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@anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 06 1 OBJETIVOS 1. Estudar o diagnostico e manejo do paciente com sepse; a. Avaliação laboratorial. 2. Discutir o diagnóstico e tratamento da AIDS; a. Aspectos bioéticos do diagnóstico. 3. Compreender protocolos de comunicação de más notícias. HIV / AIDS TR-1 e TR-2 de fabricantes diferentes. INTRODUÇÃO A pandemia causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), responsável pela síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS/SIDA), ainda constitui um dos principais problemas de saúde pública no mundo todo. Migração populacional, urbanização, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, declínio da economia, estigma e aumento na incidência de doenças sexualmente transmissíveis são também condições favoráveis para a disseminação da epidemia de AIDS, especialmente nos países em desenvolvimento. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 06 2 O HIV é transmitido por secreções sexuais, por sangue e por outros fluidos biológicos. Embora em algumas regiões haja maior frequência de transmissão por relações sexuais entre homens, a maioria das infecções ocorre globalmente por contatos heterossexuais. Em crianças, na maioria das vezes a transmissão se dá a partir da mãe infectada, durante a gestação, o parto ou a amamentação. Medidas adicionais, como parto cesáreo, substituição do aleitamento materno e introdução da terapia antirretroviral em recém-nascidos, promoveu redução substancial na transmissão da mãe para o concepto para cerca de 1% das gestações. Embora grande parte da transmissão do HIV para o concepto seja perinatal, o vírus já foi identificado no líquido amniótico e em órgãos fetais, mostrando que transmissão transplacentária é possível. A prevenção da transmissão sexual da infecção, que é uma prioridade desde o início da epidemia, envolve modificações nos hábitos e no comportamento sexual das pessoas. Circuncisão masculina é também eficaz. O uso de antirretrovirais para controlar a infecção e para reduzir a transmissão do HIV transformou-se, no mundo todo, em uma das principais estratégias de saúde pública. VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA O HIV é um lentivírus com genoma RNA da família Retroviridae, pertencente ao grupo dos retrovírus não citopáticos e não oncogênicos que necessitam, para multiplicar-se, da enzima transcritase reversa, responsável pela transcrição do RNA viral em uma cópia de DNA (provírus) capaz de se integrar ao genoma da célula hospedeira. Há dois tipos do vírus: − HIV-1 com quatro subgrupos: M (major), N (on- M), O (outlier) e P (pending the identification); o subgrupo M tem nove subtipos, sendo o HIV- 1M, subtipo B, o mais prevalente fora do continente africano e o responsável pela pandemia existente em todos os continentes; − HIV-2, circunscrito à África oriental e a algumas regiões da Índia. CICLO DE VIDA DO HIV EM UM LINFÓCITO T CD4+ 1. O HIV liga-se ao CD4 e ao receptor de quimiocina (RQ). 2. O envelope do vírus funde-se à membrana do linfócito e o capsídeo, com o RNA viral, vai para o citosol. 3 e 4. O capsídeo é desmontado e o RNA viral serve de molde para a cópia do DNA complementar do vírus, com participação da transcritase reversa (TR). 5. O cDNA viral (provírus) é transportado ao núcleo, onde se integra ao DNA do linfócito (6), com participação de integrasse, ou permanece como DNA circular. 7. O DNA viral é transcrito em RNA, que é processado e origina RNA mensageiros que são transportados ao citoplasma (9), onde são traduzidas as proteínas do vírus. 8. O RNA viral genômico não é processado e é transportado ao citoplasma, onde se associa a proteínas do vírus para montagem do capsídeo (10). 11. O capsídeo é deslocado até a membrana citoplasmática, onde se forma o envelope viral, com participação de componentes da membrana do linfócito. 