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Diarreia INTRODUÇÃO As doenças diarreicas agudas (DDA) correspondem a um grupo de doenças infecciosas gastrointestinais. São caracterizadas por uma síndrome em que há ocorrência de no mínimo três episódios de diarreia aguda em 24 horas, ou seja, diminuição da consistência das fezes e aumento do número de evacuações, quadro que pode ser acompanhado de náusea, vômito, febre e dor abdominal. O conteúdo aumentado de água nas fezes (acima do valor normal de aproximadamente 10 mL / kg / d em bebês e crianças pequenas, ou 200 g / d em adolescentes e adultos) é devido a um desequilíbrio na fisiologia dos processos do intestino grosso envolvidos na absorção de íons, substratos orgânicos e, portanto, água. Em geral, são doenças autolimitadas com duração de até 14 dias. Em alguns casos, há presença de muco e sangue, quadro conhecido como disenteria. A depender do agente causador da doença e de características individuais dos pacientes, as DDA podem evoluir clinicamente para quadros de desidratação que variam de leve a grave. As DDA podem ser infecciosas e não infecciosas – - Infecciosas causadas por: bactérias e suas toxinas, vírus, parasitos, toxinas naturais. – Não infecciosas causadas por: intolerância alimentar, sais mal absorvidos, ácidos biliares (após ressecção ileal), gorduras não absorvidas, algumas drogas (ex.: óleo de rícino, prostaglandinas), hormônios peptídicos produzidos por tumores pancreático. ETIOPATOGENIA A transmissão das doenças diarreicas agudas podem ocorrer pelas vias oral ou fecal-oral. • Transmissão indireta - Pelo consumo de água e alimentos contaminados e contato com objetos contaminados, como por exemplo, utensílios de cozinha, acessórios de banheiros, equipamentos hospitalares. • Transmissão direta - Pelo contato com outras pessoas, por meio de mãos contaminadas e contato de pessoas com animais. Os manipuladores de alimentos e os insetos podem contaminar, principalmente, os alimentos, utensílios e objetos capazes de absorver, reter e transportar organismos contagiantes e infecciosos. Locais de uso coletivo, como escolas, creches, hospitais e penitenciárias apresentam maior risco de transmissão das doenças diarreicas agudas. O período de incubação, ou seja, tempo para que os sintomas comecem a aparecer a partir do momento da contaminação/infecção, e o período de transmissibilidade das DDA são específicos para cada agente etiológico. No trato gastrointestinal, o equilíbrio iônico, a absorção de fluidos e a secreção são vitais para manter a homeostase, permitindo a manutenção de um potencial de membrana, ingestão adequada de nutrientes, motilidade intestinal normal, proteção contra micróbios e viabilidade das células epiteliais . Este estado homeostático depende da função fisiológica normal das células do intestino delgado e grosso e de um conjunto complexo de mecanismos hormonais que controlam a motilidade intestinal, bem como a entrada e saída de fluido no lúmen gastrointestinal. Aproximadamente, 8–10 L de fluido passam pelo lúmen do intestino delgado diariamente. É notável que, na saúde, o intestino delgado absorve tudo menos 1,5 L e o cólon absorve o resto deixando aproximadamente 100 mL de fluido a ser perdido nas fezes. Os mecanismos de transporte de íons intestinais desempenham um papel significativo na determinação do equilíbrio geral de fluidos no intestino, a saber, secreção de cloreto, absorção eletroneutra de cloreto de sódio e absorção eletrogênica de sódio . Além disso, uma variedade de hormônios e neurotransmissores são sintetizados localmente na mucosa intestinal e modificam o transporte de íons intestinais diretamente pela ligação a receptores na membrana basolateralde enterócitos ou indiretamente por meio da liberação de outros efetores. Em certos estados fisiopatológicos, a troca de fluido iônico bem ajustada torna-se disfuncional como resultado da falha dos mecanismos compensatórios pró-absortivos / antissecretores. Diferentes mecanismos fisiopatológicos causadores de diarreia, principalmente secretório, osmótico, inflamatório, trânsito intestinal alterado e perda de área de absorção funcional. Do ponto de vista fisiopatológico, são dois os mecanismos básicos envolvidos: osmótico e secretor. Secundariamente a esses mecanismos, podem acontecer também alterações na motilidade intestinal. O mecanismo osmótico se observa quando há aumento da osmolaridade luminal, como acontece na diarreia associada ao rotavírus, em que ocorre dano na mucosa do intestino delgado proximal e redução na concentração da lactase no bordo em escova, consequentemente aumento da lactose não digerida na luz intestinal. O excesso de açúcar ao ser fermentado por bactérias que fazem parte da microbiota colônica dá origem a ácidos graxos de cadeia curta, radicais ácidos, o que explica a distensão e dor abdominal e em alguns casos a hiperemia perianal. A diarreia é aquosa e explosiva. O mecanismo secretório ocorre quando há um estímulo dos mediadores da secreção por meio de exotoxinas produzidas por patógenos bacterianos (Vibrio cholerae, Escherichia coli enterotoxigênica) ou de mediadores da inflamação como na diarreia associada a cepas de shigella. Do ponto de vista das perdas fecais, o que diferencia basicamente os dois mecanismos é a perda de sódio, que é mais elevada na secretória e pode ser maior do que 70 mEq de sódio por litro de fezes. – https://www.sciencedirect.com/topics/medicine-and-dentistry/homeostasis https://www.sciencedirect.com/topics/medicine-and-dentistry/cell-viability https://www.sciencedirect.com/topics/medicine-and-dentistry/cell-viability