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@anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues Dra. Mirtes 1 Terapêuticas para Profilaxia Pré e Pós Exposição do HIV. PREVENÇÃO COMBINADA O termo “Prevenção Combinada” remete à conjugação de diferentes ações de prevenção às IST, ao HIV e às hepatites virais e seus fatores associados. O símbolo da mandala representa a combinação e a ideia de movimento de algumas das diferentes estratégias de prevenção, sendo a PEP uma delas. Essa combinação de ações deve ser centrada nas pessoas, em seus grupos sociais e na sociedade em que estão inseridas, considerando as especificidades dos sujeitos e dos seus contextos. A oferta de PEP deve levar em conta que esse instrumento pode ser a porta de entrada para outras ofertas de Prevenção Combinada, assim como para o cuidado integral. PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO (PrEP) A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) consiste no uso de antirretrovirais (ARV) para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV. É indicado para quem não tem HIV, mas está exposto ao vírus (pessoas trans e travestis, gays e outros HSH, profissionais do sexo e parcerias sorodiferentes). No Brasil, a prevalência da infecção pelo HIV, na população geral, encontra-se em 0,4%, enquanto alguns segmentos populacionais demonstram prevalências de HIV mais elevadas. Esses subgrupos populacionais são gays e outros HSH, pessoas que usam drogas, profissionais do sexo e pessoas trans. Pessoas em parceria sorodiscordante para o HIV também são consideradas prioritárias para uso da PrEP. As evidências científicas já indicam a baixa transmissibilidade de HIV por via sexual quando uma pessoa HIV positiva está sob terapia antirretroviral (TARV) há mais de seis meses, apresenta carga viral indetectável e não tem nenhuma outra IST. Adicionalmente, entende-se que a PrEP pode ser utilizada pelo (a) parceiro (a) soronegativo (a) como forma complementar de prevenção para casos de relato frequente de sexo sem uso de preservativo, múltiplas parcerias e/ ou para o planejamento reprodutivo de casais sorodiscordantes. Assim, novamente, o simples pertencimento a um desses grupos não é suficiente para caracterizar indivíduos com exposição frequente ao HIV. Para essa caracterização é necessário observar as práticas sexuais, as parcerias sexuais e os contextos específicos associados a um maior risco de infecção. Portanto, devem também ser considerados outros indicativos, tais como: − Repetição de práticas sexuais anais e/ou vaginais com penetração sem o uso de preservativo − Frequência das relações sexuais com parcerias eventuais − Quantidade e diversidade de parcerias sexuais − Histórico de episódios de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) − Busca repetida por Profilaxia Pós-Exposição (PEP) − Contextos de troca de sexo por dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia, etc. SEGMENTOS POPULACIONAIS PRIORITÁRIOS E CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO DE PREP AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL INICIAL A avaliação dos critérios de elegibilidade para PrEP deve ser feita dentro de uma relação de vínculo e confiança, que permita compreender as situações de vulnerabilidades e de riscos envolvidos nas práticas sexuais, assim como as condições objetivas de adesão ao uso do medicamento. Na consulta inicial de triagem, a equipe de saúde deve se organizar para realizar os procedimentos e exames. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues Dra. Mirtes 2 AVALIAÇÃO INICIAL − Abordagem sobre gerenciamento de risco e vulnerabilidades. − Avaliação do entendimento e motivação para início da PrEP. − Avaliação da indicação de uso imediato de PEP, em caso de exposição recente (72hs). − Exclusão da possibilidade de infecção pelo HIV (por meio do teste e avaliação de sinais e sintomas de infecção aguda para HIV). − Identificação e tratamento das infecções sexualmente transmissíveis (IST) de acordo com o PCDT de IST. − Testagem para hepatites virais B e C. − Vacinação para hepatite B23. − Avaliação das funções renal e hepática. − Avaliação do histórico de fraturas patológicas. EXAMES DE TRIAGEM