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C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 2 C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 3 INDICE 1. CRIMINOLOGIA, CONCEITOS, OBJETOS, MÉTODOS E FUNÇÕES............................................ 4 1.1. CONCEITO ................................................................................................................................................ 4 1.2. MÉTODOS ................................................................................................................................................. 4 1.3. OBJETO...................................................................................................................................................... 4 1.3.1. CRIME: ................................................................................................................................................... 5 1.3.2. CRIMINOSO: ......................................................................................................................................... 5 1.4. CONTROLE SOCIAL: .............................................................................................................................. 6 1.4. FUNÇÕES ................................................................................................................................................... 7 2. ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS .............................................................................................................. 7 2.1. ESCOLA CLÁSSICA (ETAPA PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA) ....................................... 7 2.2. POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO ........................................................................................................ 9 3. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS ............................................................................................................ 10 3.1.1. ESCOLA DE CHICAGO (TEORIA SOCIAL) ................................................................................... 10 3.1.2. TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE ............................................................................... 11 3.1.3. TEORIA DA ANOMIA ....................................................................................................................... 12 3.1.4. TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL .................................................................................. 12 3.2.1. TEORIA DA ROTULAÇÃO OU LABELING APPROACH (DÉCADA DE 1960) .................... 14 3.2.2. CRIMINOLOGIA RADICAL, MARXISTA OU NOVA CRIMINOLOGIA (DÉCADA DE 70) . 14 3.2.3. CRIMINOLOGIA ABOLICIONISTA (ANOS 90) .......................................................................... 15 3.2.4. CRIMINOLOGIA MINIMALISTA (ANOS 90) .............................................................................. 15 3.3. PRINCIPAIS TEORIAS SOCIOLÓGICAS SOBRE O CRIME .......................................................... 16 3.3.1. A TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL ............................................................................................ 16 3.3.2. A TEORIA DA ATIVIDADE DE ROTINA ...................................................................................... 18 3.3.3. TEORIA DO PADRÃO CRIMINAL ................................................................................................. 21 3.3.4 CRIMINOLOGIA AMBIENTAL......................................................................................................... 22 3.4.1. TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS (BROKEN WINDOWS). TOLERÂNCIA ZERO ...... 26 4. POLÍTICA CRIMINAL .......................................................................................................................... 28 4.1. OBJETIVOS DA POLÍTICA CRIMINAL ............................................................................................. 28 4.2. MOVIMENTOS DE POLÍTICA CRIMINAL E CRIMINOLOGIA NO BRASIL ............................. 29 5. VITIMOLOGIA ....................................................................................................................................... 30 6. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................................... 32 C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 4 1. CRIMINOLOGIA, CONCEITOS, OBJETOS, MÉTODOS E FUNÇÕES 1.1. Conceito Etimologicamente, Criminologia deriva do latim crimen (crimen, delito) e do grego logo (tratado), sendo o antropólogo francês Topinard (1830-1911) o primeiro a utilizar este termo, que só adquire reconhecimento oficial e chega a ser aceito internacionalmente graças à obra de Garofalo, o qual, junto com seus compatriotas italianos Lombroso e Ferri, podem ser considerados como os três grandes fundadores da Criminologia científica. A criminologia é a ciência que, através dos métodos empíricos (observação) e da interdisciplinariedade, se ocupa do estudo do crime, do criminoso, da vítima e do controle social. A criminologia não é uma ciência independente, mas atrelada a Sociologia e a apreciação científica da organização da sociedade humana. Ao lado da Sociologia, se mostra numa condição de contraste de ‘‘uma das mais jovens e uma das mais velhas ciências’’. Assim como a utilização de outras ciências aplicadas, ela baseia-se na observação, nos fatos e na prática, mais que em opiniões e argumentos. 1.2. Métodos O método de trabalho utilizado pela Criminologia é o empírico. Busca-se a análise interdisciplinar e através da observação visa conhecer o processo, utilizando- se da indução para depois estabelecer as suas regras. É, portanto, o oposto do método dedutivo utilizado no Direito Penal. Ao contrário do direito penal, que é dogmático, a criminologia estuda o fenômeno criminoso por meio de uma abordagem zetética – questionamento das premissas, permitindo suas críticas. A zetética surgiu na Alemanha e cria teorias, que podem ser revisitadas (ao contrário de dogmas). Ela não se limita pela legalidade e admite a invasão de outros saberes no estudo de sua análise, ou seja, não é normativa como é o Direito Penal. Se para o direto penal crime é um fato típico, ilícito e culpável, para a criminologia, crime significa mais do que esta simples definição dogmática. A criminologia busca compreender o porquê de uma conduta ser considerada criminosa, por exemplo. O direito penal está limitado pela legalidade. 1.3. Objeto A discussão acerca do objeto da Criminologia é praticamente tão velha como a própria Criminologia. Conheceu, no entanto, períodos de maior intensidade e expressão, como sucederam, por exemplo, nos fins da década de trinta (do século passado), no II Congresso Internacional de Criminologia (Paris, 1950), ou ainda com a Criminologia Crítica. As primeiras escolas criminológicas tinham por objeto o estudo do crime ou do criminoso. A Criminologia moderna, porém, ambliou o rol de estudos e fundamenta C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 5 o seu objeto em quatro pontos fundamentais: o crime, o criminoso, a vítima e o controle social. 1.3.1. Crime: O conceito dogmático do direito penal não é suficiente para a criminologia, que busca os requisitos que uma conduta deve ter para merecer ser tratada como criminosa. Os requisitos são a incidência massiva da conduta, de modo que pouca ocorrência não justifica a tipificação. Ademais, o crime deve gerar dor e angustia, já queo simples dano é suportado pelo direito civil – requisito chamado de incidência afetiva. Outro é a persistência espaço temporal, de modo que o fato deve ser distribuído por todo o território e por longo período para que não se criminalize moda. O último requisito é o inequívoco consenso acerca da sua causa (etiologia), que é o estudo da causa do crime para saber se a criminalização será eficaz para evitar a prática da conduta. Ainda, é imperioso diferenciar a criminalização primária e secundária: Criminalização primária se traduz no ato ou efeito de sancionar uma lei penal que incrimine certa conduta – um ato genérico, abstrato realizado pelo legislativo da união. Criminalização secundária é a efetivação do programa de criminalização primária, ou seja, é a aplicação da norma penal – realizada de forma concreta e direta pelos órgãos de controle (executivo e judiciário – polícia, MP, justiça, administração penitenciária). A criminalidade busca como resposta do estado a prevenção, que se dá de forma primária, secundária e terciária: Prevenção primária se dirige a raiz do problema de modo a agir antes que o crime ocorre eliminando os fatores que o ensejam – é uma prevenção de longo prazo, como investimento em educação, moradia, emprego e qualidade de vida em geral. Todavia, esta forma de prevenção não é efetivada, pois não gera repercussão midiática ou política. Prevenção secundária atua quando o crime se manifesta e confunde- se com a repressão penal (criminalização secundária). Prevenção terciária atua após a condenação para evitar a reincidência – prevenção tardia – de modo a confundir com a ressocialização. 1.3.2. Criminoso: O conceito de criminoso acaba por ser diferente em cada abordagem criminológica (escola criminológica). Ele é, de modo geral, entendido como um ser histórico, real, complexo e enigmático. 