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M Autora: Profa. Eliza Regina Ferreira Braga Machado de Azevedo Colaboradores: Prof. Cristiano Schiavinato Baldan Profa. Kelly Cristina Sanches Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher Professora conteudista: Eliza Regina Ferreira Braga Machado de Azevedo Possui graduação em Fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp – 2005), especialização em Fisioterapia aplicada à Neurologia Adulta na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp – 2007), mestrado (2011) e doutorado (2015) em Ciências pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Atua como docente do curso de Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP) desde 2017 e do curso de especialização em Fisioterapia Neurofuncional da Faculdade Inspirar, unidades Bauru e São José do Rio Preto, desde 2018. É professora convidada do curso de especialização em Neurofuncional Adulto da Unicamp desde 2017. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A994f Azevedo, Eliza Regina Ferreira Braga Machado de. Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher / Eliza Regina Ferreira Braga Machado de Azevedo.– São Paulo: Editora Sol, 2021. 116 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Fisiologia. 2. Hormônio. 3. Tratamento. I. Título. CDU 615.8-055.2 U513.00 – 21 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Unip Interativa Profa. Dra. Cláudia Andreatini Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Larissa Wostog Giovanna Oliveira Sumário Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 APARELHO REPRODUTOR FEMININO ...................................................................................................... 11 1.1 Anatomia do aparelho reprodutor feminino ............................................................................ 11 1.1.1 Pelve feminina ...........................................................................................................................................11 1.1.2 Genitália externa feminina ................................................................................................................. 12 1.1.3 Órgãos genitais internos ...................................................................................................................... 13 1.1.4 Mamas ......................................................................................................................................................... 15 1.2 Sistema urinário .................................................................................................................................... 15 1.2.1 Rins ............................................................................................................................................................... 16 1.2.2 Ureter ........................................................................................................................................................... 16 1.2.3 Bexiga .......................................................................................................................................................... 16 1.2.4 Uretra ........................................................................................................................................................... 16 1.3 Assoalho pélvico ................................................................................................................................... 17 1.3.1 Períneo ........................................................................................................................................................ 17 1.3.2 Músculos do assoalho pélvico (MAP) ............................................................................................. 17 2 FISIOLOGIA DO CICLO REPRODUTIVO FEMININO ............................................................................... 20 2.1 Alterações na puberdade ................................................................................................................... 20 2.2 Funções hormonais.............................................................................................................................. 20 2.2.1 Hormônio foliculoestimulante (FHS) .............................................................................................. 20 2.2.2 Hormônio luteinizante (LH) ................................................................................................................ 20 2.2.3 Estrógeno ................................................................................................................................................... 21 2.2.4 Progesterona ............................................................................................................................................. 21 2.3 Fisiologia do ciclo menstrual ........................................................................................................... 21 2.3.1 Ciclos ovarianos ....................................................................................................................................... 22 2.3.2 Ciclos uterinos .......................................................................................................................................... 22 2.3.3 A primeira metade do ciclo menstrual .......................................................................................... 22 2.3.4 A segunda metade do ciclo menstrual .......................................................................................... 23 3 OBSTETRÍCIA ...................................................................................................................................................... 24 3.1 Pré-parto ................................................................................................................................................. 27 3.1.1 Útero ............................................................................................................................................................ 27 3.1.2 Vagina .......................................................................................................................................................... 29 3.1.3 Alterações hormonais ........................................................................................................................... 29 3.1.4 Alterações dermatológicas .................................................................................................................. 29 3.1.5 Glândulas ................................................................................................................................................... 30 3.1.6 Varizes .........................................................................................................................................................30 3.1.7 Mamas ......................................................................................................................................................... 30 3.1.8 Sistema urinário ...................................................................................................................................... 31 3.1.9 Sistema musculoesquelético .............................................................................................................. 31 3.1.10 Sistema gastrointestinal .................................................................................................................... 32 3.1.11 Sistema respiratório ............................................................................................................................. 32 3.1.12 Sistema cardiovascular ...................................................................................................................... 32 3.2 Parto .......................................................................................................................................................... 33 3.2.1 Período pré-parto ................................................................................................................................... 33 3.2.2 Período premonitório ou pródomo ................................................................................................. 34 3.2.3 Sinais de trabalho de parto ................................................................................................................ 34 3.2.4 Fases do trabalho de parto ................................................................................................................. 34 3.2.5 Tipos de parto ........................................................................................................................................... 36 3.2.6 Posições para o parto ............................................................................................................................ 37 3.3 Puerpério ................................................................................................................................................. 38 3.3.1 Modificações no puerpério ................................................................................................................. 39 4 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA OBSTETRÍCIA ..................................................................................... 40 4.1 Fisioterapia no pré-parto .................................................................................................................. 40 4.1.1 Objetivos da fisioterapia ...................................................................................................................... 41 4.1.2 Exercícios .................................................................................................................................................... 