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Produção textual I
Aula 7: Como produzir um texto: a questão da coesão – Parte 1
Apresentação
Já sabemos que coesão e coerência são dois fatores responsáveis pela textualidade.
Na aula 6, falamos sobre a coerência, base do sentido de um texto. Vimos que a coerência é construída A PARTIR do texto,
pois envolve alguns fatores que não são linguísticos (conhecimento de mundo, conhecimento partilhado, inferências,
focalização etc.).
Dedicaremos esta aula e a próxima à coesão textual, responsável pela ligação signi�cativa das partes do texto.
Entenderemos que essa articulação é promovida pelo uso de elementos e de recursos linguísticos. Por isso,
diferentemente da coerência, a coesão está sinalizada NO texto.
Um texto bem escrito, além de apresentar clareza, concisão, exatidão e correçâo gramatical, deve também estar bem
coeso e coerente. Exploramos a coerência na aula passada e, agora, esperamos que vocês estejam bem ligados para o
estudo da coesão textual!
Objetivos
De�nir coesão textual;
Reconhecer a importância da coesão na construção do texto;
Conhecer os tipos de coesão textual: coesão referencial e coesão sequencial;
Identi�car os mecanismos de coesão referencial.
A coesão textual
Na aula 3, ao de�nirmos "texto", recorremos à sua etimologia, que se relaciona à palavra "tecido".
Podemos pensar nos �os que se unem para compor, perfeitamente, um tecido.
Da mesma forma, ao construirmos um texto, devemos re�etir sobre elementos/ recursos linguísticos que podem ser
usados para garantir o entrelaçamento do que se quer dizer. Como queremos que o nosso leitor entenda o que
escrevemos, precisamos facilitar essa tarefa com uma boa utilização dos recursos coesivos.
 Fonte: Shutterstock por ADDVIS
Saber usar os elementos que promovem a ligação das ideias no texto é um importante passo para um texto bem escrito e um
sinal de maturidade do escritor. As crianças, por exemplo, quando começam a produzir seus textos, geralmente produzem algo
como: "Minha mãe é bonita. Minha mãe é legal. Minha mãe me dá presentes. ou: "Aí, o menino chegou. Aí, a mãe brigou com o
menino. " Percebemos, assim, estruturas sintáticas bem simples.
Atividade
1. Preencha as lacunas do texto abaixo, com as palavras em destaque, de modo a garantir a sua coesão.
água - essa mistura de hidrogénio e de oxigénio - ser humano - água - ele - dela
A vida é feita de ____________. __________________ existiu até na formação das estrelas, de como nuvens de moléculas. A evolução
do ___________dependeu da _________________ e precisa ______________ para sobreviver em qualquer lugar do mundo.
Com o passar dos anos, ampliamos o nosso conhecimento de mundo, o que é fundamental para estabelecermos a coerência
de um texto. Além disso, com os anos de prática de leitura e escrita, também ampliamos o domínio de recursos linguísticos
que promovem a coesão de um texto.
Atenção
Vale destacar, no entanto, que nem sempre a presença ou ausência de elementos coesivos garantirá a coerência do texto. Como
a�rma Marcuschi (2008, p.102), "a coesão explícita não é uma condição necessária para a textualidade. (...) Mas isto não é um
entrave à compreensão".
Vamos comparar os exemplos (I) e (II) a seguir:
Exemplo I
Exemplo II
O João comprou um livro. Maria casou-se com ele, pois o peixinho do
aquário morreu. Eu devolvi o livro na biblioteca, que �cou velha. O
peixinho azul nada no mar.
Apesar da ausência de elementos coesivos no exemplo (I) , tendo em mente as peculiaridades de uma pescaria, conseguimos
estabelecer a coerência do texto. Por outro lado, apesar de haver, de algum modo, mecanismos coesivos entre as frases
apresentadas no exemplo (II), não é possível estabelecer um sentido global para o que lemos.
 Fonte: Shutterstock por Irina Strelnikova.
