A criação de ações ordinárias com voto plural requer o voto favorável de acionistas que representem metade, no mínimo, das ações preferenciais sem direito de voto. · Isso significa que, se a companhia decidir criar ações ordinárias com voto plural, haverá uma assembleia especial para deliberar sobre essa questão. Os detentores de ações preferenciais sem direito de voto poderão votar nessa assembleia, e a decisão dependerá da aprovação de, pelo menos, metade dessas ações preferenciais. 2. Assembleia de Constituição da Companhia (Artigo 87, §2° da Lei das S/A): · Na Assembleia de Constituição da Companhia, todos os acionistas, inclusive os titulares de ações preferenciais sem direito de voto, têm direito a voto. · Nesse cenário, independentemente do tipo de ação que possuam, cada acionista tem direito a um voto. 3. Direito de Voto para Ações Preferenciais após 3 Anos sem Dividendos (Artigo 111, §1° da Lei das S/A): · As ações preferenciais sem direito de voto podem adquirir o direito de voto se a companhia, por três exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos devidos aos acionistas preferenciais. · Os titulares dessas ações preferenciais adquirem temporariamente o direito de voto e o mantêm até que os dividendos em atraso sejam pagos ou até que os cumulativos em atraso sejam regularizados. 4. Assembleia de Liquidação da Companhia: · Durante a assembleia de liquidação da companhia, quando esta está sendo dissolvida, todos os acionistas, incluindo os titulares de ações preferenciais sem direito de voto, têm direito a voto. Portanto, esses quatro cenários destacam as situações em que os titulares de ações preferenciais sem direito de voto podem efetivamente participar e exercer seu direito de voto. É essencial compreender essas exceções, já que o direito de voto é um elemento crucial nas relações entre acionistas e empresas de capital aberto.