1.3.3. Vítima: A vítima é o indivíduo ou comunidade que sofre diretamente as consequências C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 6 do crime e pode ser entendida como um sujeito capaz de influir significativamente no fato delituoso, em sua estrutura, dinâmica e prevenção. Ao longo da história, a vítima foi tendo importâncias distintas na persecução penal: Idade de ouro da vítima: a vítima era protagonista na solução do conflito, o qual era baseado na reparação do dano e eventual aplicação de sanção pela própria vítima. Neutralização da vítima: após a idade média e a partir da criação do estado moderno, o estado avoca para si o monopólio da força e da solução dos conflitos. Surge a figura do ministério público, com os procuradores do rei, que assumem o papel da vítima anulando a sua atuação na persecução penal. Isto se deu pela força do catolicismo e pela influência das inquisições. Revalorização: atualmente, há uma tentativa de restaurar a vítima enquanto sujeito de direito na persecução penal: transação penal, justiça restaurativa etc. Ao ser atingido por um fenómeno criminoso, a vítima passa por um processo chamado de vitimização. A vitimização primária se traduz no processo pelo qual passa o sujeito diretamente atingido pelo crime. Já a vitimização secundária é o fenômeno travado entre a vítima privada e o estado, como a burocracia, falta de informação, insensibilidade e exposição. Por fim, a vitimização terciária é a vitimização da vítima primária pelo meio social. 1.4. Controle Social: É o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover a submissão dos indivíduos aos modelos e normas comunitárias (controle informal) e dogmáticas (controle formal). Toda sociedade necessita de mecanismos disciplinares que assegurem a convivência harmônica entre os indivíduos. Isto pode ocorrer de duas formas: Informal: identificam-se com a sociedade civil, como família, escola, profissão e religião. Opera educando o indivíduo, sendo sutil e atuando ao longo da vida do indivíduo. Ou seja, são as formas usadas pela sociedade na busca pela pacificação social. Formal: Identifica-se com o aparelho político do Estado, tais como polícia, justiça, MP, administração penitenciária entre outros. É um controle abrupto, atuando de forma episódica na vida da pessoa. ATENÇÃO! Polícia comunitária é sui generis, atuando formal e informalmente, pois é aparelho estatal que atua ao longo da vida do indivíduo construindo nele freios sociais informais. C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 7 O Estado possui diferentes formas de reagir diante de um fato delituoso. São três os modelos que preveem esta resposta: Dissuasório Clássico: modelo que propõe a rápida aplicação do castigo, com o fim de dissuadir a sociedade e o indivíduo de praticar crimes (prevenção geral e especial). Aqui, agem apenas o criminoso e o Estado, deixando a vítima como mera testemunha. Ressocializador: modelo que tenta incutir certa humanidade ao dissuasório clássico. Visa à reinserção social do agente. Aqui, a relação se mantém entre criminoso/estado. Integrador: é um modelo de conciliação e reparação do dano. A solução do conflito deve ser encontrada pelos próprios protagonistas envolvidos no crime e no dano – sociedade, vítima e criminoso. É o modelo trazido pela justiça restaurativa. 1.4. Funções Na visão de Javier Alejandro Bujan, a função essencial da Criminologia atual consiste em analisar o fenômeno do crime em interação social, inclinando-se a ser uma ferramenta para a preservação dos direitos humanos e das garantias fundamentais dos cidadãos. Para García-Pablos de Molina, a função básica da Criminologia consiste em informar a sociedade e os poderes públicos sobre o delito, o delinquente, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos – o mais seguro e contrastado – que permita compreender cientificamente o problema criminal a fim de prevenir o crime e tratar o criminoso. o Não é causalista com leis universais exatas; o Não é mera fonte de dados ou estatística; o Os dados são em si mesmos neutros e devem ser interpretados por teorias científicas; o É uma ciência prática preocupada com problemas e conflitos concretos, históricos; 2. ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS 2.1. Escola clássica (etapa pré-científica da criminologia) A escola clássica surge como uma forma de frear o poder estatal do rei fundado na desproporção da aplicação do direito penal. Na idade média, o poder do estado C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 8 confundia-se com o poder do déspota, de modo que a desproporção entre o crime e a aplicação da pena era apenas mais uma forma de demonstrar a grandiosidade absolutista do rei. Em Vigiar e Punir, Foucault inicia a análise da criminologia clássica justamente narrando uma pena corpórea de suplício – a punição do parricídio de Demiain. Diante do suplício, e da necessidade de legalizar o direito, a escola clássica se lança contra esta forma desproporcional de punição. Até meados da idade média, o poder era fragmentado e a persecução penal ficava predominantemente a cargo da vítima. Isto passa a mudar com o início da ascensão da burguesia e com o pleito de unificação estatal. Em suma, o poder foi concentrado nas mãos absolutas do Rei. A principal teoria que deu respaldo para tal consolidação estatal foi o Leviatã de Hobbes, segundo o qual o súdito confere, em contrato social, todos os seus direitos ao rei – inclusive os poderes de vida e morte. O Estado, assim, se coloca acima do indivíduo. Com o fortalecimentodo Estado, os intelectuais passaram a formar a administração pública e estes intelectuais estavam dentro do clero. O soberano, então, incorporou ao Estado o conhecimento vindo das universidades católicas criando a burocracia estatal. Neste contexto, o direito penal moderno foi brutalmente influenciado pela igreja católica e, sobretudo, pela santa inquisição. A igreja católica criou as primeiras equipes incumbidas de descobrir a verdade e aplicar as sanções, já que os crimes que inicialmente eram investigados pela inquisição eram crimes contra a força divina. O Estado incorporou essa forma de agir diante do indesejado. Ora, se os pecados atentavam contra Deus, os crimes, de igual modo, atentavam contra o rei (todo crime era tido como um “regicídio”). Foi então que o Estado retira a vítima do centro do conflito criminal, saltando da idade de ouro para um período chamado de neutralização da vítima. É neste período que o Estado toma para si o monopólio da força criando o processo inquisitivo de punição do indesejado. É neste processo que a ideia de dano é substituída pelo conceito de crime, que não afeta mais o indivíduo e sim o soberano, confundindo-se com desobediência. A vítima é expropriada do conflito e alterada pela figura dos procuradores do rei (ministério público). A imposição da pena passa então a ser a expressão do poder soberano. As penas do antigo regime se traduziam, sobretudo, em sanções corporais e estigmas (marcas). A mutilação, o castigo corpóreo e o estigma eram penas frequentemente aplicadas pelo antigo regime, de modo que o crime estava escrito na pele do indivíduo. O poder punitivo era exercido de forma pública por meio de espetáculo, um espetáculo de desequilíbrio e excesso – não interessava ao rei aplicar a pena de forma proporcional, uma vez que a crueldade demonstrava aos demais súditos a medida de seu poder. Ademais, outra forma de punição era a aplicação de trabalhos forçados. Com a evolução do comercio e do capitalismo, um grande contingente ficou sem atividade. Um modo de educar e condicionar essa população para as normas formas de trabalho era por meio das penas. Por fim, a pena de prisão era uma forma cautelar de esperar a verdadeira punição (castigos ou trabalhos forçados). Ou seja, a pena privativa de liberdade não era prioritária, entretanto, a mesma era aplicada sem critério, prendendo-se homens, C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 9 mulheres, crianças, idosos e deficientes juntos e sem qualquer prazo pré-estabelecido. Contrapondo a esta ideia surge o Iluminismo. Para Locke, na passagem para um estado civil (contrato social) o homem conserva certos direitos que devem ser respeitados pelo soberano, tais como vida, liberdade, propriedade e honra. Esta nova concepção causou profundo impacto no direito penal consubstanciado na escola clássica. A escola clássica nada mais é a incorporação da teoria iluminista no direito penal. O principal autor da escola clássica foi o Cesare Bonesana (Marques de Beccaria) juntamente com sua principal obra: Dos Delitos e Das Penas (1764). É o livro que fundamenta todas as garantias penais e constitucionais dos dias atuais. A escola clássica não é etiológica (não se preocupa com as causas do crime) ou empírica – razão pela qual é chamada de escola pré-científica. Para Beccaria, o crime é uma escolha racional cometido por indivíduo dotado de livre-arbítrio. O crime nada mais é que a violação do contrato social. Para ele, a pena não pode representar, entretanto, mera vingança, mas deve ter como função prevenir a reiteração daquele ato. Neste sentido, para que seja eficaz, a pena deve se dar na medida da culpabilidade, o que dá ensejo a uma série de limitações ao poder de punir. A escola clássica é, assim, responsável pela elaboração das principais garantias processuais penais: