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POLICIA COMUNITÁRIA

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O PAPEL DA POLÍCIA COMUNITÁRIA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: ESTRATÉGIA DE PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA
 
 
CAPÍTULO I
1 CONSTRUÇÃO DO ESTADO DE DIREITO
 
 Percebe-se que ao intentar um relato histórico ou sociopolítico, o objetivo é pontuar políticas e práticas referidas ao conceito de Estado de Direito, propiciando uma visão de conjunto do seu desenvolvimento e das suas transformações. (BONAVIDES, 1980).
 A importância de sua construção política, jurídica e institucional no Estado Moderno pode ser demonstrada por, pelo menos, quatro razões principais. Em primeiro lugar, pela inovação que trouxe ao modo de limitar o poder. (CASELLA, 2009)
É a lei elaborada pelo Parlamento e não a benevolência do monarca ou a pressão exercida por determinados estamentos que o limita. (BONAVIDES, 1980).
 O fato é relevante, especialmente ao considerarmos que as limitações de natureza religiosa, ética ou jusnaturalista, observadas desde a Antiguidade Clássica, não levaram à institucionalização de um “Estado de Direito”. (BOBBIO, 1994, p. 50)
Não há Estado de Direito nas cidades gregas, tampouco nos reinos ou nas comunas medievais, muito embora o poder do governante se encontrasse limitado por uma série de relações jurídicas estamentais além de foros e franquias garantidos à vassalagem. (BONAVIDES, 1980).
 Da mesma forma, ainda que, no auge do absolutismo, o poder do monarca se encontrasse limitado por regras morais e religiosas, inexistiu “Estado de Direito”. (BOBBIO, 1994, p. 10)
Em segundo lugar, como forma de organização política, o Estado de Direito rompeu com a milenar concepção organicista da sociedade e do Estado, prevalecente da Antiguidade Clássica à Idade Média, na linha de pensamento aristotélico-tomista, dado que seu pressuposto filosófico radicado na preeminência do indivíduo — e de seus direitos — sobre o Estado determinava que era o indivíduo quem fazia o Estado e não o contrário. (BONAVIDES, 1980).
 Mas não foi apenas em virtude do primado ontológico do sujeito individual e do valor axiológico da sua liberdade que se deu essa notável dissolução dos valores e condutas políticas até então vigentes na maioria dos Estados europeus. (CASELLA, 2009)
A mudança foi também sustentada, em terceiro lugar, pela certeza da periculosidade do poder político (pessimismo protestativo) e pela convicção da capacidade do direito positivo em dominá-lo (otimismo normativo). (CASELLA, 2009)
 O Estado deveria ser a representação da ordem desejada pela comunidade, o que poderia ser propiciado pelo direito desde que o Estado se voltasse à consecução de um ideal, procedendo apenas conforme as normas voltadas para tanto. (BONAVIDES, 1980).
 Sob esse prisma, esperava-se que o Direito desempenhasse uma tríplice função: garantir a ordem e a estabilidade da sociedade, limitar o poder político e assegurar os direitos subjetivos. De tudo resulta uma visão otimista da soberania, fortalecida pela imagem nacional ou popular que passa a acompanhá-la. (CASELLA, 2009)
 A concepção não é nova: o ideal platônico da identificação da alma individual à alma do Estado (presente em A república) já intentava trazer o caos político para a ordem e a harmonia, banindo o poder dissoluto do mundo humano e político; a empresa seria realizada por via da própria política, posto ser esta a arte de unificar e organizar as ações humanas e dirigi-las para um fim comum. (BOBBIO, 1994, p. 11)
 Por fim, em quarto lugar, porque a afirmação do Estado de Direito assegurou a inversão das relações entre governantes e governados, a ponto de tornar o súdito um cidadão. (BONAVIDES, 1980).
 A obrigação política entre governantes e governados, a partir daí, passa a equacionar-se pela atribuição prioritária de deveres para os governantes e, inversamente, pelo reconhecimento de direitos ao indivíduo. (CASELLA, 2009)
Até então, como se sabe, os indivíduos eram, sobretudo, sujeitos de deveres e obrigações, quer em relação ao soberano, quer em relação à Igreja. (BONAVIDES, 1980).
 Doravante, o Estado passou a ter o dever de garantir, com o mínimo possível de condicionamentos externos, os direitos inatos dos indivíduos, como é expresso, com ênfase revolucionária, no art. 2o da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789: “O fim de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão”. (BOBBIO, 1994, p. 111)
Além disso, embora o Estado de Direito seja um fenômeno essencialmente moderno, ele apresenta múltiplos traços arcaicos. A limitação racional dos poderes do Estado, em vista da evidência do papel da lei na luta contra o poder despótico, é uma herança da Antiguidade Clássica retomada na Idade Média. (CASELLA, 2009)
 Da mesma forma, a necessidade social de legitimação do poder sempre esteve presente nas sociedades políticas. O desenvolvimento moderno do Estado de Direito não é, portanto, uma invenção: compõe e recompõe valores e ideias, introduz novos elementos, expressando-se em fórmulas inéditas para perpetuar ou reviver ideologias de velha data. (CASELLA, 2009)
No curso da afirmação histórica do Estado de Direito, diferentes sistemas jurídicos em diferentes circunstâncias históricas, políticas e sociais, mas influenciados por ideias e valores assemelhados, produziram teorias políticas relativamente independentes, assim como modelos institucionais voltados à limitação do poder estatal. (BONAVIDES, 1980).
 Tais modelos são extremamente complexos, combinando técnicas de atribuição de direitos e de repartição de competências entre entes e órgãos do Estado, com separação funcional de poderes. Posteriormente, a eles se agrega a exigência da gestão do poder político, por meio de partidos e procedimentos eleitorais. (CASELLA, 2009)
 
A ideia de que a lei poderia limitar o poder iniciou-se com o Rule of Law britânico, prosseguiu com o Rule of Law americano, o Rechtsstaat alemão – que foi a primeira forma institucionalizada do Estado de Direito – e se aperfeiçoou com o État de droit francês, difundindo-se por praticamente todo o planeta após a Segunda Guerra Mundial. (BOBBIO, 1994, p. 22)
Não se tratou, porém, de uma simples transposição: os modelos não foram meramente importados, mas funcionaram como catalisadores, isto é, induziram, com a sua presença, o surgimento de uma consciência semelhante que já estava potencialmente presente no meio social. (BONAVIDES, 1980).
Ademais, sua difusão mundial foi tão bem-sucedida que sua conformação atual imporá tal padrão de uniformização às estruturas políticas dos Estados, com a tendência de suprimir individualidades territoriais e nacionais, em virtude da capacidade integradora desse modelo.
 1.1 O CONCEITO DE ESTADO DE DIREITO 
A importância prática de um conceito teórico de Estado de Direito é evidente. Permite a sua precisa identificação, nos diversos sistemas políticos, independentemente das circunstâncias históricas e das modulações ideológicas que impulsionaram o seu desenvolvimento.
A expressão Estado de Direito é tão ambígua quanto o são os vocábulos “Estado” e “direito”. (BOBBIO, 1994, p. 55)
 Pode ser empregada com diferentes significados, que variam conforme se refiram ao conteúdo formal ou material do Estado de Direito, designando um tipo de Estado, um modelo prescritivo de organização social ou um princípio democrático constitucional. (BONAVIDES, 1980). 
Como tipo de Estado, designa uma categoria de Estado moderno europeu na qual o sistema jurídico – e não outros sistemas, de natureza religiosa ou moral – opera em favor da tutela dos direitos humanos e da limitação do poder do Estado. (CASELLA, 2009)
 Como modelo prescritivo de organização sociopolítica, a expressão Estado de Direito indica o
Estado cujo poder e cujas atividades estão regulados e controlados pela lei.Como princípio constitucional, consagra o ideal do governo de leis, o princípio da legalidade e a garantia da liberdade. (CASELLA, 2009)
O conceito de Estado de Direito em sentido amplo designa um tipo de Estado que adota uma forma de organização estatal, de natureza política e jurídica, na qual o poder do Estado se encontra limitado pelo direito, com a finalidade de garantir os direitos fundamentais. (CASELLA, 2009)
 Estado de Direito significa, primordialmente, a legitimidade do poder do Estado; ademais, o poder do Estado está vinculado ao direito, reconhece e protege os direitos fundamentais. Se ausentes tais elementos, não há Estado de Direito, mas Estado de não direito, já que a mera existência de leis ou de um sistema jurídico não assegura a existência do Estado de Direito. (BONAVIDES, 1980).
 Por isso é que nem todo Estado é Estado de Direito, assim como nem todo Estado legal ou jurídico é Estado de Direito. Inexiste Estado de Direito nos estados totalitários, identificados como suportes da ideologia fascista que tentou superar as ineficiências do Estado liberal de direito. 
Tampouco há Estado de Direito em ditaduras, no sentido de governos exclusivos, pessoais, moral e juridicamente condenáveis. (CASELLA, 2009) 
Sem regulação jurídica da atividade estatal e limitação do poder estatal, com respeito à pessoa humana e à proteção de seus direitos, não há Estado de Direito, mas Estado mais ou menos autoritário. (CASELLA, 2009)
 Essa é a chave para a compreensão do significado e do alcance do Estado de Direito na história ocidental. Com esse sentido, o conceito de Estado de Direito alcança, indistintamente, as matrizes clássicas, os modelos que delas derivam e outros que apresentem as mesmas finalidades e características. (BONAVIDES, 1980).