Ao produzirmos um texto, podemos usar os recursos
coesivos para estabelecer funções diferentes.
Segundo Koch (1989), apud Marcuschi (2008), há dois tipos
de coesão:
1.referencial; 
2.sequencial.
Há alguns autores como Fávero (1995) e Carneiro (2001)
que trabalham com mais um tipo de coesão: recorrencial e
sequencial.
Vejamos cada tipo de coesão
Clique nos botões para ver as informações.
A recorrencial, segundo a qual, a partir da utilização de alguns recursos coesivos, é possível articular informações novas e
antigas no texto.
Coesão recorrencial 
São usados diferentes recursos para retomar um elemento já mencionado no texto, substituindo-o ou reiterando-o.
Coesão Referencial 
É a utilização de diferentes recursos para estabelecer uma relação lógica ou signi�cativa entre diferentes segmentos do
texto, fazendo com que ele apresente uma progressão.
Coesão Sequencial 
Vejamos os exemplos abaixo:
Recorrencial:
“Minha mãe é bonita. Ela é
legal.”
No exemplo percebemos que o
pronome "ela" substitui o
referente " minha mãe"
mencionado na primeira oração.
Referencial:
“Um leão foi encontrado
abandonado em uma praça no
subúrbio. O animal estava muito
ferido.”
"um animal" foi a forma
encontrada para fazer menção ao
referente "um leão", apresentado
inicialmente. O uso de um termo
com um signi�cado mais
genérico foi o recurso para
reiterá-lo.
Sequencial:
“A noiva foi pontual, pois o
trânsito estava bom.”
No exemplo percebemos a
articulação das duas orações. O
"pois" introduz uma explicação ou
justi�cativa para o fato
apresentado na primeira oração.
Atividade
2. Leia o texto a seguir, e , em seguida, responda:
“O IBAMA anunciou ontem a descoberta de uma nova ave, o bicudinho-do-brejo-paulista. O Stymphalornissp.nov (a terminação
indica que o animal não recebeu a denominação de�nitiva da espécie) foi encontrado pelo professor Luís Fábio Silveira, do
Departamento de Zoologia da USP, em áreas de brejo nos municípios de Paraitinga e Biritiba-Mirim, na Grande São Paulo, em
fevereiro. O pássaro tem pouco mais de 10 centímetros de comprimento, capacidade pequena de voo e penugem escura.”
Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO, 6 de maio 2005, p. A18 apud KOCH, I. V.; ELIAS, W. M. Ler e compreender: os sentidos do
texto. São Paulo: Contexto, 2007.
a) Destaque, no exemplo abaixo, os modos como o referente "uma nova ave" foi retomado ao longo do texto.
b) As retomadas do referente, ao longo do texto, possibilitam que o leitor adquira novos conhecimentos sobre a espécie de ave
descoberta?
Atenção
Mais importante do que se lembrar da nomenclatura - referencial e sequencial - é perceber como a coesão atua em um texto. É,
efetivamente, entender como cada tipo de coesão pode ser utilizado pelo autor para promover para a articulação textual.
Ao escrever um texto, devemos re�etir sobre a utilização desses recursos coesivos de modo a conduzir o trabalho do leitor.
Vamos, então, conhecer os mecanismos de coesão referencial. Na próxima aula, nós nos dedicaremos à coesão sequencial.
Mecanismos de coesão referencial
A coesão referencial refere-se ao modo de retomada de referentes que já foram introduzidos no texto.
Vejamos a de�nição de Koch (1989 apud MARCUSCHI, 2008, p. 108):
"Chamo, pois, de coesão referencial aquela em que um componente da
superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual. "
Devemos estar atentos ao que a�rma Abreu (2001 Segundo o autor, a coesão referencial pode representar uma marca da
enunciação. Vamos aos exemplos citados pelo autor e retomados abaixo:
Exemplo 1
João Paulo II esteve, ontem, em
Varsóvia. Lá, Sua Santidade disse
que a Igreja continua a favor do
celibato.