12. Uma vez envelopado, o vírus é eliminado. INFECÇÃO PELO HIV A infectividade do HIV é baixa, havendo variações entre os diferentes tipos virais, maior no HIV-1 grupo M, que é responsável por mais de 99% das infecções no Brasil. O vírus penetra no organismo através de mucosas (orofaringe, reto ou genitais), de sangue e de outros fluidos biológicos. Contato de material contaminado com a pele ou mucosas íntegras parece não causar infecção. Sangue e esperma são os produtos mais infectantes (nos quais existem vírus livres e células infectadas), sendo duvidosa a existência do vírus em secreções exócrinas, como a saliva. Contato sexual, transfusões de sangue contaminado ou seus derivados e uso de drogas injetáveis são as formas mais comuns de transmissão do vírus. − A infecção viral depende do receptor CD4 e de correceptores nas células. − No início da infecção, há intensa replicação viral nos linfonodos e no baço, mas é no tecido @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 06 3 linfoide associado à mucosa intestina que a replicação é maior. − Macrófagos/micróglia e astrócitos atuam como reservatório do vírus. No SNC, a infecção tem algumas particularidades. A chegada do vírus ao SNC ocorre durante a viremia secundária e se faz por meio de monócitos infectados que atravessam a barreira hematoencefálica. Algumas drogas, como cocaína e metanfetamina, lesam a barreira hematoencefálica e facilitam a entrada de monócitos infectados no SNC. No tecido nervoso, os monócitos diferenciam-se em macrófagos/micróglia e produzem citocinas pró-inflamatórias (IL-β, IFN-γ e TNF), que aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica, favorecendo a entrada de mais monócitos infectados no SNC. A partir dessas células, astrócitos são infectados por mecanismo independente do receptor CD4+ (astrócitos não possuem esse receptor) por meio de vesículas intracelulares CD81+ que atuam como reservatório viral e disseminam o vírus no SNC por difusão de célula a célula. Na fase inicial da infecção, em geral não há manifestações neurológicas, embora alguns indivíduos apresentem sinais e sintomas de meningite, encefalite e polineuropatia, quase sempre associados a manifestações clínicas sistêmicas de infecção primária e soroconversão. Os sintomas persistem por 2 a 3 semanas e depois regridem, coincidindo com o desenvolvimento da resposta imunitária anti-HIV. A presença do HIV no SNC e o encontro de alterações inflamatórias e RNA viral no liquor no início da infecção indicam a necessidade de medidas terapêuticas precoces, tão logo seja confirmado o diagnóstico. A infecção do SNC pelo HIV pode evoluir para neuroAIDS, que é infecção crônica, persistente e progressiva acompanhada de neurodegeneração. Clinicamente, há transtorno cognitivo e déficit de atenção, concentração, memória, aprendizado, processamento da informação e função executiva. Surgem também alterações motoras, como lentidão de movimentos, incoordenação e tremores, que podem progredir para fraqueza, espasticidade, distúrbios do movimento extrapiramidal e paraparesia, além de distúrbios do comportamento (apatia e irritabilidade). A gravidade do processo varia, havendo formas: − Assintomáticas (30 a 35% dos pacientes), conhecidas como distúrbio neurocognitivo assintomático, diagnosticado por testes neuropsicológicos, sem interferir com as atividades ocupacionais e sociais; − Sintomáticas (20 a 25% dos casos), que afetam pouco a cognição e as atividades do dia a dia, referidas como distúrbio neurocognitivo discreto; − Graves (2 a 3% dos casos), que comprometem a cognição e as atividades ocupacionais e sociais, denominadas demência associada ao HIV. HISTÓRIA NATURAL DA INFECÇÃO Observações de grandes séries de pacientes acompanhados antes da terapêutica antirretroviral mostram que a grande maioria dos indivíduos expostos ao vírus (90%) infecta-se, tem fase aguda da infecção e entra em uma fase assintomática de duração variável(mediana de 10 anos) antes de apresentar as manifestações de AIDS. Cinco a 15% dos infectados (dependendo da região) têm comportamento diferente: alguns progridem muito rapidamente para AIDS em até 3 anos (progressores rápidos) e outros permanecem por longos anos (20 ou mais) com carga viral muito baixa (progressores lentos) e outros, ainda, mantêm viremia indetectável e podem não desenvolver AIDS (controladores de elite). Alguns indivíduos têm resistência natural à infecção: mesmo expostos continuadamente ao vírus, não se infectam. INFECÇÃO LATENTE. RESERVATÓRIOS DO HIV Com a terapêutica antirretroviral eficiente, tem-se