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Esta aula pretende mostrar a influência do aparelho policial na solução de conflitos e os efeitos desse direito de transição, bem como a comunicação não violenta (CNV), criada por Marshall Rosenberg como recurso interativo para definir o poder e conciliar os conflitos quando a intenção de agredir o outro encontrar-se totalmente superada. 1. Analisar conceito e efeitos do direito em transição; 2. Compreender o papel das polícias comunitárias na resolução de conflitos; 3. Demonstrar a comunicação não violenta como proposta de solução de conflitos. Para começarmos a falar sobre repressão social, devemos nos recordar que, em episódios retratados no livro Memórias de um Sargento de Milícias, temos o surgimento da figura do brigadeiro Vidigal, famoso pelas ceias de camarão, nas quais os marginais eram açoitados em praça pública até que seus lombos se assemelhassem a cascas de camarões. Embora o brigadeiro tenha ficado conhecido por seus métodos de repressão social, não era o único a praticá-los na corporação. Nessa época, o negro que fosse flagrado jogando capoeira também era açoitado publicamente, caracterizando, portanto, uma prática comum de repressão social, respaldada pela política da época. Entre 1930 e 1945, durante o primeiro governo de Vargas, a polícia militar ganhou maior prestígio político. Ao longo da ditadura militar, o papel da PM não foi alterado na medida em que agia junto aos militares para combater a guerra comunista, que ficou conhecida como Ciência jurídica e Segurança pública Aula 3: Preservar a ordem ou aplicar a lei Introdução Objetivos Origens da repressão social Guerra subversiva guerra subversiva. O inimigo da época não era somente o marginal comum, mas, também, os comunistas. Embora os comunistas não fossem os vitoriosos dessa guerra, a ditadura, no final da década de 1970, já indicava os sinais de fragilidade. Uma figura de destaque na época foi o coronel Carlos Nazareth Cerqueira. Importante ressaltar que, embora visse a polícia como garantidora da cidadania, Cerqueira não abria mão da repressão, respaldando-se nos limites de atuação impostos pela lei e, principalmente, sem violar os direitos humanos. Com o fim da ditadura militar no Brasil, houve uma crise de identidade entre militares e policiais sobre seus novos papéis constitucionais. No entanto, aos poucos, ambas as instituições foram se reformulando em busca de suas identidades institucionais. Se a pacificação, ao menos em alguns estados brasileiros, se tornou uma realidade, as mazelas deixadas pelo papel histórico da PM na repressão social também são. A pacificação, então, pode ser entendida como uma estratégia organizacional que vem ganhando cada vez mais espaço na segurança pública brasileira. Importante destacar que o caráter dessa estratégia é, preferencialmente, preventivo. Daí, a importância de entender o que consiste o fenômeno de crime, ou seja, compreender que ele é um produto da realidade social. Não cabe, então, ao policial militar julgar (espancar ou matar, por exemplo), mas, sim, prender (se for o caso) e entregar à justiça para que, se condenado, o indivíduo sofra as punições que a lei exigir. Além disso, o próprio Ministério da Justiça recomenda a todas as polícias militares que busquem envolver as comunidades na preservação da ordem pública. O conceito de ordem pública representa, portanto, os valores, princípios e normas que a moral vigente em nossa cultura jurídica considera fundamentais e que se pretende que sejam observados em sociedade. Assim, tudo que se mostrar contrário a essa conformação moral básica será considerado contrário à ordem pública. Em consonância com essa proposta, tem-se aplicado o policiamento comunitário para estabelecer o elo de confiança entre polícia e sociedade. A Constituição de 1988 também afirma que as polícias militares e corpos de bombeiros militares são forças auxiliares e reserva do exército. Na ausência do exército brasileiro na defesa das fronteiras territoriais brasileiras, é inegável que as polícias devam ser acionadas; no entanto, é de extrema urgência que a PM não seja mais confundida com o exército brasileiro. É inaceitável que as polícias militares continuem mantendo práticas ilegais