41 4.1.3 Tipos de exercício .................................................................................................................................... 42 4.1.4 Orientações ............................................................................................................................................... 43 4.2 Fisioterapia no parto ........................................................................................................................... 43 4.3 Fisioterapia no puerpério .................................................................................................................. 46 4.3.1 Puerpério imediato................................................................................................................................. 46 4.3.2 Puerpério tardio e puerpério remoto .............................................................................................. 49 4.4 Amamentação........................................................................................................................................ 49 4.4.1 Fisiologia e início da lactação ............................................................................................................ 50 4.4.2 Contraindicações da amamentação ................................................................................................ 51 4.4.3 Técnica de amamentação .................................................................................................................... 51 4.4.4 Ordenha do leite ...................................................................................................................................... 52 4.4.5 Complicações na amamentação ....................................................................................................... 53 Unidade II 5 UROGINECOLOGIA .......................................................................................................................................... 59 5.1 Anatomia do sistema urinário ........................................................................................................ 59 5.1.1 Bexiga .......................................................................................................................................................... 59 5.1.2 Uretra ........................................................................................................................................................... 59 5.1.3 Fáscia endopélvica .................................................................................................................................. 59 5.1.4 MAP .............................................................................................................................................................. 60 5.1.5 Inervação dos MAP ................................................................................................................................ 61 5.1.6 Ligamentos do assoalho pélvico ....................................................................................................... 61 5.2 Fisiologia da micção ............................................................................................................................ 61 5.3 Fisiopatologia da incontinência urinária .................................................................................... 63 5.3.1 IUE ................................................................................................................................................................. 63 5.3.2 IUU ................................................................................................................................................................ 64 5.4 Diagnóstico da IU ................................................................................................................................. 64 5.5 Tratamento da IU .................................................................................................................................. 65 5.6 Distopias genitais ................................................................................................................................. 66 5.6.1 Classificação das distopias .................................................................................................................. 67 5.6.2 Tratamento ................................................................................................................................................ 68 5.7 Avaliação fisioterapêutica nas disfunções uroginecológicas ............................................. 69 5.8 Disfunções dos MAP ............................................................................................................................ 72 5.8.1 Hiperatividade dos MAP ....................................................................................................................... 72 5.8.2 Hipoatividade dos MAP ........................................................................................................................ 72 5.8.3Bexiga hiperativa .................................................................................................................................... 73 5.9 Recursos terapêuticos nas disfunções uroginecológicas ..................................................... 73 5.9.1 Terapia comportamental ...................................................................................................................... 73 5.9.2 Cinesioterapia ........................................................................................................................................... 73 5.9.3 Biofeedback ............................................................................................................................................... 75 5.9.4 Cones vaginais ......................................................................................................................................... 77 5.9.5 Massagem perineal ................................................................................................................................ 78 5.9.6 Eletroestimulação ................................................................................................................................... 78 5.9.7 Eletroestimulação do nervo tibial posterior ................................................................................ 79 5.9.8 Eletroestimulação parassacral ........................................................................................................... 80 6 ONCOLOGIA ....................................................................................................................................................... 80 6.1 Fatores de risco ..................................................................................................................................... 81 6.2 Diagnóstico ............................................................................................................................................. 82 6.2.1 Autoexame das mamas ........................................................................................................................ 82 6.2.2 Exame clínico ............................................................................................................................................ 83 6.2.3 Mamografia ............................................................................................................................................... 83 6.2.4 Ultrassonografia ...................................................................................................................................... 84 6.2.5 Biópsias ....................................................................................................................................................... 84 6.3 Cirurgias conservadoras..................................................................................................................... 84 6.3.1 Tumorectomia .......................................................................................................................................... 84 6.3.2 Quadrantectomia .................................................................................................................................... 85 6.3.3 Linfonodo sentinela ............................................................................................................................... 85 6.4 Cirurgias radicais .................................................................................................................................. 85 6.4.1 Mastectomia radical de Halsted ....................................................................................................... 86 6.4.2 Mastectomia radical modificada à Patey ...................................................................................... 86 6.4.3 Mastectomia radical modificada à Madden ................................................................................ 86 6.4.4 Mastectomia simples ............................................................................................................................. 86 6.4.5 Mastectomia higiênica ......................................................................................................................... 86 6.5 Reconstrução das mamas ................................................................................................................. 86 6.6 Tratamento clínico ............................................................................................................................... 87 6.6.1 Radioterapia .............................................................................................................................................. 