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Cláudia Pereira Rita Grazina 2008/2009 SEBENTA DE GENÉTICA MÉDICA II Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 2 Genética Médica Aula teórica nº1 26/02/09 AUTOSSOMOPATIAS As cromossomopatias atingem cerca de 20% de todas as gestações, mas a grande maioria dos casos termina em abortamento espontâneo, reduzindo a frequência ao nascimento para apenas cerca de 0,6%. A frequência das alterações cromossómicas é maior nos abortamentos espontâneos precoces (60%) do que nos tardios, e da que é observada ao nascimento, representando estas duas últimas, no seu conjunto, cerca de 5% dos casos � por esta razão, mais mais vezes detectadas alterações na análise das vilosidades coriónicas (realizado mais cedo na gestção) do que na amniocentese� pode-se, portanto, concluir, que grande parte das cromossomopatias são inviáveis, provocando, desde cedo, abortamentos. As anomalias autossómicas cursam, de uma forma geral, com alterações fenotípicas mais graves que as heterossómicas, e as delições com quadros clínicos mais graves que as duplicações; as anomalias dos cromossomas sexuais, com excepção do 45,X, são raras nos abortamentos espontâneos precoces. O facto de as anomalias autossómicas serem as mais graves deve-se ao facto de estes cromossomas possuírem um elevado número de genes funcionais. As trissomias são as aneuploidias autossómicas mais frequentes, tendo sido descritas trissomias de todos os autossomas. As mais frequentes são as dos cromossomas 21, 18 e 13, embora no seu conjunto sejam inferiores a 1% de todos os nascimentos. Na espécie humana, as trissomias evidenciam um efeito predominantemente letal para os embriões. A trissomia 16 é frequente em abortamentos e amniocenteses precoces, não tendo sido, no entanto, nunca observada em recém-nascidos � as trissomias 21, 18 e 13 são as mais frequentes pois são aquelas que são viáveis, já correspondem a cromossomas mais pequenos, logo com menor número de genes funcionais (embora esta situação nem sempre se aplique). Calcula-se que apenas 25% das gestações com trissomia 21, 5% das gestações com trissomia 18 e 2.5% das gestações com trissomia 13 sobrevivem até ao nascimento. A mortalidade pós-natal das trissomias 18 e 13 é elevada, tendo estes recém-nascidos uma sobrevida média inferior a uma semana; globalmente, menos de 5% destas crianças atingem o primeiro ano de vida. Em contraste, 85% das crianças com trissomia 21 sobrevivem até ao Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 3 primeiro ano de vida, 80% até aos 10 anos e mais de 50% destes indivíduos ultrapassam os 50 anos. Embora as taxas de mortalidade e de sobrevida sejam importantes num contexto de aconselhamento genético pré-natal, deverá ser sempre mencionada a possibilidade, que embora seja baixa não é negligenciável, de uma maior sobrevida nas trissomias 13 e 18, especialmente se não foram detectadas outras malformações major associadas, já que existem casos (raros) em que esta situação ocorre. Genericamente, as alterações fenotípicas mais frequentes nas autossomopatias são o atraso de desenvolvimento psicomotor, as malformações congénitas múltiplas, as dismorfias várias e o atraso de crescimento (pré e pós-natal). Embora o conjunto das alterações fenotípicas possa sugerir uma dada alteração cromossómica, nenhuma característica clínica específica é patognomónica de qualquer cromossomopatia. Assim, a análise cromossómica de cada caso é mandatória, não só para confirmar o diagnóstico, como também para estabelecer as implicações genéticas para a família. Nota: Ao realizar uma amniocentese a uma mãe com mais de 35 anos, devem-se ter em conta todas as alterações cromossómicas e não apenas as mais frequentes. TRISSOMIA 21 – SÍNDROMA DE DOWN A primeira descrição clínica foi feita pelo médico inglês John Down em 1866; em 1909, Shuttleworth, associou pela primeira vez a ocorrência de trissomia 21 com o aumento da idade materna; a base cromossómica da doença foi descoberta por Lejeune et al. em 1959. Epidemiologia - Frequência = 1:700 recém-nascidos - Trata-se da cromossomopatia mais frequente - Curiosidade: mesmo tendo sido permitido aos progenitores realizar abortamentos após conhecimento do resultado da amniocentese, a frequência da doença não diminui significativamente, ao contrário do que seria de esperar. Etiologia ♦ Não dijunção da meiose – trissomia 21 “livre” - 95% dos casos Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 4 - directamente relacionado com o aumento da idade materna - não se relaciona com a raça - 90% dos casos resultam de um erro (não disjunção) da meiose materna - em 75% dos casos o cromossoma extra tem origem na Meiose- I materna - 8% dos casos o cromossoma extra tem origem paterna (frequências idênticas na meiose I e II) - mosaicismo gonádico de um dos progenitores � é uma opção que nunca se pode excluir, visto não ser possível examinar todas as linhagens celulares. ♦ Mosaicismo - cerca de 2% dos casos de trissomia 21 têm origem em erros mitóticos das células somáticas do zigoto - muitas vezes difícil de diagnosticar; existe uma proporção maior de células trissómicas em fibroblastos do que no SNC; habitualmente as proporções encontradas não são constantes ao longo do tempo � esta é uma das causas que leva a uma grande variedade fenotipica (comum a todas as cromossomopatias) ♦ Translocação - cerca de 5% dos casos - a mais frequente é com o cromossoma 14 - pode ser herdada, sendo a mãe, na maioria dos casos, a portadora da translocação em equilíbrio - a maioria são translocações “de novo” - as t(21;21) “de novo” (são isocromossomas: iso(21q)) ♦ Cariótipo normal - duplicações submicroscópicas na banda 21q22 (“região crítica”) - mosaicismo não detectado - erro de diagnóstico Diagnóstico � Pré-Natal: Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 5 - Definição de grupos de risco: - idade materna (maior risco após os 35 anos) - doseamento de Alfa-feto-proteína e BetaHCG no sangue materno (16 semanas) - ecografias seriadas - translucência da nuca (12ª semana) - outras anomalias fenotípicas - indicação de amniocentese � Clínico: - geralmente diagnosticado ao nascimento - características fenotípicas: hipotonia muscular generalizada, braquicefalia, hipoplasia do andar médio da face (perfil achatado), fendas palpebrais com obliquidade para cima e para fora (“mongoloides”), face arredondada, epicanto, nariz pequeno, macroglossia relativa (não é a língua que é demasiado grande, mas não cabe na cabidade oral devido à hipoplasia do maxilar), pescoço curto com pele redundante, prega palmar transversal, hipoplasia do falange média do 5º dedo, atraso de desenvolvimento psicomotor. - malformações associadas: cardiopatias congénitas, hipoacusia, alterações tiroideias, malformações do aparelho digestivo, oculares, osteorticulares, doenças dermatológicas, imunodeficiencias com infecções recidivantes do aparelho respiratório (as infecções respiratórias e o mau alinhamento dentário são consequências da hipoplasia do maxilar), doenças hematológicas (incidência aumentada de leucemia), epilepsia, doença de Alzheimer. instabilidade atlanto-axial - atenuação do fenótipo com o decorrer da idade � Citogenético: ♦ Trissomia 21 “livre” ♦ Trissomia 21 por translocação: herdada ou “de novo” ♦ Mosaicismo ♦ Cariótipo normal Prognóstico: - aumento marcado da esperança de vida para crianças com trissomia 21; - 85% das crianças sobrevivem até ao 1º ano de vida e mais de 50% dos indivíduos afectados ultrapassam os 50 anos de idade; Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 6 - a sobrevida depende da existência ou não de um conjunto de malformações graves. A cardiopatia congénita é a principal causa de mortalidade; melhoria acentuadacom o avanço técnico cirúrgico. - a maior limitação é consequente do atraso de desenvolvimento psicomotor; observa- se uma grande variação de caso para caso, podendo variar o QI entre 20 e 85. - O prognóstico das diferentes formas citogenéticas de trissomia 21 é ainda controverso; assim, a detecção de um mosaico trissómica em linfócitos do sangue periférico nem sempre tem uma relação de melhor prognóstico comparativamente a casos de trissomia livre; uma das hipóteses explicativas para este facto seria a impossibilidade de prever qual a proporção de células trissómicas a nível do sistema nervoso central, sendo este um dos principais factores de prognóstico. Risco de Recorrência - nas trissomias livres: - cerca de 1%, adicionando-se o risco específico da idade materna � uma vez que não se pode excluir a existência de mosaicismo gonadal nos progenitores; - o risco mantém-se quando se trata de casos de interrupção voluntária ou espontânea da gravidez; - nas translocações “de novo”: - risco aparentemente baixo dado que ambos os progenitores possuem cariótipos normais; - considerando a eventual existência de mosaicismo gonádico ou de outras alterações cromossómicas não detectadas, é dado o risco genérico de entre 2 a 3%; - nas translocações “herdadas”: - depende do grupo de cromossomas envolvido na translocação e do progenitor portador: - no caso mais frequente t(14:21): - 15% se a mãe é portadora (este valor desce para cerca de 10% se considerarmos o risco ao nascimento); - inferior a 5% se o pai é portador; - progenitores com trissomia 21: - se a mãe é afectada o risco de recorrência na descendência é de cerca de 50%; Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 7 - a fertilidade nos indivíduos de sexo masculino é excepcional, embora estejam descritos dois casos de pais afectados