https://www.sciencedirect.com/topics/biochemistry-genetics-and-molecular-biology/ion-transport https://www.sciencedirect.com/topics/biochemistry-genetics-and-molecular-biology/ion-transport https://www.sciencedirect.com/topics/biochemistry-genetics-and-molecular-biology/sodium-absorption https://www.sciencedirect.com/topics/medicine-and-dentistry/neurotransmitter https://www.sciencedirect.com/topics/medicine-and-dentistry/intestine-mucosa https://www.sciencedirect.com/topics/medicine-and-dentistry/basolateral-membrane MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Ocorrência de no mínimo 3 episódios de diarreia aguda no período de 24hrs (diminuição da consistência das fezes – fezes líquidas ou amolecidas – e aumento do número de evacuações) podendo ser acompanhados de: • Cólicas abdominais. • Dor abdominal. • Febre. • Sangue ou muco nas fezes. • Náusea. • Vômitos. • Desidratação: letargia, consciência deprimida, fontanela anterior afundada, membranas mucosas secas, olhos fundos, falta de lágrimas, turgor da pele pobre, enchimento capilar retardado • Falta de crescimento e desnutrição: redução da massa muscular / gordura ou edema periférico • Dor abdominal / cólicas • Borborygmi • Eritema perianal CONDUTA DIAGNÓSTICA A história da doença atual deve determinar a duração e a intensidade da diarreia, as circunstâncias do início (como viagem recente, alimentos ingeridos e fonte da água tomada), uso de medicamentos (qualquer antimicrobiano nos últimos 3 meses), dor abdominal ou vômitos, frequência e momento das evacuações, mudanças das características das fezes (p. ex., presença de sangue, pus ou muco; alterações da coloração ou consistência; indícios de esteatorreia), mudanças associadas ao peso ou ao apetite, e urgência retal ou tenesmo. Deve-se verificar se há ocorrência de diarreia simultâneaem pessoas próximas ao paciente. Os médicos devem perguntar especificamente sobre quaisquer alterações dos medicamentos que possam causar diarreia. A revisão dos sistemas deve procurar sinais e sintomas que sugiram as possíveis causas, como artralgia (doença inflamatória intestinal ou doença celíaca); rubor (carcinoide, vipoma ou mastocitose); dor abdominal crônica (síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal ou gastrinoma); ou sangramento gastrointestinal (colite ulcerativa ou tumor). A história médica anterior deve identificar os fatores de risco conhecidos para diarreia, incluindo doença inflamatória intestinal, síndrome do intestino irritável, infecção por HIV e procedimentos cirúrgicos GI prévios (p. ex., bypass gástrico ou ressecção intestinal, ressecção pancreática). Deve-se pesquisar na história familiar e social a ocorrência simultânea da diarreia em contatos próximos. ANAMNESE A apresentação clínica e o curso da diarreia, portanto, dependem de sua causa e do hospedeiro. Considere o seguinte para determinar a origem / causa da diarreia do paciente: • Características das fezes (por exemplo, consistência, cor, volume, frequência) • Presença de sintomas entéricos associados (por exemplo, náusea / vômito, febre, dor abdominal). • Uso de creches infantis (patógenos comuns: rotavírus, astrovírus, calicivírus; espécies de Campylobacter , Shigella , Giardia e Cryptosporidium [spp]) • Histórico de ingestão de alimentos (por exemplo, alimentos crus / contaminados, intoxicação alimentar). • Exposição à água (por exemplo, piscinas, ambiente marinho) • Histórico de acampamento (possível exposição a fontes de água contaminadas). • Histórico de viagens (patógenos comuns afetam regiões específicas; também considere rotavírus e Shigella, Salmonella e Campylobacter spp, independentemente do histórico de viagens específico, já que esses organismos são prevalentes em todo o mundo). • Exposição a animais (por exemplo, cães / gatos jovens: Campylobacter spp; tartarugas: Salmonella spp) • Condições predisponentes (por exemplo, hospitalização, uso de antibióticos, estado imunocomprometido) ► Forma de início do quadro de diarreia (congênito, abrupto, gradual). ► Frequência das crises de diarreia (contínua, intermitente). ► Duração dos sintomas. ► Fatores epidemiológicos (história de viagem, exposição a alimentos contaminados, história de membros da família apresentando o mesmo quadro). ► Características das fezes (aquosas, sanguinolentas ou gordurosas). ► Presença ou não de incontinência fecal. ► Presença ou não de outros sintomas: dor abdominal, perda de peso, rash cutâneo, vômitos, fadiga, dores articulares e úlceras na cavidade oral. ► Presença de perda de peso (objetivamente mensurada). ► Fatores agravantes (p. ex., dieta e estresse). ► Fatores atenuantes (p. ex., dieta e medicações). ► Análise de exames e de tratamentos prévios. ► Investigação de causas iatrogênicas de diarreia (cirurgias, medicações e exposição à radioterapia), bem como de diarreia factícia. ► Investigação de doenças sistêmicas (intolerância a lactose, hipertireoidismo, DM, imunodeficiências, etc.) Fatores que devem ser investigados na suspeita de diarreia crônica orgânica: ► História familiar de doenças neoplásicas e DIIs; doença celíaca. ► História de ressecções intestinais. ► Doença pancreática prévia. ► Abuso de álcool. ► Uso de medicamentos (AINEs, anti-hipertensivos, antiarrítmicos, antibióticos, teofilina, agentes antineoplásicos). ► Uso recente de antibióticos ou infecção por Clostridium difficile. A anamnese de CRIANÇAS com diarréia aguda deve conter dados que permitam caracterizar perfeitamente o tipo de diarréia em questão: • Início, idade, histórico alimentar, duração do aleitamento, desmame, peso ao nascer, mamadeira, chupeta. • Concomitância