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41 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Unidade II 5 ENSINO E ARTE 5.1 Noções de arte Embora as manifestações artísticas façam parte da nossa vida, a definição de arte não é simples. Isso ocorre porque não existe uma definição única que seja capaz de abarcar completamente essa produção humana. O conceito de arte varia conforme a época e a cultura, ou seja, com o contexto sócio‑histórico. Como sabemos, a arte é produzida desde a pré‑história até a contemporaneidade, designando estilos próprios que representam diversos momentos estéticos e históricos (NASCIMENTO, 2013). Na modernidade ocidental, por exemplo, a arte é vista como uma área separada da ciência, da religião e da técnica, diferentemente do que se observava em outras épocas. Conforme dissemos, embora não haja uma definição absoluta para a arte, somos capazes de identificar, no dia a dia, exemplos artísticos, pois é possível levantarmos características que lhes são intrínsecas. Em geral, relacionamos arte à produção humana de imagens, sons, objetos, movimentos ou espaços, entre outras formas, que se destacam de acordo com alguns critérios – seja por suas qualidades estéticas seja por sua função social. Observação A Estética refere‑se à reflexão a respeito do belo e da sua presença na arte. O conceito de belo não é absoluto. Como sabemos, a arte apresenta‑se de várias formas, como dança, escultura, arquitetura, teatro, plástica, música etc. Essas formas podem ser observadas a partir de três ângulos: o visual, o auditivo ou misto (audiovisual). Observação A literatura também é uma forma de arte. 42 Unidade II A criação de objetos artísticos, ao longo da história, surgiu como meio de vida ou divulgação de crenças para distração, estimulação e exploração, além de possibilitar a interpretação de objetos e cenas. Essas complexidades acompanham as muitas expressões e linguagens da arte envolta na emoção de quem a produz. Ao nos depararmos com uma obra, vemos a beleza dos traços, dos efeitos cromáticos, do ritmo, das mensagens estéticas e ao mesmo tempo os sentimentos se afloram. Tais valores estéticos representam nossa história, nossos sentimentos, nossa cultura e o contexto ao nosso redor, isso é uma criação humana que chamamos de arte. Aplicando nossos conhecimentos num conjunto de procedimentos, realizamos algumas obras, ou seja, arte (MOREIRA; FREITAS, 2020). Por meio de matérias orgânicas e materiais diversos, o artista faz sua produção, e esta gera formas, espaços e figuras. Isso resulta em obras que fascinam até hoje, mesmo que não estejamos ambientados em seu contexto de produção. De acordo com Dondis (1997, p. 3), vários dados “podem ser usados para compor e compreender mensagens em diversos níveis de utilidade, desde o puramente funcional até os mais elevados domínios da expressão artística”. Desse modo, é notável a riqueza das expressões e dos sentimentos trazidos pela arte, e destaca‑se a importância de sua presença nas mais diferentes esferas da sociedade, buscando despertar nas pessoas o prazer da aprendizagem pela observação de obras. Lembrete As artes visuais referem‑se aos recursos e às formas de expressão vistos por meio de desenhos, pinturas, gravuras, esculturas e colagens, em que o artista busca representar seu mundo real ou seu mundo imaginário. Conhecer os processos criativos das linguagens artísticas, como pensavam artistas tão famosos como Leonardo da Vinci e Vincent Van Gogh, é importante. A arte, além de integrar pessoas, faz com que elas conheçam e desenvolvam formas de se expressar, de demonstrar aquilo que sentem ou pensam. Além disso, a arte estimula, no indivíduo, a análise crítica daquilo que vê, ouve ou faz. Bello (2003, p. 36) afirma que a arte se estabelece “muito mais em dúvidas do que em certezas, desafia, levanta hipóteses e antíteses em vez de afirmar teses”. Exemplo de aplicação Como você entende a arte? Sabemos que ela é universal e essencial ao ser humano, que ela está na sociedade e mostra, por meio de suas linguagens, aspectos de determinado período histórico. Uma obra pode apresentar um recorte histórico, como A batalha do Avaí, de Pedro Américo. O quadro conta algo e nos remete à história da guerra que aconteceu no Paraguai. Os participantes foram Duque de Caxias e o General Osório. Pesquise sobre o que esse quadro revela do momento 43 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS histórico e político do Brasil, pensando no discurso ideológico que ele transmite. Procure avaliar, também, os elementos estéticos da obra. Figura 12 – Batalha do Avaí (1868), de Pedro Américo Disponível em: https://cutt.ly/oNjvZoX. Acesso em: 27 out. 2022. Em função das características apresentadas, fica clara a necessidade da educação voltada à arte. Não podemos esquecer, entretanto, que a apropriação do conhecimento é um processo complexo, independentemente da disciplina, que exige do sujeito que aprende desejo, organização, método e planejamento. Mas, ao organizar uma aula ou algum tipo de conhecimento, o professor deverá planejar‑se de tal forma que as características e as especificidades da área de arte sejam mostradas por meio de pesquisas e da apropriação do conteúdo pesquisado, para que a aula aconteça de acordo com os preceitos educacionais do ensino de arte – produção, história, análise crítica e a estética. Conforme Libâneo (2009, p. 9): as demandas e necessidades da aprendizagem nesse mundo em mudança precisam repensar seus objetivos e práticas de ensino, de modo a prover aos seus alunos os meios cognitivos e instrumentais de compreender e lidar com os desafios propostos por essa realidade. Tais objetivos estão ligados a tarefas como o desenvolvimento da razão crítica, isto é, a capacidade de pensar a realidade e intervir nela, por 44 Unidade II meio de sólida formação cultural e científica; o provimento de meios pedagógico‑didáticos para o domínio de competências cognitivas que levem ao “aprender a pensar”; o fortalecimento da subjetividade dos alunos e a ajuda na construção de sua identidade pessoal, dentro do respeito à diversidade social e cultural; a formação para a cidadania participativa. Diante das perspectivas das experiências das artes, pensar sobre o ensino dessa disciplina implica, ainda, compreender a história da arte, o contexto cultural e os estilos provenientes dela em meio às referências dos contextos em que se inserem. Também devem ser consideradas as formações dos conceitos que interagem com as definições como: a criação, a percepção, o belo, a estética, a técnica, o material e o sensível. 5.2 Aspectos do ensino de artes no Brasil Devemos atentar para o fato de que a disciplina de Artes no Brasil também sofreu modificações em sua nomenclatura ao longo do tempo: como vemos em Martins (2003), ela já foi designada como Desenho, Artes Aplicadas, Educação Artística, Expressão Plástica, Artes Plásticas e Arte‑Educação. Hoje, como sabemos, é chamada de Artes Visuais. Barbosa (2003) questiona o ensino de História da Arte e aponta que a disciplina tradicionalmente é ensinada “rezando o credo” dos padrões europeus, cristão e branco, o que restringe esse estudo a uma quantidade de artistas e de movimentos amarrados a uma elite intelectual, distanciando e sacralizando não só a arte, mas seu ensino. A autora propõe o ensino da arte local, regional e nacional, o que dá oportunidade ao aluno de conhecer a cultura do local onde mora. A partir de diferentes pesquisas e dos fundamentos e dos estudos na área de arte, podemos diferenciar convergências de ensino do tema presentes ao longo da história da educação brasileira. O ensino da arte no Brasil apresenta três tendências conceituais, que se classificam como: ensino de arte pré‑modernista, ensino de arte pós‑modernista e ensino de arte modernista. Também identificamos o ensino de arte pós‑moderna. Desse modo, compreendemos que o modernismo é fortemente considerado para conceber o ensino de arte, centralizado no ensino da técnica. A ideiade ensino de arte como técnica está ligada à origem do ensino brasileiro. Com a presença dos jesuítas no Brasil, a arte iniciou‑se na educação por meio de aspectos informais, caracterizados pelo ensino da arte em fábricas de artesãos. O ensino de arte tem como objetivo o desenvolvimento da expressão, da criatividade e das bases conceituais e metodológicas ligadas ao Movimento Escolinhas de Arte (MEA), que exerceu grande influência sobre o ensino de arte na escola. Essa influência deve‑se ao fato de o MEA ter sido constituído como o primeiro e, talvez, o mais importante movimento que possibilitou o processo de transformação filosófica e metodológica de nossa arte e nossa educação (SILVA; ARAÚJO, 2004). 45 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Os modernistas Mário de Andrade e Anita Malfatti exerceram papeis fundamentais no início das “ideias da livre expressão” do ensino de arte para crianças. A ideia da livre expressão originou‑se do termo expressionismo e defendia que a arte na educação tem como objetivo que as crianças expressem o que sentem, pois a arte não seria ensinada, mas, sim, expressada. Figura 13 – Retrato de Mário de Andrade (1922), de Hugo Adami, e Autorretrato (1922), de Tarsila do Amaral Fonte: Batista e Lima (1998). O ensino das Artes Visuais, desde o século XX, tem passado por transformações que podem ser facilmente identificadas nas escolas. Chegando aos dias atuais, observamos a diversificação de práticas de atuação em distintos contextos educacionais, em virtude das mudanças constantes socioculturais do mundo contemporâneo (JESUS et al., 2007). 