legalidade, proporcionalidade da pena, vedação ao confisco, vedação de penas cruéis etc. 2.2. Positivismo criminológico A colonização da África e Ásia pelas populações europeias deu margem para a criação de diversas teorias racistas que tentavam justificar a soberania biológica de uns sobre os outros – o colonizador tentava provar sua superioridade perante o colonizado para justificar seus atos. Na busca pela relação entre biologia e comportamento, diversas correntes teóricas surgiram na Europa. A fisiologia, uma delas, é o estudo da aparência externa do indivíduo. Lavater propõe um retrato do “homem da maldade natural” – pessoa que reuniria todas as características malignas da aparência humana. Já a frenologia estudava o cérebro humano atribuindo o comportamento criminoso às más formações cerebrais. Ainda, a antropologia estudava o crânio dos indivíduos e, por fim, a teoria da evolução das espécies de Darwin – distorcida de forma a justificar a evolução de determinadas populações em detrimento de outras. Dentre os principais teóricos do positivismo, o mais conhecido deles foi o italiano Cesare Lombroso. Para ele, o criminoso nato sofre de uma enfermidade chamada regressão atávica, reproduzindo os instintos ferozes da humanidade primitiva. Este criminoso apresenta características físicas peculiares através das quais seria possível presumir o seu comportamento criminoso (determinismo biológico). Assim, para Lombroso, o criminoso nato era um doente social. Por outro lado, foi ele quem inaugurou o método empírico, que marca a criminologia, ou seja, o método de análise da sociedade. Sua principal obra – e do próprio positivismo – é o Homem delinquente (1876). Outro importante teórico do positivismo foi Enrico Ferri, discípulo do Lombroso que evoluiu em seus estudos dizendo que fatores sociais e climáticos (fatores C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 10 telúricos: clima, temperatura e estações do ano) também influenciavam o criminoso, assim como os fatores biológicos. Por isso, é conhecido como o pai da sociologia criminal. Por fim, outro importante estudioso positivista foi Raffaele Garofálo. Ele acreditava que os criminosos não possuíam qualquer freio biológico que impedisse crimes contra a vida ou a propriedade alheia. Desenvolveu o conceito de periculosidade (temeritá) o qual serviu de base para o desenvolvimento da teoria das medidas de segurança. Além disso, defendia a pena de morte. Em resumo, o positivismo inaugura a etapa científica da criminologia com o método empírico. É uma corrente determinista biológica, ou seja, acreditam na predeterminação entre a constituição física do homem e seu comportamento – não se fala em livre-arbítrio (crítica à escola clássica). Ainda, o positivismo é etiológico, visto que busca descobrir as causas do crime. Por fim, o positivismo é antiliberal, já que pressupõe a sobreposição da ordem social em detrimento dos interesses individuais. 3. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS 3.1. Teorias do consenso (explicativa): segundo esta teoria, a sociedade é uma máquina em perfeita harmonia. Todos os cidadãos concordam com os fins sociais. Dentro dessa perspectiva o crime é um fato anormal em uma sociedade considerada saudável. Todas as quatro escolas do consenso são etiológicas, ou seja, buscam a causa do crime. 3.1.1. Escola de Chicago (Teoria Social) A Escola de Chicago surge no contexto de explosão demográfica do início do século XX e, consequentemente, do aumento da criminalidade na cidade norte-americana. Rockefeller decide então financiar uma nova universidade, epistemológica e pragmática, que buscaria solucionar tais questões. Adotaram uma visão ecológica da cidade de Chicago (criminologia ecológica), decompondo a estrutura urbana em áreas e zonas (modelo radial). Priorizaram a coleta de dadosestatísticos e a confecção de instrumentos cartográficos – a Escola de Chicago é também chamada de ecologia criminal, porém este é apenas um de seus métodos de estudo. É publicado o livro O Camponês Polonês na Europa e América (1918-20) cuja principal constatação é a de que os indivíduos não cometiam crimes em seu país de origem, mas cometiam na cidade de Chicago. Esta constatação fragilizou o positivismo criminológico – a fisionomia era a mesma, mas o comportamento criminoso mudou de um local para o outro. A cidade foi dividida em zonas, seguindo o modelo radial, para que fosse realizado o estudo criminológico. Dentro das zonas, no círculo central concentravam o LOOP – fábricas e bancos. No segundo círculo do modelo radial estavam as habitações de baixo custo – cortiços, construções degradadas, prostíbulos e outros, chamado de SLUM. C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 11 É neste circulo que passam a morar os grupos de imigrantes (negros do sul e poloneses) e onde se concentrava a maior incidência da criminalidade. No terceiro, quarto e quinto círculos encontravam-se respectivamente a classe baixa, média e alta. A conclusão da Escola de Chicago é que a causa do crime é a desorganização social, ou seja, ausência de controle social informal em razão da grande mobilidade social, bem como pela degradação urbana e pela barreira linguística, a qual impedia a criação de círculos de proteção e amizade. Como solução para o problema, a Escola de Chicago propunha retomada do controle social informal – religião, escotismo etc. A Escola de Chicago, com a ideia de desordem social, deu margem para que posteriormente criassem a teoria da janela quebrada. 3.1.2. Teoria da Subcultura Delinquente Entende-se por cultura os modelos de ação identificáveis na palavra e na conduta dos membros de uma mesma comunidade e que são transmitidos de geração para geração – conjunto de valores de uma determinada sociedade. Por outro lado, a subcultura é a cultura dentro da cultura, mas com padrões opostos aos dominantes. Salienta-se que a subcultura não pretende substituir ou destruir a cultura dominante, uma vez que está é a função da contracultura. A teoria da subcultura delinquente teoria não buscou se tornar uma etiologia geral da criminalidade, apenas buscava estudar os crimes cometidos no âmbito de grupos sociais específicos – subculturas nas quais o valor dominante é o descumprimento da lei. Esta concepção também rompe com o positivismo criminológico, pois entende que delinquentes são as culturas e não os indivíduos. O principal objeto de estudo desses sociólogos era a delinquência juvenil. O adolescente, por natureza, se encontra em uma fase de instabilidade e inconformidade. Além disso, a impossibilidade material de se alcançar o American way of life reforça o sentimento de frustração, revolta e humilhação desse grupo juvenil. O escape para essa pressão é repudiar o jogo do sucesso, estabelecendo novas regras facilmente realizadas. O sucesso nessa subcultura é a desordem e o crime. Esta teoria é criada por Albert Cohen na obra Delinquent boy. Cohen detecta C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 12 três características específicas desses subgrupos: não utilitarismo (crime sem finalidade útil); malícia (prazer em desconsertar o outro); e o negativismo (criminalidade é considerada correta para a subcultura que porque o sucesso é o correto para a cultura). 3.1.3. Teoria da Anomia A anomia significa a ruptura dos padrões sociais que comandam a conduta (sociedade sem lei). A teoria da anomia se divide em duas correntes: corrente de Émile Durkheim (1890) e Robert K. Merton (1938). Segundo Durkheim, o crime decorre da anomia, isto é, do desregramento. Ele entendia que toda sociedade regrada verifica um nível de criminalidade, mas desde que mantida estável, a criminalidade é funcional e saudável na sociedade capitalista (a punição do infrator reforçaria os valores vigentes para os demais cidadãos – função da atual prevenção geral). Por outro lado, Merton entendia por anomia a lacuna entre o sucesso e os meios necessários para atingi-lo, podendo o sujeito agir de diferentes formas dentro dessa lacuna: No conformismo, o indivíduo atua seguindo os meios na busca pelos fins – ainda que ele se conforme na possibilidade de jamais atingir esse sucesso. A inovação, ao contrário, se dá nos meios. Ele inova nos meios, buscando métodos criminosos, para alcançar o fim – a inovação se refere sempre aos meios ilegítimos para realizar os objetivos culturais. Já no ritualismo, a pessoa segue o ritual dos meios para atingir os fins, ainda que ele não esteja conformado com esse ritual – ele não inova por medo das consequências. Na evasão, o indivíduo não busca os meios e nem quer alcançar os fins, visto que ele se exclui do padrão cultural (ex.: pessoas em situação de rua). A rebelião rejeita em parte os meios e fins – apenas os praticam em partes com o fim de alterar esse ritual (se confundem com a contracultura). 