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@anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 1 OBJETIVOS 1. Conhecer os principais distúrbios de coagulação; 2. Identificar os fatores de risco para os distúrbios de coagulação; 3. Conhecer a propedêutica clínica e laboratorial dos distúrbios da homeostasia. Hemostasia A HEMOSTASIA consiste no processo que regula o equilíbrio volêmico, mantendo o sangue em seu estado líquido nos vasos normais, ou seja, não lesados, e permitindo a formação de tampão hemostático (trombo) nas respostas à lesão de um vaso sanguíneo com objetivo de deter a hemorragia. − Processo de manter o sangue dentro de um vaso sanguíneo danificado; A hemostasia possui três passos principais: 1. Vasoconstrição; 2. Bloqueio temporário por tampão plaquetário; 3. Coagulação, a formação de um coágulo que sela o orifício até que o tecido seja reparado. O primeiro passo na hemostasia é a constrição imediata dos vasos danificados, a fim de reduzir o fluxo sanguíneo e a pressão no vaso temporariamente. A vasoconstrição normalmente é causada por moléculas parácrinas liberadas do endotélio. Se o sangue coagula com muita facilidade, uma das consequências pode ser trombose – coagulação em um vaso sanguíneo não danificado. Se o sangue demora muito tempo para coagular, pode ocorrer hemorragia. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 2 A vasoconstrição é rapidamente seguida pelo segundo passo, o bloqueio mecânico do orifício por um tampão plaquetário solto. A formação do tampão inicia com a adesão plaquetária, quando as plaquetas aderem ou são expostas ao colágeno na área danificada. As plaquetas aderidas tornam-se ativas, liberando citocinas na área ao redor da lesão. Esses fatores plaquetários reforçam a vasoconstrição local e ativam mais plaquetas, que se agregam ou se ligam umas às outras para formar um tampão plaquetário solto. − Quando um vaso sanguíneo é inicialmente danificado, o colágeno exposto e substâncias químicas provenientes das células endoteliais ativam as plaquetas. − Em geral, o endotélio dos vasos sanguíneos separa as fibras de colágeno da matriz do sangue circulante. Todavia, quando o vaso está danificado, o colágeno é exposto e as plaquetas rapidamente começam a aderir nele. Simultaneamente, o colágeno exposto e o fator tecidual (uma mistura de proteínas e fosfolipídeos) inicia o terceiro passo, a formação de uma rede de proteína fibrina, que estabiliza o tampão plaquetário para formar um coágulo. A fibrina é o produto final de uma série de reações enzimáticas, denominada cascata da coagulação. Alguns fatores químicos envolvidos na cascata da coagulação também promovem a adesão e a agregação plaquetária na região danificada. Por fim, quando o vaso danificado é reparado, o coágulo retrai quando a fibrina é lentamente dissolvida pela enzima plasmina. O corpo deve manter o equilíbrio adequado durante a hemostasia. Pouca hemostasia permite sangramento excessivo; muita cria trombos, coágulos sanguíneos que aderem a paredes de vasos não danificados. Um trombo grande pode bloquear o lúmen do vaso e interromper o fluxo sanguíneo. COAGULAÇÃO A coagulação é dividida em duas vias que, eventualmente, convergem a uma via comum. A via intrínseca inicia quando o dano aos tecidos expõe o colágeno. Por isso, a via intrínseca é também conhecida como via de ativação por contato. A via intrínseca usa proteínas já presentes no plasma. O colágeno ativa a primeira enzima, o fator XII, iniciando a cascata. − O contato com as fibras de colágeno (ou com as paredes de vidro do tubo de coleta de sangue) ativa o fator de coagulação XII, que começa uma sequência de reações que, por fim, ativa o fator de coagulação X. Fosfolipídios plaquetários e Ca2+ também podem participar da ativação do fator X. Uma vez ativado, o fator X se combina com o fator V para formar a enzima ativa protrombinase (assim como acontece na via extrínseca), completando a via intrínseca. A via extrínseca inicia quando os tecidos danificados expõem o fator tecidual (FT), também chamado de tromboplastina tecidual ou fator III. O fator tecidual ativa o fator VII, iniciando a via extrínseca. − Na presença de Ca2+, o FT começa uma sequência de reações que, por fim, ativa o fator de coagulação X. Uma vez ativado, o fator X se combina com o fator V na presença de Ca2+ para formar a enzima ativa protrombinase, completando a via extrínseca. As duas vias unem-se na via comum, produzindo trombina, que é a enzima que converte o fibrinogênio em polímeros insolúveis de fibrina. Essas fibras de fibrina se tornam parte do coágulo. − A formação de protrombinase marca o começo da via comum. − A protrombinase e o Ca2+ catalisam a conversão da protrombina em trombina. − A trombina, na presença de Ca2+, converte fibrinogênio, que é solúvel, em filamentos de fibrina frouxos, que são insolúveis. − A trombina também ativa o fator XIII (fator estabilizador da fibrina), que fortalece e estabiliza os filamentos de fibrina em um coágulo forte. O plasma contém um pouco de fator XIII, que também é liberado pelas plaquetas presas no coágulo. Em cada passo, uma enzima converte um precursor inativo em uma enzima ativa, muitas vezes com a ajuda de Ca2+, fosfolipídeos de membrana, ou outros fatores. Envolve inúmeras substâncias conhecidas como fatores de coagulação. Esses fatores incluem os íons cálcio (Ca2+), várias enzimas inativas sintetizadas por hepatócitos e liberadas na corrente sanguínea e diversas moléculas associadas às plaquetas ou liberadas pelos tecidos danificados. A maioria dos fatores de coagulação é identificada por numerais romanos que indicam a ordem da sua descoberta (não necessariamente a ordem da sua participação no processo de coagulação). @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 3 Os fatores das vias intrínseca e extrínseca interagem entre si, fazendo da coagulação uma rede, em vez de uma simples cascata. Além disso, várias alças de retroalimentação positiva sustentam a cascata até que uma ou mais das proteínas plasmáticas participantes seja completamente consumida. O passo final da coagulação é a conversão de fibrinogênio em fibrina, uma reação catalisada pela enzima trombina. As fibras de fibrina permeiam o tampão plaquetário e retêm eritrócitos dentro de sua malha. O fator XIII ativo converte a fibrina em um polímero com ligações cruzadas, o qual estabiliza o coágulo. Os coágulos são apenas uma correção temporária. Conforme o vaso danificado lentamente é reparado, o coágulo é desintegrado quando a fibrina é quebrada em fragmentos pela enzima plasmina. Uma forma inativa da plasmina, o plasminogênio, é parte do coágulo. Depois da coagulação, a trombina, um fator na cascata de coagulação, age com um segundo fator, chamado de ativador de plasminogênio tecidual (tPA) para converter o plasminogênio inativo em plasmina. A plasmina, então, quebra a fibrina, em um processo chamado de fibrinólise. VITAMINA K A coagulação normal depende de níveis adequados de vitamina K no corpo. Embora a vitamina K não esteja envolvida na formação do coágulo propriamente dito, ela é necessária para a síntese de quatro fatores de coagulação. Normalmente