87 6.6.2 Quimioterapia ........................................................................................................................................... 88 6.6.3 Hormonioterapia ..................................................................................................................................... 88 6.7 Fisioterapia oncofuncional ............................................................................................................... 89 6.7.1 Complicações nervosas ........................................................................................................................ 89 6.7.2 Seroma ........................................................................................................................................................ 90 6.7.3 Aderência cicatricial .............................................................................................................................. 90 6.7.4 Disfunções no ombro ............................................................................................................................ 90 6.7.5 Linfedema de membro superior ........................................................................................................ 91 7 DISTÚRBIOS GINECOLÓGICOS.................................................................................................................... 93 7.1 Dor pélvica crônica .............................................................................................................................. 93 7.1.1 Endometriose ............................................................................................................................................ 94 7.1.2 Dismenorreia ............................................................................................................................................. 95 7.1.3 Tipos de DPC ............................................................................................................................................. 95 7.1.4 Avaliação da DPC .................................................................................................................................... 96 7.1.5 Tratamento ................................................................................................................................................ 96 7.1.6 Fisioterapia ................................................................................................................................................ 97 7.2 Síndrome pré-menstrual ................................................................................................................... 98 7.3 Disfunções sexuais femininas ......................................................................................................... 99 8 CLIMATÉRIO E MENOPAUSA .....................................................................................................................101 8.1 Manifestações clínicas .....................................................................................................................102 8.1.1 Manifestações neurogênicas ............................................................................................................102 8.1.2 Manifestaçõespsicogênicas .............................................................................................................102 8.1.3 Manifestações metabólicas ..............................................................................................................102 8.1.4 Manifestações mamárias ...................................................................................................................103 8.1.5 Manifestações genitais .......................................................................................................................103 8.1.6 Manifestações urinárias .....................................................................................................................103 8.1.7 Manifestações do sistema tegumentar .......................................................................................104 8.2 Tratamento ............................................................................................................................................104 8.2.1 Fisioterapia na prevenção e no tratamento da osteoporose ..............................................105 9 APRESENTAÇÃO A fisioterapia aplicada à saúde da mulher é considerada uma especialidade da fisioterapia que contempla aspectos da saúde da mulher no contexto biopsicossocial. Por essa razão, esta disciplina abrange a apresentação da anatomia e da fisiologia dos sistemas reprodutor e urinário feminino e suas disfunções, o desenvolvimento gestacional, incluindo alterações e possíveis complicações, o câncer de mama, o climatério e a atuação do fisioterapeuta no que tange à utilização de recursos terapêuticos para prevenção e tratamento de disfunções e/ou complicações. Além disso, será discutida a importância do trabalho multidisciplinar e da humanização em saúde. Portanto, o objetivo geral da disciplina é proporcionar o conhecimento fundamental da clínica ginecológica e obstétrica e capacitar o aluno para a realização de avaliação, diagnóstico e planos de orientação, prevenção e terapêutica na área de saúde da mulher. Entre os objetivos específicos estão: • possibilitar ao aluno o reconhecimento da importância dos principais tratamentos fisioterapêuticos em uroginecologia, obstetrícia e oncoginecologia; • oferecer conhecimentos básicos de anatomia e fisiologia dos aparelhos reprodutor e urinário feminino, do processo gestacional, parto e pós-parto e dos processos fisiopatológicos das principais patologias uroginecológicas, obstétricas e oncoginecológicas; • capacitar o estudante a utilizar recursos para avaliação e tratamento fisioterapêuticos em uroginecologia, obstetrícia e oncologia. Ao final da disciplina, o aluno deverá ser capaz de desenvolver e planejar programas de prevenção de doenças, contribuindo para a melhoria da saúde da mulher; elaborar diagnósticos fisioterapêuticos; instituir e aplicar o plano de tratamento e conceder alta à paciente; além de reconhecer a importância do trabalho em equipes multidisciplinares, podendo, quando julgar necessário, também encaminhar a paciente a outro profissional. INTRODUÇÃO Atualmente, a fisioterapia em saúde da mulher é considerada uma especialidade, segundo o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito), mas essa regulamentação foi realizada por esse órgão somente em 18 de agosto de 2011, através da Resolução n. 401. Portanto, é uma especialidade recente quando comparada a outras. A fisioterapia aplicada à saúde da mulher contempla a atuação do profissional, levando-se em consideração os aspectos da saúde da mulher no contexto biopsicossocial. 10 Neste livro-texto, inicialmente você terá acesso à saúde da mulher, conhecendo e aprendendo a anatomia do aparelho reprodutor feminino e suas especificidades, bem como a fisiologia do ciclo reprodutivo da mulher, incluindo as fases, as modificações que ocorrem no útero e nos ovários e como os hormônios femininos e hipofisários se comportam durante todo esse ciclo. Após esse entendimento inicial, será possível estudar as diferentes áreas de atuação da fisioterapia aplicada à saúde da mulher. A obstetrícia é uma das áreas com ampla atuação, na qual são estudadas todas as alterações que ocorrem no corpo gravídico, inclusive as mudanças físicas e fisiológicas dos diferentes sistemas e as alterações hormonais. Também são contemplados nessa área a fase do parto, incluindo os sinais do trabalho de parto, as posições para o parto e os mecanismos de alívio da dor, bem como o puerpério ou pós-parto, no qual, novamente, ocorrem inúmeras alterações físicas e fisiológicas no corpo da mulher. Em todas as fases – pré-parto, parto e puerpério –, há indicação de fisioterapia para minimizar complicações e tratá-las. Após o nascimento do bebê, é indicado o aleitamento materno, que pode ser exclusivo, complementado ou misto. Os hormônios prolactina e ocitocina são os responsáveis pela produção do leite materno. Entretanto, não é fácil amamentar; existe a forma certa de fazê-lo. O mal posicionamento do bebê, a pega incorreta, entre outros fatores, podem gerar complicações durante a amamentação e, com isso, desencorajar o aleitamento exclusivo. A fisioterapia tem um importante papel na orientação quanto à forma correta de realizar a amamentação e o tratamento de algumas dessas complicações. Outro campo de atuação do fisioterapeuta nesta área é a uroginecologia, incluindo as incontinências urinárias de esforço, de urgência e mistas, bem como as distopias genitais. A área de atuação e os recursos terapêuticos utilizados são variados, mas o fisioterapeuta precisa compreender a anatomia e a neurofisiologia do sistema urinário feminino e, consequentemente, suas patologias para a realização de um programa eficaz de prevenção e/ou tratamento. A fisioterapia também atua amplamente no câncer de mama, incluindo prevenção e autoexame das mamas, além de atuar no pré e pós-operatório imediato e tardio das cirurgias mamárias e na prevenção e tratamento de complicações. Também são englobados pela intervenção fisioterapêutica os distúrbios ginecológicos, com destaque para a dor pélvica crônica, a dismenorreia, a síndrome pré-menstrual e as disfunções sexuais femininas, como dispaneuria, vaginismo e anorgasmia. E, por último, quando se inicia a diminuição da fertilidade feminina, a mulher entra no climatério, período em que ocorrem várias alterações físicas e fisiológicas no corpo feminino, inclusive a última menstruação ou menopausa. O fisioterapeuta, ao conhecer essas alterações, é capaz de amenizar ou prevenir algumas das complicações geradas nesse período. 