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CRIMINOLOGIA APLICADA À SEGURANÇA PÚBLICA - ESCRIVÃO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA 2022

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INDICE 
 
1. CRIMINOLOGIA, CONCEITOS, OBJETOS, MÉTODOS E FUNÇÕES............................................ 4 
1.1. CONCEITO ................................................................................................................................................ 4 
1.2. MÉTODOS ................................................................................................................................................. 4 
1.3. OBJETO...................................................................................................................................................... 4 
1.3.1. CRIME: ................................................................................................................................................... 5 
1.3.2. CRIMINOSO: ......................................................................................................................................... 5 
1.4. CONTROLE SOCIAL: .............................................................................................................................. 6 
1.4. FUNÇÕES ................................................................................................................................................... 7 
2. ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS .............................................................................................................. 7 
2.1. ESCOLA CLÁSSICA (ETAPA PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA) ....................................... 7 
2.2. POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO ........................................................................................................ 9 
3. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS ............................................................................................................ 10 
3.1.1. ESCOLA DE CHICAGO (TEORIA SOCIAL) ................................................................................... 10 
3.1.2. TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE ............................................................................... 11 
3.1.3. TEORIA DA ANOMIA ....................................................................................................................... 12 
3.1.4. TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL .................................................................................. 12 
3.2.1. TEORIA DA ROTULAÇÃO OU LABELING APPROACH (DÉCADA DE 1960) .................... 14 
3.2.2. CRIMINOLOGIA RADICAL, MARXISTA OU NOVA CRIMINOLOGIA (DÉCADA DE 70) . 14 
3.2.3. CRIMINOLOGIA ABOLICIONISTA (ANOS 90) .......................................................................... 15 
3.2.4. CRIMINOLOGIA MINIMALISTA (ANOS 90) .............................................................................. 15 
3.3. PRINCIPAIS TEORIAS SOCIOLÓGICAS SOBRE O CRIME .......................................................... 16 
3.3.1. A TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL ............................................................................................ 16 
3.3.2. A TEORIA DA ATIVIDADE DE ROTINA ...................................................................................... 18 
3.3.3. TEORIA DO PADRÃO CRIMINAL ................................................................................................. 21 
3.3.4 CRIMINOLOGIA AMBIENTAL......................................................................................................... 22 
3.4.1. TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS (BROKEN WINDOWS). TOLERÂNCIA ZERO ...... 26 
4. POLÍTICA CRIMINAL .......................................................................................................................... 28 
4.1. OBJETIVOS DA POLÍTICA CRIMINAL ............................................................................................. 28 
4.2. MOVIMENTOS DE POLÍTICA CRIMINAL E CRIMINOLOGIA NO BRASIL ............................. 29 
5. VITIMOLOGIA ....................................................................................................................................... 30 
6. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................................... 32 
 
 
 
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1. CRIMINOLOGIA, CONCEITOS, OBJETOS, MÉTODOS E FUNÇÕES 
 
1.1. Conceito 
Etimologicamente, Criminologia deriva do latim crimen (crimen, delito) e do 
grego logo (tratado), sendo o antropólogo francês Topinard (1830-1911) o primeiro a 
utilizar este termo, que só adquire reconhecimento oficial e chega a ser aceito 
internacionalmente graças à obra de Garofalo, o qual, junto com seus compatriotas 
italianos Lombroso e Ferri, podem ser considerados como os três grandes fundadores da 
Criminologia científica. 
A criminologia é a ciência que, através dos métodos empíricos (observação) e 
da interdisciplinariedade, se ocupa do estudo do crime, do criminoso, da vítima e do 
controle social. 
A criminologia não é uma ciência independente, mas atrelada a Sociologia e a 
apreciação científica da organização da sociedade humana. Ao lado da Sociologia, se 
mostra numa condição de contraste de ‘‘uma das mais jovens e uma das mais velhas 
ciências’’. Assim como a utilização de outras ciências aplicadas, ela baseia-se na 
observação, nos fatos e na prática, mais que em opiniões e argumentos. 
 
1.2. Métodos 
O método de trabalho utilizado pela Criminologia é o empírico. Busca-se a 
análise interdisciplinar e através da observação visa conhecer o processo, utilizando-
se da indução para depois estabelecer as suas regras. É, portanto, o oposto do método 
dedutivo utilizado no Direito Penal. 
Ao contrário do direito penal, que é dogmático, a criminologia estuda o 
fenômeno criminoso por meio de uma abordagem zetética – questionamento das 
premissas, permitindo suas críticas. A zetética surgiu na Alemanha e cria teorias, que 
podem ser revisitadas (ao contrário de dogmas). Ela não se limita pela legalidade e admite 
a invasão de outros saberes no estudo de sua análise, ou seja, não é normativa como é o 
Direito Penal. 
Se para o direto penal crime é um fato típico, ilícito e culpável, para a 
criminologia, crime significa mais do que esta simples definição dogmática. A criminologia 
busca compreender o porquê de uma conduta ser considerada criminosa, por exemplo. O 
direito penal está limitado pela legalidade. 
 
1.3. Objeto 
A discussão acerca do objeto da Criminologia é praticamente tão velha como 
a própria Criminologia. Conheceu, no entanto, períodos de maior intensidade e 
expressão, como sucederam, por exemplo, nos fins da década de trinta (do século 
passado), no II Congresso Internacional de Criminologia (Paris, 1950), ou ainda com a 
Criminologia Crítica. 
As primeiras escolas criminológicas tinham por objeto o estudo do crime ou 
do criminoso. A Criminologia moderna, porém, ambliou o rol de estudos e fundamenta 
 
 
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o seu objeto em quatro pontos fundamentais: o crime, o criminoso, a vítima e o 
controle social. 
 1.3.1. Crime: 
O conceito dogmático do direito penal não é suficiente para a criminologia, que 
busca os requisitos que uma conduta deve ter para merecer ser tratada como criminosa. 
Os requisitos são a incidência massiva da conduta, de modo que pouca 
ocorrência não justifica a tipificação. Ademais, o crime deve gerar dor e angustia, já queo 
simples dano é suportado pelo direito civil – requisito chamado de incidência afetiva. 
Outro é a persistência espaço temporal, de modo que o fato deve ser distribuído por todo 
o território e por longo período para que não se criminalize moda. O último requisito é o 
inequívoco consenso acerca da sua causa (etiologia), que é o estudo da causa do crime 
para saber se a criminalização será eficaz para evitar a prática da conduta. 
Ainda, é imperioso diferenciar a criminalização primária e secundária: 
 Criminalização primária se traduz no ato ou efeito de sancionar uma lei 
penal que incrimine certa conduta – um ato genérico, abstrato realizado 
pelo legislativo da união. 
 Criminalização secundária é a efetivação do programa de criminalização 
primária, ou seja, é a aplicação da norma penal – realizada de forma 
concreta e direta pelos órgãos de controle (executivo e judiciário – polícia, 
MP, justiça, administração penitenciária). 
 
A criminalidade busca como resposta do estado a prevenção, que se dá de 
forma primária, secundária e terciária: 
 Prevenção primária se dirige a raiz do problema de modo a agir antes 
que o crime ocorre eliminando os fatores que o ensejam – é uma 
prevenção de longo prazo, como investimento em educação, moradia, 
emprego e qualidade de vida em geral. Todavia, esta forma de 
prevenção não é efetivada, pois não gera repercussão midiática ou 
política. 
 Prevenção secundária atua quando o crime se manifesta e confunde-
se com a repressão penal (criminalização secundária). 
 Prevenção terciária atua após a condenação para evitar a reincidência 
– prevenção tardia – de modo a confundir com a ressocialização. 
 
1.3.2. Criminoso: 
O conceito de criminoso acaba por ser diferente em cada abordagem 
criminológica (escola criminológica). Ele é, de modo geral, entendido como um ser 
histórico, real, complexo e enigmático. 
 
1.3.3. Vítima: 
A vítima é o indivíduo ou comunidade que sofre diretamente as consequências 
 
 
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do crime e pode ser entendida como um sujeito capaz de influir significativamente no fato 
delituoso, em sua estrutura, dinâmica e prevenção. 
 Ao longo da história, a vítima foi tendo importâncias distintas na persecução 
penal: 
 Idade de ouro da vítima: a vítima era protagonista na solução do 
conflito, o qual era baseado na reparação do dano e eventual aplicação 
de sanção pela própria vítima. 
 Neutralização da vítima: após a idade média e a partir da criação do 
estado moderno, o estado avoca para si o monopólio da força e da 
solução dos conflitos. Surge a figura do ministério público, com os 
procuradores do rei, que assumem o papel da vítima anulando a sua 
atuação na persecução penal. Isto se deu pela força do catolicismo e 
pela influência das inquisições. 
 Revalorização: atualmente, há uma tentativa de restaurar a vítima 
enquanto sujeito de direito na persecução penal: transação penal, 
justiça restaurativa etc. 
 
Ao ser atingido por um fenómeno criminoso, a vítima passa por um processo 
chamado de vitimização. A vitimização primária se traduz no processo pelo qual passa 
o sujeito diretamente atingido pelo crime. Já a vitimização secundária é o fenômeno 
travado entre a vítima privada e o estado, como a burocracia, falta de informação, 
insensibilidade e exposição. Por fim, a vitimização terciária é a vitimização da vítima 
primária pelo meio social. 
 