produzida por bactérias que habitam o intestino grosso, a vitamina K é lipossolúvel e pode ser absorvida pelo revestimento do intestino passando para o sangue se a absorção de lipídios for normal. Com frequência, as pessoas que sofrem de distúrbios que retardam a absorção de lipídios (p. ex., liberação inadequada de bile no intestino delgado) apresentam sangramento descontrolado em consequência da deficiência de vitamina K. FATORES DE COAGULAÇÃO NÚMERO NOME(S) FONTE VIA(S) DE ATIVAÇÃO I Fibrinogênio Fígado Comum II Protrombina Fígado Comum III Fator tecidual (tromboplastina) Tecidos danificados e plaquetas ativadas Extrínseca IV Íons cálcio (Ca2+) Dieta, ossos e plaquetas Todas V Pró-acelerina, fator lábil ou globulina aceleradora (AcG) Fígado e plaquetasExtrínseca e intrínseca VII Acelerador da conversão da protrombina sérica (SPCA), fator estável ou pró-convertina Fígado Extrínseca VIII Fator anti-hemofílico (AHF), fator anti-hemofílico A ou globulina anti-hemofílica (AHG) Fígado Intrínseca IX Fator de Christmas, componente de tromboplastina plasmática (PTC) ou fator anti-hemofílico B Fígado Intrínseca X Fator de Stuart, fator de Prower ou tromboquinase Fígado Extrínseca e intrínseca XI Antecedente da tromboplastina plasmática (PTA) ou fator anti-hemofílico C Fígado Intrínseca XII Fator de Hageman, fator de contato ou fator anti- hemofílico D Fígado Intrínseca XIII Fator estabilizador da fibrina (FSF) Fígado e plaquetas Comum *Não existe fator VI. A protrombinase (ativador da protrombina) é uma combinação dos fatores V e X ativados. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Silverthorn, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7ª edição). Grupo A, 2017. Tortora, Gerard, J. e Bryan Derrickson. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14ª edição). Grupo GEN, 2016. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 4 Hemorragia INTRODUÇÃO Hemorragia ou sangramento significa saída de sangue dos vasos ou do coração para o meio externo, para o interstício ou para as cavidades pré-formadas. Hemorragias podem ser internas ou externas. Figura: Hemorragias superficiais na pele. Púrpuras (A) e petéquias (B) em paciente com púrpura trombocitopênica idiopática. C. Sufusão hemorrágica extensa na parede lateral do tórax e no abdome em paciente com cirrose descompensada. Hemorragias puntiformes ou petéquias são áreas hemorrágicas (até 3 mm de diâmetro), geralmente múltiplas. Na maioria das vezes, resultam de defeitos qualitativos ou quantitativos de plaquetas. Púrpura é a lesão superficial um pouco maior do que as petéquias, geralmente na pele, múltipla, plana ou discretamente elevada, podendo atingir até 1 cm de diâmetro. Equimose é a hemorragia que aparece como mancha azulada ou arroxeada, mais extensa do que a púrpura e que pode provocar aumento discreto de volume local. Equimoses são frequentes após traumatismos. Hematoma consiste em hemorragia em que o sangue se acumula e forma uma tumoração. Como a equimose, hematoma é comum em traumatismos. Hemorragias em cavidades pré-formadas são denominadas de acordo com a localização: Hemartro ou hemartrose na cavidade articular, hemopericárdio, hemotórax e hemoperitônio nas respectivas cavidades serosas. Hemossalpinge, hematométrio e hematocolpo são coleções sanguíneas na luz da tuba uterina, na cavidade uterina e na cavidade vaginal, respectivamente. Hemobilia é a hemorragia no interior da vesícula biliar ou dos ductos biliares. A exteriorização de hemorragias por orifícios corpóreos recebe nomes específicos. A eliminação de sangue pelas narinas é denominada epistaxe. Pela tosse e oriunda do sistema respiratório, é chamada hemoptise quando em maior volume e escarro hemoptoico quando discreta. Hematêmese é a eliminação de sangue pela boca originado do trato digestivo e eliminado por vômito. A eliminação de sangue pelo ânus pode ocorrer de duas maneiras: (1) sangue digerido, que confere cor escura às fezes (semelhantes a borra de café), recebe o nome de melena; (2) sangue não digerido, de cor vermelha, constitui a hematoquezia. Otorragia é a perda de sague pelo meato acústico externo. Hematúria é a eliminação de sangue com a urina, podendo ser macroscópica ou microscópica. ETIOPATOGÊNESE Hemorragias podem ser causadas por: − Perda da integridade da parede vascular; − Alterações dos mecanismos de coagulação sanguínea; − Modificações qualitativas ou quantitativas das plaquetas; − Mecanismos complexos e ainda mal definidos. HEMORRAGIA POR LESÃO DA PAREDE VASCULAR Acontece por ruptura ou por diapedese. Hemorragia por ruptura do vaso (rexe) ocorre por traumatismos ou por outras lesões vasculares. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 5 O agente mecânico pode ser causa isolada, mas em muitos casos associa-se a defeitos na resistência vascular ou na coagulação do sangue. Quando há fragilidade vascular, traumatismos mínimos podem romper os vasos, como na ruptura de aneurismas. Traumatismo mecânico (p. ex., bolo alimentar ou fecal) pode levar à ruptura de veias varicosas no esôfago e em hemorroidas. Gengivorragia durante a escovação de dentes pode ser o primeiro sinal de uma trombocitopenia; neste caso, traumatismo pequeno, habitual, é capaz de provocar hemorragia quando associado a redução do número de plaquetas. Em vasculites, o sangramento pode ser atribuído à destruição segmentar da parede vascular pelo exsudato inflamatório. Inflamações parenquimatosas com supuração (necrose liquefativa em inflamação purulenta), granulomatosas ou necrosantes (p. ex., necrose caseosa na tuberculose, inflamação necro-hemorrágica em pancreatite) e infiltração neoplásica podem corroer e perfurar a parede vascular (hemorragia é frequente em cavernas da tuberculose pulmonar). O mesmo acontece na luz de órgãos ocos cujas mucosas podem ter úlceras, como na úlcera péptica do esôfago, do estômago ou do duodeno e em ulcerações do sistema urinário por cálculos ou inflamações ulcerativas; a necrose que provoca úlceras atinge também a parede de vasos e causa sua ruptura. Hemorragia por diapedese ocorre pela saída de sangue através de espaços entre as células endoteliais por causa de: (1) alteração nas junções intercelulares (diapedese paracelular); (2) formação de poros nas células endoteliais (diapedese transcelular), possivelmente em locais com citoplasma mais delgado. Hemorragia por diapedese ocorre em vênulas ou capilares em casos de hiperemia passiva que resulta em aumento da pressão intravascular. HEMORRAGIA POR ALTERAÇÕES NA COAGULAÇÃO SANGUÍNEA Quase sempre, a hemorragia é causada por traumatismos pequenos, sendo o sangramento desproporcional à intensidade da lesão. Exemplos clássicos são pequenos cortes que sangram por muito tempo, sangramento menstrual prolongado (menorragia), hemorragia excessiva durante extrações dentárias ou grande hematoma após traumatismo pequeno. As principais hemorragias por alterações nos mecanismos da coagulação sanguínea estão relacionadas com: (1) deficiência congênita ou adquirida de fatores da coagulação; (2) excesso de anticoagulantes, endógenos ou exógenos. As deficiências congênitas de fatores da coagulação mais