 As matrizes clássicas consistem nas experiências históricas que permitiram a afirmação desse tipo de Estado moderno. São elas o Rule of Law britânico e o americano, o Rechtsstaat e o État de droit. (BOBBIO, 1994, p. 60)
Nelas, apesar das respectivas especificidades, identificam-se situações políticas semelhantes, assim como características e processos comuns que permitem construir análises acerca das relações que se estabelecem entre estes e sua evolução. (CASELLA, 2009)
Mas os tipos não são nem estáveis nem estáticos. Embora a partir da segunda metade do século XX o Estado de Direito se tenha firmado como uma das fórmulas mais consistentes e consequentes da filosofia política e jurídica ocidentais, o fato é que seus perfis conceituais, institucionais e normativos ainda permanecem incertos e controversos, sobretudo em razão de seu desenvolvimento. (CASELLA, 2009)
Do Estado de Direito liberal novecentista ao Estado Democrático de Direito do início do século XXI vai uma longa história, com ganhos substantivos em relação à proteção e valorização do ser humano e à construção de sociedades mais justas e solidárias. (BONAVIDES, 1980).
Não por outras razões, frequentemente as noções de “Estado legal”, “Estado liberal”, “Estado democrático”, “Estado social”, “Estado constitucional” etc. são confundidas ou utilizadas como sinônimo de “Estado de Direito”, em face do conceito amplo. Em relação ao “Estado social”, em particular, a impre-cisão aumenta, porque a expressão é empregada indistintamente para designar o Welfare State, o Estado intervencionista, o Estado social de direito, o Estado socialista, o Estado social constitucional etc. (BOBBIO, 1994, p. 99)
O mesmo ocorre com os perfis conceituais do Estado Democrático de Direito, previsto no art. 1o da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. (BONAVIDES, 1980).
Ainda que se parta do pressuposto de que o “Estado Democrático de Direito”, no Brasil, seria uma modalidade de “Estado de Direito”, é preciso destacar, nessa fórmula, os aprimoramentos políticos e jurídicos em relação ao conceito que lhe deu origem. (CASELLA, 2009)
É incontestável a centralidade do Direito nas sociedades moderna e contemporânea. Mais impressionante é a adoção da fórmula do Estado de Direito por praticamente todos os sistemas constitucionais vigentes, o que significa dizer que o Estado de Direito é um princípio cultural universal, do qual se apropriaram diversas tendências políticas, muito embora só se configure em face de um sistema de valores humanísticos, assegurado pelo Direito. (CASELLA, 2009)
Assim sendo, quando menciona de uma espécie particular de Estado de Direito, há de se buscar sua definição particular.
1.2 OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ESTADO DE DIREITO 
Dos conceitos amplo e estrito de Estado de Direito decorrem os princípios da legalidade, igualdade e justiciabilidade, fundamentos do Estado regido pelo Direito e de sua submissão à Constituição. Princípio da legalidade. (BONAVIDES, 1980).
A legalidade garante que só a lei cria direitos e obrigações. Sua enunciação, na Declaração Francesa de 1789 (art. 5o), é a seguinte: “A lei não pode proibir senão as ações prejudiciais à sociedade. Tudo o que não é defeso em lei não pode ser impedido, e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordena”. (BOBBIO, 1994, p. 5)
Aí está a noção de liberdade na lei, da qual deriva uma das facetas do princípio da igualdade, a igualdade formal ou igualdade jurídica, indissociável da liberdade individual, posto que todos nascem e permanecem livres e iguais em direitos e obrigações. (CASELLA, 2009)
 A lei é o eixo das novas relações entre cidadão e governo que derivam do Estado de Direito, até porque a lei é expressão da vontade geral (Declaração Francesa, art. 6o, primeira parte). Mas, o princípio da igualdade, além da igualdade de todos perante o Direito, ainda exige a igualdade na criação e na aplicação do direito, o que supõe direitos iguais, tratamento legal uniforme para casos iguais e proibição de discriminações. (BOBBIO, 1994)
Estreitamente ligados a essa concepção estão os direitos relativos ao processo jurídico, que remontam ao direito romano e foram incorporados por ingleses e americanos ao conteúdo do Estado de Direito, tendo em vista a garantia da integridade física. Trata-se do chamado due processo of law, o devido processo legal, que remete aos princípios da igualdade e da justiciabilidade, dada sua conexão com a ideia do julgamento justo. (BONAVIDES, 1980).
O princípio da igualdade, em síntese, exprime a noção de que todos são iguais perante a lei; o que significa dizer que todos são iguais em direitos, de início em relação às liberdades individuais e aos direitos políticos, posteriormente em relação a direitos econômicos, sociais e culturais, a direitos difusos e coletivos, e a direitos relacionados à proteção da humanidade. (CASELLA, 2009)
 Daí por que o repúdio a discriminações que atinjam a dignidade Humana em geral, seja de gênero, cor ou classe social, seja de religião ou nacionalidade etc., é seu corolário lógico. (BOBBIO, 1994)
O princípio da igualdade de tratamento supõe a edição de leis gerais e abstratas, sem favorecimentos ou privilégios indevidos. 
Mas todos são iguais na medida de suas desigualdades, cabe ao Estado salvaguardar o equilíbrio da plena igualdade entre os cidadãos. Princípio da justiciabilidade. (CASELLA, 2009)
A lei também assegura a justiciabilidade, garantia do sistema de Estado de Direito assegurada pela atuação do Judiciário na aferição e na recomposição da legalidade ou no controle de constitucionalidade, aí se incluindo o controle das próprias leis. De tudo resulta um sistema de segurança jurídica, assecuratório de um quadro normativo predeterminado que só pode ser modificado segundo regras igualmente predeterminadas. (BONAVIDES, 1980).
 A independência do Judiciário é condição da aplicação desse princípio. Na esfera administrativa, a introdução do contencioso administrativo em vários países europeus tem garantido a efetividade do princípio da justiciabilidade. (CASELLA, 2009)
Por via desse procedimento, os tribunais administrativos fiscalizam as decisões tomadas pela administração pública, estabelecendo diretrizes e regras para o exercício das atividades do Executivo, embenefício do cidadão.
 1.3 A BUSCA DA PREVENÇÃO DOS CRIMES
Outra dificuldade para a implantação da filosofia de polícia comunitária seria a “profissionalização” da polícia. Nos Estados Unidos, o direcionamento dado às instituições policiais é o de “law and order” [lei e ordem], o que durante muito tempo levou as polícias a buscarem na reação o seu papel. (BAYLEY, 1982)
Atuando nos efeitos do crime, a polícia se especializou em efetuar prisões, apoiada na tecnologia. Isso reforçou ainda mais a visão da polícia como instrumento de repressão. (PACHECO, 2012).
Segundo Silva, (2003) “ a idéia de repressão sempre sobrepujou a de proteção”. Com a adoção do modelo de polícia comunitária, esse “talento” para a repressão teve de ser reavaliado, gerando, com isso, uma série de insatisfações “intra corporis”, o que de certo impediu uma mudança mais rápida e efetiva.
No Brasil, a situação se parece um pouco diferente, apesar de possuir a subcultura de polícia como instituição do governo e não do povo, portanto, mais sujeita às vontades políticas do que às aspirações sociais. A profissionalização da polícia no Brasil tem sido relativamente lenta, talvez devido à falta de investimentos em tecnologias nos organismos policiais, a nível nacional, ou ainda à precariedade de cultura profissional que permeia as instituições. (PACHECO, 2012).
Mas isso tem representado uma vantagem para a aplicação do policiamento comunitário. (BAYLEY, 1982)
Para Mesquita, (2004, p.11) “no Brasil, o grau relativamente baixo de profissionalismo da polícia diminuiu as resistências ao policiamento comunitário, na medida em que a polícia não foi ainda separada e diferenciada da sociedade da mesma forma como aconteceu nos Estados Unidos e Canadá.” 
 A subcultura policial existente no Brasil, portanto, não deverá constituir grande barreira à implementação do policiamento comunitário
A interação e o envolvimento sério com os problemas da comunidade e a busca de alternativas para a resolução desses problemas geradores de criminalidade e violência proporcionarão uma série de benefícios para a instituição policial. Skolnick e Bayley (1982), apontam para sete benefícios: políticos, apoio popular, consenso entre polícia e público, moral policial, satisfação, estatura profissional e desenvolvimento da carreira.
É claro que a análise feita pelos autores encontra-se calcada na estrutura policial do modelo americano. Em razão disso, talvez nem todos os benefícios aqui enumerados possam ser atingidos, bem como pode haver outras vantagens que o modelo de polícia brasileiro possa alcançar. A questão não se trata da quantidade de benefícios nem tampouco do seu valor para a instituição policial. (BAYLEY, 1982)
O fato é que, se existe a possibilidade de se aumentar os benefícios tanto para a polícia bem como para o cidadão, não há razão para não se buscar a implementação do policiamento comunitário.
A busca da prevenção dos crimes, por si só, já justificaria sua implementação, posto que se reduzindo as possibilidades de confronto entre polícia e criminosos evita-se uma série de problemas relacionados com a lei, principalmente no que diz respeito às práticas de agressão e de abuso de autoridade cometidas por policiais, além do risco de vida. (PACHECO, 2012).
Nesse contexto, a adoção do modelo de polícia comunitária apresenta uma grande vantagem em relação ao modelo tradicional. A parceria com a comunidade proporcionará ao policial conhecer de perto a realidade das coisas e dos cidadãos, humanizando o policial e suas relações com as pessoas. (BAYLEY, 1982)
 Como consequência da mudança de comportamento da polícia para com as pessoas, também será de se esperar uma reciprocidade tanto no trato das pessoas para com os policiais como no juízo que passarão a fazer da instituição. (PACHECO, 2012).
Além das vantagens enumeradas anteriormente, há que se salientar que a atuação na prevenção acaba gerando, em longo prazo, uma economia do Estado na atuação repressiva, que é cara. 