de vômitos. • Número de dejeções/dia • Fezes aquosas ou disentéricas (com presença de sangue vivo). • Eliminação de parasitos. • Sintomas associados devem ser questionados: febre, vômitos, tenesmo, flatulência, dor abdominal, distensão abdominal, tosse, coriza ou anorexia, assaduras • Ocorrência de eliminações durante o sono, dejeções pós- alimentares, fezes explosivas. • Disúria Além disso, a história dos antecedentes deve especificar: • Período neonatal: peso ao nascer, ocorrência de icterícia neonatal, idade gestacional, intercorrências. • Antecedentes alimentares: período de aleitamento materno, ocasião do desmame, idade de introdução do leite de vaca na dieta, idade de introdução do glúten na dieta, modo de preparo dos alimentos. • Desenvolvimento neuropsicomotor: idade em que sustentou a cabeça, sentou, engatinhou, andou. • Vacinas já realizadas. • Relato de outros episódios de diarréia e suas características, hospitalizações e cirurgias prévias. • Identificar outros casos de diarréia na família e na escola e a existência de doenças de transmissão hereditária. • Hábitos de vida: especificar as condições de saneamento básico, hábitos de higiene, qualidade da água consumida e número de residentes da habitação por cômodo. • Relato de imunodeficiência, neoplasia, uso de drogas SINAIS DE ALERTA!!! Alguns achados levantam a suspeita de uma etiologia orgânica ou mais grave da diarreia: • Sangue ou pus nas fezes • Febre • Sinais de desidratação • Diarreia crônica • Perda ponderal O paciente com diarreia deve estar atento e voltar imediatamente ao serviço de saúde se não melhorar ou se apresentar qualquer um dos sinais e sintomas: • Piora da diarreia. • Vômitos repetidos. • Muita sede. • Recusa de alimentos. • Sangue nas fezes. • Diminuição da urina. EXAME FÍSICO Líquidos e hidratação devem ser avaliados. O exame físico completo com atenção ao abdome e o toque retal para avaliar competência esfincteriana e pesquisa de sangue oculto são importantes. Avaliação nutricional • Estado de hidratação • Prega cutânea, enchimento capilar, tensão arterial, atividade, secura de boca e mucosas • Distensão, dolorimento ou tensão, peritonismo, presença de massa abdominal, aumento ou ausência de ruídos hidroaéreos • Acometimento hepático, neurológico e de outros Sistemas • Presença de petéquias e púrpuras • Lesões perianais, cicatrizes de cirurgias • Exame segmentar completo EXAMES COMPLEMENTARES A solicitação de exames complementares vai depender muito de caso a caso. Os exames normalmente solicitados são: • Hemograma: • Eletrólitos. • Parasitológico de fezes (3 amostras). • Coprocultura. • Pesquisa de leucócitos fecais, sangue oculto. • Teste quantitativo de gordura fecal. 1. Exame macroscópico das fezes - a observação das fezes já nos indica a presença de sangue, muco, pus, alimentos mal digeridos, parasitas, além de caracterizar o aspecto, a consistência e sua composição. 2. Exame parasitológico de fezes - este exame procura identificar a presença de parasitas, protozoários e helmintos que podem determinar diarréia. Em algumas situações são necessárias várias amostras. Esta identificação requer colheita e processamento adequado do material, além de indivíduos habilitados a diagnosticar os parasitas. 3. Elementos anormais nas fezes - exames simples para identificação de leucócitos e sangue nas fezes, que podem traduzir inflamação e destruição da mucosa intestinal em casos de colites e diarréias invasivas causadas por Shigella, Salmonella, E. coli invasiva, e E. coli hemorrágica. Nas doenças alérgicas podem ser encontrados neutrófilos, monócitos e eosinófilos. Por outro lado nas diarréias secretórias não há presença de leucócitos, como nas causadas por E. coli enterotoxigenica e V. Cholerae. 4. A pesquisa de vírus nas fezes pode ser feita de rotina através da técnica de Elisaimunoensaio ou Látex paraidentificar rotavírus e adenovírus ou em algumas situações por imunoeletromicroscopia ou microscopia eletrônica para estes vírus e outros mais recentemente ligados à doença diarréica. Também já foram iniciadas as técnicas de identificação viral por PCR. 5. pH fecal e substâncias redutoras - esta determinação irá detectar a intolerância aos carboidratos, sendo útil na detecção do mecanismo osmótico da diarréia e na resposta à terapêutica dietética empregada. 6. Hemograma - este exame poderá auxiliar nos processos infecciosos acompanhados de invasão da mucosa intestinal, quando revela leucocitose e desvio para esquerda. Se houver disseminação extraintestinal de bactérias enteropatogênicas há também chance de identificá-las nas hemoculturas. 7. Identificação de bactérias enteropatogênicas - através da coprocultura, que deve ser realizada em laboratório de excelência, com coleta adequada, conservação e transporte apropriados, além da disponibilidade para identificar as cepas enteropatogênicas que possam ser correlacionadas com o quadro apresentado pelo paciente. Vale lembrar que, na maioria dos casos de diarréia aguda, não se emprega este exame, já que a maioria dos quadros são autolimitados e a orientação terapêutica é semelhante, baseada na hidratação e alimentação. A coprocultura é também exame caro e demorado, e muitas vezes quando se dispõe do resultado, a criança já está curada. Por todas estas questões há que se avaliar a necessidade de sua realização. Deve-se solicitar nas crianças com quadro grave, para identificar “shigelose”, nos pacientes de baixa idade, nos pacientes com evidência de disseminação extraintestinal, nos quadros que se prolongam e nos surtos epidêmicos. Mais recentemente começou-se a empregar as técnicas de PCR