1.4. Controle Social: 
É o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem 
promover a submissão dos indivíduos aos modelos e normas comunitárias (controle 
informal) e dogmáticas (controle formal). 
Toda sociedade necessita de mecanismos disciplinares que assegurem a 
convivência harmônica entre os indivíduos. Isto pode ocorrer de duas formas: 
 Informal: identificam-se com a sociedade civil, como família, escola, 
profissão e religião. Opera educando o indivíduo, sendo sutil e atuando 
ao longo da vida do indivíduo. Ou seja, são as formas usadas pela 
sociedade na busca pela pacificação social. 
 Formal: Identifica-se com o aparelho político do Estado, tais como 
polícia, justiça, MP, administração penitenciária entre outros. É um 
controle abrupto, atuando de forma episódica na vida da pessoa. 
 
ATENÇÃO! Polícia comunitária é sui generis, atuando formal e informalmente, 
pois é aparelho estatal que atua ao longo da vida do indivíduo construindo nele freios 
sociais informais. 
 
 
 
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O Estado possui diferentes formas de reagir diante de um fato delituoso. São 
três os modelos que preveem esta resposta: 
 Dissuasório Clássico: modelo que propõe a rápida aplicação do 
castigo, com o fim de dissuadir a sociedade e o indivíduo de praticar 
crimes (prevenção geral e especial). Aqui, agem apenas o criminoso e o 
Estado, deixando a vítima como mera testemunha. 
 Ressocializador: modelo que tenta incutir certa humanidade ao 
dissuasório clássico. Visa à reinserção social do agente. Aqui, a relação 
se mantém entre criminoso/estado. 
 Integrador: é um modelo de conciliação e reparação do dano. A solução 
do conflito deve ser encontrada pelos próprios protagonistas 
envolvidos no crime e no dano – sociedade, vítima e criminoso. É o 
modelo trazido pela justiça restaurativa. 
 
 
1.4. Funções 
 Na visão de Javier Alejandro Bujan, a função essencial da Criminologia atual 
consiste em analisar o fenômeno do crime em interação social, inclinando-se a ser uma 
ferramenta para a preservação dos direitos humanos e das garantias fundamentais dos 
cidadãos. 
Para García-Pablos de Molina, a função básica da Criminologia consiste em 
informar a sociedade e os poderes públicos sobre o delito, o delinquente, a vítima e o 
controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos – o mais seguro e contrastado – 
que permita compreender cientificamente o problema criminal a fim de prevenir o crime 
e tratar o criminoso. 
o Não é causalista com leis universais exatas; 
o Não é mera fonte de dados ou estatística; 
o Os dados são em si mesmos neutros e devem ser interpretados por teorias 
científicas; 
o É uma ciência prática preocupada com problemas e conflitos concretos, 
históricos; 
 
 
2. ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS 
 
 
2.1. Escola clássica (etapa pré-científica da criminologia) 
 
A escola clássica surge como uma forma de frear o poder estatal do rei fundado 
na desproporção da aplicação do direito penal. Na idade média, o poder do estado 
 
 
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confundia-se com o poder do déspota, de modo que a desproporção entre o crime e a 
aplicação da pena era apenas mais uma forma de demonstrar a grandiosidade absolutista 
do rei. 
Em Vigiar e Punir, Foucault inicia a análise da criminologia clássica justamente 
narrando uma pena corpórea de suplício – a punição do parricídio de Demiain. Diante do 
suplício, e da necessidade de legalizar o direito, a escola clássica se lança contra esta forma 
desproporcional de punição. 
Até meados da idade média, o poder era fragmentado e a persecução penal 
ficava predominantemente a cargo da vítima. Isto passa a mudar com o início da ascensão 
da burguesia e com o pleito de unificação estatal. Em suma, o poder foi concentrado nas 
mãos absolutas do Rei. A principal teoria que deu respaldo para tal consolidação estatal 
foi o Leviatã de Hobbes, segundo o qual o súdito confere, em contrato social, todos os seus 
direitos ao rei – inclusive os poderes de vida e morte. O Estado, assim, se coloca acima do 
indivíduo. 
Com o fortalecimentodo Estado, os intelectuais passaram a formar a 
administração pública e estes intelectuais estavam dentro do clero. O soberano, então, 
incorporou ao Estado o conhecimento vindo das universidades católicas criando a 
burocracia estatal. Neste contexto, o direito penal moderno foi brutalmente influenciado 
pela igreja católica e, sobretudo, pela santa inquisição. 
A igreja católica criou as primeiras equipes incumbidas de descobrir a verdade 
e aplicar as sanções, já que os crimes que inicialmente eram investigados pela inquisição 
eram crimes contra a força divina. O Estado incorporou essa forma de agir diante do 
indesejado. Ora, se os pecados atentavam contra Deus, os crimes, de igual modo, 
atentavam contra o rei (todo crime era tido como um “regicídio”). Foi então que o Estado 
retira a vítima do centro do conflito criminal, saltando da idade de ouro para um período 
chamado de neutralização da vítima. 
É neste período que o Estado toma para si o monopólio da força criando o 
processo inquisitivo de punição do indesejado. É neste processo que a ideia de dano é 
substituída pelo conceito de crime, que não afeta mais o indivíduo e sim o soberano, 
confundindo-se com desobediência. A vítima é expropriada do conflito e alterada pela 
figura dos procuradores do rei (ministério público). A imposição da pena passa então a 
ser a expressão do poder soberano. 
As penas do antigo regime se traduziam, sobretudo, em sanções corporais e 
estigmas (marcas). A mutilação, o castigo corpóreo e o estigma eram penas 
frequentemente aplicadas pelo antigo regime, de modo que o crime estava escrito na pele 
do indivíduo. O poder punitivo era exercido de forma pública por meio de espetáculo, um 
espetáculo de desequilíbrio e excesso – não interessava ao rei aplicar a pena de forma 
proporcional, uma vez que a crueldade demonstrava aos demais súditos a medida de seu 
poder. 
Ademais, outra forma de punição era a aplicação de trabalhos forçados. Com a 
evolução do comercio e do capitalismo, um grande contingente ficou sem atividade. Um 
modo de educar e condicionar essa população para as normas formas de trabalho era por 
meio das penas. Por fim, a pena de prisão era uma forma cautelar de esperar a verdadeira 
punição (castigos ou trabalhos forçados). Ou seja, a pena privativa de liberdade não era 
prioritária, entretanto, a mesma era aplicada sem critério, prendendo-se homens, 
 
 
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mulheres, crianças, idosos e deficientes juntos e sem qualquer prazo pré-estabelecido. 
Contrapondo a esta ideia surge o Iluminismo. Para Locke, na passagem para 
um estado civil (contrato social) o homem conserva certos direitos que devem ser 
respeitados pelo soberano, tais como vida, liberdade, propriedade e honra. Esta nova 
concepção causou profundo impacto no direito penal consubstanciado na escola clássica. 
A escola clássica nada mais é a incorporação da teoria iluminista no direito penal. 
O principal autor da escola clássica foi o Cesare Bonesana (Marques de 
Beccaria) juntamente com sua principal obra: Dos Delitos e Das Penas (1764). É o livro que 
fundamenta todas as garantias penais e constitucionais dos dias atuais. A escola clássica 
não é etiológica (não se preocupa com as causas do crime) ou empírica – razão pela 
qual é chamada de escola pré-científica. 
Para Beccaria, o crime é uma escolha racional cometido por indivíduo 
dotado de livre-arbítrio. O crime nada mais é que a violação do contrato social. Para 
ele, a pena não pode representar, entretanto, mera vingança, mas deve ter como 
função prevenir a reiteração daquele ato. Neste sentido, para que seja eficaz, a pena 
deve se dar na medida da culpabilidade, o que dá ensejo a uma série de limitações ao 
poder de punir. A escola clássica é, assim, responsável pela elaboração das principais 
garantias processuais penais: legalidade, proporcionalidade da pena, vedação ao confisco, 
vedação de penas cruéis etc. 
 
2.2. Positivismo criminológico 
 
A colonização da África e Ásia pelas populações europeias deu margem para a 
criação de diversas teorias racistas que tentavam justificar a soberania biológica de uns 
sobre os outros – o colonizador tentava provar sua superioridade perante o colonizado 
para justificar seus atos. 
Na busca pela relação entre biologia e comportamento, diversas correntes 
teóricas surgiram na Europa. A fisiologia, uma delas, é o estudo da aparência externa do 
indivíduo. Lavater propõe um retrato do “homem da maldade natural” – pessoa que 
reuniria todas as características malignas da aparência humana. Já a frenologia estudava 
o cérebro humano atribuindo o comportamento criminoso às más formações cerebrais. 
Ainda, a antropologia estudava o crânio dos indivíduos e, por fim, a teoria da evolução das 
espécies de Darwin – distorcida de forma a justificar a evolução de determinadas 
populações em detrimento de outras. 
Dentre os principais teóricos do positivismo, o mais conhecido deles foi o 
italiano Cesare Lombroso. Para ele, o criminoso nato sofre de uma enfermidade chamada 
regressão atávica, reproduzindo os instintos ferozes da humanidade primitiva. Este 
criminoso apresenta características físicas peculiares através das quais seria possível 
presumir o seu comportamento criminoso (determinismo biológico). Assim, para 
Lombroso, o criminoso nato era um doente social. Por outro lado, foi ele quem inaugurou 
o método empírico, que marca a criminologia, ou seja, o método de análise da sociedade. 
Sua principal obra – e do próprio positivismo – é o Homem delinquente (1876). 
Outro importante teórico do positivismo foi Enrico Ferri, discípulo do 
Lombroso que evoluiu em seus estudos dizendo que fatores sociais e climáticos (fatores 
 
 
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telúricos: clima, temperatura e estações do ano) também influenciavam o criminoso, 
assim como os fatores biológicos. Por isso, é conhecido como o pai da sociologia criminal. 
Por fim, outro importante estudioso positivista foi Raffaele Garofálo. Ele 
acreditava que os criminosos não possuíam qualquer freio biológico que impedisse 
crimes contra a vida ou a propriedade alheia. Desenvolveu o conceito de periculosidade 
(temeritá) o qual serviu de base para o desenvolvimento da teoria das medidas de 
segurança. Além disso, defendia a pena de morte. 
Em resumo, o positivismo inaugura a etapa científica da criminologia 
com o método empírico. É uma corrente determinista biológica, ou seja, acreditam na 
predeterminação entre a constituição física do homem e seu comportamento – não se fala 
em livre-arbítrio (crítica à escola clássica). Ainda, o positivismo é etiológico, visto que 
busca descobrir as causas do crime. Por fim, o positivismo é antiliberal, já que 
pressupõe a sobreposição da ordem social em detrimento dos interesses individuais. 
 