A literatura baseada em pesquisas americanas revela que, para cada dólar investido na prevenção de crimes, seis a sete dólares deixarão de ser aplicados na repressão. Assim, voltando-se a atenção da polícia para a atuação na prevenção teremos, em longo prazo, uma economia de recursos do Estado. (BAYLEY, 1982)
É necessário afirmar que esta redução de gastos somente será possível se as ações preventivas forem acompanhadas também por outros investimentos, principalmente nas áreas como educação, formação profissional, geração de empregos, etc.
O policiamento comunitário não é uma “panacéia”, como dizem Trojanowicz e Bucqueroux (1999, p.77). Não é a saída para todos os males da criminalidade nem o remédio para definir, de uma vez por todas, o papel tão controvertido da polícia perante a sociedade.
 Ele também é suscetível de falhas, por lidar justamente com o relacionamento entre pessoas e promover profundas mudanças estruturais que, invariavelmente, irão afetar interesses pessoais alimentados por diversos fatores. (BAYLEY, 1982)
Trojanowicz e Bucqueroux,(1999) por exemplo, afirmam que “ justamente por encorajar a tomada de riscos, o policiamento comunitário inclui implicitamente a possibilidade de incorrer em erros embaraçosos”. Além disso, a sua aplicação por um longo tempo, embora sem algum estudo a respeito, possa, teoricamente, levar a uma série de ameaças que poderão comprometê-lo. 
Dentre essas ameaças de disfunção do policiamento comunitário, Bayley (1982, p. 11) destaca algumas:
Redução na eficácia de controle do crime – A tendência do policiamento comunitário seria a de se apegar mais às ações sociais em detrimento de ações enérgicas de combate à criminalidade violenta.Deterioração da vontade para manter a ordem face à violência – A tendência do policiamento acabar retornando ao modelo tradicional em razão do aumento da violência.Fuga imprópria da responsabilização pelo controle do crime – A polícia tenderia a responsabilizar mais a comunidade pela violência e se eximir da responsabilidade pelo controle dessa criminalidade. Aumento do poder político e burocrático da instituição e de seus membros – Ao lidar com pessoas e representantes de comunidades, haveria a tendência de alguns policiais se aproveitarem dessa proximidade a fim de obter prestígio político ou mesmo acabarem se envolvendo na militância por partidos políticos. 
Mas o que seria um serviço de qualidade? Imaginar um produto industrializado com qualidade, seja um carro, um aparelho de som ou um lápis, torna-se aparentemente fácil diante da nossa condição de consumidores, mas identificar e avaliar a qualidade no serviço policial torna-se um tanto complicado. (BAYLEY, 1982)
Segundo Cerqueira, (2001, p.77) o controle de qualidade no serviço policial não pode obedecer aos mesmos critérios do controle de qualidade de produtos, “ já que a prestação do serviço policial está ocorrendo em milhares de lugares, em situações diversas e em lugares diferentes”. 
Executar um controle de qualidade nos moldes industriais nesse caso torna-se virtualmente impossível. Diz ainda o autor que é necessário um outro conceito de qualidade de serviço, que vislumbre o processo fundamentalmente humano de “geração e entrega do produto”
 1.4 POLÍCIA MILITAR 
Ao contrário da maior parte dos países, o Brasil divide as polícias por função e território. A Polícia Militar é responsável pelo policiamento ostensivo e pela preservação da ordem pública. Na prática, ela faz o patrulhamento, a repressão ao crime e atende aos chamados do 190. (MARCINEIRO, 2005).
Do ponto de vista territorial, cada estado tem essas duas polícias. Na maioria dos países, há dois modelos: polícia única ou polícia de ciclo completo dividida por território e/ou tipo de crime. A polícia é única quando há apenas uma força que age em todo o território nacional. Este é o caso dos Carabineros, no Chile, ou da Polícia Nacional Colombiana. (MARCINEIRO, 2005).
 O outro modelo é o de várias polícias divididas por territórios, como, por exemplo, nos Estados Unidos. (PACHECO, 2012).
Lá,as polícias podem ser municipais, como o Departamento de Polícia da cidade de Nova York; distritais, como o Departamento de Polícia do distrito de Fairfax; ou estaduais, como a Polícia do estado de Nova York. Todas são de ciclo completo, ou seja, fazem patrulhamento e investigação. (MARCINEIRO, 2005).
Nos Estados Unidos há aproximadamente 18 mil diferentes polícias. A divisão das funções de polícia em duas instituições (o patrulhamento, feito pela Polícia Militar, e a investigação, pela Polícia Civil) é um desafio para a atuação eficiente em todos os estados brasileiros. (PACHECO, 2012).
O trabalho de uma depende da outra, e infelizmente muitas vezes elas não trabalham em conjunto. Por exemplo, a estratégia mais eficaz de patrulhamento é a concentração de policiais e viaturas nos locais, dias e horários com maior incidência criminal – o chamado policiamento de manchas criminais. (PACHECO, 2012).
A Polícia Militar é quem está na rua e tem maior proximidade com o cidadão. (MARCINEIRO, 2005).
Muitas vezes a Polícia Militar está mais ocupada na apreensão de usuários de drogas que na ação preventiva eficaz, feita com patrulhamento inteligente e atendimento de qualidade à população.
 Esse tipo de atuação consome os poucos recursos disponíveis com uma atividade que não produz os resultados esperados e não torna a sociedade.
CAPITULO II
2. BREVE HISTÓRICO DA POLÍCIA COMUNITÁRIA
O conceito de Polícia Comunitária está alicerçado na relação de aproximação dos profissionais da área de segurança publica com a sociedade, onde esses trabalham juntos, em parceria constante, como solucionadores de problemas envolvendo a comunidade em busca da tranquilidade pública. 
Quando mencionado “Polícia Comunitária” no mundo, o Japão é uma das principais referências, tendo um modelo bem particular de policiamento, que começou a se desenvolver por volta de 1879, porém, implantado efetivamente seus sistemas imediatamente após a II Guerra Mundial. (MARCINEIRO, 2005).
Os japoneses contam com uma grande rede de postos policiais denominados Kobans e Chuzaishos. Os primeiros estão em locais com grande circulação de pessoas e seguem o modelo mais convencional de atuação policial, enquanto os últimos têm características bem específicas, sendo estabelecidos em bairros residenciais com baixo índice de criminalidade, mais especificamente nos bairros onde os policiais residem e contam com a participação da família dos policiais para o apoio à comunidade (MARCINEIRO, 2005).
 Nos anos 60 os Estados Unidos presenciaram uma série de distúrbios sociais urbanos decorrentes de vários fatores, incluindo-se a enorme discriminação racial, lutas pelos direitos humanos e a guerra no Vietnã. Foi uma década de inúmeros confrontos entre a polícia e comunidade manifestante, que preocuparam as autoridades americanas fazendo com o que a própria polícia acabasse se tornando tema de um exame mais do que minucioso e de contestações mais frequentes do que qualquer outra época (BAYLEY, 1982, p 90).
A sociedade americana assistiu a inúmeros e infindáveis incidentes de confronto entre as polícias e as comunidades. Os confrontos eram intensos, ocasionando inclusiva, mortes de policiais e de muitos manifestantes. “O pior e que a atuação da própria polícia, reproduzindo a discriminação existente na sociedade americana da época, provocava mais insatisfações dos grupos minoritários e, com isso mais confrontos” (BAYLEY, 1982, p.90).
 A alternativa de se mudar esse quadro passava pela difícil, porém, necessária aproximação entre a polícia e a comunidade. Apesar da existência de Departamentos de Polícia próximos das comunidades, eles haviam se transformado em entidades alheias às comunidades que policiavam. (BAYLEY, 1982)
A centralização dos chamados para atendimentos de ocorrências, aliado a adoção do serviço de radiopatrulha, fizeram com o que o policial perdesse o contato com o destinatário do serviço: o cidadão. “Mais do que isso, a polícia estava se tornando eminentemente reativa e, consequentemente, repressora (BAYLEY, 1982, p.90).
Em 1968 nos Estados Unidos foi criada a comissão denominada “National Advisory Comission Civil Disorders” Comissão Consultiva Nacional sobre Desordens Civis, popularmente conhecida como Comissão Kerner, com objetivo de examinar as causas dos distúrbios que estavam agitando as cidades americanas – Detroid, Newark, Los Angeles e Nova Iorque – no período que ficou conhecido como “os longos e quentes verões dos anos 60”. (BAYLEY, 1982, p.90).
 Dessa análise resultou um relatório que constatou haver uma profunda hostilidade entre a polícia e a comunidade dos guetos e que essas relações hostis constituíam uma das principais causas das revoltas raciais (BAYLEY, 1982, p.77).
 Segundo Bayley (1982), a comissão Kerner citou, como fontes de hostilidade e de ressentimento, todo o percurso pré-fabricado da justiça que proliferava em tribunas inferiores, as enormes disparidades nas sentenças, os equipamentos e serviços correcionais antiquados, e as desigualdades básicas impostas aos pobres.
 Em razão desta hostilidade em relação à polícia, a comunidade negra e pobre participava menos da segurança pública, tornando a polícia menos eficaz na resolução de crimes envolvendo-as e, com isso, deixando de impor os limites necessários à criminalidade. De acordo com Bayley (1982, p.64), “a polícia fracassava não somente na prevenção do crime como podia, inadvertidamente, encorajar seu crescimento”. 
Disto deduziu-se que se fazia urgente a adoção de um modelo de polícia que satisfizesse essas condições e que pudesse então, legitimado pela participação pública, prestar um melhor serviço de segurança. (MARCINEIRO, 2005).
De acordo com Brodeur (1998, p.33), a violência crescente e os distúrbios civis nos Estados Unidos nos anos 1960 levaram a Comissão do Crime recomendar um policiamento em grupo, em 1967, como um meio de diminuir a distância física e psicológica entre o policiamento e a comunidade. 