nos dias de hoje. O uso da força letal só é autorizado pela lei em defesa própria ou da sociedade. Ao policial, cabe preservar a vida e garantir a cidadania. A defesa social é um conceito bem mais amplo do que segurança pública. Ela está associada ao conjunto de mecanismos coletivos, públicos e privados, com vista à preservação da paz social. A segurança pública torna-se parte importante da sociedade, da cidadania e do bem jurídico. Dessa forma, justiça e segurança se completam, mas, entre elas, localiza-se uma área que é a de riscos coletivos, que envolve também a autodefesa das comunidades. A Constituição de 1988 é marcada pela transição e, hoje, percebe-se que ela permite uma pequena abertura na revisão conceitual de segurança quando fala, no Artigo 136 e seguintes, em paz social como um valor diferente de ordem pública. Se, ontem, a instabilidade compreendia terrorismo e guerrilha, turbações eminentemente políticas, hoje, ela advém principalmente do crime organizado. Em um conceito de defesa social, é simultânea à defesa das instituições democráticas, disciplinando a Constituição, em seu Artigo 136 e seguintes, a condição radical de intervenção do estado para “preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente Defesa social instabilidade institucional ou ameaçadas por calamidades de grandes proporções da natureza”. Dentro do contexto de defesa, é especificada a segurança pública “para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio” através do aparelho policial (Artigo 144 e seguintes). Dessa forma, cabe ao estado, ao mesmo tempo, a garantia dos direitos individuais e coletivos previstos na Constituição, condição indispensável para a manutenção de um estado de tranquilidade ou paz social, alcançada graças às boas relações de convivência entre os indivíduos. A construção dessa paz deveria ser objetivo constitucional de política interna; entretanto, a manutenção da ordem pública envolve a prevenção e a resolução de conflitos no âmbito da segurança pública. Mas, para que haja paz social, há necessidade de se atender a uma demanda específica: a garantia dos direitos individuais e das minorias, e daqueles a quem a Constituição garante privilégios em relação aos demais; isto significa proteção. O Brasil vive um processo de mudanças profundas, inclusive estruturais. A paz é uma opção nacional, claramente expressa na Constituição. Construir a paz em um processo de mudança é o que responde, de fato, aos anseios da sociedade. Isso exige um esforço continuado e uma revisão constante de mecanismos; por outro lado, estabelece um princípio comum entre o estado e a sociedade, um filtro para as ações dos dois lados – princípio que, de resto, já está expresso na vontade política constitucional. Uma política pública deriva, forçosamente, do próprio pacto social que reúne as pessoas numa organização social. Ela é feita de opções que resultam em diretrizes, prioridades e, finalmente, normas legais ou consensuais. Como em todos os produtos de uma sociedade complexa, uma política pública organiza-se também no bojo das pressões da vida em sociedade e se constrói em produtos do confronto dessas pressões: minorias e maiorias, interesses de várias ordens. Uma política pública deve possuir objetivos claros a serem alcançados e um rumo definido, o que não acontece quando os confrontos e pressões são resolvidos de maneira pontual. Atenção! O Brasil e a paz Figura 4 – Vida em sociedade Autor: peeterv/istock Com vista à construção da política pública voltada para a defesa social, pode-se estruturar uma política de segurança pública como ferramenta importante para alcançar um objetivo maior. É importante pensar que uma política de segurança pública é só umaparte da ação necessária para romper, definitivamente, as amarras deixadas pela visão repressiva e puramente estatal no combate à violência e ao delito. O debate referente à segurança pública baseia-se, muitas vezes, em premissas pouco consistentes ou, no mínimo, polêmicas. Mas qual deve ser o papel da polícia na violência contra a pessoa? A maioria absoluta das violências praticadas contra a pessoa, em que não existe vinculação com delitos contra o patrimônio, como no caso de homicídios e lesões corporais, é casual. A redução dessa