46 Unidade II 5.3 Breve histórico do ensino de arte no Brasil Observe a obra Lavadeiras do Rio das Laranjeiras, de Debret, na figura 13. Ela retrata a nossa sociedade colonial, escravocrata. A presença do pintor francês no Brasil está ligada à Missão Artística Francesa, que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios. Figura 14 – Lavadeiras do Rio das Laranjeiras (1826), de Jean‑Baptiste Debret Disponível em: https://cutt.ly/TNIbz36. Acesso em: 27 out. 2022. Segundo Barbosa (1995, p. 16), durante o período colonial, “o objetivo era formar uma elite que defendesse a colônia dos invasores e movimentasse culturalmente a Corte, durante os primeiros anos da República, […] formar uma elite que governasse o país, o que norteou o pensamento educacional brasileiro”. Assim, as primeiras instituições de Ensino Superior foram as militares, as de cursos médicos e a Academia Imperial de Belas Artes (Decreto‑Lei de 1816). Como o ensino da arte era dirigido por franceses e membros da Academia de Belas Artes, bonapartistas, e do Instituto de França, inspirado pelo pensamento neoclássico, surgiu um preconceito em relação a essa formação – já que, politicamente, o Brasil vivia um repúdio contra Bonaparte, que ameaçava a Inglaterra, país ao qual Portugal estava submetido. Devido a essa ameaça, D. João VI refugiou‑se no Brasil. 47 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Figura 15 – Entrada da Academia Imperial de Belas Artes, Rio de Janeiro, em 1981 Disponível em: https://cutt.ly/zNjncfg. Acesso em: 27 out. 2022. No período posterior, com a queda de Napoleão, Humboldt, naturalista alemão, recebeu o embaixador de Portugal e designou contratos de artistas franceses para organizar o ensino da arte no Brasil. Desse modo, chefiado por Lebreton, chegaram ao Brasil em 1816 diversos artistas, entre eles Debret, Taunay, Dillon e Montigny. O país apresentava posicionamento ambíguo em relação à contratação e ao patrocínio da Missão Artística Francesa, pois dizia‑se que a criação da Academia Real de Ciências, Artes e Ofício visava a abrigar alguns estrangeiros e protegê‑los. O coronel Maler foi incumbido de vigiar os artistas da Missão, com a desculpa de participação dos artistas no plano de fuga de Napoleão para América. Nesse contexto, e com o fato de Portugal ainda não ter uma Academia como a Brasileira, o ensino de arte no Brasil sofreu muito preconceito no período. Os artistas que chegaram trouxeram a estética neoclássica, e, no Brasil, a tradição era barroco‑rococó. A transição entre o estilo europeu/neoclássico e o brasileiro/barroco gerou conflitos. Barbosa (1995, p. 19) comenta que: 48 Unidade II a Missão Francesa já encontrou uma arte distinta dos originários modelos portugueses e originais que podemos designar como o barroco brasileiro. Nossos artistas, todos de origem popular, mestiços em sua maioria, eram vistos pelas camadas superiores como simples artesãos, mas não só quebraram a uniformidade do barroco de importação, jesuítico, apresentando contribuição renovadora, como realizaram uma arte que já poderíamos considerar como brasileira. Outro fator que contribuiu para o olhar preconceituoso da classe dominante a respeito da arte foi o Decreto‑Lei de 1816, que estabeleceu, em seu artigo 11, que: “Eles [camada intermediária entre a classe dominante e a popular] encontram na atividade intelectual tanto de caráter político como de caráter estético condições de ascensão social de classificação que lhes são negadas em outros campos” (BARBOSA, 1995, p. 21). E, ainda de acordo com a autora, a arte era colocada “num lugar de acessório, instrumento para modernização de outros setores, e não […] uma atividade como importância em si mesma” (p. 21). Saiba mais Sugerimos a leitura do capítulo indicado a seguir para entender mais sobre os primórdios do ensino de arte no Brasil. A autora percorre a estrutura do ensino jesuítico, que enaltecia a literatura e demonstrava preconceito contra as artes ligadas aos trabalhos manuais. Leia em: BARBOSA, A. M. Dos preconceitos contra o ensino da arte: revisão do século XIX. In: BARBOSA, A. M. Arte‑educação no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1995. p. 15‑30. D. João VI contratou o pintor Pallière para ensinar desenho e pintura na Real Academia Militar. Isso influenciou o ensino da arte nas escolas e tornou‑se símbolo de refinamento, outra “mina” de preconceito. Posteriormente, Manuel José de Araújo Porto‑Alegre, escritor, pintor e crítico de arte, tentou ligar a cultura da elite e a cultura de massa, ao administrar, durante curto período, a Academia Imperial de Belas‑Artes, em 1855. Na literatura, aparecem ilustrações que denotam que as Artes Visuais se adequaram à reforma que Porto‑Alegre trouxe. Mesmo assim, sabemos que tais modificações não foram metodológicas e permaneceram velhos métodos. Mais adiante, em 1882, Ruy Barbosa, da corrente liberal brasileira, com seus ideais políticos, influenciou os parlamentares a pensarem que o enriquecimento do país só seria possível por meio do desenvolvimento industrial e da educação técnica e artesanal do povo. O ensino da arte era pensado como no modelo americano, que, de acordo com Felizola (2001), tinha em seu currículo escolar o desenho geométrico e industrial. As propostas oitocentistas e a influência americana ocasionaram algumas mudanças no ensino da arte. 49 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS De acordo com Felizola (2001), o século XX iniciou‑se com forte estímulo ao ensino da arte – mais precisamente do ensino de desenho na educação primária e secundária. A autora afirma que: percebemos que nesta estrutura ainda persistiam ideias filosóficas, políticas, pedagógicas e estéticas que embasaram o movimento republicano e que refletiam sobre os objetivos do ensino de arte. Entretanto, a metodologia da Escola de Belas Artes, do Rio de Janeiro, influenciou tão fortemente o ensino da arte durante mais de vinte anos do nosso século, que alguns acontecimentos como a chegada do pintor Lasar Segal (1913), o artigo de Oswald de Andrade Em Prol de uma Arte Nacional (1917), e a exposição da artista Anita Malfati (1917), não tiveram qualquer influência sobre a metodologia do ensino de artes na escola primária, secundária e superior (FELIZOLA, 2001, p. 8). São Paulo inaugurou a Escola Brasileira de Arte, que foi conhecida por Theodoro Braga, seu professor maisimportante, e frequentada por crianças de 8 a 14 anos, que estudavam música, desenho e pintura (REDE SÃO PAULO DE FORMAÇÃO DOCENTE, 2011). Posteriormente, baseada na livre expressão e no espontaneísmo, Anita Malfatti desenvolvia cursos para crianças com pesquisas em torno do desenho geométrico, do desenho pedagógico e das estampas sob a influência do cinema e literatura. De 1937 a 1945, a ditadura varguista brecou muitas iniciativas de arte e, novamente, o desenho geométrico voltou a fazer parte das aulas. Apenas em 1948 a Escolinha de Arte do Brasil começou a funcionar na Biblioteca Infantil do Rio de Janeiro, e esse modelo foi espalhado por todo o Brasil. Em 1964, outra ditadura desmontou as escolas experimentais e perseguiu professores e intelectuais da época. Novamente, o ensino de arte voltou‑se aos desenhos com motivos cívicos, religiosos e festas. Entre 1968 e 1972, de acordo com a Rede São Paulo de Formação Docente: em escolas especializadas em ensino de arte, começaram a ter lugar algumas experiências no sentido de relacionar os projetos de arte de classes de crianças e adolescentes com o desenvolvimento dos processos mentais envolvidos na criatividade, ou com uma teoria fenomenológica da percepção, ou ainda com o desenvolvimento da capacidade crítica ou da abstração e talvez mesmo com a análise dos elementos do desenho (REDE SÃO PAULO DE FORMAÇÃO DOCENTE, 2012, p. 27). A Reforma Educacional de 1971 trouxe um novo conceito ao ensino de arte: a prática da polivalência – objetivava‑se trabalhar com as linguagens da arte, como artes plásticas, a música e as artes cênicas, o teatro e a dança. O Ministério da Educação organizou um convênio com a Escolinha de Arte e preparou os professores para organizarem a nova disciplina. Contudo, não houve adequação nem articulação dos objetivos com os métodos. Essa dissociação distanciou e dificultou o fluxo da ação. 50 Unidade II Em 1973, criaram‑se os primeiros cursos de nível superior de Licenciatura em Educação Artística com objetivo de preparar os professores polivalentes, que escolheriam suas habilitações específicas nas linguagens da arte. Como consequência da inadequação mencionada anteriormente, o MEC criou o Prodiarte (Programa de Desenvolvimento Integrado de Arte Educação), cujo objetivo era o de integrar a cultura da comunidade à escola, por meio de convênios com órgão estaduais e das escolas superiores. Em 1978, o programa solidificou‑se e foi estendido a outras cidades brasileiras. Em 1980, ocorreu a Semana de Arte e Ensino, na Universidade de São Paulo (USP), um encontro que tratou de questões políticas de arte e educação. No evento se reuniram mais de 3 mil professores, resultando no Núcleo Pró‑Associação de Arte‑Educadores de São Paulo. A Semana de Arte e Ensino fortificou politicamente os arte‑educadores e já em 1982/1983 foi criada na Pós‑Graduação em Artes a linha de pesquisa em arte/educação na Universidade de São Paulo constando de doutorado, mestrado e especialização, com a orientação de Ana Mae Barbosa (REDE SÃO PAULO DE FORMAÇÃO DOCENTE, 2012, p. 30). Atualmente, quais são as possibilidades para se elaborar um currículo para Artes Visuais? Há uma diferença muito grande entre Artes e as demais disciplinas. Segundo Bernstein (1971), distinguir essa diferença é uma forma de encarar a disciplina de Arte com seus próprios conteúdos – ou seja, a arte não deve ser uma disciplina auxiliar das demais. Ele acredita que, quando as disciplinas estão integradas, elas ficam menos fragmentadas, e o mesmo ocorre com a disciplina de arte. Embora Bernstein (1971) pense dessa forma, ele crê que há uma redução de conteúdo, mesmo que a disciplina seja bem integrada, e que ocorre um isolamento cada vez maior das artes. Portanto, o autor entende que há desvantagens, mas valoriza a integração, a coerência e a unidade. Ele acredita que, quando possível, deve ser feita a integração, contanto que não haja prejuízo ou diminuição dos conteúdos para arte, que o currículo seja aberto e flexível e que não haja nenhuma estrutura ortodoxa para seguir. Portanto, devemos repensar a expansão da proposta pedagógica para o ensino das Artes Visuais de modo que sua importância seja retomada dentro dos conteúdos da formação educacional básica do aluno. Saiba mais Para saber mais a respeito da história do ensino da arte no Brasil, assista ao seguinte documentário: HISTÓRIA do ensino da arte no Brasil. Dir. Filipe Chaves. Belo Horizonte: Sarasvati, 2011. 