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A Crianca Ferida - Marilene Costa

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A Criança Ferida
Como tratar os traumas de infância que
refletem na sua vida adulta
 
MARILENE COSTA
Copyright © 2021 Marilene Costa
Todos os direitos reservados.
 
 
"Guerreiros são pessoas, tão fortes, tão frágeis.
Guerreiros são meninos no fundo do peito.
Precisam de um remanso, precisam de um descanso
Precisam de um sonho 
Que os tornem perfeitos.
É triste ver esse homem, guerreiro menino
Com a carga do seu tempo por sobre seus 
Ombros
Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que traz no peito..." 
 (Gonzaguinha)
 
 
 
AGRADECIMENTOS
 
Agradeço a meus pais, pelo amor e dedicação, e por ter ensinado a
seus três filhos como serem pessoas do bem.
A meus irmãos, por serem as pessoas mais incríveis do mundo!
Ao meu primo (praticamente irmão) Harley, por toda força e apoio na
criação deste livro e em minha vida.
A minha amiga Silvanges, por ter participado do processo de
gestação desta obra.
A meu amor Júlian, por ter me incentivado a publicá-lo.
Ao meu filho de pelos Igor Augustos, por ter me mostrado o que é o
amor incondicional.
 
 
 
 
 
SOBRE A AUTORA
 
 
A autora, Marilene Costa, é psiquiatra e psicoterapeuta com mais de
30 anos de experiência na área médica, onde iniciou na cirurgia e na
medicina de família.
Porém, sua paixão pelo estudo da mente humana, sequestrou sua
atenção, levando-a para os caminhos da psi, onde se tornou expert
em transtornos do humor, ou seja, depressão, ansiedade e transtorno
bipolar, bem como em transtorno obsessivo-compulsivo, fobias e
traumas que estão a eles intimamente relacionados.
Em sua experiência profissional e de vida, observou que a maioria,
senão, todos os problemas da humanidade, se resumem à
necessidade de ser amado, admirado e aceito pelo outro, e que essa
necessidade advém de uma carência profunda, a qual não poderia
deixar de ter suas raízes nos primórdios da infância e nas relações da
criança com seus cuidadores, em especial sua mãe, supostamente
fonte de amor incondicional e nutrição.
Ocorre que a própria carência e traumas faz com que o adulto não
consiga ser o provedor emocional do qual a criança tanto necessita,
gerando traumas e perpetuando o ciclo.
Fascinada pelo ser humano e suas inter-relações, a autora, durante
seus mais de 25 anos na psiquiatria, dedicou-se ao assunto e estudou
a fundo várias teorias, dentre elas a psicanálise, a terapia cognitivo-
comportamental e o psicodrama.
Enfim, após tantos anos de estudo e trabalho, a autora sente que
precisa devolver ao mundo um pouco do conhecimento com o qual foi
agraciada. Afinal, o saber é um tesouro que não deve ser mantido em
segredo!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO
 
Prefácio do autor
Apresentação.............................................11
1. Introdução............................................16
2. O Conceito De Criança Interior.................21
3. A Criança Ferida Que Existe Dentro De Nós......................................................35
4. Transtorno Da Personalidade Borderline....57
5. As Fases Do Desenvolvimento Infantil.......74
6. Como A Criança Ferida Se Manifesta.........95
7. Como Identificar Em Que Fase Sua Criança Interior Foi Ferida................................112
8. Como Resgatar E Tratar A Criança Interior Ferida.................................................131
9. Etapas Do Processo Terapêutico Da Criança Ferida.................................................156
10. Considerações Finais............................164
Outros modelos teóricos do desenvolvimento infantil....................................................170
Referências Bibliográficas
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PREFÁCIO DO AUTOR
 
 
Esse livro traz uma característica ímpar: parte dos pontos
de vista de dois grandes autores, os quais já escreveram sobre o
tema da criança interior ferida: o norte americano Jonh Bradshaw,
autor de livros, workshops e seriado de TV na década de 80, o qual
divulgou o termo criança ferida, e a brasileira Rosa Cukier, psicóloga,
psicodramatista e escritora, autora do livro “Sobrevivência emocional”,
onde retrata os traumas emocionais que a criança carrega para sua
vida adulta, segundo a visão de Jacob Levi Moreno, pai do
Psicodrama.
A partir dessas duas abordagens, a autora faz uma fusão
entre as ideias de Bradshaw e Moreno mostrando como as teorias
desses autores se complementam.
A fim de melhor compreender o que é a criança interior e
como se dá o trauma que irá repercutir em sua vida adulta, faz um
passeio pelas principais teorias do desenvolvimento humano,
ilustrando com suas próprias experiências pessoais e prática clínica,
tornando o conhecimento algo lúdico e de fácil compreensão.
Também interliga as diversas teorias e as utiliza como base
para o tratamento psicodramático da criança interior ferida.
De forma semelhante, faz uma viagem pelas teorias e
técnicas do psicodrama, exemplificando com casos clínicos, a fim de
abordar de maneira clara e agradável como se dá a cura da criança
interior ferida. 
Assim, contribui para que as pessoas, por mais leigas que
sejam na área da psique, tenham consciência de que existe uma
criança ferida dentro delas, e que, possivelmente, é causadora da
grande maioria dos conflitos vividos na vida adulta.
Mas que esta criança pode se resgatada e tratada através
do psicodrama.
Além disso, fica também um legado para os estudiosos e
terapeutas que, ao pesquisarem sobre o tema, encontrarão neste livro
um resumo das teorias e experiências dos grandes teóricos do
desenvolvimento humano e estudiosos dos traumas infantis, fusão
esta jamais encontrada em outras obras.
Foi adicionado um anexo chamado Outros Modelos
Teóricos do Desenvolvimento Infantil, o qual a autora dedicou aos
profissionais que trabalham especificamente com o desenvolvimento
infantil.
Por tratar-se de um capítulo mais técnico, sua leitura é
dispensável para quem deseja usufruir dos conhecimentos de forma
leve e lúdica.
Assim, tal capítulo foi deixado no final do livro, em um
capítulo à parte, como leitura complementar, apenas para os curiosos
das teorias do desenvolvimento.
A autora, médica psiquiatra e psicoterapeuta, possui
experiência de mais vinte e cinco anos no tratamento de adultos
feridos na infância nos mais variados Estados da nossa Federação, e
inclusive em países como México, Portugal, e Estados Unidos.
ilustra o livro com alguns casos de pacientes atendidos em
seu consultório e em atendimentos online (telemedicina), tomando o
cuidado de resguardar nomes e características, a fim de preservar a
identidade dos pacientes.
Através desses casos clínicos, os leitores podem se
identificar com os pacientes e vislumbrar um caminho por onde
resgatar e cuidar de sua criança ferida, levando-os a procurar ajuda.
Portanto, esta obra alcançará tanto o público científico
quanto o leigo. Em uma linguagem fácil e acessível, o leitor poderá
identificar a fase em que foi ferido e constatar que sua criança ferida
pode ser curada, passando assim a ter uma vida mais tranquila e feliz,
sem que os problemas vivenciados outrora continuem interferindo e
prejudicando o seu dia a dia.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO
 
 
De origem grega, o termo trauma significa ferida, sendo
utilizado na medicina para identificar as consequências de uma
violência externa.
Freud transpôs o conceito de trauma para o plano psíquico,
ressignificando como um choque violento, capaz de romper a barreira
protetora do ego, podendo acarretar perturbações duradouras sobre a
organização psíquica do indivíduo.
O trauma pode se referir a um único acontecimento externo
ou a um acúmulo deles. 
"Consideremos o caso de uma pessoa sujeita a um trauma, sem antes
ter estado doente, e talvez, mesmo sem ter qualquer predisposição
hereditária. O trauma deve satisfazer a certas condições. Deve ser
grave - isto é, ser de uma espécie que envolva a ideia de perigo mortal,
de uma ameaça à vida. Mas não deveser grave no sentido de pôr
termo à atividade psíquica. De outra forma, não produziria o resultado
que esperamos dele."
S. Freud
Freud formulou a hipótese de que o psiquismo seria
estruturado a partir do patrimônio genético, e modelado pela primitiva
relação do bebê com seus pais, constituindo-se no que chamou de
"experiências infantis".
Essas experiências desempenham um papel crucial, tanto
na resolução das diferentes etapas de desenvolvimento, quanto na
interpretação e elaboração dos traumas.
Observamos também que o ser humano, apesar de um ser
racional, na maioria das vezes baseia suas escolhas em seu
emocional, inclusive suas escolhas profissionais e vitais. 
Até aqueles que apresentam um excelente funcionamento,
desempenhando adequadamente seus papéis profissionais, tomam
atitudes baseadas em julgamentos subjetivos quando seu núcleo
emocional é ativado.
Não é à toa que equipes de marketing no mundo inteiro
trabalham apelando para o emocional das pessoas e não para o
racional!
Quando você vê uma propaganda de carros de luxo, logo
aparece um homem ou um casal bem-vestido, com um belo sorriso no
rosto, com ares de ser bem-sucedido e feliz.
É essa a mensagem a ser transmitida! Não interessa as
qualidades do carro, a potência do motor, seus itens de segurança ou
de conforto. O consumidor não vai se encantar por essas questões
práticas, racionais, e sim pela ideia de sucesso e felicidade,
qualidades completamente subjetivas e emocionais.
Até mesmo quem busca sucesso, dinheiro e poder, está
tentando recuperar a autoestima perdida na infância. Sabemos
inclusive que o “Complexo de Superioridade” nada mais é do que um
“Complexo de Inferioridade” invertido.
Ou seja, o indivíduo, a fim de camuflar seu sentimento de
inferioridade, busca representar para o mundo uma imagem de
superioridade, força e poder, chegando inclusive à arrogância.
Assim, guardamos, no âmago de nosso Ser, fragmentos
das experiências por que passamos em cada fase da nossa infância,
e mesmo da vida adulta, e que nos fizeram ser quem somos.
Mas não são fragmentos no sentido de memória racional, e
sim nossas interpretações naqueles momentos dos fatos ocorridos
É como se fosse o “print” de uma cena. Mas na imagem
você não vê a cena tal qual ela é, e sim a distorção causada pelo
prisma emocional da pessoa que a experienciou. As impressões da
pessoa com relação ao fato.
Por isso, em uma família, cada filho tem uma visão de sua
infância diferente do outro. Pois as lembranças estão impregnadas
pelas sensações de quem as lembra.
 É na infância que você constrói sua visão do mundo, do
seu papel como ser social, bem como desenvolve suas competências,
sua forma de reagir às situações, de resolver os problemas do dia a
dia, os imprevistos ou mesmo as catástrofes que podem ocorrer ao
longo da vida.
A depender de como a criança é educada, bem como sua
constituição genética e predisposições, ela irá desenvolver resiliência
e capacidade de adaptação, ou rigidez e dificuldade em lidar com os
desafios da vida.
Enfim, como psiquiatra, psicoterapeuta e psicodramatista,
apaixonei-me pelo assunto e decidi trazê-lo ao conhecimento de
todos.
Este livro passou 12 anos guardado, esperando pelo
momento de sua publicação, porém seu tema está a cada dia mais
atual, visto que felizmente estamos aos poucos desenvolvendo a
capacidade de olhar para dentro de nós mesmos e cuidar de nossas
feridas. E é essa a proposta.
Gosto de pensar que este livro foi um parto após uma longa
e difícil gestação, porém muito desejada. E seu fruto é puro ato de
espontaneidade e criatividade!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO
 
