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@anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 1 DIARREIA E CONSTIPAÇÃO DIARREIA INTRODUÇÃO Frequência da evacuação normal varia de três vezes por semana a três vezes por dia. DIARREIA: Aumento de volume das fezes acompanhado por diminuição da sua consistência e maior número de evacuações. Ao abordar um indivíduo com suspeita de diarreia, é necessário, em primeiro lugar, classificar o quadro que ele apresenta. Nos quadros de diarreia aguda, as infecções virais, principalmente por rotavírus, são responsáveis por 75 a 90% dos casos. As infecções bacterianas são a causa de 10 a 20% dos casos, com destaque para as infecções secundárias à Escherichia coli (Diarreia do Viajante). Diagnóstico diferencial de doenças que podem ter episódios de diarreia aguda como seus sintomas. DIARREIA AGUDA ANAMNESE − Focar em parâmetros que possam indicar gravidade e sintomas de desidratação. − Avaliar o início do quadro, a frequência das evacuações e a quantidade de fezes. − O caráter das fezes (Biliar, Sanguinolento ou Mucoide). − A presença associada de vômitos ou de febre. − A história médica prévia, o uso de medicamentos e o estado atual de saúde da pessoa, como a presença de imunossupressão e comorbidades. − E a presença de dicas epidemiológicas, como viagens recentes e epidemias atuais. EXAME FÍSICO Os sinais físicos são mais úteis para a determinação da gravidade da diarreia do que da sua etiologia; Aspecto mais importante a ser avaliado na diarreia aguda é o nível de hidratação dos indivíduos; PRINCIPAIS SINAIS DE DESIDRATAÇÃO: prolongamento do tempo de reperfusão capilar, a redução do turgor da pele e a alteração do padrão respiratório. EXAMES COMPLEMENTARES Na maioria das vezes, não é necessária a realização de exames complementares. A coprocultura deve ser solicitada apenas em casos graves, inflamatórios e com presença de sangue, e em casos de diarreia persistente ou em vigência de um surto. Na suspeita clínica e/ou epidemiológica de um surto/epidemia de cólera, talvez seja necessária a identificação de V. cholerae. O exame parasitológico de fezes, por outro lado, é raramente recomendado, sendo restrito a situações de persistência dos sintomas por mais de 2 semanas. Exames laboratoriais podem ser úteis na avaliação da desidratação grave, para apoiar o médico na suplementação de eletrólitos (Especialmente Potássio e Bicarbonato de Sódio). ABORDAGEM MEDICAMENTOSA A maioria dos episódios de diarreia aguda é autolimitada e, por isso, não exige antibioticoterapia; Segundo a OMS, o tratamento com antibióticos só está indicado nos seguintes casos: @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 2 1. Diarreia com Sangue e/ou Muco, sendo a Shiguella e a Salmonella os Principais Sgentes Etiológicos Responsáveis pelo Quadro; 2. Septicemia; 3. Suspeita de Infecção por V. cholerae com Desidratação Grave Associada; 4. Quadro de Giardíase ou Amebíase com Diagnóstico Confirmado por Exame Laboratorial. A pessoa deve ser reavaliada pelo médico até 48 horas após o início da antibioticoterapia. Medicações antidiarreicas ("Constipantes"), são contraindicadas. Quanto aos fármacos antieméticos, especificamente a metoclopramida, não há evidências de suporte adequado com o seu uso em crianças que apresentam vômitos. Dessa forma, orienta-se que ela deve ser evitada, uma vez que a sedação pode prejudicar a adesão ao tratamento com SRO. O quadro de vômitos cede quando se hidrata a criança, pois a desidratação, mesmo subclínica, pode causar vômitos. O impacto do uso de suplementação de zinco, tanto na redução da gravidade do episódio diarreico quanto na redução de episódios subsequentes de diarreia em crianças menores de 5 anos, tem sido demonstrado nos últimos anos. A dose recomendada é 20 mg de zinco por dia, durante 10 dias, para todas