11 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Unidade I 1 APARELHO REPRODUTOR FEMININO Iniciaremos este livro-texto pelo estudo do aparelho reprodutor feminino, uma vez que ele é a base da fisioterapia aplicada a saúde da mulher. É importante saber que o aparelho reprodutor feminino é formado por um conjunto de órgãos encarregados da reprodução da mulher, sendo que, do ponto de vista reprodutivo, o sistema genital feminino é considerado mais complexo do que o masculino, por possuir um órgão e uma função a mais: a de abrigar e desenvolver o feto. 1.1 Anatomia do aparelho reprodutor feminino 1.1.1 Pelve feminina Pelo fato de a pelve feminina ser o canal de passagem do bebê durante o parto, possui diferenças em relação à pelve masculina. Em geral, esta é mais larga e mais curta, mas existem outras diferenças importantes. Os ossos da pelve feminina são mais leves, o sacro é mais largo e menos curvo, a cavidade pélvica é mais larga e cilíndrica e a abertura superior é arredondada. Nas figuras a seguir, é possível observar essas diferenças. Entre as funções da pelve estão: proteger os órgãos pélvicos, transmitir o peso do tronco para os membros inferiores e fixar os músculos. Espinha ilíaca ântero- superior Sínfise púbica A) B) Figura 1 – Inclinação da pelve: A) sexo masculino; B) sexo feminino Fonte: Dângelo e Fattini (2000, p. 625). 12 Unidade I A) B) Figura 2 – Diferençaanatômica: A) pelve masculina; B) pelve feminina Fonte: Dângelo e Fattini (2000, p. 625). 1.1.2 Genitália externa feminina Também denominada vulva ou conjunto de pudendo feminino, a genitália externa feminina é formada pelo monte púbico, pelos grandes e pequenos lábios, pelo clitóris e pelo vestíbulo. Todas essas estruturas podem ser observadas na figura a seguir. 1.1.2.1 Monte púbico O monte púbico é uma elevação constituída de tecido adiposo que recobre a sínfise púbica. Após a puberdade, é recoberta de pelos espessos. 1.1.2.2 Grandes lábios Também chamados de lábios maiores, os grandes lábios são duas pregas cutâneas mais externas que, após a puberdade, tornam-se hiperpigmentadas e cobertas de pelos. 1.1.2.3 Pequenos lábios Também chamados de lábios menores, os pequenos lábios são duas pequenas pregas cutâneas, localizadas medialmente aos grandes lábios, ou seja, mais internas. 1.1.2.4 Clitóris O clitóris é considerado uma estrutura homóloga ao pênis, por ser um órgão erétil, extremamente sensível e ligado à excitabilidade sexual feminina. Apenas sua glande é visível, no local onde se fundem os pequenos lábios. 13 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 1.1.2.5 Vestíbulo O vestíbulo é uma estrutura só pode ser evidenciada com o afastamento dos pequenos lábios. Nele se encontram o orifício vaginal e o hímen. Lábio maior Glande do clitóris Lábio menor Óstio externo da uretra Óstio da vagina Figura 3 – Genitália externa feminina Fonte: Dângelo e Fattini (2000, p. 154). 1.1.3 Órgãos genitais internos Os órgãos genitais internos são formados por vagina, útero, ovário e trompas uterinas, como é possível observar na próxima figura. 1.1.3.1 Vagina A vagina é um canal fibromuscular que se estende do vestíbulo até o colo do útero, mede de 8 a 10 cm e tem cerca de 4 cm de diâmetro. A vagina possui capacidade elástica para que ocorra a penetração do pênis durante o ato sexual e a passagem do bebê durante o parto. 1.1.3.2 Útero O útero é um órgão com formato de pera invertida, onde o embrião se aloja e se desenvolve até o nascimento. Ele se abre na vagina e superiormente é contínuo com as trompas uterinas. Inferiormente, o útero é dividido em quatro partes: fundo, corpo, istmo e cérvix ou colo do útero. O corpo é a porção principal, o fundo se localiza acima das trompas uterinas, e o istmo é a região inferior e de estreitamento do útero, seguido pelo colo uterino, que faz projeção na vagina. 14 Unidade I Além disso, em sua estrutura, o útero possui três camadas: endométrio, miométrio e perimétrio. O endométrio é a camada mais interna, que sofre modificações durante o ciclo menstrual; o miométrio é a camada média, que constitui a maior parte da parede uterina; e o perimétrio é a camada mais externa. As paredes uterinas são espessas devido à musculatura, entretanto, em um útero não gravídico, a cavidade uterina é relativamente estreita. Mensalmente, o endométrio se prepara para receber o óvulo fecundado. Para isso, ocorre a ampliação de volume do endométrio e da rede capilar, aumentando sua vascularização. Quando a fecundação não ocorre, essa camada do endométrio sofre uma descamação com hemorragia através da vagina. Essa é a chamada menstruação. 1.1.3.3 Ovários Situados um de cada lado do útero, para trás e abaixo das trompas, os ovários são responsáveis pela produção de óvulos e hormônios femininos (estrógeno e progesterona); por isso, em seu interior, ocorre o processo de ovulação. 1.1.3.4 Trompas uterinas As trombas uterinas, também chamadas de tubas uterinas, são dois canais que se estendem do útero ao ovário, apresentando cerca de 10 a 12 cm de comprimento e de 2 a 4 mm de diâmetro. Essas estruturas transportam os óvulos que se romperam na superfície do ovário para a cavidade do útero. Na maioria das vezes, a fecundação ocorre na trompa uterina. Vagina Cérvix Útero FundusTrompas uterinas Ovário Canal do útero Figura 4 – Órgãos genitais internos Disponível em: https://bityli.com/8FOUN. Acesso em 16 jan. 2021. 15 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 1.1.4 Mamas As mamas situam-se ventralmente aos músculos da região peitoral, e são constituídas por tecido glandular, estroma e pele. O tecido glandular é formado por um sistema ductal arborizado, composto de 15 a 20 lobos. O estroma é formado principalmente por tecido adiposo, conduzindo vasos sanguíneos, nervos, vasos linfáticos e tecido conjuntivo que envolvem cada lobo. O tamanho e o formato das mamas estão relacionados à quantidade de tecido adiposo do estroma. Dos lobos das glândulas mamárias se projetam os ductos lactíferos, e cada um projeta de 15 a 20 ductos. Esses ductos desembocam nos mamilos, que são abundantemente inervados. Ao redor do mamilo, há uma área de maior pigmentação chamada aréola, onde existem glândulas sudoríparas e sebáceas. Ductos lactíferos Lóbulo Figura 5 – Mamas Disponível em: https://bityli.com/IG5AkC. Acesso em: 16 jan. 2021. 1.2 Sistema urinário O sistema urinário compreende os órgãos responsáveis pela formação da urina. Divide-se em trato urinário superior, formado por rins e ureter, e em trato urinário inferior, formado por bexiga e uretra. A seguir, será apresentada a descrição de cada um deles. 16 Unidade I 1.2.1 Rins Os rins são um par de órgãos abdominais que possuem formato de um grão de feijão, situados à direita e à esquerda da coluna vertebral. O rim direito ocupa uma posição mais inferior do que a do esquerdo devido à presença do fígado. 1.2.2 Ureter O ureter é um tubo muscular que une o rim à bexiga e é capaz de contrair e realizar movimentos peristálticos. 1.2.3 Bexiga Bolsa que funciona como reservatório de urina situada atrás da sínfise púbica, a bexiga armazena a urina formada pelos rins por determinado tempo até que o reflexo da micção seja desencadeado. É envolvida pelo músculo detrusor, que trabalha com a alteração da capacidade funcional (complacência) da bexiga. 1.2.4 Uretra A uretra é o último segmento das vias urinárias. Na mulher, serve exclusivamente para a excreção de urina, levando a urina da bexiga ao exterior. Seu comprimento é de cerca de 4 a 5 cm. Glândula adrenal Rim Ureter Bexiga Uretra Figura 6 – Sistema urinário feminino Disponível em: https://bityli.com/jF8af. Acesso em: 16 jan. 2021. 17 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 1.3 Assoalho pélvico É necessário ter em mente que o assoalho pélvico não é formado apenas por músculos, mas também por ligamentos e fáscias, que serão discutidos com mais profundidade posteriormente. Entre as funções do assolho pélvico estão: sustentar os órgãos internos, a bexiga, o útero e o reto, permitir a passagem do feto no momento do parto e proporcionar ação esfincteriana para a uretra. 1.3.1 Períneo O períneo é uma região em forma de losango situada abaixo da cavidade pélvica que se estende do monte pubiano até as faces médias das coxas e as pregas glúteas. O períneo se divide em dois triângulos e possui uma linha reta que passa entre as tuberosidades isquiáticas, formando, assim, o trígono urogenital e o trígono anal, como observado na figura a seguir. O trígono urogenital é uma área anterior onde se localizam os órgãos genitais externos e os músculos que formam o diafragma urogenital. Já o trígono anal é posterior e nele se localizam o ânus e o músculo esfíncter do ânus. Sínfise púbica Cóccix Tuberosidade isquiática Tuberosidade isquiática Trígono urogenital Trígono anal Figura 7 – Períneo – trígonos urogenital e anal Fonte: Dângelo e Fattini (2000, p. 656). 1.3.2 Músculos do assoalho pélvico (MAP) Além das funções do assoalho pélvico citadas anteriormente, os músculos dessa região, também conhecidos pela sigla MAP, apresentam função na resistência ao aumento da pressão intra-abdominal, na elevação do assoalho pélvico, nas continências urinária e fecal, na relação sexual e no orgasmo. Os MAP podem ser divididos em músculos superficiais e profundos. 18 Unidade I Os músculos superficiaissão: • músculo isquiocavernoso; • músculo bulboesponjoso; • músculo transverso superficial do períneo; • músculo esfíncter do ânus, que pode ser dividido em interno e externo. M. bulboesponjoso M. isquiocavernoso M. transverso superficial do períneo Ânus M. levantador do ânus Vagina Uretra Clitóris Figura 8 – Músculos superficiais Fonte: Dângelo e Fattini (2000, p. 660). Os músculos profundos, por sua vez, são: • músculos elevadores do ânus, formados pelos músculos pubococcígeo, ileococcígeo e puborretal; • músculo coccígeo; • músculo esfíncter uretral externo; • músculo piriforme; • músculo obturador interno. 