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Milena Marques 145 Anestesiologia – Reposição Volêmica. Introdução – Objetivos de aprendizagem: • Entender a distribuição dos líquidos corporais • Aprender sobre a fisiopatologia da hipovolemia • Aprender como reconhecer e corrigir os estados de hipovolemia • Aprender sobre os diferentes tipos de líquidos de reposição volêmica • Saber sobre as consequências das perdas e reposição adequada • Entender a fisiopatologia da anemia • Entender os mecanismos de oxigenação tecidual • Aprender a prevenir, diagnosticar e tratar os estados hipoxêmicos Volume e distribuição corporal de água: % PESO VOLUME (considerar uma pessoa de 75 kg) Água corporal total (volume intracelular e extracelular) 60% 45 L Volume intracelular 40% 30L Volume extracelular • Volume intersticial (entre as células e fora do vaso) • Volume plasmático (dentro dos vasos) 20% 16% 4% 15L 12L 3L O volume sanguíneo varia de acordo com a idade • RN prematuro -> 90 a 100 ml /kg • Rn a termo -> 80-90 ml/Kg • 3 meses a 1 ano -> 75-80 ml/kg • 1 a 6 anos -> 70-75 ml/kg • Acima de 6 anos -> 70 ml/kg → em 75 kg tem em torno de 5 L de volume sanguíneo. o Então uma pessoa de 75 Kg vai ter de volume sanguíneo 5,2 L, que 3 litros são de plasma (volume plasmático) e 2,2 são células (hemácias, plaquetas...) Perdas volêmicas no perioperatório: • Jejum • Transpiração • Respiração • Diurese • Trauma cirúrgico • Sequestro volêmico (paciente com sepse tem perda para o 3º espaço) Classificação da Hemorragia: • Classe I – perda de até 15% (até 750 ml) • Classe II – perda de 15% a 30% (de 750-1500 ml) • Classe III – perda de 30-40% (1500- 2000 ml) → somente com a perda de 40% é que vemos uma alteração na pressão arterial, não sendo, portanto, um bom parâmetro para avaliar a perda sanguínea. • Classe IV - > 40% (> 2000ml) Hemorragia grave também pode ser classificado pelo quanto de volemia o paciente perdeu. Se o paciente perdeu uma volemia em 1 dia (70ml/kg) isso significa que ele perdeu em torno de 5 L (considerando 75kg) classificando como uma hemorragia de classe IV. Essa perda rápida vai levar a uma falência circulatória, o paciente vai entrar em estado de choque, a despeito da reposição de volume e da intervenção terapêutica, por isso é importante identificar a classe hemorrágica. Hipovolemia persistente → queda da pressão de enchimento cardíaco → queda do débito cardíaco → vasoconstricção periférica (pele, músculos, intestino e tecidos lesados) • Desvio de líquidos do extra para intravascular (O Extravascular tem 16% e o intravascular tem 4%) • Oclusão de capilares por trombos e edemas • Alteração da microcirculação • Ativação da cascata inflamatória • Acúmulo de lactato e acidose metabólica • Insuficiência de múltiplos órgãos. Milena Marques 145 Resposta simpática → aumento da frequência cardíaca (DC = VS x FC) → aumento do débito cardíaco. Conteúdo arterial x Conteúdo venoso de oxigênio: 1,34 ml/g → é uma constante que significa a capacidade plena de ligação do pool de Hb circulante. (o quanto a hemoglobina pode carregar de oxigênio) CaO2 = (1,34 x Hb x SaO2) + (0,003 x PaO2) →Conteúdo arterial é = parte do oxigênio que está sendo levado no sangue pela hemoglobina + o oxigênio livre no sangue arterial. Em uma simulação hipotética em um paciente com Hb de 15, SaO2 98%, com PaO2 de 100 mmHg (valores normais) CaO2 = (19,7) + (0,3) = 200 ml/L. → podemos perceber que a maior parte do oxigênio carregado é pela hemoglobina, então a perda de sangue vai levar a perda de hemoglobina com perda da capacidade de carregar oxigênio. CvO2 = (1,34 x Hb x