3.1.4. Teoria da associação diferencial Até quebra da bolsa de 1929, a economia americana era desregrada (liberalismo econômico) contribuindo para a crise que se instaurou no país. Neste período, os índices de criminalidade aumentaram junto com a miséria e o desemprego. O C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 13 governo americano passa a regrar a economia, conceder direitos aos trabalhadores e tipificar condutas cometidas por pessoas das classes altas e grandes empresas (New Deal – Roosevelt). Tais medidas diminuíram as margens de lucro do empresário, o que fez com que muitos passassem a atuar na ilegalidade. É neste contexto que surge o crime de colarinho branco, cuja etiologia não era explicada pela criminologia até então desenvolvida. Segundo Edwin Sutherland, pesquisador que buscou explicar a etiologia deste tipo de crime, colarinho branco é a conduta cometida no âmbito da profissão por pessoas de alta respeitabilidade social. Sutherland percebeu que uma parcela ínfima desses crimes leva à condenação criminal – ele investigou mais de 80 empresas norte-americanas e percebeu que 91% delas era reincidente na pratica criminosa, mas que apenas 9% eram levadas à justiça por essas condutas (sendo que menos da metade chagava a ser condenada). Ele entendia que grande parte desses crimes entrava na cifra dourada da criminalidade. O termo foi uma criação a partir do conceito de outro teórico, que criou a ideia de cifra nega da criminalidade. Segundo a criminologia, a cifra oculta da criminalidade é a diferença entre os crimes cometidos e o número que chega ao conhecimento do controle formal. Sutherland criou, por analogia, a cifra dourada da criminalidade, que é a ausência da criminalidade de colarinho branco nas estatísticas sociais. Sutherland foi o primeiro a destacar a potencialidade lesiva dos crimes de colarinho branco. Segundo ele, o custo social do crime de colarinho branco é maior que o custo de todos os crimes vistos como problema, já que gera dano social a longo prazo muito acima dos demais crimes, corroendo a estrutura do Estado. É diante disto que ele questiona a falta de punição desses crimes. Entende o estudo que há um tratamento diferenciado, uma associação diferenciada no trato do crime de colarinho branco em relação aos demais. Ou seja, o agente possui um status que dificulta a aplicação da pena. O criminoso de colarinho branco gera uma mistura de medo e admiração nos legisladores e nos juízes, além disso, os juízesse identificam com tais agentes, pois habitam os mesmos bairros, frequentam os mesmos lugares e possuem o mesmo estilo de vida. A cifra dourada é também responsável por essa falta de punição, pois dificulta que a população entenda os crimes de colarinho branco como crime de potencialidade agressiva. A administrativização se traduz na clássica opção que o Estado tem de submeter o crime de colarinho branco às instâncias administrativas, denotando clara preferência arrecadatória. Por fim, outro fator que demonstra o tratamento diferenciado é o ressentimento diferenciado. É que as leis e condutas complexas referentes aos crimes de colarinho branco, somadas ao caráter difuso da vítima, faz com que a sociedade não se sinta diretamente atingida por tais delitos, dificultando sua punição. 3.2. Teorias do conflito: para tais teorias, a sociedade não é harmônica, mas dividida em classes – opressora e oprimida. Dentro desta perspectiva, a criminalidade é decorrência da luta de classes e está impregnada na sociedade: “crime não é uma doença C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 14 na sociedade saudável, é a própria sociedade que está doente”. Ao contrário da teoria do consenso, que é etiológica, as teorias do conflito estudam a resposta estatal ao conceito de crime (interacionista). Buscando a resposta sob o ângulo de uma problemática maior, defende que não há outra solução para o problema criminal senão a construção de uma nova sociedade, mais justa, igualitária e fraterna; menos consumista e menos sujeita às vicissitudes dos poderosos. 3.2.1. Teoria da Rotulação ou Labeling Approach (década de 1960) Esta teoria considera que as questões centrais da teoria e da prática criminológicas não se relacionam ao crime e ao delinquente, mas, particularmente, ao sistema de controle adotado pelo Estado no campo preventivo, no campo normativo e na seleção dos meios de reação à criminalidade. No lugar de se indagar os motivos pelos quais as pessoas se tornam criminosas, deve-se buscar explicações sobre os motivos pelos quais determinadas pessoas são estigmatizadas como delinquentes. A teoria do labbelling approach surge no período de contracultura, década de 1960, que criticava e pretendia substituir a cultura em vigor. A partir dessa década, os EUA elegeram três governos conservadores e passaram a se empenhar em criar uma máquina de guerra que pudesse derrotar a URSS durante a Guerra Fria. A Guerra do Vietnã passa a gerar danos aos jovens americanos. Além disso, a população começa a perceber que o sonho Americano não é acessível a todos. Tais circunstâncias dão margem para o surgimento de grupos de contracultura (movimento ‘hippie’ pacifista, feminista e negro). Estes movimentos geraram descontentamento no governo americano, o qual, no intuito de cerceá-los, passa a associa-los a certos crimes. Para a criminologia, isto evidenciou o fato de que a criminalidade não é algo natural, mas algo manipulável pelo Estado. O Estado escolhe quem será punido, ou seja, rotulado pelo estado, ou seja, o crime nada mais é do que aquilo que a sociedade define como fato punível. O crime deixa de ser um defeito inerente ao indivíduo e passa a ser entendido como o resultado da produção legislativa sujeito a diversas influências – política, pessoal, religiosa, midiática –, de modo que Howard Becker (1963) entendida que “nenhum ato é criminoso por si só, o que é criminoso é o rótulo que lhe é imposto”. Esta concepção, provocou um giro de enfoque na criminologia do criminoso para o ente punitivo (instâncias que criam e administram a criminalidade). 3.2.2. Criminologia Radical, Marxista ou Nova Criminologia (década de 70) Baseia-se na análise marxista da ordem social. Critica a Teoria da Rotulação e a Etnometodologia, pois, fundamentalmente, não se diferenciariam da Criminologia Tradicional, funcionando para a conservação da ordem social opressiva. Considera o problema criminal insolúvel em uma sociedade capitalista, sendo necessária a transformação da própria sociedade. C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 15 Punição e estrutura social é o livro que marca o início da criminologia crítica, escrito pelos alemães Otto Kircheimeir e George Rushe. A União de Criminólogos Radicais se reuniu antes de ser censurada na universidade de Berkeley, nos EUA, para estudar uma criminologia mais crítica – durou pouco em razão do momento antissocialíssimo que os EUA viviam. Na França, um nome que sobressaiu nesse período foi o de Foucault e na Itália, a Escola de Bolonha com Baratta. Na Inglaterra, houve uma efervescência dessa criminologia com National Deviance Conference. É deles o livro a Nova Criminologia. Para Baratta, o direito penal é o direito desigual por excelência. Eles contradiziam a ideia de igualdade do direito penal, que defende o mito de que o direito penal protege igualmente todos os cidadãos em face de ofensas a bens essenciais, nos quais todos estão interessados. A igualdade do Direito Penal passa a ser negada pela nova criminologia, que repudia a ideia de que a lei penal seria igual para todos, isto é, todos os autores de crimes teriam iguais chances de serem alvos do processo de criminalização. Para eles, o Direito Penal não defende apenas bens essenciais e quando o faz, faz de maneira seletiva. Entendem que a lei penal não é igual para todos e a aplicação do status de criminoso independe da gravidade da ação. A nova criminologia refuta a teoria do consenso, entende que os atos são criminosos porque a classe dominante tem interesse de puni-los. Segundo seus teóricos, o delito é um fenômeno inerente à sociedade capitalista e as classes mais pobres são rotuladas e as mais ricas não, pois são as classes mais ricas são as detentoras dos meios de produção, do controle do Estado e da lei (prevenção primária e secundária). A criminologia crítica opunha-se à ideia clássica de livre-arbítrio. Segundo a teoria, definir certas condutas como criminosas permite maior controle sobre o proletariado, acentuando a hostilidade do oprimido para longe dos opressores e em direção à sua própria classe – seleção vitimizante. Surgiram como derivação dessa teoria o neorrealismo de esquerda, o garantismo penal e o abolicionismo penal. 3.2.3. Criminologia Abolicionista (Anos 90) Apresenta a proposta de acabar com cultura punitiva da vingança, do ressentimento e do julgamento propondo o fim da prisão e, em muitos casos, do próprio Direito Penal. A criminologia abolicionista questiona a seletividade sócio-política do sistema penal moderno e a ineficácia das prisões. Refuta, ainda, natureza ontológica do crime, ao mostrá-lo como criação histórica, na qual a criminalização de comportamentos, em maior ou menor quantidade, depende das épocas e das forças sociais em confronto. O abolicionismo funciona segundo a ideia integradora de resposta ao crime embasada na era de revalorização da vítima com políticas de conciliação e justiça restaurativa. 3.2.4. Criminologia Minimalista (Anos 90) Assim como os abolicionistas, questiona a ineficácia das prisões e a seletividade do Direito Penal, porém não vê fora deste sistema a solução para todos os problemas criminais. Assim, sustenta que é preciso limitar o Direito Penal, que está a serviço de grupos minoritários, tornando-o mínimo, porque a pena, representada em sua manifestação mais drástica pelo Sistema Penitenciário, é uma violência institucional que C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 16 limita direitos e reprime necessidadesfundamentais das pessoas, mediante a ação legal ou ilegal de servidores do poder, legítima ou ilegitimamente investidos na função. 