19 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Ligamento transverso do períneo Ligamento arqueado do púbis Bulbo do vestíbulo Fáscia inferior do diafragma urogenital Ligamento sacrotuberal Transverso profundo do períneo Esfíncter da uretra Figura 9 – Músculos profundos Fonte: Dângelo e Fattini (2000, p. 661). Uretra Músculo puborretalMúsculo pubococcígeo Músculo iliococcígeo Figura 10 – Músculos elevadores do ânus Disponível em: https://bityli.com/5YaBo. Acesso em: 19 de jan. 2021. 20 Unidade I 2 FISIOLOGIA DO CICLO REPRODUTIVO FEMININO O ciclo reprodutivo da mulher se inicia na puberdade após a menarca ou primeira menstruação. Nessa fase, como já se sabe, o corpo da mulher sofre grandes mudanças, que ocorrem devido às alterações hormonais. Nesse momento se iniciam os ciclos menstruais, que estarão presentes na vida da mulher durante toda a fase reprodutiva. O ciclo menstrual dura em média 28 dias, podendo variar de mulher para mulher, e as alterações hormonais estão presentes durante todo o ciclo. Para a regulação do ciclo menstrual, deve haver integridade das estruturas que englobam o hipotálamo, a hipófise e os ovários, pois hormônios secretados por essas estruturas estão envolvidos nesse ciclo. O hipotálamo é responsável pela liberação de hormônios gonatrópicos, que estimulam o hipotálamo a secretar o hormônio foliculoestimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), que, então, estimulam a secreção dos hormônios ovarianos, estrógeno e progesterona. 2.1 Alterações na puberdade O corpo da menina passa por diversas mudanças quando ela entra na puberdade, mudanças essas relacionadas ao início das alterações hormonais. Na puberdade, ocorre uma modificação na resposta hipofisária, que se torna mais sensível aos impulsos neurais provenientes do sistema nervoso central (SNC), incluindo o hipotálamo. Portanto, aumentam os níveis de hormônios gonatrópicos, os quais estimulam a hipófise, que passa a secretar primeiramente FSH e, depois, LH. Estes, por sua vez, estimulam a secreção dos hormônios sexuais femininos estrógeno e progesterona. Com a mudança hormonal o corpo da menina começa a sofrer alterações físicas e a apresentar características do corpo feminino, ocorrendo o crescimento da pelve óssea com alargamento dos quadris, alterações e posterior crescimento das mamas, aumento dos ovários, aparecimento de pelos pubianos e, então, a menarca. 2.2 Funções hormonais 2.2.1 Hormônio foliculoestimulante (FHS) O FSH é responsável pela proliferação das células foliculares ovarianas, estimulando a secreção de estrógeno, o que faz com que as cavidades foliculares se desenvolvam e cresçam. 2.2.2 Hormônio luteinizante (LH) O LH estimula a ovulação através do aumento final da secreção de células foliculares ovarianas. 21 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 2.2.3 Estrógeno O estrógeno, também chamado de estrogênio ou estradiol, induz a proliferação de células, proporciona o aumento da musculatura lisa do útero, que se torna de 2 a 3 vezes maior na puberdade, o aumento da vagina e o desenvolvimento dos lábios genitais. Além disso, o estrógeno faz com que o tecido adiposo se concentre mais nas regiões de quadril, glúteos e pernas (características do corpo feminino), auxilia no desenvolvimento das mamas e suas glândulas, promove o aparecimento e o aumento dos pelos, principalmente os pubianos, e promove o crescimento dos ossos longos. Observação Você já ouviu falar que as meninas param de crescer depois da menarca? Isso é realmente verdade! Essa interrupção no crescimento acontece devido ao aumento da produção do estrógeno na puberdade, que proporciona o crescimento dos ossos longos. Por último, o estrógeno tem uma importante função no desenvolvimento do endométrio (camada mais interna do útero) durante o ciclo menstrual. 2.2.4 Progesterona A progesterona tem uma função importante no desenvolvimento e no espessamento do endométrio durante o ciclo menstrual, fazendo com que este seja invadido por vasos sanguíneos. Além disso, a progesterona atua durante a fecundação e a gestação, preparando o útero para a aceitação do embrião e as mamas para a lactação, através do aumento dos graus de atividade secretória das glândulas mamárias e das células que revestem a parede uterina. E, por último, inibe as contrações do útero e impede a expulsão do embrião que está sendo implantado ou do feto em desenvolvimento. 2.3 Fisiologia do ciclo menstrual Muitas pessoas acreditam que o ciclo menstrual se resume ao período da menstruação. Entretanto, a menstruação é apenas um evento que marca o início do ciclo menstrual. Todo ciclo menstrual se inicia no primeiro dia da menstruação e vai até o primeiro dia da menstruação seguinte. Ele dura em média 28 dias, podendo variar bastante, de 25 a 32 dias, em geral. 22 Unidade I Lembrete Durante o ciclo menstrual, o hipotálamo, a hipófise e os ovários trabalham em conjunto na secreção de hormônios para manter o ciclo acontecendo. O ciclo menstrual pode ser subdividido em dois, um presente nos ovários e outro no útero. Ambos interagem e, na primeira metade do ciclo menstrual, antes da ovulação, há a preparação do óvulo para ser liberado do ovário e o desenvolvimento do endométrio. Na segunda metade, após a ovulação, ocorre a preparação do corpo e do útero para aceitar o óvulo fecundado ou para iniciar um novo ciclo. Na figura a seguir, é possível observar um resumo de todo o ciclo menstrual, com suas subdivisões e variações hormonais e dos órgãos. 2.3.1 Ciclos ovarianos Os ciclos ovarianos são divididos em duas fases: a fase folicular e a fase lútea. Na fase folicular, o óvulo é preparado para ser liberado, enquanto na fase lútea o corpo se prepara para uma possível gravidez. Entre as duas fases ocorre a ovulação, que é a liberação do óvulo dentro do ovário, quando este está pronto para a fecundação. 2.3.2 Ciclos uterinos Os ciclos uterinos são divididos em três: período menstrual, fase proliferativa e fase secretora. No período menstrual ocorre a descamação do endométrio e, consequentemente, o sangramento. Na fase proliferativa, há a reconstrução tecidual no útero e, na fase secretora, o tecido uterino produz substâncias químicas para dar suporte à gravidez ou preparar o tecido para se descamar durante a menstruação. 2.3.3 A primeira metade do ciclo menstrual Como já explicado anteriormente, o ciclo menstrual se inicia com a menstruação. Nesse momento, a hipófise aumenta a secreção de FSH, que transmite informação aos ovários para prepararem um óvulo para a ovulação. Nos ovários existem diversos folículos (bolsas de fluídos contendo óvulos) em diferentes estágios de desenvolvimento, em ambos os ovários. Mais ou menos na metade da fase folicular (no final da menstruação) um folículo se desenvolve mais do que os outros. Este folículo será o folículo dominante, que será preparado para ovular, produzindo estrógeno à medida que cresce. O estrógeno atinge o pico alguns dias antes da ovulação. 23 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Nesse momento ocorre uma leve diminuição de FSH. A fase folicular varia de ciclo para ciclo, mas dura, em média, de 10 a 15 dias. Enquanto os ovários estão desenvolvendo os folículos, o útero, em resposta ao aumento do estrógeno produzido pelos folículos, está reconstruindo seu endométrio, que foi descamado na últimamenstruação. Essa é a chamada fase proliferativa, porque nela o endométrio se torna mais espesso. O útero faz esse espessamento para criar um ambiente propício ao desenvolvimento de um embrião. Então, à medida que o folículo mais desenvolvido ou folículo dominante do ovário cresce, aumenta mais e mais a produção do estrógeno. Quando os níveis de estrógeno estão altos o suficiente, uma informação é encaminhada à hipófise, causando um grande aumento de LH. Esse pico de LH induz a ovulação, que é a liberação do óvulo no ovário. A ovulação acontece, em geral, na metade do ciclo menstrual, ou seja, de 13 a 15 dias antes do começo da próxima menstruação. 2.3.4 A segunda metade do ciclo menstrual Em relação à outra metade do ciclo menstrual, fase que tem início após a ovulação, uma vez que esta ocorre, o folículo que continha o óvulo liberado se transforma no chamado corpo lúteo ou corpo amarelo, que começa a secretar estrógeno e elevada quantidade de progesterona. O aumento desses hormônios diminui a produção de FSH e LH. Os níveis de progesterona têm um pico na metade da fase lútea, aproximadamente. Essas mudanças hormonais da fase lútea são associadas aos sintomas pré-menstruais, como cefaleia, alterações de humor, edema e hipersensibilidade nas mamas. Quando o óvulo é fecundado, o corpo lúteo continua a secretar progesterona para o suporte inicial da gravidez. Caso não ocorra a fecundação, o corpo lúteo involui 9 a 11 dias após a ovulação. Essa involução do corpo lúteo resulta em uma queda nos níveis de estrógeno e progesterona, o que causa a menstruação. Após a ovulação, o útero começa a liberar substâncias químicas que ajudarão na fixação do embrião, caso o óvulo tenha sido fecundado, ou ajudarão o endométrio a descamar durante a menstruação. Os altos níveis de progesterona fazem com que o endométrio pare de espessar e comece a se preparar para uma possível fecundação e implantação do embrião. A fase secretora do útero tem esse nome porque o endométrio produz e libera substâncias químicas, como as prostaglandinas. As prostaglandinas aumentam durante a segunda metade desse ciclo e alcançam seu pico durante a menstruação. Quando ocorre uma gravidez, as prostaglandinas param de ser produzidas. 