para identificação de enterobactérias, cuja vantagem é a rapidez no resultado do exame. Provavelmente em pouco tempo esta técnica venha a substituir a coprocultura habitual. Testes para caracterizar síndromes disabsortivas: CONDUTA TERAPÊUTICA O tratamento das doenças diarreicas agudas se fundamenta na prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, dependendo do estado de hidratação e da gravidade do caso. Por isso, apenas após a avaliação clínica do paciente, o tratamento adequado deve ser estabelecido, conforme os planos A, B e C descritos abaixo. Para indicar o tratamento é imprescindível a avaliação clínica do paciente e do seu estado de hidratação. A abordagem clínica constitui a coleta de dados importantes na anamnese, como: início dos sinais e sintomas, número de evacuações, presença de muco ou sangue nas fezes, febre, náuseas e vômitos; presença de doenças crônicas; verificação se há parentes ou conhecidos que também adoeceram com os mesmos sinais/sintomas. O exame físico, com enfoque na avaliação do estado de hidratação, é importante para avaliar a presença de desidratação e a instituição do tratamento adequado, além disso, o paciente deve ser pesado, sempre que possível. Se não houver dificuldade de deglutição e o paciente estiver consciente, a alimentação habitual deve ser mantida e deve-se aumentar a ingestão de líquidos, especialmente de água. Evitar os alimentos que podem agravar a diarreia, como: ➢ Cafeína Café, chá, refrigerantes e analgésicos de venda livre. ➢ Frutose (em quantidades que ultrapassam a capacidade absortiva do intestino) Suco de maçã, suco de pera, uvas, mel, tâmaras, nozes, figos, refrigerantes (especialmente com sabores de frutas), ameixas. ➢ Hexitóis, sorbitol e manitol Gomas de mascar sem açúcar, balas de hortelã, cerejas, ameixas. ➢ Lactose Leite, sorvete, frozen yogurt, iogurte, queijos cremosos. ➢ Magnésio Antiácidos contendo magnésio. ➢ Olestra Certas batatas fritas sem gordura ou sorvetes sem gordura. Sintomáticos: dor e febre A febre está ausente na maioria dos casos da DDA. Em crianças pequenas a desidratação pode levar a um aumento da temperatura corporal. Na DDA com sangue pode ser um sintoma importante. Deve ser tratada quando acima de 39 °C ou quando o aumento da temperatura estiver associado a sintomas que causem mal-estar à criança. Antitérmicos usados com maior frequência são o paracetamol e a dipirona. A dor abdominal tipo cólica é um sintoma comum na diarreia osmótica (excesso de gases intestinais) e o tenesmo é observado quando há um componente inflamatório importante, geralmente na DDA associada à shigella. No primeiro caso, uma redução na oferta de leite e derivados alivia o sintoma; no segundo caso a indicação de fármacos com efeito analgésico – paracetamol ou dipirona – beneficia o paciente. Não deve ser indicado medicamento antiespasmódico (escopolamina) e antifisiótico (simeticona). Antieméticos A presença de vômitos é frequente em quadros de DDA e antieméticos são prescritos de forma excessiva sem se considerar a intensidade dos vômitos. Na maioria das vezes o quadro de vômitos cede quando se hidrata a criança, pois a desidratação mesmo subclínica pode causar vômitos. Quando os vômitos são esporádicos, não há indicação para o uso de antieméticos, quando intensos aumenta o risco de desidratação e hospitalização e essas drogas podem trazer um benefício para os pacientes. Importante lembrar que o risco de efeito colateral a elas aumenta quando são usadas em pacientes desidratados ou com distúrbios eletrolíticos. Dentre os medicamentos mais usados estão: bloqueadores dos receptores H1 da histamina (prometazina, dimenidrinato), antagonistas de receptores da dopamina (metoclopramida) e de serotonina–5HT (ondansetrona). Na literatura, não se encontra uma boa evidência científica que embase o uso da metoclopramida e dimenidrinato na DDA. Em relação ao ondansetron, vários estudos mostram que reduz o risco de desidratação e de hospitalização no subconjunto de pacientes que apresentam alta frequência de vômito. Antidiarreicos A procura por medicamentos que atuem reduzindo o volume das fezes e/ou o tempo do episódio diarreico tem sido alvo de uma busca constante. Estudos com adsorventes, silicato de alumínio, diosmectite são encontrados na literatura, mas sem resultados animadores. Loperamida, uma droga antimotilidade, foi proscrita do receituário pediátrico desde que se identificaram efeitos tóxicos relacionados ao sistema nervoso central, além do risco de ocorrer íleo paralítico com o seu uso. Dentre as classificadas como adsorventes, o caolin-pectina foi usado, mas caiu em desuso porque não foi demonstrada a sua eficácia. O seu efeito cosmético, ao tornar as fezes pastosas embora sem alterar o volume líquido, poderia dar a impressão de uma melhoria do quadro diarreico e diminuir a vigilância em relação à oferta líquida. Outra droga, diosmectite, um produto natural à base de silicato de alumínio e magnésio, não vendido no Brasil, tem sido alvo de estudos, mas não tem ainda sua eficácia comprovada. As diretrizes internacionais são unânimes em afirmar que não há indicação dessas drogas na DDA. Antisecretório Nos quadros de DDA em que o mecanismo secretório está envolvido e as perdas diarreicas são importantes, o uso da racecadotrila pode trazer benefícios para o paciente. Ao reduzir as perdas fecais e o tempo de doença – afeta o processo secretório ao inibir a encefalinase – facilita a manutenção do estado de hidratação e, consequentemente, reduz a chance de hospitalização. Nesses casos, tem sido recomendado como terapêutica adjuvante a TRO; ainda não há