SvO2) + (0,003 x PVO2) A saturação venosa normal é em torno de 70% e a pressão venosa é em torno de 40 mmHg. CvO2 = 150 ml/L Então temos que são levados para os tecidos em torno de 200 ml de oxigênio em cada litro de sangue e retorna 150 ml, ou seja é gasto 50 ml. Oferta (DO2) = CaO2 x DC Sabendo que o débito cardíaco é aproximadamente 5, temos que a oferta é 200 ml/L x 5 = 1000 ml/min. Consumo (VO2) = (CaO2 – CvO2) x DC = 5 x 50 = 250 ml/min. Então, se está tendo a oferta de 1000 ml/min e estamos consumindo 250 ml/min está tendo um consumo de 25%. (consumo normal) Cálculo da extração tecidual (ela comentou que pode ser calculado facilmente) Extração de O2 = SaO2 – SvO2 SaO2 O SaO2 pode ser medido pelo oxímetro de pulso, o SvO2 pode ser feito pela gasometria de um cateter central, normalmente é 100 -70/100 = 30%, em casos de euvolemia, mas se ocorrer hipovolemia essa extração de O2 vai aumentando. Estado Extração de O2 Normal 20-30% Hipovolemia 30-50% Choque hipovolêmico >50% Uma extração de O2 acima de 50% já determina uma reposição de componentes sanguíneos. Ela comentou que esse gráfico era bem importante para a prova: Explicando o gráfico (Importante) Do2 = oferta de oxigênio Vo2 = consumo de oxigênio Quando a oferta de oxigênio vai diminuindo (pela perda volêmica e consequentemente de hemoglobina), o consumo se mante constante e a extração de oxigênio aumenta até em torno de 50% (quando atinge um platô) Após uma queda de DO2 (oferta) que torne a extração maior que 50%, a partir daí quem vai cair é o consumo (VO2) e agora ele vai cair proporcionalmente a queda Milena Marques 145 da oferta (DO2 crítico) e partir daí quem sobre são as enzimas marcadores de sofrimento celular (lactato, CitOx reduzido, NADH). Se tiver oxigênio suficiente temos que uma molécula de glicose produz cerca de 36 ATP, agora em um estado de perda volêmica (anaerobiose) 1 molécula de glicose produz apenas 2 ATP e 02 moléculas de lactato. Esse lactato, nesse estágio de pouca oferta de oxigênio, consegue ser convertido em ATP no coração e no cérebro. Avaliação clínica do estado volêmico: • Nível de consciência • Frequência cardíaca e respiratória • Pressão arterial • Pulsos periféricos • Enchimento capilar • Diurese. Avaliação laboratorial do estado volêmico: • Hemograma o inicialmente o Hematócrito pode estar falsamente normal (porque houve perdas do extravascular e do intravascular) o hematócrito pode estar falsamente baixo por hemodiluição. • Coagulação o Plaquetas, INR, PTT e fibrinogênio o Tromboelastograma é o ideal, se disponível • Bioquimica o Ureia o Creatinina o Sódio, potássio e cálcio • Gasometria arterial -> com lactato como adjuvante na avaliação perfusional. Monitorização das perdas volêmicas • Pressão arterial • Debito urinário • Hematócrito • Debito cardíaco • PVC • Pressão da artéria pulmonar • Co2 expirado • Oximetria • Gasimetria • Lactato sérico • Ph gástrico • Variação da pressão de pulso Restauração da volemia – por que é importante? • Estabilidade hemodinâmica • Proteção renal e esplênica • Manutenção da coagulação • Controle térmico • Inibição da cascata inflamatória • Correção do lactato e estado acidobásico • Proteção da microvasculatura • Otimização das trocas gasosas • Manutenção do consumo e oxigênio dos órgãos vitais Estado de choque: 1ª – interrupção da causa • Choque hemorrágico • Choque neurológico • Choque obstrutivo • Choque séptico 2ª – reposição volêmica. • Líquidos acelulares (cristaloides e coloides) → Classe I a III • Líquidos celulares (sangue + associados com líquidos acelulares) → classe IV Milena Marques 145 Distribuição