importantes são a hemofilia A (deficiência de fator VIII), a hemofilia B (deficiência de fator IX) e a doença de von Willebrand (deficiência do fator von Willebrand), está a mais frequente entre as hemorragias hereditárias. Deficiências adquiridas de fatores de coagulação são mais frequentes do que as congênitas e estão associadas a doenças carenciais (deficiência de vitamina K), a doenças hepáticas (deficiência na síntese dos fatores II, VII, IX e X e das proteínas C e S) ou a depleção desses fatores quando há ativação sistêmica da coagulação (coagulopatia de consumo). Vitamina K é cofator na síntese hepática de fatores da coagulação; na carência da vitamina e na insuficiência hepática, hemorragias são comuns por redução na síntese de fatores da coagulação. Coagulopatia de consumo é o quadro hemorrágico associado à redução dos fatores da coagulação consumidos em excesso. O exemplo mais conhecido é o da coagulação intravascular disseminada (CID), em que a ativação sistêmica da coagulação sanguínea consome seus fatores. Nesses casos, há redução do fibrinogênio circulante e aumento da quantidade de produtos de degradação de fibrina na circulação, estes últimos potentes inibidores de fatores da coagulação. Na CID, ocorre aumento da atividade fibrinolítica, razão pela qual os produtos de degradação da fibrina aumentam na circulação.Hemorragias por excesso de anticoagulantes endógenos ou exógenos resultam da ação de inibidores dos fatores da coagulação, de fibrinólise exagerada (ativação excessiva do plasminogênio) ou de inibição de inativadores naturais deste. Hemorragias por anticoagulantes exógenos são comuns em pacientes em tratamento com anticoagulante (heparinização) ou em intoxicações com substâncias com ação anticoagulante (p. ex., varfarina, usado como medicamento ou raticida). Tratamento trombolítico com ativadores do plasminogênio (rt-PA ou estreptoquinases; ver adiante – trombose) pode ter como complicação hemorragias variadas, às vezes graves. HEMORRAGIA POR ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS OU QUALITATIVAS DE PLAQUETAS Redução do número (trombocitopenia) e alterações funcionais de plaquetas (trombastenia) acompanham-se de hemorragia, especialmente como petéquias ou púrpuras. O tempo de sangramento começa a ficar alterado quando as plaquetas caem abaixo de 100.000 por μL3 de sangue, embora hemorragias espontâneas tornem-se evidentes quando o número de plaquetas é inferior a 20.000/μL3; hemorragias graves acontecem quando esse número está abaixo de 10.000 plaquetas/μL3. As causas mais comuns de trombocitopenia são aplasia e infiltração neoplásica da medula óssea, síndrome mielodisplásica, hiperesplenismo, medicamentos (α- metildopa, sulfadiazínicos) e autoanticorpos, estes especialmente na púrpura trombocitopênica idiopática. Próteses valvares podem aumentar a destruição de plaquetas (por lise mecânica), reduzindo o seu número na circulação. Na trombocitopenia causada por medicamentos, a substância fica adsorvida à plaqueta e @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 6 induz a síntese de anticorpos, os quais causam lise plaquetária por ativação do complemento. Alterações funcionais de plaquetas por medicamentos são frequentes. Ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios não esteroides inibem a ciclo-oxigenase (COX), diminuindo a produção de tromboxano, o que reduz a agregação e a ativação de plaquetas. Usuários desses medicamentos apresentam micro-hemorragias (hematúria microscópica, sangue oculto nas fezes), mas podem também apresentar episódios mais graves de hemorragia digestiva. Hemorragia digestiva associada ao uso de inibidores de COX-1 é mais grave porque essa enzima reduz a síntese de prostaglandina E2 (esta é protetora da mucosa gástrica). Disfunção plaquetária é encontrada na uremia, na cirrose e em pacientes submetidos a circulação extracorpórea. Nessas condições, o número de plaquetas circulantes é pouco reduzido, mas o tempo de sangramento é alterado por causa de defeitos mal conhecidos nos mecanismos de ativação de plaquetas. Causa menos frequente de disfunção plaquetária é a adsorção de substâncias sobre as plaquetas, como no uso de penicilina. HEMORRAGIA POR MECANISMOS COMPLEXOS Hemorragia na dengue pode ser muito grave e levar ao choque. Os mecanismos de hemorragia e choque na dengue são complexos e ainda mal esclarecidos. Além da trombocitopenia que acompanha a doença, existem alterações funcionais na parede vascular induzidas por anticorpos contra antígenos do vírus que dão reação cruzada com células endoteliais. A disfunção endotelial na dengue é responsável não só pela fuga de plasma para o interstício como também por hemorragias. CONSEQUÊNCIAS As consequências das hemorragias dependem do volume de sangue perdido, da velocidade da perda e do local do sangramento. Perdas pequenas, mas contínuas, podem causar espoliação de ferro e, consequentemente, anemia; sangramento digestivo crônico por úlceras variadas ou por neoplasias manifesta-se por anemia. Perdas volumosas de sangue causam anemia aguda e, nos casos mais graves, choque hipovolêmico (ver adiante). Hemorragia nos ventrículos cerebrais ou hemorragia no tecido nervoso encefálico aumenta a pressão intracraniana e pode levar ao óbito. Durante reabsorção e reparo, hemorragia subaracnóidea pode bloquear a reabsorção ou o fluxo do liquor e resultar em hidrocefalia. Sangue no espaço subaracnóideo pode também induzir espasmos arteriais e causar isquemia do tecido nervoso. Hemorragia cerebral pode deixar sequelas motoras e/ou sensitivas. Quando ocorre em centros nervosos vitais (p. ex., centro cardiorrespiratório), hemorragia mesmo pequena pode ser fatal. Quando súbito, sangramento no espaço pericárdico (hemopericárdio) impede a movimentação cardíaca (tamponamento cardíaco) por compressão extrínseca do coração, enquanto hematoma paratraqueal causa asfixia por obstrução da via respiratória, podendo levar ao óbito. Hemorragia intraocular pode produzir cegueira por turvação do corpo vítreo, descolamento da retina ou glaucoma. DIAGNÓSTICO DAS CAUSAS DE HEMORRAGIA. MÉTODOS LABORATORIAIS PARA AVALIAR HEMOSTASIA As principais causas de sangramento anormal podem ser suspeitadas após anamnese completa, sendo o diagnóstico estabelecido com segurança por meio de exames complementares. Entre esses, os mais utilizados são avaliação do hemograma, contagem de plaquetas, tempo de sangramento, tempo de trombina, tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial ativada e prova do laço. Informações sobre a ocorrência, a extensão e a localização de hemorragias podem levantar suspeitas sobre suas causas. Causas congênitas são suspeitadas se: − Na história familiar existem casos de sangramento anormal ou história pregressa de sangramento excessivo pelo coto umbilical; − Sangramento com duração prolongada (> 24 horas) ou recidiva de sangramento após extração dentária; − Epistaxe volumosa com necessidade de tamponamento ou cauterização; − Sangramento exagerado em procedimentos cirúrgicos simples, necessitando transfusão sanguínea. Nos defeitos congênitos da coagulação em que a alteração da hemostasia é discreta, sangramentos mais intensos podem manifestar-se tardiamente, na vida adulta, ou ser precipitados por medicamentos que interferem na coagulação do sangue. Sangramento de origem plaquetária, geralmente superficial (cutâneo ou de mucosas), manifesta-se por epistaxe, menorragia, hematúria, hemorragia digestiva, púrpura e petéquias. Em hemorragias por deficiência de fatores da coagulação sanguínea, podem acontecer as mesmas manifestações, mas são mais comuns hemorragias profundas intra-articulares e intramusculares; na pele, o sangramento é superficial e confluente, formando equimose frequentemente elevada na região central. Em defeitos plaquetários, as hemorragias iniciam-se geralmente logo após o traumatismo, enquanto na deficiência de fatores da coagulação elas surgem algum tempo depois da lesão. Este fato resulta da falta de estabilização do tampão plaquetário pelos fatores plasmáticos da coagulação. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 7 Os testes laboratoriais para avaliar hemorragias têm como alvo os diversos componentes do processo de coagulação sanguínea, permitindo fazer inferências sobre o tipo de defeito e suas causas mais prováveis. TEMPO DE TROMBINA (TT) Avalia se o fibrinogênio está presente e é funcional. Ao plasma extraído preferencialmente de sangue citratado e com o cuidado de não sofrer contaminação por produtos anticoagulantes durante a coleta, adiciona-se trombina diluída. Com isso, o fibrinogênio é convertido em fibrina, e o tempo para se formar o coágulo é medido, seja pela verificação da solidificação do plasma, seja por sua turvação durante a formação da malha de fibrina, que é detectada por sistema de absorção de luz transmitida através do tubo de ensaio (fotocolorimetria). Aumento do tempo de formação do coágulo indica deficiência de fibrinogênio. A causa mais comum de hipofibrinogenemia adquirida é a coagulação intravascular disseminada (CID). Se o tempo de trombina é normal, são avaliados o tempo de protrombinae o tempo de tromboplastina parcial. TEMPO DE PROTROMBINA (TP) É avaliado em plasma citratado e pobre em plaquetas, ao qual são adicionados cálcio e tromboplastina tecidual. Na presença destes, o fator VII é ativado e forma o complexo ativador do fator X, que ativa a formação da fibrina. O tempo é cronometrado e comparado com o tempo gasto para formar o coágulo de fibrina em um soro normal (controle), sendo o resultado dado em porcentagem relativa ao tempo do controle (atividade de protrombina). Valores abaixo de 100% indicam a intensidade do distúrbio. Se o tempo para formar o coágulo estiver acima do tempo do controle, trata-se de redução do fator VII (alteração no braço tecidual da coagulação) ou alteração na via comum da coagulação (fator X e fibrinogênio). TP alterado é muito sensível para indicar alterações no fator VII em diversas circunstâncias, entre elas: − Deficiência de vitamina K; − Uso de anticoagulante warfarin (inibe a epóxido redutase da vitamina K, reduzindo a disponibilidade da vitamina para a carboxilação dos resíduos de glutamato nos fatores da coagulação sintetizados no fígado, tornando-os inativos). A falta desses radicais carboxilados impede que o Ca++ promova a ligação desses fatores com os fosfolipídeos das vesículas para formar as plataformas ativadoras da coagulação; − Fase inicial de insuficiência hepática, por redução na síntese do fator VII; − Deficiência congênita de fator VII (muito rara). TEMPO DE TROMBOPLASTINA PARCIAL (PTT) O teste é feito tomando-se o plasma citratado ao qual se acrescentam um ativador de contato (que ativa o fator XII), um fosfolipídeo, que forma vesículas para servir de fase sólida para montar a plataforma ativadora do fator X a partir do fator XII, e cálcio, necessário para prender os fatores plasmáticos nas vesículas fosfolipídicas. Desse modo, o fator XII é ativado (contato com o produto ativador), prende-se às vesículas de fosfolipídeo e ativa os demais fatores plasmáticos que ativam o fator X. O tempo para formação do coágulo de fibrina é cronometrado, sendo feita a comparação com o teste realizado com plasma controle de indivíduo sem anormalidades; o resultado é dado em porcentagem em relação ao perfil normal. O teste avalia o braço plasmático ou via intrínseca da coagulação (fatores XII, XI, IX e VIII) e a via comum (fatores II, X e V); o exame só se mostra alterado se a deficiência dos fatores ultrapassa 40%. Na prática clínica, as causas mais comuns de PTT prolongado por ação de inibidores da coagulação são as formas adquiridas de inibição do fator VIII e a síndrome do anticoagulante lúpico. Na hemofilia A, o fator inibidor surge em até 20% dos indivíduos com deficiência acentuada do fator VIII. Infusão de concentrado de fator VIII (deficiente nesses indivíduos) induz a formação de anticorpos IgG antifator VIII. A síndrome do anticoagulante lúpico é mais comum em indivíduos com lúpus eritematoso sistêmico, mas pode ser encontrada também em usuários de drogas injetáveis, na síndrome da imunodeficiência adquirida e em neoplasias hematológicas. As causas mais comuns de deficiência de fatores da coagulação são, em ordem decrescente de frequência, deficiências dos fatores VIII, IX e XI. Quando o TP e o PTT estão francamente alterados, as causas mais comuns são deficiências acentuadas de vitamina K, insuficiência hepática, transfusões maciças sem adição de plasma fresco e deficiências congênitas dos fatores II, V e X (muito raras). CONTAGEM DE PLAQUETAS A avaliação quantitativa de plaquetas é muito importante na prática, sobretudo se os TT, TP e PTT estão normais, condição em que a probabilidade de existir defeito nos fatores plasmáticos da coagulação é mínima (menos de 1%). A relação entre plaquetopenia e tempo de sangramento aumentado é quase linear. Quando o número de plaquetas está entre 50.000 e 100.000/μL3 de sangue, o tempo de sangramento já se mostra aumentado, embora sem manifestar como doença hemorrágica, exceto em casos de traumatismo grave ou cirurgia de maior porte. Entre 20.000 e 50.000 plaquetas/μL3, sangramento espontâneo é raro; se este acontece, deve-se suspeitar também de deficiência qualitativa de plaquetas. Plaquetopenia isolada com hematoscopia normal e número normal dos demais elementos figurados associam- se mais a causas que levam a destruição de plaquetas na periferia, por anticorpos, medicamentos ou hiperesplenismo. Plaquetopenia associada a anemia e leucopenia (pancitopenia) deve-se mais comumente a @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 8 doenças que inibem ou destroem a medula óssea (aplasia medular, mielodisplasia, infiltrações leucêmicas da medula óssea) ou a hiperesplenismo. Se a plaquetopenia é acentuada (< 10.000 células/μL3), a hematoscopia é normal e não há outra citopenia, o diagnóstico mais provável é de púrpura trombocitopênica autoimune (idiopática). Nesses casos, o mielograma mostra integridade de megacariócitos. TEMPO DE SANGRAMENTO A avaliação do tempo de sangramento é feita mediante perfuração com lanceta padronizada na polpa digital ou lóbulo da orelha. Iniciado o sangramento, ele é acompanhado com cronômetro até a sua cessação. A verificação