observado que a carga viral é mantida indetectável enquanto se mantém a medicação, mas que a viremia reaparece e progride quando o tratamento é suspenso. Uma explicação para a reativação da viremia é a existência de infecção latente pelo HIV. Infecção latente por um retrovírus é condição na qual o DNA viral (provírus integrado ao DNA da célula) está silenciado, mas pode voltar a ser transcrito quando estimulado por fatores que revertem a latência. Infecção latente tem sido demonstrada de modo inequívoco com o HIV, especialmente em linfócitos T de memória, que permanecem quiescentes por longos períodos; embora existam demonstrações de infecção latente em linfócitos T foliculares, linfócitos T virgens, macrófagos, células dendríticas e astrócitos, não há evidências de que a latência nessas células tenha a estabilidade da encontrada em linfócitos T de memória. Na infecção latente, o vírus sobrevive, pois a célula infectada não é alvo de resposta imunitária nem de antirretrovirais, impedindo a efeito curativo do tratamento. Células com infecção latente funcionam como reservatórios dos vírus, embora nem todos os reservatórios virais estejam relacionados com infecção latente. Células infectadas podem permanecer e proliferar em sítios onde a chegada de antirretrovirais é mais difícil, como o sistema nervoso central. Macrófagos, micróglia e astrócitos podem ser infectados e manter a proliferação viral sem se tornarem alvos de antirretrovirais, embora não alterem a viremia indetectável por ação do tratamento. Retirados os medicamentos, a viremia retorna a partir desse reservatório no SNC. PREVENÇÃO DA INFECÇÃO POR HIV PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO SEXUAL @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 06 4 O risco de transmissão do HIV após um contato sexual desprotegido, seja por violência sexual ou acidental, pode ser reduzido com o uso da profilaxia pós-exposição sexual (PEP). Essa estratégia foi regulamentada pelo Ministério da Saúde em 2010. A PEP consiste no uso de esquema antirretroviral que deve ser iniciado até 72 horas após a exposição e manter- se por 28 dias. Na avaliação inicial de um caso de exposição sexual, deve-se considerar o tipo de exposição e o parceiro envolvido, indicando-se ou não a profilaxia, conforme critérios. Nos casos de parceiro com sorologia desconhecida, deve- se estimular a testagem mediante realização de teste rápido no intuito de interromper a PEP, caso esse exame resulte não reagente. O paciente exposto também deve ser testado no primeiro atendimento para descartar infecção por HIV prévia à exposição atual. Uma vez iniciada a PEP, o paciente deve ser encaminhado para aconselhamento e acompanhamento sorológico até 6 meses após a exposição. O esquema antirretroviral preferencial para a PEP compõe-se de tenofovir + lamivudina + zidovudina. Essa escolha apresenta menor risco de eventos adversos gastrointestinais e de interações farmacológicas desfavoráveis. Em pacientes com contraindicação ao tenofovir, este deve ser substituído por lopinavir/ritonavir. EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL Profissionais da saúde podem se expor ao risco de se infectar com materiais biológicos que contêm HIV. Para redução desse risco adotam-se precauções-padrão (precauções universais) que, se utilizadas de maneira correta, são capazes de bloquear a transmissão. Em casos de exposição ocupacional acidental, recomenda-se a profilaxia pós-exposição para reduzir a probabilidade de estabelecimento da infecção. A indicação de profilaxia para um profissional da saúde acidentado deve considerar a situação do paciente-fonte e o tipo de exposição ocorrida. Sempre que possível, recomenda--se a testagem para HIV do paciente-fonte, interrompendo-se a profilaxia se o teste resultar negativo. Quanto ao tipo de exposição, são consideradas de maior risco as percutâneas causadas por agulhas com lúmen, estimando-se a probabilidade de transmissão em cerca de 0,3%. Exposições mucosas apresentam risco baixo, de aproximadamente 0,03%. O conhecimento do material biológico envolvido também é importante, uma vez que somente sangue, sêmen, leite materno e líquidos corporais como pleural, sinovial, amniótico e liquor apresentam risco