evidências se o seu uso reduz a necessidade de TRV. Zinco Em 2004, a OMS e o Unicef chamaram a atenção para o impacto do zinco tanto na redução da gravidade do episódio diarreico quanto na redução de episódios subsequentes de DDA em crianças menoresde cinco anos. A explicação para o seu efeito seria pela modulação do sistema imunológico e também por ter propriedade antissecretória. A maioria dos estudos foi feito em regiões pobres e que recrutaram crianças com maior risco de desenvolver episódio diarreico mais grave, inclusive diarreia persistente. A recomendação então foi de se usar o zinco associado à TRO para todas as crianças menores de cinco anos. Estudos posteriores, em regiões desenvolvidas, que recrutaram crianças de baixo risco para diarreia grave e/ou persistente, não mostraram benefício adicional com o uso do zinco. Atualmente, a indicação é restrita para crianças pertencentes a grupos de risco que se concentram basicamente nas regiões mais pobres: menores de cinco anos, desnutridas, história de episódios anteriores de DDA ou de hospitalização. Probióticos Apenas algumas cepas de probióticos têm sido estudadas no contexto da DDA. Esses estudos devem ser analisados criteriosamente quanto aos desfechos avaliados e a cepas empregadas devem ser avaliadas, porque há diferentes mecanismos de ação e o que é estudado em relação a uma cepa não pode simplesmente ser transferido para outra. Lactobacillus GG e S. boulardi são os mais testados cientificamente. A ação do probiótico se faz principalmente por meio do antagonismo, da imunemodulação ou pela exclusão de patógenos. O antagonismo e/ou a exclusão podem ter um efeito de curto prazo na DDA. A maioria dos estudos foi feita em países desenvolvidos e analisou como desfecho: duração do episódio diarreico, redução das perdas fecais, hospitalização; encontrou um efeito benéfico. É necessária a feitura de estudos que analisem o custo vs benefício de seu uso como adjuvante da TRO/TRV em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Antibióticos Antibióticos não estão indicados na maioria dos episódios de DDA, mesmo quando a etiologia é bacteriana. A quase totalidade dos casos tem um curso autolimitado e benigno desde que o paciente se mantenha hidratado. Mesmo nos episódios diarreicos mais graves o uso de antimicrobianos é uma conduta de exceção. A questão principal a ser ressaltada é que não temos uma terapêutica antibiótica eficaz para a maioria dos agentes associados à DDA. Por outro lado, o uso indiscriminado pode prejudicar o paciente devido ao efeito devastador na microbiota intestinal, um importante mecanismo de proteção. A OMS recomenda o uso de antimicrobiano nos casos mais graves de DDA associada à shigella (ciprofloxacina, ceftriaxona) e na cólera (tetraciclina, eritromicina). Quando o agente causal é um protozoário o tratamento etiológico raramente está indicado, exceto em pacientes imunedeprimidos. Plano preconizado pelo Ministério da Sáude Plano A O plano A consiste em cinco etapas direcionadas ao paciente HIDRATADO para realizar no domicílio: • Aumento da ingestão de água e outros líquidos incluindo solução de SRO principalmente após cada episódio de diarreia, pois dessa forma evita-se a desidratação; • Manutenção da alimentação habitual; continuidade do aleitamento materno; • Retorno do paciente ao serviço, caso não melhore em 2 dias ou apresente piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes ou diminuição da diurese; • Orientação do paciente/responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos); • Administração de Zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias. Como orientar o preparo do soro caseiro ► Um litro ou quatro copos americanos cheios de água filtrada ou fervida previamente. ► Uma colher de chá rasa de sal. ► Oito colheres de chá rasas de açúcar. Plano B O Plano B consiste em três etapas direcionadas ao paciente COM DESIDRATAÇÃO, porém sem gravidade, com capacidade de ingerir líquidos, que deve ser tratado com SRO na Unidade de Saúde, onde deve permanecer até a reidratação completa. • Ingestão de solução de SRO, inicialmente em pequenos volumes e aumento da oferta e da frequência aos poucos. A quantidade a ser ingerida dependerá da sede do paciente, mas deve ser administrada continuamente até que desapareçam os sinais da desidratação; • Reavaliação do paciente constantemente, pois o Plano B termina quando desaparecem os sinais de desidratação, a partir de quando se deve adotar ou retornar ao Plano A; • Orientação do paciente/responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos); Plano C O Plano C consiste em duas fases de reidratação endovenosa destinada ao paciente COM DESIDRATAÇÃO GRAVE. Nessa situação o paciente deverá ser transferido o mais rapidamente possível. Os primeiros cuidados na unidade de saúde são importantíssimos e já devem ser efetuados à medida que o paciente seja encaminhado ao serviço hospitalar de saúde. • Realizar reidratação endovenosa no serviço saúde (fases rápida e de manutenção); • O paciente deve ser reavaliado após duas horas, se persistirem os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, iniciar balanço hídrico com as mesmas soluções preconizadas; • Administrar por via oral a solução de SRO em doses pequenas e frequentes, tão logo o paciente aceite. Isso acelera a sua recuperação e reduz drasticamente o risco de complicações. • Suspender a hidratação endovenosa quando o paciente estiver hidratado, com boa tolerância à solução de SRO e sem vômitos. Para tratamento detalhado acesse aqui o Manejo do Paciente com Diarreia. OBSERVAÇÃO: O Tratamento com antibiótico deve