Exames Método Teste para HIV Teste rápido (TR) para HIV, utilizando amostra de sangue Teste para sífilis Teste treponêmico de sífilis (ex. teste rápido ou ELISA) ou não treponêmico (ex. VDRL ou RPR ou Trust) Identificação de outras IST (clamídia e gonococo) Pesquisa em urina ou secreção genital (utilizar metodologia disponível na rede. Ex. cultura) Teste para hepatite B Pesquisa de HBsAg (ex. teste rápido) e Anti-HBs Teste para hepatite C Pesquisa de Anti-HCV (ex. teste rápido) Função renal Clearance de creatinina. Dosagem de ureia e creatinina sérica. Avaliação de proteinuria (amostra isolada de urina). Função hepática Enzimas hepáticas (AST/ ALT) AVALIAÇÃO DO ENTENDIMENTO E MOTIVAÇÃO PARA INÍCIO DA PREP Deve-se explicar às pessoas que a PrEP é um método seguro e eficaz na prevenção do HIV, com raros eventos adversos, os quais, quando ocorrem, são transitórios e passíveis de serem manejados clinicamente. Convém reforçar que a efetividade dessa estratégia está diretamente relacionada ao grau de adesão à profilaxia. O uso diário e regular da medicação é fundamental para a proteção contra o HIV. No entanto, deve-se enfatizar que o uso de PrEP não previne as demais IST ou hepatites virais, sendo necessário, portanto, orientar a pessoa sobre o uso de preservativos. AVALIAÇÃO DA INDICAÇÃO DE PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO AO HIV Uma vez identificado que a pessoa potencialmente se expôs ao HIV dentro das últimas 72 horas, deve-se recomendar o início imediato da PEP, de acordo com o PCDT de PEP. Indivíduos com indicação momentânea de PEP podem ser futuros candidatos à PrEP. A transição para PrEP pode ser feita após os 28 dias de uso de PEP e exclusão de infecção por HIV. TESTAGEM PARA HIV (EXCLUIR A INFECÇÃO PELO HIV) Para a indicação do uso de PrEP, deve-se excluir o diagnóstico prévio da infecção pelo HIV, uma vez que a introdução da PrEP em quem já está infectado pode ocasionar a seleção de cepas resistentes. Recomenda-se a realização de teste rápido (TR) de HIV, utilizando amostra de sangue total, obtida por punção digital ou por punção venosa, soro ou plasma (de acordo com a indicação na bula do teste utilizado). Realiza-se um teste rápido (TR1) e, caso o resultado seja não reagente, o diagnóstico está definido como “amostra não reagente para HIV” e a pessoa poderá ser candidata à PrEP. Caso o TR1 seja reagente, deve-se realizar o TR2; se este apresentar resultado não reagente, ou seja, resultados discordantes entre TR1 e TR2, deve-se repetir o fluxograma. Persistindo a discordância dos resultados, uma amostra deve ser colhida por punção venosa e enviada ao laboratório para ser submetida a um dos fluxogramas definidos para laboratório. Aguardar resultado laboratorial para indicação de PrEP ou TARV. Pessoas com exposição de risco recente, sobretudo nos últimos 30 dias, devem ser orientadas quanto à possibilidade de infecção, mesmo com resultado não reagente nos testes realizados. Caso seja confirmada a infecção pelo HIV, a PrEP não está mais indicada. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues Dra. Mirtes 3 ESQUEMA ANTIRRETROVIRAL PARA PrEP Indica-se para a PrEP a combinação de tenofovir associado a entricitabina, em dose fixa combinada TDF/FTC 300/200mg, um comprimido por dia, via oral, em uso contínuo. Para relações anais, são necessários cerca de 7 (sete) dias de uso de PrEP para alcançar a proteção. Para relações vaginais, são necessários aproximadamente 20 (vinte) dias de uso. SEGUIMENTO DA PESSOA EM USO DE PrEP Nas consultas de seguimento, deve-se avaliar: − Acompanhamento clínico e laboratorial − Avaliação de eventos adversos − Avaliação de adesão, de exposições de risco e orientações sobre prevenção − Quando interrompera PrEP Uma vez que a PrEP é iniciada, deve-se realizar seguimento clínico e laboratorial a cada três meses. A realização de TR para HIV a cada visita trimestral é obrigatória. Durante o acompanhamento clínico, deve-se atentar para a possibilidade de infecção aguda pelo HIV, alertando a pessoa quanto aos principais sinais e sintomas, e orientando-a a procurar imediatamente o serviço de saúde na suspeita de infecção. Em caso de suspeita de infecção aguda, deve-se interromper