3.3. Principais Teorias Sociológicas Sobre o Crime 3.3.1. A Teoria da Escolha Racional Teoria da Escolha Racional (CORNISH & CLARKE, 2003) tem suas raízes fortemente assentadas nas teorias clássicas e nas teorias econômicas sobre o crime, que sustentam que o comportamento criminal é, em grande medida, decorrência de uma escolha racional do indivíduo a respeito dos benefícios e custos de se cometer o crime. Supõe-se que, se houver uma chance ou uma boa oportunidade, qualquer pessoa irá praticar um crime. Os adeptos desta teoria consideram que alguns fatores estão envolvidos no processo de decisão tais como: a) Fácil acesso à mercadoria a ser roubada; b) Baixa probabilidade de ser descoberto; c) Utilidade da mercadoria para o ofensor; d) Sentimento de estar anônimo durante o evento. Os indivíduos, então, decidem praticar um crime segundo uma escolha que represente um esforço para maximizar os benefícios e minimizar os custos de realizar o crime. Para Cornish e Clarke, essa escolha ocorre, geralmente, de duas fases: Modelo de envolvimento inicial: o indivíduo decide se está disposto a se envolver em um crime para satisfazer suas necessidades. Nesse sentido, ele considera os diferentes caminhos para atender tais necessidades, alguns deles criminosos. Se decidir por uma opção criminosa, levará em consideração toda aprendizagem prévia, código moral próprio e percepção de si mesmo, além de sua experiência anterior na prática de crimes. Em seguida, realizará um planejamento inicial (ainda que apenas em sua mente) e uma previsão de possíveis resultados. Esta fase é a que Cornish e Clarke denominam “modelo de envolvimento inicial”. Modelo do evento criminal: Cornish e Clarke explicam que, uma vez decidido a cometer o crime, o indivíduo decide, então, qual crime cometer. Essa decisão estará influenciada diretamente pela situação imediata em que o indivíduo esteja inserido. Em seguida, ele decide o alvo de seu crime, baseado na análise de benefício- custo que realiza. Tal decisão estará fortemente influenciada na disponibilidade e no valor do alvo e na ausência do guardião, cuidador ou administrador e nos riscos que terá que correr. Assim, estes estudiosos entendem que os criminosos empregam diferentes modelos de tomada de decisão para os diferentes tipos de crimes que decidem cometer. C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 17 DECISÃO Cometer um furto LOCAL SELECIONADO (Ex: Bairro de Classe Média) - Facilidade de acesso - Pouco patrulhamento policial - Baixo nível de segurança residencial - Grandes jardins CRIME REALIZADO - Ninguém em casa - Objetos de alto valor - Afastada - Portas de acesso no jardim - Arbustos e outras coberturas - Esquina LOCAL REJEITADO (Ex: Bairro de Classe Média) - Desconhecido - Distante - Vizinhança atenta - Sem transporte público CRIME NÃO REALIZADO - Vizinhos curiosos - Alarme contra roubo - Sem acesso por trás - Visibilidade desde a rua - Janelas trancadas - Cachorro Fonte: Cullen e Agnew. Criminological Theory: past to present; essential readings. 2 ed. 2003, MODELO DE EVENTO CRIMINOSO A preocupação da teoria no âmbito da segurança pública, e da ação policial, é o desenvolvimento de mecanismos que impeçam a fácil disponibilização de alvos compensadores, ou que permitam a maior presença de dispositivos ou condições de proteção sobre o alvo ou vítima, aumentando a dificuldade de acesso e, portanto, diminuindo os prováveis benefícios para o criminoso potencial. A ausência dessas condições poderá implicar em oportunidade contínua para a ocorrência de crimes. Um exemplo típico é o volume de veículos em grandes estacionamentos, que são deixados sem as mínimas condições de segurança, ou em condições atrativas para potenciais tentativas de crime. Em termos de prevenção, uma aplicação decorrente da Perspectiva da Escolha Racional é o que se convencionou chamar Prevenção Situacional de Crimes. C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 18 3.3.2. A Teoria da Atividade de Rotina A teoria propunha uma abordagem explicativa para as tendências criminais crescentes nos anos 60 e 70 nos Estados Unidos, que apesar de estarem em boas condições econômicas, experimentavam um aumento significativo nas taxas de crime, particularmente os crimes violentos e os relacionados a propriedades. Considerada como complementar à Teoria da Escolha Racional, a Teoria da Atividade de Rotina busca demonstrar o meio que os criminosos utilizam para encontrar alvos e oportunidades apropriados no decorrer de suas atividades e interações sociais diárias. A atenção da teoria está voltada para o que ocorre quando criminoso e alvo/vítima se encontram em um determinado momento no tempo e no espaço (VELLANI e NAHOUN, 2001). - O Triângulo do Crime ou o Triângulo do Problema: A Teoria da Atividade de Rotina tem como base um dos conceitos que se encontra no cerne da perspectiva ambiental, particularmente no âmbito das “teorias da oportunidade” discutidas por FELSON e CLARKE (1998), que é o de Triângulo do Crime ou Triângulo do Problema (Fig. 3). CRIME ------------------ PROBLEMA O fe n so r G u a rd iã o Vítima/Alvo Segundo FELSON e CLARKE (1998), para que o crime ocorra, deve haver uma convergência de tempo e espaço entre, no mínimo, três elementos: um provável ofensor ou criminoso motivado, um objetivo apropriado que pode ser uma pessoa ou objeto que represente alguma vantagem ou valor para o criminoso, e a ausência de um guardião capaz de agir contra crime. A abordagem considera o provável ofensor como um dado pré-existente e foca-se nos outros dois elementos. O guardião não é, necessária e normalmente, um policial ou um vigilante, mas uma pessoa qualquer cuja presença possa desencorajar a ação criminosa e, consequentemente, o crime. Desse modo, uma dona de casa, um porteiro, um vizinho ou mesmo um colega de trabalho tenderiam a se configurar como guardião por suas simples presenças no local. C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 19 Para exemplificar, imaginemos um usuário de drogas que se encontra sem dinheiro para comprá-las, mas que já está começando a sentir o efeito de sua privação – ele está fortemente motivado. Este usuário vem caminhando pela rua e percebe uma adolescente que vem caminhando em sentindo contrário ouvindo música em seu celular, com fone de ouvido. Ele olha em volta e percebe que a rua está vazia e não há ninguém que possa detê-lo e observa que a vítima está distraída com a música. Então ele aborda a adolescente, a ameaça com um canivete que trazia no bolso, toma o aparelho e sai rapidamente do local. O papel de guardião é desempenhado por uma pessoa ou um grupo de pessoas que estejam no local ou até mesmo por algum tipo de dispositivo de segurança que monitore o ambiente e impeça o comportamento do ofensor, tais como: câmeras de filmagem, alarmes, ofendículos, entre outros. Em 2003, John Eck, a partir de estudos de vitimização, expandiu o triângulo, agregando-lhe outro fator, agora externo, cuja representação aponta para os elementos que devem ser agregados ao triângulo original, como componentes que podem ser adicionados ao ambiente com a finalidade de redução ou supressão do problema. CRIME ------------------ PROBLEMA O fe n so r L o ca l Vítima/Alvo C u id a d o r (H a n d le r) G e re n te /A d m in istra do r Guardião A proposição de Eck foi a de agregar ao triângulo original os elementos de auxílio na “neutralização” das oportunidades de crime. Os administradores são aquelas pessoas que, em razão do emprego que ocupam, têm a responsabilidade de zelar por algum lugar, tais como: gerentes de hotel ou supermercados, síndicos de prédios, diretores de escola, entre outros. Já os cuidadores são aquelas pessoas que conhecem o ofensor e têm condições de exercer certo controle sobre sua ação. Podem possuir um grau de parentesco ou ser uma pessoa que desempenha uma atividade que exerce algum tipo de controle sobre as ações do ofensor. (ex.: professores, funcionários do serviço Psicossocial da Justiça). É interessante observar, entretanto, que a convergência de alvo/vítima e criminoso no espaço e no tempo, não é em si mesma o fator que cria a oportunidade de crime. Aqui, há que se retomar o triângulo do crime como orientador dessa compreensão. Para que um crime seja potencialmente possível sob a ótica da Teoria da Atividade de Rotina, primeiro, o potencial ofensor deve estar disposto a cometer um ato ilegal e não estar sob controle do “cuidador”. Segundo, o lugar da interação deve ser um no qual não haja qualquer tipo de proteção ou controle por parte de alguém ou de algum C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 20 dispositivo; e, por fim, esse encontro deve ocorrer sem a presença de um “guardião” que tivesse a possibilidade de impedir, de fato, a ocorrência da ação criminosa. Um fator relevante, sob a ótica da teoria, é o estilo de vida das pessoas. Especialistas consideram que a ocorrência de um crime está fortemente relacionada ao estilo de vida da vítima. Considera-se estilo de vida como sendo a atividade de rotina diária da pessoa, tanto para o trabalho, como também para o descanso e o lazer. Outros fatores que também interferem no processo de vitimização são: a idade, o sexo, o estado civil e renda familiar entre outros. Um