 
3. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS 
 
 
3.1. Teorias do consenso (explicativa): segundo esta teoria, a sociedade é 
uma máquina em perfeita harmonia. Todos os cidadãos concordam com os fins sociais. 
Dentro dessa perspectiva o crime é um fato anormal em uma sociedade considerada 
saudável. Todas as quatro escolas do consenso são etiológicas, ou seja, buscam a causa do 
crime. 
 
3.1.1. Escola de Chicago (Teoria Social) 
A Escola de Chicago surge no contexto de explosão demográfica do início do 
século XX e, consequentemente, do aumento da criminalidade na cidade norte-americana. 
Rockefeller decide então financiar uma nova universidade, epistemológica e pragmática, 
que buscaria solucionar tais questões. 
Adotaram uma visão ecológica da cidade de Chicago (criminologia ecológica), 
decompondo a estrutura urbana em áreas e zonas (modelo radial). Priorizaram a coleta 
de dadosestatísticos e a confecção de instrumentos cartográficos – a Escola de Chicago é 
também chamada de ecologia criminal, porém este é apenas um de seus métodos de 
estudo. 
É publicado o livro O Camponês Polonês na Europa e América (1918-20) cuja 
principal constatação é a de que os indivíduos não cometiam crimes em seu país de 
origem, mas cometiam na cidade de Chicago. Esta constatação fragilizou o positivismo 
criminológico – a fisionomia era a mesma, mas o comportamento criminoso mudou de um 
local para o outro. 
A cidade foi dividida em zonas, seguindo o modelo radial, para que fosse 
realizado o estudo criminológico. Dentro das zonas, no círculo central concentravam o 
LOOP – fábricas e bancos. No segundo círculo do modelo radial estavam as habitações de 
baixo custo – cortiços, construções degradadas, prostíbulos e outros, chamado de SLUM. 
 
 
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É neste circulo que passam a morar os grupos de imigrantes (negros do sul e poloneses) 
e onde se concentrava a maior incidência da criminalidade. No terceiro, quarto e quinto 
círculos encontravam-se respectivamente a classe baixa, média e alta. 
 
A conclusão da Escola de Chicago é que a causa do crime é a 
desorganização social, ou seja, ausência de controle social informal em razão da 
grande mobilidade social, bem como pela degradação urbana e pela barreira linguística, 
a qual impedia a criação de círculos de proteção e amizade. 
Como solução para o problema, a Escola de Chicago propunha retomada do 
controle social informal – religião, escotismo etc. A Escola de Chicago, com a ideia de 
desordem social, deu margem para que posteriormente criassem a teoria da janela 
quebrada. 
 
 
3.1.2. Teoria da Subcultura Delinquente 
 
Entende-se por cultura os modelos de ação identificáveis na palavra e na 
conduta dos membros de uma mesma comunidade e que são transmitidos de geração para 
geração – conjunto de valores de uma determinada sociedade. Por outro lado, a subcultura 
é a cultura dentro da cultura, mas com padrões opostos aos dominantes. Salienta-se que 
a subcultura não pretende substituir ou destruir a cultura dominante, uma vez que está é 
a função da contracultura. 
A teoria da subcultura delinquente teoria não buscou se tornar uma 
etiologia geral da criminalidade, apenas buscava estudar os crimes cometidos no 
âmbito de grupos sociais específicos – subculturas nas quais o valor dominante é o 
descumprimento da lei. Esta concepção também rompe com o positivismo criminológico, 
pois entende que delinquentes são as culturas e não os indivíduos. 
O principal objeto de estudo desses sociólogos era a delinquência juvenil. O 
adolescente, por natureza, se encontra em uma fase de instabilidade e inconformidade. 
Além disso, a impossibilidade material de se alcançar o American way of life reforça o 
sentimento de frustração, revolta e humilhação desse grupo juvenil. O escape para essa 
pressão é repudiar o jogo do sucesso, estabelecendo novas regras facilmente realizadas. 
O sucesso nessa subcultura é a desordem e o crime. 
Esta teoria é criada por Albert Cohen na obra Delinquent boy. Cohen detecta 
 
 
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três características específicas desses subgrupos: não utilitarismo (crime sem finalidade 
útil); malícia (prazer em desconsertar o outro); e o negativismo (criminalidade é 
considerada correta para a subcultura que porque o sucesso é o correto para a cultura). 
 
3.1.3. Teoria da Anomia 
A anomia significa a ruptura dos padrões sociais que comandam a conduta 
(sociedade sem lei). A teoria da anomia se divide em duas correntes: corrente de Émile 
Durkheim (1890) e Robert K. Merton (1938). 
Segundo Durkheim, o crime decorre da anomia, isto é, do desregramento. Ele 
entendia que toda sociedade regrada verifica um nível de criminalidade, mas desde que 
mantida estável, a criminalidade é funcional e saudável na sociedade capitalista (a 
punição do infrator reforçaria os valores vigentes para os demais cidadãos – função da 
atual prevenção geral). 
Por outro lado, Merton entendia por anomia a lacuna entre o sucesso e os 
meios necessários para atingi-lo, podendo o sujeito agir de diferentes formas dentro dessa 
lacuna: 
 
No conformismo, o indivíduo atua seguindo os meios na busca pelos fins – 
ainda que ele se conforme na possibilidade de jamais atingir esse sucesso. A inovação, ao 
contrário, se dá nos meios. Ele inova nos meios, buscando métodos criminosos, para 
alcançar o fim – a inovação se refere sempre aos meios ilegítimos para realizar os 
objetivos culturais. 
Já no ritualismo, a pessoa segue o ritual dos meios para atingir os fins, ainda 
que ele não esteja conformado com esse ritual – ele não inova por medo das 
consequências. Na evasão, o indivíduo não busca os meios e nem quer alcançar os fins, 
visto que ele se exclui do padrão cultural (ex.: pessoas em situação de rua). A rebelião 
rejeita em parte os meios e fins – apenas os praticam em partes com o fim de alterar esse 
ritual (se confundem com a contracultura). 
 
3.1.4. Teoria da associação diferencial 
Até quebra da bolsa de 1929, a economia americana era desregrada 
(liberalismo econômico) contribuindo para a crise que se instaurou no país. Neste 
período, os índices de criminalidade aumentaram junto com a miséria e o desemprego. O 
 
 
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governo americano passa a regrar a economia, conceder direitos aos trabalhadores e 
tipificar condutas cometidas por pessoas das classes altas e grandes empresas (New Deal 
– Roosevelt). 
Tais medidas diminuíram as margens de lucro do empresário, o que fez com 
que muitos passassem a atuar na ilegalidade. É neste contexto que surge o crime de 
colarinho branco, cuja etiologia não era explicada pela criminologia até então 
desenvolvida. Segundo Edwin Sutherland, pesquisador que buscou explicar a etiologia 
deste tipo de crime, colarinho branco é a conduta cometida no âmbito da profissão por 
pessoas de alta respeitabilidade social. 
Sutherland percebeu que uma parcela ínfima desses crimes leva à condenação 
criminal – ele investigou mais de 80 empresas norte-americanas e percebeu que 91% 
delas era reincidente na pratica criminosa, mas que apenas 9% eram levadas à justiça por 
essas condutas (sendo que menos da metade chagava a ser condenada). 
Ele entendia que grande parte desses crimes entrava na cifra dourada da 
criminalidade. O termo foi uma criação a partir do conceito de outro teórico, que criou a 
ideia de cifra nega da criminalidade. Segundo a criminologia, a cifra oculta da 
criminalidade é a diferença entre os crimes cometidos e o número que chega ao 
conhecimento do controle formal. Sutherland criou, por analogia, a cifra dourada da 
criminalidade, que é a ausência da criminalidade de colarinho branco nas estatísticas 
sociais. 
Sutherland foi o primeiro a destacar a potencialidade lesiva dos crimes de 
colarinho branco. Segundo ele, o custo social do crime de colarinho branco é maior que o 
custo de todos os crimes vistos como problema, já que gera dano social a longo prazo 
muito acima dos demais crimes, corroendo a estrutura do Estado. É diante disto que ele 
questiona a falta de punição desses crimes. 
Entende o estudo que há um tratamento diferenciado, uma associação 
diferenciada no trato do crime de colarinho branco em relação aos demais. Ou seja, 
o agente possui um status que dificulta a aplicação da pena. O criminoso de colarinho 
branco gera uma mistura de medo e admiração nos legisladores e nos juízes, além disso, 
os juízesse identificam com tais agentes, pois habitam os mesmos bairros, frequentam os 
mesmos lugares e possuem o mesmo estilo de vida. 
A cifra dourada é também responsável por essa falta de punição, pois dificulta 
que a população entenda os crimes de colarinho branco como crime de potencialidade 
agressiva. A administrativização se traduz na clássica opção que o Estado tem de 
submeter o crime de colarinho branco às instâncias administrativas, denotando clara 
preferência arrecadatória. 
Por fim, outro fator que demonstra o tratamento diferenciado é o 
ressentimento diferenciado. É que as leis e condutas complexas referentes aos crimes de 
colarinho branco, somadas ao caráter difuso da vítima, faz com que a sociedade não se 
sinta diretamente atingida por tais delitos, dificultando sua punição. 
 