imediatamente a PrEP e realizar a carga viral do HIV. A função renal necessita ser regularmente avaliada, pela dosagem de creatinina sérica e urinária para o cálculo do ClCr, devido à possibilidade de dano renal associado ao TDF. SEGUIMENTO CLÍNICO E LABORATORIAL DE PESSOAS EM USO DE PREP Avaliações Periodicidade Avaliação de sinais e sintomas de infecção aguda Trimestral (toda consulta de PrEP) Peso do paciente (em quilogramas) Trimestral Avaliação de eventos adversos à PrEP Trimestral Avaliação de adesão Trimestral Avaliação de exposições de risco Trimestral Dispensação de ARV após prescrição(a) Trimestral(a) Avaliação da continuidade de PrEP Trimestral Exames Método Periodicidade Teste para HIV Teste rápido para HIV, utilizando amostra de sangue total, soro ou plasma Trimestral (toda consulta de PrEP) Teste para sífilis Teste treponêmico de sífilis (ex. teste rápido ou ELISA) ou não treponêmico (ex. VDRL ou RPR ou Trust) Trimestral Identificação de outras IST (clamídia e gonococo) Pesquisa em urina ou secreção genital (utilizar metodologia disponível na rede. Ex. cultura) Semestral (ou mais frequente em caso de sintomatologia) Teste parahepatite B, em caso de não soroconversão da vacina. Pesquisa de HBsAg (ex. TR) e Anti-HBs. A depender da soroconversão da vacina para HBV. Teste para hepatite C Pesquisa de Anti- HCV (ex. TR) Trimestral Monitoramento da função renal Clearance de creatinina; dosagem de ureia e creatinina sérica; avaliação de proteinuiria (amostra isolada de urina) Trimestral Monitoramento da função hepática Enzimas hepáticas (AST/ ALT) Trimestral Teste de gravidez Trimestral (ou quando necessário) A PrEP deverá ser interrompida nos seguintes casos: − Diagnóstico de infecção pelo HIV; − Desejo da pessoa de não mais utilizar a medicação; − Mudança no contexto de vida, com importante diminuição da frequência de práticas sexuais com potencial risco de infecção; − Persistência ou a ocorrência de eventos adversos relevantes; − Baixa adesão à PrEP, mesmo após abordagem individualizada de adesão. Caso tenha havido relações sexuais com potencial risco de infecção pelo HIV, recomenda-se que o usuário mantenha o uso de PrEP por um período de 30 dias, a contar da data da potencial exposição, antes de interromper seu uso. Para usuários que interromperem o uso de PrEP, orienta- se: − Realização de teste anti-HIV no período de 4 semanas após a interrupção da profilaxia. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues Dra. Mirtes 4 Se uma pessoa usando PrEP tiver o diagnóstico de infecção pelo HIV, recomenda-se interromper imediatamente a PrEP, realizar exame de carga viral e genotipagem prétratamento e iniciar logo que possível a TARV. PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO (PEP) A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) ao HIV, hepatites virais, sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST) consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infecções. No atendimento inicial, após a exposição ao HIV, é necessário que o (a) profissional avalie como, quando e com quem ocorreu a exposição. TIPO DE MATERIAL BIOLÓGICO E EXPOSIÇÃO Existem materiais biológicos sabidamente infectantes e envolvidos na transmissão do HIV. Assim, a exposição a esses materiais constitui situação na qual a PEP está recomendada. O primeiro atendimento após a exposição ao HIV é uma urgência. A PEP deve ser iniciada o mais precocemente possível, tendo como limite as 72 horas subsequentes à exposição. STATUS SOROLÓGICO DA PESSOA EXPOSTA A indicação ou não de PEP irá depender do status sorológico para HIV da pessoa exposta, que deve sempre ser avaliado por meio de testes rápidos (TR) em situações de exposições consideradas de risco: − Amostra não reagente (TR1 não reagente): a PEP está indicada, pois a pessoa exposta é suscetível ao HIV. − Amostra reagente (TR1 e TR2 reagentes): a PEP não está indicada. A infecção pelo HIV ocorreu antes da exposição que motivou o atendimento e a pessoa deve ser encaminhada para acompanhamento clínico e início da terapia antirretroviral (TARV). − Amostra com resultados discordantes (TR1 reagente e TR2 não reagente): não é possível confirmar o status sorológico da pessoa