24 Unidade I Entretanto, quando não ocorre a gravidez, o corpo lúteo para de produzir estrógeno e progesterona. A baixa concentração desses hormônios e as prostaglandinas fazem com que os vasos sanguíneos se contraiam e o endométrio descame. Iniciam-se, então, a menstruação e todo o ciclo novamente. 1 Hi st ol og ia en do m et ria l Dia do cliclo menstrual (valores médios, as durações e valores podem variar entre mulheres e ciclos diferentes) Hi st ol og ia ov ar ia na Folículo Temperatura corporal Fase folicular Menstruação Progesterona Ov ul aç ão Estradiol 36 ºC 37 ºC Hormônio luteinizante (LH) Hormônio foliculoestimulante (FSH) Fase lútea Maturação do folículo Ovulação Corpo lúteo Corpo lúteo degenerado Ho rm ôn io s 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 Figura 11 – Resumo do ciclo menstrual Disponível em: https://bityli.com/Od2xu. Acesso em: 20 jan. 2021. 3 OBSTETRÍCIA A gestação de um bebê termo tem a duração média de 37 semanas e 7 dias a 41 semanas e 7 dias. Durante esse período, para proporcionar o desenvolvimento do bebê, o corpo da mulher sofre inúmeras alterações, ocorrendo grandes mudanças em seu funcionamento e em sua forma em um curto período. Na figura a seguir, é possível observar o posicionamento do bebê e de importantes órgãos, como a bexiga e o útero, no final da gestação. 25 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Após a gestação, a mulher entra em uma nova fase de transformação, chamada puerpério ou pós-parto, na qual o funcionamento do corpo tende a voltar à situação pré-gravídica. Colo sigmoide Tampão mucoso Fórnice da vagina, parte posterior Porção vaginal do colo, óstio do útero Escavação retouterina Prega transversa do reto Vagina Cóccix Fáscia retovaginal (septo retovaginal) Corpo anococcígeo Septo vesicovaginal M. esfíncter externo do ânus M. esfíncter interno do ânus Uretra feminina M. esfíncter da uretra Lábio menor do pudendo Lábio maior do pudendo M. transverso profundo do períneo Glande do clitóris Clitóris, corpo cavernoso do clitóris Bexiga urinária Sínfise púbica, disco interpúbico Espaço retropúbico Escavação vesicouterina Linha alba Lig. umbilical mediano Placenta Fundo do útero V. umbilical Aa. umbilicais Figura 12 – O últero com feto Fonte: Sobotta (2000, p. 200). O início da gestação ocorre na fase de ovulação do ciclo menstrual, já discutida anteriormente, em que um espermatozoide fecundará o óvulo liberado pelos folículos ovarianos, no ovário. Então, esse óvulo fecundado percorrerá as trompas uterinas e se implantará no útero, que nessa fase está pronto para receber o embrião. Essa implantação do ovo no endométrio uterino ocorre cerca de 6 a 7 dias após a fecundação. Inicialmente, a nutrição do embrião é realizada pelo corpo lúteo, que continua a secretar hormônios importantes para a manutenção da gestação – estrógeno e progesterona. Após a 13ª semana gestacional, o corpo lúteo involui e a nutrição fetal passa a ser feita exclusivamente pela placenta. 26 Unidade I Observação A involução precoce do corpo lúteo, ou seja, antes da 13ª semana gestacional, resulta na queda de estrógeno e progesterona, provocando, assim, o aborto espontâneo. A placenta se desenvolve e cresce durante a gravidez. Ao final, essa estrutura chega a medir aproximadamente 20 cm de diâmetro, 3 cm de espessura e pesar cerca de 500 a 700 gramas. A placenta é a responsável pela difusão de nutrientes entre mãe e feto, pela difusão de produtos de excreção entre feto e mãe e pela secreção de grandes quantidades de hormônios. Lembrete Como você viu anteriormente, o corpo lúteo é desenvolvido no ovário pelos folículos ovarianos de maneira temporária e cíclica após a ovulação. Placenta Figura 13 – Placenta Disponível em: https://bityli.com/3Eo4Z7. Acesso em: 21 jan. 2021. Quando ocorre a gestação, a mulher apresenta alguns sinais, como amenorreia (ausência de menstruação), congestão mamária, náuseas, vômitos, fadiga, entre outros. O teste de urina para detecção da gravidez mensura o beta HCG (gonadotrofina coriônica humana), que nessa fase aumenta para impedir a destruição do corpo lúteo. 27 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER A gestação pode ser dividida em três diferentes fases: pré-parto, parto e puerpério. A fase do parto, por sua vez, é subdividida em dilatação, expulsão e secundamento; e o puerpério, em imediato, tardio e remoto. A gestação, a partir dessas divisões, será estudada a seguir. 3.1 Pré-parto O pré-parto é a fase da gestação em si, na qual o feto está se desenvolvendo dentro do útero da mulher. É uma fase de adaptações no organismo materno e mudanças em vários sistemas. Nessa fase, a mulher deve ser assistida e realizar o pré-natal, através de um atendimento humanizado, assistencial e preventivo associado ao conhecimento de integralidade da equipe multiprofissional, que inclui o fisioterapeuta. É importante saber que, no Brasil, toda gestante tem direito a realizar o pré-natal através do Sistema Único de Saúde (SUS). Saiba mais Para aprender mais sobre a assistência pré-natal, leia o manual Assistência pré-natal: manual técnico, desenvolvido pelo Ministério da Saúde: BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência pré-natal: manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. Disponível em: https://bit.ly/3tPaFkR. Acesso em: 20 jan. 2021. A seguir, serão discutidas as mudanças fisiológicas no corpo da mulher. 3.1.1 Útero O útero gravídico cresce, aumenta de volume, bem como sofre hipertrofia e dilatação. A vascularização aumenta de 50 mL/min para 500 mL/min, sua capacidade se amplia de 5 mL para até 10.000 mL, o comprimento passa de 7 cm para 30 cm e o peso sobe de 70 g paracerca de 1.100 g. Entretanto, esse aumento é gradativo com o desenvolvimento da gestação e, a partir da 10ª semana gestacional, o útero já pode ser palpado acima da sínfise púbica. Para fechar o colo do útero e impedir infecções, desenvolve-se o tampão mucoso, que só sairá nas últimas semanas gestacionais. O colo do útero se torna mais grosso e mais vascularizado e, a partir do terceiro trimestre gestacional, começa a afinar em preparação para o parto. Com o aumento de tamanho do útero, a bexiga é comprimida e, por isso, é comum nas gestantes o aumento da frequência miccional. Além disso, após a 20ª semana gestacional, esse aumento também 28 Unidade I gera compressão da veia cava inferior e da artéria aorta, quando a grávida se posiciona em decúbito dorsal, o que pode gerar a síndrome da hipotensão supina, na qual ocorre a compressão dos grandes vasos, com diminuição do fluxo sanguíneo e da pressão arterial, gerando uma sensação de tontura na gestante, bem como diminuição da oxigenação fetal. Se essa postura for mantida por muito tempo, o bebê pode entrar em sofrimento. Portanto, durante a gravidez, é recomendado o decúbito lateral esquerdo. Nas figuras a seguir, é possível observar a diferença entre a compressão dos grandes vasos, em decúbito dorsal, e a descompressão, em decúbito lateral. Área de compressão Veia cava inferior Fluxo sanguíneo arterial diminuído Retorno venoso diminuído Útero Aorta Figura 14 – Compressão da veia cava inferior e artéria aorta em decúbito dorsal Fonte: Stephenson e O’Connor (2004, p. 156). Veia cava inferior Aorta Figura 15 – Descompressão dos grandes vasos em decúbito lateral esquerdo Fonte: Stephenson e O’Connor (2004, p. 157). 29 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 3.1.2 Vagina Durante a fase gestacional, a vagina perde sua rugosidade para facilitar a passagem do bebê durante o parto. Além disso, assim como o útero, ela hipertrofia, apresenta aumento na vascularização e hiperpigmentação, graças às alterações hormonais. 3.1.3 Alterações hormonais Durante toda a fase gestacional, os hormônios FSH e LH diminuem a valores mínimos. Além disso, há aumento da produção de prolactina, estrógeno, progesterona e relaxina. O estrógeno provoca aumento da camada intermediária da mucosa vaginal, ampliação da flexibilidade nas articulações e retenção hídrica. Em conjunto com a prolactina e a progesterona, o estrógeno auxilia no preparo das mamas para a lactação. A progesterona tem um importante papel na implantação da gestação, por diminuir a contratilidade do útero e a tonicidade da musculatura lisa. Além disso, aumenta a temperatura e a gordura corporal, bem como a amplitude respiratória, através da estimulação do centro respiratório. Em conjunto com o estrógeno, a progesterona impede a menstruação e promove o crescimento do endométrio. A relaxina, por sua vez, é um hormônio produzido exclusivamente em mulheres grávidas. Antigamente, acreditava-se que sua função era provocar maior flexibilidade nas articulações, que pode ser observada especialmente a partir do segundo trimestre gestacional. Entretanto, esse hormônio, produzido por ovários, corpo lúteo e placenta, está mais presente no primeiro trimestre gestacional e diminui a partir do segundo trimestre; ou seja, essa pode não ser uma função da relaxina. Atualmente, as funções desse hormônio ainda são pouco conhecidas, mas parece haver uma possível relação com o amadurecimento do colo uterino. 3.1.4 Alterações dermatológicas Devido às alterações hormonais, a pele das gestantes também pode sofrer algumas mudanças, como o aparecimento de melasmas, que são manchas hiperpigmentadas na região da face. Essas manchas podem ou não desaparecer após o parto. Também ocorre a pilificação, ou seja, o aumento dos pelos corporais. Algumas gestantes, em consequência do aumento do peso corporal e do estiramento da pele, apresentam estrias, principalmente na região da barriga, das mamas e dos glúteos. Além disso, é bastante comum o aparecimento da linha nigra no final da gestação, uma linha vertical mais escura que divide toda a barriga da gestante. 30 Unidade I Figura 16 – Linha nigra Disponível em: https://bit.ly/3llEHIN. Acesso em: 22 jan. 2021. 