3.2. Teorias do conflito: para tais teorias, a sociedade não é harmônica, mas 
dividida em classes – opressora e oprimida. Dentro desta perspectiva, a criminalidade é 
decorrência da luta de classes e está impregnada na sociedade: “crime não é uma doença 
 
 
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na sociedade saudável, é a própria sociedade que está doente”. Ao contrário da teoria do 
consenso, que é etiológica, as teorias do conflito estudam a resposta estatal ao 
conceito de crime (interacionista). Buscando a resposta sob o ângulo de uma 
problemática maior, defende que não há outra solução para o problema criminal senão a 
construção de uma nova sociedade, mais justa, igualitária e fraterna; menos consumista e 
menos sujeita às vicissitudes dos poderosos. 
 
3.2.1. Teoria da Rotulação ou Labeling Approach (década de 1960) 
 Esta teoria considera que as questões centrais da teoria e da prática 
criminológicas não se relacionam ao crime e ao delinquente, mas, particularmente, ao 
sistema de controle adotado pelo Estado no campo preventivo, no campo normativo e na 
seleção dos meios de reação à criminalidade. No lugar de se indagar os motivos pelos 
quais as pessoas se tornam criminosas, deve-se buscar explicações sobre os motivos pelos 
quais determinadas pessoas são estigmatizadas como delinquentes. 
A teoria do labbelling approach surge no período de contracultura, década de 
1960, que criticava e pretendia substituir a cultura em vigor. A partir dessa década, os 
EUA elegeram três governos conservadores e passaram a se empenhar em criar uma 
máquina de guerra que pudesse derrotar a URSS durante a Guerra Fria. 
A Guerra do Vietnã passa a gerar danos aos jovens americanos. Além disso, a 
população começa a perceber que o sonho Americano não é acessível a todos. Tais 
circunstâncias dão margem para o surgimento de grupos de contracultura (movimento 
‘hippie’ pacifista, feminista e negro). Estes movimentos geraram descontentamento no 
governo americano, o qual, no intuito de cerceá-los, passa a associa-los a certos crimes. 
Para a criminologia, isto evidenciou o fato de que a criminalidade não é algo 
natural, mas algo manipulável pelo Estado. O Estado escolhe quem será punido, ou seja, 
rotulado pelo estado, ou seja, o crime nada mais é do que aquilo que a sociedade 
define como fato punível. 
O crime deixa de ser um defeito inerente ao indivíduo e passa a ser entendido 
como o resultado da produção legislativa sujeito a diversas influências – política, pessoal, 
religiosa, midiática –, de modo que Howard Becker (1963) entendida que “nenhum ato é 
criminoso por si só, o que é criminoso é o rótulo que lhe é imposto”. Esta concepção, 
provocou um giro de enfoque na criminologia do criminoso para o ente punitivo 
(instâncias que criam e administram a criminalidade). 
 
 
3.2.2. Criminologia Radical, Marxista ou Nova Criminologia 
(década de 70) 
 
Baseia-se na análise marxista da ordem social. Critica a Teoria da Rotulação e 
a Etnometodologia, pois, fundamentalmente, não se diferenciariam da Criminologia 
Tradicional, funcionando para a conservação da ordem social opressiva. Considera o 
problema criminal insolúvel em uma sociedade capitalista, sendo necessária a 
transformação da própria sociedade. 
 
 
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Punição e estrutura social é o livro que marca o início da criminologia crítica, 
escrito pelos alemães Otto Kircheimeir e George Rushe. A União de Criminólogos Radicais 
se reuniu antes de ser censurada na universidade de Berkeley, nos EUA, para estudar uma 
criminologia mais crítica – durou pouco em razão do momento antissocialíssimo que os 
EUA viviam. Na França, um nome que sobressaiu nesse período foi o de Foucault e na 
Itália, a Escola de Bolonha com Baratta. Na Inglaterra, houve uma efervescência dessa 
criminologia com National Deviance Conference. É deles o livro a Nova Criminologia. 
Para Baratta, o direito penal é o direito desigual por excelência. Eles 
contradiziam a ideia de igualdade do direito penal, que defende o mito de que o direito 
penal protege igualmente todos os cidadãos em face de ofensas a bens essenciais, nos 
quais todos estão interessados. A igualdade do Direito Penal passa a ser negada pela nova 
criminologia, que repudia a ideia de que a lei penal seria igual para todos, isto é, todos os 
autores de crimes teriam iguais chances de serem alvos do processo de criminalização. 
Para eles, o Direito Penal não defende apenas bens essenciais e quando o faz, 
faz de maneira seletiva. Entendem que a lei penal não é igual para todos e a aplicação do 
status de criminoso independe da gravidade da ação. A nova criminologia refuta a teoria 
do consenso, entende que os atos são criminosos porque a classe dominante tem interesse 
de puni-los. Segundo seus teóricos, o delito é um fenômeno inerente à sociedade 
capitalista e as classes mais pobres são rotuladas e as mais ricas não, pois são as classes 
mais ricas são as detentoras dos meios de produção, do controle do Estado e da lei 
(prevenção primária e secundária). A criminologia crítica opunha-se à ideia clássica de 
livre-arbítrio. 
Segundo a teoria, definir certas condutas como criminosas permite maior 
controle sobre o proletariado, acentuando a hostilidade do oprimido para longe dos 
opressores e em direção à sua própria classe – seleção vitimizante. Surgiram como 
derivação dessa teoria o neorrealismo de esquerda, o garantismo penal e o abolicionismo 
penal. 
 
3.2.3. Criminologia Abolicionista (Anos 90) 
Apresenta a proposta de acabar com cultura punitiva da vingança, do 
ressentimento e do julgamento propondo o fim da prisão e, em muitos casos, do próprio 
Direito Penal. A criminologia abolicionista questiona a seletividade sócio-política do 
sistema penal moderno e a ineficácia das prisões. Refuta, ainda, natureza ontológica do 
crime, ao mostrá-lo como criação histórica, na qual a criminalização de comportamentos, 
em maior ou menor quantidade, depende das épocas e das forças sociais em confronto. O 
abolicionismo funciona segundo a ideia integradora de resposta ao crime embasada na 
era de revalorização da vítima com políticas de conciliação e justiça restaurativa. 
 
3.2.4. Criminologia Minimalista (Anos 90) 
Assim como os abolicionistas, questiona a ineficácia das prisões e a 
seletividade do Direito Penal, porém não vê fora deste sistema a solução para todos os 
problemas criminais. Assim, sustenta que é preciso limitar o Direito Penal, que está a 
serviço de grupos minoritários, tornando-o mínimo, porque a pena, representada em sua 
manifestação mais drástica pelo Sistema Penitenciário, é uma violência institucional que 
 
 
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limita direitos e reprime necessidadesfundamentais das pessoas, mediante a ação legal 
ou ilegal de servidores do poder, legítima ou ilegitimamente investidos na função. 
 
3.3. Principais Teorias Sociológicas Sobre o Crime 
 
3.3.1. A Teoria da Escolha Racional 
Teoria da Escolha Racional (CORNISH & CLARKE, 2003) tem suas raízes 
fortemente assentadas nas teorias clássicas e nas teorias econômicas sobre o crime, que 
sustentam que o comportamento criminal é, em grande medida, decorrência de uma 
escolha racional do indivíduo a respeito dos benefícios e custos de se cometer o crime. 
Supõe-se que, se houver uma chance ou uma boa oportunidade, qualquer 
pessoa irá praticar um crime. Os adeptos desta teoria consideram que alguns fatores 
estão envolvidos no processo de decisão tais como: 
a) Fácil acesso à mercadoria a ser roubada; 
b) Baixa probabilidade de ser descoberto; 
c) Utilidade da mercadoria para o ofensor; 
d) Sentimento de estar anônimo durante o evento. 
 
Os indivíduos, então, decidem praticar um crime segundo uma escolha que 
represente um esforço para maximizar os benefícios e minimizar os custos de realizar o 
crime. Para Cornish e Clarke, essa escolha ocorre, geralmente, de duas fases: 
 
 Modelo de envolvimento inicial: o indivíduo decide se está disposto a se 
envolver em um crime para satisfazer suas necessidades. Nesse sentido, ele considera 
os diferentes caminhos para atender tais necessidades, alguns deles criminosos. Se 
decidir por uma opção criminosa, levará em consideração toda aprendizagem prévia, 
código moral próprio e percepção de si mesmo, além de sua experiência anterior na 
prática de crimes. Em seguida, realizará um planejamento inicial (ainda que apenas 
em sua mente) e uma previsão de possíveis resultados. Esta fase é a que Cornish e 
Clarke denominam “modelo de envolvimento inicial”. 
 Modelo do evento criminal: Cornish e Clarke explicam que, uma vez 
decidido a cometer o crime, o indivíduo decide, então, qual crime cometer. Essa decisão 
estará influenciada diretamente pela situação imediata em que o indivíduo esteja 
inserido. Em seguida, ele decide o alvo de seu crime, baseado na análise de benefício-
custo que realiza. Tal decisão estará fortemente influenciada na disponibilidade e no 
valor do alvo e na ausência do guardião, cuidador ou administrador e nos riscos que 
terá que correr. 
Assim, estes estudiosos entendem que os criminosos empregam diferentes 
modelos de tomada de decisão para os diferentes tipos de crimes que decidem cometer. 
 