ser reservado apenas para os casos de DDA com sangue ou muco nas fezes (disenteria) e comprometimento do estado geral ou em caso de cólera com desidratação grave, sempre com acompanhamento médico. ETÁRIAS: Quando o paciente puder beber, geralmente 2 a 3 horas após o início da reidratação venosa, iniciar a reidratação por via oral com Interromper a reidratação por via endovenosa somente quando o paciente puder ingerir SRO em quantidade suficiente para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária varia de um paciente para outro, dependendo do volume das evacuações. Lembrar que a quantidade de SRO a ser ingerida deve ser maior nas Observar o paciente por pelo menos seis (6) horas. NA UNIDADE HOSPITALAR MELHORAR SUA VIDA, NOSSO COMPROMISSO. AVALIAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO DO PACIENTE MANEJO DO PACIENTE COM DIARREIA ] ETAPAS A B C OBSERVE Estado geral Bem, alerta Irritado, intranquilo Comatoso, hipotônico* Olhos Normais Fundos Muito fundos e secos Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes Sede Bebe normal, sem sede Sedento, bebe rápido e avidamente Bebe mal ou não é capaz de beber* EXPLORE Sinal da prega Desaparece rapidamente Desaparece lentamente Desaparece muito lentamente (mais de 2 segundos) Pulso Cheio Rápido, fraco Muito fraco ou ausente* DECIDA SEM SINAIS DE DESIDRATAÇÃO Se apresentar dois ou mais sinais: COM DESIDRATAÇÃO Se apresentar dois ou mais sinais, incluindo pelo menos um dos destacados com asterisco (*): DESIDRATAÇÃO GRAVE TRATE USE O PLANO A USE O PLANO B (pese o paciente) USE O PLANO C (pese o paciente) FASE RÁPIDA – MENORES DE 5 ANOS (fase de expansão) SOLUÇÃO VOLUME TEMPO DE ADMINISTRAÇÃO Soro Fisiológico a 0,9% Iniciar com 20ml/kg de peso. Repetir essa quantidade até que a criança esteja hidratada, reavaliando os sinais clínicos após cada fasede expansão administrada. 30 minutos Para recém-nascidos e cardiopatas graves começar com 10ml/kg de peso. ADMINISTRAR SOLUÇÃO DE REIDRATAÇÃO ORAL: A quantidade de solução ingerida dependerá da sede do paciente. A SRO deverá ser administrada continuamente, até que Apenas como orientação inicial, o paciente deverá receber de 50 Se desaparecerem os sinais de desidratação, utilize o PLANO A. Se o paciente evoluir para desidratação grave, seguir o PLANO C. NO SERVIÇO DE SAÚDE ORIENTAR A: Reconhecer os sinais de desidratação. Preparar e administrar a Solução de Reidratação Oral. Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos). O PLANO B DEVE SER REALIZADO NA UNIDADE DE SAÚDE. ANTIDIARREICOS E ANTIEMÉTICOS USO DE MEDICAMENTOS EM PACIENTES COM DIARREIA Antibióticos: devem ser usados somente para casos de diarreia com sangue (disenteria) e comprometimento do estado geral ou em casos de cólera grave. Em outras condições, os antibióticos são Amebíase, quando o tratamento de disenteria por Shigella sp fracassar, ou em casos em que se identificam nas fezes trofozoítos de Entamoeba histolytica englobando hemácias. cistos ou trofozoítos nas fezes ou no aspirado intestinal. 1- PERGUNTAR SE O PACIENTE TEM SANGUE NAS FEZES Em caso positivo e com comprometimento do estado geral: Reidratar o paciente de acordo com os planos A, B ou C. Tratamento de crianças: Orientar o acompanhante para administrar líquidos e manter a Se mantiver presença de sangue nas fezes após 48 horas do início Observação: crianças com quadro de desnutrição devem ter o primeiro atendimento em qualquer Unidade de Saúde, devendo- se iniciar hidratação e antibioticoterapia de forma imediata, até que Tratamento de adultos: Orientar o paciente ou acompanhante para administrar líquidos e domicílio. Se o paciente estiver com condições gerais boas, iniciar Ceftriaxona Se estiver com condições gerais comprometidas, encaminhar para 2- PERGUNTAR QUANDO INICIOU A DIARREIA Se tiver mais de 14 dias de evolução: Quando não houver condições de encaminhar para a unidade hospitalar, orientar o responsável/acompanhante para administrar Se o paciente não estiver com sinais de desidratação e nem for menor de seis meses, encaminhar para consulta médica para 3- OBSERVAR SE TEM DESNUTRIÇÃO GRAVE Se a criança estiver com desnutrição grave (utilizar para diagnóstico a Em caso de desidratação, iniciar a reidratação e encaminhar o paciente para o serviço de saúde. Entregar ao paciente ou responsável envelopes de SRO em quantidade suficiente e recomendar que continue a hidratação até que chegue ao serviço de saúde. 4- VERIFICAR A TEMPERATURA Se o paciente estiver, além da diarreia, com a temperatura de 39ºC ou mais: investigar e tratar outras possíveis causas, por exemplo, IDENTIFICAR DISENTERIA E/OU OUTRAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS À DIARREIA FASE RÁPIDA – MAIORES DE 5 ANOS (fase de expansão) SOLUÇÃO VOLUME TOTAL TEMPO DE ADMINISTRAÇÃO 1º Soro Fisiológico a 0,9% 30ml/kg 30 minutos 2º Ringer Lactato ou Solução Polieletrolítica 70ml/kg 2 horas e 30 minutos FASE DE MANUTENÇÃO E REPOSIÇÃO PARA TODAS AS FAIXAS ETÁRIAS SOLUÇÃO VOLUME EM 24 HORAS Soro Glicosado a 5% + Soro Fisiológico a 0,9% na proporção de 4:1 (manutenção) + Peso até 10kg 100ml/kg Peso de 10 a 20kg 1000ml + 50ml/kg de peso que exceder 10kg Peso acima de 20kg 1500ml + 20ml/kg de peso que exceder 20kg Soro Glicosado a 5% + Soro Fisiológico a 0,9% na proporção de 1:1 (reposição) + Iniciar com 50ml/kg/dia. Reavaliar esta quantidade de acordo com as perdas do paciente. KCl a 10% 2ml para cada 100ml de solução da fase de manutenção. PLANO A PARA PREVENIR A DESIDRATAÇÃO NO DOMICÍLIO Explique ao paciente ou acompanhante para fazer no domicílio: 1) OFERECER OU INGERIR MAIS LÍQUIDO QUE O HABITUAL PARA PREVENIR A DESIDRATAÇÃO: • O paciente deve tomar líquidos caseiros (água de arroz, soro caseiro, chá, suco e sopas) ou Solução de Reidratação Oral (SRO) após cada evacuação diarreica. • Não utilizar refrigerantes e não adoçar o chá ou suco. 2) MANTER A ALIMENTAÇÃO HABITUAL PARA PREVENIR A DESNUTRIÇÃO: • Continuar o aleitamento materno. • Manter a alimentação habitual para as crianças e os adultos. 