28 minutos. 51 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Quando a Lei de Diretrizes e Bases, Lei n. 9.394/1996, excluiu o termo “Educação Artística” dos currículos escolares e incluiu a disciplina Artes, ela trouxe alterações importantes para repensar as metodologias e os conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. No entanto, a mudança trazida pela LDB esbarra na adequação de profissionais atuantes na educação básica, tendo em vista que se faz necessária uma reestruturação dos currículos de licenciaturas (JESUS et al., 2007). Atualmente, é possível encontrar propostas educativas em que profissionais são submetidos a várias práticas de ensino da arte, mas com carga horária insuficiente, o que reduz o ensino de arte visual e das demais linguagens e interfere no propósito educacional significativo. Nesse contexto, é importante que, nos cursos de licenciatura em Artes, ocorram mudanças nos projetos político‑pedagógicos de modo que a Educação Artística seja substituída por cursos em linguagens específicas, como música, teatro e dança. Leia, a seguir, o texto que resume, cronologicamente, fatos importantes relativos ao ensino de arte no Brasil. Linha do tempo do ensino de arte no Brasil 1816 – Durante o governo de Dom João VI, chega ao Rio de Janeiro a Missão Artística Francesa e é criada a Academia Imperial de Belas Artes. Seguindo modelos europeus, é instalado oficialmente o ensino de Arte nas escolas. 1900 – Até o início do século 20, o ensino do desenho é visto como uma preparação para o trabalho em fábricas e serviços artesanais. São valorizados o traço, a repetição de modelos e o desenho geométrico. 1922 – Apesar da efervescência das manifestações da Semana de Arte Moderna, o ensino segue as tendências da escola tradicional, que defende a necessidade de copiar modelos para treinar habilidades manuais. 1930 – O compositor Heitor Villa‑Lobos, no governo de Getúlio Vargas, institui o projeto de canto orfeônico nas escolas. São formados corais, que se desenvolvem pela memorização de letras de músicas de caráter folclórico e cívico. 1935 – O escritor Mario de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura do município de São Paulo, promove um concurso de desenho para crianças com tema livre. O ganhador recebe uma quantia em dinheiro. 1948 – É criada no Rio de Janeiro a primeira “Escolinha de Arte”, com a intenção de propor atividades para o aluno desenvolver a autoexpressão e a prática. Em 1971, chega a 32 o número de instituições particulares desse tipo no país. 52 Unidade II 1960 – As experimentações que marcam a sociedade, como o movimento da bossa nova, influenciam o ensino de Arte nas escolas de todo o país. É a época da tendência da livre expressão se expandir pelas redes de ensino. 1971 – Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Educação Artística (que inclui artes plásticas, educação musical e artes cênicas) passa a fazer parte do currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio. 1973 – Criação dos primeiros cursos de licenciatura em Arte, com dois anos de duração e voltados à formação de professores capazes de lecionar música, teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico. 1989 – Desde 1982 desenvolvendo pesquisas sobre três ideias (fazer, ler imagens e estudar a história da arte), Ana Mae Barbosa cria a proposta triangular, que inova ao colocar obras como referência para os alunos. 1996 – A LDB passa a considerar a Arte como disciplina obrigatória da EducaçãoBásica. Os Parâmetros Curriculares Nacionais definem que ela é composta de quatro linguagens: artes visuais, dança, música e teatro. Fonte: Linha… (2009). 6 O MÉTODO DE ENSINO 6.1 Introdução Inicialmente, cabe conceituarmos a prática docente. Em linhas gerais, ela consiste na execução de um trabalho com a finalidade de o aluno desenvolver habilidades. Assim, podemos dizer que a prática pedagógica é a execução repetida de um trabalho em prol da educação. Leal (2004, p. 28) afirma que “a prática pedagógica constitui uma das categorias fundamentais da atividade humana, rica em valores e significados, pois a questão metodológica se torna, muitas vezes, tão essencial quanto o conhecimento”. Nesse contexto, temos que a prática pedagógica é constituída durante a rotina escolar, tendo como agentes o professor e o aluno, conforme destacam Pavão e Gomes (2019, p. 35): a atividade pedagógica implica sempre um movimento de trocas entre professor, alunos e conteúdos de ensino. A organização do sistema de ensino repercute em uma proposta organizada e apresentada aos alunos. Considerada como a proposta ideal ou apenas inicialmente ideal, a partir da qual decorrem as demais ações educacionais. 53 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS No decorrer dos tempos, houve evolução nas práticas didáticas e pedagógicas, que se iniciaram com metodologias de ensino hoje consideradas tradicionais e chegaram aos atuais modelos construtivistas e interdisciplinares, que mostraram que a escola que se utiliza apenas de conteúdos disciplinares não pode resolver os problemas que envolvem a educação. Saiba mais Recomendamos a leitura da indicação a seguir. EFLAND, A. Imaginação na cognição: propósito da arte. In: BARBOSA, A. M. (org.). Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. Observação O método do experimento, concebido por Descartes no século XVII, pode ser amplamente utilizado no ensino das artes em uma junção da teoria e da prática, colocando o indivíduo como instrumento de sua própria investigação e permitindo identificar‑se (BREDARIOLLI; REDEFOR, 2012). 6.2 Didática como método de ensino Etimologicamente, a palavra “didática” vem do termo grego techné didaktike, que significa arte ou técnica de ensinar, de dirigir ou de orientar a aprendizagem. Assim, podemos dizer que a Didática consiste em uma metodologia de ensino pela qual o indivíduo aprende tanto a teoria quanto a prática (CAVALCANTI, 2010). De acordo com Castro (2009), o foco da Didática está no ensino, no progresso cognitivo. Segundo ele, a Didática consiste no processo de ensino em que o aluno depara com a teoria, levanta suas próprias críticas e interpretações e amplia, assim, seus conhecimentos. Essa perspectiva foge ao método tradicional de ensino, em que o aluno deve acatar simplesmente o que é dito teoricamente. Para realizar um trabalho pedagógico com base na Didática, o professor deve ser crítico, perspicaz, e conseguir estimular em seus alunos o pensamento crítico. Para tanto, ele deve conhecer seu campo de atuação de forma aprofundada, sabendo, também, como compartilhar os conteúdos com seus alunos, motivando‑os a interpretar o assunto. Assim, um professor que age com base na Didática orienta e acompanha seus alunos, e mostra interesse em não somente transmitir seus conhecimentos, mas em também receber o conhecimento que cada aluno tem. 54 Unidade II A ciência da Didática é a principal área da Pedagogia e tem como seus alicerces um conjunto de saberes pedagógicos que apresentam fundamentos e pesquisas sobre as diversas formas de realizar o ensino. Exemplo de aplicação Quando falamos em arte, pensamos em criatividade. É a criatividade que propicia inovações fruto da interação entre as forças biológicas, psicológicas e sociais. Moraes (2006, p. 7) diz que muitos autores entendem a criatividade como parte da inteligência caracterizada pela fluência, pela flexibilidade e pela originalidade de ideias e soluções. Com base nisso, sugerimos que você reflita sobre as questões propostas a seguir: Você acha que arte desperta a criatividade ou que a criatividade desperta a arte? É possível pensar em criatividade sem pensar em conhecimento? A criatividade depende do conhecimento? Entre tantos teóricos, precisamos escolher alguns para que tenhamos pontos de partidas para a construção do fazer pedagógico, com uma peculiaridade da área da arte, tão rica, para tornar a aula prazerosa e mais próxima ao mundo do aluno. 