significativo. Quando indicada, a profilaxia deve ser iniciada até 72 horas após a exposição e ser mantida por 28 dias. Em casos de exposição percutânea, recomenda-se como primeira escolha a associação tenofovir, lamivudina e zidovudina. Para exposições envolvendo mucosas, usa- se esquema duplo com lamivudina e zidovudina. Recomenda-se a testagem para HIV do exposto para investigar infecção por HIV prévia à exposição acidental. Nos casos em que a profilaxia foi indicada, o profissional acidentado deve ser encaminhado para acompanhamento sorológico em 1, 3 e 6 meses após a exposição. CIRCUNCISÃO MASCULINA A circuncisão masculina, ou excisão cirúrgica do prepúcio, havia sido associada em estudos observacionais à redução do risco de aquisição do HIV em homens heterossexuais desde 1986. O efeito biológico presumido da circuncisão ocorreria de forma direta, através da queratinização da glande, da redução da superfície de tegumento e do volume de células suscetíveis à entrada do vírus, ou de forma indireta, através da redução da aquisição de outras doenças sexualmente transmissíveis, que facilitam a aquisição do HIV. Por motivos culturais e financeiros, a implementação da circuncisão como estratégia de prevenção em ampla escala encontra barreiras importantes. TRATAMENTO COMO PREVENÇÃO O tratamento como prevenção caracteriza-se pela introdução de tratamento antirretroviral para o paciente soropositivo como forma de reduzir o risco de transmissão para o parceiro soronegativo. Esse tratamento é altamente eficaz, reduzindo em cerca de 96% o risco de transmissão viral vinculada entre os componentes do casal soro discordante; evidentemente, o parceiro soronegativo permanece vulnerável à aquisição do HIV a partir de outros parceiros sexuais. Essa forma de profilaxia reduz o risco de transmissão do HIV através da redução da concentração de partículas virais nas secreções genitais, decorrente da supressão da replicação viral com o tratamento. QUADRO CLINICO As manifestações clínicas da infecção por HIV podem ser divididas em três fases: infecção aguda, fase de latência clínica e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). A duração de cada fase é consequência da evolução virológica e imunológica após a infecção por HIV. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 06 5 INFECÇÃO AGUDA Durante os dez primeiros dias após a infecção, ocorre o período chamado de eclipse, no qual não é possível detectar o vírus com nenhum método atualmente disponível. Estabelece-se a infecção primária e o agente se dissemina para vários órgãos-alvo a partir de partículas virais livres e linfócitos T infectados. Os órgãos infectados incluem trato gastrointestinal, medula óssea, linfonodos, baço e sistema nervoso central. Observa-se um pico de viremia resultante de altas taxas de replicação viral. Os sintomas de infecção aguda iniciam-se após período de incubação de 2 a 3 semanas e estão presentes em 40a 90% dos casos. O quadro clínico, na maioria das vezes, é caracterizado por sintomas inespecíficos como febre e anorexia, semelhante a outras infecções virais e com pouca repercussão no estado geral. Os sintomas duram em média 2 semanas, mas podem persistir por até 10 semanas. A sintomatologia reflete a resposta imune celular e está relacionada à magnitude da produção de citocinas para o controle da replicação viral no hospedeiro. Exantema maculopapular acometendo principalmente tronco, face, palmas das mãos e plantas dos pés é um sinal característico da infecção aguda por HIV. Podem ocorrer, ainda, lesões ulceradas e aftosas na boca, no esôfago e na região genital. Manifestações neurológicas variam de cefaleia inespecífica até quadros raros de meningoencefalite, meningite, síndrome de Guillain-Barré, radiculopatia, neuropatia periférica, paralisia facial, neurite braquial e alterações comportamentais. Outras manifestações clínicas raras relacionadas à infecção aguda por HIV foram descritas: glomerulonefrite lupus- like linfoistiocitose hemofagocítica candidíase esofágica, linfoma de Burkitt. O diagnóstico diferencial da infecção aguda por HIV deve ser feito com os quadros mononucleose-símile, como infecções agudas por vírus Epstein-Barr, citomegalovírus, toxoplasmose, doença de Chagas, sífilis