com descendência normal: Nota – Em casais com cariótipos normais, com duas gestações com trissomia 21, seja livre ou por translocação, deve considerar-se a possibilidade de existência de mosaicismo gonádico como causa do elevado risco de recorrência, que embora não esteja definido, em algumas famílias pode atingir os 50%. Deverá ser primariamente excluída a hipótese de mosaicismo somático de baixo grau em algum dos progenitores. Alguns autores referem ainda a possibilidade da existência de predisposição geneticamente determinada para a não disjunção mitótica. Conselho Genético: 1. Em relação à criança: expectativa mediana de vida / qualidade reduzida; 2. Em relação aos progenitores: risco de recorrência dependente da alteração citogenético e da idade dos progenitores, sobretudo da mãe; ♦ diagnóstico pré-natal cromossómico em futuras gestações. - O médico perante os pais de uma criança com síndroma de Down: ♦ como dizer que o filho tem a doença; ♦ ”desculpabilização” � mostrar aos pais que eles não têm culpa, o médico deve mostrar carinho para com a criança. ♦ ensino de técnicas de estimulação psicomotora precoce o em ratinhos, a estimulação mostrou-se muito eficaz nas fêmeas, mas levou a que os machos se baralhassem mais o no entanto, é fundamental para estas crianças que ocorra esta estimulação Nota – no ano 2000 foi publicada a sequenciação de ADN do cromossoma 21, revelando a existência de 127 genes conhecidos, 98 genes candidatos e 59 pseudogenes; o número baixo de genes existentes no cromossoma 21 estará provavelmente relacionado com uma sobrevida maior dos portadores desta aneuploidia cromossómica, quando comparada com as outras trissomias; paralelamente, desenvolveram-se os ratos com trissomia 16 que constituem modelos animais para a síndroma de Down. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 8 Os dados de sequenciação do ADN no cromossoma 21 e a criação dos modelos da síndroma em ratos, permitem estudar o fenótipo e a base molecular da síndroma de Down, sendo um passo importante para a perspectivação das investigações futuras, incluindo a determinação da função de todos os genes do cromossoma 21. TRISSOMIA 18 – SÍNDROMA DE EDWARDS Descrita pela primeira vez na revista Lancet, em 1960, num artigo original de Edward et al., adjacente à descrição original da trissomia 13 por Patau et al., que foi publicada no mesmo número. Epidemiologia - Frequência = 1:6 600 a 1:10 000 recém -nascidos Etiologia - Não dijunção da meiose – trissomia 18 “livre” - maioria dos casos - directamente relacionado com o aumento da idade materna - em 90% dos casos o cromossoma extra é de origem materna - a grande maioria é consequência de erros na meiose-II materna - raros casos em que o cromossoma extra tem origem paterna (erros mitóticos pós fertilização) - Trissomia 18 por translocação: herdada ou “de novo” - Mosaicismo Nota: o segmento critico é o 18q11. Diagnóstico: Pré-Natal: - Definição de grupos de risco: - idade materna (maior risco após os 35 anos) - doseamento de Alfa-feto-proteína e BetaHCG no sangue materno (16 semanas) - ecografias seriadas: - translucência da nuca (10ª - 14ª semanas) Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 9 - 50% mais frequente que a Trissomia 21 em cariótipos de fetos com malformações detectadas ecograficamente (mais fácil o diagnóstico ecográfico) - anomalias fenotípicas: atraso de crescimento + malformações major + poli ou oligohidramnios - indicação de amniocentese - Nota - a maioria morre durante a vida intra-uterina, só cerca de 5% das gestações são viáveis Clínico: - Características fenotípicas: atraso de crescimento, microcefalia, micrognatia, orelhas dismorficas, onfalocelo, alterações radiais dos membros, dedos caracteristicamente flectidos (denunciam cromossomopatias), proeminência dos calcanhares, baixo peso, posição em hipertonia - Malformações associadas: cardíacas, cerebrais (quistos do plexo coroideu), osteoarticulares, digestivas (atresia do esófago, divertículo de Meckell), mielomeningocelo, Prognóstico: - a maioria morre nos primeiros seis meses de vida - menos de 5% das crianças portadoras de trissomia 18 sobrevivem até ao 1º ano de vida - probabilidade pequena, mas não negligenciável, de sobrevida mais longa - atraso de desenvolvimento psicocomotor profundo; de uma forma geral as crianças com maior sobrevida não evoluem para além de um desenvolvimento psicomotor de cerca de 6 meses numa criança normal Risco de Recorrência - nas trissomias livres: - cerca de 1%, adicionando-se o risco específico da idade materna - o risco inclui o aparecimento de outras trissomias como a do cromossoma 21 e 13 � o risco de um casal não se associa exclusivamente a uma trissomia, podendo ocorrer outras - nas translocações “herdadas” - risco significativamente maior que o da trissomia livre - depende do tipo de translocação e do progenitor afectado Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 10 TRISSOMIA 13 – SÍNDROMA DE PATAU Epidemiologia - Frequência = 1:12 500 a 1:21 000 recém-nascidos Etiologia - Não dijunção da meiose – Trissomia 13 “livre” - maioria dos casos (75%) - directamente relacionado com o aumento da idade materna - 90% dos casos o cromossoma extra tem origem na Meiose-I materna - Trissomia 13 por translocação: herdada ou “de novo” - cerca de 25% dos casos de Síndroma de Patau - não depende da idade materna - mais frequente Rob (13q;14q) - a translocação equilibrada (13q14q) é a mais frequente, estando calculada como existindo em cerca de 1/1500 indivíduos; - Mosaicismo - muito raro Diagnóstico: Pré-Natal: - Definição de grupos de risco: - idade materna (maior risco após os 35 anos) - doseamento de Alfa-feto-proteína e BetaHCG no sangue materno (16 semanas) - ecografias seriadas: - anomalias fenotípicas: fendas faciais + polidactilia + com ou sem malformações internas - indicação de amniocentese- Nota –50% são diagnosticados durante a gestação Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 11 Clínico: - Características fenotípicas: polidactilia + (microcefalia, fenda palatina e lábio leporino, malformações oculares (microftalmia, sinoftalmia), cardíacas e renais) - Malformações associadas: cardíacas, cerebrais (holoprosencefalia), osteoarticulares, digestivas (displasia microscópica do pâncreas) � o pâncreas é o local onde se podem fazer análises cromossómicas viáveis. Prognóstico: - a maioria morre no primeiro mês de vida (80%) - cerca de 3% das crianças portadoras de trissomia 13 sobrevivem até ao 6º mês de vida Diagnóstico Diferencial - Síndroma da pseudo-trissomia 13 - autossómico recessivo Risco de Recorrência - nas trissomias livres: - cerca de 1%, adicionando-se o risco específico da idade materna - o risco inclui o aparecimento de outras trissomias como a do cromossoma 18 e 21 - nas translocações “herdadas” - cerca de 1% SÍNDROMA DE CRI-DU-CHAT (5p-) A síndroma de Cri-du-chat foi descrita pela primeira vez por Lejeune et al (1963) como uma síndroma congénita associada à delição de parte do braço curto do cromossoma 5. Epidemiologia - Frequência = 1:20 000 a 1:50 000 recém-nascidos. - A síndroma de cri-du-chat parece ser uma das mais comuns síndromas de delição na espécie humana. Etiologia - Resulta da delição do braço curto do cromossoma 5 (é uma monossomia parcial 5p); esta delição pode variar em tamanho, envolvendo apenas a banda 5p15.2 até à ausência da totalidade do braço curto; Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 12 - O fenótipo apresentado é consequente da provável delição de múltiplos genes, incluindo a delição do gene para a transcriptase inversa da telomerase (TERT); - A grande maioria dos casos são mutações de novo; apenas cerca de 12% dos casos são secundários de segregações desequilibradas de translocações ou inversões num dos progenitores. Diagnóstico Clínico: - Características fenotípicas: microcefalia, face redonda, hipertelorismo, micrognatia, epicanto, inserção baixa das orelhas, hipotonia, e atraso mental profundo. Os recém- nascidos apresentam um choro característico, com uma frequência aguda, semelhante ao miar de um gato � este choro só é detectável nas primeiras semanas de vida. Prognóstico: - A grande maioria das crianças morre na primeira infância e aqueles que sobrevivem até à idade adulta têm um QI médio de 20, com uma atenuação progressiva do fenótipo facial; no entanto, algumas características clínicas como face longa, macrostomia e escoliose tornam-se mais evidentes; estão descritas também alterações de comportamento como agressão e auto-mutilação. SÍNDROMA DE WOLF (4p-) Epidemiologia - Frequência = 1:95 896 recém-nascidos. Etiologia - É causado pela delição parcial do braço curto de um cromossoma 4. - As translocações entre os segmentos dos cromossomas 4p e o 8p (equilibradas ou desequilibradas) foram descritas como as mais frequentes logo após as t(11q;22q) (que são as translocações recíprocas mais frequentes em humanos). Diagnóstico Clínico: - Características fenotípicas: atraso de crescimento marcado, atraso mental, microcefalia, face tipo “capacete grego” e defeitos de fusão como fenda palatina e lábio leporino, coloboma, defeitos do septo ventricular; hipotonia congénita e convulsões � o fenótipo é muito variável. Prognóstico: Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 13 - A taxa de mortalidade infantil está calculada em cerca de 17%, sendo nos primeiros dois anos de 21%. - Os casos com grandes delições de novo (proximais e incluindo p15.2) apresentavam uma mortalidade superior comparativamente aos de pequenas delições. Autores como Shannon et al. (2001) referem que nos casos de delição “de novo” não existe relação estatisticamente significativa entre o tamanho da delição e a mortalidade. - Todos apresentam atraso mental. Nos progenitores com cariótipo normal, o risco de recorrência é baixo. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 14 Genética Médica Seminário nº1 05/03/09 CROMOSSOMOPATIAS Caso clínico nº1: Trata-se de um recém-nascido (RN) internado. Caracteristicas fenotipicas: • Presença de estrabismo • Pavilhão auricular inserido fora (inferiormente) da linha normal, sendo o normal a linha dos olhos • Distância intercantal interna aumentada NOTA: Para avaliar a distância entre os olhos mede-se: � Distância intercantal interna � Distância intercantal externa � Distância interpupilar (muito difícil de avaliar neste caso devido ao estrabismo) • Ângulo da boca para baixo (em vez de recto ou ligeiramente superior) � morfologia em boca de peixe • Ponte nasal alargada que se prolonga num nariz mal definido (cartilagens alares pequenas) � obstrução • A criança tem necessidade de suplemento de O2. Posto isto é necessário fazer o diferencial entre uma falta de surfactante (comum em RN prematuros) e uma qualquer anomalia a nível pulmonar. • Adivinha-se alguma retroenematia � também pode conduzir a uma obstrução devido à inserção dos músculos da língua, o que leva à redução do espaço faríngeo. • O filtro nasal é longo (espaço entre o nariz e o lábio superior) • Hipotonia • Micronematia • Proeminência occipital do crânio • Membros inferiores estão engessados � para tratar luxações congénitas da anca (muitas vezes é necessário raio X do esqueleto) • Hipospardias Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 15 • Posição da mão (cerrada) muito característica das cromossomopatias Será necessário averiguar se existem outras anomalias major associadas, como por exemplo, cardiopatias congénitas. Neste caso especifico, seria útil a realização de um ecocardiograma para associar a morfologia e a função. Sempre que se tem uma criança com anomalias externas, este é um exame essencial. Existem outros exames a pedir: � Raio X pulmonar � Eco abdominal � deve ser escolhida em vez da RM pois é mais barata e fácil de adquirir; em caso de dúvida faz sentido partir para uma RM. � RM abdominal � tem a vantagem de não usar radiações mas demora mais tempo e exige que a criança seja sedada, de modo a estar imóvel, permitindo uma boa aquisição de imagem � Exame neurológico � é feito por rotina em todos os RN, mas não permite avaliar alterações morfológicas. Engloba: o Avaliação do tono muscular o Avaliação dos reflexos pupilares à luz o Avaliação da reacção o Etc � Ecografia transfontanelar � as alterações morfológicas do SNC podem ser detectadas deste modo. � Faria sentido fazer uma análise hematológica se se suspeitasse de uma alteração metabólica. Mas, geralmente, nestes casos, não há tantas malformações (sobretudo hipotonia ou vómitos) Faz sentido pedir um cariótipo quando há vários órgãos e sistemas afectados. NOTA: É fundamental saber a história familiar da criança. Após a análise do cariótipo verificou-se uma deleção da região terminal do braço curto do cromossoma 4 � síndrome de Wolf (4p-) Será conveniente estudar os pais, para o caso de pretenderem ter descendência futura. NOTA: A falta de material genético provocada por deleções provoca mais alterações do que a inserção de material genético. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 16 Caso clínico 2: NOTA: Para ter uma árvore genealógica minimamente informativa são necessárias pelo menos 3 gerações. Motivo da consulta: abortamentos de repetição. Importante saber: • O casal não é consanguíneo • Os abortamentos foram precoces: o Implica alterações mais graves o Portanto não foi possível realizar o estudo do cariótipo • Irmão da probante morre. Como? Acidente de viação o Apesar de neste caso não ser relevante é necessário questionar, pois poderiaser esclarecedor para a situação em causa • Importante conhecer a história clínica de todos os indivíduos. Nota: Caso a probante tivesse uma anomalia no colo do útero, isso poderia justificar os abortamentos de repetição. Portanto, é necessário conhecer a história clínica para nos certificarmos que não existe uma razão conhecida para o caso em questão. O primeiro cariótipo a pedir é o dos linfócitos (sangue periférico), pois este pode ser suficiente para detectar a anomalia. Caso seja normal, pode-se avançar para outras linhagens celulares, como as células germinativas, no caso de se procurar um mosaicismo gonadal, por exemplo. Resultado do cariótipo de II4: translocação em que o braço curto do cromossoma 15 passou para o cromossoma 19 � promove uma trissomia parcial ou uma monossomia. Posto isto, uma solução seria a reprodução medicamente assistida com diagnóstico pré- implantação, mas: Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 17 o É sempre necessário saber a idade materna o É necessário ter em conta as alterações a que a mulher se vai submeter devido ao tratamento hormonal Visto que a senhora tem facilidade em engravidar, a solução mais viável seria o diagnóstico pré-natal, com recomendação para amniocentese. Seria conveniente fazer o cariótipo dos irmãos. Quando os 2 progenitores da probante são vivos, rastreiam-se, de modo a concluir se se trata de uma mutação de novo (o que à partida excluirá os irmãos de perigo) ou de uma mutação herdada. No caso em questão fez-se o cariótipo de I4: possui as mesma alterações da filha � trata-se, portanto, de uma translocação herdada. No presente caso, os irmãos da probante não vivem em Portugal, mas seria conveniente rastreá-los. Olhando para os dois casos de translocação (I4 e II4) verifica-se que a lei das probabilidades de aplica a cada gravidez e não a cada situação global. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 18 Genética Médica Aula Teórica nº2 12/03/09 HETEROSSOMOPATIAS Heterossomopatias: anomalias dos cromossomas sexuais, consistindo em: • aneuploidias do cromossoma X e/ou Y, como por exemplo as monossomia e polissomia dos cromossomas X e Y; • anomalias estruturais; • mosaicismo. Uma das maiores dificuldades do aconselhamento genético referente às heterossomopatias abrange os casos de diagnóstico pré-natal (DPN) e o prognóstico a longo termo. Deve ser realçado que em cada 250 amniocenteses, efectuadas em mulheres com idade igual ou superior a 35anos, é diagnosticado 1 caso de anomalia dos cromossomas sexuais. (Esta frequência é sobreponível à da trissomia 21). Os estudos efectuados em casos de biópsia das vilosidades coriónicas, indicam que a frequência de diagnóstico de heterossomopatias, é cerca de três vezes superior, comparativamente à amniocentese. Estes resultados ressaltam a importância da necessidade de informação sobre este tema em consultas de aconselhamento genético pré-amniocentese, nas quais, de uma forma geral, se dá uma relevância preponderante ás trissomias autossómicas. A incidência de heterossomopatias diminui drasticamente nos recém-nascidos, o que sugere que um número significativo destes fetos morre na metade tardia da gestação. No entanto, este número é consideravelmente menor que nos casos de autossomopatias. Uma grande percentagem de casos com heterossomopatias não chega a ser diagnosticada. Pode assim concluir-se que estes indivíduos apresentam um fenótipo dentro do limite da normalidade, embora o cariótipo revele, na grande maioria dos casos, alterações não-mosaico. O aumento da idade materna pode influenciar o risco da polissomia X mas não atinge o cromossoma Y. As monossomias X são mais frequentes em mães mais jovens, especialmente aquelas que tiveram abortamentos espontâneos. 1 ) Efeito de Imprinting: • impacto da diferença funcional que a contribuição da linha germinativa de cada um dos progenitores pode ter no zigoto pode explicar a grande variabilidade de sintomas: Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 19 • Homens XXY: - X extra tem em 50% dos casos origem no pai e na mãe • Mulheres XXX: - X extra tem origem materna em mais de 90% casos • 45,X: - 80% dos X perdidos são de origem paterna • Tetrassomias e Pentassomias: - cromossomas extras têm origem no mesmo progenitor 2) Inactivação do Cromossoma X: Numa célula apenas um cromossoma X está completamente activo, produzindo os restantes os corpúsculos de Barr ou cromatina do cromossoma X. No entanto o cromossoma inactivado apresenta algumas áreas activas: - 2 áreas em Xp - 2 áreas em Xq - X-IST (inactive specific transcript)(Xq): - está activo no X inactivo - está inactivo no X activo - provável “centro de inactivação” que controla o processo de inactivação do cromossoma X Monossomia X - Síndrome de Turner: 1) Epidemiologia - 1/2,500 RN femininos 2) Etiolgia - 45,X (40-60% casos) - Anomalias estruturais dos cromossomas X e Y - Mosaicismo Nota – o cariótipo de tecidos específicos pode revelar diferentes constituições cromossómicas. - Hipóteses propostas para as implicações fenotípicas secundárias à perda total ou parcial de um cromossoma sexual: - Haplo-insuficiência de um gene expresso em ambos os cromossomas - Imprinting com expressão de genes de apenas um dos progenitores Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 20 - Efeitos cromossómicos não específicos 3) Diagnóstico Pré-Natal: Definição de grupos de risco: - Semelhante às restantes aneuploidias cromossómicas: - translucência da nuca; Características ecográficas: higroma cístico do pescoço, atraso de crescimento, coarctação da aorta e anomalias renais. Nota - Os embriões 45,X