6.3 Comenius, Rousseau e Pestalozzi De acordo com Gil (2007), é possível perceber a Didática nas obras de Comenius, Jean Jacques Rousseau e Johann Pestalozzi, entre outros pedagogos. Os autores citados defendiam uma forma de ensino mais à frente das concepções psicológicas dominantes no seu tempo. Comenius era órfão e foi educado em uma época na qual escola era extremamente rígida, com a aplicação de maus‑tratos físicos e de punições aos alunos. Usava‑se a tão conhecida palmatória como um dos instrumentos de castigo. A vivência de tamanha severidade no período de aprender a contar, a ler e a escrever com professores cruéis repercutiu na formação de inúmeras crianças, e fez com que a obra do autor, a Didática Magna da história de sua infância, fosse estruturada por uma Didática Moderna em uma abordagem com teor filosófico chamada de phasophia. Segundo o estudioso, a educação deve ocorrer sem esforço, com base na vivência cotidiana de cada sujeito, que aprende os saberes artísticos, científicos e a abordagem “congregada”. 55 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Figura 16 – Comenius Disponível em: https://cutt.ly/FNjmXbO. Acesso em: 27 out. 2022. Jean‑Jacques Rousseau, por sua vez, desenvolveu seus estudos com inspiração nas teorias de Kant de postura libertária. Segundo ele, o homem tem livre escolha e cada um pode representar a si mesmo. Escreveu vários textos e livros. Em Emílio, ou da educação, publicado em 1762, o revolucionou a pedagogia e inspirou outros educadores. Trata‑se de um romance pedagógico que conta a educação de um órfão nobre e rico, desde o seu nascimento até o seu casamento. Na obra O contrato social, também de 1762, o autor questionou como um homem poderia preservar sua liberdade, entendida como natural, e garantir a segurança e o bem‑estar em sociedade. Saiba mais Recomendamos a leitura do livro Emilio, ou da educação, de Jean J. Rousseau: ROUSSEAU, J.‑J. Emílio, ou da educação. São Paulo: Edipro, 2019. 56 Unidade II Figura 17 – Jean‑Jacques Rousseau Disponível em: https://cutt.ly/cNjQtX5. Acesso em: 27 out. 2022. Johann Heinrich Pestalozzi foi professor, crítico social e estudioso da educação. Escreveu a respeito da educação, da moral e da religião e relatou experiências de sua vida. Abordou a natureza, a propriedade e os direitos do indivíduo e como trabalhar a educação profissional com o objetivo de preparar o homem para a vida. Lembrando os conteúdos do curso de Artes Visuais, você, aluno, estudou esse autor na História da Educação Especial Brasileira, pois Pestalozzi foi um dos pioneiros a tratar das crianças que eram nomeadas de excepcionais. Após a leitura do livro Emílio, de Rousseau, Pestalozzi dedicou‑se ainda mais à educação. Levou crianças abandonadas para sua casa da fazenda e ofereceu cuidados básicos, abrigo, comida e vestimenta. A educação foi sua paixão e, nesse período, desenvolveu o Método Pestalozzi. 57 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Figura 18 – Pestalozzi Disponível em: https://cutt.ly/nNjQEQa. Acesso em: 27 out. 2022. Saiba mais Para saber mais sobre os legados de Pestalozzi, Herbart e Dewey, leia: ZANATTA, B. A. O legado de Pestalozzi, Herbart e Dewey para as práticas pedagógicas escolares. Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 15, n. 1, p. 105‑112, 2012. Disponível em: https://cutt.ly/eNIHAO4. Acesso em: 27 out. 2022. 6.4 Evolução da Didática A partir do século XIX, a Didática começa a evoluir, mas atendendo aos interesses das classesdominantes. A criança passa a ser olhada de modo diferente do que era até então. No início do século XX, a Europa e a América atravessam um processo de reforma na educação. Começou‑se a buscar uma metodologia de ensino que considerasse os aspectos psicológicos que envolviam o processo de ensino. Surgia, assim, a chamada Escola Nova. Não só a Psicologia, mas outras áreas desenvolveram‑se com o objetivo de cuidar mais da criança, como nutrição, puericultura e fonoaudiologia. 58 Unidade II Também aqui no Brasil, com o advento da Escola Nova, os princípios de atividade, de liberdade e de individualização passaram a ser valorizados. A visão que se tinha até então acerca da criança foi criticada, passando a considerar a criança como um ser dotado de capacidade. Vale ressaltar que, na época, a Escola Nova sofreu inúmeras críticas por não estava em conformidade com o ensino tradicional. Observação Com a Didática, o ensino passou a focar no pensamento crítico do aluno e no seu poder de interpretação. Até a década de 1980, predominou o chamado ensino tecnicista, que se resumia em um ensino técnico em que o professor apenas transmitia o conteúdo e os alunos aprendiam passivamente. Esse tipo de ensino predominou no Brasil durante a Ditadura Militar. A partir da década de 1980, a Didática ganhou novas formas. Os educadores começaram a buscar outros meios de ensinar, agora baseados em um ensino capaz de despertar o interesse dos alunos ao associar teoria e prática. A Didática passou a ser centrada não no aluno ou no professor, mas na formação do homem. A educação voltou‑se, assim, para o ser humano e para a sua realização em sociedade. Podemos dizer que a Didática no ensino de artes visuais é um dos principais alicerces para o professor, pois, como seu próprio nome diz, trata‑se da arte de ensinar, compreendendo vários fatores que influenciam diretamente no processo de ensino‑aprendizagem e na relação professor‑aluno. Dessa forma, é de grande importância compreendê‑la e buscar seus fundamentos para a prática pedagógica. Se o professor deseja ter uma boa didática, é necessário que aprenda a lidar com a subjetividade dos alunos, sua linguagem, suas percepções, sua prática de vida. O professor precisa ter a capacidade de desenvolver problemas, superar desafios e propor perguntas que se relacionem com o conteúdo. Dessa forma, ele provocará o interesse dos alunos e proporcionará uma visão crítica sobre o que se aprende. Libâneo (2001, p. 3) elucida que: A Didática hoje precisa comprometer‑se com a qualidade cognitiva das aprendizagens e esta, por sua vez, está associada à aprendizagem do pensar. Cabe‑lhe investigar como pode ajudar os alunos a se construírem como sujeitos pensantes, capaz de pensar e lidar com conceitos, argumentar, resolver problemas, para se defrontarem com dilemas e problemas da vida prática. […] Para adequar‑se as necessidades contemporâneas relacionadas com as formas de aprendizagem, a Didática precisa estabelecer a investigação sobre o papel mediador do professor na preparação dos alunos para pensar. […] Nesse caso, a questão está em como o ensino pode impulsionar o 59 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS desenvolvimento das competências cognitivas mediante a formação de conceitos teóricos. Ou, em outras palavras, o que fazer para estimular as capacidades investigadoras dos alunos ajudando‑os a desenvolver competências e habilidades mentais. Portanto, a Didática faz com que o professor assuma uma responsabilidade efetiva diante do ato de ensinar, pois sua função não é meramente transmitir os conteúdos, mas também propiciar conhecimentos com bases científicas e com estímulo à reflexão, o que auxiliará na formação dos cidadãos. Exemplo de aplicação Você acha que é possível aprender a teoria didática ou ela já deve fazer parte do indivíduo? Segundo Masetto (2003), a Didática não consiste apenas em substituir palavras difíceis por palavras mais fáceis, mas, sim, em transitar a centralização do professor para o aluno, cabendo a esse o papel central de sujeito que exerce as ações necessárias para que ocorra sua aprendizagem, adquirindo habilidades, enfim, produzindo conhecimento. O papel do professor seria, então, de ser o mediador pedagógico, ou mesmo de ser o orientador do processo de aprendizagem do aluno. Saiba mais Para saber mais sobre Didática, assista: FILOSOFIA e didática. Direção: Terezinha Rios. São Paulo: ATTA Mídia, [s.d.]. 88 minutos. O ensino de artes, ao fazer uso da Didática, é de grande importância por tratar‑se de uma área do conhecimento com potencial expressivo e simbólico, o que faz necessário que o professor assuma uma postura que desperte no aluno o desejo pela arte, contemplando a profundidade que ela apresenta. De acordo com Libâneo (2009, p. 10): Tais objetivos estão ligados a tarefas como o desenvolvimento da razão crítica, isto é, a capacidade de pensar a realidade e intervir nela, por meio de sólida formação cultural e científica; o provimento de meios pedagógico didáticos para o domínio de competências cognitivas que levem ao “aprender a pensar”; o fortalecimento da subjetividade dos alunos e a ajuda na construção de sua identidade pessoal, dentro do respeito à diversidade social e cultural; a formação para a cidadania participativa. 60 Unidade II Um amplo leque de possibilidades se abre em função da natureza dessa disciplina: a história dos movimentos, a biografia dos artistas, o estilo e a estética artística. À medida que o professor adota metodologias que problematizem os estudos comparativos de estilos e movimentos, tendo o cuidado de contextualizar devidamente os tempos históricos, os espaços e como as obras de arte foram construídas, haverá a apropriação dos conteúdos de forma crítica, e o aluno é situado no tempo da obra, associando os conhecimentos adquiridos ao mundo e tempo que está inserido. O docente tem possibilidades de levar à sala de aula a interdisciplinaridade e de escolher um tempo, ou um estilo artístico, abrindo um leque às linguagens artísticas. À medida que ele apresenta um estilo ou um movimento, abrem‑se diálogos artísticos e, nesse eixo prismático, as linguagens se interligam ampliando conhecimentos. Devemos lembrar que escultura, cinema, teatro, música, artes plásticas e literatura se inserem no mesmo tempo histórico e as influências estéticas naturalmente se comunicam. Na ilustração a seguir, vemos uma obra do Renascimento com características estéticas específicas. Como dito anteriormente, podemos pesquisar todas as possibilidades de diálogos entre música, escultura e demais linguagens. O mais interessante desse exemplo é que, além de aprofundar o conteúdo Renascimento, é possível explorar como essa obra, de 1665, abriu um diálogo por meio de um filme produzido em 2003. Figura 19 – Moça com brinco de pérola (1665), de Johannes Vermeer Disponível em: https://cutt.ly/yNjWnUg. Acesso em: 27 out. 2022. 