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1 RELAÇÃO DE EMPREGO E CONTRATO DE TRABALHO Introdução: - Relação de Trabalho x Relação de Emprego; - Segundo Maurício Godinho Delgado, relação de trabalho é “toda relação jurídica caracterizada por ter sua prestação essencial centrada em uma obrigação de fazer consubstanciada em labor humano”. - Diz-se comumente que a relação de trabalho é gênero (alcançando toda modalidade de trabalho humano), ao passo que a relação de emprego (relação de trabalho subordinado) é espécie. - Relação de emprego é a relação de trabalho subordinado. Pode-se dizer que a relação de emprego é o vínculo de trabalho humano sob subordinação. Entretanto, a subordinação não é o único requisito para a caracterização da relação de emprego. Também o são a prestação de trabalho por pessoa física, a pessoalidade, a onerosidade e a não eventualidade. 1. Pessoa Física - Os bens jurídicos tutelados pelo Direito do Trabalho – vida, saúde, integridade oral, bem-estar, lazer, etc. – importam à pessoa física, não podendo ser usufruídos por pessoas jurídicas. Assim, a figura do trabalhador há de ser, sempre, uma pessoa natural. - Na verdade, a própria palavra “trabalho” já denota, necessariamente, atividade realizada por pessoa natural, ao passo que o verbete “serviços” abrange obrigação de fazer realizada quer por pessoa física, quer pela jurídica. - Quanto a este requisito, é importante ressaltar que a prestação de serviço por pessoa física não se confunde com situações de fraude. Assim, por exemplo, a existência das falsas pessoas jurídicas, também chamadas “PJ de um único sócio” ou “sociedades unipessoais”, as quais são geralmente “constituídas” por profissionais liberais que assumem a roupagem de pessoa jurídica como único meio de obter trabalho junto a grandes empresas, não impede o reconhecimento da relação de emprego, desde que presentes os demais requisitos. Prevalece no Direito do Trabalho o princípio da primazia da realidade, segundo o qual os fatos se sobrepõem à forma, de modo a inibir as fraudes aos direitos trabalhistas assegurados. 2. Pessoalidade OBS: O fato de ser o trabalho prestado por pessoa física não significa, necessariamente, ser ele prestado com pessoalidade. 2 - Essencial que a prestação do trabalho, por pessoa natural, tenha efetivo caráter de infungibilidade, no que tange ao trabalhador. (Godinho) - A contratação de um empregado leva em consideração todas as suas qualidades e aptidões pessoais. Por conta dessas características é que o empregador espera ver o empregado, e não outra pessoa por ele designada, realizando o serviço contratado. - Pressupõe a ideia de intransferibilidade, isto é, de que somente uma específica pessoa física, e nenhuma outra em seu lugar, pode prestar o serviço ajustado. - O vínculo empregatício é intuito personae, ou seja, o trabalhador deve prestar o serviço pessoalmente, sem possibilidade de se fazer substituir por outrem; - Pessoalidade ou caráter intuito personae significa que é aquela pessoa física escolhida quem deve executar o serviço contratado porque o contrato de trabalho é intransmissível. Assim, o empregado não pode, quando bem entender, mandar o amigo, o vizinho, o pai ou o irmão no seu lugar para trabalhar (Vólia Bomfim Cassar). - O trabalho em si não é uma obrigação personalíssima, pois pode ser executado por outros, o que é personalíssimo é o contrato de emprego ou a obrigação que dele decorre (Vólia Bomfim Cassar). 3. Onerosidade - Todo contrato de trabalho é oneroso, isto é, para todo trabalho haverá sempre uma retribuição; - O simples fato de não existir contraprestação durante o tempo em que houve trabalho não autoriza a conclusão de que estará descaracterizada a ocorrência de relação de emprego; - A onerosidade manifesta-se no plano objetivo, através de pagamentos materiais feitos ao prestador de serviço e no plano subjetivo, a onerosidade manifesta-se pela intenção contraprestativa, intenção econômica conferida pelas partes, em especial pelo prestador de serviços, ao fato da prestação de trabalho. - A contraprestação do empregador é o pagamento de remuneração, que é o salário, revelando o caráter oneroso desse tipo de relação jurídica; OBS: Colportor: de forma similar a jurisprudência não admite, ainda, a existência do vínculo de emprego ao colportor, cuja atividade consiste em distribuir livros religiosos e outras publicações editadas pela Igreja Adventista do 7° dia ou de entidade similar, mesmo que onerosa, sob o argumento de que o engajamento possui finalidade estritamente religiosa1. 1 Assim, mesmo quando em exercício de funções administrativas ligadas à igreja, a doutrina e a jurisprudência não têm concedido o vínculo de emprego, sob a alegação de que as causas conexas estão ligadas à atividade religiosa, logo, este 3 IMPORTANTE: Lei 14.647/23, que inseriu os parágrafos 2º e 3º ao art. 442 da CLT. Art. 442, § 2º Não existe vínculo empregatício entre entidades religiosas de qualquer denominação ou natureza ou instituições de ensino vocacional e ministros de confissão religiosa, membros de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa, ou quaisquer outros que a eles se equiparem, ainda que se dediquem parcial ou integralmente a atividades ligadas à administração da entidade ou instituição a que estejam vinculados ou estejam em formação ou treinamento. § 3º O disposto no § 2º não se aplica em caso de desvirtuamento da finalidade religiosa e voluntária. 