 
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DECISÃO
Cometer um furto
LOCAL SELECIONADO
(Ex: Bairro de Classe 
Média)
- Facilidade de acesso
- Pouco patrulhamento 
policial
- Baixo nível de segurança 
residencial
- Grandes jardins
CRIME REALIZADO
- Ninguém em casa
- Objetos de alto valor
- Afastada
- Portas de acesso no jardim
- Arbustos e outras 
coberturas
- Esquina
LOCAL REJEITADO
(Ex: Bairro de Classe 
Média)
- Desconhecido
- Distante
- Vizinhança atenta
- Sem transporte público
CRIME NÃO REALIZADO
- Vizinhos curiosos
- Alarme contra roubo
- Sem acesso por trás
- Visibilidade desde a rua
- Janelas trancadas
- Cachorro
Fonte: Cullen e Agnew. Criminological Theory: past to present; essential readings. 2 ed. 2003, 
MODELO DE EVENTO CRIMINOSO
 
 
A preocupação da teoria no âmbito da segurança pública, e da ação policial, é 
o desenvolvimento de mecanismos que impeçam a fácil disponibilização de alvos 
compensadores, ou que permitam a maior presença de dispositivos ou condições de 
proteção sobre o alvo ou vítima, aumentando a dificuldade de acesso e, portanto, 
diminuindo os prováveis benefícios para o criminoso potencial. 
A ausência dessas condições poderá implicar em oportunidade contínua para 
a ocorrência de crimes. Um exemplo típico é o volume de veículos em grandes 
estacionamentos, que são deixados sem as mínimas condições de segurança, ou em 
condições atrativas para potenciais tentativas de crime. 
Em termos de prevenção, uma aplicação decorrente da Perspectiva da 
Escolha Racional é o que se convencionou chamar Prevenção Situacional de Crimes. 
 
 
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3.3.2. A Teoria da Atividade de Rotina 
A teoria propunha uma abordagem explicativa para as tendências criminais 
crescentes nos anos 60 e 70 nos Estados Unidos, que apesar de estarem em boas 
condições econômicas, experimentavam um aumento significativo nas taxas de crime, 
particularmente os crimes violentos e os relacionados a propriedades. 
Considerada como complementar à Teoria da Escolha Racional, a Teoria da 
Atividade de Rotina busca demonstrar o meio que os criminosos utilizam para 
encontrar alvos e oportunidades apropriados no decorrer de suas atividades e 
interações sociais diárias. A atenção da teoria está voltada para o que ocorre quando 
criminoso e alvo/vítima se encontram em um determinado momento no tempo e no 
espaço (VELLANI e NAHOUN, 2001). 
 
- O Triângulo do Crime ou o Triângulo do Problema: A Teoria da Atividade 
de Rotina tem como base um dos conceitos que se encontra no cerne da perspectiva 
ambiental, particularmente no âmbito das “teorias da oportunidade” discutidas por 
FELSON e CLARKE (1998), que é o de Triângulo do Crime ou Triângulo do Problema 
(Fig. 3). 
CRIME
------------------
PROBLEMA
O
fe
n
so
r
G
u
a
rd
iã
o
Vítima/Alvo
 
 
 
Segundo FELSON e CLARKE (1998), para que o crime ocorra, deve haver uma 
convergência de tempo e espaço entre, no mínimo, três elementos: um provável ofensor 
ou criminoso motivado, um objetivo apropriado que pode ser uma pessoa ou objeto que 
represente alguma vantagem ou valor para o criminoso, e a ausência de um guardião 
capaz de agir contra crime. 
A abordagem considera o provável ofensor como um dado pré-existente e 
foca-se nos outros dois elementos. O guardião não é, necessária e normalmente, um 
policial ou um vigilante, mas uma pessoa qualquer cuja presença possa desencorajar a 
ação criminosa e, consequentemente, o crime. Desse modo, uma dona de casa, um 
porteiro, um vizinho ou mesmo um colega de trabalho tenderiam a se configurar como 
guardião por suas simples presenças no local. 
 
 
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Para exemplificar, imaginemos um usuário de drogas que se encontra sem 
dinheiro para comprá-las, mas que já está começando a sentir o efeito de sua privação – 
ele está fortemente motivado. Este usuário vem caminhando pela rua e percebe uma 
adolescente que vem caminhando em sentindo contrário ouvindo música em seu 
celular, com fone de ouvido. Ele olha em volta e percebe que a rua está vazia e não há 
ninguém que possa detê-lo e observa que a vítima está distraída com a música. Então 
ele aborda a adolescente, a ameaça com um canivete que trazia no bolso, toma o 
aparelho e sai rapidamente do local. 
O papel de guardião é desempenhado por uma pessoa ou um grupo de 
pessoas que estejam no local ou até mesmo por algum tipo de dispositivo de segurança 
que monitore o ambiente e impeça o comportamento do ofensor, tais como: câmeras de 
filmagem, alarmes, ofendículos, entre outros. 
Em 2003, John Eck, a partir de estudos de vitimização, expandiu o triângulo, 
agregando-lhe outro fator, agora externo, cuja representação aponta para os elementos 
que devem ser agregados ao triângulo original, como componentes que podem ser 
adicionados ao ambiente com a finalidade de redução ou supressão do problema. 
CRIME
------------------
PROBLEMA
O
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so
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Vítima/Alvo
C
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te
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do
r
Guardião
 
A proposição de Eck foi a de agregar ao triângulo original os elementos de 
auxílio na “neutralização” das oportunidades de crime. Os administradores são 
aquelas pessoas que, em razão do emprego que ocupam, têm a responsabilidade de zelar 
por algum lugar, tais como: gerentes de hotel ou supermercados, síndicos de prédios, 
diretores de escola, entre outros. Já os cuidadores são aquelas pessoas que conhecem o 
ofensor e têm condições de exercer certo controle sobre sua ação. Podem possuir um 
grau de parentesco ou ser uma pessoa que desempenha uma atividade que exerce algum 
tipo de controle sobre as ações do ofensor. (ex.: professores, funcionários do serviço 
Psicossocial da Justiça). 
É interessante observar, entretanto, que a convergência de alvo/vítima e 
criminoso no espaço e no tempo, não é em si mesma o fator que cria a oportunidade de 
crime. Aqui, há que se retomar o triângulo do crime como orientador dessa 
compreensão. Para que um crime seja potencialmente possível sob a ótica da Teoria da 
Atividade de Rotina, primeiro, o potencial ofensor deve estar disposto a cometer um ato 
ilegal e não estar sob controle do “cuidador”. Segundo, o lugar da interação deve ser um 
no qual não haja qualquer tipo de proteção ou controle por parte de alguém ou de algum 
 
 
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dispositivo; e, por fim, esse encontro deve ocorrer sem a presença de um “guardião” que 
tivesse a possibilidade de impedir, de fato, a ocorrência da ação criminosa. 
Um fator relevante, sob a ótica da teoria, é o estilo de vida das pessoas. 
Especialistas consideram que a ocorrência de um crime está fortemente relacionada ao 
estilo de vida da vítima. Considera-se estilo de vida como sendo a atividade de rotina 
diária da pessoa, tanto para o trabalho, como também para o descanso e o lazer. Outros 
fatores que também interferem no processo de vitimização são: a idade, o sexo, o estado 
civil e renda familiar entre outros. 
Um dos exemplos clássicos citados por Cohen e Felson é o do aumento das 
taxas de crime de roubo e furto em residências nos anos 60 nos Estados Unidos. Eles 
explicam que, naquele período, o número de pessoas adultas que permaneciam nas 
residências decrescia cada vez mais pela necessidade crescente de as mulheres terem 
que participar da força de trabalho. Enquanto as mulheres estavam no trabalho, as 
crianças permaneciam em creches e as residências ficavam vazias durante o dia, 
propiciando um quadro completamente favorável ao crime (SIEGEL, 1995). 
 
- A Oportunidade como Facilitadora de Crimes: Considerado o 
comportamento individual como um produto da interação entre a pessoa e o ambiente 
em sua volta, FELSON e CLARKE (1998) criticam a maioria das teorias sociológicas por, 
segundo eles, se preocuparem apenas com o primeiro componente, ou seja, com o 
comportamento do indivíduo – negligenciando as contingências do meio, isto é, as 
oportunidades. 
As oportunidades são as condições necessárias para a ocorrência do crime e 
servem como uma motivação para o indivíduo. FELSON e CLARKE (1998) 
estabeleceram os dez princípios básicos em relação à oportunidade como condicionante 
de crimes, são eles: 
1. A oportunidade tem um papel importante na causa dos crimes; 
2. A oportunidade para o crime é altamente específica; 
3. As oportunidades para o crime são concentradas no tempo e no 
espaço; 
4. As oportunidades para o crime dependem do movimento das 
atividades diárias; 
5. Um crime produz oportunidades para outros; 
6. Alguns produtos oferecem mais oportunidades tentadoras para o 
crime; 
7. Mudanças sociais e tecnológicas produzem novas oportunidades de 
novos crimes; 
8. O crime pode ser prevenido pela redução das oportunidades; 
9. Reduzindo as oportunidades, geralmente não há deslocamento do 
crime; 
10. A redução das oportunidades pode produzir declínios nas taxas de 
crime. 
 