61 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Adiante refletiremos a respeito do trabalho interdisciplinar à luz de teóricos, apresentando metodologias com o cuidado de tratar a postura e o fazer pedagógico do docente. 6.5 Ensino fragmentado ou interdisciplinar? A sociedade brasileira, nas últimas décadas, passou por diversas transformações, que impuseram um “repensar” sobre diversas temáticas, em especial as relacionadas à educação e à arte de lecionar (FORTES, 2009). Tais transformações trouxeram muitas discussões sobre o modelo de produção de conhecimento existente no país, que, atualmente, de modo geral, segue baseado na racionalidade técnica do professor. Tal molde fragmenta o docente, frente à solicitação massiva de especializações para que ele possa atuar em diversas áreas da ciência dentro de cada disciplina (MAINGAIN; DUFOUR, 2008). Diante desse modelo, denominado fragmentário, surge o modelo de docência por meio da interdisciplinaridade, que, por sua vez, pretende que o docente trabalhe com seu conhecimento, adquirindonovas experiências, mesmo que de vida, sobre áreas variadas do ensino. Essa é uma necessidade advinda da globalização, que “força” os indivíduos a disporem da necessidade de serem “completos” em sua formação, ampliando seu conhecimento ao longo de seus anos letivos (FAZENDA, 2013). A interdisciplinaridade pressupõe basicamente uma intersubjetividade, não pretende a construção de uma superciência, mas uma mudança frente ao problema do conhecimento, uma substituição da concepção fragmentada para a unitária do ser humano (FAZENDA, 2002, p. 40). É importante destacar que a demanda pela docência interdisciplinar não é uma necessidade somente acadêmica, mas, também, uma necessidade social, visto que a sociedade precisa de professores que disponham de uma visão mais globalizada, a fim de atuar na formação acadêmica dos alunos, de transmitir a eles uma nova forma de visualizar o mundo que, atualmente, já não segue mais fragmentado, mas, sim, multidisciplinar. Trata‑se de um mundo que os “obriga” a deter diversas fontes e formas de conhecimento para, então, modular temáticas e entendimentos acerca de situações que os rodeiam, mantendo‑se, assim, “modernos”, integrados e participativos nos ambientes sociais (UMBELINO; ZABINI, 2014). Logo, preocupações acerca da interdisciplinaridade curricular devem ser entendidas como válidas, uma vez que desencadeiam a formação global do indivíduo, sendo esse um ponto mestre a ser considerado na concepção do “homem moderno”, o qual precisa ser capaz de levantar dúvidas e soluções para as mais variadas preocupações (FAZENDA, 2013). Lopes (2015) indica que, ao longo de anos, diversos autores têm discutido a interdisciplinaridade curricular e a formação do docente, com variados e diferentes focos. Segundo ele, existem dois pontos de concordância entre todos, expostos a seguir. 62 Unidade II • A interdisciplinaridade deve ser entendia como a existência de “relação” entre as mais variadas disciplinas com um único propósito: o de gerar desenvolvimento pleno da crítica a dispor de entendimento e saberes. • A interdisciplinaridade dispõe de vários “momentos” que marcaram os entendimentos sobre ela, sendo três desses fundamentais: — o momento de definição do problema, em que se buscava conceitualizar a interdisciplinaridade; — o momento de explicitação do método; — o momento de desconstrução de uma teoria da interdisciplinaridade. Ainda segundo Lopes (2015), os três momentos ditos fundamentais, mesmo sendo distintos, apresentam marcas comuns entre si, uma vez que mantêm a perplexidade em relação ao problema da fragmentação do conhecimento, ditando as implicações desse ato ao aprendizado e ao ensino. Nesse contexto, Maingain e Dufour (2008) acreditam que seja pertinente indicar estudos de docentes, em especial para os atuantes no Ensino Médio, que relatam aspectos “sutis” dispostos nas práticas educacionais atuais, delineando suporte à fragmentação e ao isolamento das disciplinas científicas no currículo escolar. Observa‑se a aprendizagem como uma epistemologia de fronteiras, não somente vivenciada no segmento escolar, mas, também, em diversos outros locais. A fragmentação disciplinar é uma questão que vai muito além da simples prática pedagógica, pois tem “raízes” culturais. Figura 20 – Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret (1953) Disponível em: https://cutt.ly/0N9aDa7. Acesso em: 27 out. 2022. 63 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Observe a fotografia do Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret. Nessa obra, há a presença dos bandeirantes, que desbravavam as matas, cortando e abrindo caminhos para grandes expedições que invadiram o Brasil, à procura de ouro, prata e esmeralda. Com violência, escravizaram índios e exterminaram quilombos. Essa obra do Brecheret pode ser abordada com perspectiva interdisciplinar. Inicialmente, precisamos analisar de modo imagético, desconstruindo cada peça, ou cada personagem, para termos um entendimento de como ela foi composta: os elementos que Brecheret utilizou e o quanto trouxe às formas, às linhas e às curvas para apresentar os portugueses, os negros e os índios, puxando uma canoa de monções, utilizada nas expedições fluviais. Na sequência, devemos pesquisar os fatos históricos e relacioná‑los com a obra. Também é possível incluirmos estudos de geografia e de literatura na atividade. Mesmo as chamadas disciplinas da área de exatas podem contribuir, com cálculos das distâncias percorridas e dos tempos gastos nas expedições. Pesquisas também têm demonstrado que pensamentos e ideias prévias dos professores a respeito do ensino, da aprendizagem e da natureza do conhecimento influenciam seus atos práticos pedagógicos, o que pode ser um “norte” para integrar novos entendimentos de como se deve seguir a arte do ensinar. Podemos remodelar a educação como um todo ao mudar a “mente” do professor sobre como cada matéria/conhecimento existe em uma comunhão com todos os outros conhecimentos (FAZENDA, 2013). Dessa forma: o pensar interdisciplinar parte do princípio de que nenhuma forma de conhecimento é em si mesma racional. Tenta, pois, o diálogo com outras formas de conhecimento, deixando‑se interpenetrar por elas […] ampliado através do diálogo com o conhecimento científico, tende a uma dimensão utópica e libertadora, pois permite enriquecer nossa relação com o outro e com o mundo (FAZENDA, 2013, p. 20). Nesse contexto, Lopes (2015) lembra que cada matéria (ou cada disciplina) tem a tendência de defender fronteiras relacionadas a seu campo, tal como ditar que o cozinheiro não pode se intrometer em assuntos sobre carros, como se ele só tivesse conhecimentos relacionados à arte culinária. Assim, em linhas gerais, podemos afirmar que são os próprios educadores que dispõem de restrições à sua atuação, o que acaba por isolar seus entendimentos, uma vez que seguem se privando de ampliar conhecimentos de outras naturezas/matérias, o que só contribui para a fragmentação no segmento escolar. Isso gera práticas educacionais retrógradas ao desenvolvimento natural humano (UMBELINO; ZABINI, 2014). A interdisciplinaridade é algo pressentido, desejado, buscado, mas ainda não atingido […] e isso deve‑se ao fato de que os padrões já impostos não foram rompidos, ainda existe a dificuldade, por parte dos professores, de se relacionar com as demais disciplinas, pois ficam presos somente a 64 Unidade II que eles ministram, não há às vezes uma troca de saberes, por isso que a interdisciplinaridade exige uma nova postura da escola, dos professores e dos próprios alunos (UMBELINO; ZABINI, 2014, p. 5). Instituições de ensino que compreendem tal necessidade e, por isso, utilizam‑se da prática da interdisciplinaridade com seus docentes, mostram‑se tecnicamente mais eficazes e seguem mais satisfeitas diante dos resultados obtidos com seus alunos. É válido destacar que a integração plena da equipe de educadores com a equipe de educandos é o primeiro passo para que a prática interdisciplinar aconteça, visto que isso possibilita atos de ousadia ao lecionar. O docente e o aluno devem se permitir as novas práticas, transformando a insegurança do lecionar/aprender em um exercício do pensar e do construir, positivo a todos, que podem continuar na busca pela qualidade plena na educação (MAINGAIN; DUFOUR, 2008). Sob tal foco, pode ser destacado que, no Brasil, a educação só poderá ser entendida como de qualidade plena quando vier embasada na pesquisa e na extensão da formação do docente para o ensino. Direta ou indiretamente, a interdisciplinaridade viabiliza a criação de um elo que vai muito além da sala de aula ou dos espaços educacionais, seguindo pelas vivências individuais (UMBELINO; ZABINI, 2014). Nesse sentido, é pertinente destacar a necessidade de os educadores ampliarem seus conhecimentos sobre a sociedade, principalmente sobre o local onde trabalham, buscando saber a respeito dos fatos da comunidade e da cultura local e integrando esses conhecimentoscom