4. Não Eventualidade ou Habitualidade - A eventualidade baseia-se numa ideia de imprevisibilidade de repetição; - diz respeito à atividade desenvolvida pela empresa e não à quantidade de tempo em que o empregado fica à disposição do empregador; - A necessidade daquele tipo de serviço pode ser permanente (de forma contínua ou intermitente) ou acidental, fortuita, rara. Assim, o vocábulo não eventual caracteriza-se quando o tipo de trabalho desenvolvido pelo obreiro, em relação ao seu tomador, é de necessidade permanente para o empreendimento. - O trabalhador não eventual é aquele que trabalha de forma repetida, nas atividades permanentes do tomador, e a este fixado juridicamente. OBS: Muitos doutrinadores e bancas de provas costumam utilizar o termo “habitualidade” como sinônimo de “não-eventualidade”. 5. Subordinação - Trabalho por conta alheia; religioso deve cumprir os votos que lhe foram impostos pela ordem religiosa, os quais foram aceitos em razão da grande fé existente nessas pessoas. Mais uma vez os argumentos utilizados pela doutrina são religiosos e não jurídicos. Há, contudo, opiniões minoritárias no sentido de que o vínculo pode se formar quando exercerem o magistério religioso na própria congregação. 4 - O empregador detém o Poder Diretivo, emitindo ordens genéricas ou específicas, dirigindo a prestação dos serviços do empregado, que, por conta disso, perde parte de sua liberdade de conduzir a sua atividade; - É evidenciada na medida em que o tomador dos serviços (empregador) define o tempo e o modo de execução daquilo que foi contratado; - Percebe-se, outrossim, que a subordinação do tempo e do modo de execução dos serviços contratados coloca o tomador (normalmente) na condição de pós-pagador. Com isso se pretende dizer que os contratos caracterizados pela subordinação, dentre os quais se destaca o de emprego, são ordinariamente pós-pagos; - Pós-retributividade; - Portanto, a subordinação, no plano jurídico (não é técnica – origem na frança - ou econômica – de origem alemã), é uma situação que limita a ampla autonomia de vontade do prestador de serviços; - De um lado, o empregador exerce o poder diretivo, do qual decorre o poder de direcionar objetivamente a forma pela qual a energia de trabalho do obreiro será disponibilizada. Por sua vez, cabe ao empregado se submeter a tais ordens, donde nasce a subordinação jurídica. A contraposição à subordinaçãoé a autonomia. Quem é subordinado não trabalha por conta própria, não é senhor do destino de sua energia de trabalho. - A subordinação nada mais é que o dever de obediência ou o estado de dependência na conduta profissional, a sujeição às regras, orientações e normas estabelecidas pelo empregador inerentes ao contrato, à função, desde que legais e não abusivas (Vólia Bomfim Cassar). - A submissão a controle de horário (controle de ponto), o recebimento de ordens pelo empregado e a direção do empregador quanto ao modo de produção configuram indícios relevantes para a caracterização da subordinação. 5.1 Lei 12.551/12 - Alteração do art. 6º da CLT; 5.2 Subordinação direta e subordinação indireta - Nas situações de terceirização, a empresa prestadora coloca trabalhadores à disposição da empresa-cliente outorgando a esta apenas parte do seu poder diretivo; - Quando isso acontece, a empresa prestadora fraciona a subordinação jurídica que lhe é inerente e concede à tomadora o poder de dar ordens de comando e de exigir que a tarefa seja feita a contento 5 (subordinação indireta), preservando consigo o intransferível poder de apenar o trabalhador diante do descumprimento das ordens de comendo diretivo (subordinação direta); - Súmula 331, III. 6. Não assunção dos riscos da atividade patronal – Alteridade - O empregado não assume os riscos da atividade desenvolvida pelo empregador, estando alheio a qualquer dificuldade financeira ou econômica deste ou do seu empreendimento; - CLT, art. 2º; OBS: A alteridade é fundamental na caracterização da relação de emprego. Se não houver alteridade, haverá autonomia, e, logo, mera relação de trabalho. Não obstante este fato, também é comum na doutrina que não seja mencionado tal requisito, principalmente pelo fato de que o mesmo se encontra implícito no art. 2° da CLT, que compõe o conceito de empregador, e não no art. 3°, o qual conceitua empregado. 7. Exclusividade? - Por fim, esclareça-se que a exclusividade não é requisito para caracterização da relação de emprego, embora possa surgir a partir do acordo de vontades firmado entre as partes. O exemplo típico de empregado cujo contrato de trabalho prevê exclusividade é o daquele que tem conhecimento de segredos industriais e que, naturalmente, não poderia trabalhar para algum concorrente. Da mesma forma, artistas de televisão normalmente assinam contratos com cláusula de exclusividade. 8. Cumulação necessária de todos os elementos - Só há relação empregatícia se houver a existência simultânea de todos os elementos caracterizadores da relação de emprego acima expostos;
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