modalidade criminosa depende de dois fatores. O primeiro fator é a prevenção, que pode estar embutida inclusive na própria comunicação de massa ou através de mecanismos não necessariamente judiciais de conciliação e resolução de disputas entre pessoas. O segundo fator é a certeza de punição, que depende, em primeiro lugar, de comprovada e reconhecida capacidade de investigação, atribuição eminentemente policial. A morosidade do judiciário consiste em outro grande problema, mas só chega a sê-lo quando os casos de homicídio ou lesão referidos chegam à sua alçada. O atual sistema legal brasileiro só alcança um percentual mínimo de infratores. Mesmo com todas as deficiências do aparelho policial, o número de procedimentos encaminhados à justiça abarrota e entrava os cartórios criminais de todo o país, sem solução. Isso significa que a maioria absoluta não é punida. Também não há mecanismo que possibilite o acordo, a conciliação ou a pacificação antes da delegacia e do tribunal. A polícia atua na repressão do crime e procura inibir sua prática com a presença suasória. Construção da política pública Atual sistema legal brasileiro https://stecine.azureedge.net/webaula/pos.estacio/ATU259/aula3/img/04vidaSociedade.jpg Mas as medidas proativas que previnem as situações de conflitos individuais e coletivos, ou que dificultam práticas criminosas, ou, ainda, que influenciem o comportamento positivo do cidadão estão nas mãos da União, dos estados e, especialmente, dos municípios; porém, fora da polícia. Essas medidas envolvem ampla gama de ações, que vão desde a eficiência do aparelho judicial – o que envolve o poder judiciário e o ministério público – até soluções eminentemente localizadas, como o controle do tráfego ou a iluminação das ruas ou, ainda, lugares para deixar a criança enquanto os pais trabalham. A função militar articula-se à defesa do estado, à segurança do país e à condição de força mobilizável pelo país. A função policial está diretamente articulada à sociedade e ao pacto da organização dela, e responde ao desafio imposto pela violência e pelo crime. Essas duas funções podem ser desenvolvidas de maneira definida e clara numa mesma organização; para tanto, é necessário rever vários conceitos doutrinários e algumas normas legais. Do ponto de vista material, ordem pública é a situação de fato ocorrente em uma sociedade, resultante da disposição harmônica dos elementos que nela interagem de modo a permitir um funcionamento regular e estável que garanta a liberdade de todos. A ordem pública deve estar em consonância com o conjunto de regras formais que emanam do ordenamento jurídico da nação. Dessa forma, o conceito de ordem pública reflete os valores dominantes e a cultura jurídica vigente em determinada época – a Constituição, a noção de interesse social e dos direitos basilares de uma coletividade. Pela preservação dessa ordem pública, entende-se a manutenção da ordem do estado e do bem social através de ações coativas, objetivando coibir as ameaças à convivência pacífica em sociedade. Essas ações coativas estão presentes em instrumentos judiciais, policiais, prisionais e promotorias públicas. No momento em que começa a existir essa transformação política e social, a compreensão da sociedade como um ambiente conflitivo, no qual os problemas da violência e da criminalidade são complexos, a polícia passa a ser demandada para garantir não mais uma ordem pública determinada, mas, sim, os direitos, como está colocado na Constituição de 88. Nesse novo contexto, a ordem pública passa a ser definida também no cotidiano, exigindo uma atuação estatal mediadora dos conflitos e interesses difusos e, muitas vezes, confusos. Por isso, a democracia exige justamente uma função policial protetora de direitos dos cidadãos em um ambiente conflitivo. Para saber mais sobre a ordem pública, clique aqui [../downloads/a03_t09.pdf] . A segurança pública é a garantia que o estado proporciona de preservação da ordem pública diante de toda espécie de violação. Mas, neste ponto da discussão, vale exemplificar: nas favelas, o policial não pode simplesmente aplicar a lei e apreender todas as motos irregulares, pois isso acabaria com o transporte mais utilizado pelos moradores. Função militar Ordem pública