apresentam uma taxa de abortamento elevada de cerca de 99,9%. A etiologia deste fenómeno ainda é desconhecida, sendo uma hipótese possível a provável necessidade de dois X activos na fase precoce da embriogenese(?); imprinting(?); 4) Clínico: - Características fenotípicas: sexo feminino, baixa estatura, face característica, Pterygium colli; características sexuais secundárias pouco desenvolvidas, amenorreia (diagnóstico mais frequente após a puberdade). - Peso e Estatura: RN com baixo peso (apresentam em média 2,933+/-467 Kg); baixa estatura (estatura média de143 cm) na idade adulta, clinicamente notada cerca dos 2 anos e acentuada após a puberdade (-2 Desvios Padrão a –4 Desvios Padrão). Directamente relacionada com a perda de parte ou da totalidade de Xp (Xp-) e não apresenta relação com deficiência de hormona de crescimento. Parece depender das TATA Box. - Desenvolvimento Sexual: a ausência do cromossoma Y condiciona o aparecimento de ovários embrionários. Presença de folículos primordiais ao nascimento que vão sofrer morte precoce com consequente ausência de folículos na puberdade. A menarca ocorre raramente. A esterilidade é habitual. Apresentam características sexuais secundárias pouco desenvolvidas, falência ovárica primária com produção muito baixa de estrogénio e excreção elevada de gonadotrofina. - Uma minoria (45,X/46,XX) apresenta menarca com ciclos mais ou menos regulares que geralmente cursa com menopausa precoce; estão descritas 24 mulheres 45,X que engravidaram, salientando-se no entanto o aumento do risco de abortamento e aneuploidias. - Inteligência e Personalidade: evidenciam inteligência dentro dos limites da normalidade com algumas dificuldades de orientação espacial; ligeiros défices cognitivos e de percepção, défices neuromotores, redução da motilidade fina e grossa, imaturidade, insegurança e boa capacidade de adaptação. - Doenças Adquiridas: tiroidites auto-imunes (algumas vezes com hipotiroidismo) na Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 21 adolescência e adultice jovem; hipertensão arterial (HTA) frequentena adolescência; obesidade mais característica da adolescência; Diabetes Mellitus (DM) na idade adulta; telangiectasias intestinais; aneurisma dissecante da aorta. 4) Alterações Fenotípicas: Alt. Crânio-faciais: % Gastrointestinais - telangiectasias % Epicanto 25 Pele e Linfáticos: palato arqueado 36 Linfoedema pés e mãos 38 dentição anómala nevos pigmentados 63 def. visuais (estrabismo). 22 Unhas - malformações ou hipoplasia def. auditivos (ouvido interno) Esqueleto: Pescoço: cubito valgo 54 pterygium colli 46 Metacarp/tars curtos (IV) 48 curto, largo, com inserção baixa do cabelo Renais: 38 Cardiovascular: aplasia / hipop.unilat., em ferradura coarct. aorta /CIV 10-16 anomalia ureteres (dupl.) 5) Correlação Cariótipo - Fenótipo: • Xp- e Síndrome de Turner 1. Delição de Xp21 -> pter ------------baixa estatura: Região crítica distal a Xp22.2: • trata-se de uma região pseudoautossómica (que escapa à inactivação do cromossoma X) onde se situa o gene SHOX (short-stature-homebox): este gene codifica duas proteínas (SHOXa e SHOXb) cujas funções ainda não estão totalmente definidas (factores de transcrição?). • Durante a embriogénese humana o gene SHOX é expresso predominantemente nos membros e nos arcos faríngeos. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 22 • Alguns investigadores sugeriram a existência de um locus no intervalo Xp11.1-p22 que codificariam genes importantes para a estatura (factor de transcrição ZFX). 2. Dilecções intersticiais centrais de Xp --- baixa estatura pouco acentuada. 3. A ausência de genes existentes na vizinhança de Xp11.3, que escapariam à inactivação do cromosssoma X, seriam responsáveis pela hipoplasia linfática primária com consequências secundárias a nível de órgãos internos. 4. Delições da região proximal de Xp ------amenorreia primária O USP9X (DFRX) é um gene candidato para a ocorrência de digenesia gonádica na Síndroma de Turner. É um gene homólogo da Drosophila, que escapa à inactivação do cromossoma X e localizado em Xp11.4, uma região que está associada com falência ovárica. 5. Delições teloméricas ----amenorreia secundária e infertilidade 6. Delição de genes localizados em Yp 7. Manifestação de doenças recessivas ligadas ao X (Xp) • Xq- e Síndrome de Turner 1. RPS4X – codifica uma isoforma da proteína ribossómica S4, sendo relacionável com o linfedema do fenótipo da Síndroma de Turner, podendo ainda estar implicado com a pouca viabilidade in utero. 2. DIAPH2 – gene necessário para a função normal dos ovários. 6) Cariótipo: 1. 45,X - (40-60% casos) - grande variação fenotípica, manifestações clínicas mais graves: anomalias faciais, pterygium colli, coarctação da aorta, estatura mais baixa e menor probabilidade de ocorrência de menarca. 2. 46,X,I(Xq) (anomalia estrutural mais frequente) - fenótipo semelhante ao 45,X; raro nos abortos espontâneos (efeito feno- protector); incidência aumentada de doenças auto-imunes (tiroidites e DM). 3. 46,X, del (Xp) - delições terminais ou intersticiais; características de 45,X quando a delição de p é completa; restantes casos com fenótipo menos afectado que 45,X. 4. 46,X, del (Xq) (menos frequente.) - del Xq13-Xq26 ---- infertilidade; amenorreia primária muito frequente, mas muitas mulheres menstruam; o desenvolvimento normal das gónadas requer a Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 23 presença de genes de Xq, mas não de todo Xq; 5. Cromossomas marcadores X - importância da técnica FISH para o seu diagnóstico. 6. Segmento do cromossoma Y (aumento do risco de tumores das gónadas) 7. Translocações e Inversões dos cromossomas sexuais: - Duplicações / monossomias de segmentos cromossómicos; fenótipo semelhante ao 45,X /apresenta apenas digenesia das gónadas; micro-delições indetectáveis pela citogenética; inactivação preferencial do cromossoma translocado; imprinting; dissomia uni-parental. 8. Translocações X;Y: - Mais frequentemente pontos de rotura em Xp e Yp, com perda de Yp (perda de SRY - gene determinação testicular); fenotipicamente são mulheres pequenas e inférteis; - Translocação (Xp;Yp); fenótipo masculino, podendo apresentar hipogonadismo e azoospermia 9. Mosaicismo: - Presença de duas ou mais populações celulares com constituição cromossómica diferentes; incidência em DPN (líquido amniótico) - 20%; fenótipo muito variável; aconselhamento genético difícil em DPN; os mais comuns, no Homem, envolvem o cromossoma X e Y 10. Anomalia estrutural do X ou Y / 45,X - consequência directa da instabilidade mitótica de uma cromossomopatia de estrutura; 7) Tratamento: • Vigilância clínica anual: o Hormona de crescimento (4/6 anos - encerramento epifisário); o Risco aumentado de HTA, DM, obesidade, hipoacusia, osteoporose, telangiectasias, patologia tiroideia, aneurisma da aorta; o Hormonoterapia de substituição: permite o desenvolvimento das características sexuais secundárias e a prevenção da osteoporose (cartilagem de crescimento); o Reprodução medicamente assistida: fertilização in vitro com óvulo de dadora. • Aconselhamento Genético • Rastreio de ADN do Y por genética molecular (exclusão 45,X/46,XY): cerca de 8% com diagnóstico positivo; risco aumentado de gonadoblastomas. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 24 8) Diagnóstico Pré-Natal: Informações aquando do resultado de DPN: • o atraso mental (QI<70) não é esperado; • probabilidade elevada de ocorrência de baixa estatura e utilização hormona de crescimento no seu tratamento; • a infertilidade é quase certa – possibilidade de reprodução medicamente assistida; • problemas físicos possíveis; • risco aumentado para atraso linguagem, de desenvolvimento, neuro-motor e de aprendizagem; grande variabilidade clínica; • baixa probabilidade de recorrência. Maior dificuldade no diagnóstico e no aconselhamento genético dos casos de mosaicismo. 9) Diagnóstico. Diferencial: - Síndrome de Noonan: pterygium colli, baixa estatura, estenose válvula pulmonar, atraso mental (ocasional) - Digenesia gonádica (ovárica) pura: digenesia gonádica com infantilismo sexual; fenótipo feminino, sem sinais de 45,X; cariótipo – 46,XY ou 46,XX; hereditariedade autossómica recessiva; dificuldades de diagnóstico diferencial com mosaicismo 45,X/ 46,XX(46,XY). - Mulheres 46,XY: - Feto 46,XY, em que a ecografia revela ausência de genitais externos masculinos: - Síndroma de feminização testicular (mais frequente) - forma de pseudo- hermafroditismo masculino: mutação no gene receptores dos androgénios - insensibilidade aos androgénios; ausência de derivados mullerianos; testículos bilaterais, órgãos genitais femininos; hereditariedade recessiva ligada ao cromossoma X. - Sdr. Swyer - Pseudo-hermafroditismo masculino: forma de digenesia gonádica; delição ou mutação do gene SRY (Yp); diagnóstico por genética molecular (não por citogenética); casos habitualmente esporádicos mas com risco de recorrência de cerca de 25%. - Casos com o gene SRY aparentemente intacto: mutações em autossomas ou Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 25 no cromossoma X, envolvidos na determinação ou diferenciação sexual. Síndrome de Klinefelter: • Hipogonadismo masculino com cariótipo 47,XXY • Incidência - 1/600 RN masculinos • Etiologia: o não-disjunção / mal-segregação na meiose paterna (44%) / materna (56%) o sem influência da idade dos progenitores. • Características clínicas: estatura elevada, testículos pequenos, infertilidade, risco aumentado para problemas de desenvolvimento; grande variabilidade do quadro clínico. o