exposta. STATUS SOROLÓGICO DA PESSOA-FONTE Não se deve atrasar e nem condicionar o atendimento da pessoa exposta à presença da pessoa-fonte. − Amostra não reagente (TR1 não reagente): a PEP não está indicada. − Amostra reagente (TR1 e TR2 reagentes): a PEP está indicada para a pessoa exposta. Se o status sorológico da fonte era previamente desconhecido, a pessoa- fonte deve ser comunicada individualmente sobre os resultados da investigação diagnóstica e encaminhada para acompanhamento clínico e início da TARV. − Se desconhecido: avaliar caso a caso. Nos casos envolvendo acidentes com fonte desconhecida (ex.: agulha em lixo comum, lavanderia, coletor de material perfurocortante) ou fonte conhecida com sorologia desconhecida (ex.: pessoa-fonte que faleceu ou que não se apresenta ao serviço para testagem), a decisão sobre instituir a PEP deve ser individualizada. INDICAÇÃO DE PEP @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues Dra. Mirtes 5 ESQUEMA ANTIRRETROVIRAL PARA PEP Quando recomendada a PEP, independentemente do tipo de exposição ou do material biológico envolvido, o esquema antirretroviral preferencial indicado para homens e mulheres deve ser GESTANTE Os critérios para indicação de PEP para essa população são os mesmos aplicados a qualquer outra pessoa que tenha sido exposta ao HIV. Pessoas que estejam amamentando e que tenham exposição de risco ao HIV devem ser orientadas sobre os potenciais riscos de transmissão vertical do HIV pelo leite materno. CRIANÇAS E ADOLESCENTES A profilaxia pós-exposição de risco à infecção pelo HIV é uma medida para prevenir infecção em crianças/adolescentes expostos a acidente com material perfurocortante, a violência sexual, a leite materno de pessoa vivendo com HIV ou a exposição sexual de risco. SEGUIMENTO LABORATORIAL A indicação de exames laboratoriais deve levar em consideração as condições de saúde pré-existentes da pessoa exposta e a toxicidade conhecida dos ARV indicados para PEP. PROFILAXIA DAS INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS Recomenda-se testagem para sífilis em todas as pessoas com exposição sexual de risco. Quando possível, testar a pessoa-fonte. A infecciosidade da sífilis por transmissão sexual ocorre principalmente nos estágios iniciais da doença (sífilis primária e secundária). Essa maior transmissibilidade explica-se pela intensa multiplicação do patógeno e pela riqueza de treponemas nas lesões, comuns na sífilis primária e secundária. Essas lesões são raras ou inexistentes por volta do segundo ano da infecção. Para o diagnóstico da sífilis, devem ser realizados os testes treponêmico e não treponêmico. Considerando a epidemia de sífilis no Brasil e a sensibilidade dos fluxos de diagnóstico, recomenda-se iniciar a investigação pelo teste treponêmico (teste rápido, FTA-Abs, Elisa, entre outros). Os TR fornecidos pelo Ministério da Saúde são testes treponêmicos. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues Dra. Mirtes6 CONDUTAS DE ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL RESUMO DO ATENDIMENTO/ CRONOGRAMA DE EXAMES LABORATORIAIS PROFILAXIA DAS HEPATITES VIRAIS HEPATITE A Recomenda-se imunizar até 14 dias da exposição, pessoas com anti HAV IgG ou total não reagente (97,6% de eficácia em menores de 40 anos), conforme critérios vigentes. Imunização contra Hepatite A: − Crianças de 15 meses a 4 anos, 11 meses e 29 dias - >1 dose. − Pessoas com prática sexual de contato oral-anal -> 1 dose. − Portadores de doenças imunossupressoras, hepáticas, hematológicas, doenças de depósito > 2 doses (0 e 6- 12 meses). HEPATITE B HEPATITE C − Eficácia=95%decura Anticoncepção de emergência, quando indicada (após afastar gravidez) → Levonorgestrel 1,5 mg, 1 comprimido VO, dose única. − Impede ou atrasa ovulação e inibe fertilização. − Administrar até o 5° dia. − Maior eficácia quando utilizada mais próximo à ocorrência (0,4 - 2,7% de falha). − Repetir dose, se vômitos até 2 horas (VO ou vaginal). − Menor eficácia da AE (LNG) em mulheres com sobrepeso/obesas. OBS. DIU de cobre: interfere no sêmen e no óvulo; promove resposta inflamatória (citocina e integrina), impede implantação do ovo.
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