Atenção! https://stecine.azureedge.net/webaula/pos.estacio/ATU259/downloads/a03_t09.pdf Ele precisa preservar a ordem, e, muitas vezes, isto significa ponderar a regulação informal do espaço público e do direito, criando espaço para uma transição pacífica entre a ordem que existia antes e aquela trazida com a presença do estado, até porque a ordem pública deve ser entendida como sendo o conjunto de regras formais que emanam do ordenamento jurídico da nação. Na introdução do livro Sociologia (1983, p. 23), Evaristo de Morais Filho expõe uma síntese do pensamento de Simmel acerca do conflito, considerando-o: “(...) forma pura de sociação e tão necessário à vida do grupo e sua continuidade como o consenso. (...) O conflito não é patológico nem nocivo à vida social, pelo contrário, é condição para sua própria manutenção, além de ser o processo social fundamental para a mudança de uma forma de organização para outra”. Assim, o conflito surge das interações dos indivíduos, sendo inerente à própria existência humana. Diferentemente do que a grande maioria das pessoas acha, o conflito não é nocivo à vida social, muito embora congregue elementos positivos e negativos, que propiciam a alteração da realidade posta segundo essa compreensão. Para alguns teóricos, como Paes de Carvalho, o conflito pressupõe a existência de três caminhos possíveis: 1. a recusa do diálogo, que pode estimular a competição ou a estagnação do conflito; no entanto, até chegar nessas soluções, os envolvidos passam por situações de ansiedade, stress, irritabilidade, entre outras sensações; 2. a declaração de guerra, que propicia um resultado negativo para as pessoas e para a sociedade, pois tem como expressão a violência, a agressão e a destruição, gerando, entre os conflitantes, situações de agressividade, disputa e stress; 3. a administração do conflito, resultado positivo que a mediação busca gerar, traz novas oportunidades, crescimento e desenvolvimento dos envolvidos e daqueles que estão ao redor, possibilitando a comunicação, a cooperação, o respeito mútuo e a resolução do conflito. Dessa forma, ademais da resolução do conflito, o estímulo à sua prevenção, a inclusão social e a mediação de conflitos visam à implantação da paz social ou pacificação social, que vai além da mera prática de não violência, pois essa prática é parte também do processo de efetivação dos direitos fundamentais da pessoa humana, principalmente nas localidades e para os indivíduos excluídos social e economicamente, uma vez que tal exclusão é tida como violação de direitos, gerando, portanto, instabilidade na ordem social. A ordem pública deve estar em consonância com o conjunto de regras formais que emanam do ordenamento jurídico da nação. Dessa forma, o conceito de ordem pública reflete os valores dominantes e a cultura jurídica vigente em determinada época – a Constituição, a noção de interesse social e dos direitos basilares de uma coletividade. Conflito Atenção! Mediação de conflitos Outro motivo que torna sua análise importante é que a técnica de mediação comunitária tem como um dos objetivos fundamentais, como dito acima, facilitar o acesso à justiça, visto que a justiça formal é de difícil acesso para as pessoasde bairros periféricos com alta taxa de vulnerabilidade social e alto índice de criminalidade. Destarte, essa técnica passa a mostrar uma representação social diferenciada aos moradores dos bairros do que é justiça por ser, principalmente, baseada no princípio da informalidade do acesso e das ações realizadas nos núcleos de justiça comunitária. Segundo o programa mediação de conflitos (2009, p. 31), “(...) a cultura da mediação traz consigo propostas semelhantes de pacificação social, visando a uma cultura, sobretudo de paz”. Sabemos que a violência urbana e a criminalidade estão crescendo de forma desproporcional, e uma pergunta se faz importante: será que cabe apenas ao sistema penal, à justiça criminal e à segurança pública, através de ações reativas policiais, a solução para a violência? A utilização dos meios tradicionais é importante para gerar mudanças no fenômeno da violência e da criminalidade, mas também é imprescindível a associação de ações preventivas, como, por exemplo, a utilização da mediação de conflitos, uma