as crianças com diarreia. Os lactentes de 2 meses ou menores deveriam receber 10 mg por dia durante 10 dias. Os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades apropriadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro. Alguns probióticos, como Lactobacillus reuteri ATCC 55730, L. rhamnosus GG, L. casei DN-114 001 e Saccharomyces cer evisiae (boulardii) são úteis para reduzir a gravidade e a duração da diarreia aguda infecciosa infantil, abreviando em, aproximadamente, 1 dia a duração da doença. DIARREIA CRÔNICA ANAMNESE EXAME FÍSICO O exame físico na avaliação da diarreia crônica é, na maioria das vezes, inespecífico ou inalterado; Em alguns casos, pode sugerir importantes pistas para o diagnóstico etiológico, como a presença de úlceras orais, sinais de aterosclerose grave, linfadenomegalia, sinais de disautonomia e rash cutâneo, rubor ou hiperpigmentação da pele; Deve incluir o peso, a altura e o perímetro cefálico em um padrão gráfico de crescimento; Os sinais de deficiências nutricionais devem ser investigados, como a dermatite perianal, na deficiência de zinco, e alguma deformidade nas pernas, na deficiência de vitamina D; O abdome pode apresentar distensão nas síndromes de má absorção ou excesso de crescimento bacteriano no intestino, ou pode ser muito sensível em um estado inflamatório. O exame do reto também é importante e pode revelar doença perianal na Dil, por exemplo, ou perda de tecido subcutâneo da região na doença celíaca e em outros estados de desnutrição. EXAMES COMPLEMENTARES Categorizar a diarreia em aquosa, gordurosa ou inflamatória; O valor dos exames de imagem para os casos de diarreia crônica é limitado; Radiografias abdominais podem apresentar constipação ou dilatação do intestino delgado. A tomografia computadorizada ou a ressonância magnética podem ser úteis na DII, pois podem mostrar engrossamento do intestino; O teste respiratório com hidrogênio expirado pode evidenciar a má absorção de carboidratos; A endoscopia pode ser útil para revelar acúmulo de vilosidades duodenais e linfócitos intraepiteliais na doença celíaca ou na DIl. No atendimento à pessoa que apresenta um quadro de diarreia, o primeiro passo é definir o grau de desidratação para se escolher o plano de tratamento mais adequado. @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 3 ABORDAGEM MEDICAMENTOSA O tratamento da diarreia crônica deve ser realizado de acordo com a sua possível causa. Fundamentais as medidas de reidratação, de combate à desnutrição e de reposição das vitaminas e dos sais minerais. CONSTIPAÇÃO INTRODUÇÃO Queixa gastrintestinal mais comum na população geral; Referida pelas pessoas como alguma dificuldade com a evacuação e, em geral, é associada a alguma alteração do hábito intestinal; Fundamentando-se nas queixas dos pacientes, a constipação pode ser referida como fezes endurecidas, esforço excessivo no ato evacuatório, evacuações infrequentes, sensação de evacuação incompleta e até mesmo demora excessiva ao banheiro. CLASSIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL PRIMÁRIA: Também chamada de funcional. Suas principais causas são dietéticas e de estilo de vida, como o baixo consumo de fibras e o sedentarismo, além de distúrbios de motilidade idiopáticos do cólon; SECUNDÁRIA: Quando é associada a alguma condição patológica ou ao uso de medicamentos. ANAMNESE Tentar estabelecer o que realmente a pessoa considera como constipação e quais são as suas expectativas de um hábito intestinal normal; Sintomas de longa data, com melhoras e pioras ao longo do tempo, tendem a ser relacionados à constipação funcional, e causas orgânicas apresentam-se de forma mais aguda; A anamnese deve ser direcionada para a detecção de causas secundárias e dos alertas vermelhos. A inatividade física, seja por sedentarismo ou por doenças, também tem um