 
 
 
 
 
Freud afirmou que o trauma pode estruturar e organizar o
ego, permitindo, através de eventos sucessivos, a repetição, a
rememoração e a elaboração, ou bloquear o psiquismo, distorcendo o
processo do pensar, levando em alguns casos à desorganização do
ego.
Ele ainda postulou que a relação primitiva do bebê com sua
mãe se estabelece de forma inalterável, sendo o protótipo de todas as
relações posteriores, e fundamentando o ego, que se constrói ao
longo do desenvolvimento.
Diante da ameaça de separação da mãe ou do cuidador, o
bebê responde com ansiedade, e, perante sua perda real, com a dor
do luto. 
Como podemos ver, há tempos temos o conhecimento de
que traumas sofridos na infância podem gerar respostas não
adaptativas na fase adulta, causando dor e sofrimento. 
No consultório isso fica mais evidente, pois até o paciente
que em seu dia a dia se comporta de maneira resolutiva, sendo
profissional de sucesso e com relações sociais e familiares bem
estabelecidas, relata que em momentos de grande estresse
emocional perde o controle sobre seus sentimentos e ações.
No divã, ao falar sobre sua infância, mergulha em suas
histórias, revivendo as cenas. Seus olhos, seus gestos, sua fala, não
poucas vezes ganham uma entonação pueril, evidenciando o
processo de regressão a períodos mais remotos de sua vida. 
O foco deste livro não é rememorar ou culpar/perdoar os
adultos que cuidaram de você quando criança, mas, sobretudo,
compreender como você interpretou suas experiências, e a que
convicções e decisões chegou, como resultado do que vivenciou nas
suas relações de dependência infantis.
Bom lembrar que seus pais também são fruto do mesmo
processo, também vivenciaram traumas na infância, alguns do quais
não conseguiram elaborar de forma saudável.
E devemos observar que na época deles, as dores da
infância eram menos acolhidas ainda, pois não existia toda essa
mobilização que vemos hoje em dia como temas contra o trabalho
infantil, a prostituição infantil e outros tipos de abuso, até então
ignorados em nossa sociedade.
Ou seja, seus pais, assim como você, guardam dentro de si
uma criança ferida que não foi cuidada a contento, e que sofre e se
manifesta em momentos nos quais seus traumas são acionados no
fundo do seu subconsciente.
Essas atitudes, por serem desencadeadas por fortes
emoções ativando lembranças emocionais da infância, surgem de
maneira espontânea e reflexa, sem elaborações mentais e muitas
vezes sem nenhum nexo com os acontecimentos atuais.
Podem ser desencadeadas por palavras, cores, odores,
objetos ou qualquer sensação que faça um “link” entre o
acontecimento vivenciado e a reminiscência traumática.
O objetivo deste livro é que você aprenda a reconhecer sua
criança interior, e o que a levou a apresentar seu comportamento
atual, compreendendo as distorções e o forte impacto das
experiências precoces da infância em sua vida.
Só daí poderá surgir a possibilidade de dialogar com essa
criança sofrida, entendê-la, ampará-la e modificar algumas
concepções que a levaram a tornar-se um adulto com problemas
comportamentais e inter-relacionais. 
Neste livro buscamos mostrar como se dá a formação de
nossa criança interior, como ocorrem seus traumas, e como podemos
tratá-la para que deixe de nos causar tanto sofrimento.
Como diria Moreno, criador do psicodrama, uma terapia
baseada na interpretação da vida através de jogos de teatro: “é
através dos jogos e brincadeiras da infância que aprendemos a nos
relacionar”.
E esse relacionar-se pode acontecer de forma saudável e
construtiva, ou de forma neurótica e disfuncional.
Impressionante constatar o quanto os primeiros seis anos
de nossas vidas determinaram o adulto que somos hoje. Ou seja, da
infância depende todo nosso sucesso ou fracasso emocional por toda
a vida.
Mas felizmente temos como mudar
essa história! E o segredo está contido
neste livro!
 
 
 
 
 
2. O CONCEITO DE CRIANÇA INTERIOR
 
 
 
 
 
Todos temos uma criança dentro nós, que é responsável
pela criatividade, espontaneidade e evolução. É a parte de nós que
guarda os sentimentos e as lembranças vividas em uma fase de
inocência e felicidade.
Porém, não guardamos apenas as boas lembranças dessa
fase da vida, mas carregamos conosco traumas que podem
comprometer toda nossa existência adulta. 
Segundo Jeremiah Abrams, psicólogo Junguiano autor do
livro O Reencontro da CriançaInterior, a criança interior “...é tanto
um fato em desenvolvimento como uma possibilidade simbólica. É a
alma da pessoa, criada dentro de nós através do experimento da vida
e é a imagem primordial do Self, o cerne mesmo de nosso individual.”
Portanto, no interior de cada pessoa adulta, existe tanto a
criança que é portadora dos registros de nossa história pessoal,
quanto a criança portadora de nossa energia vital que é a criança
eterna, segundo Carl Jung, a que impulsiona para uma vida mais
plena rumo à realização das potencialidades próprias, singulares de
cada um.
Essa criança está oculta em você e
precisa continuamente de cuidado e
atenção.
O conceito de “criança interna” é bastante antigo na
literatura e só na década de 80 tornou-se popular nos Estados
Unidos.
Na mitologia de muitas culturas, essa “parte infantil no
adulto” representa a necessidade humana de recapturar a
originalidade e a emoção da criança frente ao estresse e a extrema
racionalidade do cotidiano.
Isso, pois junto com o crescer, vem todos os problemas e
responsabilidades da vida adulta.
A criança interna feliz é um refúgio onde o adulto se
protege e refaz suas energias e sua fé!
Na visão chinesa, a força dessa criança provém de nosso
Jing ou energia ancestral (Qi pré-celestial).
John Bradshaw, em seu famoso livro intitulado
Homecoming: Reclaiming and Healing Your Inner Child (Volta ao
lar: resgatando e defendendo sua criança interior), fala da criança
maravilhosa, e suas qualidades, as quais ele descreve em forma de
ideograma com a palavra wonderful (maravilhosa):
Wonder: maravilha
Optimism: otimismo
Naiveté: ingenuidade
Dependence: dependência
Emotions: emoções
Resilience: resiliência
Free Play: liberdade para brincar
Uniqueness: originalidade
Love: amor
Segundo o autor, para essa criança maravilhosa, tudo é
interessante e estimulante.
Ela se maravilha com todos os seus sentidos; experimenta,
explora, de um modo otimista, confiando no mundo exterior, o que a
torna vulnerável, e a todos encanta e atrai com sua ingenuidade, sua
inocência e orientação para o prazer.
 A criança maravilhosa é obrigatoriamente dependente.
Suas emoções, choro, riso, raiva, são espontâneos e têm um valor
especial de sobrevivência para o bebê humano, pois despertam nosso
cuidado.
Para a criança, bem como para o adulto, o choro não é
necessariamente prenúncio de um trauma, mas de uma frustração,
necessária ao aprendizado e desenvolvimento.
O choro das crianças nos remete aos momentos de tristeza
da criança ferida que existe dentro nós, fazendo com que
intuitivamente busquemos ampará-la e trazer de volta sua alegria,
como gostaríamos que algum adulto tivesse feito conosco em nossa
tenra infância.
Entretando, o choro é necessário como forma de expressão
de uma frustração, e lidar com ele de forma madura não é
necessariamente suprir a criança do que ela deseja, tampouco obrigá-
la a “engolir o choro”, como muitos adultos costumam fazer.
O ideal é que a criança possa exprimir seu sentimento de
frustração, porém compreender que nem sempre suas vontades serão
satisfeitas. Isto pois amadurecer e evoluir implica em saber receber
um não de forma adaptativa.
A criança tem um senso natural de liberdade, segurança e
espontaneidade ao brincar e ao movimentar-se no mundo, o que para
ela é uma atividade de puro prazer e encantamento. 
A criança maravilhosa é um ser único e sente essa
unicidade, esse EU SOU. Ou seja, sente-se ligada e unificada dentro
de si mesma, e esse sentimento de integração é o verdadeiro
significado da perfeição. Nesse sentido toda criança é perfeita!
 