dos exemplos clássicos citados por Cohen e Felson é o do aumento das taxas de crime de roubo e furto em residências nos anos 60 nos Estados Unidos. Eles explicam que, naquele período, o número de pessoas adultas que permaneciam nas residências decrescia cada vez mais pela necessidade crescente de as mulheres terem que participar da força de trabalho. Enquanto as mulheres estavam no trabalho, as crianças permaneciam em creches e as residências ficavam vazias durante o dia, propiciando um quadro completamente favorável ao crime (SIEGEL, 1995). - A Oportunidade como Facilitadora de Crimes: Considerado o comportamento individual como um produto da interação entre a pessoa e o ambiente em sua volta, FELSON e CLARKE (1998) criticam a maioria das teorias sociológicas por, segundo eles, se preocuparem apenas com o primeiro componente, ou seja, com o comportamento do indivíduo – negligenciando as contingências do meio, isto é, as oportunidades. As oportunidades são as condições necessárias para a ocorrência do crime e servem como uma motivação para o indivíduo. FELSON e CLARKE (1998) estabeleceram os dez princípios básicos em relação à oportunidade como condicionante de crimes, são eles: 1. A oportunidade tem um papel importante na causa dos crimes; 2. A oportunidade para o crime é altamente específica; 3. As oportunidades para o crime são concentradas no tempo e no espaço; 4. As oportunidades para o crime dependem do movimento das atividades diárias; 5. Um crime produz oportunidades para outros; 6. Alguns produtos oferecem mais oportunidades tentadoras para o crime; 7. Mudanças sociais e tecnológicas produzem novas oportunidades de novos crimes; 8. O crime pode ser prevenido pela redução das oportunidades; 9. Reduzindo as oportunidades, geralmente não há deslocamento do crime; 10. A redução das oportunidades pode produzir declínios nas taxas de crime. C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 21 O exame das atividades de rotina de indivíduos e de propriedades, o reconhecimento da existência de oportunidades de crime sob a ótica do triângulo do crime e a compreensão dos tipos de crime que podem ocorrer em determinadas circunstâncias, configuram um conjunto de informações que possibilita o desenvolvimento de planos e ações para a redução do crime. Cuidadores e Administradores, entre eles os operadores do sistema de segurança pública, têm a capacidade de, segundo a lei, criar mecanismos que regulem e/ou limitem a rotina das pessoas. Assim como engenheiros de tráfego anonimamente fazem o bem, projetando sistemas viários que minimizem o perigo para os cidadãos, os arquitetos, planejadores, administradores e operadores dos sistemas de governo deveriam, quieta e discretamente, ajudar a prevenir crimes através da redução das oportunidades (Felson e Clarke, 1997 apud VELANI e NAHOUN, 2001). 3.3.3. Teoria do Padrão Criminal De acordo com BOBA (2005) a teoria baseia-se no fato de que o crime é mais propenso a ocorrer em uma área geográfica de atividade do ofensor que tenha interseção com a área geográfica de atividade da potencial vítima ou alvo. Segundo Brantigham (apud WANG, 2005) a distribuição de crimes segundo o lugar em que ocorrem é descrita pela distribuição espaço-temporal de ofensores, alvos/vítimas e guardiães. A distribuição desses três elementos no espaço e no tempo, segundo certos lugares, poderia ser prevista em função de suas atividades de rotina. A teoria leva em conta o movimento do ofensor e busca explicar por que determinadas áreas têm maior probabilidade de presença de criminosos que outras. Existem áreas, propõe a teoria, em que há uma interseção entre as atividades do ofensor e da vítima. Tais áreas são, muitas vezes, constituídas de lugares-comuns a ambos e que detêm atrativos para a vítima e, consequentemente, para o ofensor. São áreas onde há grandes aglomerações de pessoas, veículos ou grandes movimentos; também podem ser áreas com baixa densidade demográfica (flutuante ou não) que possibilitam a ação do ofensor de forma facilitada, sobretudo quando há a ausência de guardiães ou administradores locais em vigilância. A Teoria do Padrão Criminal trabalha com três conceitos fundamentais: Nós (nodes), Caminhos (paths) Fronteiras (edges)/limites, O termo “nó”, trazido do âmbito dos transportes, refere-se ao “para onde” as pessoas estão indo e o “de onde” estão vindo. Ou seja, seus lugares regulares de destino e de origem ou, ainda, os lugares para onde as pessoas se convergem, indo ou vindo. Tais lugares podem ser geradores de crime, eles mesmos, assim como suas redondezas. Um bar problemático, por exemplo, pode estar gerando mais crime em sua redondeza do que dentro dele. A palavra “nó”, então, traz em si um senso de movimento e, portanto, uma carga significativa de oportunidades de crime (FELSON e CLARKE, 1998). C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 22 Criminosos buscam seus alvos/vítimas ao redor dos eixos de atividades delas, sejam suas casas, escolas, locais de trabalho e de entretenimento e os caminhos que ligam tais nós e constituem os eixos de ação criminal. Estudos têm demonstrado que o lugar de vitimização está fortemente relacionado aos caminhos que as pessoas usam para realizar suas atividades (FELSON e CLARKE, 1998). As fronteiras ou limites a que se refere à teoria são caracterizados pelos limites dos lugares onde as pessoas vivem ou realizam suas atividades. Alguns tipos de crimes são mais propensos a ocorrer segundo o local onde as pessoas estão, bem como osestilos de vida dessas pessoas. Nesse sentido, é interessante observar que crimes como roubos, furtos, rixas, lesões corporais e homicídios, dentre outros, são mais propensos a ocorrer em lugares onde grupos de pessoas de diferentes bairros ou comunidades se encontram (diferentes limites). As brigas de gangues em bailes funk são um exemplo característico disso. A importância da distinção entre os que são da comunidade e os estranhos ajudam a enfatizar a importância das fronteiras. Enquanto os indivíduos da comunidade usualmente cometem crimes em sua própria área, os estranhos acham mais seguro fazê- lo nos limites entre áreas diferentes (incluindo da sua própria) e, em seguida, retornarem para suas respectivas comunidades. Mais importante ainda é que os teóricos dessa corrente e outros criminologistas ambientais têm demonstrado que o projeto, desenho e gestão de bairros, cidades e áreas de negócios podem produzir significantes mudanças nas taxas de crime. Por exemplo, é possível reduzir o crime através da redução do fluxo e velocidade do trânsito e da orientação das janelas das casas e prédios em uma determinada localidade. Nesse caso, as pessoas poderão supervisionar melhor suas próprias ruas (FELSON e CLARKE, 1998). A Teoria do Padrão de Crime tem sido um importante veículo de desenvolvimento de novas tecnologias de análise espacial das quais não pode prescindir a Análise Criminal. Nesse sentido, é relevante ter em conta alguns preceitos que alicerçam tal modelo teórico e que devem orientar, em boa medida, as políticas e as práticas das agências de governo com responsabilidade sobre a segurança pública em seu mais amplo sentido. São eles, segundo WANG (2005): A distribuição espaço-temporal e a convergência de ofensores potenciais, alvos/vítimas, cuidadores, administradores e guardiães permitirá descrever o padrão de crimes em um determinado local (Eck e Weisburd, 1995 apud WANG, 2005). 3.3.4 Criminologia Ambiental A Criminologia Ambiental é uma vertente da criminologia que introduz a dimensão espacial nos fenômenos criminais (FRITZ, 2008). A base teórica desse ramo da criminologia está focada no evento criminal e nas circunstâncias imediatas de sua ocorrência. Sob a ótica dessa corrente teórica, um evento criminal deve ser compreendido a partir da confluência entre criminosos, vítimas ou objetos-alvo e leis, em uma especial configuração e em um momento e lugar particulares, buscando C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 23 explicar, desde essa perspectiva, os padrões de crime e a influência do ambiente em sua ocorrência. Na verdade, a Criminologia Ambiental é considerada por alguns autores como sendo a convergência de três perspectivas teóricas: “perspectiva da escolha racional”, “abordagem da atividade de rotina” e “teoria do padrão criminal”, as quais têm em comum o ambiente e as “relações e interações” que nele ocorrem, como componentes fundamentais para a explicação do fenômeno do crime. Segundo FRITZ (2008), a Criminologia Ambiental tem suas raízes ainda no século XVIII, a partir de Guerry (1833) e Quetelet (1842), os quais já utilizavam dados estatísticos para analisar fenômenos criminais na França de então. Em 1850, pesquisadores ingleses começavam a introduzir elementos geográficos na análise de crimes. Nos Estados Unidos, componentes espaciais no estudo dos crimes só passaram a ser utilizados a partir de 1925 quando Shaw e McKay, da Escola de Sociologia de Chicago, estavam estudando aspectos da criminalidade na cidade de Chicago através do mapeamento de residências de delinquentes conhecidos. A criminologia ambiental possui, portanto, um objeto de estudo diferente das principais teorias criminológicas. De acordo com BOBA (2005) o objetivo desta vertente criminológica é entender os vários componentes de um evento criminal de modo a identificar padrões de comportamento e fatores ambientais