 
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O exame das atividades de rotina de indivíduos e de propriedades, o 
reconhecimento da existência de oportunidades de crime sob a ótica do triângulo do 
crime e a compreensão dos tipos de crime que podem ocorrer em determinadas 
circunstâncias, configuram um conjunto de informações que possibilita o 
desenvolvimento de planos e ações para a redução do crime. Cuidadores e 
Administradores, entre eles os operadores do sistema de segurança pública, têm a 
capacidade de, segundo a lei, criar mecanismos que regulem e/ou limitem a rotina das 
pessoas. Assim como engenheiros de tráfego anonimamente fazem o bem, projetando 
sistemas viários que minimizem o perigo para os cidadãos, os arquitetos, planejadores, 
administradores e operadores dos sistemas de governo deveriam, quieta e 
discretamente, ajudar a prevenir crimes através da redução das oportunidades (Felson 
e Clarke, 1997 apud VELANI e NAHOUN, 2001). 
 
3.3.3. Teoria do Padrão Criminal 
De acordo com BOBA (2005) a teoria baseia-se no fato de que o crime é mais 
propenso a ocorrer em uma área geográfica de atividade do ofensor que tenha 
interseção com a área geográfica de atividade da potencial vítima ou alvo. Segundo 
Brantigham (apud WANG, 2005) a distribuição de crimes segundo o lugar em que 
ocorrem é descrita pela distribuição espaço-temporal de ofensores, alvos/vítimas 
e guardiães. A distribuição desses três elementos no espaço e no tempo, segundo certos 
lugares, poderia ser prevista em função de suas atividades de rotina. 
A teoria leva em conta o movimento do ofensor e busca explicar por que 
determinadas áreas têm maior probabilidade de presença de criminosos que outras. 
Existem áreas, propõe a teoria, em que há uma interseção entre as atividades do ofensor 
e da vítima. Tais áreas são, muitas vezes, constituídas de lugares-comuns a ambos e que 
detêm atrativos para a vítima e, consequentemente, para o ofensor. 
São áreas onde há grandes aglomerações de pessoas, veículos ou grandes 
movimentos; também podem ser áreas com baixa densidade demográfica (flutuante ou 
não) que possibilitam a ação do ofensor de forma facilitada, sobretudo quando há a 
ausência de guardiães ou administradores locais em vigilância. 
A Teoria do Padrão Criminal trabalha com três conceitos fundamentais: 
 Nós (nodes), 
 Caminhos (paths) 
 Fronteiras (edges)/limites, 
 
O termo “nó”, trazido do âmbito dos transportes, refere-se ao “para onde” as 
pessoas estão indo e o “de onde” estão vindo. Ou seja, seus lugares regulares de destino 
e de origem ou, ainda, os lugares para onde as pessoas se convergem, indo ou vindo. Tais 
lugares podem ser geradores de crime, eles mesmos, assim como suas redondezas. Um 
bar problemático, por exemplo, pode estar gerando mais crime em sua redondeza do 
que dentro dele. A palavra “nó”, então, traz em si um senso de movimento e, portanto, 
uma carga significativa de oportunidades de crime (FELSON e CLARKE, 1998). 
 
 
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Criminosos buscam seus alvos/vítimas ao redor dos eixos de atividades delas, 
sejam suas casas, escolas, locais de trabalho e de entretenimento e os caminhos que 
ligam tais nós e constituem os eixos de ação criminal. Estudos têm demonstrado que o 
lugar de vitimização está fortemente relacionado aos caminhos que as pessoas 
usam para realizar suas atividades (FELSON e CLARKE, 1998). 
As fronteiras ou limites a que se refere à teoria são caracterizados pelos 
limites dos lugares onde as pessoas vivem ou realizam suas atividades. Alguns tipos de 
crimes são mais propensos a ocorrer segundo o local onde as pessoas estão, bem como 
osestilos de vida dessas pessoas. Nesse sentido, é interessante observar que crimes 
como roubos, furtos, rixas, lesões corporais e homicídios, dentre outros, são mais 
propensos a ocorrer em lugares onde grupos de pessoas de diferentes bairros ou 
comunidades se encontram (diferentes limites). As brigas de gangues em bailes funk são 
um exemplo característico disso. 
A importância da distinção entre os que são da comunidade e os estranhos 
ajudam a enfatizar a importância das fronteiras. Enquanto os indivíduos da comunidade 
usualmente cometem crimes em sua própria área, os estranhos acham mais seguro fazê-
lo nos limites entre áreas diferentes (incluindo da sua própria) e, em seguida, 
retornarem para suas respectivas comunidades. Mais importante ainda é que os 
teóricos dessa corrente e outros criminologistas ambientais têm demonstrado que o 
projeto, desenho e gestão de bairros, cidades e áreas de negócios podem produzir 
significantes mudanças nas taxas de crime. 
Por exemplo, é possível reduzir o crime através da redução do fluxo e 
velocidade do trânsito e da orientação das janelas das casas e prédios em uma 
determinada localidade. Nesse caso, as pessoas poderão supervisionar melhor suas 
próprias ruas (FELSON e CLARKE, 1998). 
A Teoria do Padrão de Crime tem sido um importante veículo de 
desenvolvimento de novas tecnologias de análise espacial das quais não pode prescindir 
a Análise Criminal. Nesse sentido, é relevante ter em conta alguns preceitos que 
alicerçam tal modelo teórico e que devem orientar, em boa medida, as políticas e as 
práticas das agências de governo com responsabilidade sobre a segurança pública em 
seu mais amplo sentido. São eles, segundo WANG (2005): 
A distribuição espaço-temporal e a convergência de ofensores potenciais, 
alvos/vítimas, cuidadores, administradores e guardiães permitirá descrever o padrão 
de crimes em um determinado local (Eck e Weisburd, 1995 apud WANG, 2005). 
 
 
3.3.4 Criminologia Ambiental 
A Criminologia Ambiental é uma vertente da criminologia que introduz a 
dimensão espacial nos fenômenos criminais (FRITZ, 2008). A base teórica desse ramo 
da criminologia está focada no evento criminal e nas circunstâncias imediatas de sua 
ocorrência. Sob a ótica dessa corrente teórica, um evento criminal deve ser 
compreendido a partir da confluência entre criminosos, vítimas ou objetos-alvo e leis, 
em uma especial configuração e em um momento e lugar particulares, buscando 
 
 
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explicar, desde essa perspectiva, os padrões de crime e a influência do ambiente em sua 
ocorrência. 
Na verdade, a Criminologia Ambiental é considerada por alguns autores como 
sendo a convergência de três perspectivas teóricas: “perspectiva da escolha racional”, 
“abordagem da atividade de rotina” e “teoria do padrão criminal”, as quais têm em 
comum o ambiente e as “relações e interações” que nele ocorrem, como componentes 
fundamentais para a explicação do fenômeno do crime. 
Segundo FRITZ (2008), a Criminologia Ambiental tem suas raízes ainda no 
século XVIII, a partir de Guerry (1833) e Quetelet (1842), os quais já utilizavam dados 
estatísticos para analisar fenômenos criminais na França de então. Em 1850, 
pesquisadores ingleses começavam a introduzir elementos geográficos na análise de 
crimes. Nos Estados Unidos, componentes espaciais no estudo dos crimes só passaram 
a ser utilizados a partir de 1925 quando Shaw e McKay, da Escola de Sociologia de 
Chicago, estavam estudando aspectos da criminalidade na cidade de Chicago através do 
mapeamento de residências de delinquentes conhecidos. 
A criminologia ambiental possui, portanto, um objeto de estudo diferente das 
principais teorias criminológicas. De acordo com BOBA (2005) o objetivo desta vertente 
criminológica é entender os vários componentes de um evento criminal de modo a 
identificar padrões de comportamento e fatores ambientais que criam 
oportunidades para o surgimento do crime. 
Na percepção de WORTLEY e MAZEROLLE (2008), a criminologia tradicional 
tem seu foco na criminalidade, buscando explicar o fenômeno criminal a partir de 
fatores biológicos, psicológicos e/ou sociais, os quais seriam responsáveis pela “criação 
do criminoso” a partir de uma perspectiva histórica onde o indivíduo teria aprendido ou 
adquirido o comportamento desviante ao longo de sua vida, função das experiências a 
que esteve submetido. Uma vez que o criminoso “foi criado”, o crime passa a ser visto 
como algo inevitável em maior ou menor grau. O lugar e o momento da sua ocorrência 
têm pouco interesse. 
Na criminologia tradicional, a prevenção do crime se dá a partir da alteração 
das condições de desenvolvimento do indivíduo desde sua infância, criando 
mecanismos que eliminem ou minimizem suas desvantagens sociais ou, por outro lado, 
quando ele delinque, criando os mecanismos adequados para sua reabilitação e 
reinserção social. 
Para a Criminologia Ambiental, diferentemente das demais correntes 
teóricas, o crime é o objeto de interesse. O indivíduo criminoso é apenas um dos 
elementos de um evento criminal e o fato do criminoso ser o que e como ele é, é algo que 
não tem grande relevância imediata. O interesse é sobre a dinâmica do crime, ou seja, o 
que, onde e quando ocorreu; quem estava envolvido no evento; o que os envolvidos 
fizeram, como fizeram e o que fizeram a respeito. 
A Criminologia Ambiental visa identificar os padrões de motivação do 
ofensor, as oportunidades que existem para a ocorrência do crime, os níveis de proteção 
para as vítimas no evento criminoso e o meio ambiente no qual o evento ocorreu. 
Sob a ótica das oportunidades de ocorrência de crime, dois aspectos são 
importantes: o grau de atratividade do objeto-alvo, o que inclui o valor e a portabilidade 
 