A criança maravilhosa tem resiliência,
ou seja, capacidade de reagir aos
traumas e voltar ao seu estado normal.
Você já observou que quando uma criança está brincando
e cai ela rapidamente se levanta e continua a brincar, sem se importar
com o machucado? É a capacidade de adaptação e recuperação.
Os pais não devem impedir que a criança explore o mundo
a seu redor, apenas devem tentar evitar os grandes traumas, e estar
presentes com amor incondicional, a fim de cuidar dos ferimentos,
quando essa criança se machuca.
Mas sem “dramas” ou excesso de mimos, pois ela só
começa a desenvolver “manha” quando os pais passam a
supervalorizar esses momentos de queda e dor, gerando a
interpretação de que o fato foi mais traumático do que realmente
ocorreu, e plantando no filho a semente da criança ferida. 
Portanto, se uma criança cai, ou se ela passa por algum
pequeno trauma, apenas observe seu comportamento. Se ela pedir
ajuda, acolha-a com amor, porém sem exageros. Assim ela aprenderá
a reagir aos fatos da vida com tranquilidade.
Do ponto de vista intrapsíquico o mesmo acontece. A
criança maravilhosa não valoriza prolongadamente dores e perdas,
pois ela tem a capacidade inata de continuar vivendo e se divertindo
apesar de tudo isso.
Excessão encontra-se nos grandes traumas, como por
exemplo o da ausência dos seus cuidadores, o que Freud chamou de
“perigo mortal” visto que ela sabe que não sobrevive sozinha.
Como você pode perceber, as
vivências da criança frente ao mundo
são reativas, imediatas e os traumas
ordinários são rapidamente superados
e esquecidos.
Pois essa criança maravilhosa não foca na dor, e sim no
maravilhoso mundo novo à sua frente.
Porém, ela aos poucos vai aprendendo a enxergar o
mundo através dos olhos dos seus pais ou cuidadores. E, através
desse prisma, os acontecimentos vão se tornando mais dramáticos.
Pois, infelizmente, nós adultos tendemos a focar nos
problemas que nos trazem sofrimento e não nas coisas maravilhosas
ao nosso entorno, as quais, na maioria das vezes, superariam tais
problemas.
Esse enfoque no aspecto negativo de nossas vivências, os
quais a criança passa a absorver, gera a maioria dos traumas que, de
outra forma, seriam facilmente superáveis.
É claro que existem grandes traumas, aos quais nem a
espontaneidade, nem a ingenuidade, nem a resiliência da criança
maravilhosa conseguem torná-la imune.
Abusos dos mais variados tipos, por exemplo, ou grandes
catástrofes, são de fato experiências que marcam negativamente o
âmago da criança.
Isto porque, para a criança, a sua única força protetora é o
adulto, e qualquer tratamento abusivo que venha dele desconfirma
sua fé e certeza de sobrevivência.
Porém, a maioria dos traumas vivenciados não são desse
porte, e, portanto, seriam mais facilmente superáveis.
Atualmente podemos observar uma geração de
adolescentes e jovens adultos hipersensíveis e vulneráveis a
obstáculos que, para as gerações anteriores, seriam facilmente
relevados.
Isto porque, infelizmente, o medo de gerar traumas em
seus filhos, alardeado por estudiosos da psicologia infantil nas
décadas de 50 e 60, e que repercutiu em nosso País na década de
70, fez com que pais, preocupados em defender seus filhos,
acabassem por “pecar por excesso” de cuidados, imprimindo no
emocional dessas crianças a sensação de que todo evento negativo
se constitui em um trauma insuperável.
Isso em parte foi ocasionado pelo grande trauma da
Segunda Guerra Mundial, que gerou uma leva de soldados e famílias
sequelados, com transtornos mentais os mais diversos, e a sensação
de que suas vidas foram sacrificadas inutilmente.
Tal evento culminou com a geração hippie, com sua utópica
reinvindicação de liberdade sem limites e sua ojeriza às guerras.
Então, todos esses acontecimentos provêm de um contexto
histórico pós-recessão e pós-guerra, e tudo isso é mais um fato a ser
superado com as novas teorias do desenvolvimento infantil.
Sabemos que precisamos defender
nossas crianças, mas precisamos
encontrar o “caminho do meio” ou do
equilíbrio, como ensina a filosofia
oriental.
Eric Berne, médico psiquiatra canadense nascido em 1910
e criador da Análise transacional, um tipo de teoria psicológica, já
apresentava ao público a noção de criança interna como um ego-
criança que surge ao nascer repleto de criatividade e espontaneidade,
características primárias do ser humano, as quais o adulto molda pela
educação.
Segundo Berne, o individuoé capaz de modificar seus
sentimentos, pensamentos e escolhas através do autoconhecimento e
desenvolvimento pessoal.
Já a gestalterapia, uma teoria existencialista originada em
1951 baseada no “aqui-e-agora” criada por Robert e Mary Golding,
discípulos de Berne, busca resgatar a criatividade, originalidade e
espontaneidade da criança, através da terapia de redecisão, uma
terapia intensiva voltada para grandes grupos, que objetiva o
indivíduo a adquirir habilidades para lidar com seus sentimentos.
Credita-se uma das utilizações mais recentes da
conceituação de criança interior a Alice Miller, psicóloga polonesa
pesquisadora da infância, que descreveu em seus trabalhos os maus
tratos sofridos pela criança como causadores de prejuízos graves à
personalidade adulta.
Vale lembrar que na criança interior estão presentes
lembranças ruins, mas também lembranças alegres, ambas
posteriormente, refletindo em reações pueris, ou seja, as regressões
nem sempre são para fatos negativos, uma vez que o adulto pode
regredir para momentos ruins ou bons da infância.
Por sorte, a criança é um ser resiliente, então, na maioria
das vezes, supera os momentos ruins, não transformando-os
memórias traumáticas internalizadas (no subconsciente).
Mas lembre-se: isso só não é possível quando esses
traumas são extremamente impactantes, ou quando o adulto reage
exageradamente e a criança assimila aquilo como um alerta de que
se trata de algo grave.
O que é impactante para você, pode
não ser para outra pessoa!
Um exemplo claro disso é que enquanto uma pessoa tem
medo de galinha por ter presenciado durante infância a mãe matando
a ave no intuito de preparar a refeição da família, outra criança, que
presenciou a mesma cena, pode tê-la apenas como uma vaga
lembrança, não traumática.
Portanto, muitos traumas somente se consolidam quando a
criança já apresenta uma certa vulnerabilidade. Ou seja, quando o
adulto imprimiu nela tal vulnerabilidade, ou quando há predisposição
genética a algum transtorno psiquiátrico.
Mas acredito que até os transtornos mentais nada mais são
que “imprintings” genéticos.
Isto porque segundo a epigenética, os traumas podem, ao
longo das gerações, causar modificações genéticas que passarão a
ser transmitidas para as próximas gerações.
Portanto, segundo diversas teorias, todos possuem uma
criança interior. Em algumas pessoas, essa criança se manifesta ao
longo de toda a vida de forma bem evidente, em especial durante
momentos negativamente ou mesmo positivamente críticos da vida,
(as chamadas crises vitais) como nascimento ou morte de pessoas
próximas, casamento, início ou perda de emprego, aposentadoria, etc.
Porém, há pessoas nas quais essa criança interior parece
nunca ter existido, nem mesmo quando ainda eram crianças.
Geralmente isso ocorre quando a criança se vê em um lar
inundado por conflitos e passa a se comportar de maneira
precocemente adulta a fim de apoiar os pais
Ainda assim, esta “não existência” é só aparente, pois, ao
longo do desenvolvimento, a pessoa vai deixando dentro de si rastros
dessa criança, correspondente a cada fase de sua vivência.
Fico triste quando ouço mães se vangloriando de que seus
pequenos filhos são seus confidentes e as apoiam e cuidam delas.
Estas mães não percebem que aquela pobre criatura está
petrificada com medo de perder a mãe, e com isso, ela própria não
sobreviver, posto que a criança, por ser dependente, acredita que não
sobreviverá sem seus cuidadores.
A criança não é a “pequena mãe ou
pai” da qual sua mãe adoecida se
vangloria. Ela é só uma criança
lutando desesperadamente para
sobreviver, e sua única arma é reprimir
seu medo a fim de “cuidar e tratar a
ferida” de sua cuidadora. Esse é um
dos piores traumas que uma criança
pode sofrer!
Quando essa criança interior sofre traumas profundos, sua
psique não conseguirá lidar com esses traumas, a despeito de sua
resiliência, e então formar-se-á o cerne da criança ferida.
 
 
 
 
 
3. A CRIANÇA FERIDA QUE EXISTE DENTRO
DE NÓS
 
 
 
 
 