3) SE O PACIENTE NÃO MELHORAR EM DOIS DIAS OU SE APRESENTAR QUALQUER UM DOS SINAIS ABAIXO, LEVÁ-LO IMEDIATAMENTE AO SERVIÇO DE SAÚDE: SINAIS DE PERIGO • Piora na diarreia • Recusa de alimentos • Vômitos repetidos • Sangue nas fezes • Muita sede • Diminuição da diurese 4) ORIENTAR O PACIENTE OU ACOMPANHANTE PARA: • Reconhecer os sinais de desidratação. • Preparar e administrar a Solução de Reidratação Oral. • Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos). 5) ADMINISTRAR ZINCO UMA VEZ AO DIA, DURANTE 10 A 14 DIAS: • Até seis (6) meses de idade: 10mg/dia. • Maiores de seis (6) meses de idade: 20mg/dia. IDADE Quantidade de líquidos que devem ser administrados/ingeridos após evacuação diarreica Menores de 1 ano 50-100ml De 1 a 10 anos 100-200ml Maiores de 10 anos Quantidade que o paciente aceitar CONDUTA EDUCACIONAL Cabe ao médico de família e comunidade conscientizar toda a população sobre as principais medidas de prevenção da diarreia e de promoção de saúde. Para isso, deve sempre procurar usar linguagem e estratégias de comunicação adequadas à comunidade com a qual trabalha. Assim, as pessoas poderão ser abordadas não apenas na consulta médica, mas em todos os espaços nos quais há contato com a população assistida e de uma forma mais eficaz. ► Estimular o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade e complementado até 2 anos de idade. ► Usar alimentos com valor nutricional adequado e sem contaminação ► Ingerir apenas água filtrada ou fervida ► Estimular políticas governamentais de saneamento básico ► Educar sobre a lavagem adequada dos alimentos ► Orientar a respeito da lavagem correta das mãos ► Informar sobre a imunização contra o rotavírus • Lavar sempre as mãos com sabão e água limpa principalmente antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, após utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam estar sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua, antes e depois de amamentar e trocar fraldas. • Lavar e desinfete as superfícies, os utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos. • Proteger os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em recipientes fechados). • Tratar a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, aguardar por 30 minutos antes de usar). • Guardar a água tratada em vasilhas limpas e com tampa, sendo a “boca” estreita para evitar a recontaminação; • Não utilizar água de riachos, rios,cacimbas ou poços contaminados para tomar banho ou beber. • Evitar o consumo de alimentos crus ou malcozidos (principalmente carnes, pescados e mariscos) e alimentos cujas condições higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias. • Ensacar e manter a tampa do lixo sempre fechada; quando não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apropriado. • Usar sempre o vaso sanitário, mas se isso não for possível, enterre as fezes sempre longe dos cursos de água; • Evitar o desmame precoce. Manter o aleitamento materno aumenta a resistência das crianças contra as diarreias. EPIDEMIOLOGIA Notificações A notificação de casos individuais de DDA é compulsória em unidades sentinelas para VE-DDA que realizam a Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas (MDDA). Surto: A ocorrência de, no mínimo, dois casos com o mesmo quadro clínico de diarreia após ingestão do mesmo alimento ou água da mesma origem caracteriza-se como surto de doença transmitida por água/alimento. O aumento do número de casos de DDA acima do limite esperado para a população envolvida, naquele período e localidade indica alteração do padrão e um possível surto, deve ser investigado. O Global Burden of Disease Study constatou que a diarreia foi a nona principal causa de morte em todo o mundo em 2015. A maioria dos casos de diarreia está associada a alimentos e fontes de água contaminados, e mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso ao saneamento básico. Mais de 1 bilhão de pessoas, no mundo, sofrem um ou mais episódios de diarreia aguda a cada ano. Dos 100 milhões de pessoas acometidas anualmente por diarreia aguda nos EUA, quase metade tem de restringir as atividades, 10% consultam um médico, cerca de 250 mil precisam de hospitalização e aproximadamente 5 mil morrem. A diarreia infecciosa aguda continua sendo uma das causas mais comuns de mortalidade nos países em desenvolvimento, principalmente entre crianças pobres. A diarreia aguda, recorrente, em crianças de países tropicais resulta em enteropatia ambiental com impactos de longo prazo nos desenvolvimentos físico e intelectual. A doença diarreica ocorre com frequência inicial em países com recursos limitados, sobrepostos a casos epidêmicos de diarreia, disenteria ou diarreia aquosa. FATORES DE RISCO Qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e gênero, pode manifestar sinais e sintomas das doenças diarreicas agudas após a contaminação. No entanto, alguns comportamentos podem colocar as pessoas em risco e facilitar a contaminação como: • Ingestão de água sem tratamento adequado; • Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, do preparo e armazenamento; • Consumo de leite in natura (sem ferver ou pasteurizar) e derivados; • Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus ou malcozidos; • Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada; • Viagem a locais em que as condições de saneamento e de higiene sejam precárias; • Falta de higiene pessoal. ATENÇÃO ESPECIAL: Crianças e idosos com DDA correm risco de desidratação grave. Nestes casos, a procura ao serviço de saúde deve ser realizada em caráter de urgência. Surtos de Doenças Diarreicas Agudas causados por Cryptosporidium spp. Fatores implicados na determinação da diarréia aguda da criança: • Condições desfavoráveis de gestação e má-nutrição materna • Baixo peso ao nascer • Desmame precoce • Precárias condições de habitação, saneamento e higiene • Contaminação fecal de água e alimentos • Falta de informação e baixa escolaridade dos pais • Predária condição sócio-econômica • Condição nutricional e imunológica desfavoráveis • Idade da criança • Grau e extensão da lesão do tubo digestivo • Falta de orientação adequada após o desmame • Acesso precário aos Serviços de Saúde • Falta de orientação técnica dos profissionais • Preconceitos culturais. Crianças de risco para apresentarem diarréia persistente: • Desmame precoce. • Baixa idade. • Desnutrição protéico-calórica. • Infecção por E. coli enteropatogênica. • Uso inadequado de antibióticos. • Não reconhecimento por parte do médico de pacientes com alto risco para prolongarem um quadro agudo de diarréia. • Baixo peso ao nascer. • Episódios repetidos de diarréia ou diarréia prévia prolongada. • Gravidade do quadro agudo de diarréia. • Deficiência de vitamina A e micronutrientes. • Conduta inadequada na diarréia aguda. • Hospitalização. • Más condições de vida. COMPLICAÇÕES Complicações podem aparecer com diarreia de qualquer etiologia. Perdas de líquidos com desidratação secundária, perda de eletrólitos (sódio, potássio, magnésio, cloreto) e mesmo choque podem ocorrer. Choque pode aparecer rapidamente em pacientes com diarreia mais intensa (p. ex., pacientes com cólera) ou muito jovens, muito idosos ou debilitados. A perda de bicarbonato pode resultar em acidose metabólica. Hipopotassemia pode ocorrer em diarreias crônicas e/ou mais intensas ou ainda se as fezes contiverem excesso de muco. Hipomagnesemia após diarreias mais intensas pode causar tetania. Alguns agentes etiológicos, além das características individuais dos pacientes, podem desencadear outras complicações como é o caso das Escherichia coli produtoras de toxina shiga, Shiguella dysenteriae 1, Campylobacter, Aeromonas, Enterovírus que podem causar a Síndrome Hemolítico-Urêmica. ATENÇÃO! Se tratadas incorretamente ou não tratadas, as doenças diarreicas agudas podem levar à desidratação grave e ao distúrbio hidroeletrolítico, podendo ocorrer óbito, principalmente quando associadas à desnutrição ou à imunodepressão. Complicações mais frequentes e manifestações não habituais relacionadas com os enteropatógenos mais comuns: Shigella – Enteropatia perdedora de proteínas, meningite, convulsão, pneumonite, síndrome hemolítica-urêmica, síndrome de Reiter (artrite, uretritte, conjuntivite), eritema nodoso, colite pós-fecciosa, reação leucemóide, apendicite, miocardite. Salmonella não tifóide – bacteremia e infecção extra-intestinal, osteomielite, pneumonia, arterite, meningite, estado de portador, colecistite, c;alculos, colite pós-infecciosa. Salmonella typhi – dissociação pulso-temperatura, alteração do nível de consciência, manchas róseas na pele, máculas em abdômen, miocardite, ulceração intestinal e colônica, sangramento e perfuração https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/regula%C3%A7%C3%A3o-e-dist%C3%BArbios-%C3%A1cido-base/acidose-metab%C3%B3lica https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-eletrol%C3%ADticos/hipopotassemia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-eletrol%C3%ADticos/hipomagnesemia intestinal, hepatoesplenomegalia, supressão de medula óssea, recidiva da doença, estado de portador. Campylobacter jejuni – Aborto séptico, colecistite aguda, pancreatite, cistite, síndrome Guilliam Barre, artrite. C. fetus – meningoencefalite, artrite séptica, pneumonia, cardite, tromboflebite, aneurisma micótico aórtico, aborto séptico, febre recorrente, mialgia. Yersinia enterocolytica – poliartrite, síndrome de reiter, eritema nodoso, faringite, sepse, tireoidite, pericardite, glomerulonefrite. Clostridium difficile – enteropatia perdedora de proteína, megacólon tóxico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Artigos • Sheikh, I. A., Ammoury, R., & Ghishan, F. K. Pathophysiology of Diarrhea and Its Clinical Implications. Physiology of the Gastrointestinal Tract. 2018. • BRANDT, Kátia Galeão; ANTUNES, Margarida Maria de Castro; SILVA,Gisélia Alves Pontes da. Diarreia aguda: manejo baseado em evidências. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre, v. 91, n. 6, supl. 1, p. S36- S43, Dezembro. 2015. • BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças diarreicas agudas (DDA). 2020. • GUANDALINI, Stefano; FRYE, Richard E.; TAMER, M. Akram. Diarrhea. Medscape: 2020. • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância das doenças transmissíveis. Doenças Diarreicas Agudas Brasil. 2019. Livros • GUSSO, Gustavo; LOPES, José MC, DIAS, Lêda C, organizadores. Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: ARTMED, 2019. • GROSSMAN, Sheila C.; PORTH, Carol Mattson. Fisiopatologia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. • ZATERKA, Schlioma; EISIG, Jaime Natan. Tratado de gastroenterologia da graduação à pós-graduação. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2016.
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