Exemplo 2
João Paulo II esteve, ontem, em
Varsóvia. Lá, o mais recente
aliado do capitalismo ocidental,
disse que a Igreja continua a
favor do celibato.
Percebemos, no exemplo (l), uma apreciação positiva do Papa João Paulo II, o que não acontece no exemplo (II) em que o
modo como o referente João Paulo II foi retomado ("0 mais recente aliado do capitalismo ocidental") denota uma apreciação
negativa. A análise dos exemplos reforça a ideia de que os mecanismos de coesão referencial estão, sobretudo, ligados à
signi�caçãoou à referência.
É possível perceber duas formas de coesão referencial.
01 Uma relacionada à utilização de itens lexicais plenos (repetições, sinônimos, hiperônimos, hipônimos, nomesgenéricos, expressões nominais de�nidas, nominalizações);
02 outra, à utilização de de itens gramaticais, tais como: pronomes, artigos, numerais, formas verbais e advérbios.
Vejamos exemplos do primeiro grupo:
Saiba mais
Hipônimo e hiperônimo.
https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/protx2/aula7.html
Vejamos exemplos do segundo grupo:
Atividade
A seguir, temos uma letra de música: “ O céu”, de Nando Reis e Marisa Monte. Leia o texto e, em seguida, responda:
O céu 
O céu vai tão longe e está perto 
O céu �ca em cima do teto 
O céu tem as quatro estações Escurece de noite, amanhece com o sol O céu serve a todos 
O céu ninguém pode pegar 
O céu cobre a terra e a lua Entra dentro do quarto, rua do avião Dentro do universo mora o céu 
O céu paraquedas e saltos 
O céu vai do chão para o alto 
O céu sem comeco e sem �m 
Para sempre serei seu fã 
Olhai pro céu, olhai pro chão
A partir do nosso conhecimento de mundo, conseguimos etabelecer a coerência do texto apresentado. 
No entanto, o que podemos dizer sobre a sua coesão? Temos ou não um texto coeso? Justi�que sua resposta.
Notas
Hipônimo e hiperônimo
Hiperônimos: Do grego hyperonymon (hyper = acima, sobre/ onymon = nome), são palavras de sentido genérico, ou seja,
palavras cujos signi�cados são mais abrangentes do que os hipônimos. Fazendo uma comparação com a Biologia, podemos
dizer que os hiperônimos seriam os gêneros, isto é, palavras que apresentam características comuns.
Hipônimos: Do grego hyponymon (hypo = debaixo, inferior/ onymon = nome), são palavras de sentido especí�co, ou seja,
palavras cujos signi�cados são hierarquicamente mais especí�cos do que de outras. Fazendo novamente uma comparação
com a Biologia e seus termos, os hipônimos seriam as espécies, isto é, palavras que estão ligadas por meio de características
próprias. 
Referências
ABREU, A.S.; Curso de redação. São Paulo: Ática, 2001
ANDRADE, M. M.; HENRIQUES, A. Língua Portuguesa: noções básicas para cursos superiores. Rio de Janeiro: Atlas, 2007.
BANDEIRA, M.; Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.
BEAUGRANDE, R. A.; DRESSLER, W. U. Introduction to text linguistics. London: Longman, 1983.
BOAVENTURA, E.;. Como ordenar as ideias. São Paulo: Ática, 2007.
CARNEIRO, A.D. Redação em construção: a escritura do texto. Rio de Janeiro: Moderna, 2001.
FARACO, C. A. e TEZZA, C. Prática de texto para estudantes universitários. Petrópolis: Vozes, 1992.
GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2006
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
PLATÃO; FIORIN. Lições de Texto: leitura e redação. Rio de Janeiro: Ática, 1999.
SAUTCHUK, l. Perca o medo de escrever da frase ao texto. São Paulo: Saraiva, 2011
VAL, M. G. C. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Próxima aula
A coesão textual;
A importância da coesão na construção do texto;
Os tipos de coesão textual: coesão referencial e coesão sequencial;
Os mecanismos de coesão referencial.
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