Já sabemos que todos guardamos várias crianças em
diferentes fases de desenvolvimento, as quais ficam congeladas,
gravadas ou registradas (“imprinting”) dentro de nós nos momentos
em que vivenciamos fortes emoções, que podem ser boas ou ruins.
Quando essas emoções são negativas, geradoras de
vergonha, medo, culpa, ou desconfirmadoras, tem-se congelada uma
criança interior ferida. 
Costumo comparar o adulto com uma cebola, formado por
camadas, sendo que no caso em questão as camadas mais primitivas
(infantis) vão ficando internalizadas. 
Podemos representá-lo também pela Matrioshka, aquela
bonequinha russa que você vai abrindo e encontrando uma
bonequinha cada vez menor até que encontra um bebê.
Possuímos dentro de nós várias crianças em fases
diferentes, registradas em momentos de fortes emoções.
Essas crianças vêm à tona quando nos comportamos de
forma impulsiva, quando apresentamos comportamentos infantis,
quando reagimos a uma situação, não pela nossa percepção atual,
mas segundo nossas impressões guardadas no passado. Quando
temos reações exageradas (overreacting) ou quando congelamos
diante de situações-problema.
Nós, seres humanos, somos pautados nas emoções.
Vivemos o tempo todo envoltos em momentos ou lembranças que nos
deixam consternados, emocionados, felizes ou infelizes. 
De acordo com diversos teóricos, se as necessidades
fundamentais da infância não forem satisfeitas, o indivíduo tende a
tornar-se um adulto com uma criança interior ferida.
Essa ferida vem à tona quando o adulto ouve uma
afirmação específica, a qual ele ouviu na infância, e que lhe deixou
impressão profunda.
Na terapia, observo que geralmente o paciente manifesta
tristeza nos olhos ou mesmo chora, ao se reportar ao período em que
foi ferido.
Nesse sentido, a frustração do desejo de uma criança ser
vista como uma pessoa e ter seu amor aceito, é o maior trauma que
uma criança pode experimentar.
Ou seja, o acolhimento e a confirmação dos sentimentos da
criança, sem desvalorizar nem supervalorizar, mas observando o valor
que a própria criança dá àquele sentimento e a duração de sua
resposta adaptativa, é o que a criança realmente precisa para crescer
saudável e feliz.
Segundo Bradshaw, “Nenhum pai em
uma família disfuncional pode dar a
seus filhos o que ele precisa”.
Por exemplo: uma criança cujos pais não conseguem estar
presentes em situações nas quais ela necessita de apoio emocional,
não validam suas conquistas, não a defendem contra agressões do
mundo exterior, pode concluir que o mundo é um lugar muito
perigoso, e que ela não deve confiar em pedir ajuda a ninguém, visto
que seus próprios pais foram ausentes e incapazes de prestar-lhe
socorro nos momentos mais simples, como elogiar um pequeno feito,
aos mais complexos, como defendê-la de maus tratos.
Não importa por que razão os pais foram ineficientes, se
por trabalharem muito a fim de manter o padrão social da família, ou
se por serem acometidos por transtornos físicos ou mentais que lhes
roubaram a capacidade de serem cuidadores.
O fato é quem essa criança pode tornar-se um adulto
desconfiado, inseguro ou detentor de um falso senso de
autoconfiança e autossuficiência, fazendo com que acredite que ela, e
apenas ela, seja capaz de resolver seus próprios problemas.
Essa pessoa então, terá enorme dificuldade em confiar nos
outros ou pedir ajuda quando necessita.
Os traumas trazidos da infância tornam-se evidentes
quando os pacientes são convidados a dramatizarem as cenas.
Nesse momento, suas dificuldades atuais aparecem
geralmente decorrentes da lembrança de um fato ocorrido na primeira
infância, mais especificamente por volta dos cinco a sete anos de
idade (período do qual a maioria das pessoas já possui memória
consciente).
Porém, inusitadamente, há pessoas que relatam
lembrarem-se de fatos relativos a períodos mais remotos, como 3 ou
até 2 anos de idade. Não sabemos se são memórias reais ou geradas
por relatos de familiares, mas o poder dessas memórias é igualmente
real na vida da pessoa.São lembranças de uma criança apavorada, geralmente
envolta com alguma forma de violência, onde ela nada pôde fazer
para cessar o sofrimento, sendo sujeita à força e ao poder do adulto
em questão. Exemplo frequentes são as brigas entre os pais.
O sentimento é de medo e impotência. Geralmente o
adulto, ao relembrar tais situações, treme, se encolhe, abaixa a
cabeça, ou chora inconsolável. Ou simplesmente, vê-se uma nuvem
cinza em seu olhar...
Assim, como podemos ver, diante da submissão forçada,
dos sentimentos de raiva e vergonha, da humilhação e inferioridade
sofrida na infância, o individuo pode desenvolver alguns mecanismos
de defesa.
Um deles seria vir a tornar-se um adulto violento, passível
de fazer os outros sofrerem o mesmo que ele sofreu, ainda que o faça
de forma inconsciente, e com a desculpa de que está preparando
seus filhos para o mundo, ou que, sendo tratado assim, tornou-se
uma pessoa bem-sucedida.
Inconscientemente esses pais desenvolveram o que Anna
Freud chama de identificação com o agressor.
Fazendo um aparte, o termo foi cunhado por seu
contemporâneo Sandor Ferenczi e atualmente é mais conhecido
como Síndrome de Estocolmo.
Portanto, faz-se necessário dizer que os seres humanos
exercem um enorme poder uns sobre os outros, um poder de vida ou
morte!
Desde que nascemos, somos dependentes do outro. Na
primeira fase da vida, o que importa é atender às necessidades físicas
(alimentação e higiene) e emocionais da criança, uma vez que esta
encontra-se extremamente frágil e dependente do outro para
absolutamente tudo. Nesse momento um pai presente cuidador é tudo
o que a criança necessita.
Vejo muitos pais dizerem que se sacrificam trabalhando de
forma extenuante por mais de doze horas ao dia, a fim de prover
conforto a seus filhos.
Se fossem mais sinceros diriam que deixam seus filhos em
segundo plano a fim de prover suas próprias expectativas de conforto.
Aquilo que gostariam de possuir em sua infância. Desejo esse gerado
por uma sociedade de consumo, voltada para o status material, e que
esquece as necessidades primárias do ser humano: amor e cuidado!
Isto porque a criança maravilhosa só precisa desse amor e
cuidado. Nada mais! Ela não precisa de roupas de grife. Nem de
brinquedos da moda. Na verdade, ela nem precisa de brinquedos!
A criança maravilhosa é criativa e
curiosa, e inventa suas próprias
brincadeiras a partir de tudo que está
a seu alcance!
A primeira etapa da infância é pré-verbal, e tudo o que
acontece depende da decodificação verbal e emocional ou leitura
sobre o comportamento da mãe ou cuidador.
Nessa fase a criança é muito intuitiva e parece adivinhar os
sentimentos dos cuidadores. Isso porque sua sobrevivência depende
de eles estarem bem a fim de suprir-lhe as necessidades.
Sem alguém que possa espelhar nossas necessidades e
emoções, não podemos saber quem somos.
Por outro lado, a forma como essa pessoa decodifica
nossas mensagens acaba constituindo aquilo que somos, e ela o faz
de acordo com suas próprias vivências.
A primeira pessoa a cuidar da criança exerce uma
importante função em seu relacionamento com o mundo, pois esta
funciona como uma espécie de ponte relacional entre a criança e o
mundo, e ocupa, num primeiro momento, o lugar que o Eu da criança
ocupará mais tarde.
Daí a importância do papel de cuidador, normalmente
exercido a princípio pelos pais, e posteriormente pelas pessoas mais
próximas.
Infelizmente, vemos muitos pais entregarem esse papel
crucial a babás e motoristas, e se deixam no papel extremamente
coadjuvante de provedores e administradores.
Como já disse anteriormente, uma criança vive muito bem
sem brinquedos, mas ela precisa da presença do adulto em quem ela
se espelhará para o resto da sua vida! Esse adulto será você ou
alguém contratado para tal papel?
E lembre-se que esses cuidados são mais vitais na
primeira infância, ou seja, até os 6 a 7 anos de idade.
Pare e pense!
Quem é/foi o cuidador dos seus
filhos?
Como a criança aprende a enxergar o mundo pelo olhar de
seus cuidadores, isso significa que a criança só dará importância às
coisas e até mesmo emoções que eles valorizam.
Se seus cuidadores são pessoas leves, emocionalmente
saudáveis, que sabem enfrentar os obstáculos da vida com bom
humor, a criança enxergará com leveza a vida e as situações.
Porém se forem preocupados, frustrados, irritados,
pessimistas, inseguros, a criança precocemente desenvolverá as
mesmas características e se tornará uma criança de difícil convívio
social e com enorme sofrimento emocional.
A criança é um ser dependente e tem consciência disso.
Assim, a autoestima do indivíduo reflete como foram suas primeiras
relações, e prevê como serão suas relações com o mundo e com as
demais pessoas.
Depender dos outros não configura uma situação
confortável para nenhuma das partes. Quando ainda é criança, o
individuo aceita com tranquilidade essa dependência.
No entanto, a medida em que a criança vai amadurecendo,
adquirindo noção do mundo que a cerca, vai sentindo necessidade de
autossuficiência, e nessa fase é normal ficar incomodada com tal
situação.
Para entender melhor a necessidade de dependência
básica do ser humano Cukier usa a descrição que Bradshaw faz das
quatro características naturais da criança, que fazem dela um
autêntico ser humano.
São elas:
1. Valorabilidade.
2. Vulnerabilidade.
3. Imperfeição.
4. Pensamento radical.
Baseado nestas qualidades, deduz que necessidade de
dependência básica do ser humano significa poder contar com pais
que:
1. façam ela se sentir preciosa, importante e