Assim, foram definidos grupos de policiais designados para determinados setores, onde atenderiam quase todas as chamadas e estabeleceriam um contato amiúde com os moradores, a fim de os conhecerem e tornarem-se conhecidos. “Essa iniciativa ficou conhecida como policiamento de grupo, iniciada pelo Chefe Edward Davis, em 1970, na cidade de Los Angeles (BAYLEY, 1982, p.51).
Apesar dos esforços, não foram determinados efeitos positivos nesse novo modelo de policiamento. O sucesso dessa experiência, em termos de crimes, não chegou a ser comprovado. (MARCINEIRO, 2005).
Segundo Skolnick (2009), “na área em que o programa foi implantado, os sentimentos dos cidadãos com relação à segurança não mudaram, a taxa de criminalidade, exceto para furto qualificado [burglary], não ficou muito diferente da taxa para o resto da cidade”.
Apesar do aparente insucesso de controle da criminalidade, as novas iniciativas de policiamento continuaram no sentido de promover uma maior descentralização nos departamentos de polícia, atribuindo maiores responsabilidades e poder aos policiais da atividade fim e encorajando um maior entrosamento com a comunidade. (MARCINEIRO, 2005).
Em 1973 Davis lançou outra novidade, introduzindo o conceito de “policiamento em equipe”, ao dividir a área do departamento em várias subáreas. Cada subárea funcionava como um mini Distrito Policial, com autonomia para a realização do policiamento e de investigações, sendo comandada por um Tenente. Essa autonomia vinha acompanhada de grande responsabilidade (BAYLEY, 1982, p.33).
 Cada Tenente era responsabilizado pelos problemas de suas áreas. Isso obrigou os chefes dos minis Distritos a buscarem um contato mais amiúde com as comunidades sob sua responsabilidade. (PACHECO, 2012).
Contando com um aparente sucesso, o programa de policiamento em grupo, como passou a ser chamado, então foi difundido em muitos Departamentos de Polícia pelos Estados Unidos. (BAYLEY, 1982).
 Essa alternativa rendeu resultados satisfatórios. Embora não tivesse resolvido totalmente o problema da distância psicológica, essa novaabordagem de redistribuição das viaturas resolveu, pelo menos, a questão da aproximação física, pois esses programas gozavam de popularidade, entre os cidadãos e a polícia, e pareciam produzir algumas melhoras nas condições dos bairros, incluindo a redução do crime (BAYLEY, 1982, p 99).
De acordo com Souza (1982, p.88)
As diferenças entre um e outro são bastante grandes. Além disso, os programas de policiamento em grupo acabaram sendo abandonados na maioria das cidades, mesmo em Los Angeles, em 1979, apesar de demonstrar alguma eficácia na redução de crimes. Uns afirmam que o policiamento em grupo foi abandonado devido à escassez de recursos para os Departamentos de Polícia, aliado as resistências culturais internas da polícia, que prefere o isolamento profissional ao compromisso com a comunidade.
 
Outros atribuem aos administradores de nível médio a oposição dos programas, inconformados com a autonomia e independência dos Sargentos e dos patrulheiros. De qualquer modo, o importante a ser destacado é que não há como realizar mudanças profundas nos departamentos de Polícia sem passar, primeiro, por uma mudança cultural. (PACHECO, 2012).
A década de 80 foi marcada por inúmeras tentativas de implantação de um modelo de polícia que pudesse reunir, ao mesmo tempo, a aproximação com os cidadãos e a redução da criminalidade. (BAYLEY, 1982).
Segundo Bayley (1982, p 77), “o crescente índice de criminalidade nos Estados Unidos, em meados da década de 80, fez com que as polícias americanas se obrigassem a buscar novas alternativas para o tratamento da violência”. 
Motivados também pela diminuição dos fundos governamentais e pela possibilidade de economia de recursos, o conceito de envolvimento comunitário tornou-se especialmente atraente. (BAYLEY, 1982)
Assim, muitos departamentos de polícia passaram a fazer centenas de experimentações independentes, com várias iniciativas comunitárias, sendo que a mais popular era o policiamento a pé. (BAYLEY, 1982).
Programas de policiamento com envolvimento comunitário começaram a surgir em vários departamentos de várias cidades americanas. Em 1983 foi implantado na cidade de Huston um programa chamado DART – Directed Area Responsability Team – [cuja tradução significa equipe de Responsabilidade Direcionada a uma Área], que implicava em um policiamento de equipe, descentralizado, voltado para o envolvimento comunitário. (BAYLEY, 1982, p.87)
Todas essas iniciativas de mudança incluíram a ampla aplicação do policiamento a pé como forma de interação com a comunidade. E os argumentos para a aplicação do policiamento a pé não paravam por aí.
Segundo Skolnick (2006, p.88), a patrulha a pé gera quatro efeitos bastante positivos: A patrulha a pé adapta-se mais facilmente aos acontecimentos da rua e, assim, pode evitar o crime antes que ele ocorra. 
Os patrulheiros a pé podem efetuar prisões, mas também estão à mão para fazer advertências diretas ou indiretas, apenas por sua simples presença. Executada de maneira apropriada, a patrulha a pé gera boa vontade no bairro, o que tem a consequência derivada de tornar mais eficientes outras técnicas de prevenção do crime. Essa eficiência, por sua vez, tende a elevar o moral do cidadão e a reduzir seu medo do crime. A patrulha a pé aparentemente eleva o moral do policial. (PACHECO, 2012).
Para que o policiamento comunitário de o resultado esperado se faz necessária uma reorganização estrutural das instituições policiais, baseada na tríade prevenção, comunidade e parcerias, juntamente com a maior visibilidade do trabalho dos policias (BAHIA, 2013; CHAGAS,2007; GONDIM, 2007). 
Aos policiais e concedida autonomia durante a pratica do policiamento comunitário, dando a eles, independente de grau hierárquico, a liberdade expor suas opiniões e tomar decisões, tanto que o comandante do policiamento comunitário e o principal canal de comunicação entre a instituição PM e a comunidade; em função disso inclusive o numero de celular do PM comunitario e disponibilizado para a comunidade, facilitando o contato. (PACHECO, 2012).
Essa integração entre policia e comunidade cria uma relação de confiança e possibilita ver a segurança publica com os olhos da Constituicao Federal/88, como direito e responsabilidade de todos (PACHECO, 2012).
 Os cidadãos apresentam aos policiais os problemas prioritários para cada área de atuação, sugerindo soluções eles (SALES, 2009).
A policia se une a comunidade para, de forma não repressiva, buscar a solução de problemas e o aumento da sensação de segurança da comunidade, visando a manutenção da ordem publica, a longo prazo, utilizando mecanismos de resolução de conflitos na base do dialogo, após uma analise dos problemas de cada comunidade e após o encontro de estratégias para uma boa administração do policiamento (PACHECO, 2012).
2.1 POLÍCIA COMUNITÁRIA NOS ESTADOS UNIDOS E CANADÁ
Os primeiros movimentos comunitários de polícia, nos Estados Unidos, surgiram entre 1914 e 1919, a partir das propostas do comissário de polícia de Nova Iorque, Arthur Woods, que praticava o que hoje chamamos de policiamento comunitário. (PACHECO, 2012).
 Os estudos dele o fizeram compreender a necessidade de aproximar os policiais das comunidades a fim de reduzir a criminalidade, com destaque para algumas ações como a criação do policial júnior, o incentivo de visitas dos policiais às escolas a fim de mostrar a abrangência do serviço da polícia, agindo sobre as causas dos crimes e combatendo o desemprego – nesse caso, cabia ao policial divulgar vagas de emprego e encaminhar candidatos a algumas empresas, se necessário.	 
 Infelizmente, os ideais de Woods foram deixados de lado com a entrada de um novo comissário de polícia, o que deixou Nova Iorque novamente à mercê da violência e da corrupção (MARCINEIRO, 2009; SKOLNICK, 2006). 
Entre as décadas de 20 e de 60, apesar de fatos históricos como a Segunda Guerra Mundial e a Crise de 1929, os Estados Unidos viveram o chamado “período tranquilo”, que só se quebrou em 1960 com um aumento considerável na criminalidade e na violência. (PACHECO, 2012).
Na época as polícias ainda utilizavam o modelo tradicional de policiamento, visando controle da criminalidade e apreensão/prisão de criminosos (MARCINEIRO, 2009; SKOLNICK, 2006). 
Em Nova Iorque era visível uma grande hostilidade entre policiais e as comunidades, em especial as de classe pobre e moradores de guetos. Isso fez com que a polícia além de não conseguir prevenir a ocorrência de delitos ainda incentivou o seu crescimento. Entre 1970 e 1980, a Polícia Comunitária e os ideais de Woods foram relembrados e ganharam força. (PACHECO, 2012).
Quando se deu inicio a implantação de uma técnica chamada de tempo de resposta, que nada mais era que realizar o deslocamento para o local da ocorrência policial no menor tempo possível, o que ao invés de ajudar no controle da criminalidade, o que levou a um aumento do numero de ocorrências atendidas pela policia. (PACHECO, 2012).
Destarte, os Estados Unidos demoraram alguns anos para reconhecer a necessidade de mudança e iniciar programas de aproximação da segurança publica com a comunidade e hoje, as iniciativas da Policia Comunitária estão difundidas por todo o pais. Inclusive as melhores Organizações não governamentais (ONG´s) envolvidas com a Polícia Comunitária são homenageadas, a exemplo o Instituto Vera - Nova Iorque, o Police Executive Research Forum - Washington, DC, entre outros (PACHECO, 2012).
Um dos nomes importantes na história do policiamento comunitário nos Estados Unidos é o de Rudolph W. Giuliani, prefeito de Nova Iorque de 1994 a 2002. Giuliani colocou os direitos coletivos à frente dos individuais, percebeu que a redução da criminalidade é a melhor maneira de ajudar os pobres, criou os programas comunitários com maior destaque nos Estados Unidos. (PACHECO, 2012).