conteúdos de aula. Dessa forma, é possível indicar aos estudantes que o conteúdo escolar pode ser aplicado em seu cotidiano prático. Por isso, o docente, em especial o atuante no ensino fundamental, é considerado por muitos um formador de opinião e um demonstrador da relevância do estudo para a vida. Assim, o docente é um elemento de ampla relevância no processo de mudança. É vital que ele disponha de interdisciplinaridade curricular para se manter crítico e autorreflexivo, buscando mudar paradigmas educacionais, na busca por novos horizontes e pela viabilidade de formação de indivíduos socialmente conscientes, não somente alfabetizados, mas, sim, letrados (LOPES, 2015). Ressaltamos que, tanto na educação básica quanto na educação superior, a prática interdisciplinar pode ser a saída para trazer mudanças significativas na formação de cidadãos letrados e pensantes, capazes de atuação plena no mundo. No entanto, é vital compreender que, para isso, é preciso que a interdisciplinaridade seja vislumbrada de modo generalista pela esfera social educativa no país (LOPES, 2015). Desse modo, a proposta que é vista como interdisciplinar deve ter como meta o rompimento das barreiras da educação purista, que acabam por dividir as disciplinas. Deve criar uma aproximação do “saber”, tendo como base a união entre os mais diversos graus do conhecimento dos mais variados campos. Essa prática pedagógica deve ser pautada não no ato (ou na intenção), mas, sim, na ação voltada ao ensino amplo (LOPES, 2015). 65 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Fica evidente, portanto, que os docentes necessitam analisar o conteúdo da palavra interdisciplinaridade de modo profundo, com entendimento mais amplo do significado de todos os seus desdobramentos na prática educacional (LOPES, 2015). Os educadores devem ter em mente que, em um estudo interdisciplinar, desenvolvemos um raciocínio que faz ligações entre fatos e as possibilidades de explorar os conteúdos, com o objetivo de exercitar o senso crítico (MAINGAIN; DUFOUR, 2008). Exemplo de aplicação Observe o quadro A lição de anatomia, de Rembrandt, disponível no link https://bit.ly/3fpM6rQ. Nessa obra, Rembrandt retrata um instante em que vários homens estão em volta de um corpo, em uma aula de anatomia. Repare que o professor Dr. Nicolaes Tulp aparece destacado dos demais personagens, que assistem à dissecação da mão de um marginal condenado por assalto. Com base na observação da tela e no contexto sócio‑histórico de sua produção, procure pensar em atividades interdisciplinares que poderiam ser propostas em uma sala de aula. 6.6 Jogos como método de ensino Nesse processo constante de evolução, surgem novos instrumentos virtuais. Entre eles, temos a gamificação, uma metodologia que utiliza elementos dos games em outros contextos. Os objetivos são a motivação dos indivíduos à ação, o auxílio na solução de problemas e a promoção de novas aprendizagens. Atualmente, os jogos vêm sendo utilizados em situações estratégicas, formais e informais, de ensino e aprendizagem, nas mais diversas áreas do conhecimento. A ludificação, ou a gamificação, consiste no uso de elementos característicos dos jogos (comofases, pontuação e ranking) em um contexto de não jogo, como na sala de aula (DETERDING, 2011). Consideram‑se “jogos sérios” aqueles que têm como objetivo primário algo além da diversão e do entretenimento (MICHAEL; CHEN, 2005). Eles podem ser projetados para auxiliar na aprendizagem e promover o engajamento e as mudanças comportamentais. Por meio da gamificação, buscamos obter, em tarefas cotidianas, graus de envolvimento e motivação similares aos observados nos jogadores quando interagem com os games. A gamificação pressupõe a utilização de elementos tradicionalmente encontrados nos games: narrativa, sistemas de feedback, sistemas de recompensas, conflito, cooperação, competição, objetivos, regras claras, níveis, tentativa e erro, diversão, interação e interatividade (ZICHERMANN; CUNNINGHAM, 2011). Trata‑se de uma importante ferramenta pedagógica. Vianna et al. (2013) consideram que a gamificação abrange a utilização de mecanismos de jogos para a resolução de problemas e para a motivação e o engajamento de determinado público. 66 Unidade II Lembrete Na base dos jogos existem elementos fundamentais, como personagens, contexto, feedback, conflito, níveis ou fases, diversão, interatividade, objetivos e regras. A gamificação utiliza métodos como listas de recordes, feedback contínuo e constante e faz uso de recompensas, com o objetivo de transformar o trabalho supostamente enfadonho em atividade atrativa e estimulante (HEBECKER; REGENBRECHT, 2011). Assim, podemos afirmar que jogar é uma atividade prazerosa e que estimula o desenvolvimento de habilidades por meio das tarefas realizadas. Os jogos podem ser utilizados como ferramenta para desenvolver habilidades de cognição, além de apresentarem exemplos de aprendizado e estimularem a atenção e a memória (FURIÓ et al., 2013). Zichermann e Cunningham (2011) compreendem que ambientes que interagem com as emoções e os desejos dos usuários são eficazes para o engajamento do indivíduo. Salientam que, por meio dos mecanismos da gamificação, é possível alinhar os interesses dos criadores dos artefatos e os objetos com as motivações dos usuários. Quanto aos elementos que contribuem para a motivação do indivíduo, identificam dois tipos: os intrínsecos e os extrínsecos. Os autores afirmam que “motivações extrínsecas são frequentemente dirigidas pelo mundo à nossa volta, tal como o desejo de ganhar dinheiro ou vencer um concurso de soletramento” (2011, p. 26). Por sua vez, “motivações intrínsecas são aquelas que derivam de nosso íntimo e não são necessariamente baseadas no mundo que nos cerca” (ZICHERMANN; CUNNINGHAM, 2011, p. 26). Percebemos que a combinação efetiva das motivações intrínsecas e extrínsecas pode aumentar os níveis de motivação e de engajamento do indivíduo. Entretanto, o grande desafio na criação de mecanismos de gamificação consiste em saber como estimular efetivamente as duas formas de motivação. Saiba mais Recomendamos a leitura do artigo disponível no link a seguir, que mostra uma análise da produção científica dos jogos eletrônicos. FURTADO, H. L. et al. Análise da produção científica sobre jogos eletrônicos disponíveis nos portais Scielo, Lilacs e portal de periódicos da Capes. Licere, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 260‑284, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3Uee34v. Acesso em: 23 out. 2022. 67 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Para entendermos de que forma a gamificação atua no comportamento dos indivíduos, é necessária a compreensão de como os indivíduos reagem a incentivos. Zichermann e Cunningham (2011) apontam que determinadas recompensas extrínsecas podem destruir as motivações intrínsecas, afetando o aspecto motivacional do indivíduo. No caso de o indivíduo falhar em alguma ação determinada no ambiente, por exemplo, é de extrema importância que as motivações intrínsecas sejam preservadas, pois, de forma contrária, o sujeito pode simplesmente abandonar esse ambiente. No caso dos jogos, os comportamentos intrínsecos estão baseados nas relações (ZICHERMANN; CUNNINGHAM, 2011). Vianna et al. (2013) apontam que o envolvimento de qualquer público deve estar baseado em sistemas de recompensa, reforço e feedbacks, suportados por mecânicas e sistemáticas que potencializam o comprometimento do indivíduo. Ainda segundo Vianna et al. (2013 p. 30): O conceito de motivação, se aplicado ao escopo dos mecanismos de jogos, poderia ser definido como aquele em que se articulam as experiências vividas pelo sujeito e se propõem novas perspectivas internas e externas de ressignificação desses processos, a partir do estímulo à criatividade, ao pensamento autônomo e propiciando bem‑estar ao jogador. Keller (2006, p. 3) define design motivacional como o: processo de organizar recursos e procedimentos para promovermudanças na motivação. […] pode ser aplicado para melhorar a motivação dos estudantes para aprender, dos alunos para trabalhar, para desenvolver características motivacionais específicas nos indivíduos e para melhorar as habilidades das pessoas na automotivação. Para Vianna et al. (2013), a sensação de prazer frente à realização de determinada atividade é um dos principais elementos para ativar a criatividade. A dedicação dos jogadores e o consequente prazer obtido nas tarefas desenvolvidas durante o jogo seriam um fator‑chave para acessar emoções positivas. 68 Unidade II Figura 21 – Crianças jogando, de Pieter Bruegel Disponível em https: //cutt.ly/xN9ciqf. Acesso em: 27 out. 2022. De acordo com Vianna et al. (2013), os mecanismos encontrados em jogos funcionam como um motor motivacional do indivíduo, contribuindo para o seu engajamento nos mais variados aspectos e ambientes. Para os autores, o engajamento é definido pelo período de tempo em que o indivíduo tem grande quantidade de conexões com outra pessoa ou outro ambiente. Os jogos sérios têm sido utilizados em diferentes áreas e contextos (CONNOLLY, 2012; DONDLINGER, 2007; GIESSEN, 2015). Quando aplicados na educação, podem envolver diversas áreas do conhecimento. Além disso, os níveis de profundidade e complexidade do jogo podem ser projetados para atingir diferentes públicos (crianças e adultos, iniciantes e experientes). Os jogos sérios são projetados para entreter e educar os jogadores e promover mudanças comportamentais (BLUMBERG et al., 2012). 