providenciem o que necessita enquanto não for
autônoma.
2. dediquem tempo e atenção para poder ajudá-la
a definir seus próprios limites e a obter as
informações que precisa para lidar com a
realidade e com suas próprias necessidades.
3. permitam que a criança expresse seus
impulsos agressivos e hostis sem as mesmas
se destruírem e sem que os pais destruam a
autoestima da criança. E, ao mesmo tempo,
também se permitam a expressão de reações
agressivas e hostis, respeitando a assimetria
intrínseca do vínculo.
4. permitam que a criança seja criança, e, num
segundo momento, permitam que ela cresça e
ganhe autonomia.
5. sejam pessoas coerentes, consistentes,
previsíveis, e que ensinem e ajam da mesma
forma.
6. sejam seres falíveis, que admitam seus erros e
peçam desculpas.
Eu acrescentaria que, após pedirem
desculpas, não fiquem relembrando o
fato, a fim de não gerarem uma criança
manipuladora, que utiliza o sentimento
de culpa dos pais a fim de conseguir
tudo que deseja.
Quando os pais ou cuidadores oferecem à criança esse
ambiente acolhedor, cuidador, coerente, leve e sincero, a criança
pode crescer de forma saudável e desenvolver suas habilidades
emocionais.
Porém, quando a criança se encontra em um ambiente
desprovido dessas qualidades, ela irá crescer física e socialmente,
porém seu desenvolvimento emocional ficará seriamente
comprometido, fazendo-a sentir-se ainda mais envergonhada e
humilhada, tentando a qualquer preço esconder sua falhas e
recuperar sua dignidade e autoestima, seu narcisismo ferido.
Quanto ao abuso infantil, outrora ligado quase sempre a
abuso sexual, sabemos que recebeu uma ampliação de seu conceito
por parte dos estudos de Kreisman (Psiquiatra e escritor norte
americano especialista em Transtorno de Personalidade Boderline) e
Bradshaw (autor de livros e programas de tv sobre codependência).
Então, atualmente existem três tipos de abuso infantil:
abuso sexual, abuso físico e abuso emocional.
Vale lembrar que o abuso sexual não se configura apenas
no fato de um adulto manter relação física com a criança, mas
também em algumas formas sutis como: 
- Intimidar sexualmente: criar situações, onde a criança
vê ou ouve coisas que a envergonham. Como por exemplo, quando
crianças que por "descuido" dos pais, ouvem ou observam suas
relações sexuais, ou quando adultos observam sexualmente os filhos
e/ou se desnudam de forma sexual na frente das crianças, ou ainda
deixam expostas revistas de cunho sexual.- Cuidados físicos como aplicar enemas, ou mesmo dar
banho em crianças mais velhas, podem ser uma forma de abuso
sexual disfarçado, mas que a criança, ainda que em uma fase
posterior, percebe com estranheza como algo anormal. 
- Ausência de informação sexual adequada à idade: por
exemplo, não falar a uma menina que ela irá menstruar, dizer que a
masturbação causa lesões físicas, etc. 
 O abuso físico caracteriza-se quando a criança sofre ou
observa qualquer tipo de punição física com alguém da família, como
por exemplo, um pai alcoolizado que chega em casa agredindo
fisicamente a esposa na presença do filho. Isso para a criança é uma
situação mortal.
Pesquisas mostram que geralmente pais que agridem
fisicamente seus filhos apanharam quando crianças.
No entanto, em minha experiência, isso nem sempre se
confirma.
Em minha experiência clínica, pais que foram fisicamente
abusados podem tornar-se condescendentes, não impondo aos filhos
os limites necessários à formação de um “Ser Social”, a fim de não
infringirem aos filhos o mesmo sofrimento pelo qual passaram na
infância.
O trauma costuma produzir reações
extremas. Ou a pessoa se identifica
extremamente com o abusador e age
igual, ou repudia ao extremo suas
atitudes e procura agir de forma
oposta. Em ambos os casos, os
resultados são catastróficos!
Observo também que alguns pais que sofreram outros tipos
de abuso (que não físico) podem tornar-se violentos fisicamente,
projetando sua frustração nos filhos.
O abuso emocional resulta de uma confusão de fronteiras
dentro da família, e há uma reversão da ordem da natureza, quando
são as crianças que cuidam de seus pais e não o contrário.
Esse tipo de abuso não ocorre apenas em famílias
desestruturadas, mas também em muitas das famílias ditas "normais".
Muitas vezes, a criança assume o papel de auxiliar ou até
cuidador da mãe ou do pai, que pede ajuda por ser ele mesmo frágil
e/ou não conseguir se defender de alguma situação abusiva na
família.
Vale relembrar que a criança assume o papel de cuidador,
não porque de fato queira, mas para ajudar os pais, dos quais
depende, ou para não perder o amor deles, caso os contrarie.
E isso pode causar sequelas na fase adulta, uma vez que a
criança não teve suas necessidades infantis satisfeitas ou
respeitadas.
Essa criança pode, assim, tornar-se um adulto pseudo
autossuficiente, visto que aprendeu apenas a cuidar e não ser
cuidado quando precisou.
Ou pode, por outro lado, assumir o papel de vulnerabilidade
outrora exercido pelos pais, perpetuando o ciclo vítima/agressor (ou
abusado/abusador).
A falta de respeito à hierarquia da
relação pais-filho atualmente é
considerada também abuso, pois,
agindo dessa maneira, os pais não
protegem a criança e não a ajudam a
se desenvolver.
Pais que se sentem culpados por não poderem dar a
atenção devida aos filhos por conta do trabalho, ou ainda inseguros
quanto a forma adequada de educá-los, geralmente também rompem
essa hierarquia e deixam que os filhos tenham total controle sobre
eles, cedendo às suas vontades e não impondo limites.
Seja qual for a forma de abuso, o fato é que deixa marcas
profundas, e o adulto acaba por transmitir os traumas à criança pela
qual será responsável mais tarde, perpetuando o ciclo a cada
geração.
Todavia, existem processos automáticos usados pelo ego,
para a criança se autopreservar, toda vez que sofre um grave choque.
Segundo Freud, as defesas do psiquismo ajudam a criança
a separar o que é seu do que é do outro, além de proteger seu
psiquismo de situações consideradas intoleráveis.
Assim, alguns dos mecanismos de defesa como a
negação, a dissociação a conversão etc., formam um sistema de
defesa eficiente.
Esse sistema é definido por Donald Woods Winnicot,
pediatra e psicanalista inglês, como sistema do “Falso Self”, que está
representado pela organização total da atitude social polida e amável,
de não demonstrar abertamente seus sentimentos.
Durante a terapia, demora muito até o indivíduo aceitar se
desfazer do “falso Self” e da fantasia de onipotência, e assumir sua
falibilidade.
Importante lembrar que assumir sua fragilidade não
significa se esconder atrás dela. O terapeuta precisa mostrar ao
paciente que ele possui sim armas a fim de lutar e evoluir
emocionalmente. E quando essas armas estão “enferrujadas”, ajuda-
lo a torná-las mais eficazes.
A criança cria uma forma alternativa
de ser, uma espécie de máscara,
negando ou substituindo as próprias
emoções, na tentativa de esconder sua
condição de abandono e falta de valor.
Com isto, espera ser mais valorizada e aceita pelas
pessoas de seu convívio, deixando de lado (camuflados) a vergonha e
os defeitos antes sentidos.
Segundo Winnicot, na patologia do falso self, há um grande
leque de doenças, como as psicoses, os quadros borderline, a
depressão e o comportamento suicida.
Nas doenças, constatamos os aspectos menos autênticos
(mais falsos) da personalidade, inclusive nas neuroses.
Por isso muitos estudantes de psicologia ou psiquiatria
inicialmente se identificam com todos os transtornos dos livros.
Porque os transtornos nada mais são do que a exacerbação de traços
normais.
Porém, é importante destacar que nem todas as pessoas
que apresentam falso self manifestam os transtornos graves
mencionados por Winnicott.
Nos dias atuais podemos identificar nas redes sociais
pessoas com características do falso self, quando estas expõem uma
vida perfeita, onde vivem em um mundo fantasioso, cercadas por
festas, gente bonita e ostentação.
Essas pessoas não postam frases introspectivas,
momentos negativos ou de conflitos, mas apenas vendem a imagem
de um ser feliz e realizado, ou seja, o que acham que os outros
esperam delas.
E, pior do que isso, é que muitas dessas pessoas com o
tempo passam a acreditar na imagem que criaram.
Se formos investigar mais a fundo, muitos desses adultos
“perfeitos” possuem uma história na infância de sentimentos de
fracasso e rejeição.
Quando falo em sentimento, é porque mesmo que o adulto
ame e valorize seu filho, se ele não conseguir demonstrar esses
sentimentos, a criança pode crescer acreditando não ter sido amada.
Cukier destaca como características do falso self sua
rigidez, pois assim que este se estrutura, o verdadeiro self passa a ser
esquecido, e, com o tempo, a pessoa perde a noção de quem
realmente era, além da lembrança de que ela própria criou um
personagem para si.
E ainda, o falso self possui um sistema de auto-observação
e vigilância permanente, já que é necessário ficar atento para que as
partes rejeitadas não apareçam e façam ressurgir todo o sentimento
de vergonha e inferioridade de antes. 
Outro transtorno gerado por um grande trauma é o
Transtorno da Personalidade Borderline ou Emocionalmente Instável.
Você já deve ter observado que existem pessoas que
provocam raiva e até medo por seu comportamento instável,
explosivo e beligerante.
Muitas vezes apresentam acesso de fúria e reclamam das
situações em que se encontram.
Tal transtorno é tão emblemático como originado pela
criança interior ferida que merece um capítulo à parte.
 