secundária, rubéola e farmacodermia. FASE DE LATÊNCIA CLÍNICA Corresponde ao período de controle parcial da replicação viral pelos linfócitos T CD8 citotóxicos. Nessa fase, observa-se uma oscilação do nível de linfócitos T CD4+ e da carga viral, com depleção lenta e progressiva das células T CD4+, até atingir a fase de imunodeficiência estabelecida. A fase de latência clínica é variável, com duração média de 7 a 10 anos após a infecção primária. Alguns fatores influenciam na progressão mais precoce para aids: presença de manifestação clínica de infecção aguda, menor número de linfócitos T CD4+ antes da estabilização na fase de latência (set point) e soroconversão tardia durante a fase da infecção primária Nessa fase de evolução, o paciente em geral é assintomático, mas eventualmente pode apresentar linfadenomegalia generalizada. Nesse período, os linfócitos T CD4 encontram-se acima de 350 células/mm e as doenças comuns à população em geral são as que mais acometem os pacientes. SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS) Caracteriza-se por deterioração imunológica que predispõe à manifestação de doenças secundárias à imunodeficiência. O paciente pode apresentar infecções por agentes oportunistas, doenças neoplásicas e quadros clínicos causados pela infecção crônica por HIV. CLASSIFICAÇÃO Baseada em sintomatologia e aferição de células T CD4+. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 06 6 A categoria A compreende os pacientes assintomáticos, com infecção aguda por HIV ou linfadenomegalia generalizada progressiva. Na categoria B, encontram-se pacientes com manifestações que representam deterioração gradual de imunidade, antes da imunodeficiência grave estabelecida. As manifestações de categoria C são aquelas consequentes à imunodeficiência avançada, consideradas doenças definidoras de aids (DDA). SINTOMATOLOGIA Número de T CD4+ A B C > 500 A1 B1 C1 200-500 A2 B2 C2 < 200 A3 B3 C3 Fonte: Centers for Disease Control and Preven-tion (CDC) – 1982. Consideram-se com AIDS todos os classificados como A3, B3, C1, C2 ou C3. Apesar dos avanços da terapia antirretroviral, as doenças oportunistas e as manifestações secundárias à infecção crônica por HIV ainda são responsáveis pelas altas taxas de mortalidade em pacientes infectados por HIV, que se manteve acima de 6 a cada 100 mil habitantes no Brasil de 1998 a 2011, quando passa a ser de 5,6 a cada 100 mil. As doenças oportunistas e as manifestações secundárias ao próprio HIV podem comprometer qualquer órgão ou sistema. Os principais sistemas acometidos são os pulmões, o sistema nervoso central, o trato gastrointestinal e os órgãos do sistema reticuloendotelial. As manifestações pulmonares podem ser decorrentes tanto de agentes oportunistas e neoplasias, como dos mesmos agentes que aco-metem indivíduos não infectados pelo HIV, por exemplo, S. pneumoniae. É importante notar que as medicações antirretrovirais também podem ocasionar eventos adversos com manifestação pulmonar. As manifestações neurológicas podem ser divididas em meningoencefalites, encefalites, meningites, alterações cognitivas e alterações periféricas. Podem ser decorrentes de agentes infecciosos oportunistas, neoplasias ou do próprio HIV. As manifestações gastrointestinais podem acometer o tubo digestivo ou vísceras relacionadas ao sistema gastrointestinal, como sistema hepatobiliar e pâncreas. Podem ser causadas por agentes infecciosos oportunistas, neoplasias ou pelo próprio HIV. Disfagia, odinofagia, náusea, vômitos, diarreia aguda ou crônica, enterorragias, dor abdominal ou obstipação intestinal podem ser manifestações de alterações gastrointestinais, dependendo da localização da doença e sua etiologia. As alterações hematológicas podem se apresentar por citopenias isoladas (anemia, leucopenia, plaquetopenia) ou combinadas. Podem ser decorrentes da infecção pelo próprio HIV ou secundárias a infecções oportunistas ou toxicidade medicamentosa PRINCIPAIS DOENÇAS OPORTUNISTAS − Pneumocistose; − Neurotoxoplasmose; − Tuberculose; − Complexo Mycobacterium avium-intracellulare (MAC); − Criptococose; − Histoplasmose; − Citomegalovírus (CMV); − Leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP); − Reativação de doença de