vez que a complementaridade entre repressão e prevenção é mais eficiente. A mediação tem como princípios fundantes o respeito mútuo e a cooperação entre as pessoas envolvidas no procedimento, estimulando que os envolvidos resolvam seus conflitos de forma pacífica, diferentemente do método adversarial, que se caracteriza por incentivar a competição, promovendo uma rivalidade entre vencedor e vencido. Partimos do pressuposto de que os moradores de favela se acham inseridos nos grupos dos mais excluídos do sistema formal de justiça por sua condição de renda e escolaridade mais baixas, mas quais seriam os fatores, além de renda e educação, que ajudariam a explicar a exclusão dessa população do acesso à justiça? No caso das favelas, existem outros elementos de exclusão, a começar pela forma irregular e mesmo ilegal de ocupação do espaço urbano, que acabam por configurar a própria negação do acesso de seus moradores à cidade. A ilegalidade coletiva do tipo de habitação nas favelas, à luz do direito brasileiro, condiciona o relacionamento de seus moradores com o aparelho jurídico-político do estado. Ao estarem excluídos do sistema legal oficial, os moradores das favelas acabam construindo um direito próprio, interno e informal. Somando-se à forma de ocupação do espaço, a escassa presença do estado nas favelas possibilitou o controle do território por Soluções para a violência A relação dos moradores de favela com o aparelho jurídico- político do estado A relação dos moradores de favela com o aparelho jurídico- político do estado grupos armados, reforçando o discurso criminalizante que vem estigmatizando essa população. Partindo do pressuposto de que, ao promover a recuperação do território, a polícia pacificadora se constitui como etapa antecedente e essencial para possibilitar o acesso aos demais direitos relacionados à cidadania. Como dito, o principal aspecto do exercício de cidadania que nos interessa analisar aqui é o acesso à justiça. Argumentamos que acesso à justiça é condição fundamental para o desenvolvimento pleno da cidadania. O acesso à justiça pressupõe igualdade de condições a todos os cidadãos na utilização das instituições e dos canais do sistema pelos quais possam reivindicar direitos e solucionar conflitos, a assistência judiciária à população de baixa renda, bem como a simplificação de procedimentos e do próprio processo, e incorporação dos meios alternativos e informais de resolução de conflitos. Assim, o acesso à justiça só é pleno se envolver a possibilidade de mobilizar instrumentos institucionais e beneficiar-se da ação dos mecanismos institucionais pertinentes. É frequente nas favelas, até pela presença ostensiva do tráfico, os moradores parecerem mais descrentes em relação à justiça ao apontarem que as leis não são cumpridas, e a justiça “não fazer valer as leis”, conforme se pode perceber por algumas falas que aparecem nas mídias. Afirmam essas vozes que o domínio dos traficantes de drogas desestimula a procura pelos equipamentos formais de justiça, seja porque os moradores têm medo de serem confundidos com delatores, seja porque podem contar com a mediação do próprio tráfico (chamado de “movimento”) para a solução desses conflitos. Para saber mais sobre esse assunto, clique aqui [../downloads/a03_t14.pdf] . Partimos do pressuposto de que os moradores de favela se acham inseridos nos grupos dos mais excluídos do sistema formal de justiça por sua condição de renda e escolaridade mais baixas, mas quais seriam os fatores, além de renda e educação, que ajudariam a explicar a exclusão dessa população do acesso à justiça? No caso das favelas, existem outros elementos de exclusão, a começar pela forma irregular e mesmo ilegal de ocupação do espaço urbano, que acabam por configurar a própria negação do acesso de seus moradores à cidade. Sabemos que ações coativas estão presentes em instrumentos judiciais, policiais, prisionais e promotorias públicas. Pergunta-se então: O que se pode entender por ordem pública? Segundo Tourinho Filho, o conceito de ordem pública pode ser entendido como a paz, a tranquilidade que reina no meio social; este conceito não se limita a dizer em quais casos, por exemplo, estaria tal ordem periclitada, como nos casos em que o agente