 
 
 
 
4. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE
BORDERLINE
 
 
 
 
 
O Transtorno da Personalidade Borderline (TPB) pode ser
caracterizado pela notável instabilidade em muitos, senão em todos
os aspectos do funcionamento da pessoa, incluindo nos
relacionamentos, autoimagem, afeto e comportamento.
O termo borderline, que no português quer dizer fronteiriço
ou limítrofe, foi usado pela primeira vez em 1938, por Adolf Stern,
para descrever um grupo de pacientes que não era favorecido pela
psicanálise clássica e, também, não se enquadrava como neurótico
ou psicótico, possuindo características de ambos os transtornos.
Atualmente considera-se que, além da predisposição
genética, a etiologia desse transtorno está em grandes traumas
sofridos na infância, os quais o indivíduo nunca conseguiu processar.
Devido a essa estreita correlação com traumas de grande
magnitude para a criança, é considerado por alguns pesquisadores
um tipode Transtorno do Estresse Pós-traumático, pois ocorre
quando a criança é submetida a um trauma violento, uma catástrofe à
qual ela não consegue processar emocionalmente, temendo pela
própria sobrevivência física ou emocional.
Acredito que o outro extremo desse distúrbio seja o
Transtorno de Personalidade Anti-social, mais conhecido como
sociopatia ou psicopatia.
Dentro dessa linha de pensamento, haveria duas reações
extremas ao estresse intenso, o qual a criança não consegue
processar de maneira saudável, gerando o Transtorno do estresse
pós-traumático:
1. Na primeira reação, a criança pode perder sua
“pele emocional” e tornar-se extremamente
sensível e reativa ao mínimo fator de
sofrimento, tornando-se um adulto borderline.
2. Na segunda reação, ela pode desenvolver
uma “carapaça emocional” e daí tornar-se
completamente insensível, principalmente ao
sofrimento alheio, que vem a constituir a
estrutura psíquica do sociopata e do psicopata.
 Então, segundo minha teoria, o psicopata e o borderline,
dois transtornos de personalidade tão extremamente diferentes,
seriam duas faces de uma mesma moeda.
O diagnóstico do TPB não é dos mais fáceis, já que esse
distúrbio é compatível com várias outras patologias, chegando a
confundir-se com elas 
Judith Herman, psiquiatra norte americana, a partir de
estudos realizados em sobreviventes de vários tipos de traumas, ao
qual denominou de “Síndrome Complexa do Estresse Pós-
traumático”, ratifica que o diagnóstico de “personalidade borderline”
tem causado mais prejuízo do que benefício para o estudo dos
distúrbios de personalidade.
Isso pois, tal como o termo “histérico”, cuja conotação
negativa e pejorativa acabou se tornando um jargão na psiquiatria, a
palavra “borderline” passou a significar, nos últimos anos, manipulador
e criador de casos.
Isso fez com que os pacientes de TPB fossem vistos como
pessoas manipuladoras, quando são verdadeiros heróis que
sobreviveram a fortes traumas na infância, e cujas atitudes de
manipulação são uma busca desesperada de amor, aceitação, e de
aliviar sua dor interna.
É muito comum no consultório
observar que uma adolescente
borderline possui uma mãe igualmente
borderline, ainda que na maioria das
vezes não diagnosticada.
É mais uma vez o ciclo abusado/abusador do qual falei
anteriormente.
Os atos desesperados como as tentativas de suicídio e as
crises de agressividade são gritos de socorro de alguém que se sente
abandonado e perdido.
Quando se encontram em situações-limite, esses
pacientes, inconscientemente, tomam atitudes que ameaçam sua
dignidade e segurança, tais como: dissociação, intrusão, irritabilidade,
impulsividade, fortes mudanças de humor, automutilação, tentativas
de suicídio etc. 
O lema interno do paciente borderline
é: “Te odeio, por favor, não me
abandone!”.
Isto porque o indivíduo sente um imenso vazio interior que
não consegue suprir, um sentimento de rejeição e solidão, que o
fazem agir de forma dita “manipuladora”, instável e desesperada,
sensível aos mínimos sinais do que pensa ser rejeição, agredindo as
pessoas que ama a fim de provar sua ideia de que será abandonado.
E obviamente tais atitudes acabam por amedrontar e afastar as
pessoas, confirmando sua teoria.
Quanto á etiologia, o TPB, pode ser causado por fatores
constitucionais e fatores socioculturais.
Quanto aos fatores constitucionais que levam ao TPB, não
há nada consistente na literatura.
Podem estar associados á hereditariedade, pois é bastante
significativa a presença de pais que sofrem do transtorno no histórico
do paciente.
Porém não há como determinar se realmente seria uma
herança biológica ou psicológica (comportamento aprendido), visto
que pais que sofreram grandes traumas na infância e são
emocionalmente instáveis podem vir a infringir involuntariamente
traumas semelhantes em seus filhos, mormente os primogênitos,
época em que esses pais ainda são inexperientes e inseguros na
educação infantil. 
Pais que sofreram grandes traumas na
infância e são emocionalmente
instáveis costumam infringir
involuntariamente traumas
semelhantes em seus filhos.
A medicação utilizada pelos pacientes boderline no
tratamento dos sintomas depressivos, apesar do efeito de alívio, não
provoca nenhuma mudança em sua personalidade. 
As terapias têm resultados erráticos, geralmente com
pouca melhora do quadro. E o abandono do tratamento, tanto
medicamentoso quanto psicoterapeutico é muito comum.
Segundo pesquisas, a TCC (Terapia Cognitiva
Comportamental) é a que apresenta melhores resultados.
Aos fatores socioculturais, estão relacionados, entre outras
coisas, a falta de uma família estruturada e sólida, uma vez que os
pais atualmente passam cada vez menos tempo cuidando de suas
crianças.
Outrora, o pai saía para trabalhar e a mãe ficava em casa
cuidando dos filhos.
Contudo, as mudanças no comportamento feminino
levaram a mãe ao mercado de trabalho, sem a contrapartida da
redução da carga horária para ambos os pais, fazendo com que, cada
vez mais, o cuidado das crianças fique ao encargo de outras pessoas,
frequentemente pouco preparadas para lidar com as demandas
emocionais da infância, e trazendo elas mesma suas feridas
emocionais.
Portanto, esses fatores contribuem para o TPB, que pode
levar o indivíduo a agir com agressividade verbal ou até mesmo física
contra si e contra as pessoas a sua volta, em determinadas situações.
Essa atitude agressiva nada mais é do que autodefesa,
pois quando o border se identifica com o agressor, ele tende a
antecipar os atos de agressão, disparando contra o mesmo o que ele
acredita que certamente sofreria. É a estratégia de atacar/agredir
antes de ser atacado.
Anna Freud ilustra esse mecanismo de defesa com o
seguinte caso:
“Um menino de 5 anos, normalmente tímido e inibido, tornou-se
completamente agressivo quando pressentiu que a analista ia tocar no
assunto de masturbação. Então ele levantou-se e, de punho com uma
vara e um canivete que sempre trazia consigo, começou a rugir como
leão e atacar a analista. Esta tornara-se uma atitude frequente do
menino, que já tentara agredir a mãe e a avó em casa. E também já
mexia nas facas da cozinha, acenando em atitude ameaçadora. A
análise mostrou que, na verdade, o menino sofria de angústia e, ao
pensar que seria obrigado a confessar todas as suas fantasias e
atividades sexuais, imaginou que seria punido. Daí ele introjetava uma
autodefesa, pois sabia que crianças que faziam tais práticas eram
severamente castigadas pelos adultos, que além de gritar, desferiam
bofetões ou batiam com uma vara, restando ainda a possibilidade de
cortarem alguma parte do corpo (daí o canivete). Portanto, quando o
pequeno paciente assumiu o papel de leão feroz e ameaçou a
terapeuta com uma vara e um canivete, estava dramatizando,
colocando-se no papel do agressor e antecipando a tão temida
punição.”
 Os pacientes acometidos por TPB despertaram-nos a
curiosidade científica e a vontade de poder ajudá-los através do
estudo mais aprofundado da origem de seus problemas.
Entretando, o tratamento desse transtorno é extremamente
complexo, exigindo dos profissionais envolvidos uma expertise
específica.
Nesta patologia, os progressos terapêuticos geralmente
são pouco significativos e lentos. Os pacientes geralmente passam
por uma infinidade de médicos sem que tenham algum progresso, o
que pode deixar a família sem esperança de conseguir uma ajuda
concreta.
Conquanto a psicóloga norte-americana Marsha Linehan
tenha desenvolvido a Terapia Comportamental Dialética, a partir de
seu treinamento em Terapia Comportamental e Terapia Cognitivo-
Comportamental, sendo por pesquisadores considerado padrão-ouro
no tratamento de pessoas com TPB. Ainda assim, a abordagem
causa extremo sofrimento ao paciente que acaba por apresentar