papel importante na redução dos movimentos intestinais; A correta avaliação do usode medicamentos não pode ser esquecida, pois a motilidade colônica pode ser reduzida com o uso continuado de laxantes, enemas e outros medicamentos que não são essenciais; Sensação de esvaziamento retal incompleto, associada com uso de força excessiva para extrusão das fezes e manobras manuais frequentes para desimpactação direcionam para alterações obstrutivas/mecânicas anorretais, que incluem doença de Hirschprung, estreitamento anal, câncer, prolapso retal, retoceles ou disfunções do assoalho pélvico; Sintomas depressivos, de ansiedade, transtornos alimentares, somatizações, traumas na infância e abuso físico e sexual podem estar associados à constipação. Esses achados, em geral, apontam para a constipação funcional; Pessoas que tenham constipação de início na infância, com sintomas bastante expressivos, envolvendo uso de enemas para desobstrução e frequência de evacuação muito baixa (Podendo ficar até mais de 2 semanas sem movimento intestinal) são suspeitas de aganglionose colônica congênita (Doença de Hirschsprung). Em áreas endêmicas para doença de Chagas, deve-se levar em consideração a ocorrência de megacolon adquirido em pessoas com constipação de difícil tratamento. EXAME FÍSICO O exame abdominal comumente revela dor (Fraca e Sem Dor à Descompressão) e distensão abdominal, mesmo nas constipações funcionais crônicas: @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 4 − Massas intestinais são de difícil palpação, porém, quando encontradas, devem ser investigadas; − Fecalomas localizados em regiões mais altas do intestino também podem ser palpados e são representados por massas endurecidas, móveis, em topografia intestinal e indolores; − O peso e o estado nutricional devem ser observados para registrar emagrecimento e desnutrição. A palidez mucosa é um sinal indireto de anemia e deve sempre ser investigada. A inspeção em repouso e dinâmica (Com Manobra de Valsalva) identifica fissuras agudas e crônicas, escoriações, hemorroidas externas ou prolapsos retais; Podem-se identificar causas infecciosas, como herpes genital ou abscessos perianais, além de fístulas. Contração anal (Como se Fosse Defecar), a observação de assimetria na abertura do ânus ou a sua abertura excessiva denotam distúrbio neurológico que altera a função esfincteriana; O toque retal pode revelar massas, úlceras ou fecalomas; em homens, o exame também pode revelar aumento do tamanho da próstata; A retocele é verificada em exame ginecológico, pela proeminência da parede posterior da vagina ao solicitar que a paciente realize contração pélvica. EXAMES COMPLEMENTARES Não há evidências suficientes que permitam indicar o uso rotineiro de exames de sangue, radiológicos ou endoscópicos na avaliação de pessoas com constipação; Devem ser realizados para avaliação de uma possível causa secundária apenas quando a anamnese e o exame físico levantarem alguma suspeita específica; A realização da colonoscopia de rotina em pessoas constipadas não diagnostica doenças orgânicas mais frequentemente do que na população assintomática; A presença dos alertas vermelhos indica necessidade de investigar o TGI, devido a um aumento na probabilidade de haver uma doença orgânica associada, sobretudo neoplasias; Nesses casos, é recomendada a realização de colonoscopia ou retossigmoidoscopia flexível; É importante lembrar-se de que, após a idade de 50 anos, há recomendação para realização de rastreamento universal para câncer colorretal; Pode-se indicar a pesquisa de sangue oculto nas fezes para os indivíduos constipados com mais de 50 anos, para pesquisa de sinal de alerta e rastreamento de neoplasia colorretal. Identificar Causas Secundárias de Constipação e são Indicados nos Casos em que a Anamnese e o Exame Físico forem SUGESTIVOS DE