estiver cometendo novas infrações penais, sem que se consiga surpreendê- lo em flagrante delito, estiver fazendo apologia ou incitando ao crime, ou se reunindo em quadrilha ou bando. Atividade proposta Exercícios de fixação Questão 1 - O que se entende por pacificação de favelas? É um programa no qual a polícia recupera territórios controlados por traficantes e milicianos e instala unidades de polícia pacificadora, tentando aproximar a polícia da https://stecine.azureedge.net/webaula/pos.estacio/ATU259/downloads/a03_t14.pdf população. É um programa no qual são instaladas unidades de polícia pacificadora em locais estratégicos para que, futuramente, a polícia possa recuperar territórios controlados por traficantes e milicianos. É a instalação de unidades de polícia pacificadora em diversos pontos da cidade para atender especialmente à denúncia de crimes relacionados ao tráfico de drogas. É a transformação de delegacias comuns em unidades de polícia pacificadora, onde policiais de elite se concentrarão para atender chamados de crimes mais graves. É a retirada em etapas de moradores de áreas dominadas pelos traficantes e sua realocação em moradias populares em outros locais. Questão 2 - Dentre as afirmativas abaixo, indique aquela que melhor conceitua o policiamento de proximidade. Consiste na proatividade e na descentralização de conflitos da polícia. Consiste tão somente no combate ao tráfico de drogas. Consiste unicamente numa polícia de enfrentamento. Consiste em criar única e exclusivamente planos de controle e ataque. Consiste em criar estratégias capazes de resolver conflitos e reduzir os indicadores de criminalidade com base na ação de uma polícia qualificada. Questão 3 - O atendimento prestado à cidadania, a educação dos policiais e os êxitos alcançados pelas polícias ajudam bastante, mas confiança exige proximidade dos policiais com as pessoas. Nesse sentido, pode-se dizer que o objetivo da polícia pacificadora está fundado: Numa concepção reativa, onde os policiais patrulham aleatoriamente as favelas. Na ausência de vínculos entre policiais e indivíduos para combater a violência. No conceito de cidadania que une policiais e comunidade para solucionar conflitos temporários. Na criação de estratégias para resolver conflitos e reduzir os índices de criminalidade local. Questão 4 - Com o policiamento de proximidade, os profissionais de segurança passam a conhecer os residentes por seus nomes, passam a entender as dinâmicas sociais da região, adquirindo, assim, melhores condições para auxiliar as pessoas em variados momentos de dificuldade. Dessa forma, podemos entender que a polícia pacificadora: Trabalha com um conceito que vai além da polícia comunitária e temsua estratégia fundamentada na parceria entre a população e as instituições da área de segurança pública. Trabalha com um conceito de enfrentamento e tem sua estratégia pautada no afastamento entre policiais e comunidade. Trabalha para reduzir os índices de criminalidade, sem, contudo, se preocupar com os problemas causados pela violência doméstica Trabalha exclusivamente para reduzir os conflitos domésticos, sem se preocupar com o tráfico de drogas e as milícias. Questão 5 - A presença ininterrupta da polícia tem sido essencial para que as comunidades se integrem ao restante da cidade formal. Hoje, as comunidades pacificadas recebem investimentos privados, têm agências bancárias e serviços públicos que, antes, simplesmente eram impedidos de chegar. Assim: A prioridade do governo é a preservação de vidas e liberdades dos moradores. A prioridade do governo é a dominação e captura de narcotraficantes. A prioridade do governo é a redução de crimes de pequena monta. A prioridade do governo é defender a comunidade de balas perdidas. Questão 6 - A restauração da relação social implica em retomar uma qualidade de comunicação e de convivência pautada no respeito mútuo, de forma a garantir a sustentabilidade do diálogo daqueles que participam daquela convivência. Assim, podemos entender como mediação de conflitos, exceto: O processo de diálogo, que inclui a desconstrução do conflito e o restauro da relação social. A construção de soluções com comprometimento para preservar a relação social. O método autocompositivo dedicado