 Entre os programas de maior destaque estão o Zero Tolerance Program (Programa Tolerância Zero), uma medida dura de combate ao crime, onde qualquer delito, infração de trânsito ou ato que afete negativamentea sociedade deve ser contido com a aplicação da lei; o Broken Windows Program (Programa Janelas Quebradas), fundamental na estruturação e manutenção de áreas comuns comunitárias, onde manter imediatamente a ordem em ambientes urbanos é fator essencial para reduzir o vandalismo e a sensação de insegurança, e em consequência evitar crimes mais graves. (PACHECO, 2012).
Segundo Gondim (2007), uma situação de incivilidade social ou um crime que não seja reparado ou devidamente punido leva a um aumento a desordem e descontrole social; e o Policing Oriented Problem Solving (Policiamento Orientado para o Problema), onde a polícia deixa de reagir ao crime para trabalhar nas suas causas, atraindo os cidadãos em prol da diminuição das condições que causam insegurança à comunidade (PACHECO, 2012).
Tais programas levaram a uma redução do índice de criminalidade em 70%, porém, para dar certo contaram com apoio político e com uma convergência de interesses nas políticas de segurança e na reformulação das instituições policiais. (PACHECO, 2012).
Não só em Nova Iorque, mas em vários estados americanos foi percebida uma diminuição considerável da violência, resultado de um conjunto de medidas, entre elas a contratação de mais policiais, investimentos na economia e mercado de trabalho, mudanças na politica penal e o aumento da taxa de encarceramento, que quando relaxada se percebe um aumento no numero de crimes cometido (PACHECO, 2012).
Atualmente, o policiamento comunitário nos Estados Unidos é com maior frequência mais uma aspiração que algo realmente concreto, sendo muito mais aparente e eficiente em pequenos departamentos de polícia, afetando a minoria da população americana (SKOLNICK, 2006). 
Juntamente com os Estados Unidos, o Canadá, também investiu na filosofia de Policia Comunitaria, cuja implantação durou cerca de oito anos, e hoje toda a estrutura policial está focada no policiamento comunitário. 
Atualmente o Canadá tem um dos melhores policiamentos comunitários do mundo, iniciou com as polícias de Toronto e Halifax estabelecendo policiamento em áreas específicas com rondas a pé e de bicicleta. (PACHECO, 2012).
O policial está sempre presente e próximo ao cidadão mesmo sem ser chamado e os cidadão colaboram com o policiamento como voluntários em postos policiais e fornecendo informações referente à segurança, as quais são aceitas pelos policiais sem distinção. 
2.2 O POLICIAMENTO COMUNITÁRIO NO BRASIL
Com o advento da Constituição Federal de 1988, a qual modificou em grande parte as questões relacionadas à segurança pública, o papel das polícias passou ser mais bem definido, dentro de um contexto democrático (BRASIL, 1988). 
Diante das mudanças significativas pelas quais a sociedade passava, houve a necessidade de se remodelar as instituições policiais militares. 
 Estas foram perdendo gradativamente o forte vínculo que possuíam com o Exército Brasileiro, passando a adotar uma postura mais condizente com os novos tempos. Os currículos dos cursos de formação, tanto de Oficiais quanto de Praças das polícias militares, sofreram, paulatinamente, modificações profundas, abandonando a ênfase na formação militar e substituindo pela ênfase na formação policial (BAYLEY, 1982, p.77).
Em busca de uma nova identidade, as polícias militares passaram a se profissionalizar, através da adoção de tecnologia e da busca de novos modelos. Isso fez com que as polícias militares voltassem suas atenções para o modelo de polícia comunitária que já estava sendo empregado em outros países. (BAYLEY, 1982).
No Brasil, apenas em meados dos anos 90, que o conceito de polícia comunitária foi apresentado. 
No estado de Minas Gerais o conceito foi empregado na Polícia Militar de Minas Gerais – PMMG no ano de 1989, inicialmente com nome de policiamento distrital (BAYLEY, 1982).
Com diversas críticas e vários abandonos, o projeto da nova democratização proposto pela Polícia Militar de Minas Gerais só se consolidou a partir da tomada de decisão por parte da corporação militar em produzir vários documentos normativos, estes documentos são em formas de projetos, que estabelecem normas para o policiamento comunitário no Estado.
 Assim Cotta (2014) destaca esse novo modelo de policia Militar de Minas após CRFB/88:
A PMMG buscou inovar a sua estratégia de policiamento, saindo de uma norma mais reativa para uma proativa em suas funções. Implantar a Polícia de Resultados, os policiais usam as informações coletadas nos atendimentos para ter uma definição do problema. (COTTA, 2014, p. 233)
A PMMG por meio desses documentos buscou melhorar suas estratégias de policiamento, ou seja, se unindo a comunidade contra o crime. 
“Essas diretrizes contribuíram para implantar definitivamente a filosofia de Polícia Comunitária na PMMG, direcionando e esclarecendo as suas formas de atuação” (PENA, 2008, p.66).
As mudanças ocorridas no modelo de policiamento nos Estados Unidos demoraram a chegar no Brasil. “No Brasil, as primeiras experiências de policiamento comunitário surgiram nas cidades de Guaçuí e Alegre no Espírito Santo em 1988, e em Copacabana, no Rio de Janeiro, no período de 1994-95” (BAYLEY, 1982, p.44).
Apesar da mudança de paradigma implicar, de início, em um avanço no modo de ser e de fazer segurança pública, o policiamento comunitário demorou a se expandir até os grandes centros. 
2.2.1. O policiamento comunitário em Santa Catarina
Em 1998 a Polícia Militar de Santa Catarina passava por algumas mudanças internas, com a implantação dos programas de qualidade total. (BAYLEY, 1982).
Esses programas visavam a realização de mudanças internas com o escopo, basicamente, de melhorar o ambiente de trabalho e a qualidade dos serviços prestados ao público. (BAYLEY, 1982)
Surgiu a necessidade de direcionar seus serviços de maneira mais específica à comunidade, através de um serviço personalizado, que pudesse respeitar e considerar as características da comunidade policiada.
 Nesse contexto nasceu o interesse da Polícia Militar de Santa Catarina pelo policiamento Comunitário (SOUZA, 2012).
Em 28 de abril de 1998 foi editado pela PMSC um plano denominado “Plano de Implantação da Segurança Interativa”, acompanhado de uma Diretriz do Comando Geral da corporação, que estabelecia o Programa de Segurança Interativa.
 “Este Programa era o esboço de uma adaptação ao contexto catarinense do trabalho de polícia comunitária implantada em outros países e em outros estados brasileiros. (SOUZA, 2012, p.32)
 Segundo Souza, (2012) o Programa de Segurança Interativa trazia alguns conceitos de polícia comunitária e também buscava uma maior interação entre polícia e comunidade e o estabelecimento de prioridades para a resolução de problemas em parceria. Polícia e comunidade juntas para a resolução de problemas relativos à segurança pública passou a ser uma nova concepção difundida no âmbito da PMSC (BAYLEY, 1982).
Apesar dos esforços no sentido da ampla aplicação pelo Estado do novo programa, algumas dificuldades foram surgindo com o passar do tempo. 
Talvez algumas das principais dificuldades possam ser atribuídas às mudanças de governo do Estado e as consequentes soluções de continuidade aos projetos do governo substituído. (BAYLEY, 1982).
Atribuiu-se também ao insucesso do programa o fato de ter sido implantado não como uma filosofia, que gerasse uma mudança de comportamento tanto no âmbito interno da corporação como no âmbito da comunidade, mas sim como um programa sazonal, recebido como mais um dos inúmeros existentes. (BAYLEY, 1982)
Essa visão contribuiu negativamente para a continuidade do processo, pois não gerou o total comprometimento de ambos os lados – polícia e comunidade – para o alcance dos objetivos (SOUZA, 1982, p.55).
No início do ano 2000 a Polícia Militar de Santa Catarina - PMSC passou a adotar a filosofia de polícia comunitária, dentro de uma proposta oriunda da SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública, órgão subordinado ao Ministério da Justiça do Governo Federal. (PACHECO, 2012).
“De acordo com a proposta daSENASP, a mudança de comportamento das polícias deveria ser gradativa, passando do modelo tradicional reativo para um modelo proativo” (SOUZA, 1982, p.88).
Desde então a Policia militar de Santa Catarina tem buscado se adequar a um modelo de polícia que possa dar efetividade ao conceito de protetora dos direitos e garantias individuais e coletivos, pela ampla difusão da filosofia de polícia comunitária através da implantação de diversos CONSEG pelo Estado e da luta pelo preparo técnico-profissional de seus integrantes (SKOLNICK, 2009).
Vislumbrando a busca também por soluções para uma criminalidade crescente, o Plano Estadual de Segurança Pública estabeleceu uma série de projetos cujo envolvimento da comunidade apareceu de forma preponderante para o alcance dos objetivos comuns.
O Plano definia também o conceito de polícia comunitária como:
Uma concepção mais ampla da função policial que abrange a variedade de situações não criminais que levam o público a invocar a presença da polícia; descentralização dos procedimentos de planejamento e prestação de serviços para que as prioridades e estratégias policiais sejam definidas de acordo com as especificidades de cada localidade; maior interação entre policiais e cidadãos visando ao estabelecimento de uma relação de confiança e cooperação mútua. (SOUZA, 2012, p. 55)
De acordo com o Plano Estadual, a filosofia de polícia comunitária seria implantada nas organizações policiais Estaduais (Polícia Civil e Polícia Militar) paralelamente às diversas ações de integração, compatibilização e harmonização entre ambas as instituições (SKOLNICK, 2009).