ALGUMA ETIOLOGIA ESPECÍFICA 1. Hemograma Completo (Anemia, que pode Sugerir Neoplasias); 2. Glicose em Jejum (Diabetes); 3. Pesquisa de sangue oculto nas fezes (Sangramento Oculto, Neoplasias e etc); 4. Hormônio Estimulante da Tireoide (TSH) (Hipotireoidismo); 5. Potássio Sérico (Hipocalemia); 6. Cálcio Sérico (Hipercalcemia); 7. Exame Comum de Urina e Creatinina Sérica (Doença Renal). CONDUTA PROPOSTA Inicialmente educação para a saúde e mudanças de estilo de vida; A pessoa deve ser esclarecida sobre a variação da frequência de movimentos intestinais que são esperados e que não há necessidade de evacuações diárias para a manutenção da saúde; Aumento da ingestão de fibras e líquidos, além de manutenção de atividade física regular; Recomenda-se uma quantidade de 25 a 35 g de fibras diárias. As fibras provenientes de alimentos podem ser complementadas por farelos (Cereais) integrais, adicionando, por exemplo, duas a seis colheres de sopa de farelo de trigo, aveia ou linhaça a cada refeição, seguidos por um ou dois copos de água ou outro líquido; O aumento do consumo de fibras pode associar-se à dor abdominal, distensão e flatulência, devendo-se aumentar a dose diária gradualmente, para atenuar os efeitos colaterais; Nos casos que não responderem adequadamente às medidas anteriores, pode-se prescrever o uso de agentes laxativos; Encontram-se melhores evidências de que a lactulose, o polietilenoglicol e o psyllium podem aumentar a frequência ou reduzir a consistência das fezes, sendo mais eficazes do que placebo; Os agentes laxativos podem ser utilizados de forma intermitente, por períodos de alguns dias intercalados com intervalos sem medicamentos, ou de forma crônica; Parece adequado utilizar laxantes de forma @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 5 escalonada, e sem sobreposição: primeiramente, agentes formadores de bolo fecal, em conjunto com o aumento de fibras, de líquidos e a realização de exercícios físicos; Lembrar-se de que os formadores de bolo demoram 7 a 10 dias para produzirem efeitos; Posteriormente, pode ser utilizado um laxante osmótico, se necessário. Os laxantes osmóticos têm um tempo de início de ação de 24 a 48 horas; Em seguida, prescrever os laxantes estimulantes e emolientes, que devem ser usados apenas na ausência de resposta aos agentes anteriores; Os laxantes emolientes (Óleo Mineral, Docusato) necessitam de atenção em pessoas com disfagia, pelo elevado risco de aspiração. Além disso, em prazo mais prolongado, podem prejudicar a absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K); As técnicas de biofeedback: Treinamento para aprimorar o relaxamento da musculatura pélvica, associada a esforço evacuatório, para melhor atingir a defecação; Em pessoas com constipação de difícil tratamento, como idosos que têm pouca mobilidade ou doenças neurológicas, mudanças dietéticas e laxantes podem não ter efeito; Nesses casos, se a evacuação não ocorre a cada 3 dias e houver sintomas de desconforto, ou, ainda, quando houver fecaloma, podem ser utilizados enemas (Glicerinados ou de Água Morna) por alguns dias consecutivos (Sugere-se não exceder 3 dias) e fragmentação digital do fecaloma, para promover a desimpactação fecal, e, após uma adequada limpeza do trato digestório, manter uso de laxantes diariamente para manutenção e facilitação da evacuação; Nesses casos, a preferência é pelos laxantes com melhor evidência de benefício, como os osmóticos (Polietilenoglicol e Lactulose), seguidos dos laxantes estimulantes; Em pacientes acamados ou demenciados, pode ser necessária a manutenção de enemas, uma ou duas vezes na semana, para evitar recorrência na impactação, além do uso de supositórios de glicerina associados ao laxantes, uma vez que estes também auxiliam na liquefação das fezes.
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