3.1.5 Glândulas As glândulas sebáceas e sudoríparas sofrem uma intensificação nas atividades, gerando aumento na transpiração e na oleosidade da pele, o que predispõe ao aparecimento de acnes. 3.1.6 Varizes Em geral, o aparecimento das varizes ocorre após a segunda metade da gestação. Isso ocorre devido ao aumento do peso corporal, à diminuição do retorno venoso e à vasodilatação periférica provocados pela pressão gerada pelo útero gravídico. 3.1.7 Mamas As mamas ficam mais sensíveis até a 10a semana gestacional. Além disso, elas sofrem aumento de vascularização e volume (de 500 g a 800 g) e hipertrofia do tecido alveolar, o que nodulações. Os mamilos, por sua vez, ficam mais escuros devido à hiperpigmentação e hipertrofiam, como preparo para a lactação. A partir da 20ª semana, algumas gestantes começam a secretar um líquido incolor pelas mamas. Trata-se apenas de um colostro incolor, que não apresenta propriedades nutricionais e ainda não é considerado leite materno. 31 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 3.1.8 Sistema urinário Com o aumento do útero, a bexiga da gestante é elevada progressivamente, sendo pressionada para cima, o que aumenta o desejo miccional e, consequentemente, a frequência miccional. Por essa razão, as grávidas são mais propensas a apresentarem incontinência urinária de esforço. Além disso, os rins também aumentarão de volume e peso, devido à intensificação da função renal e do fluxo sanguíneo renal em cerca de 60% a 80%. 3.1.9 Sistema musculoesquelético Principalmente após a 20ª semana gestacional, a grávida sofre alterações posturais, devido à mudança do seu centro de gravidade, que tende a se deslocar para a frente pelo aumento da barriga. Para compensar esse deslocamento, a gestante projeta o corpo para trás e aumenta a base de apoio, apresentando alterações posturais típicas que normalmente geram muita dor. Entre as alterações estão: protrusão dos ombros, anteriorização da cabeça com hiperlordose cervical, hipercifose torácica, anteroversão pélvica, hiperlordose lombar e hiperextensão dos joelhos – por essa razão é tão comum que mulheres grávidas reclamem de dores no corpo, principalmente na lombar. Além das alterações posturais, a distensão abdominal provoca o distanciamento dos músculos retoabdominais, com a modificação da linha alba. O distanciamento de até 3 cm é considerado normal, mas, acima disso, é considerado diástase abdominal, o distanciamento patológico da musculatura que normalmente ocorre em mulheres com fraqueza nos músculos abdominais, como observado na figura a seguir. Figura 17 – Diástase abdominal Disponível em: https://bit.ly/392Mp4Z. Acesso em: 22 jan. 2021. 32 Unidade I 3.1.10 Sistema gastrointestinal Grávidas normalmente apresentam náuseas e vômitos da 6ª à 16a semana gestacional, o que pode variar de mulher para mulher. A chamada náusea matinal pode ser experimentada por cerca de 50% a 90% das mulheres no primeiro trimestre gestacional. O estômago, além de apresentar diminuição de tônus, também é deslocado e pressionado com o aumento do útero – o que provoca maior incidência de queimação retroesternal, uma queixa de cerca de 70% das grávidas no final da gestação. Além da obstrução mecânica causada pelo útero, o intestino também sofre diminuição de tônus e, consequentemente, de motilidade. Por isso é muito comum ouvir grávidas se queixando de constipações intestinais. 3.1.11 Sistema respiratório A dispneia é um dos primeiros sintomas respiratórios que podem aparecer na gestante. Essa condição aumenta o consumo de oxigênio devido à nutrição fetal e à oxigenação da musculatura uterina. O aumento do útero também causa a elevação do diafragma, gerando uma respiração apical na gestante. Além disso, a compressão torácicagerada pelo útero causa aumento do volume corrente e diminuição do volume de reserva expiratório. Há também aumento do trabalho respiratório em cerca de 50%, em virtude da redução da complacência torácica. 3.1.12 Sistema cardiovascular Gestantes apresentam aumento do débito cardíaco em até 30%. Isso ocorre graças à vasodilatação periférica e ao aumento do volume de líquido intersticial, extracelular e plasmático. Dessa maneira, a frequência cardíaca tende a aumentar de 1 a 20 batimentos por minuto. No primeiro trimestre, a pressão arterial tende a diminuir, mas, a partir da 20ª semana gestacional, pode surgir a hipertensão arterial gestacional que, para ser assim considerada, deve desaparecer em até 6 semanas após o parto. Para diagnosticá-la, a gestante deve apresentar pressão arterial sistólica maior que 140 mmHg e pressão diastólica maior que 90 mmHg, em duas ocasiões, com intervalo de 6 horas ou após descanso em decúbito lateral esquerdo por 1 hora. Observação É preciso ter cuidado ao mensurar a pressão arterial de gestantes, devido a sua alteração em diferentes posturas. O ideal é sempre mensurar a pressão arterial com a grávida sentada ou em decúbito lateral esquerdo, após um período de repouso. 33 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Caso a gestante já apresente hipertensão arterial antes da gravidez ou essa condição tenha surgido antes da 20ª semana gestacional, a paciente é considerada e tratada como uma hipertensa crônica, não tendo relação com a gravidez. A hipertensão arterial gestacional é classificada em dois tipos – leve e grave –, e cada tipo exige tratamentos diferentes. Na hipertensão leve, é recomendado repouso de pelo menos 2 horas por dia em decúbito lateral esquerdo, além de controle da ingesta alimentar, monitoramento do peso e de hábitos impróprios, e prática de exercícios físicos. O controle pré-natal, nesse caso, é quinzenal e depois passa a ser semanal. A hipertensão grave, por sua vez, exige internação da gestante e repouso, além dos controles descritos anteriormente. Existem outras duas condições patológicas em gestantes que também envolvem a hipertensão arterial, porém mais graves: a pré-eclampsia e a eclampsia. A pré-eclampsia também surge após a 20ª semana gestacional e é caracterizada e diagnosticada por uma tríade composta por hipertensão arterial, proteinúria (perda de proteína na urina) e edema patológico, caracterizado por edema nas extremidades e na face que não diminuem com repouso. Além disso, a gestante com pré-eclampsia normalmente apresenta outros sintomas, como o aumento excessivo de peso (cerca de 400 gramas por semana) e baixo volume urinário. Para o aparecimento dessa condição patológica, existem alguns fatores de risco, como histórico familiar de pré-eclampsia, pré-eclampsia em gestação prévia, diabetes, doença vascular crônica, doença renal e gestação múltipla. A pré-eclampsia é classificada de duas maneiras: leve e grave, e seu tratamento é similar ao da hipertensão arterial gestacional. Na forma leve da doença, a gestante é orientada a realizar repouso de pelo menos 2 horas diárias em decúbito lateral esquerdo, diminuir as atividades físicas e realizar uma dieta hiperproteica. Já na forma grave, a gestante deve ser internada e permanecer em repouso. Caso a pré-eclampsia não seja tratada e controlada, pode evoluir para uma patologia mais grave, a eclampsia, exclusiva de pacientes com pré-eclampsia. A eclampsia é caracterizada por uma desregulação do fluxo sanguíneo cerebral, o que causa um edema cerebral, gerando convulsões e/ou coma, podendo ser letal para a gestante. O único tratamento é a interrupção da gestação, independentemente da fase gestacional. 3.2 Parto 3.2.1 Período pré-parto O período pré-parto ocorre algumas semanas antes do parto, sendo evidenciado através do encaixe pélvico do bebê, que ocorre de 2 a 3 semanas antes do trabalho de parto e contribui para o aumento da pressão pélvica, notado nessa fase. Além disso, os membros inferiores ficam edemaciados e as contrações de Braxton Hicks ficam mais presentes. 34 Unidade I As contrações de Braxton Hicks são contrações uterinas indolores, esporádicas e disritmadas, e não são as contrações características do trabalho de parto. Essas contrações são comuns a partir do terceiro trimestre gestacional. 3.2.2 Período premonitório ou pródomo O pródomo também é um período observado antes do trabalho de parto. Esse período é caracterizado pela descida do fundo uterino em cerca de 2 a 4 cm, pelo aumento das contrações uterinas sem ritmo, que não são suficientes para promover dilação, e pelo abaixamento do colo uterino. A descida do fundo uterino ocorre devido à descida da cabeça do bebê, o que gera o aumento das dores lombares e na região dos quadris das gestantes. Entretanto, algumas delas só se queixam de uma sensação de “peso” na região suprapúbica. O colo do útero, por sua vez, começa a passar por um processo de amadurecimento, no qual ele fica mais amolecido e progressivamente mais curto ao toque vaginal. 3.2.3 Sinais de trabalho de parto Antes do início do trabalho de parto, ocorre a saída do tampão mucoso, uma pequena quantidade de muco espesso e viscoso que pode conter sangue e indica que o colo do útero está preparado para o trabalho de parto. No entanto, isso não significa que o bebê nascerá no mesmo dia; o mais comum é que o tampão saia entre a 37ª a 42ª semanas de gestação. Portanto, o trabalho de parto ainda pode demorar até 3 semanas para ocorrer. Lembrete O tampão mucoso, conforme discutimos anteriormente, fecha o colo uterino durante a gestação e funciona como uma barreira contra infecções. Os sinais do trabalho de parto são a ruptura do saco amniótico com a saída do líquido amniótico (líquido transparente) e o início das contrações uterinas, que agora são mais fortes, ritmadas e progressivas. 3.2.4 Fases do trabalho de parto O trabalho de parto é composto por três etapas. A primeira é a fase de dilatação, que é assim chamada por nela ocorrer a dilatação do colo do útero para permitir a passagem do bebê. Nessa fase, as contrações uterinas se tornam progressivamente mais longas, fortes e próximas. Essas contrações são as responsáveis pela dilatação, necessária para a saída do feto, que mede cerca de 10 cm de diâmetro, em média. 