que criam oportunidades para o surgimento do crime. Na percepção de WORTLEY e MAZEROLLE (2008), a criminologia tradicional tem seu foco na criminalidade, buscando explicar o fenômeno criminal a partir de fatores biológicos, psicológicos e/ou sociais, os quais seriam responsáveis pela “criação do criminoso” a partir de uma perspectiva histórica onde o indivíduo teria aprendido ou adquirido o comportamento desviante ao longo de sua vida, função das experiências a que esteve submetido. Uma vez que o criminoso “foi criado”, o crime passa a ser visto como algo inevitável em maior ou menor grau. O lugar e o momento da sua ocorrência têm pouco interesse. Na criminologia tradicional, a prevenção do crime se dá a partir da alteração das condições de desenvolvimento do indivíduo desde sua infância, criando mecanismos que eliminem ou minimizem suas desvantagens sociais ou, por outro lado, quando ele delinque, criando os mecanismos adequados para sua reabilitação e reinserção social. Para a Criminologia Ambiental, diferentemente das demais correntes teóricas, o crime é o objeto de interesse. O indivíduo criminoso é apenas um dos elementos de um evento criminal e o fato do criminoso ser o que e como ele é, é algo que não tem grande relevância imediata. O interesse é sobre a dinâmica do crime, ou seja, o que, onde e quando ocorreu; quem estava envolvido no evento; o que os envolvidos fizeram, como fizeram e o que fizeram a respeito. A Criminologia Ambiental visa identificar os padrões de motivação do ofensor, as oportunidades que existem para a ocorrência do crime, os níveis de proteção para as vítimas no evento criminoso e o meio ambiente no qual o evento ocorreu. Sob a ótica das oportunidades de ocorrência de crime, dois aspectos são importantes: o grau de atratividade do objeto-alvo, o que inclui o valor e a portabilidade C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 24 de tal objeto e o grau de acessibilidade, o que inclui a facilidade de acesso físico ao objeto-alvo, a visibilidade e a ausência de proteção suficiente. Em relação ao ambiente e ao comportamento criminal, a Criminologia Ambiental trabalha com três importantes premissas (WORTLEY e MAZEROLLE, 2008), quais sejam: 1. O comportamento criminal é fortemente influenciado pela natureza do ambiente imediato onde ele ocorre. Todo comportamento, o criminal inclusive, é resultado da interação indivíduo-situação, na qual o ambiente joga um papel importante no processo de iniciação e de continuidade de um evento criminoso. Este não é resultado, apenas, de fatores criminogênicos do indivíduo, mas antes, a ele se somam os fatores criminogênicos do ambiente em que o evento ocorre. 2. A distribuição do crime no tempo e no espaço não é aleatória, na medida em que está sendo influenciado pelas condições criminogências do ambiente. Os eventos criminais estarão mais concentrados nos locais onde as oportunidades e as características ambientais sejam mais favoráveis à atividade criminal. Portanto, certos tipos de crimes são propensos a ocorrer em certos tipos de lugar e condições ambientais e realizados por certos tipos de indivíduos em particular. 3. A compreensão do papel criminogênico do ambiente e dos padrões dos eventos criminosos são poderosos instrumentos para a prevenção e a investigação de crimes. Isso permite ao poder público, em particular à polícia, concentrar recursos em situações e locais específicos onde haja problemas criminais. A mudança dos aspectos criminogênicos de um determinado ambiente pode reduzir, de forma relevante, a incidência criminal, de violência e/ou de desordem. Pois bem, os crimes de furtos em uma determinada região da cidade podem ser prevenidos reduzindo-se as oportunidades através de ações simples do cotidiano.A redução das oportunidades consiste em diminuir os riscos de modo prático, natural e simples a um custo social e economicamente baixo, adotando abordagens direcionadas para a prevenção. O melhor dessa metodologia é que depende muito mais do cidadão em mudar o seu comportamento do que a ação da polícia, porém essa deve fazer o seu papel de preventivo e repressivo. A fim de estabelecer uma metodologia de solução de policiamento especializado orientado a solução, a seguir propõe-se a aplicação das 25 técnicas de prevenção de crime situacional: Técnicas de prevenção de crime situacional AUMENTE OS ESFORÇOS AUMENTE OS RISCOS REDUZA AS RECOMPENSAS REDUZA AS PROVOCAÇÕES REDUZA AS DESCULPAS C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 25 1 Dificulte os acessos aos alvos - Controlando colunas de fechaduras e imobilizadores - Telas antifurto - Embalagens que protejam o conteúdo 6 Estenda segurança Tome precauções de rotina: - Saia em grupo à noite, deixe sinais de ocupação e transporte telefone celular - Vigilância de “Casulo” da vizinhança 11 Oculte alvos -Estacionamento fora da rua - Listas telefônicas de gênero-neutro - Caminhões de transporte de valor não identificados 16 Reduza frustrações e estresse - Filas e serviços policiais eficazes - Expansão de assentos - Músicas relaxantes/luzes suaves 21 Estabeleça regras - Acordos de locação - Códigos contra o assédio - Registro nos hotéis 2 Controle o acesso de facilitadores - Entradas telefônicas - Acesso via cartão eletrônico - Proteção de bagagens 7 Invista na vigilância natural - Iluminação das ruas melhorada - Projeção de espaço defensivo - Fornecer apitos 12 Remova alvos - Sons de carro removíveis - Refugio de mulheres - Cartões pré- pagos para pagar telefonemas 17 Evite disputas - Separe áreas distintas para torcidas de futebol rivais - Reduza a superlotação em bares - Afixação de preços de passagem de táxi 22 Exponha instruções - “Proibido estacionar” - “Propriedade privada” - “Apague focos de incêndio” 3 Proteja as saídas - Exigência de carteirinhas para saídas - Exporte documentos - Etiquetas eletrônicas em mercadorias 8 Reduza o anonimato - Identidade dos táxis - Como estou dirigindo? - Decalques 13 Identifique seus bens - Bens identificados - Veículos licenciados e partes demarcadas - Marcação do gado 18 Reduza a excitação emocional - Controle a pornografia violenta - Promova o bom comportamento nos campos de futebol - Proíba discriminação racial 23 Consciência alerta - Placas com limite de velocidade a beira das estradas - Assinaturas em declarações de clientes - Sair sem pagar é furtar 4 Desvie Ofensores - Fechamento de ruas - Banheiros separados para mulheres - Bares dispersos 9 Uniforme escolar - Utilize gestores Locais - Circuito fechado de televisão) para ônibus - Dois funcionários para lojas de conveniência 14 Interrompa o mercado - Monitore casas de penhora - Controle classificados - Licencie vendedores de rua 19 Reduza a pressão dos colegas - “Idiotas bebem e dirigem” - “Não faz mal dizer não” - Dispense encrenqueiros na escola 24 Incentivar a obediência - Procedimentos de verificação de saída) em bibliotecas - Sanitários públicos - Latas de lixo C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 26 5 Controle de armas e ferramentas - Armas “inteligentes” -Desative telefones celulares roubados - Restrinja vendas de tinta spray à jovens 10 Fortaleça a vigilância local - Câmeras - Alarme contra ladrões - Guardas de segurança 15 Negue benefícios - Mercadorias com etiquetas de tinta - Limpeza de grafitagem - Lombadas 20 Desencoraje imitações - Correções céleres de vandalismo - V-chips em TV’s - Censure detalhes do modus operandi 25 Controle de drogas e álcool - “Blitz” em bares - Intervenção dos servidores - Eventos em que não tenham bebidas alcoólicas 3.4. Movimento da Lei e da Ordem Impressionados com as novas formas de crimes e com o avanço da criminalidade na década de 60 e, sobretudo, 70 nos Estados Unidos, verificou-se uma tendência contrária à abordagem de subsidiariedade do Direito Penal. Assim, ganhou amplitude a ideia de repressão máxima e alargamento de leis incriminadoras como resposta ao aumento da delinquência, surgindo o movimento do Direito Penal Máximo, aplicação da regra do Direito Penal do Inimigo e a adoção de políticas criminais com esta ideologia. O Movimento de Lei e Ordem é uma política criminal que tem como finalidade transformar conhecimentos empíricos sobre o crime, propondo alternativas e programas criminais a partir se sua perspectiva. O alemão Ralf Dahrendorf foi um dos criadores deste movimento. O movimento separa a sociedade em duas: os cidadãos de bem, merecedores de proteção, e os inimigos, delinquentes que merecem a força do rigor penal em sua máxima escala. O pensamento de que o direito penal pode resolver a malesas sociais fez, inclusive, aumentar o número de condutas ditas indesejadas entrarem no rol de condutas típicas (neocriminalização). Destaca-se que os meios de comunicação tiveram grande influência nesse processo de panpenalismo dando enorme valor aos delitos de maior gravidade. A insistência do noticiário desses crimes criou a síndrome da vitimização e a população passou a crer que a qualquer momento o cidadão poderia ser vítima de um ataque criminoso, gerando o clamor pela agravação das penas e da definição de novos tipos penais. Esse discurso permeou as políticas de governo nos EUA e também no Reino Unido dos anos de 1970 em diante. O movimento, então, significou uma nova roupagem para o populismo punitivo e acabou gerando práticas policiais e penais como a política de Tolerância Zero e Three Strikes Rule. Essa doutrina sofreu uma ramificação, em meado de 1991, e ficou conhecida também como Tolerância Zero. Originou-se em Nova York, no governo do então prefeito Rudolph Giuliani, e assim como o Movimento de Lei e Ordem é também político-criminal. 