Chagas; − Sarcoma de Kaposi. DIAGNOSTICO Dois testes rápidos diferentes são usados sequencialmente, com amostras de sangue, com o objetivo de melhorar o valor preditivo positivo do fluxograma de testagem. A amostra de sangue pode ser obtida por punção da polpa digital ou por punção venosa em tubo contendo anticoagulante. Esse fluxograma é indicado para ser aplicado nas situações e locais nas quais o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais recomenda a utilização de Testes Rápidos. Além de sangue total, a maioria dos TR permite a utilização de soro ou plasma como amostra para a realização do teste. MANEJO A frequência das consultas depende inicialmente do estadiamento da infecção por HIV e das condições clínicas do paciente. Quanto mais sintomas e quanto @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues MARC 06 7 maior a imunodepressão, mais próximas devem ser as avaliações médicas, no sentido de identificar e tratar possíveis doenças associadas ao HIV. Na PRIMEIRA CONSULTA deve-se solicitar hemograma, contagem de LT-CD4+ e carga viral do HIV, avaliação hepática e renal (AST, ALT, creatinina, ureia, sódio, po-tássio, exame básico de urina), parasitológico de fezes, testes não treponêmicos (VDRL ou RPR), triagem de hepatites virais (anti-HAV, anti- HCV, HBs Ag, anti-HBcT e anti-HBs), sorologias para toxoplasmose, HTLV-1 e -2 e Chagas, além de dosagem de colesterol e triglicérides, glicemia de jejum, prova tuberculínica (PPD) e radiografia de tórax. Após início ou troca de antirretroviral (ARV), a reavaliação deverá ocorrer em 7 a 15 dias para verificar tolerância, eventos adversos e adesão ao tratamento. Consultas mensais, nesse momento inicial, têm o objetivo de observar o paciente durante sua adaptação à TARV. Pacientes clinicamente estáveis, em uso regular de medicação podem ser reavaliados a intervalos de 3 a 6 meses. A coleta de carga viral deve ser indicada antes do início ou troca de TARV, de 2 a 3 meses após esses eventos. Para pacientes estáveis, com boa adesão e controle da replicação viral, coletas semestrais são suficientes para monitorar o tratamento. A aferição de linfócitos CD4 também pode ser feita semestralmente em pacientes comresultados acima de 200 células/mm. Outros exames e respectivas frequências serão indicados de acordo com o paciente e perfil de toxicidade dos medicamentos utilizados. TRATAMENTO A terapia antirretroviral (TARV) combinada, também conhecida como terapia antirretroviral altamente ativa (HAART), é a base do tratamento dos pacientes infectados pelo HIV. O tratamento ideal, nessas condições, deve suprimir a replicação viral ao máximo, sem promover resistência aos medicamentos. Deve melhorar ou prevenir a imunodepressão. Deve diminuir o risco de progressão da doença e de condições associadas à presença da aids, como doenças neurológicas, psiquiátricas, cardiovasculares, ósseas, neoplasias, entre outros. Deve aumentar a sobrevida e a qualidade de vida. E deve reduzir a transmissão tanto vertical quanto horizontal do vírus. Os fármacos atualmente disponíveis para o tratamento da infecção pelo HIV como parte de um regime combinado são classificados em quatro grupos: inibidores da enzima viral transcriptase reversa (inibidores nucleosídeos e nucleotídeos da transcriptase reversa; inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa); inibidores da enzima viral protease (inibidores de protease); inibidores da enzima viral integrase (inibidores de integrase); e fármacos que interferem com o acesso do vírus (inibidores de fusão; antagonsitas do CCR5) REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Filho, Geraldo B. Bogliolo - Patologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Grupo GEN, 2021. Manual técnico para o diagnóstico da infecção pelo HIV. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecni co_diagnostico_infeccao_hiv.pdf. Martins, Mílton de, A. et al. Clínica Médica, Volume 7: Alergia e Imunologia Clínica, Doenças da Pele, Doenças Infecciosas e Parasitárias. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Editora Manole, 2016. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_diagnostico_infeccao_hiv.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_diagnostico_infeccao_hiv.pdf