35 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Segmento ativo Segmento passivo Colo Orifício externo Segmento uterino superior Segmento uterino inferior Útero grávido no termo, não em trabalho de parto Útero grávido no início do estágio I do trabalho de parto Útero grávido no estágio II do trabalho de parto Figura 18 – Dilatação do colo uterino Fonte: Stephenson e O’Connor (2004, p. 397). A segunda fase é a expulsiva, que é a fase da saída do bebê, um estágio muito mais rápido que o primeiro. A) Início do segundo estágio C) Fim do segundo estágio D) Nascimento B) O segundo estágio continua Figura 19 – Fase expulsiva Fonte: Stephenson e O’Connor (2004, p. 425, 426, 428). Na última e terceira fase, chamada secundamento, ocorre a expulsão da placenta e dos anexos. 36 Unidade I Os trabalhos de parto variam bastante de mulher para mulher, mas na primeira gestação duram de 12 a 14 horas, em média, e nas gestações seguintes, cerca de 6 horas. 3.2.5 Tipos de parto É importante destacar que existem diferentes tipos de partos. Independentemente do tipo, o ideal é que todos sejam humanizados e discutidos entre o médico e a gestante. • Parto normal, vaginal ou transpélvico espontâneo: inicia-se com a dilatação do colo uterino (10 cm) e termina com a expulsão da placenta e dos anexos. A única posição compatível para esse tipo de parto é o bebê em apresentação cefálica de vértice, ou seja, de cabeça para baixo, com a cervical totalmente flexionada. • Parto fórceps: colabora na realização do parto normal, com a utilização de um instrumento para auxiliar na retirada do bebê, com função de apreensão, tração e, algumas vezes, rotação do polocefálico do bebê. • Parto cesariana: técnica cirúrgica para realização do parto que requer uma incisão através da parede uterina. Deve ser utilizado somente se houver indicação médica. • Parto humanizado: todo parto pode ser humanizado, pois tem como foco as necessidades da mãe e do bebê. É uma forma de assistir a gestante, respeitando sua natureza e vontade. Portanto, trata-se de uma assistência acolhedora e que respeita a mulher em todas as suas necessidades físicas, emocionais, sociais, psicológicas e espirituais. Além disso, em um parto humanizado, o bebê deve ser colocado imediatamente perto da mãe após a expulsão, pois esse é um momento importante para o estabelecimento de vínculos entre a mãe e o bebê. Figura 20 – Parto fórceps Disponível em: https://bit.ly/3C8tClm. Acesso em: 23 jan. 2021. 37 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 3.2.6 Posições para o parto Durante o trabalho de parto, a mulher tem autonomia para escolher a posição mais confortável e desejada, principalmente no parto normal. As posições verticais de parto, em pé, de cócoras, sentada, ajoelhada e de gatas apresentam vantagens devido ao efeito da gravidade e ao peso das vísceras, além de o útero se projetar para a frente e, assim, se alinhar com o canal do útero, o que facilita a expulsão do bebê. Essas posturas também favorecem contrações mais rítmicas e frequentes, facilitando o trabalho de parto. A postura em pé aumenta o diâmetro pélvico, retifica o canal do parto e facilita o desprendimento fetal. A postura sentada ou semissentada (figura 21), além de ser muito confortável para a gestante, também facilita o período de expulsão. Essa postura, no entanto, deve ser evitada por períodos muitos prolongados na segunda fase do trabalho de parto, pois pode gerar edema vulvar. A postura de cócoras (figura 22) é considerada uma das melhores posturas, pois aumenta em 28% a área do plano de saída da pelve, além de a flexão de quadril e o encontro da coxa com o abdome contribuírem para a retificação da região lombossacra, aumentando o diâmetro de saída da bacia e facilitando a passagem do bebê. Entretanto, não é uma postura fácil de se adquirir e pode ser desconfortável para algumas mulheres, mas pode ser treinada durante a gestação. Apesar dos benefícios da postura de cócoras, muitos obstetras não encorajam as mulheres a tentarem ficar nessa posição, pois dificulta o uso de manobras extrativas, como o fórceps e a episiotomia – uma incisão medial ou lateral na vulva feita durante o parto, se necessário, para facilitar a passagem do bebê. A episiotomia era muito utilizada no passado, mas o Brasil ainda é um dos campeões mundiais em realização dessa técnica; contudo, deve-se ter cautela, uma vez que pode trazer complicações para a mulher durante o puerpério. A última postura vertical é a de gatas (figura 23), que facilita a proteção perineal durante a fase de expulsão, o que diminui o risco de lacerações perineais. Outra posição favorável para as gestantes no período de trabalho de parto é em decúbito lateral esquerdo, pois favorece maior oxigenação ao feto durante o período expulsivo. É uma posição confortável que deve ser adotada por grávidas cardiopatas. Por fim, a postura mais comum e mais adotada é a supina ou em decúbito dorsal. É a postura menos fisiológica, mas que facilita as intervenções médicas, pois favorece a compressão dos grandes vasos sanguíneos pelo útero, dificultando a troca gasosa entre feto e gestante, além de diminuir a efetividade das contrações uterinas. 38 Unidade I Figura 21 – Postura sentada ou semissentada Fonte: Baracho (2007, p. 189). A) B) Figura 22 – A) Postura de cócoras; B) Postura de gatas Fonte: Baracho (2007, p. 190-191). 3.3 Puerpério O puerpério ou pós-parto é um novo período de modificações corporais e psíquicas para a mulher, no qual ocorrerá o retorno dos órgãos reprodutivos e fenômenos gerados pela gravidez ao estado pré-gravídico. Ele se inicia logo após a fase de secundamento, ou seja, após a expulsão da placenta e dos anexos, e é dividido em três fases: 39 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER • Puerpério imediato: período que vai do 1º ao 11º dia após o parto. • Puerpério tardio: 12º dia até o 45º dia após o parto. • Puerpério remoto: depois do 45º dia após o parto. 3.3.1 Modificações no puerpério Como mencionado anteriormente, o corpo da mulher precisa voltar ao estado pré-gravídico, mas esse processo é lento e não ocorre imediatamente após o secundamento. O colo do útero fecha gradativamente e o útero também diminui aos poucos, cerca de 0,7 cm por dia. O endométrio só começa a diminuir de espessura no puerpério tardio: no 15º dia já reduziu cerca de 34% e após um mês já tem espessura normal. A genitália externa e a vagina ficam edemaciadas após o parto, e esse edema tende a regredir nas primeiras 48 horas após o parto. A parede vaginal também sofre um relaxamento e uma secreção vaginal chamada lóquios ocorre após o parto. Os lóquios incialmente têm uma característica sanguinolenta, depois, serossanguínea e, por último, ao término, se torna uma secreção esbranquiçada e serosa. Essa secreção para de ocorrer por volta de 4 a 6 semanas após o parto. Após o parto, a parede abdominal tem uma característica flácida e as vísceras voltam aos poucos à posição original. Ainda é possível observar o distanciamento dos músculos retoabdominais, e a recuperação da tonicidade é lenta, podendo demorar cerca de 6 semanas ou até mais e, em alguns casos, até ser imperfeita. As infecções urinárias são comuns no puerpério devido à hiperdistensão vesical e ao aumento de urina residual. Além disso, muitas mulheres apresentam incontinência urinária (IU), principalmente as que realizam partos vaginais (normal ou fórceps). A IU muitas vezes ocorre por lesão muscular da uretra e dos tecidos adjacentes. Muitas mulheres apresentam constipação intestinal no puerpério imediato, que pode ocorrer em virtude da diminuição da ingesta alimentar, da fraqueza da musculatura abdominal e perineal e da inibição antálgica, mais presente nos partos cesarianas. O aparelho cardiovascular volta ao funcionamento pré-gravídico entre a 6a e a 12a semana do pós-parto. A perda de peso nessa fase também é gradativa: no puerpério imediato, há perda de 5 a 6 kg e, depois, devido à diurese, à sudorese e aos lóquios, mais de 2 a 5 kg. O restante do peso as mulheres tendem a perder até 6 meses após o parto, cerca de 500 g a 1 kg por mês. 40 Unidade I 4 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA OBSTETRÍCIA Os fisioterapeutas têm um importante papel em todas as fases da obstetrícia, participando do pré-natal, do trabalho de parto e de todo o puerpério, com o intuito de melhorar a qualidade de vida da gestante, além de prevenir e tratar complicações gestacionais. 4.1 Fisioterapia no pré-parto O fisioterapeuta deverá assistir a mulher durante toda a fase gestacional, e o tratamento poderá ser feito em grupos homogêneos ou de maneira individual, preferencialmente com o acompanhamento do(a) companheiro(a). A gestante deve ser avaliada individualmente para que seja desenvolvido um programa de exercícios, levando em consideração intensidade, duração e tipo de exercício. Além disso, durante a avaliação, o fisioterapeuta deve perguntar se a gestante já praticava atividade física antes da gravidez ou não, pois isso impacta diretamente a intensidade do exercício. Muitos estudos demonstram os benefícios da atividade física durante a gestação, entre eles a diminuição do risco de pré-eclampsia e diabetes gestacional. A prática de atividade física também evita o ganho excessivo de peso, prevenindo indiretamente, portanto, a hipertensão gestacional, o desenvolvimento fetal alterado, a redução da duração da gravidez e a alteração da vitalidade do recém-nascido. Entretanto, é indicado que a gestante sempre realize as atividades sob orientação de um profissional. O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (Acog) indica que as atividades físicas devem
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