3.4.1. Teoria das Janelas Quebradas (broken windows). C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 27 Tolerância Zero Dois criminologistas da Universidade de Harvard, James Wilson e George Kelling, publicaram a teoria das "janelas quebradas" em The Atlantic, em março de 1982. A teoria baseia-se num experimento realizado por Philip Zimbardo, psicólogo da Universidade de Stanford, com um automóvel deixado em um bairro de classe alta de Palo Alto (Califórnia). Durante a primeira semana de teste, o carro não foi danificado. Porém, após o pesquisador quebrar uma das janelas, o carro foi completamente destroçado e furtado por grupos vândalos em poucas horas. De acordo com os autores, caso se quebre uma janela de um edifício e não haja imediato conserto, logo todas as outras serão quebradas. Algo semelhante ocorre com a delinquência. Isto é, pequenas desordens geram maiores desordens e, por isto, precisam ser imediatamente coibidas. Esta teoria começou a ser aplicada em Boston, onde Kelling, assessor da polícia local, recebeu a incumbência de reduzir a criminalidade no metrô – um problema que afastava muitos passageiros, gerando um prejuízo de milhões de dólares. Contudo, o programa não chegou a ser concluído por causa de uma redução orçamentária. Em 1990, Kelling e Wilson Bratton foram a Nova York e começaram a trabalhar novamente. O metrô foio primeiro laboratório para provar que, se "arrumassem as janelas quebradas", a delinquência seria reduzida. A polícia começou a combater os delitos menores. Aqueles que entravam sem pagar, urinavam ou ingeriam bebidas alcoólicas em público, mendigavam de forma agressiva ou que pichavam as paredes e trens eram detidos, fichados e interrogados. Ademais, as pichações eram apagadas na hora. Após vários meses de campanha, a delinquência no metrô foi reduzida em 75% e continuou caindo de ano para ano. Após o sucesso no metrô e nos parques, foram aplicados os mesmos princípios em outros lugares e em outras cidades. A política ficou conhecida como "a iniciativa de qualidade-de-vida" (quality-of- life initiative). Em Nova York, a iniciativa produziu de 40 a 85 mil (dependendo da estatística) novas prisões por pequenas infrações no período de 1994 a 1998 (Estado de Nova York, Relatório da Divisão de Serviços de Justiça Criminal de 2000). Para lembrar o frenesi punitivo, basta saber que na disputa para a Prefeitura da cidade em 1993 (David Dinkins versus Rudolf Giuliani), o tema central sobre a segurança girou em torno dos squeegeemen, aqueles "garotos perigosos" que jogam água no vidro do carro quando parados para lavá-los e, depois, pedem dinheiro. De qualquer forma, esses dois exemplos servem para demonstrar uma política de manutenção de ordem que emergiu nos anos 80, focada a partir do maior contato da polícia com o cidadão, tudo como um modo de criar e manter a ordem e assim diminuir a quantidade de crimes graves. O modelo original era o inglês community policing (polícia comunitária; polícia de proximidade). Assim, a base de tal política é o policiamento comunitário, que vem acrescido de fiscalização ativa e Tolerância Zero; todas as ideias que têm como mentor intelectual a Nova Escola de Chicago (que substituiu a antiga Escola, formada por Guido Calabresi, C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 28 Ronald Coase, Richard Posner e outros, nas décadas de 60 e 70), a qual se fundamenta nas normas sociais, muito próximo do pensamento de Emile Durkheim, em especial nas significações sociais capazes de alterar a sociedade em si. Tolerância Zero, enfim, é incarceration mania, a mudança do welfare state (perto do qual nunca se passou no Brasil) para o penal state (Garland, 1996 e 2001; Becket, 1997; Caplow e Simon, 1998; Wacquant, 2001). Por outro lado, a fundamentação empírica da teoria surge da aceitação plena do estudo precitado de Wesley Skogan, no qual foram aplicados cinco testes, dos quais quatro não vinculam em absoluto a desordem e o crime. Estatisticamente - e só por isso - não é apto a fundamentar qualquer teoria, ainda mais se considerarmos que no quinto estudo (talvez o único aproveitável, vinculando desordem e roubo), foram incluídos cinco bairros de Newark (cidade objeto da pesquisa, onde quarenta foram pesquisados), que, se excluídos, a imprestabilidade restaria patente (Harcourt, 2003, p. 78). 4. Política Criminal A palavra política deriva de polis, denominação atribuída à cidade-estado grega, e significa tudo o quanto se refira à cidade, seja em seu aspecto urbano, civil ou social. Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli (1999, p. 132) conceituam a política como a ciência ou arte de governo. A obra de Aristóteles intitulada A Política é considerada o primeiro estudo a respeito da natureza do Estado e as formas de governo. Na doutrina estrangeira, Franz v. Liszt, citado por Claus Roxin, afirma que a política criminal assinala métodos racionais, em sentido social global, no combate à criminalidade, o que na sua terminologia significava a tarefa social do Direito Penal. Mireille Demas-Marty se inspira no conceito de Feuerbach, no qual a Política Criminal compreende o "conjunto de procedimentos através dos qual o corpo social organiza as respostas ao fenômeno criminal", e se caracteriza como "a teoria e prática das diferentes formas do controle social". 4.1. Objetivos da Política Criminal A Política Criminal, para atingir suas finalidades, atua por intermédio da prevenção geral e da prevenção especial. Prevenção geral: o fim intimidativo da pena dirige-se a todos os destinatários da norma penal, visando a impedir que os membros da sociedade pratiquem crimes Prevenção especial: a pena visa o autor do delito, retirando-o do meio social para que impeça a reiteração criminosa Noutras palavras, na prevenção geral a pena atua psiquicamente sobre a generalidade dos membros da comunidade, afastando-os da prática de crimes através de C O O R D E N A D O R I A D E A S S U N T O S E D U C A C I O N A I S – C A E C R I M I N O L O G I A A P L I C A D A A S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A Página 29 ameaça penal determinada pela lei. Funciona como uma coação psicológica, uma intimidação. Na prevenção especial, por sua vez, a pena atua preventivamente sobre o delinquente, a fim de evitar que, futuramente, ele cometa novos crimes. Na verdade, o que há na prevenção especial é a prevenção da reincidência. O objetivo da política criminal não se esgota apenas na infração penal, vai além. Para a prevenção da criminalidade, a política criminal atua em todas as áreas – políticas, sociais, culturais, econômicas – visando sempre impedir a prática de crimes. Dentre as providências para fins de prevenir a criminalidade, encontra-se a produção de leis, justas e humanas, adequadas com a realidade social e às necessidades do momento. Dessa forma, quem faz a política criminal acontecer é o legislador, tipificando crimes e estabelecendo as respectivas penas. 4.2. Movimentos de Política Criminal e criminologia no Brasil Alguns das propostas dos movimentos de política criminal merecem ser analisados a nível de Brasil. Por certo, nossos legisladores têm acolhido diversas ideias das mais variadas correntes na criação das leis. Também não estão isentos desta influência a doutrina nacional e as cortes de justiça. Nosso histórico quando nos sentimos acuado ante crimes bárbaros ou que pareçam nos ameaçar não é dos melhores. O legislador pátrio tem oscilado na aplicação de leis típicas do law and order, misturando-as com medidas liberais (formalmente) como as penas alternativas. Inexiste um sistema coerente no Brasil, as políticas criminais se misturam, de acordo, com os anseios da opinião pública. A história da criminologia no Brasil é marcada por dois grandes ciclos separados por um vale de pouca produção acadêmica. O primeiro ciclo da criminologia no Brasil, que se estende do final do século XIX até das primeiras décadas do século XX, é marcado pela recepção do positivismo criminológico italiano no país. Alguns estudiosos atuais costumam dizer que ainda que superada a ideia positivista, as faculdades brasileiras se apegaram muito à produção criminológica lombrosiana. Por isto os cursos de criminologia passam grande parte de suas cargas horárias dedicadas ao Positivismo Criminológico e pouco falam na criminologia clássica anterior e nas escolas que surgiram após o declínio da escola italiana. A popularização do positivismo criminológico no Brasil se deu graças aos trabalhos de João Vieira de Araújo (1844–1922), Viveiro de Castro (1862–1906) e Candido Motta (1897–1977). Mas o nome mais forte desta corrente, com reconhecimento internacional, foi sem dúvida o de Raimundo Nina Rodrigues (1862 – 1906). Nina Rodrigues foi o autofalante de Cesare Lombroso em solo nacional e usou a antropologia criminológica para difundir seus ideais racistas. Em seu principal ensaio escrito em 1894, intitulado “As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”, Nina afirma que “a raça negra no Brasil, por maiores que tenham sido seus incontestáveis serviços à nossa civilização, por mais justificadas
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