da parada da hemorragia é feita por absorção periódica do sangue extravasado por folha de papel de filtro. O tempo de sangramento avalia o número e a atividade das plaquetas. Tempo de sangramento aumentado significa falha na formação do tampão plaquetário, que pode associar-se a trombocitopenia ou a trombocitopatia. Em pacientes com plaquetopenia, a avaliação do tempo de sangramento só se justifica se o número de plaquetas é maior do que 10.000/μL3. Abaixo desse valor, não existe linearidade entre plaquetopenia e tempo de sangramento. Entre 10.000 e 100.000 plaquetas/μL3, o aumento no tempo de sangramento é proporcional à plaquetopenia. Tempo de sangramento aumentado de modo desproporcional ao grau de plaquetopenia é indicativo de disfunção plaquetária associada a plaquetopenia, portanto deficiência quantitativa e qualitativa de plaquetas. A prova do laço é feita colocando-se o manguito do esfigmomanômetro no braço do paciente após desenhar na face anterior do antebraço um quadrado de 2,5 × 2,5 cm. O manguito é insuflado até o valor da pressão média do paciente, assim permanecendo durante 5 minutos (3 minutos em crianças). O manguito é retirado e são contadas as petéquias formadas no retângulo: se superior a 20, o teste é positivo em adultos (10 em crianças). A prova do laço avalia plaquetas e fragilidade vascular. Praticamente todas as causas de hemorragia podem ser diagnosticadas com os procedimentos comentados anteriormente. No entanto, pelo menos duas categorias de doenças hemorrágicas podem cursar com TT, TP, PTT, número de plaquetas e hematoscopia normais: − Síndromes raras associadas a: o Formação deficiente de ligações cruzadas na fibrina; o Fibrinólise anormalmente elevada; − Púrpura por aumento da fragilidade capilar (púrpuras vasculares), estas mais frequentes. O sangramento que ocorre no escorbuto é um bom exemplo de hemorragia de natureza vascular. TRATAMENTO TROMBOCITOPENIA CAUSADA POR FÁRMACOS Suspender o uso dos possíveis agentes agressores; recuperação esperada em 7 a 10 dias. Podem ser necessárias transfusões de plaquetas se a contagem plaquetária for < 10.000/μL. O uso de agentes estimulantes de plaquetas é controverso. PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IDIOPÁTICA CRÔNICA A intervenção pode não ser necessária na ausência de sangramento ou contagem plaquetária > 40.000/µL. Prednisona, inicialmente 1 a 2 mg/kg/dia; a seguir, reduzir lentamente para manter a contagem plaquetária > 60.000/μL. A dexametasona a 40 mg/dia por 4 dias a cada 2-4 semanas pode ser ainda mais eficaz. A imunoglobulina intravenosa (IgIV) (2 g/kg emdoses fracionadas ao longo de 2 a 5 dias) para bloquear a destruição fagocítica pode ser útil. O rituximabe mostra- se efetivo em pacientes refratários aos glicocorticoides. O Eltrombopag (50 mg VO 1×/dia) acelera a produção de plaquetas e permite que se retarde ou evite a esplenectomia. A esplenectomia, o danazol (androgênio) ou outros agentes (p. ex., vincristina, ciclofosfamida, fludarabina) são indicados para pacientes refratários ou para os que necessitam de > 5 a 10 mg/dia de prednisona. COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA O principal é o controle da doença subjacente; plaquetas, plasma fresco congelado (PFC) para corrigir os parâmetros da coagulação. A heparina pode ser benéfica em pacientes com leucemia promielocítica aguda. PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA TROMBÓTICA Plasmaférese e infusões de PFC (troca plasmática), possivelmente IgG IV; recuperação em cerca de dois terços dos casos. A plasmaférese remove os inibidores da enzima de clivagem do FvW (ADAMTS13), e o PFC substitui a enzima. O caplacizumabe é uma imunoglobulina de domínio de variável única anti-FvW (nanocorpo) que inibe a interação entre plaquetas e multímeros FvW e pode acelerar a normalização da contagem plaquetária. DISTÚRBIOS DA FUNÇÃO PLAQUETÁRIA Remover ou reverter a causa subjacente. A diálise e/ou as infusões de crioprecipitado (10 bolsas/24 h) podem ser úteis na disfunção plaquetária associada à uremia. DISTÚRBIOS HEMOSTÁTICOS Suspender os agentes agressores; reposição de vitamina C, plasmaférese e infusão de plasma para PTT. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 9 HEMOFILIA A Reposição de fator VIII se houver sangramento ou antes de procedimento cirúrgico; o grau e a duração da reposição dependem da gravidade do sangramento. Administrar fator VIII para obter um nível de 15% (para sangramento leve) a 50% (para sangramento grave) de fator VIII. A duração deve variar de uma dose única de fator VIII até duas doses ao dia, por um período de até 2 semanas. A dose é calculada da seguinte maneira: Dose de fator VIII = (nível alvo – nível basal) × peso (kg) × 0,5 unidade/kg Até 33% dos pacientes podem desenvolver anticorpos antifator VIII; nesses pacientes, o fator VII ativado ou o agente inibidor do fator VIII (FEIBA) podem interromper ou evitar o sangramento. Em pacientes com ou sem anticorpos antifator VIII, o emicizumabe (3 mg/kg em semanas alternadas) pode ser eficaz. É um anticorpo bi- específico que transpõe o fator X e o fator IX ativados para substituir a função do fator VIII ativado. O progresso é percebido na terapia gênica de deficiência de fator VIII usando um vetor viral adeno-associado. HEMOFILIA B Fator IX recombinante, PFC ou concentrados de fator IX. Devido à meia-vida mais longa, o tratamento diário é suficiente. A dose é calculada da seguinte maneira: Dose de fator IX = (nível alvo – nível basal) × peso (kg) × 1 unidade/kg A terapia gênica usando uma variante hiperfuncional do fator IX (fator IX Padua, R338L) fez com que 8 de 10 pacientes dependentes de fator IX ficassem independentes de infusões de fator IX. DOENÇA DE VON WILLEBRAND A desmopressina (1-desamino-8-D-arginina- vasopressina) aumenta a liberação de FvW das reservas endoteliais na DvW tipo 1. É administrada por via IV (0,3 μg/kg) ou por spray nasal (2 aplicações de 1,5 mg/mL em cada narina). Para os tipos 2A, 2M e 3, são utilizados o crioprecipitado (produto plasmático rico em fator VIII) ou o concentrado de fator VIII: até 10 bolsas 2×/dia, por 48 a 72 h, dependendo da gravidade do sangramento. DEFICIÊNCIA DE VITAMINA K Vitamina K, 10 mg SC ou IV lenta. DOENÇA HEPÁTICA Plasma fresco congelado. Trombose INTRODUÇÃO Trombose é a solidificação do sangue no leito vascular ou no interior das câmaras cardíacas, em um indivíduo vivo. Trombo, que é a massa sólida de sangue que fica presa à superfície onde se originou, pode formar-se em qualquer território do sistema cardiovascular: cavidades cardíacas (na parede do órgão ou nas válvulas), artérias, veias e microcirculação. ETIOPATOGÊNESE A formação de trombos, que envolve o processo de coagulação sanguínea e a atividade plaquetária, associa-se a três componentes (tríade de Virchow): 1. Lesão endotelial; 2. Alteração do fluxo sanguíneo; 3. Modificação na coagulabilidade do sangue. Na maioria dos casos, dois ou os três fatores atuam na formação de trombos. LESÃO ENDOTELIAL O endotélio tem ações pró-coagulante e anticoagulante. Agressões variadas (físicas, químicas ou biológicas) tornam o endotélio pró-coagulante