à restauração da relação social. A composição de diferenças com soluções de mútuo benefício. O método de contraste visando à coexistência da competição. Questão 7 - O conflito surge das interações dos indivíduos, sendo inerente à própria existência humana. Diferentemente do que a grande maioria das pessoas acha, o conflito não é nocivo à vida social, muito embora congregue elementos positivos e negativos, formando uma unidade. Assinale a resposta correta: Os participantes da mediação aprendem uma forma pacífica e colaborativa de negociar diferenças. Os participantes da mediação não possuem nenhum comprometimento com o fortalecimento da harmonia social. Os participantes da mediação interagem sem, contudo, se preocuparem com a restauração do equilíbrio social. Os participantes da mediação interagem em favor da coexistência da competição, promovendo diferenças. Os participantes da mediação colaboram com as diferenças, instigando os enfrentamentos. Questão 8 - A mediação de conflitos é uma técnica utilizada para a administração positiva do conflito, colocando a paz social ao alcance dos cidadãos. Um policiamento voltado para a resolução de problemas locais é necessário para recuperar territórios empobrecidos, dominados pela criminalidade. Assim, relacionando a mediação de conflito com a polícia pacificadora, é incorreto afirmar que: Surge um novo paradigma no enfrentamento da violência e criminalidade. Surge a possibilidade de favorecer o encontro de mundos conflitantes, aumentando as chances de diálogo. Surge a possibilidade de estabelecer possibilidades de convivência pacífica. Surge uma experiência inovadora de policiamento comunitário. Surge a ineficácia diante de uma situação de longa data: o conflito. Questão 9 - O conceito tradicional de segurança pública restringe-se à ação policial ostensiva e repressiva contra o crime. Contrapondo-se a essa abordagem tradicional, já se pode pensar num trabalho capaz de solucionar conflitos e estabelecer a ordem pública. Assim, pode-se dizer que: Não há dúvidas de que os agentes da segurança pública em nada contribuem para a solução de conflitos. Somente a sociedade civil pode planejar e executar ações e oferecer estímulos positivos no combate a conflitos. As ações do governo demonstram a preocupação do estado em implantar mudanças e solucionar conflitos. O fazer policial justifica-se na manutenção da ordem frente aos conflitos insurgentes produzidos no interior da sociedade. Questão 10 - Numa acepção moderna, mediação é o processo voluntário de ajuste de conflitos, no qual uma terceira pessoa, imparcial e capacitada ─ escolhida ou aceita pelas partes ─, atua no sentido de encorajar e facilitar a resolução de uma disputa sem determinar qual a solução. Por mediação de conflito, podemos entender: O processo dialógico e cooperativo, que possibilita identificar os interesses e as necessidades que jazem sob as posições adversárias. O processo cooperativo, mas nunca dialógico, que propicia a articulação de interesses. O processo que visa desarticular os interesses e estabelecer desigualdades. O processo capaz de favorecer um conjunto de ganhadores com suas necessidades e interesses. O processo que possibilita a satisfação de interesses de apenas uma das partes envolvidas. Questão 11 - Dentre as afirmativas abaixo sobre comunicação não violenta (CNV), escolha aquela não se relaciona com a verdade. A CNV é eficaz e capaz de exercer relações de parceria e colaboração. A CNV possibilita mudanças estruturais no modo de encarar e organizar as relações humanas. A CNV baseia-se na escuta empática e na expressão autêntica da nossa própria experiência interior. A CNV não é capaz de transformar o modelo social, uma vez que se pauta no autoritarismo e na imposição do medo. A CNV foi criada por Marshall B. Rosenberg a partir de suas experiências pessoais. Questão 12 - A CNV possibilita entrar em contato com a nossa própria compassividade, podendo ser aplicada em todos os níveis de comunicação, bem como em instituições públicas e privadas e na solução de conflitos de toda a natureza. Para Rosenberg: I. É justamente na forma como nos comunicamos e, também, como somos ouvidos pelos outros que reside os motivos dos conflitos. II. É reconhecer qual necessidade