69 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS 6.7 A pandemia de covid‑19 e os legados nos métodos de ensino: a intensificação das tecnologias na educação Figura 22 – Pandemia, ilustração de Tercia Pitta Esta ilustração foi feita para recortar um momento da pandemia e mostrar a situação do planeta, que se encontrava com taxas diárias de milhares de mortes, e o desespero pela quantidade de pessoas próximas e queridas que faleciam aguardando os recursos das vacinas. À medida que minha mão esboçava o desenho, saíam imagens de rostos com expressões de sentimentos fortes, bem representativas do que vivíamos. Essas ilustrações foram nascendo com meus gestos, acompanhados pelo lápis que, aos poucos, produzia linhas que traduziam meus sentimentos. As personagens foram preenchendo os espaços com expressões de terror. A pandemia, de fato, fez com que repensássemos as diferentes formas de nos relacionarmos e de agirmos no cotidiano, nas tarefas mais simples ou nas mais complexas. Isolados, fomos adaptando nossas vidas com o crescente uso de tecnologias. Isso, sem dúvida, afetou a educação e as práticas pedagógicas. Tornou‑se necessário implementar mudanças imediatas no processo de ensino, com a utilização de plataformas e de recursos tecnológicos que permitiram o ensino a distância. Ampliaram‑se, com isso, os discursos sobre a (re)significação da escola e a (re)construção do papel da educação. 70 Unidade II Ferreira e Girardello (2019) apontam que esse complexo cenário demanda um olhar intercultural que entenda a heterogeneidade presente nas escolas. Importante mencionar que não se trata apenas de ampliar o acesso às tecnologias e aos equipamentos, mas, sim, de promover práticas culturais de acesso significativo, “que possibilitem o entrecruzamento de vozes e criem um ambiente solidário e colaborativo entre os presentes na sala de aula” (FERREIRA; GIRARDELLO, 2019, p. 144). Para Sousa e Borges (2018), o avanço no uso das TICs na educação reconfigura as relações e as necessidades formacionais, o que deixa em evidência a mídia‑educação, com capacidade de contribuir positivamente no cenário educacional. Em uma realidade em que os alunos são expostos à tecnologia desde a infância, surge a necessidade de uma educação em que o estudante deixe de ser agente passivo e assuma um papel em que os seus diversos conhecimentos, acumulados no decorrer da vida, sejam considerados. O aluno torna‑se, assim, um elemento ativo no processo de aprendizagem e no desenvolvimento de suas competências. Contudo, Leandro e Corrêa (2018) afirmam que, se por um lado, não podemos ignorar a importância e a presença dessas tecnologias na educação, por outro, não existem receitas milagrosas de sua inserção com êxito nos currículos. Para Fantin (2006), a mídia‑educação é tecida a partir de 3 Cs: • cultura (ampliação e possibilidades de diversos repertórios culturais); • crítica (capacidade de análise, reflexão e avaliação); • criação (capacidade criativa de expressão, de comunicação e de construção de conhecimentos). Conforme Thomas (2008, p. 276), a mudança tecnológica implicou métodos relevantes de conhecimento do gênero cumulativo: “aprender fazendo e fazer aprendendo”. Observação Médici, Tatto e Leão (2020) buscaram investigar as percepções de estudantes mato‑grossenses do Ensino Médio de diferentes redes de ensino sobre os desafios enfrentados no decorrer do ensino remoto. Considerando a opinião de 118 alunos de escolas públicas e privadas, os autores verificaram que as condições de acesso e aprendizagem não são as mesmas e que o ensino remoto é diferentemente avaliado por estudantes dessas duas redes de ensino. Logo, as medidas implementadas no período da pandemia poderão aprofundar o quadro de exclusão e segregação de parte significativa dos estudantes, a exemplo das desigualdades de condições de estudo e desenvolvimento humano já existentes. 71 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS De acordo com Barreto (2002, p. 7), os docentes podem utilizar o computador como um aliado em seus métodos de ensino, já que as máquinas podem contribuir “ajudando a desenvolver a capacidade de aprender a aprender e personalizando a transmissão de conhecimento no processo de aprendizado contínuo”. Segundo Martinez (2004), as TICs não consistem somente em tecnologias atreladas à internet, mas também são um conjunto de equipamentos e de aplicações tecnológicas que, na maioria das vezes, encontram na internet seu principal meio de propagação, tornando‑se um canal de aprendizagem. O autor prossegue dizendo que, no âmbito educacional, as TICs podem ser compreendidas como um instrumento de suporte, que deve ser usado de acordo com os objetivos do ensino, uma vez que angariar os melhores resultados dependerá da determinação clara e objetiva do que se pretende trabalhar em sala de aula. Com o aperfeiçoamento das tecnologias da informação, observamos que a aprendizagem não se limita aos espaços escolares. O que era discutido apenas nos espaços físicos dos prédios, agora, pode ser acessado em qualquer lugar e a qualquer instante, basta que se tenha um computador, um celular ou um tablet, com acesso à rede. A introdução da tecnologia na educação pode contribuir para o desenvolvimento do educando, qualificando‑o para o mercado de trabalho e para a convivência em sociedade como sujeito apto ao pleno exercício da cidadania. Esse também é um princípio da educação, baseado nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana (BRASIL, 1998). Ressaltamos que, quando se menciona a palavra tecnologia, não se tem intenção de destacar apenas computadores e softwares: também se incluem vídeos, áudios, projetor multimídia e calculadoras, entre outras ferramentas. Diferentemente do que se vê em fontes impressas, como livros, jornais e revistas, nos vídeos percebem‑se elementos importantes, como a apresentação das imagens de forma dinâmica e mais detalhada, com fatores estéticos capazes de despertar o interesse do observador. Rosa (2011, p. 16) ainda aponta que a “utilização de um vídeo pode aguçar a curiosidade dos alunos, motivá‑los a estudar e facilitar sua compreensão”. O uso da tecnologia na educação vai além da datilografia e da digitação de textos, como muitos professores imaginam. Utilizar softwares educativos nas aulas pode facilitar a compreensão do aluno, na medida em que pode auxiliar os professores na forma de explorar determinado conteúdo. Comobem afirmam Rocha et al. (2015, p. 42): “pensando em tornar o ensino mais atrativo, a escola tem que se libertar do resquício tradicionalista/tecnicista e se renovar, adaptando‑se as práticas pedagógicas, inserindo‑as no cotidiano dos estudantes”. Para Gomes e Lopes Neta (2016), coibir o uso de smartphones nas escolas é ir contra a tendência da própria sociedade, em que tecnologia está presente em todos os locais. Todavia, destaca‑se a necessidade de os professores adequarem o uso desses dispositivos em sala de aula. 72 Unidade II No modelo convencional de ensino, o docente tem como missão ensinar a um agente passivo, o discente, que tem como objetivo buscar a assimilação do conhecimento transmitido por seu educador e pela literatura apresentada (LIMA et al., 2009). No entanto, as transformações da sociedade, a facilidade de acesso à informação e as mais diversas tecnologias, entre outros fatores que dinamizaram nossas vidas, tendem a acarretar uma série de mudanças também nos modelos educacionais. E essas mudanças apresentam‑se com o intuito de permitir, no âmbito educacional, o mesmo dinamismo que é vivenciado nos demais campos de nossas vidas. São exemplos de instrumentos de aprendizado com base em tecnologia (PORVIR, 2018) as plataformas, as ferramentas de trabalho, de gestão e os ambientes virtuais imersivos, de experimentação e de comunicação, conforme mostra o quadro a seguir. Quadro 1 – Instrumentos de aprendizado com base em tecnologia Plataformas Ambientes online de ensino e aprendizagem, para armazenamento de conteúdos. As plataformas adaptativas criam atividades individualizadas conforme o perfil do aluno. Outro exemplo são os Cursos Online Abertos Massivos, (MOOCs em inglês) para o terceiro grau Ferramentas de trabalho Corresponde aos editores de texto, foto, vídeo, áudio para facilitar a criação de conteúdos como tabelas, apresentações e gráficos; são as “salas de aula na nuvem”, podendo ser acessadas de qualquer lugar Ferramentas de gestão Ajudam no monitoramento do desempenho dos alunos; correção de provas, recebimento de lições, ou seja, nas tarefas burocráticas do docente Ambientes virtuais imersivos Correspondem ao uso de imagens virtuais, e realidade aumentada visando à interação do mundo real com o mundo virtual; como por exemplo, tornando virtuais as experiências científicas sem a necessidade de um laboratório físico Ferramentas de experimentação Com esses instrumentos os alunos são protagonistas e capacitados a desenvolver produtos e projetos criando seus podcasts, sites, jogos digitais, livros digitais, jornais e vídeos; também fazem parte desse grupo, os kits de robótica e a impressora 3D unindo teoria à prática Ferramentas de comunicação Possibilitam a troca de informação virtual em comunidades de aprendizagem e também na aproximação com os pais, facilitando o envio de recados e comunicados Adaptado de: Porvir (2018). Mesmo quando superada a barreira do acesso, as experiências utilizando as tecnologias de comunicação nas escolas ainda são incipientes, não sendo possível estabelecer um panorama da inserção da tecnologia nas práticas pedagógicas (e especialmente de seus efeitos), uma vez que ainda existem poucos estudos que analisem seus possíveis impactos, principalmente na fase de alfabetização (PRIOSTE, 2017). 