Nota - aconselhamento genético difícil, especialmente em casos de diagnóstico pré-natal. • recém-nascido: sem alterações fenotípicas relevantes; aumento ligeiro de mortesneo-natais; • taxa de crescimento aumentada aos 5 anos e no período da adolescência com aumento predominante do tamanho dos membros inferiores; • fenótipo pré-pubertário é normal; o Características Sexuais Secundárias: � ginecomastia (grande variabilidade) - cerca de 15-30%; sem resposta à testosterona (intra muscular); aumento do risco de cancro da mama; � após os 15 anos: • a testosterona sérica diminui; • aumento da concentração sérica de FSH, LH e estradiol (hipergonadotróficos) - ocasionalmente encontram-se valores normais; • hipoplasia dos testículos (com resposta parcial à gonadotrofina); • azoospermia / oligospermia / infertilidade; • crescimento fraco da barba (60-90%), • libido diminuída. o Características Intelectuais e de Comportamento: � ligeira diminuição do QI (85 - 90), dependente do ambiente Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 26 familiar; � alterações da aprendizagem, atraso de linguagem e dislexia; � maior tendência a alterações de comportamento quando expostos a situações de tensão; � geralmente são mais tímidos e com menor autoconfiança; � melhoria com tratamento com testosterona. o Cariótipo: o 47,XXY - 80-85% o anomalias estruturais - muito raras (1%) o Mosaicismo (46,XY/47,XXY (15%). o Doenças Associadas: o outras anomalias cromossómicas: o 48,XXY,+21 ; o Síndrome X frágil (ambos os cromossomas X da mãe). o Doenças Adquiridas: o Lupus eritematoso sistémico; o DM; o Patologia tiroideia; o Úlcera péptica; o Enfisema pulmonar; o Cancro da mama ; o Tumores da linha germinativa. o Diagnóstico Diferencial: o Homens XX; o Sdr. Kallmann - Xp, anosmia com hipogonadismo hipogonadotrófico. o Tratamento: o Sem forma de prevenção: esterilidade e digenesia dos túbos seminíferos, ginecomastia. o Aos 12 anos: deverá ser informado do seu problema e das razões biológicas para as suas dificuldades; testosterona intra-muscular ou em patch Homens 46,XX: o Incidência: 1/ 20.000 RN masculinos o Características clínicas, orientação e tratamento similar às do Síndrome de Klinefelter; estatura inferior à da Síndrome de Klinefelter, com inteligência normal. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 27 o negativos para o ADN do Y: - menos de 1/3 dos casos; fenótipo similar; provavelmente têm a mesma origem que os casos de hermafroditismo verdadeiro XX; o positivos para o ADN do Y: - 90% dos casos com parte do braço curto do Y translocado para Xp; - troca intercromatídica anormal na meiose paterna; - região de 35KB de ADN que contem o gene SRY (sex-determining region Y); - visível usando sondas de Yp. Homens 45,X: o Casos muito raros. o Etiologia – o SRY é translocado (Yp) para um autossoma (c/ duplo centrómero). o Fenótipo – muito variável com sobreposição com a digenesia gonádica mista; gónadas contêm tecido testicular; testículos pequenos, infertilidade e outras anomalias consequentes da monossomia do segmento autossómico translocado. 45,X/46,XY: o Incidência – 1.7/10 000 o os casos diagnosticados pós-natalmente: 100% apresentam anomalias genitais; alta percentagem de infertilidade; o ao nascimento - 90% dos indivíduos são normais e do sexo masculino; torna-se fundamental o rastreio de tumores testiculares; biópsia testicular - se revelar alterações - gonadectomia; o desafio no DPN: possibilidade de ocorrência de anomalias na diferenciação sexual; Homens 47,XYY: o Incidência - 1/1 000 recém-nascidos masculinos. o Etiologia – não disjunção na meiose II paterna; � sem relação com o aumento de idade dos progenitores. o fenotipicamente normais; taxa de crescimento acelerada na infância; dificuldade de aprendizagem (50%) QI: 80 - 140; dificuldade de linguagem e da escrita; hiper- actividade com baixa capacidade de concentração e de controle emocional; défices Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 28 neuromotores minor; alterações de comportamento; dificuldade de relaxamento e de julgamento de situações; aumento da incidência de conflitos com a lei. 47,XXX o Incidência - 1/1,200 RN femininos o Origem do X supranumerário: 93,5% por não disjunção na meiose materna; aumento da idade materna na meiose I (mas não na II); o Fenótipo - aumento de anomalias minor (clinodactilia, epicanto, anomalias das orelhas), microcefalia relativa, variabilidade da altura estando em relação com a dos progenitores; aumento da altura à custa dos membros inferiores; o Inteligência e personalidade: atraso do desenvolvimento neuromotor, da linguagem e da aprendizagem; a maioria apresenta um QI inferior ao dos familiares mas superior a 70; dificuldade de interacção pessoal o Desenvolvimento sexual: menarca tardia com ciclos irregulares, infertilidade primária e/ou secundária, menopausa precoce, abortamentos de repetição (risco aumentado de aneuploidias). Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 29 Genética Médica Seminário nº2 11/03/09 e Aula Teórica nº11 21/05/09 DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL O diagnóstico pré-natal representa a possibilidade de detectar uma anomalia do embrião ou feto antes do nascimento. São várias as técnicas passíveis de utilização em diagnóstico pré-natal (DPN), devendo a sua escolha ser baseada na patologia que se pretende diagnosticar. O métodos de DPN podem dividir-se em: métodos invasivos e métodos não invasivos. MÉTODOS NÃO-INVASIVOS: (são utilizados a qualquer altura da gravidez, mas isso não implica que não seja prejudicial para o feto, como é exemplo o raios X) Ecografia: é o método de diagnóstico pré-natal mais usado em todo o Mundo, dado que é considerado inócuo para o feto e dadas as possibilidades cada vez maiores de visualização do feto em pormenor. Permite avaliar, entre outros parâmetros, os seguintes: número e localização do (dos) embrião (embriões); idade gestacional; biometria; existência ou não de malformações externas ou internas; velocidade de crescimento intra-uterino; existência ou não de “sinais de alarme” para anomalias cromossómicas, etc. Considera-se actualmente a ecografia um exame imprescindível para uma vigilância correcta da gravidez, devendo ser realizados vários exames ao longo da gravidez (com início no 1º trimestre). Radiografia: ainda que não invasivo, implica a sujeição do feto a radiações ionizantes, pelo que raramente se utiliza actualmente. Ressonância magnética nuclear: método de utilização relativamente recente em DPN, considerada segura para o feto. Tem uma resolução maior do que a ecografia, sendo por isso melhor para detectar certas anomalias como as do SNC. Pensa-se, também, que não possui riscos para o feto. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 30 MÉTODOS INVASIVOS MAIS FREQUENTES (apenas quando há fortes motivos para a sua realização) Amniocentese: é o método invasivo de DPN mais usado. Consiste na obtenção de líquido amniótico através de picada no útero por picada transabdominal. Permite a utilização das células em suspensão para estudos cromossómicos (após cultura), estudos moleculares (ADN) e/ou estudos metabólicos/bioquímicos, enquanto o sobrenadante pode ser usado para doseamentos bioquímicos (p. exemplo, alfa-fetoproteína para rastreio de defeitos abertos do tubo neural). Para DPN a altura considerada com menor risco de abortamento e/ou deformações fetais é após as 15 semanas de gestação. Embora seja considerado um método relativamente seguro, verifica-se um risco aumentado de abortamento (cerca de 0.5 a 1%) após a amniocentese, havendo igualmente outros riscos descritos (p. ex. pé boto), embora considerados praticamente irrelevantes após as 15 semanas de gestação. Para estudos citogenéticos e moleculares, este método exige normalmente a cultura in vitro das células amnióticas duranteum período variável (1 a 3 semanas). Biópsia das vilosidades coriónicas (BVC) Método invasivo que consiste na colheita, por via transcervical ou transabdominal, de vilosidades coriónicas (trofoblasto). O material assim colhido pode ser usado imediatamente (sem cultura) para extrair ADN e/ou para estudo cromossómico, já que existem normalmente células em divisão espontânea na amostra. A qualidade das preparações cromossómicas baseadas no exame directo (sem cultura) é normalmente sofrível, mas suficiente para despistar/diagnosticar as anomalias cromossómicas de número e a maior parte das anomalias estruturais grosseiras. A qualidade das preparações citogenéticas após cultura é idêntica à das obtidas com amniocentese. Na BVC podem verificar-se duas situações que dificultam a interpretação dos resultados dos estudos cromossómicos: • mosaicismo confinado à placenta (observado em 1 a 2% dos casos), que se traduz na detecção de anomalias cromossómicas – geralmente numéricas – não confirmadas posteriormente por amniocentese ou após os nascimento e apenas presentes na placenta; Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 31 • contaminação materna (apenas um problema após cultura celular), devida a crescimento preferencial in vitro de células maternas. Embora possa ser realizada em qualquer altura, a BVC realiza-se habitualmente entre as 11 e as 13 semanas de gestação. Os riscos de abortamento são, nas maiores séries, semelhantes aos da amniocentese ou apenas ligeiramente superiores (cerca de 1%). Cordocentese Consiste na colheita de sangue fetal através da picada de um vaso do cordão umbilical. Permite a obtenção de células fetais quando, perante uma gravidez já avançada, é necessário um cariótipo urgente, ou quando não há líquido amniótico suficiente para uma amniocentese, ou quando é necessário o estudo de determinadas doenças do foro hematológico (p. ex. hemoglobinopatias) ou imunológico. Realiza-se habitualmente entre as 18 e 22 semanas de gestação. O risco de abortamento é superior ao da amniocentese e CVS: cerca de 2%, nas melhores séries. Mas então qual é a diferença entre RASTREIO e DIAGNÓSTICO? RASTREIO: Aplicação sistemático de um teste ou inquérito, com o objectivo de identificar, entre pessoas que não tenha suscitado atenção médica com base em sintomas de uma doença especifica, indivíduos que apresentem um risco suficientemente elevado de desenvolver a doença em causa, para que possam beneficiar de investigação adicional ou acção preventiva directa. Rastrear significa IDENTIFICAR, numa população de indivíduos aparentemente normais. Ou seja, após um teste de rastreio, vamos ter 2 grupos: população com baixo risco e população com elevado risco. Os indivíduos com um risco suficientemente elevado de terem (um filho com) determinada afecção para justificar a realização de testes de diagnóstico específicos. O rastreio, ao contrario do que possamos pensar não necessita de ser um teste químico, o perguntar a idade da grávida (apesar de não muito fiável, como vamos ver) é considerado um teste de rastreio, visto que determinadas doenças aumentam o seu risco com o aumento da idade da grávida. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 32 Um TESTE DE DIAGNOSTICO permite distinguir os falsos positivos dos verdadeiros positivos, no grupo que foi considerado de alto risco. A ecografia, apesar de normalmente, ser considerado um teste de rastreio, também pode ser interpretado como um teste de diagnóstico (ex. de malformações como a fenda palatina ou facial), consoante a patologia. A ecografia é um método suficiente para diagnosticar a malformação, mas funciona como rastreio de uma cromossomopatia, justificando um teste de diagnóstico. IDADE: apesar de fácil acessibilidade e de barato, não é um bom método de rastreio. Por exemplo, para a trissomia 21, a maioria das crianças nasce de mães com menos de 35 anos, apesar do risco ser diminuído, pois há um maior número de gravidezes em mulheres mais jovens. (NOTA: em Portugal, as grávidas com mais de 35 anos já representam já mais de 20% do numero total de grávidas. – o que significaria de 1 em cada 5 grávidas tinha de fazer amniocentese) COMO DEFINIMOS SE UM RASTREIO É BOM OU MAU? • Barato • Razoável nível de sensibilidade (superior a 50%), ou seja, capacidade de detectar muitos casos. • Simples de aplicar • Pode-se aplicar a toda a população • Especifico (baixo numero de falsos positivos). TAXA DE DETECÇÃO: igual ao número de verdadeiros positivos detectados sobre o número total de afectados TAXA DE FALSOS POSITIVOS: igual ao número de falsos positivos detectados sobre o número total de não afectados. EXEMPLOS: Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 33 Este teste é melhor que o primeiro exemplo, já que a taxa de falsos positivos é igual, mas a taxa de detecção é melhor. Este seria o teste de rastreio mais eficaz, visto que mantém uma boa taxa de detecção, mas em tem uma taxa de falsos positivos ainda melhor. Para uma mesma taxa de falsos positivos, é melhor o teste com maior taxa de detecção → mais sensível Para uma mesma taxa de detecção, é o melhor teste com menor taxa de falsos positivos → mais específico RASTREAR: O QUÊ? • Doença bem definida Outras cromossopatias que não a trissomia 21 não compensa rastrear porque a frequência é pouca ou são anomalias sem graves consequência (anomalias sexuais). • Frequência apreciável (se a frequência for baixa não vale a pena rastrear). RASTREIO BIOQUÍMICO DE SÍNDROME DE DOWN • Na ausência de qualquer tipo de rastreio, a trissomia 21 ou Síndrome de Down (mongolismo) afecta 1 em cada cerca de 700 recém-nascidos e representa a causa mais comum de atraso mental grave. • A idade materna é o rastreio mais antigo de Síndrome de Down, mas também o menos eficaz: mais de 50% dos casos de Síndrome de Down ocorrem em mães com menos de 35 anos, o que se compreende já que cerca de 80% das gestações ocorre em mulheres com menos de 35 anos. Ou seja, se o diagnóstico pré-natal for oferecido apenas às grávidas com mais de 35 anos, realizaremos amniocenteses em cerca de 20% das gravidezes e apenas serão diagnosticados cerca de metade dos casos de Síndrome de Down (SD), já que os restantes ocorrerão em grávidas jovens (isto é, sem indicação para a amniocentese, se usarmos apenas o critério da idade). Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 34 o Nota: A idade materna é um teste de rastreio com custo, pois ao ser detectado um caso será necessário encaminhá-lo para a realização de exames de diagnostico que acarretam despesas. • Na realização de um teste de rastreio é importante que: o O teste seja especifico (poucos falsos positivos) o O teste seja sensível (poucos falsos negativos) Para reduzir o número de falsos positivos tem de se “arrastar” o cut-off para a direita, aumentando o número de falsos negativos. • Sabe-se desde a década de 80 que alguns marcadores bioquímicos no soro da grávida tendem a ter níveis mais baixos ou mais altos em gestações de fetos com SD do que em fetos normais. O número de marcadores úteis para este rastreio tem vindo a aumentar, sendo os seguintes os mais importantes: Falsos negativos Falsos positivos Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 35 o alfa-fetoproteína: níveis mais baixos no SD e mais altos nos defeitos abertos do tubo neural; com interesse entre as 14 e 22 semanas para rastreio de SD e a partir das 15 sem para rastreio de DTN. o -hCG: níveis mais elevados no SD; com interesse para rastreio de SD entre as 10 e 22 semanas o estriol não conjugado: níveis mais baixos no SD; com interesse para rastreio de SD entre as 14 e 22 semanas o inibina A: níveis mais elevadosno SD; com interesse para rastreio de SD entre as 14 e 22 semanas o PAPP-A: níveis mais baixos no SD; com interesse para rastreio de SD entre as 10 e 13 semanas • Conceito de MoM (multiples of median): 1 MoM consiste na mediana da população normal, ou seja, representa o risco na população geral. Portanto, os MoM são os múltiplos da mediana � esta unidade permite uniformizar os valores de diferentes laboratórios. • CUT-OFF: limiar de risco a partir do qual se considera um rastreio positivo • Falsos-positivos: percentagem de gestações normais com rastreio positivo • Falsos-negativos: percentagem de gestações afectadas com rastreios negativos. • A percentagem de falsos positivos e a taxa de detecção variam com o cut-off usado. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 36 No ponto em que as 2 curvas se cruzam, o risco é de 50-50, ou seja, é igual ao da população geral. A mediana da população não afectada é 1MoM. Para uma AFP de 2,5 MoM, o risco de a criança vir a ter espinha bífida aumenta quatros vezes (distancia entre as curvas). Quando a AFP é de 1 MoM o risco diminui 10 vezes (distância entre as curvas). Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 37 • O rastreio de SD pode ser feito no: o 1º trimestre: PAPP-A + -hCG livre o 2º trimestre: a combinação dos 4 marcadores – AFP + -hCG + estriol não conjugado + inibina A – representa o teste mais eficaz nesta altura da gestação. Exemplo: Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 38 • No 1º trimestre de gestação (entre as 10 e as 13 semanas), para além dos marcadores bioquímicos referidos, pode ser usado um importante dado da ecografia (a translucência da nuca, que não é mais do que a espessura de um espaço com líquido que se situa na parte posterior do pescoço do bebé), para o rastreio de SD • A translucência da nuca é o melhor marcador isolado para rastreio de SD • Há vários outros marcadores ecográficos com interesse para o rastreio de SD (por exemplo, os ossos do nariz do feto – quando visualizáveis na ecografia do 1º trimestre o risco de SD é menor; quando ausentes, o risco aumenta consideravelmente) • Seja qual for o tipo de rastreio adoptado, a idade materna é sempre incluída na análise de riscos, pelo que a idade materna não deve ser considerada alternativa ao rastreio bioquímico Exemplo de 2 estudos: Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 39 Comparação dos 2 estudos: Só no termo foram doseados os marcadores do 1º trimestre, por questões éticas. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 40 Posto isto, quanto mais cedo for feito o rastreio melhor? A melhor opção é a realização de um rastreio integrado. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 41 Genética Médica Aula teórica nº3 12/03/09 DOENÇAS DE ACUMULAÇÃO • As doenças de acumulação resultam da deposição progressiva, de uma determinada substância que se encontra em quantidade excessiva, dado não estar a ser convenientemente metabolizada, nos diferentes órgão e tecidos. Na grande maioria, o armazenamento é intralisosómico. Nota: Um lisossoma patológico não tem capacidade de degradação, logo acumula. • São secundárias a erros do metabolismo, existindo uma deficiência enzimática específica. Assim observa-se uma deficiência de um metabolito essencial e a acumulação de um percursor metabólico intermediário. • As alterações de determinadas enzimas lisossómicas vão originar uma deficiência de degradação de macromoléculas. • No seu conjunto estas doenças têm um carácter progressivo, em que as crianças são normais ao nascimento e os sintomas têm um aparecimento progressivo, por acumulação de um ou mais tipos de macromoleculas. MUCOPOLISACARIDOSES (MPS) • Acumulação intralisossómica de glicosaminoglicanos (GAG) ou de mucopolissacarídicos, por deficiência de diferentes enzimas de degradação lisossómicas. • Têm uma evolução clínica com carácter progressivo. • Actualmente estão bem estabelecidas 6 MPSs diferentes, em que cada uma delas apresenta um padrão de excreção urinária de GAG característica, défices enzimáticos específico de cada tipo e hereditariedade autossómica recessiva (AR), com excepção da MPS-II (Síndroma de Hunter) que é X recessiva. Tipo Enzima deficitária Denominação I: H,H/S,S alfaL-iduronidase Hurler, Hurler-Scheie, Scheie II iduronato-sulfato sulfatase Hunter III: A,B,C A-sulfaminidase;B-N-acetil-alfa- Sanfilippo Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 42 Dglucosaminidase;C-glucosaminidase-N- acetiltransferase;D-glucosamina-6-sulfato sulfatase IV: A,B A-galactosamina 6 sulfatase; B-beta- galactosidase Morquio VI arilsulfatase B Maroteaux-Lamy VII beta-glucoronidase Sly MPS I: HURLER, HURLER-SCHEIE, AND SCHEIE SYNDROMES História: • 1919: Descrita pela primeira vez por Gertrud Hurler; • 1952: isolamento e identificação do substrato por G. Brante; • 1962: descrição do fenótipo ligeiro da doença por Harold Scheie; • 1965: Síndrome de Scheie originalmente classificado como MPS V; • 1965: Síndrome de Hurler classificado com MPS I; • 1970s: Síndrome de Scheie reclassificado como MPS-I dado a enzima deficitária identificada ser a a-L-iduronidase; • 1991-92: isolamento completo de toda a extensão do cDNA e sequenciação do gene da a-L-iduronidase; • 1994: produção da a-L-iduronidase recombinante; • 1994-96: Estudos pré-clínicos da a-L-iduronidase em modelos; • 2001: estudos clínicos fase I/II promissores de TSE na MPS I. Etiologia: Alteração no gene que codifica a alfa-L-iduronidase. Existe uma alteração do catabolismo dos GAG que resulta na acumulação celular progressiva dos GAG: sulfato de dermatano e sulfato de heparano. Incidência: Pan-étenica. A incidência estimada varia entre: 1:100,000-144,000 (Hurler); 1:115,000-1:280,000 (Hurler-Scheie); 1:500,000 (Scheie). Hereditariedade: autossómica recessiva Locus : cromossoma 4: 4p16.3 Mutações Genéticas: Actualmente estão mais de 50 mutações identificadas: W402X, Q70X. A correlação genotipo/fenotipo não é exacta, mas as mutações nulas (inexistência de enzima) correlacionam-se com a forma grave da MPS I. Clínica: Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 43 • As manifestações são multisistémicas: sistema nervoso, esqueléticas, respiratórias, cardiovasculares, gastrointestinais. A acumulação progressiva de GAG resulta em: patologia visceral (aumento do fígado e baço); patologia do tecido conjuntivo (deformidades esqueléticas e articulares); atraso mental (casos graves). • De uma forma geral, a morbilidade é grave e a mortalidade precoce. O fenótipo é muito heterogéneo e o espectro da doença varia em gravidade entre: o Forma Grave - (síndrome de Hurler - MPS I-H) � homozigótico H/H; o Forma Intermédia (síndrome de Hurler-Scheie – MPS I-H/S) � heterozigótico; o Forma Ligeira (sindrome de Scheie - MPS I-S) � homozigótico S/S. • Dismorfia facial: macrocefalia (escafocefalia), face grosseira, nariz pequeno com base nasal achatada, frontal proeminente; • Envolvimento do sistema nervoso (central e periférico): atraso mental progressivo, com atraso de linguagem, hidrocefalia, síndrome do túnel cárpico, surdez (neurosensorial / transmissão) habitualmente aparente depois dos 9 meses de idade e défice visual; • Anomalias esqueléticas (disostose multiplex): alterações da coluna, anomalias das clavículas e costelas, alteração da epífise com curvatura e tubulação anómalas do rádio, displasia da anca, rigidez articular e atraso de crescimento; • Envolvimento respiratório: obstrução da via aérea em que os depósitos de GAG bloqueiam a via aérea, associada a hipertrofiaadenóides e amígdalas que originam apneia do sono; problemas traqueais devidos à existência de pescoço curto e anéis cartilagíneos anómalos; risco aumentado de infecção, com rinite/ rinorreia crónica e recorrente, otites de repetição e hipoacusia; • Manifestações oculares: aparecimento de opacidade córnea detectável no 1º ano de vida que pode levar à cegueira, degeneração da retina com reduz a visão periférica e cegueira nocturna, glaucoma e lesão do nervo óptico; • Atingimento cardiovascular: cardiomiopatia devida ao espessamento do miocárdio, doença valvular, envolvimento das artérias coronárias, hipertensão Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 44 sistémica e pulmonar; é frequentemente causa directa de morte; envolvimento gastrointestinal: hepatosplenomegalia, hérnia umbilical e inguinal e diarreia (episódica); MPS-I H: apresentam dismorfia craniofacial e sintomas progressivos com, hepatoesplenomegalia, cardiopatia, obstrução das VAS, hipoacusia, alterações visuais, disostose multiplex e atraso mental profundo e progressivo. Início dos sintomas entre os 0-2 anos (macrocefalia); MPS I-H/S (intermédia): têm inteligência normal ou quase normal e patologia menos acentuada e com carácter menos progressivo. Início dos sintomas entre os 6 meses e os 12 anos; MPS I-S (ligeira): mostram inteligência normal, patologia ligeira e esperança de vida sobreponível à da população geral. Início dos sintomas depois dos 4 anos. Diagnóstico: é de fácil diagnóstico baseado no fenótipo. O diagnóstico de presunção: inclui a avaliação do fenótipo e da história familiar, em conjunção com os exames laboratoriais e a análise dos GAG na urina. Doseamento da actividade da α-L- iduronidase, em leucócitos, fibroblastos: deficiência marcada nos doentes - inferior a 1% da normal. A actividade enzimática não se correlaciona directamente com a gravidade da doença. Presunção de inclusão no rastreio universal do RN. Diagnóstico molecular: reservado para a detecção de portadores e rastreio familiar. O diagnóstico precoce e o respectivo tratamento podem prevenir lesões irreversíveis. Tratamento: 1) Sintomático: tratamento de suporte dirigido predominantemente ao tratamento das complicações; pode melhorar a qualidade de vida; 2) Transplante de medula óssea: não é curativo e é reservado para os casos mais graves; pode modificar a progressão da doença e melhorar a sobrevida. Utilizada predominantemente antes da TSE; 3) Terapêutica de substituição enzimática (TSE): depende da eficácia da endocitose da molécula mediada pelo receptor da manose 6-fosfato; administração de enzima por infusão; altera de forma marcada a evolução da doença; 4) Terapia génica: administração de um gene funcional; o futuro. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 45 Prognóstico: As alterações são progressivas, debilitantes e fatais. A mortalidade é elevada, maioritariamente devida a: obstrução da via aérea superior, infecções respiratórias e complicações cardíacas. A morte ocorre cerca dos 10 anos na MPS I-S (forma grave). Diagnóstico pré-natal: doseamento da α-L-iduronidase em amniócitos ou vilosidades coriónicas; análise da mutação. DOENÇA DE FABRY • Doença de armazenamento de glicoesfingolipídeos, com acumulação predominante de globotriosilceramida (GL3). Frequência ao nascimento: 1/100 000 Hereditariedade: recessiva ligada ao cromossoma X. Localização génica de mutações: Xq22; diversas mutações identificadas. Etiologia: • Deficiência da enzima lisossómica α-galactosidase. • Os depósitos dão-se predominantemente no endotélio e na média dos vasos de pequeno calibre, nos gânglios nos nervosos, nos túbulos e glomérulos renais, no músculo cardíaco e nas fibras de condução. Clínica: • aparecimento progressivo, com uma idade média de diagnóstico de 21.9 anos, de angioceratomas (71%), de dor neuropática das extremidades (77%), de insuficiência renal (30%), de cardiomiopatia, de ocorrência de acidentes cerebrovasculares múltiplos (24.2%) e de hipoacusia (78%) (J Med Genet 2001;38:750- 760); • dismorfologia facial: face grosseira; • alterações dermatológicas: angioceratomas; • alterações oftalmológicas: córnea verticilada e dilatação dos vasos conjuntivais. Diagnóstico: • Fenotípico; Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 46 • Bioquímico: doseamento de GL3 em leucócitos e fibroblastos; Genética molecular. Tratamento: • Sintomático: tratamento de suporte dirigido predominantemente ao tratamento das complicações; pode melhorar a qualidade de vida; • Terapêutica de substituição enzimática: agalsidase beta e alfa; depende da eficácia da endocitose da molécula, mediada por um receptor. Prognóstico: pior prognóstico no sexo masculino com aparecimento de insuficiência renal crónica e lesões neurológicas frequentes. Os indivíduos do sexo feminino apresentam, de uma forma geral uma sintomatologia mais fruste (fenómeno de Lionização do cromossoma X). Nota: Existe uma entidade da responsabilidade do Governo que decide quais os indivíduos a ser tratados. Tem sido complicado fazer esta entidade aceitar que o tratamento das mulheres também é positivo, melhorando bastante a patologia. Diagnóstico Pré-natal: bioquímico e genética molecular. DOENÇA DE POMPE • Trata-se de uma doença de armazenamento do glicogénio também denominada GSDII. Frequência ao nascimento: 1:40 000 RN. Hereditariedade: autossómica recessiva. Localização genica: 17q25.2-q25.3; gene GAA; existem múltiplas mutações descritas. Etiologia: deficiência da enzima lisossómica α-1,4-glucosidase (maltase ácida). Clínica: • Forma clássica infantil: tem um atingimento predominante muscular com aparecimento nos primeiros meses de vida de hipotonia e de atraso motor, cardiomegalia com insuficiência cardíaca que é a causa habitual de morte no 1º ou 2º ano de vida � esta é que é a verdadeira Doença de Pompe; Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 47 • Forma do adulto: hipotonia muscular com início idade adulta com envolvimento precoce do diafragma; insuficiência respiratória aguda ou crónica, de predomínio em decúbito. Depósitos de glucogénio no músculo liso das artérias; aneurismas das artérias cerebrais. Evolução mais progressiva; grande variabilidade fenotípica possivelmente explicada pela existência de heterozigotia composta. Patogénese: • Forma infantil – mutação estrutural com produção da enzima inactiva; • Forma adulto – mutação causa uma redução na produção da enzima. Esta hipótese não foi totalmente confirmada em estudos mais recentes. Diagnóstico: Confirmado por medição da actividade enzimática, α-1,4-glucosidase, em leucócitos e fibroblastos, usando o glicogénio como substrato. Tratamento: • Sintomático: tratamento de suporte dirigido predominantemente ao tratamento das complicações; pode melhorar a qualidade de vida; • Terapêutica de substituição enzimática. Prognóstico: A morte geralmente ocorre durante o primeiro ano de vida, secundária na grande maioria dos casos, ao envolvimento cardíaco. Diagnóstico Pré-natal: bioquímico e genética molecular. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 48 Genética Médica Seminário nº3 18/03/09 CLÍNICA GENÉTICA: MÉTODO CLÍNICO E SEMIOLOGIA Princípios gerais de clínica 1. O médico deve tratar sempre o seu doente como gostaria que ele próprio ou os seus familiares fossem tratados 2. O médico deve ter sempre a noção da sua posição privilegiada para compreender a natureza humana, nas mais diversas situações e circunstâncias 3. O diagnóstico médico continuará a basear-se na aptidão dos médicos para falar com os seus doentes, detectar alterações no exame físico, organizar de forma compreensível os sintomas e os sinais e, sobre essa base de informação, perspectivar a necessidadede exames complementares de diagnóstico. 4. A anamnese (História Clínica) e o exame físico são instrumentos fundamentais para a avaliação correcta e o tratamento adequado dos doentes – na grande maioria dos casos, os diagnósticos são feitos a partir da história clínica – só numa minoria de casos o exame objectivo revela alterações relevantes Contacto médico-doente • Ambiente – Privacidade – Confidencialidade • Atitude – Neutralidade emocional – Boa-educação: o Cumprimentar do doente o Tratar pelo nome – Disponibilidade o “Em que o posso ajudar?” – Atenção o Notas escritas Técnica de interrogatório • Perguntas abertas • Perguntas directas • Perguntas que sugerem respostas erradas: para confirmação de aspectos importantes da história. • Evitar perguntas que contenham a sugestão da resposta excepto: o Para facilitar a expressão do doente o Para ajudar o doente a contar pormenores da história que de outra forma não forneceria o Quando se fazem perguntas destinadas a ter respostas negativas o Quando se suspeita de incumprimento da medicação Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 49 Comunicação médico-doente: Usar perguntas escalonadas o “Existe alguma coisa mais que queira dizer-me?” o “Existe mais alguma coisa que deva dizer-me?” o “Que mais devo saber? o “Penso que ainda existe alguma coisa mais que não me disse...” o Um silêncio expectante a seguir a cada uma das perguntas actua frequentemente como um desencadeador das respostas.r Técnica de entrevista para doentes agressivos ou potencialmente violentos • Preparar, sempre que possível, as entrevistas difíceis • Evitar deixar-se isolar • Tentar ser cooperante e positivo • Ignorar linguagem grosseira • Evitar conflitos personalizados Estrutura da história clínica • Motivo de consulta / internamento • História da doença actual • Antecedentes pessoais – Patológicos – Fisiológicos Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 50 – Sociais • Antecedentes familiares • Revisão sistematizada: esclarecer por aparelhos ou sistemas para ver se outras alterações, para além das descritas pelo doente. Anamnese Pediátrica: quando não atingidas as metas no período normal do desenvolvimento, há patologia do desenvolvimento do Sistema Nervoso – atraso mental. História Familiar: • Informação básica o Caso-índice / consultando o Cada um dos seus familiares de primeiro grau (progenitores, irmãos e descendentes) • nome próprio, apelidos • data de nascimento / idade actual • idade e causa de morte • nome e/ou descrição de qualquer doença ou defeito • Informação Adicional o há algum outro familiar com doença ou fenótipo semelhante ao do doente? o há algum familiar com fenótipo inexistente no doente mas que se sabe poder ocorrer em alguns doentes com a mesma doença? o há algum familiar com qualquer patologia que se saiba ser geneticamente determinada? o há algum familiar com uma doença rara ou que tenha morrido com uma doença rara? o existe consanguinidade? (consanguinidade faz aumentar a prevalência de dois tipos de doenças: as multifactoriais e as doenças Mendelianas recessivas) • qual é a origem Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 51 A construção do genograma torna-se, muito importante, como forma de sistematizar a informação recolhida. Da família? Exame Físico: Deve ser realizado ao corpo todo Deve exigir o mínimo de esforço por parte do doente Equipamento mínimo: • Espátula • Lanterna • Estetoscópio • Oftalmoscópio • Otoscópio • Esfigmomanómetro • Algodão • Clipe DEFEITOS ESTRUTURAIS ISOLADOS: classificação etiomorfogenética • Malformação: defeito estrutural com origem num erro morfogenético localizado • Deformidade: alteração da forma e/ou estrutura de uma parte anatómica normalmente diferenciada • Ruptura: defeito estrutural resultante de destruição de uma parte anatómica que se formara normalmente • Sequência: padrão de malformações múltiplas resultante de uma sucessão de defeitos morfogenéticos decorrente de um defeito primário único na morfogénese precoce Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 52 DEFEITOS ESTRUTURAIS ISOLADOS: formas mais comuns • Malformação – Lábio leporino ± fenda palatina – Fenda palatina – Defeitos septais cardíacos – Estenose pilórica – Defeitos de encerramento do tubo neural • Deformidade – Luxação congénita da anca – Pé boto equinovaro BIOMETRIA FACIAL: BIOMETRIA OCULAR: 1 – Espaço interpupilar 2 – Espaço intercantal interno 3 – Espaço intercantal externo 4 – Espaço interalar 5 – Comprimento do filtro 6 – Altura do lábio superior 7 – Altura do lábio inferior 8 – Espaço intercomissural 1 – Altura do crânio 2 – Altura facial superior 3 – Altura facial média 4 – Altura facial inferior Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 53 Tipos de Afastamento ocular Telecanto: distância intercantal interna está aumentada, mas a distância interpupilar é normal. Hipertelorismo: ambas as distâncias estão aumentadas. Variação do epicanto: A) Ausência de epicanto B) Prega do epicanto em orientais C) Prega do epicanto na Síndrome de Down SÍNDROME DE SECKEL • Atraso mental profundo • Baixa estatura com ínicio pré-natal • Dismorfia craniofacial (ver slides as fotos): o Filtro nasolabial muito grande e pouco pronunciado o Microcefalia extrema ( faz com que as orelhas parecam grandes) o Micrognatia (queixo retraido porque a mandíbula é pequena) o Perfil da cabeça é triangular (nanismo em cabeça de pássaro) ANOMALIA DE PIERRE-ROBIN • Micrognatia • Fenda palatina é um U (costuma ser um V). • A lingua não cabe na língua: glossoptose. • Orelhas displásicas com implantação baixa. Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 54 MALFORMAÇÕES DO TUBO NEURAL Gravidade vai aumentando progressivamente. SÍNDROME DE POTTER (sequência de oligo-hidrâmnios) Agenesia renal bilateral • Apresentação pélvica • Crescimento deficiente • Deformidades facial • Contraturas articulares • Pés botos • Hipoplasia pulmonar Dismorfias faciais: • Fácies enrugado • Prega cutânea infra-ocular • Nariz achatado • Orelhas displásicas e com implantação CC baixa COMPLEXO DE BANDAS AMNIÓTICAS: • Em determinadas gravidezes, há libertação de “retalhos” de amnio, que por defeito mecânico vão impedir o normal desenvolvimento vascular do membro. • Podem ocorrer então ocorrer, então, anomalias unilaterais dos membros, fendas faciais ou até mesmo encefalocelos (assimétricos). (ver imagem dos slides) Genética II FMUP 2008/2009 Cláudia Pereira & Rita Grazina 55 Genética Médica Aula teórica nº4 19/03/09 GENÉTICA DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES Doenças cardiovasculares, sobretudo a doença coronária e a doença vascular cerebral, são a principal causa de morte nos países ocidentais. Década de 90 (dados da OMS que incluem 38 países): doenças cardíacas constituem a primeira causa de morte nos países industrializados, à frente das neoplasias malignas e das doenças vasculares cerebrais; a diabetes mellitus (é também um importante factor de risco da doença cardiovascular) ocupava a nona posição. 2002: 28,5% da mortalidade total (EUA) foi atribuída a doenças cardíacas (mais de metade das quais foram casos de doença coronária), 22,8% a neoplasias malignas, 6,7% a doença vascular cerebral e a diabetes mellitus era a sexta causa de morte (3,0% dos casos). Portugal: situação significativamente diferente, pois os acidentes vasculares cerebrais são a primeira causa de morte (20,8% do total da mortalidade observada no ano 2000, mais do dobro
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