está ligada ao sentimento observado e que não está sendo atendida num determinado momento. III. É reconhecer que, na forma como nos comunicamos, está a chave para a solução de questões conflituosas. IV. É reconhecer que formas específicas de linguagem contribuem para comportamentos violentos em relação aos outros; dentre eles, encontra-se a CNV. Estão corretas as afirmativas: I e II II e IV I, II e III Todas as afirmativas estão corretas. Questão 13 - Observemos os seguintes exemplos: “Cheguei atrasado porque havia muito trânsito hoje”; “Trabalho nesta empresa porque não tem outra”; “Ele fala assim comigo porque não sabe do que sou capaz”. Todas essas falas podem ocasionar conflitos e estabelecer desarmonia. A proposta de Rosenberg é: I. Criar uma comunicação capaz de evitar focos de discussão e consequentes conflitos. II. Criar a possibilidade de nos comunicarmos de maneira independente, sem nos importarmos com o outro. III. Criar a possibilidade de sermos autênticos, nos comunicando com liberdade e de acordo com nossos próprios interesses. IV. Criar uma comunicação capaz de atuar como um norteador na resolução de conflitos. Estão corretas as afirmativas: I e II II e III I, II e IV I e IV Questão 14 - Assinale a afirmativa incorreta. A CNV começa por assumir que somos todos compassivos por natureza e que estratégias violentas – verbais ou físicas – são aprendidas, ensinadas e apoiadas pela cultura dominante. A CNV possibilita mudanças estruturais no modo de encarar e organizar as relações humanas (gestão de grupos e organizações) e na questão da responsabilidade, diminuindo a chance de agressões ou dinâmicas de grupo opressoras. A CNV faz parte da formação de membros da força não violenta de paz, grupo internacional presente em situações de conflito armado para apoiar a transformação Nesta aula, você: Analisou as medidas pensadas na atualidade para diminuir os índices de violência e aumentar a segurança: a proposta da polícia comunitária como modelo de polícia preventiva para aproximar os policiais da população e fortalecer a confiança da sociedade nas instituições policiais do estado. Na próxima aula, você estudará os seguintes assuntos:Aspectos da legislação penal com ênfase no uso de algemas, na apreensão do jovem infrator e na preservação do local de crime. FILHO, Evaristo de Morais. O problema de uma sociologia do direito. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1950. LUCI DE OLIVEIRA, Fabiana. UPPs, direitos e justiça: um estudo de caso das favelas do Vidigal e do Cantagalo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. MONTEIRO, Fabiano Dias; MALANQUINI, Lidiane. Sobre soldados e gansos: uma aproximação acerca da percepção policial sobre a atuação em UPPs. Trabalho apresentado na 28ª Reunião Brasileira de Antropologia. São Paulo, 2012. pacífica. O ideal da CNV é conseguir que nossas necessidades, desejos e expectativas sejam satisfeitos de acordo com nossos próprios interesses, custe o que custar. A CNV foi usada primeiramente em projetos federais do governo americano durante os anos sessenta e é cada vez mais utilizada no processo da reintegração de ex- presidiários. Questão 15 - Indique a única resposta incorreta. A comunicação não violenta faz com que os outros que nos ouvem se sintam atacados, fragilizados e impotentes. A comunicação não violenta pode ser utilizada formalmente na mediação e resolução de conflitos, e mais informalmente em todas as situações da vida quotidiana. A comunicação não violenta pode ser útil em qualquer situação onde existam problemas ou conflitos e contribuir para encontrar soluções benéficas para todos. A comunicação não violenta é uma maneira de falar que é assertiva e empática ao mesmo tempo. A comunicação não violenta também é uma forma de compreender o que se passa com os outros e reconhecer a nossa situação. Síntese Próxima aula Referências NASCIMENTO, Vânia. Mediação nas unidades de polícia pacificadora: Morro da Formiga. Dissertação UFF/ PPGA. 2012. PAES DE CARVALHO, Ana Karine P. C. Miranda. Mediação de conflitos: uma alternativa para a paz. 5. ed. Fortaleza: s.n., 2009. ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. 1. ed. São Paulo: Summus, 2006.
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