73 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS A literatura documenta casos de uso dos recursos tecnológicos na alfabetização e no letramento. Hendel et al. (2018) analisaram os resultados do uso de diversos aplicativos educativos, utilizados como recurso lúdico para auxiliar o processo de alfabetização, e concluíram que a utilização desse recurso levou à criação de situações nas quais as crianças perceberam sentidos para a leitura e para a escrita. Além disso, o letramento digital no cotidiano escolar foi capaz de estimular os educandos e propiciar a aquisição de habilidades necessárias à alfabetização. Adicionalmente, favoreceram a consciência fonológica. Ono (2015) estudou os efeitos do uso do celular, como mídia multissensorial, na prática pedagógica com crianças que apresentavam dificuldades de aprendizagem na área da alfabetização, e observou melhora na consciência dos sons e, por consequência, melhora na consciência da letra apropriada ao escrever, reduzindo as trocas na escrita. Observação Libâneo (2011) ressalta que é importante que as escolas agreguem as tecnologias como ferramentas de ensino, tornando‑se, então, “espaço de síntese” da cultura que se desenvolve cotidianamente 74 Unidade II Resumo Nesta unidade, apresentamos brevemente as noções de arte e traçamos um quadro sintético do seu ensino nas escolas brasileiras. Comentamos como se deu a evolução do ensino de arte no Brasil, buscando as raízes histórias modelos e as visões que ainda repercutem na atualidade. Apresentamos, também, conceitos da Didática e alguns teóricos importantes na sua evolução. Para isso, retomamos a história do pensamento didático com estudiosos pioneiros, como Comenius, Rousseau e Pestalozzi. Abordamos, ainda, a importância da prática interdisciplinar para tornar letrados e críticos os estudantes. Ressaltamos que o rompimento com o ensino fragmentado abre possibilidades para a educação plena. Vimos, por fim, que a escola se transformou e que games foram incorporados em sala de aula, apostando na forma lúdica para trabalhar conteúdos diversos. Com a tecnologia, atualmente, a escola utiliza novas ferramentas. Essas ferramentas foram particularmente presentes e importantes durante a pandemia de covid‑19, que impôs limitações ao ensino presencial. 75 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS Exercícios Questão 1. Leia o texto e observe o meme a seguir. Dizer o que seja a arte é coisa difícil. Um sem‑número de tratados de estética debruçou‑se sobre o problema, procurando situá‑lo, procurando definir o conceito. Mas, se buscamos uma resposta clara e definitiva, decepcionamo‑nos: elas são divergentes, contraditórias, além de frequentemente se pretenderem exclusivas, propondo‑se como solução única. Desse ponto de vista, a empresa é desencorajadora: o esteta francês Étienne Gilson, num livro notável, Introdução às Artes do Belo, diz que “não se pode ler uma história das filosofias da arte sem se sentir um desejo irresistível de ir fazer outra coisa”, tantas e tão diferentes são as concepções sobre a natureza da arte. Entretanto, se pedirmos a qualquer pessoa que possua um mínimo contacto com a cultura para nos citar alguns exemplos de obras de arte ou de artistas, ficaremos certamente satisfeitos. Todos sabemos que a Mona Lisa, que a Nona Sinfonia de Beethoven, que a Divina Comédia, que Guernica de Picasso ou o Davi de Michelangelo são, indiscutivelmente, obras de arte. Assim, mesmo sem possuirmos uma definição clara e lógica do conceito, somos capazes de identificar algumas produções da cultura em que vivemos como sendo “arte” (a palavra cultura é empregada não no sentido de um aprimoramento individual do espírito, mas do “conjunto complexo dos padrões de comportamento, das crenças, instituições e outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade”, para darmos a palavra ao Novo Aurélio). Além disso, a nossa atitude diante da ideia “arte” é de admiração: sabemos que Leonardo ou Dante são gênios e, de antemão, diante deles, predispomo‑nos a tirar o chapéu. É possível dizer, então, que arte, são certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo, isto é: nossa cultura possui uma noção que denomina solidamente algumas de suas atividades e as privilegia. Portanto, podemos ficar tranquilos: se não conseguimos saber o que a arte é, pelo menos sabemos quais coisas correspondem a essa ideia e como devemos nos comportar diante delas. Infelizmente, esta tranquilidade não dura se quisermos escapar ao superficial e escavar um pouco mais o problema. O Davi de Michelangelo é arte, e nãose discute. Entretanto, eu abro um livro consagrado a um artista célebre do nosso século, Marcel Duchamp, e vejo entre suas obras, conservado em museu, um aparelho sanitário de louça, absolutamente idêntico aos que existem em todos os mictórios masculinos do mundo inteiro. Ora, esse objeto não corresponde exatamente à ideia que eu faço da arte. [...] Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura possui instrumentos específicos. Um deles, essencial, é o discurso sobre o objeto artístico, ao qual reconhecemos competência e autoridade. Esse discurso é o que proferem o crítico, o historiador da arte, o perito, o conservador de museu. São eles que conferem o estatuto de arte a um objeto. Nossa cultura também prevê locais específicos onde a arte pode manifestar‑se, quer dizer, locais que também dão estatuto de arte a um objeto. Num museu, numa galeria, sei de antemão que encontrarei obras de arte; num cinema “de arte”, filmes que escapam à “banalidade” dos circuitos normais; numa sala de concerto, música “erudita”, etc. Esses locais garantem‑me assim o rótulo “arte” às coisas que apresentam, enobrecendo‑as. COLI, J. O que é arte. 15 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 7. 76 Unidade II Figura 23 Disponível em: https://pt.memedroid.com/memes/detail/2348904/arte‑moderna. Acesso em: 22 nov. 2021. Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas. I – O meme ilustra a definição de arte proposta pelo texto porque a moça assume uma postura admirativa em relação a duas peças da exposição. II – As figuras que a moça aprecia estão em uma galeria, o que, segundo o texto, lhes garante estatuto de arte. III – Com humor, o meme aborda a interpretação e a apreciação de uma obra, que se relaciona com a questão, exposta no texto, de que a definição de arte é complexa. 77 DIDÁTICA ESPECÍFICA – ARTES VISUAIS É correto o que se afirma apenas em: A) I. B) II. C) III. D) I e III. E) II e III. Resposta correta: alternativa C. Análise da questão O texto afirma a dificuldade de se definir arte, apontando que é possível citar exemplos de expressões artísticas e elementos que indicam o valor de uma obra. O meme mostra a moça olhando para figuras informativas do ambiente, na tentativa de interpretá‑las, confundindo‑as com obras de arte. Questão 2. Leia o trecho a seguir, extraído do texto “A Revolução de 1930 e a cultura”, do professor Antonio Candido. O caso do ensino é significativo. Não foi o movimento revolucionário de 30 que começou as reformas; mas ele propiciou a sua extensão por todo o país. Antes houvera reformas locais, iniciadas pela de Sampaio Doria em São Paulo (1920), que introduziu a modernização dos métodos pedagógicos e procurou tornar realidade o ensino primário obrigatório, com notável incremento de escolas rurais. Outras reformas localizadas foram as de Lourenço Filho no Ceará (1924), a de Francisco Campos em Minas (1927), a de Fernando de Azevedo no então Distrito Federal (1928). Todas elas visavam a renovação pedagógica consubstanciada na designação de “escola nova”, que representava posição avançada no liberalismo educacional, e que por isso foi combatida às vezes violentamente pela Igreja, então muito aferrada não apenas ao ensino religioso, mas a métodos tradicionais. Ora, a escola pública leiga pretendia formar mais o “cidadão” do que o “fiel”, com base num aprendizado pela experiência e a observação que descartava o dogmatismo. Isto pareceu à maioria dos católicos o próprio mal, porque segundo eles favorecia perigosamente o individualismo racionalista ou uma concepção materialista e iconoclasta. Não faltou quem falasse em “bolchevização do ensino” a propósito da reforma corajosa e brilhante de Fernando de Azevedo. Fonte: CANDIDO, A. A Revolução de 1930 e a cultura. Novos Estudos, n. 4, 1984. 78 Unidade II Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas. I – A “escola nova” defendia a universalização do ensino laico para a formação do cidadão. II – A reforma de Fernando de Azevedo visava à militarização da escola, nos mesmos moldes bolcheviques da União Soviética. III – Entre os educadores brasileiros que se destacaram nas propostas da “Escola Nova”, temos Lourenço Filho e Anísio Teixeira. É correto o que se afirma em: A) I, II e III. B) I e II, apenas. C) II e III, apenas. D) I e III, apenas. E) I, apenas. Resposta correta: alternativa D. Análise da questão A “Escola Nova” foi um movimento que ganhou força no Brasil nas primeiras décadas do século XX, após a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932. Propunha a laicização e a gratuidade do ensino. Os educadores dessa linha, entre os quais se destacam Lourenço Filho e Anísio Teixeira, tiveram influência de pensadores internacionais, como John Dewey, e defendiam a reflexão sobre a prática pedagógica e a criticidade na abordagem dos temas.
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