por: − Aumento na síntese de fatores da coagulação e de fatores ativadores de plaquetas (TXA2 e ADP); − Redução nas propriedades anticoagulantes (p. ex., diminuição na expressão de antitrombina no glicocálice); − Perda do revestimento contínuo dos vasos. Células endoteliais formam uma barreira que impede o contato com plaquetas, fator von Willebrand e colágeno, além de sintetizarem substâncias antiagregadoras de plaquetas (NO, PGI2). Tais alterações se fazem por modificações estruturais ou funcionais do endotélio. Lesão estrutural do endotélio com solução de continuidade ocorre em traumatismos (p. ex., cateterismo), por agressões químicas, em inflamações e em ateromas. Perda de células endoteliais expõe a membrana basal (conjuntivo subendotelial), sobre a qual as plaquetas aderem e são ativadas, iniciando a formação do trombo. Trata-se de processo em tudo semelhante ao que ocorre na formação do tampão plaquetário. Ao mesmo tempo, é ativada a cascata de coagulação sanguínea. Lesão endotelial é também o fator primário de trombose na parede ventricular em infartos subendocárdicos, em @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 10 áreas de endocardite de qualquer natureza, em arterites, em flebites e na coagulação intravascular disseminada. Nem sempre é necessária a perda de células endoteliais para se formarem trombos. Alterações funcionais (ativação endotelial), mesmo sem destruição endotelial, são capazes de modificar o balanço entre fatores pró e anticoagulantes, favorecendo a trombose. Estados inflamatórios e hipóxia de qualquer origem, por exemplo, alteram o endotélio e o tornam pró-coagulante. Disfunção endotelial ocorre em várias condições, como hipertensão arterial, diabetes melito, hipercolesterolemia, tabagismo e ateromas. ALTERAÇÕES NO FLUXO SANGUÍNEO Modificações na velocidade do sangue (aumento ou redução), refluxo através de válvulas e turbulência no fluxo sanguíneo (redemoinhos ou movimento não linear/laminar) são importantes na gênese de trombos. Nesses casos, ocorrem ativação endotelial e aumento da atividade pró-coagulante. Retorno venoso diminuído (estase sanguínea) pode dever-se a fatores sistêmicos (insuficiência cardíaca, imobilidade no leito – a contração muscular favorece o retorno venoso) ou locais (compressão de vasos); trombose venosa profunda nos membros inferiores é frequente em pacientes acamados, principalmente após cirurgias. A partir do coração, o sangue é lançado em um sistema de tubos em que, a cada ramificação, são gerados vasos de menor calibre. Com isso, haveria tendência à aceleração do fluxo não fosse o fato de a somatória dos diâmetros das ramificações ser maior do que o diâmetro da artéria- tronco. Assim, a velocidade do fluxo torna-se progressivamente menor até o leito capilar, sendo as ondas pulsáteis cada vez menos intensas. Qualquer alteração no fluxo laminar por estreitamentos ou dilatações anormais do sistema circulatório (p. ex., estenoses, aneurismas e ateromas salientes na íntima) favorecem a formação de trombos, principalmente por indução mecânica das plaquetas ao atravessarem as zonas de aceleração e/ou desaceleração abruptas que se formam ao longo da lesão. Quando há turbulência ou se há modificação na velocidadedo fluxo sanguíneo, o endotélio torna-se ativado e desaparece o fluxo laminar, situação em que plaquetas e outras células passam a circular próximas do endotélio; turbulência também lesa diretamente o endotélio. Exemplos disso são aneurismas, dilatação de câmaras cardíacas, arritmias cardíacas (especialmente atriais), insuficiência ou estenose valvar (venosas ou cardíacas) ou anomalias congênitas do coração. Com átrios dilatados e fibrilação atrial, há redução do fluxo (estase) pronunciada nas aurículas, local onde os trombos se formam preferencialmente. Além de estase sanguínea, que produz hipóxia e lesão endotelial, a formação de trombos é favorecida também por alteração no fluxo, que promove ativação plaquetária. Trombos auriculares crescem durante episódios de arritmia e representam risco constante de tromboembolismo devido ao fato de a atividade contrátil do coração favorecer sua fragmentação ou desprendimento. Em aneurismas arteriais, além das alterações no fluxo do sangue e da ativação plaquetária, as lesões na íntima que contribuíram para a formação do aneurisma também participam na gênese do trombo. A regurgitação de sangue que ocorre na insuficiência valvar e em comunicações anômalas no coração produz um jato de sangue em direção ao endocárdio das câmaras de menor pressão. O impacto do sangue tem dois efeitos: sobre o endotélio, é capaz de causar desnudamento da íntima; sobre as plaquetas, inicia a sua ativação. AUMENTO DA COAGULABILIDADE DO SANGUE Aumento da coagulabilidade sanguínea pode ocorrer por defeitos genéticos ou por condições adquiridas. Tal condição resulta de: − Aumento do número de plaquetas; − Maior disponibilidade de fatores pró-coagulantes; − Redução de inibidores da coagulação. Aumento do número de plaquetas e da síntese de fatores da coagulação, especialmente fibrinogênio, acompanha inflamações localizadas ou generalizadas (citocinas estimulam o endotélio e o tornam pró-coagulante) e a resposta sistêmica ao parto, como um componente de defesa para facilitar a hemostasia. Aumento da coagulabilidade sanguínea e redução na velocidade circulatória nessas duas situações favorecem a formação de trombos em veias (trombose em pacientes imobilizados no leito e trombose venosa periparto). Após traumatismos, queimaduras, cirurgias extensas e outras agressões teciduais, há liberação de tromboplastina, que ativa a via extrínseca da coagulação. Outras situações também acompanham-se de aumento da coagulação sanguínea: − Em indivíduos com certos tipos de câncer (sobretudo adenocarcinomas mucinosos), encontram-se hipercoagulabilidade sanguínea e maior tendência à formação de trombos em vários locais (síndrome de Trousseau); − Anticoncepcionais orais associam-se a maior risco de trombose, assim como gravidez e período pós-parto; − Síndrome de anticorpos antifosfolipídeos que se deve à formação de autoanticorpos contra componentes lipídicos (p. ex., cardiolipina, fofatidilserina e apolipoproteína-H), os quais podem agredir células endoteliais ou ativar plaquetas. A síndrome pode ser primária ou secundária a alguma doença autoimune (p. ex., lúpus eritematoso). Complicações frequentes são trabalho de parto prematuro e abortamentos de repetição relacionados com trombose de vasos útero-placentários e infartos placentários @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 11 múltiplos. Além de manifestações associadas à gestação, há predisposição a trombose venosa, arterial ou da microcirculação em diferentes órgãos, espessamento de valvas cardíacas, anemia hemolítica, trombocitopenia e microangiopatia trombótica. É frequente que os três componentes da tríade estejam presentes na patogênese da trombose. Um bom exemplo é a trombose venosa profunda nos membros inferiores, que se forma sobretudo em pacientes imobilizados no leito, mais frequentemente após cirurgias ortopédicas ou traumatismo com imobilização. Nesses casos, ocorrem: − Diminuição da velocidade do fluxo sanguíneo nas veias por falta dos movimentos musculares no retorno venoso; − Lesão endotelial por hipóxia, devido à redução do fluxo sanguíneo; − Alteração na coagulabilidade do sangue decorrente da reação de fase aguda após agressões, em que há aumento na produção de fibrinogênio no fígado e de plaquetas na medula óssea. Na infecção pelo SARS-CoV-2 (causador da COVID-19), trombose e tromboembolia são eventos frequentes em vários locais do organismo e responsáveis em grande parte pela gravidade da doença. Os mecanismos envolvidos são muitos, destacando-se: − Resposta infamatória ao vírus, que induz ativação endotelial e tem ação pró-trombótica; − Ativação plaquetária; − Estase sanguínea por disfunção cardíaca. Na doença grave, encontram-se plaquetopenia e aumento de produtos de degradação da fibrina na circulação. O vírus tem tropismo para pneumócitos, células endoteliais, miocardiócitos e plaquetas, que são ricos na enzima conversa da angiotensina 2 (ACE 2), que é a molécula à qual o vírus se liga para penetrar nas células. Por se ligar à ACE 2, ocorrem modificações em outras enzimas pertencentes ao sistema renina-angiotensina-aldosterona, o que potencializa os efeitos pró-inflamatórios da infecção. EVOLUÇÃO. CONSEQUÊNCIAS O trombo pode crescer e obstruir parcial ou totalmente a luz do vaso ou das câmaras cardíacas, com prejuízo no fluxo sanguíneo; depois de certo tempo, pode sofrer dissolução ou organização. Trombos recentes muitas vezes sofrem lise (trombólise) espontânea pelo sistema fibrinolítico. Trombólise terapêutica é empregada para dissolver trombos recentes (nas primeiras horas) pelo uso de ativadores do plasminogênio (estreptoquinase ou ativador tecidual do plasminogênio recombinante, rt-PA) introduzidos na circulação ou diretamente no vaso trombosado. Aspiração via cateter pode auxiliar o processo de remoção por fibrinólise. Se não são dissolvidos, os trombos sofrem conjuntivização, calcificação e até metaplasia óssea. A organização faz-se por meio de reação inflamatória em que os fagócitos englobam as células do coágulo e digerem a fibrina, ao mesmo tempo em que liberam fatores de crescimento e quimiocinas que atraem e ativam células que originam o tecido de granulação, que acaba incorporando o trombo à parede dos vasos ou do coração (conjuntivização). Nos trombos oclusivos, pode haver proliferação endotelial que origina canais que permitem o fluxo de sangue através do trombo, restabelecendo parcialmente a circulação (recanalização do trombo). Calcificação distrófica em trombos forma concreções (flebólitos), mais comumente em veias dos membros inferiores, podendo ser visíveis em radiografia simples. Os trombos podem também sofrer colonização bacteriana ou fúngica e causar endocardite valvar ou mural, tromboflebite e endarterite. Quando se fragmentam, tais trombos originam êmbolos sépticos. A consequência principal dos trombos é obstrução do vaso no local de sua formação ou a distância, esta quando o trombo se desprende ou se fragmenta e forma êmbolos. Obstrução arterial leva à isquemia; obstrução venosa reduz a drenagem sanguínea, provocando hiperemia passiva (congestão) e edema. Indução de trombose venosa por lesão endotelial vem sendo usada para obliterar veias varicosas para prevenir hemorragias por ruptura delas ou por motivos estéticos. COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA Coagulação intravascular disseminada (CID), que resulta de ativação sistêmica da coagulação sanguínea, caracteriza-se pela formação de trombos múltiplos especialmente na microcirculação. Os trombos são quase sempre microscópicos (microtrombos), hialinos e constituídos de plaquetas e fibrina; são mais comuns em rins, pulmões, encéfalo, coração e glândulas endócrinas. Com a formação generalizada de trombos de fibrina, ocorreativação difusa do sistema de coagulação, o que leva ao consumo de fibrinogênio e de outros fatores da coagulação. Por causa da utilização exagerada desses elementos, surgem hemorragias em vários locais, caracterizando a chamada coagulopatia de consumo. A CID tem, portanto, uma fase trombótica e uma fase hemorrágica, que podem acontecer simultaneamente. O diagnóstico clínico de CID na fase trombótica nem sempre é fácil. Alguns dados laboratoriais ajudam, especialmente queda de fibrinogênio (abaixo de 50%), diminuição do número de plaquetas e aumento de fibrinopeptídeos circulantes. Na fase hemorrágica, o diagnóstico pode ser mais fácil porque surgem sufusões ou púrpuras na pele, às vezes com centro necrótico. Nem sempre é possível identificar os microtrombos morfologicamente, pois eles podem ser lisados rapidamente pelo sistema fibrinolítico. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 12 As principais causas de CID são: − Condições obstétricas: o Embolia amniótica; o Descolamento prematuro da placenta; o Feto morto retido; − Traumatismo com destruição tecidual; − Infecções sistêmicas de qualquer natureza, especialmente bacterianas; − Neoplasias malignas, sobretudo leucemia mieloide aguda promielocítica, leucemia linfoide e carcinomas metastáticos; − Pancreatite aguda necro-hemorrágica; − Agressões que se acompanham de resposta inflamatória sistêmica e choque séptico. Os mecanismos da CID são complexos e não totalmente esclarecidos. Em mulheres com problemas obstétricos, em traumatismos e em neoplasias metastáticas, há liberação de grande quantidade de tromboplastina (fator tecidual da coagulação), que inicia a coagulação sanguínea. Em agressões com destruição tecidual, em lesões necróticas extensas e em infecções, DAMPs e PAMPs (ver Capítulo 4) caem na circulação e produzem resposta inflamatória sistêmica; com isso, há ativação do endotélio, que se torna pró-coagulante. Na fase de choque séptico, redução na velocidade sanguínea e modificações endoteliais favorecem a adesão plaquetária e a formação de microtrombos hialinos. Muitos PAMPs, sobretudo de bactérias Gram-negativas, são ativadores da coagulação sanguínea, o que explica a alta frequência de CID no choque séptico de origem bacteriana (p. ex., síndrome de Waterhouse-Friderichsen, na meningococcemia). Fatores genéticos ainda não bem conhecidos favorecem o aparecimento de CID, já que ela não acontece em todos os casos em que as causas capazes de produzi-la estão presentes. Se o consumo de fatores da coagulação não é muito rápido e é compensado por resposta adaptativa hepática e da medula óssea, a CID pode evoluir de modo crônico e insidioso. TRATAMENTO Corrigir o distúrbio subjacente, sempre que possível; de outro modo, indica-se o tratamento com varfarina. AGENTES ANTICOAGULANTES Heparina: aumenta a atividade da antitrombina III; agente parenteral de escolha. A HBPM constitui a preparação de escolha (enoxaparina ou dalteparina). Pode ser administrada por via SC; a monitoração do TTP não é necessária, e a HBPM tem menos probabilidade de induzir anticorpos e trombocitopenia. A dose habitual é de 100 U/kg SC, 2×/dia. A heparina não fracionada só deve ser administrada se a HBPM não estiver disponível. Nos adultos, a dose de heparina não fracionada é de 25.000 a 40.000 U na forma de infusão