A qualificação dos profissionais de segurança pública voltada para a filosofia de polícia comunitária também encontrou espaço no Plano Estadual. Nesse sentido, o governo Estadual propiciou, ao longo dos anos 2001 e 2002, a criação de inúmeros cursos de Polícia Comunitária, onde mais de três mil profissionais da Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal receberam conhecimentos sobre a filosofia. Como resultado dessa difusão, o conceito de polícia comunitária passou a permear a atuação policial em vários municípios (BAYLEY, 1982).
Com a difusão da filosofia, a comunidade passou também a se interessar pela polícia comunitária, talvez por buscar desesperadamente uma resposta para o problema da criminalidade ou apenas para se cercar de todas as possibilidades possíveis para evitar o crime. “O fato é que com a criação dos CONSEG as comunidades passaram a se organizar e, em conjunto com a polícia, buscam identificar, priorizar e resolver problemas” (SOUZA, 2012, p.33).
O Plano Estadual de Segurança era bastante abrangente no que diz respeito às estratégias a serem desenvolvidas para o combate à criminalidade, porém carecia de medidas que possibilitassem a implementação de algumas das propostas elaboradas. (SOUZA,2012)
Mas contemplava a filosofia de polícia comunitária com a importância que esta merecia e isso já significou um grande passo para as mudanças estruturais, culturais e filosóficas necessárias às instituições policiais estaduais.
2.3 POLICIA COMUNITARIA X SOCIEDADE MAIS SEGURA E PACÍFICA
Viver com medo não é normal. De uma forma ou de outra, muitos já foram vítimas de crimes violentos; ou perderam entes queridos, e que, por experiência direta ou indireta, sofrem com síndrome do pânico, estresse pós-traumático, ansiedade e fobias. (BAYLEY, 1982).
Algumas chegam a desenvolver comportamentos violentos ou dependência química de drogas lícitas e ilícitas, a fim de curar medos e traumas que a violência gerou. (SOUZA,2012)
Contudo, sabe-se que dá para mudar esse contexto. E pode-se reconstruir o contrato social recuperando a capacidade de viver em harmonia, sem medo, e de exercer plenamente o nosso potencial humano. (BAYLEY, 1982).
Antes de falar sobre como pode-se construir uma sociedade mais segura e pacífica, porém, é importante entender a dimensão da violência que afeta, suas causas e também o perfil de vítimas e agressores.
A violência é um fenômeno com muitas facetas e diversas causas, e, por isso, seu enfrentamento requer ações de diferentes campos de atuação e a união de esforços de todos os setores da sociedade: governos, setor privado e cidadãos. (SOUZA, 2012)
Não é possível tratar a violência como uma categoria única. É como a saúde. Não tratar doença como categoria genérica. Cada doença tem uma causa e um tratamento. Hoje sabe-se que promover saúde significa manter as pessoas saudáveis, prevenindo doenças, e não apenas cuidar dos que adoecem. (BAYLEY, 1982).
O mesmo acontece com a violência. Cada tipo de violência possui uma dinâmica específica e está associado a diferentes fatores de risco, isto é, fatores que, combinados, aumentam a possibilidade de um crime ou violência ocorrer. (SOUZA, 2012)
Portanto, agir para amenizar os fatores de risco de forma a prevenir o envolvimento de pessoas com o crime e promover uma vida social harmônica devem fazer parte de qualquer política de segurança. 
No Brasil, como em muitos lugares do mundo, é possível identificar padrões para os diferentes tipos de violência. Em geral eles se concentram em algumas partes do território e atingem grupos específicos da população. (BAYLEY, 1982).
Portanto, mesmo que todos tenham medo, o crime violento não afeta todas as pessoas de maneira igual. Ele realmente se concentra no espaço e no tempo. E, dependendo do tipo de crime, é possível identificar em quais dias da semana e horários ele acontece com maior frequência. (SOUZA,2012)
E para tanto, a polícia não pode se distanciar das reivindicações desagregadas, ou seja, deve se envolver em atividades não relacionadas diretamente à lei para proporcionar uma prevenção de crimes mais eficaz. (SOUZA, 2012).
A aproximação com a comunidade através das situações não relacionadas com delitos deve ser vista pela polícia não como uma “disfunção” do serviço policial, mas como uma oportunidade de promover a interação e, consequentemente, buscar melhorar os níveis de prevenção do crime. (BAYLEY, 1982).
A interação comunitária, segundo Silva, (2003, p.77) é a base da “ filosofia de ação da Polícia ”. Isso pressupõe que quaisquer ações da polícia que vislumbrem um efeito social e amplo devem, obrigatoriamente, observar e, mais do que isso, incentivar a interação comunitária.
Ajudar a promover a organização comunitária pode não parecer uma missão policial, pois não está diretamente relacionada com as situações de crime, mas torna-se indispensável na medida em que gera inúmeros benefícios para ambas as partes e proporciona melhores níveis de satisfação com a segurança, pelo menos nos locais atendidos. 
CAPÍTULO III
3 O PAPEL DA POLÍCIA MILITAR NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
São flagrantes as dificuldades do Estado no trato de questões que visem a redução das desigualdades sociais e o estabelecimento de níveis satisfatórios de segurança. (BAYLEY, 1982).
Além disso, é sabido que a participação efetiva das pessoas na promoção da própria segurança tem apresentado resultados muito satisfatórios não na melhoria da qualidade de vida e dos níveis de interação comunitários, porque como diz Silva, (2003, p.90) “de muitas formas, cada pessoa e cada membro de comunidade tem responsabilidades e pode contribuir significativamente com as condições de segurança própria ou das outras pessoas”.
Segundo Dias, (2012) urge, então, que se busque de alguma forma o resgate dessa interação e da união das pessoas em prol do bem comum, em torno de uma comunidade, não só no sentido estrito, mas no sentido amplo que o conceito possibilita. A partir dessa união, caberiam inúmeras discussões a respeito de todos os problemas que possam estar afligindo os integrantes dessa comunidade e, então, a busca de possíveis soluções para os problemas identificados. 
E aí caberia a readequação da polícia, não só como instituição de controle formal, mas, como diz Baley (1982), principalmente como catalisadora da “mobilização ativa da população, de modo a atingir tanto as causascomo os sintomas do crime”. 
A participação da comunidade na prevenção de crimes e na manutenção de sua própria segurança é uma necessidade com que, mais cedo ou mais tarde, todas as organizações policiais terão de contar. Normalmente, essa afirmação se choca com as crenças policiais de que, como diz Bayley (1982) eles [os policiais] se consideram “ os profissionais que sabem, melhor que quaisquer outros, o que deve ser feito para proteger a comunidade ”. 
O policiamento comunitário, segundo Trojanowicz e Bucqueroux,(1999, p.33) “ desloca o papel da polícia de especialista, detentora de todas as respostas, para o de parceira ”. 
O paradigma da polícia é o de pouco considerar as opiniões do público com relação ao que ela [a polícia] deve fazer ou deixar de fazer em suas atividades. Opiniões “de fora” são mal recebidas e, não raras vezes, desconsideradas ou tratadas como tentativas de ingerência na atividade policial, considerada eminentemente técnica. (BAYLEY, 1982).
Muitas tentativas de implantação do policiamento comunitário não passaram de meras mudanças estéticas do policiamento tradicional, sem implicações estruturais e sem o devido comprometimento dos responsáveis por sua implementação. Diversas barreiras internas também contribuem para que as opiniões e sugestões vindas de fora da corporação não ganhem força. (BAYLEY, 1982).
 A implementação do policiamento comunitário exige profundas mudanças em todos os níveis e em todos os setores de uma organização policial, mudanças que vão desde o patrulheiro à principal chefia e do treinamento à tecnologia. Um compromisso para com o policiamento comunitário deve implicar mudanças em todas as áreas da corporação policial. (TROJANOWICZ E BUCQUEROUX,, 1999, p.33)
Para Bayley (1982, p.24) “a cultura policial tem uma história longa e nem sempre honrosa, que inclui isolamento, autoproteção, desconfiança dos que vêm de fora, interferências políticas e, às vezes, até corrupção sistêmica e racismo”.
Muitas corporações têm dado maior importância ao marketing político oriundo da parceria entre polícia e comunidade do que à mudança de concepção na maneira de pensar e agir de seus integrantes. Aliado a isso, há uma ausência quase que total de avaliação da eficácia da polícia comunitária (PACHECO, 2012).
A implantação do policiamento comunitário deverá levar em consideração, basicamente, fatores relativos às particularidades e peculiaridades locais, forças políticas de apoio, organização comunitária, efetivo disponível e aceitação do programa por parte da população.
 Segundo Souza, (1982, p.222) “as experiências de policiamento comunitário desenvolvem-se de acordo com as demandas específicas e o nível de organização de cada ambiente ou comunidade local”.
A imensa variedade de nuances que a organização policial poderá encontrar na comunidade inviabiliza o estabelecimento de qualquer fórmula de implantação do policiamento comunitário. (PACHECO, 2012).
 Mesmo nos países onde sua implantação foi considerada um sucesso, encontramos enormes diferenças de operacionalização do policiamento comunitário, diferenças essas fruto das inúmeras adaptações feitas para adequar o modelo de polícia às características da comunidade. (SOUZA, 2012).
Por isso, mais importante do que seguir uma cartilha para se implantar o policiamento comunitário em determinada comunidade, é conhecer essa comunidade (SOUZA,2012).
O interesse na expansão do policiamento comunitário se confunde com a necessidade de uma fonte de recursos para financiamento e manutenção de seus equipamentos. Entretanto, a correlação existente de um policiamento comunitário como fonte alternativa de recursos para a polícia fica no segundo plano na retórica policial sobre a importância de uma polícia preventiva (SOUZA, 2012, p.22)
A polícia comunitária desenvolve seu trabalho em ações preventivas, o que quer dizer que está presente no conflito, desde que se estabelece até configuração do delito. Porém, o agente não tem instrumentos jurídicos que estabeleçam claramente sua autoridade discricional nessas situações.