dos líquidos nos compartimentos: Existem três tipos de líquidos: coloide, cristaloide e glicose. Esses líquidos vão se distribuir entre os espaços extracelular (plasma e interstício) e no meio intracelular.Onde tem sódio, ele vai se distribuir no líquido extracelular (soluções que contêm sódio vão se distribuir no extracelular – coloide e cristaloide). Soro glicosado não contém sódio então ele vai se distribuir por todo o compartimento. Porém, como o objetivo é repor as perdas que aconteceram no espaço extracelular é importante dar preferência para líquidos que contêm sódio, uma vez que o soro glicosado uma parte vai ser “perdido” para o meio intracelular. Como fazer os cálculos de quanto vai repor e quanto vai expandir o plasma? Volume plasmático expandido = volume infundido (que é o que você vai dar para o paciente) X Volume plasmático (considerando uma pessoa de 75 kg é em torno de 3 litros de plasma) / Volume de distribuição (depende do tipo de liquido infundido coloide, glicosado...) Soro glicosado a 5% (solução hipotônica) 1 – No soro glicosado o volume de distribuição é a água corporal total, uma vez que ele se distribui para todos os espaços (tanto intracelular como extracelular) Volume distribuição = Água corpora totais (ACT) → que considerando uma pessoa de 75 kg é 45 L Considerando que vamos infundir 1000L, teremos uma expansão plasmática de: 66,6 ml. → temos a expansão intravascular de 6,6% do infundido. Cristaloides Isotônicos (Na) 1 – O volume de distribuição dos cristaloides isotônicos (Soro Fisiológico 0,9% e ringer lactato) será no meio extracelular, pois eles contêm sódio. 2 – Volume de distribuição = líquido extracelular (intravascular + interstício) = 3 + 12 = 15 L (Ela comentou que se não decorar essas coisas nem médico é kkk) Milena Marques 145 Considerando que vamos infundir 1000 ml de soro fisiológico 0,9% ou ringer lactato, temos que o volume plasmático expandido será: 200 ml → 20% no plasma e 80% no interstício. Coloides É uma molécula derivada de amido ou colágeno bovino, ele não atravessa a barreira do vaso pois é uma molécula grande, ou seja 100% vai para o vaso. Pergunta de prova – Quem é mais eficiente em expandir o plasma, entre coloide, cristaloide e soro glicosado? → Coloide. • Naturais o Albumina → São caros e precisam ser tirados do sangue de voluntários. • Sintéticos (mais usados) → é usado como preferência em pacientes que necessitam de uma grande expansão volêmica. o Dextran o Gelatina o Amido hidroxietílico (HES) Os coloides: • Mais eficientes que os cristaloides • Reduzem a morbidade, mas não a mortalidade • Risco de anafilaxia * • Risco de lesão renal * • Coagulopatia * • Risco de sangramento * (*) = nos coloides sintéticos. Comparação entre os fluidos (soro fisiológico, ringer lactato e normosol plasma Lyte-A) e o plasma • Soro fisiológico 0,9% - apesar de ser considerado uma solução isotônica ela possui uma osmolaridade um pouco maior que o do plasma e contem apenas Na e Cl. • Ringer lactato – possui sódio, cloro, potássio, cálcio e um ion tampão que o lactato → possui o ph de 6,5 e a osmolaridade é mais parecida com o do plasma (diminui a quantidade de sódio) • Plasma lyte – possui a osmolaridade e o ph praticamente igual e tem os tampões Dos três o melhor é o plasma lyte (mais parecido com o plasma), porém é o menos acessível em termos de custos. O mais distante é o soro fisiológico, quando se faz uma alta carga de Na Cl 0,9% podem gerar: • Hipernatremia • Hiper cloremia • Acidose metabólica Hiperclorêmica • RIM: excreção lenta de excesso de cloreto após grandes infusões pode gerar: o Vasocontrição renal o Redução na taxa de filtração glomerular o Acidose metabólica Hiperclorêmica o IRA ATENÇÃO: EM SITUAÇOES DE VOMITOS INCOERCÍVEIS É PREFERÍVEL REPOR VOLUME COM SORO FISIOLÓGICO A 0,9%, POIS AO VOMITAR PERDEMOS CLORO. Milena Marques 145 O RINGER E O PLASMA LYTE SÃO CONSIDERADOS CRISTALOIDES BALANCEADOS (MAIS EQUILIBRADOS E POR ISSO MAIS RECOMENDADOS) No ringer: • Limitações o É uma solução hipotônica em relação ao plasma → devemos ter cuidado em pacientes com edema cerebral, pois pode gerar mais edema o É uma solução que contêm lactato → pode gerar acidose láctica → cuidado em: ▪ Metabolização inadequada do lactato ▪ Insuficiência hepática ▪ Estados de baixo débito o Contém potássio → cuidado com nefropatas o Contém cálcio → incompatibilidade com hemocomponentes (citrato) → NUNCA PASSAR RINGER E SANGUE NO MESMO CIRCUITO. Plasma lyte: • Atenção ao potássio • Isento de cálcio • Acetato o Metabolismo rápido por diversas vias o Não depende da função hepática o Metabolismo não alterado em situação de choque ou pela idade • Principal desvantagem: CUSTO. VOLUME DE CRISTALOIDES EM ESTADO DE CHOQUE: ➔ 02 acessos venosos calibrosos > 18G ➔ 20 ml/kg ➔ Guiado por metas: o SvO2 o Volume sistólico o Lactato o Delta PP • Retorno mais precoce das funções GI • Menor incidência de náuseas e vômitos • Menor permanência hospitalar • Menor mortalidade Volume de cristaloides – manutenção: Fórmula de Holliday e Seager. Fazendo a conta para um paciente de 70 kg, temos que: 70 kg (> 20 kg) → 60 ml + 1 ml/kg/h 60 + 50 = 110 ml/h Milena Marques 145 Cuidado com reposição excessiva: • Edema periférico e pulmonar • Má perfusão tecidual/ cicatrização de feridas • Redução do hematócrito • Diminuição da capacidade carregadora de O2 • Redução dos fatores de coagulação e plaquetas • Hipotermia • Aumento da pressão arterial • Quebra dos coágulos formados • Ressangramento/ ciclo vicioso de hipotensão Cristaloides hipertônicos • Na Cl 7,5% e Dextran70 6% • Características o Expansão de 5 a 7x volume oferecido o 4 ml/kg fornecido = muito eficiente o Queda da PIC o Aumento da contratilidade miocárdica o Usado em casos extremos • Desvantagens o Hipernatremia o Hipercloremia o Desidratação celular o Aumento de sangramentos o Efeitos transitórios. Reposição de hemácias: • Hb < 10 → raramente vai precisar • Hb < 6 → habitualmente (nesses casos o hematócrito estaria abaixo de 20) • Hb 6-10 → avaliar o risco de complicações por oxigenação inadequada. Indicação precisa de: • Doação pré-operatória autóloga (intervalo de 15 dias para cirurgia) • Recuperação sanguínea pré e pós-operatória • Hemodiluição normovolêmica • Redução das perdas (hipotensão induzida) Transfusão de sangue autóloga mais liberal Controle do sangramento no pré-hospitalar • O ideal é fazer pouco volume antes de ter o sangramento contido. → muito volume → maior o sangramento • Evita hipotermia • Volume o 20 ml/kg o Cristaloides são a solução ideal (ringer ou plasma lyte) o Evite reposição de 3L/6H pelo risco de acidose, principalmente quando usado NaCl. o Não existe coloide no ambiente pré- hospitalar Atenção: AO UTILIZAR SANGUE > 10 BOLSAS EM 24H OU > 4 BOLSAS EM 1 HORA LEMBRAR: 1 PLASMA: 1 PLAQUETA: 1 HEMÁCIAS. Em pacientes testemunhas de jeová: Substitutos sanguíneos • Carreadores de oxigênio baseado em hemoglobina (COBH) o Universalmente compatíveis o Livres do risco de infecção o Não precisam de refrigeração o Tem longa vida o Estudos humanos são escassos o Poucas evidencias de suporte para o seu uso • Hemopure → sangue artificial de polimerizado de hemoglobina bovina. Milena Marques 145