 
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de tal objeto e o grau de acessibilidade, o que inclui a facilidade de acesso físico ao 
objeto-alvo, a visibilidade e a ausência de proteção suficiente. 
Em relação ao ambiente e ao comportamento criminal, a Criminologia 
Ambiental trabalha com três importantes premissas (WORTLEY e MAZEROLLE, 2008), 
quais sejam: 
1. O comportamento criminal é fortemente influenciado pela natureza do 
ambiente imediato onde ele ocorre. Todo comportamento, o criminal 
inclusive, é resultado da interação indivíduo-situação, na qual o ambiente 
joga um papel importante no processo de iniciação e de continuidade de um 
evento criminoso. Este não é resultado, apenas, de fatores criminogênicos do 
indivíduo, mas antes, a ele se somam os fatores criminogênicos do ambiente 
em que o evento ocorre. 
2. A distribuição do crime no tempo e no espaço não é aleatória, na medida em 
que está sendo influenciado pelas condições criminogências do ambiente. Os 
eventos criminais estarão mais concentrados nos locais onde as 
oportunidades e as características ambientais sejam mais favoráveis à 
atividade criminal. Portanto, certos tipos de crimes são propensos a ocorrer 
em certos tipos de lugar e condições ambientais e realizados por certos tipos 
de indivíduos em particular. 
3. A compreensão do papel criminogênico do ambiente e dos padrões dos 
eventos criminosos são poderosos instrumentos para a prevenção e a 
investigação de crimes. Isso permite ao poder público, em particular à polícia, 
concentrar recursos em situações e locais específicos onde haja problemas 
criminais. A mudança dos aspectos criminogênicos de um determinado 
ambiente pode reduzir, de forma relevante, a incidência criminal, de 
violência e/ou de desordem. 
Pois bem, os crimes de furtos em uma determinada região da cidade podem 
ser prevenidos reduzindo-se as oportunidades através de ações simples do cotidiano.A 
redução das oportunidades consiste em diminuir os riscos de modo prático, natural e 
simples a um custo social e economicamente baixo, adotando abordagens direcionadas 
para a prevenção. O melhor dessa metodologia é que depende muito mais do cidadão 
em mudar o seu comportamento do que a ação da polícia, porém essa deve fazer o seu 
papel de preventivo e repressivo. 
A fim de estabelecer uma metodologia de solução de policiamento 
especializado orientado a solução, a seguir propõe-se a aplicação das 25 técnicas de 
prevenção de crime situacional: 
 
Técnicas de prevenção de crime situacional 
AUMENTE OS 
ESFORÇOS 
AUMENTE OS 
RISCOS 
REDUZA AS 
RECOMPENSAS 
REDUZA AS 
PROVOCAÇÕES 
REDUZA AS 
DESCULPAS 
 
 
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1 Dificulte os 
acessos aos 
alvos 
- Controlando 
colunas de 
fechaduras e 
imobilizadores 
- Telas antifurto 
- Embalagens 
que protejam o 
conteúdo 
6 Estenda 
segurança 
Tome precauções 
de rotina: 
- Saia em grupo à 
noite, deixe sinais 
de ocupação e 
transporte 
telefone celular 
- Vigilância de 
“Casulo” da 
vizinhança 
11 Oculte alvos 
-Estacionamento 
fora da rua 
- Listas 
telefônicas de 
gênero-neutro 
- Caminhões de 
transporte de 
valor não 
identificados 
16 Reduza 
frustrações e 
estresse 
- Filas e serviços 
policiais eficazes 
- Expansão de 
assentos 
- Músicas 
relaxantes/luzes 
suaves 
21 Estabeleça 
regras 
- Acordos de 
locação 
 - Códigos 
contra o 
assédio 
- Registro nos 
hotéis 
2 Controle o 
acesso de 
facilitadores 
- Entradas 
telefônicas 
- Acesso via 
cartão 
eletrônico 
- Proteção de 
bagagens 
7 Invista na 
vigilância natural 
- Iluminação das 
ruas melhorada 
- Projeção de 
espaço defensivo 
- Fornecer apitos 
12 Remova 
alvos 
- Sons de carro 
removíveis 
- Refugio de 
mulheres 
- Cartões pré-
pagos para 
pagar 
telefonemas 
17 Evite 
disputas 
- Separe áreas 
distintas para 
torcidas de 
futebol rivais 
- Reduza a 
superlotação em 
bares 
- Afixação de 
preços de 
passagem de 
táxi 
22 Exponha 
instruções 
- “Proibido 
estacionar” 
- “Propriedade 
privada” 
- “Apague focos 
de incêndio” 
3 Proteja as 
saídas 
- Exigência de 
carteirinhas 
para saídas 
- Exporte 
documentos 
- Etiquetas 
eletrônicas em 
mercadorias 
8 Reduza o 
anonimato 
- Identidade dos 
táxis 
- Como estou 
dirigindo? 
 - Decalques 
13 Identifique 
seus bens 
- Bens 
identificados 
- Veículos 
licenciados e 
partes 
demarcadas 
- Marcação do 
gado 
18 Reduza a 
excitação 
emocional 
- Controle a 
pornografia 
violenta 
- Promova o 
bom 
comportamento 
nos campos de 
futebol 
- Proíba 
discriminação 
racial 
23 
Consciência 
alerta 
- Placas com 
limite de 
velocidade a 
beira das 
estradas 
- Assinaturas 
em declarações 
de clientes 
- Sair sem 
pagar é furtar 
4 Desvie 
Ofensores 
- Fechamento de 
ruas 
- Banheiros 
separados para 
mulheres 
- Bares 
dispersos 
9 Uniforme 
escolar 
- Utilize gestores 
Locais 
- Circuito fechado 
de televisão) para 
ônibus 
- Dois funcionários 
para lojas de 
conveniência 
14 Interrompa 
o mercado 
- Monitore casas 
de penhora 
- Controle 
classificados 
- Licencie 
vendedores de 
rua 
19 Reduza a 
pressão dos 
colegas 
- “Idiotas bebem 
e dirigem” 
- “Não faz mal 
dizer não” 
- Dispense 
encrenqueiros 
na escola 
24 Incentivar 
a obediência 
- 
Procedimentos 
de verificação 
de saída) em 
bibliotecas 
- Sanitários 
públicos 
- Latas de lixo 
 
 
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Página 26 
5 Controle de 
armas e 
ferramentas 
- Armas 
“inteligentes” 
-Desative 
telefones 
celulares 
roubados 
- Restrinja 
vendas de tinta 
spray à jovens 
10 Fortaleça a 
vigilância local 
- Câmeras 
- Alarme contra 
ladrões 
- Guardas de 
segurança 
15 Negue 
benefícios 
- Mercadorias 
com etiquetas de 
tinta 
- Limpeza de 
grafitagem 
- Lombadas 
20 Desencoraje 
imitações 
- Correções 
céleres de 
vandalismo 
- V-chips em 
TV’s 
- Censure 
detalhes do 
modus operandi 
25 Controle 
de drogas e 
álcool 
- “Blitz” em 
bares 
- Intervenção 
dos servidores 
- Eventos em 
que não 
tenham 
bebidas 
alcoólicas 
 
 
3.4. Movimento da Lei e da Ordem 
Impressionados com as novas formas de crimes e com o avanço da 
criminalidade na década de 60 e, sobretudo, 70 nos Estados Unidos, verificou-se uma 
tendência contrária à abordagem de subsidiariedade do Direito Penal. Assim, ganhou 
amplitude a ideia de repressão máxima e alargamento de leis incriminadoras como 
resposta ao aumento da delinquência, surgindo o movimento do Direito Penal Máximo, 
aplicação da regra do Direito Penal do Inimigo e a adoção de políticas criminais com esta 
ideologia. 
O Movimento de Lei e Ordem é uma política criminal que tem como finalidade 
transformar conhecimentos empíricos sobre o crime, propondo alternativas e programas 
criminais a partir se sua perspectiva. O alemão Ralf Dahrendorf foi um dos criadores 
deste movimento. O movimento separa a sociedade em duas: os cidadãos de bem, 
merecedores de proteção, e os inimigos, delinquentes que merecem a força do rigor penal 
em sua máxima escala. O pensamento de que o direito penal pode resolver a malesas 
sociais fez, inclusive, aumentar o número de condutas ditas indesejadas entrarem no rol 
de condutas típicas (neocriminalização). 
Destaca-se que os meios de comunicação tiveram grande influência nesse 
processo de panpenalismo dando enorme valor aos delitos de maior gravidade. A 
insistência do noticiário desses crimes criou a síndrome da vitimização e a população 
passou a crer que a qualquer momento o cidadão poderia ser vítima de um ataque 
criminoso, gerando o clamor pela agravação das penas e da definição de novos tipos 
penais. 
Esse discurso permeou as políticas de governo nos EUA e também no Reino 
Unido dos anos de 1970 em diante. O movimento, então, significou uma nova roupagem 
para o populismo punitivo e acabou gerando práticas policiais e penais como a política de 
Tolerância Zero e Three Strikes Rule. 
Essa doutrina sofreu uma ramificação, em meado de 1991, e ficou conhecida 
também como Tolerância Zero. Originou-se em Nova York, no governo do então prefeito 
Rudolph Giuliani, e assim como o Movimento de Lei e Ordem é também político-criminal. 
 