IV contínua por 24 h, após uma injeção IV inicial de 5.000 U; monitorar por acompanhamento do TTP; deve ser mantido entre 1,5 a 2 vezes o limite normal superior. Recomenda-se a anticoagulação profilática para diminuir o risco de trombose venosa em alguns pacientes (p. ex., pós- operatório, imobilização). As doses profiláticas de heparina não fracionada são de 5.000 U SC, 2 ou 3×/dia. A principal complicação da terapia com heparina não fracionada consiste em hemorragia – o tratamento consiste na suspensão da heparina; para sangramento grave, administrar protamina (1 mg/100 U de heparina); resulta em rápida neutralização. Varfarina: antagonista da vitamina K, diminui os níveis de fatores II, VII, IX, X e das proteínas anticoagulantes C e S. Administrada por 2 a 3 dias; dose de ataque inicial de 5 a 10 mg/dia VO, seguida de titulação da dose diária para manter o TP em 1,5 a 2 vezes o TP de controle ou 2 a 3 vezes se for usado o método da Razão Normalizada Internacional (INR). As complicações incluem hemorragia, necrose cutânea induzida por varfarina (rara, ocorre em indivíduos com deficiência de proteína C), efeitos teratogênicos. O efeito da varfarina é revertido pela administração de vitamina K; infusão de PFC se for necessária reversão urgente. Vários fármacos potencializam ou antagonizam o efeito da varfarina. Os agentes potencializadores incluem clorpromazina, hidrato de cloral, sulfonamidas, cloranfenicol, outros antibióticos de amplo espectro, alopurinol, cimetidina, antidepressivos tricíclicos, dissulfiram, laxantes, salicilatos em altas doses, tiroxina, clofibrato. Alguns pacientes sensíveis aos efeitos da varfarina apresentam defeitos genéticos no metabolismo do fármaco. Os agentes que antagonizam a varfarina incluem vitamina K, barbitúricos, rifampicina, colestiramina, contraceptivos orais, tiazídicos. Fondaparinux: pentapeptídeo que inibe diretamente o fator Xa. É administrado em uma dose de 2,5 mg SC diariamente para profilaxia e em uma dose diária de 7,5 mg SC para o tratamento da trombose; não requer monitoração. Ao contrário das heparinas, não se liga ao fator plaquetário IV e não induz os anticorpos que produzem TIH. O apixaban e a rivaroxabana são inibidores do fator Xa orais. O apixaban (5 mg VO 2×/dia) é tão efetivo quanto a varfarina para TVP e mais efetivo na prevenção de AVC em casos de FA. Argatrobana e lepirudina: inibidores diretos da trombina. Esses agentes estão sendo comparados com a HBPM e são comumente usados em pacientes com TIH. Ambos são monitorados com o TTP ativado. A dabigatrana (150 mg VO 2×/dia) é um inibidor oral da trombina e não é inferior à varfarina para TVP e prevenção de AVC na FA. ACOD: anticoagulantes orais diretos. Incluem o inibidor direto da trombina dabigatrana e os inibidores do fator Xa rivaroxabana, apixabana e edoxabana. A anticoagulação hospitalar é habitualmente iniciada com heparina por 4 a 10 dias, com manutenção subsequente com varfarina após superposição de ambos os fármacos @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 13 13 por 3 dias. A duração do tratamento depende da condição subjacente; TVP da panturrilha com causa precipitante definida, 3 meses; TVP proximal ou idiopática ou EP, 6 a 12 meses; TVP idiopática recorrente, 12 meses, no mínimo; doença embólica com fator de risco constante, uso prolongado e indefinido. Os novos inibidores orais de trombina e Xa são mais fáceis de usar do que a varfarina. Eles têm eficácia pelo menos comparável, menores taxas de sangramento e não necessitam de monitoramento laboratorial. Eles não são eficazes em pacientes com problemas de válvula cardíaca. Agentes de reversão incluem o andexanete-alfa, um recombinante modificado do fator Xa que age como um chamariz para os inibidores do fator Xa, e o idarucizumabe, um fragmento do anticorpo monoclonal com alta afinidade pela dabigatrana. AGENTES FIBRINOLÍTICOS Os ativadores do plasminogênio tecidual (tPAs) medeiam a lise do coágulo, ativando a plasmina, que degrada a fibrina. Os agentes atualmente disponíveis incluem a estreptocinase, a urocinase, a anistreplase (complexo de ativador estreptocinase do plasminogênio acilado) e três formas um pouco distintas de ativador do plasminogênio tecidual (tPA) recombinante: alteplase, tenecteplase e reteplase. As indicações incluem tratamento da TVP, com incidência mais baixa de síndrome pós-flebite (estase venosa crônica, ulceração cutânea) que o tratamento com heparina;EP massiva, oclusão arterial embólica dos membros, tratamento do IAM, angina de peito instável. Doses dos agentes fibrinolíticos: (1) tPA – para IAM e EP massiva (adulto > 65 kg), injeção IV de 10 mg por 1 a 2 min; a seguir, 50 mg IV por 1 h e 40 mg IV nas próximas 2 h (dose total = 100 mg). O tPA é ligeiramente mais efetivo, porém mais caro que a estreptocinase para o tratamento do IAM. (2) Estreptocinase – para IAM, 1,5 milhão de UI IV, por 60 min; ou 20.000 UI na forma de infusão intracoronarina (IC) em bolus, seguida de 2.000 UI/min por 60 min IC. Para EP ou arterial ou trombose venosa profunda, 250.000 UI por 30 min; a seguir, 100.000 UI/h por 24 h (EP) ou 72 h (embolia arterial ou trombose venosa profunda). (3) Urocinase – para EP, 4.400 UI/kg IV por 10 min; a seguir, 4.400 (UI/kg)/h IV, por 12 h. A terapia fibrinolítica é habitualmente seguida de um período de tratamento anticoagulante com heparina. Os agentes fibrinolíticos estão contraindicados para pacientes com (1) sangramento interno ativo; (2) AVC recente (há menos de 2 a 3 meses); (3) neoplasia intracraniana, aneurisma ou traumatismo cranioencefálico recente. AGENTES ANTIPLAQUETÁRIOS O ácido acetilsalicílico inibe a função plaquetária ao bloquear a capacidade da ciclo-oxigenase (COX-1) de sintetizar tromboxano A2. As tienopiridinas (ticlopidina e clopidogrel) inibem a agregação plaquetária induzida pela ADP ao bloquearem seu receptor (P2Y12). O dipiridamol age inibindo a fosfodiesterase, o que permite que os níveis de AMPc aumentem e bloqueiem a ativação. Os antagonistas da glicoproteína IIb/IIIa (GPIIb/IIIa) bloqueiam os receptores de integrina nas plaquetas e impedem a agregação plaquetária. Na atualidade, dispõe- se de três desses agentes: o abciximabe, um fragmento de anticorpo Fab, que se liga à forma ativada da GPIIb/IIIa; a eptifibatida, um heptapeptídeo cíclico que inclui tripeptídeo KGD, reconhecido pelo receptor de GPIIb/IIIa, e tirofibana, um derivado da tirosina, que mimetiza o tripeptídeo KGD. O ácido acetilsalicílico (160 a 325 mg/dia) mais o clopidogrel (dose de ataque de 400 mg, seguida de 75 mg/dia) podem ser benéficos para reduzir a incidência de eventos trombóticos arteriais (AVC, IAM) em pacientes de alto risco. Os agentes antiplaquetários mostram-se úteis na prevenção de AVCs, complicações de intervenções coronarianas percutâneas e progressão da angina instável. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Filho, Geraldo B. Bogliolo - Patologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021. Jameson, J., L. et al. Manual de medicina de Harrison. Disponível em: Minha Biblioteca, (20ª edição). Grupo A, 2021.
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