 Isso dificulta sua ação [...] Como o trabalho é preventivo, o agente trabalha em cima do chamado poder de polícia, um conceito muito vago. (SOUZA,2012 , p.33)
Em ausência de um instrumento jurídico, muitas vezes o julgamento de nossa atuação fica a mercê da livre interpretação de um delegado ou de um juiz. Trabalhamos em cima de uma “corda bamba”, porque não tem-se instrumentos jurídicos claros para orientar nossas ações nem para sermos julgados.
O poder discricionário não está claro. Percebe-se, por exemplo, que a missão da Polícia Militar é pegar o bandido, mas sua missão muda se a vida do bandido estiver em risco, devido à ação desenvolvida para pegar o bandido. Nessa situação, sua prioridade é proteger a vida do cidadão. Porém isso não está regulamentado, não está descrito num instrumento legal. 
Tem que escrever, sujeitar a um regulamento a ação da polícia, tanto para proteger os agentes como para que suas ações possam ser mais corretas e eficazes”. (SOUZA,2012 , p.222)
Assim sendo para à implantação do policiamento comunitário mudanças na sua forma, pode-se concluir que os elementos principais do citado são:
O apoio da comunidade e o apoio político, além da lei e do profissionalismo , são a fonte de autoridade para este tipo de policiamento; As suas principais funções são o controle e a prevenção do crime e a resolução de problemas; Seu projeto organizacional: descentralizado, forças-tarefas e matrizes; Relação com o ambiente: consultas ; a polícia defende os valores da lei e do profissionalismo, mas escuta as preocupações da comunidade; A demanda deste tipo de policiamento é canalizada através da análise dos problemas subjacentes .As táticas são as de patrulha a pé visando a solução de problemas; (SOUZA,2012 , p.222)
O policiamento comunitário, assim como todos os programas que busquem uma mudança comportamental dentro da polícia, encontra inúmeras barreiras para sua implementação. E isso é até certo ponto normal, considerando-se que há uma forte tendência por parte das pessoas em permanecerem presas aos velhos paradigmas. (PACHECO, 2012).
 Além disso, falamos em mudança de um comportamento que está em vigor há mais de cem anos, o que fez com que se criasse, internamente, no âmbito das corporações policiais, uma forte subcultura voltada quase que exclusivamente à repressão (SOUZA,2012).
Segundo Dias, (2012, p.77) “a existência da subcultura costuma ser tematizada em seus aspectos negativos, como um obstáculo às tentativas de aprimoramento da instituição”. Mudar isso não é tarefa fácil para o administrador policial. Há que se fazer o policial entender a necessidade de mudanças e, por si só, buscar uma adequação à nova ordem. Isso não é tão simples e nem rápido. (PACHECO, 2012).
 A readequação requer a construção de novos conceitos e bases onde se fixarão os novos comportamentos, quebrando-se os muros internos e externos que protegem a cultura da polícia reativa. Não só as mentalidades da base da organização deverão ser modificadas, mas principalmente as concepções dos administradores deverão estar abertas às mudanças. Isso porque o “status quo” sofrerá modificações, as quais nem sempre agradarão quem administra (PACHECO, 2012).
Segundo Cerqueira, (2011) numa organização altamente hierarquizada, o status do chefe está estritamente ligado à centralização das decisões, sendo até normal que ele não queira abrir mão dessa condição. 
O fato de ser o responsável final por todas as decisões pode, aparentemente, indicar poder de mando e influência. Mas nem sempre será a melhor maneira de alocar os recursos humanos e materiais necessários ao bom desempenho do serviço. Ou seja, centralizar não significa bem administrar. (PACHECO, 2012).
O que o administrador policial precisa ter em mente é que, por mais que procure burocratizar o procedimento de seus policiais, através do estabelecimento de normas e diretrizes e adoção de comportamentos padronizados, a atividade policial de ponta lida com uma infinidadede situações de conflito que, fatalmente, fugirão às normatizações e obrigarão o policial a buscar em sua experiência a melhor saída para a resolução do problema (PACHECO, 2012).
Torna-se impossível controlar totalmente o que cada policial estará fazendo durante o turno de serviço, as respostas que estará dando às mais diversas situações, sendo o administrador “obrigado a confiar” no preparo do policial para lidar com essas situações. (PACHECO, 2012).
Por mais que se tente formatar a atuação do policial, há que se considerar o poder discricionário que a própria atividade lhe impõe. E não há como desconsiderar isso. Portanto, a centralização das decisões, mesmo que buscada com fervor pelo administrador policial, torna-se uma tarefa impossível (SOUZA,2012).
A centralização constitui uma das grandes dificuldades para implantação do policiamento comunitário. Segundo Skolnick e Bayley,(1982, p.44) “ quanto mais centralizado e hierárquico for o sistema de responsabilização de um departamento de polícia, mais difícil será introduzir o policiamento comunitário”. 
Segundo Silva, (2003, p. 55) “a ideia de repressão sempre sobrepujou a de proteção”. Com a adoção do modelo de polícia comunitária, esse “talento” para a repressão teve de ser reavaliado, gerando, com isso, uma série de insatisfações “intra corporis”, o que de certo impediu uma mudança mais rápida e efetiva. 
No Brasil, a situação se parece um pouco diferente, apesar de possuirmos a subcultura de polícia como instituição do governo e não do povo, portanto, mais sujeita às vontades políticas do que às aspirações sociais. A profissionalização da polícia no Brasil tem sido relativamente lenta, talvez devido à falta de investimentos em tecnologias nos organismos policiais, a nível nacional, ou ainda à precariedade de cultura profissional que permeia as instituições. Mas isso tem representado uma vantagem para a aplicação do policiamento comunitário (PACHECO, 2012).
Para Mesquita, (2014, p.11)
No Brasil, o grau relativamente baixo de profissionalismo da polícia diminuiu as resistências ao policiamento comunitário, na medida em que a polícia não foi ainda separada e diferenciada da sociedade da mesma forma como aconteceu nos Estados Unidos e Canadá.” A subcultura policial existente no Brasil, portanto, não deverá constituir grande barreira à implementação do policiamento comunitário
A interação e o envolvimento sério com os problemas da comunidade e a busca de alternativas para a resolução desses problemas geradores de criminalidade e violência proporcionarão uma série de benefícios para a instituição policial. Skolnick e Bayley (2009), apontam para sete benefícios: políticos, apoio popular, consenso entre polícia e público, moral policial, satisfação, estatura profissional e desenvolvimento da carreira. 
É claro que a análise feita pelos autores encontra-se calcada na estrutura policial do modelo americano. Em razão disso, talvez nem todos os benefícios aqui enumerados possam ser atingidos, bem como pode haver outras vantagens que o modelo de polícia brasileiro possa alcançar. (PACHECO, 2012).
 A questão não se trata da quantidade de benefícios nem tampouco do seu valor para a instituição policial. O fato é que, se existe a possibilidade de se aumentar os benefícios tanto para a polícia bem como para o cidadão, não há razão para não se buscar a implementação do policiamento comunitário (PACHECO, 2012).
Segundo Cerqueira, (2011) a busca da prevenção dos crimes, por si só, já justificaria sua implementação, posto que se reduzindo as possibilidades de confronto entre polícia e criminosos evita-se uma série de problemas relacionados com a lei, principalmente no que diz respeito às práticas de agressão e de abuso de autoridade cometidas por policiais, além do risco de vida. 
Nesse contexto, a adoção do modelo de polícia comunitária apresenta uma grande vantagem em relação ao modelo tradicional. A parceria com a comunidade proporcionará ao policial conhecer de perto a realidade das coisas e dos cidadãos, humanizando o policial e suas relações com as pessoas. (BAYLEY, 1982)
Como consequência da mudança de comportamento da polícia para com as pessoas, também será de se esperar uma reciprocidade tanto no trato das pessoas para com os policiais como no juízo que passarão a fazer da instituição (PACHECO, 2012).
Além das vantagens enumeradas anteriormente, há que se salientar que a atuação na prevenção acaba gerando, em longo prazo, uma economia do Estado na atuação repressiva, que é cara. A literatura baseada em pesquisas americanas revela que, para cada dólar investido na prevenção de crimes, seis a sete dólares deixarão de ser aplicados na repressão. Assim, voltando-se a atenção da polícia para a atuação na prevenção teremos, em longo prazo, uma economia de recursos do Estado (PACHECO, 2012).
É necessário afirmar que esta redução de gastos somente será possível se as ações preventivas forem acompanhadas também por outros investimentos, principalmente nas áreas como educação, formação profissional, geração de empregos, etc. (BAYLEY, 1982)
O policiamento comunitário não é uma “panacéia”, como dizem Trojanowicz e Bucqueroux (1999, p.77). Não é a saída para todos os males da criminalidade nem o remédio para definir, de uma vez por todas, o papel tão controvertido da polícia perante a sociedade.
 Ele também é suscetível de falhas, por lidar justamente com o relacionamento entre pessoas e promover profundas mudanças estruturais que, invariavelmente, irão afetar interesses pessoais alimentados por diversos fatores.
Trojanowicz e Bucqueroux,(1999) por exemplo, afirmam que “ justamente por encorajar a tomada de riscos, o policiamento comunitário inclui implicitamente a possibilidade de incorrer em erros embaraçosos”. Além disso, a sua aplicação por um longo tempo, embora sem algum estudo a respeito, possa, teoricamente, levar a uma série de ameaças que poderão comprometê-lo. Dentre essas ameaças de disfunção do policiamento comunitário. 