3.4.1. Teoria das Janelas Quebradas (broken windows). 
 
 
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Tolerância Zero 
Dois criminologistas da Universidade de Harvard, James Wilson e George 
Kelling, publicaram a teoria das "janelas quebradas" em The Atlantic, em março de 1982. 
A teoria baseia-se num experimento realizado por Philip Zimbardo, psicólogo da 
Universidade de Stanford, com um automóvel deixado em um bairro de classe alta de Palo 
Alto (Califórnia). 
Durante a primeira semana de teste, o carro não foi danificado. Porém, após o 
pesquisador quebrar uma das janelas, o carro foi completamente destroçado e furtado 
por grupos vândalos em poucas horas. 
De acordo com os autores, caso se quebre uma janela de um edifício e não haja 
imediato conserto, logo todas as outras serão quebradas. Algo semelhante ocorre com a 
delinquência. Isto é, pequenas desordens geram maiores desordens e, por isto, precisam 
ser imediatamente coibidas. 
Esta teoria começou a ser aplicada em Boston, onde Kelling, assessor da polícia 
local, recebeu a incumbência de reduzir a criminalidade no metrô – um problema que 
afastava muitos passageiros, gerando um prejuízo de milhões de dólares. Contudo, o 
programa não chegou a ser concluído por causa de uma redução orçamentária. 
Em 1990, Kelling e Wilson Bratton foram a Nova York e começaram a trabalhar 
novamente. O metrô foio primeiro laboratório para provar que, se "arrumassem as 
janelas quebradas", a delinquência seria reduzida. A polícia começou a combater os 
delitos menores. Aqueles que entravam sem pagar, urinavam ou ingeriam bebidas 
alcoólicas em público, mendigavam de forma agressiva ou que pichavam as paredes e 
trens eram detidos, fichados e interrogados. Ademais, as pichações eram apagadas na 
hora. 
Após vários meses de campanha, a delinquência no metrô foi reduzida em 75% 
e continuou caindo de ano para ano. Após o sucesso no metrô e nos parques, foram 
aplicados os mesmos princípios em outros lugares e em outras cidades. 
A política ficou conhecida como "a iniciativa de qualidade-de-vida" (quality-of-
life initiative). 
Em Nova York, a iniciativa produziu de 40 a 85 mil (dependendo da estatística) 
novas prisões por pequenas infrações no período de 1994 a 1998 (Estado de Nova York, 
Relatório da Divisão de Serviços de Justiça Criminal de 2000). Para lembrar o frenesi 
punitivo, basta saber que na disputa para a Prefeitura da cidade em 1993 (David Dinkins 
versus Rudolf Giuliani), o tema central sobre a segurança girou em torno dos 
squeegeemen, aqueles "garotos perigosos" que jogam água no vidro do carro quando 
parados para lavá-los e, depois, pedem dinheiro. 
De qualquer forma, esses dois exemplos servem para demonstrar uma política 
de manutenção de ordem que emergiu nos anos 80, focada a partir do maior contato da 
polícia com o cidadão, tudo como um modo de criar e manter a ordem e assim diminuir a 
quantidade de crimes graves. O modelo original era o inglês community policing (polícia 
comunitária; polícia de proximidade). 
Assim, a base de tal política é o policiamento comunitário, que vem acrescido 
de fiscalização ativa e Tolerância Zero; todas as ideias que têm como mentor intelectual a 
Nova Escola de Chicago (que substituiu a antiga Escola, formada por Guido Calabresi, 
 
 
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Ronald Coase, Richard Posner e outros, nas décadas de 60 e 70), a qual se fundamenta nas 
normas sociais, muito próximo do pensamento de Emile Durkheim, em especial nas 
significações sociais capazes de alterar a sociedade em si. Tolerância Zero, enfim, é 
incarceration mania, a mudança do welfare state (perto do qual nunca se passou no Brasil) 
para o penal state (Garland, 1996 e 2001; Becket, 1997; Caplow e Simon, 1998; Wacquant, 
2001). 
Por outro lado, a fundamentação empírica da teoria surge da aceitação plena 
do estudo precitado de Wesley Skogan, no qual foram aplicados cinco testes, dos quais 
quatro não vinculam em absoluto a desordem e o crime. Estatisticamente - e só por isso - 
não é apto a fundamentar qualquer teoria, ainda mais se considerarmos que no quinto 
estudo (talvez o único aproveitável, vinculando desordem e roubo), foram incluídos cinco 
bairros de Newark (cidade objeto da pesquisa, onde quarenta foram pesquisados), que, 
se excluídos, a imprestabilidade restaria patente (Harcourt, 2003, p. 78). 
 
 
4. Política Criminal 
 
A palavra política deriva de polis, denominação atribuída à cidade-estado 
grega, e significa tudo o quanto se refira à cidade, seja em seu aspecto urbano, civil ou 
social. Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli (1999, p. 132) conceituam a 
política como a ciência ou arte de governo. A obra de Aristóteles intitulada A Política é 
considerada o primeiro estudo a respeito da natureza do Estado e as formas de governo. 
Na doutrina estrangeira, Franz v. Liszt, citado por Claus Roxin, afirma que a 
política criminal assinala métodos racionais, em sentido social global, no combate à 
criminalidade, o que na sua terminologia significava a tarefa social do Direito Penal. 
Mireille Demas-Marty se inspira no conceito de Feuerbach, no qual a Política Criminal 
compreende o "conjunto de procedimentos através dos qual o corpo social organiza as 
respostas ao fenômeno criminal", e se caracteriza como "a teoria e prática das diferentes 
formas do controle social". 
 
4.1. Objetivos da Política Criminal 
A Política Criminal, para atingir suas finalidades, atua por intermédio da 
prevenção geral e da prevenção especial. 
 
 Prevenção geral: o fim intimidativo da pena dirige-se a todos os 
destinatários da norma penal, visando a impedir que os membros da 
sociedade pratiquem crimes 
 Prevenção especial: a pena visa o autor do delito, retirando-o do meio 
social para que impeça a reiteração criminosa 
 
Noutras palavras, na prevenção geral a pena atua psiquicamente sobre a 
generalidade dos membros da comunidade, afastando-os da prática de crimes através de 
 
 
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ameaça penal determinada pela lei. Funciona como uma coação psicológica, uma 
intimidação. Na prevenção especial, por sua vez, a pena atua preventivamente sobre o 
delinquente, a fim de evitar que, futuramente, ele cometa novos crimes. Na verdade, o que 
há na prevenção especial é a prevenção da reincidência. 
O objetivo da política criminal não se esgota apenas na infração penal, vai além. 
Para a prevenção da criminalidade, a política criminal atua em todas as áreas – políticas, 
sociais, culturais, econômicas – visando sempre impedir a prática de crimes. 
Dentre as providências para fins de prevenir a criminalidade, encontra-se a 
produção de leis, justas e humanas, adequadas com a realidade social e às necessidades 
do momento. Dessa forma, quem faz a política criminal acontecer é o legislador, 
tipificando crimes e estabelecendo as respectivas penas. 
 
4.2. Movimentos de Política Criminal e criminologia no Brasil 
Alguns das propostas dos movimentos de política criminal merecem ser 
analisados a nível de Brasil. Por certo, nossos legisladores têm acolhido diversas ideias 
das mais variadas correntes na criação das leis. Também não estão isentos desta 
influência a doutrina nacional e as cortes de justiça. 
Nosso histórico quando nos sentimos acuado ante crimes bárbaros ou que 
pareçam nos ameaçar não é dos melhores. O legislador pátrio tem oscilado na aplicação 
de leis típicas do law and order, misturando-as com medidas liberais (formalmente) como 
as penas alternativas. Inexiste um sistema coerente no Brasil, as políticas criminais se 
misturam, de acordo, com os anseios da opinião pública. 
A história da criminologia no Brasil é marcada por dois grandes ciclos 
separados por um vale de pouca produção acadêmica. O primeiro ciclo da criminologia no 
Brasil, que se estende do final do século XIX até das primeiras décadas do século XX, é 
marcado pela recepção do positivismo criminológico italiano no país. 
Alguns estudiosos atuais costumam dizer que ainda que superada a ideia 
positivista, as faculdades brasileiras se apegaram muito à produção criminológica 
lombrosiana. Por isto os cursos de criminologia passam grande parte de suas cargas 
horárias dedicadas ao Positivismo Criminológico e pouco falam na criminologia clássica 
anterior e nas escolas que surgiram após o declínio da escola italiana. 
A popularização do positivismo criminológico no Brasil se deu graças aos 
trabalhos de João Vieira de Araújo (1844–1922), Viveiro de Castro (1862–1906) e 
Candido Motta (1897–1977). Mas o nome mais forte desta corrente, com reconhecimento 
internacional, foi sem dúvida o de Raimundo Nina Rodrigues (1862 – 1906). Nina 
Rodrigues foi o autofalante de Cesare Lombroso em solo nacional e usou a antropologia 
criminológica para difundir seus ideais racistas. 
Em seu principal ensaio escrito em 1894, intitulado “As raças humanas e a 
responsabilidade penal no Brasil”, Nina afirma que “a raça negra no Brasil, por maiores 
que tenham sido seus incontestáveis serviços à nossa civilização, por mais justificadas

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