muita resistência a ele, com altas taxas de abandono do tratamento.
É exatamente aqui que podemos observar o diferencial do
psicodrama em relação às demais terapias, pois trabalhando com
elementos lúdicos, pode-se retornar à infância de forma espontânea,rematrizando os traumas vivenciados, sem que o paciente perceba
exatamente pelo que está passando.
Desse modo, a pessoa não se dá conta de que através de
jogos e brincadeiras está se despindo e interpretando suas dores,
traumas e anseios, em direção à cura.
Falar de seus traumas causa um sofrimento dilacerante,
por isso os pacientes com TPB fogem das demais terapias.
Vivenciar esses traumas através do psicodrama torna-se,
portanto, uma abordagem mais leve, menos dolorosa, onde o
paciente sente-se protegido pelo aspecto lúdico da terapia, com
menor taxa de abandono e melhor participação, tornando-se dessa
forma curativo.
Um caso clínico que ilustra bem o sucesso do psicodrama
é o da paciente Lúcia, nome que lhe atribuímos a fim de resguardar
sua identidade. Essa paciente possuía traços de personalidade
borderline, mas era uma profissional bem-sucedida até vivenciar um
forte trauma e ser afastada do seu trabalho, o que desencadeou uma
depressão profunda. Veja o caso: 
Lúcia chega ao consultório, como de forma habitual,
apresentando soluços e suspiros involuntários, tremores em todo o
corpo, e a expressão corporal encurvada com os braços
semiflexionados na frágil aparência de um bichinho assustado ou um
bebê desejando retornar ao útero. Conta que seu marido chegou em
casa e, vendo sobre a mesa um cartão de crédito ainda bloqueado que
havia acabado de chegar no nome dela, esbravejou dizendo que a
mesma já estava com a intenção de iniciar novos gastos e que ele não
iria permitir. Nesse ponto a paciente começa a chorar convulsivamente
e repetir: “Eu jamais faria isso com ele, eu confiava nele, eu sempre
dizia que assinaria um cheque em branco pra ele. Como ele foi cruel e
ninguém me defendeu!” A terapeuta (T) pediu gentilmente que
começasse a caminhar lentamente pela sala e fez uma breve
entrevista: T: “O que você está sentindo?” E ela respondeu: “Medo...
medo e solidão”. T: ”Consegue identificar em que parte de seu corpo
está esse medo?” E ela: “Aqui e aqui”, aponta o peito e a garganta. T:
“Que forma tem esse medo? E ela: “Parece uma bola cheia de
espinhos me espetando”. T: “Lembra quando foi a primeira vez que
sentiu esse medo e solidão?. Essa bola de espinho?” A paciente pára
de caminhar, olha ao longe e diz: “Quando meu pai saiu de casa. E
quando meu padrasto faleceu. Por que ele me abandonou?” diz
referindo-se ao padrasto e começa a chorar se encurvando quase ao
chão. T pergunta se quer conversar em pé ou se prefere ficar em uma
posição mais confortável. Ela se deita sobre as almofadas quase em
posição fetal e continua: “Se ele estivesse vivo ele teria me defendido.
“João não teria feito isso comigo”. Nesse momento, a terapeuta coloca
a mão em suas costas, transmitindo-lhe apoio e acolhimento, o que aos
poucos diminui seu choro. Pergunta se ela quer encenar o momento do
seu primeiro conflito com João, seu marido, três anos antes, quando
ele bloqueou sua conta no banco, seu acesso à empresa onde ambos
trabalhavam como sócios, e passou a deixá-la praticamente restrita à
casa, sem dinheiro nem para um táxi. Acena a cabeça que não, mas
quer conversar com o padrasto a quem chama de pai. T pede que
monte a cena do local em que está com seu “pai” e ela inicia colocando
uma almofada em sua frente e pedindo-lhe que relate a longa história
do abuso que estava sofrendo por parte do marido. Então T coloca-se
no lugar da almofada e, substituindo-a, repete a última frase: “Pai, ele
não tinha o direito de fazer isso comigo. Ele não é o João que eu
conhecia”. E ela responde no papel de pai: “Filhinha, pode deixar que
eu vou falar sério com ele. Isso não vai ficar assim!”. Nesse momento,
T repete a cena e no papel do pai abraça a paciente, dando o
acolhimento necessário. Em seguida, T pede que monte a cena do
local em que o pai se encontra com João. Lúcia escolhe sala de sua
casa, João sentado e o pai em pé, em atitude de autoridade. Ao
assumir o lugar do pai, conversa pacificamente com João, dizendo que
o mesmo não deveria ter feito isso com sua filha. Repete-se a cena,
desta vez ela como João e a terapeuta na posição de seu pai. João
responde que teve seus motivos para agir assim. Inverte-se novamente
a cena e a paciente no lugar do pai responde:” Nada justifica uma
atitude dessas”. E retira-se da sala. A paciente é entrevistada no papel
de pai e questionada se o mesmo não deveria ser mais agressivo com
João, dado todo o mal que o mesmo causou a sua filha. Nesse
momento, a paciente sai do papel e responde:”Não. Ele não era
agressivo. Ele só conversaria”. Pede-se que volte ao papel de pai e
converse com a almofada representando Lúcia. A paciente mostra-se
firme ao falar: “Filhinha, seu pai vai estar sempre ao seu lado. Se
quiser, pode vir morar conosco. Você não precisa passar por isso se
não quiser”. Repete-se a cena, desta vez com a terapeuta no papel de
pai. A paciente se emociona, chora aliviada e abraça seu “pai”. Após
esse momento de catarse, a terapeuta faz um gesto de entrega e diz:
“Toma Lúcia, coloca esse pai dentro de você. Na verdade, ele nunca
saiu daí. Ele sempre esteve cuidando de você. Você é que não o
estava sentindo. E agora? Você pode senti-lo?” E ela responde: “Sim.
Eu sinto meu pai comigo. Na verdade, ele sempre esteve aqui (coloca
as mãos no peito). Mas agora eu posso sentir”. A partir desse momento
seu rosto passou a irradiar uma luz especial, de alegria e leveza, e
abriu um sorriso. Seus ombros se ergueram, seus soluços e suspiros
cederam, ela se reaproximou da mãe e das irmãs, começou a sair de
casa, caminhar na praia, dirigir e inclusive planejar abrir um restaurante
com o apoio financeiro da mãe. João, a princípio resistiu a essas
mudanças, mas acabou por respeitar, tornou-se mais carinhoso e
maleável, apesar de não a apoiar financeiramente, porém Lúcia
aprendeu que não precisava mais contar só com ele.
Os pacientes com TPB são geralmente inteligentes e
talentosos, porém, devido ao transtorno, muitas vezes não
conseguem se desenvolver e apresentam dificuldades em concluir os
estudos.
Por isso, não costumam trabalhar e, quando o fazem,
ocupam funções muito abaixo de suas capacidades. Esses pacientes
costumam apresentar crises relacionais, alguns até causam
ferimentos em si mesmos e abusam de medicamentos.
É o caso da paciente Luísa:
Luísa (nome fictício), médica cirurgiã, 35 anos mãe de 3 meninas,
etilismo pesado (ingere diariamente cerveja ou qualquer bebida
alcoólica até “apagar”). Também faz uso diário de cocaína a fim de se
concentrar no trabalho e maconha a fim de dormir. Chegou ao
consultório após uma tentativa de suicídio. Relatou que sua vida estava
se destruindo, que não conseguia mais pagar as contas, organizar as
finanças, nem mesmo ir aos plantões, os quais estava repassando para
colegas. Também cancelava com frequência as consultas e cirurgias de
sua clínica privada, o que estava afastando os pacientes. Acreditava
ainda estar cuidando adequadamente das filhas pois, segundo a
mesma, as meninas não percebiam seu estado de consciência alterada
pelas drogas, e elas conversavam e brincavam normalmente até, como
disse, “apagar”. Na primeira consulta relatou que teria um curso, nos
Estados Unidos, de uma semana no mês seguinte e que iria cancelar,
apesar de já estar aguardando há mais de um ano ansiosamente, por
ser de uma Escola Acadêmica renomada. Pedi que não cancelasse de
imediato, pois juntas tentaríamos melhorar seu quadro a tempo. Com a
medicação, a dieta e a terapia, em 3 semanas a paciente estava,
segundo a mesma, “90% melhor!”. Havia por recomendação tirado
“férias” de seus trabalhos, visto que por não ser funcionária não teria
direito a licença, e estava se preparando para o tão sonhado curso!
Bom lembrar que normalmente casos de tentativa de
suicídio são mantidos em observação por algum tempo, mas, nesse,
em específico, os motivadores sociais me deram a tranquilidade de
que a paciente não faria uma nova tentativa, portanto me senti à
vontade para liberá-la, desde que viajasse acompanhada pela
genitora.
O TPB é o exemplo mais marcante de como as feridasna
infância podem prejudicar a vida adulta. Tal transtorno ocorre em 2%
da população mundial, sendo 75% mulheres.
Um número expressivamente maior de indivíduos sofre
traumas de menores proporções e/ou processa melhor esses
traumas, o que gera transtornos menos incapacitantes ou mais
adaptativos.
É importante ter em mente que, somente identificando a
origem do trauma, o médico ou terapeuta poderá abordá-lo e tratá-lo
adequadamente.
 