Com a implantação do policiamento comunitário em alguns dos grandes centros urbanos nacionais, a PMSC se viu diante da necessidade de mudanças e, principalmente, de uma resposta à comunidade. Com o advento da Constituição Federal de 1988 as instituições policiais começaram e ser questionadas quanto à qualidade dos serviços que prestavam para o público. (BAYLEY, 1982)
A exigência de um serviço público de qualidade passou a se tornar comum nos meios sociais e as instituições policiais, vistas até então como instrumentos de repressão do governo, não foram poupadas de inúmeras críticas (PACHECO, 2012).
De acordo com Pacheco, (2012, p.90), durante o período em que se instalou no Brasil o regime de exceção, “ as Polícias Militares atuaram como braço armado do Estado na repressão política, preocupando-se mais com assuntos de Segurança Nacional do que de Segurança Pública. Esta forma de atuação trouxe reflexos negativos à imagem das Polícias Militares em todo o país”.
A corrupção policial, assunto abordado somente no âmbito das corporações, passou a ser destaque em jornais e televisão. A violência policial, da mesma forma, ganhou destaque na mídia, fazendo com que as pessoas, de um modo geral, vissem as instituições policiais não como aliadas no combate à criminalidade, mas sim como focos de crime (PACHECO, 2012).
Devido a essa situação, as organizações policiais tiveram que adotar posturas de mudança, vislumbrando uma adequação às novas exigências sociais e um aumento na qualidade do serviço policial. O conceito de “qualidade” passou então a ocupar as reflexões dos administradores policiais, preocupados com as demandas sociais e os destinos obscuros que circundavam os ordenamentos das polícias.
 De acordo com Mesquita (2014, p.44)
Poucas mudanças aconteceram na organização, no gerenciamento e na cultura profissional da polícia militar. Mudanças indispensáveis à implantação do policiamento comunitário estão num estágio extremamente incipiente: a descentralização e a abertura da organização policial; a adoção de um estilo de gerenciamentoparticipativo, compatível com os princípios da qualidade total; a incorporação dos valores da democracia à cultura profissional dos policiais, particularmente do respeito ao estado de direito e aos direitos de cidadania.
Mas o que seria um serviço de qualidade? Imaginar um produto industrializado com qualidade, seja um carro, um aparelho de som ou um lápis, torna-se aparentemente fácil diante da nossa condição de consumidores, mas identificar e avaliar a qualidade no serviço policial torna-se um tanto complicado. (BAYLEY, 1982)
 Segundo Cerqueira, (2011) o controle de qualidade no serviço policial não pode obedecer aos mesmos critérios do controle de qualidade de produtos, já que a prestação do serviço policial está ocorrendo em milhares de lugares, em situações diversas e em lugares diferentes”. 
Executar um controle de qualidade nos moldes industriais nesse caso torna-se virtualmente impossível. Diz ainda o autor que é necessário um outro conceito de qualidade de serviço, que vislumbre o processo fundamentalmente humano de “geração e entrega do produto. 
3.1 DECRETO Nº 4.638  DE 16 DE JULHO DE 2002
No ano de 2002 é criado o Decreto Nº 4.638, o qual dispõe dobre a criação dos Conselhos Comunitários de Segurança Pública, no Mato Grosso.
O Conselho de Segurança Pública - CONSEG tem como objetivos mais do que a redução de taxas de criminalidade: a redução do medo do crime. (PACHECO, 2012).
De acordo com Bayley (1982) a redução do medo do crime representa um dos principais papéis dos CONSEGs . Para Goldstein, o CONSEG deveria fazer a distinção entre “ a real incidência de crimes e o medo de ser vítima de um ato criminoso” no momento de efetuar seu planejamento.
O mercado de segurança no Brasil cresce a uma taxa de 30% ao ano. Os dados mostram que uma em cada quatorze residência brasileiras possui algum equipamento para a prevenção de assalto, além, das grades, exatamente o dobro do que havia há cinco anos atrás (PACHECO, 2012, p.99).
Para a polícia nem sempre é fácil a identificação, na comunidade, desses fatores geradores da violência e do crime. Geralmente acostumada a agir nas consequências, a polícia apresenta pouca capacidade de identificar causas, pois está tradicionalmente com suas atenções voltadas para os efeitos e, ainda assim, mais bem preparada para agir após o cometimento do crime. (BAYLEY, 1982)
Como visto, o CONSEG atua com sua equipe para Identificar o criminoso para prendê-lo o mais rápido possível sempre foram sinônimos de polícia eficiente. 
O combate irracional da chamada guerra às drogas legitimou o uso da violência sob o pretexto do combate à criminalidade. Nessa estratégia – que em mais de 20 anos não teve uma consequência positiva sequer, os moradores das favelas deixam de ser cidadãos protegidos pela Polícia para ser a população civil do território inimigo, contra a qual soldados cometem crimes de guerra (PACHECO, 2012, p.99).
Ugalde, (1991), diz que o controle penal se enquadram as instituições de controle formal, como a polícia age sobre as pessoas e não sobre as situações geradoras; intervém reativa e não preventivamente, pois reprime os conflitos enquanto deveria preveni-los, somente interferindo após seu término e, desta maneira, não pode evitá-los e dificilmente solucioná-los. 
A formação do policial tem sido voltada para a repressão, através da “advertência, ameaça, força e agressão Consequentemente, a cultura policial vigente é a da reação ao crime, e não da prevenção. (BAYLEY, 1982)
As drogas, sem dúvida, constituem a matéria-prima que estimula e alimenta a formação e a existência das redes criminosas. Mas elas não explicam tudo. Colocar toda a razão da criminalidade e da violência nas drogas, propriamente dita, simplifica em excesso a profundidade e a gravidade da questão (PACHECO, 2012 p.135).
Com o Conselho de Segurança Pública, há a necessidade de se atuar nas causas dos crimes. Para tanto, como dito anteriormente, existe a necessidade de identificação dessas causas, coisa que se torna muito difícil para a polícia, posto que precisaria conhecer praticamente todos os problemas da comunidade. (PACHECO, 2012).
 É claro que não há polícia no mundo que atinja esse grau de interação, embora isso, apesar de utópico, seja o ideal a ser buscado por uma instituição que deseje se antecipar ao crime a fim de preveni-lo. (PACHECO, 2012). 
Através do Conselho de Segurança Pública a polícia pode atingir um expressivo grau de conhecimento dos problemas da comunidade sem a necessidade de muito esforço.
 E é justamente essa interação, cristalizada através da parceria, que deverá ser buscada para que os problemas causadores do crime possam ser identificados.
Para a polícia não é fácil identificar as causas da criminalidade, mas para a comunidade que convive no dia-a-dia com os problemas e que sente na própria pele os seus efeitos, é uma atividade que se torna muito simples. E quanto mais a polícia tende a demonstrar preocupação com os problemas da comunidade, mais se torna legitimada pela própria comunidade. (BAYLEY, 1982)
Quando se fala em comunidade, tem-se a ideia de algo positivo, de algo que diga respeito, diretamente, à nossa proteção, a um local de refúgio onde não seremos alcançados por grande parte dos problemas que nos afligem. (PACHECO, 2012).
 De fato, o ser humano passou a viver em comunidade justamente para garantir sua sobrevivência, que passou a depender primordialmente do interacionismo com os demais membros do grupo. Em grande medida, as pessoas abriram mão de sua liberdade e de sua individualidade em prol de sua segurança, como preconiza a teoria do Contrato Social. (PACHECO, 2012).
Apesar das possibilidades de ampliação desse interacionismo e das oportunidades de se converter essa interação em coisas positivas, o passar dos anos, paulatinamente, tem causado um efeito contrário no ser humano. (BAYLEY, 1982) 
 Tem ocorrido um gradativo afastamento das pessoas nas suas relações comunitárias. A comunidade perdeu grande parte da força que tinha como entidade formada para a busca da proteção do grupo.
Dissociadas do sentido comunitário, as pessoas deixaram de se relacionar com as outras, fazendo enfraquecer os elos que as ligavam ao grupo, seja por assumir outras obrigações, por priorizar outras coisas ou por ignorar a necessidade do sentido comunitário. (BAYLEY, 1982)
O fato é que, de uma maneira geral, as pessoas passaram a creditar sua segurança às instituições formadas para isso, ao invés de contar com o próprio grupo. 
A polícia então passou a assumir a função de protetora do grande grupo, exercendo um papel que, até então, era próprio das pessoas através de seus relacionamentos interpessoais. (PACHECO, 2012).
Grosso modo, essa é uma visão que explica, em parte, o porquê do afastamento das pessoas em relação ao conceito de comunidade e da necessidade de se resgatar algo que se está perdendo no tempo. É mais do que sabido por todos que a polícia, por si só, já não dispõe de mecanismos eficientes na busca pela redução da criminalidade. 
São flagrantes as dificuldades do Estado no trato de questões que visem a redução das desigualdades sociais e o estabelecimento de níveis satisfatórios de segurança. (PACHECO, 2012). 
Além disso, é sabido que a participação efetiva das pessoas na promoção da própria segurança tem apresentado resultados muito satisfatórios não na melhoria da qualidade de vida e dos níveis de interação comunitários, porque como diz Silva (2002, p. 22), “de muitas formas, cada pessoa e cada membro de comunidade tem responsabilidades e pode contribuir significativamente com as condições de segurança própria ou das outras pessoas”. (PACHECO, 2012, p.99).
Urge, então, que se busque de alguma forma o resgate dessa interação e da união das pessoas em prol do bem comum, em torno de uma comunidade, não só no sentido estrito, mas no sentido amplo que o conceito possibilita. (PACHECO, 2012).
 A partir dessa união, caberiam inúmeras discussões a respeito de todos os problemas que possam estar afligindo os integrantes dessa comunidade

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