 
 
 
 
5. AS FASES DO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
 
 
 
 
 
Os primeiros anos de vida de uma pessoa são marcados
por grandes transformações e descobertas. Aos poucos, a criança
começa a entender o mundo em que vive e aprende a lidar consigo
mesma e com aqueles que a cercam.
O psiquiatra infantil Fábio Barbirato descreveu com
maestria essas fases do desenvolvimento.
Segundo Barbirato, o bebê passa por várias
transformações desde seu nascimento. De 1 a 4 meses essas
transformações são bastante significativas. Portanto, é importante que
os pais saibam perceber os sinais de satisfação e insatisfação, e não
devem se preocupar se o bebê passa horas olhando as mãos e
observando seus próprios movimentos.
Também costuma ficar horas observando e ouvindo os
movimentos das pessoas ao seu redor, pois começa a entender que
são elas que irão atender às suas necessidades, e a presença dessas
pessoas se torna reconfortante.
Nessa fase, o choro tem vários significados e é um forte
aliado para ter seus desejos satisfeitos. Segundo o autor:
“O choro é a primeira forma de comunicação do bebê com o mundo. É
o modo mais poderoso e eficaz de conseguir chamar a atenção dos
outros, não apenas porque está com fome ou dor. Cada bebê reage de
um modo, mas o choro sempre significa alguma necessidade: fome,
cólica, estar sujo ou molhado, com roupa desconfortável, sono, frio ou
calor e excesso de estímulo são as opções mais prováveis”.
Há uma grande necessidade de estabelecimento de
contato e de laços emocionais entre o bebê e a figura materna, o que
figura como um fenômeno biologicamente determinado.
A comunicação afetiva que se estabelece entre mãe e filho
é de grande relevância no desenvolvimento infantil, no que diz
respeito a aprendizagem.
Essa comunicação, no começo da vida, influencia a forma
como a criança (e, futuramente, o adolescente e o adulto) se relaciona
com as pessoas, tornando-a mais confiante e capaz de ver o mundo
com confiança e otimismo, ou, ao contrário, tornando-a insegura e
propensa à desconfiança e ao pessimismo.
Diante disto, pode-se afirmar que a relação entre mãe e
filho terá grande significância no processo do desenvolvimento infantil
(personalidade, autoestima, aprendizagem). 
Na verdade, mesmo crianças que, por algum motivo,
perderam suas mães, são capazes de gerar grande empatia em seus
cuidadores despertando o que costumamos chamar de “instinto
maternal”, o que, do ponto de vista antropológico, continua sendo um
belíssimo mecanismo de sobrevivência do bebê, pois consegue
despertar até em estranhos o instinto de cuidado e proteção. Tal
instinto ocorre até mesmo entre animais de diferentes espécies como
entre homo sapiens, canis familiaris, felis catus, chipanzés ou outros
animais.
O crescimento cerebral é estimulado até os três meses de
idade. Para isso são necessários cuidados como:
1. Não deixar de consultar o pediatra.
2. Favorecer contato físico para que o bebê se
sinta seguro.
3. Contar histórias para o bebê.
4. Disponibilizar objetos coloridos no quarto da
criança (não precisa ser brinquedos).
5. Aprender a decifrar seus gestos, e demonstrar
amor e carinho pelo bebê.
É aqui que você vai aprender a cuidar de sua criança
interior. Sabe aquele momento em que você se sente desconfortável?
É porque certamente seu bebê interior está sentindo alguma
necessidade básica: fome, sede, atenção... Geralmente não damos
importância a esse desconforto.
Para cuidar de nossa criança interior, é
necessário valorizar os sinais de
desconforto e dialogar com nosso
bebê, a fim de confortá-lo.
No período entre 4 e 7 meses o bebê está aprendendo a
combinar as habilidades perceptivas com a capacidade motora.
Lá pelos 5 meses ele começa a perceber o mundo em sua
volta e seus limites corporais. Também passa a se comunicar através
de sorrisos e perceber o princípio da causa e efeito.
Para estimular o crescimento cerebral do bebê nesse
período, é importante que:
1. Tenha contato fisico para ele sentir-se amado e
protegido.
2. A mãe leia historinhas, onde ele a observará e
gostará de ser observado.
3. Faça movimentos rítmicos para ele.
4. Deixe-o perto de outros bebês.
5. Dê-lhe jogos de encaixar.
Se você tiver uma criança interior
ferida nessa fase você deverá amá-la e
protegê-la, brincando com ela através
de jogos, música, dança, esportes,
ajudá-la a fazer amigos...
Pois é o que os adultos fazem intuitivamente quando vão a
festas e participam de atividades esportivas.
Dos 8 meses a 1 ano o bebê já se movimenta sozinho.
Começa a engatinhar aos 8 meses, adquirindo habilidade
necessária para uma separação física da mãe.
Por outro lado, nessa fase, o bebê fica mais angustiado e
pode apresentar dificuldades para dormir e falta de apetite, entre
outras coisas.
Essa angústia explica-se pelo fato dele ainda não estar
preparado para uma separação por não ter gravado a imagem da
mãe. Daí, sente sua ausência quando esta se afasta.
Porém, à medida que o bebê cresce e amadurece,
consegue gravar a imagem da mãe, o que lhe garante uma maior
estabilidade emocional. 
Se sua criança foi ferida nessa fase,
você apresentará dependência
emocional, com dificuldade em
superar perdas. Trate-a através da
rematrização, ou seja, seu EU adulto
precisará cuidar de sua criança
interior ferida, mostrando que sempre
estará ao seu lado e nunca a
abandonará. Mas também a ajude a
tornar-se autossuficiente e fazer
amigos.
Para estimular o crescimento cerebral da criança até os 12
meses, é importante que a mãe desenvolva algumas ações como:
1. Ler todos os dias.
2. Conversarcom ela.
3. Fazer brincadeiras que estimulem a memória e
as habilidades motoras finas.
4. Permitir que ela brinque com outras crianças e
conheça novos adultos, além dos familiares.
De 1 a 2 anos a criança, depois de engatinhar, começa a
caminhar e a falar, ganhando cada vez mais independência.
É quando passa a conhecer seus próprios limites e a testar
o dos pais. Esse momento se repete na adolescência e por isso o
modo de tratar sua criança nessas duas fases guarda bastante
semelhanças.
Nesta fase, a criança é curiosa e está pronta para conhecer
muitas coisas do mundo através da exploração do meio que a cerca,
da imitação e de muita imaginação.
O desenvolvimento cerebral e a coordenação fina dos seus
movimentos ocorrem através da estimulação da fala, dos movimentos
e das descobertas que a criança faz nessa fase, o que a levará a
comportar-se de maneira confiante.
Emocionalmente, a criança de 1 a 2 anos apresenta-se
bastante desenvolvida, pois já percebe os estados emocionais de
quem está próximo a ela, sobretudo os pais, mesmo que não os
compreenda.
Nessa fase, os pais devem agir de forma mais severa (sem deixar de
ser amorosos) para impor limites quando a criança insistir em não
obedecer. Porém, jamais fazer uso de violência física ou verbal.
Um tom de voz mais firme, ou uma expressão facial, são o suficiente
pra criança perceber que é hora de ceder. E, mais do que nunca, é
necessário que os pais sejam coerentes em seu comportamento.
Quando advertida da forma adequada, a criança reage
naturalmente e entende o limite ou a crítica que está sendo imposto,
bem como compreende que a crítica é à sua atitude, não à sua
pessoa.
Porém, se essa advertência vier junto a algum tipo de
violência física ou verbal, provavelmente se desencadeará um trauma
pois a criança se sentirá envergonhada, desvalorizada, defeituosa e
inadequada, e, portanto, seu adulto ficará emocionalmente instável
sempre que imaginar-se criticado.
Caso sua criança tenha sido ferida
nessa fase, converse com ela
carinhosamente,fazendo-a entender
que a punição é apenas pela sua
atitude, mas que ela é perfeita, e
apenas está aprendendo novas formas
de comportamento. Mas seja firme e
coerente.
Aos 3 anos de idade a criança já se encontra
emocionalmente mais segura e até ajuda os pais a estabelecer
limites.
É a fase chamada estágio de dependência volitiva, onde as
crianças são capazes de controlar suas necessidades.
Essa fase de limites é importante e deve ser seguida com
firmeza, pois se os pais não o fizerem, a criança poderá se tornrar um
adulto com dificuldades de limites.
Muitos pais fracassam nessa tarefa por carregarem consigo
seus próprios problemas relacionados a limites, quando vivem e
revivem a forma como estes lhes foram passados.
Nessa fase da vida, elas costumam provocar os adultos,
que deverão saber controlar sua agressividade sem ceder às suas
birras.
Elas agem agressivamente quando são contrariadas, e
fazem isso porque ainda não têm o autocontrole do impulso
agressivo, cabendo aos pais instruí-las a controlar e soltar tais
impulsos na hora adequada.
Ou seja, você deve mostrar que compreende que a criança
tem o direito de ficar agressiva em determinados momentos, porém
nem sempre tal comportamento fará com que consiga obter o
desejado.
Existem dois comportamentos igualmente destrutivos por
parte dos pais:
1. Agredir a criança e puni-la por sua birra,
desvalorizando o sentimento dela.
2. Ceder à sua birra, oferecendo a ela o que deseja a
fim de acalmá-la.
Os pais devem permanecer ao lado da criança, conversar
calmamente com ela, mostrar que entendem sua raiva, mas que ela
precisa aprender a controlar sua agressividade, pois com essa reação
ela não conseguirá o que tanto deseja.
Se sua criança foi ferida nessa idade,
converse carinhosamente, diga que
ela tem o direito de se irritar, mas
precisa aprender a se acalmar pois
não irá conseguir o que deseja com
agressividade.
Dos 3 aos 6 anos a criança passa por uma explosão de
descobertas!
Deixa as fraldas, começa o período pré-escolar, os padrões
socioculturais de comportamento se solidificam aos poucos, e o
desenvolvimento físico, motor e intelectual tem um grande progresso!
A criança já é capaz e ir e vir de acordo com sua vontade,
de se expressar usando símbolos e até gostar ou não das pessoas.
Essa é a fase dos “por quês”. A criança quer conhecer
tudo, descobrir tudo, pois existe muita coisa no mundo a ser
descoberta.
Essa curiosidade espontânea só é possível porque a
criança sente-se bem-vinda, confia no mundo e acredita que todas as
suas necessidades serão acolhidas e respeitadas.
Ela busca entender quem é, e o que deseja fazer da sua
vida. A criança até então era egocêntrica, não egoísta, ou seja,
incapaz de entender o mundo segundo o ponto de vista da outra
pessoa. Não conseguia ficar no papel do outro.
Aqui há pais que irão argumentar: “Mas meu filho de 3 anos
sente quando eu estou triste ou com raiva”. Sim, ele percebe suas
emoções, mas não consegue se colocar no seu lugar. Quando ele as
acolhe é à fim de preservar sua própria necessidade de segurança,
amor e conforto.
É somente nesta fase dos 3 aos 6 anos que a criança
começa a aprender a se colocar no papel do outro, entender a sua
dor, e passa a interagir verdadeiramente, no sentido de reciprocidade.
Se a criança for ferida nessa fase, ela se tornará tímida e
insegura, ou não empática, pois não aprenderá a se colocar no lugar
do outro.
Mostre à sua criança ferida que ela é
amada e tem muito valor. Que ela
precisa aprender a reconhecer e
cuidar de seus sentimentos. Assim,
com o tempo, aprenderá a desenvolver
empatia.
Como pode-se observar, a fase compreendida entre o
nascimento e os seis anos mostra-se de grande importância para a
formação da personalidade da criança.
Nesse período, todas as experiências serão decisivas e
poderão ocasionar sequelas no equilíbrio, coordenação e organização
de ideias, caso suas necessidades não sejam supridas
adequadamente.
E por adequadamente, devemos entender, sem excesso e
de maneira coerente.
Esta é a principal fase da vida de uma pessoa, pois o que
acontece nesse período fica guardado para sempre. E os
comportamentos disfuncionais adquiridos se repetem instintivamente
para o resto de sua vida, como um disco arranhado.
Portanto, se vivenciar boas experiências, boa alimentação,
carinho e estimulação sem excessos, com certeza a criança tornar-se-
á futuramente um adulto mais ajustado e coerente, preservando e
aprendendo a adequar sua criatividade e sua espontaneidade. 
Quando a criança nasce, ela rompe uma barreira,
passando da matriz materna para um universo novo e diferente, o
qual Moreno denominou Matriz de Identidade, onde é oferecida à
criança uma nova placenta, constituída pelos vínculos com os pais ou
cuidadores e pelas pessoas e coisas significativas que a cercam.
Assim, Matriz de Identidade é o conjunto de condições
psicológicas e sociais no qual a criança é inserida ao nascer, e a partir
da qual se desenvolve dos pontos de vista psíquico e social.
É a placenta social, onde o recém-nascido implanta-se no
grupo social do qual depende para suas necessidades fisiológicas,
psicológicas e sociais do mesmo modo que o ovo, o embrião e,
posteriormente, o feto se implantam na placenta e dela se nutrem e
dependem.
A criança já possui um papel antes mesmo de nascer, ou
seja, ela já tem um lugar na matriz a que pertence. A partir do
nascimento ela receberá toda a herança cultural de sua matriz (grupo
familiar), transmitida de forma a prepará-la para ser inserida no meio
social.
Ao longo de seu desenvolvimento emocional e construção
de sua identidade, a criança passa por cinco fases, assim descritas
por Moreno:
Indiferenciação: é o momento evolutivo em que a criança
ainda não se diferencia das pessoas com quem interage e não
consegue distinguir o que é dela e o que é do outro. É a busca da
identidade.
Reconhecimento do eu: aqui a criança está focada em si,
nos contornos de seu corpo e no reconhecimento de sua imagem no
espelho. Ela passa a se concentrar e explorar o reconhecimento de
suas fronteiras ao perceber que seu corpo está separado da mãe, das
pessoas, dos objetos. Aqui, o Tu serve apenas como instrumento no
processo de reconhecimento do eu.
Reconhecimento do tu: nessa fase a criança já consegue
diferenciar o outro de si, e passa a explorar o que é diferente do eu,
fortalecendo sua identidade. É a fase da exploração do mundo, do
diferente, da descoberta de que o outro tem comportamento
diferenciado do dela. É quando a criança passa verdadeiramente a
diferenciar o Tu.
Pré-inversão: é a fase em que a criança começa a
experimentar se colocar no lugar do outro, porém não consegue ver
outra pessoa em seu lugar. É a fase da imitação, do faz-de-conta,
uma espécie de ensaio e preparação para uma futura inversão,
quando será possível uma reciprocidade. Nessa fase a criança gosta
de imitar, mas detesta ser imitada.
Inversão de papéis: essa fase indica o amadurecimento
emocional da criança, onde ela não apenas consegue se ver
separada do outro como também compreender suas diferenças. Aqui
acontece a inversão de papéis, ou seja, o indivíduo joga o papel do
outro e o outro joga seu papel, com empatia, possibilitando as
condições necessárias para que se realize um verdadeiro encontro,
uma experiência produtora de crescimento e fortalecedora do vínculo
para as duas partes.
Esse conhecimento que a criança vai adquirindo de si
própria, diferenciando-se do grupo, vai proporcionar-lhe sua
percepção enquanto indivíduo no grupo familiar e mais tarde no
social.
Portanto, se essas fases não se desenvolverem
satisfatoriamente, o indivíduo terá dificuldade em cultivar sua
espontaneidade e criatividade no grupo, encontrando empecilhos em
sua vivência no mundo. 
Quando a criança atinge o último estágio na Matriz de
Identidade, desenvolve mais dois tipos de papéis: os papéis sociais e
os papéis psicodramáticos.
O primeiro corresponde à dimensão da interação social,
que assume fundamentalmente a função de realidade e forma o eu
parcial

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