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EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 1 A IDENTIFICAÇÃO DAS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS E OS MARCOS LEGAIS O termo necessidades educacionais especiais, foi cunhado em um documento mundialmente famoso, conhecido como Relatório Warnock, publicado em 1978. Esse relatório apresentava os resultados das investigações acerca da Educação Especial na Inglaterra, na qual se usava o termo necessidades especiais para evitar termos pejorativos, referindo-se a pessoas conforme a classificação usada para as categorias de deficiência (CARVALHO, 2001). No entanto, o conceito de necessidades educacionais especiais tornou-se evidente a partir das considerações, advindas pela Conferência Mundial sobre Educação Especial, realizada em Salamanca, na Espanha, em 1994. Assim, os países participantes do evento, entre eles o Brasil, assinaram a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994). Desta forma, orienta que as escolas devem atender a todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras e enfatiza que as necessidades educacionais especiais não se limitam às pessoas com deficiência, tendo em vista que nem todas as pessoas com necessidades educativas especiais têm deficiência, e o fato de uma pessoa ser deficiente, não implica um quadro de dificuldade de aprendizagem. Conforme foi mencionado acima, as necessidades educacionais especiais incluem todos os alunos que precisaram de atenção especial em algum momento de sua carreira estudantil, não apenas alunos com deficiências. Assim, conforme a Declaração de Salamanca, o termo necessidades especial foi apresentado legalmente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1996, em seu Capítulo V, Art. 58, referente ao alunado da Educação Especial. No entanto, as diretrizes nacionais de educação especial Educação Básica, instituída pela Resolução n.º 02 de 11/09/2001/CNE/CEB (BRASIL, 2001) considerou os alunos com necessidades especiais todos os que durante o processo educacional apresentam: I - Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – Dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. A resolução explica que a educação especial, é destinada a esses alunos e visa garantir a instrução e potencializar pessoas em todas as fases e modalidades da educação básica. Conforme a resolução, o serviço de apoio pedagógico especializado deve ser ofertado a estes alunos. Este serviço pode ser prestado em salas de classe comum, por professores de educação especial, intérpretes e outros profissionais (como fonoaudiólogos e psicólogos) e/ou em salas de recursos, onde os professores de educação especial, são responsáveis pelo uso de equipamentos e materiais específicos para complementar ou suplementar o currículo da classe comum, utilizando equipamentos e materiais específicos. Em 2008, o Ministério da Educação (MEC) estabeleceu a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) e teve como objetivo desenvolver políticas promotoras de uma educação de qualidade para todos os alunos. Esta política visa facilitar o atendimento às necessidades educacionais especiais de públicos específicos: alunos com deficiência, alunos com transtornos do espectro autista e altas habilidades, onde a educação especial é designada como suporte necessário para a inclusão de alunos em escolas regulares. Nesse sentido, o atendimento educacional especializado (AEE) destaca-se como uma das principais diretrizes para a formação complementar e/ou suplementar a formação do aluno incluído, mas não substitui a escolarização, pois, sua função é identificar, preparar e organizar os recursos necessários para afastar possíveis obstáculos à participação dos alunos obstáculos ao processo educativo. Para implementar os procedimentos que permitem a função do atendimento educacional especializado foram instituídas, a Resolução n.04 CNE/CEB, as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial (BRASIL, 2009). Em seu artigo 5º destaca que a AEE deve ser prestada ‘prioritariamente’ na própria sala de recursos Multifuncionais (SRM) conforme a própria escola ou em outra escola de ensino regular, ou centros de atendimento educacional especializado. Portanto, a SRM se constitui como um espaço dedicado ao atendimento educacional. Conforme referido até ao momento, o público-alvo a ser atendido no AEE está bem definido, bem como, a definição da Sala de Recursos Multifuncional como espaço para o atendimento desses alunos. Esta constatação nos leva a questionar sobre os alunos com necessidades educativas especiais, que não se enquadram no público estabelecido nos marcos legais, como alunos com Dislexia e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Além disto, o fato do atendimento educacional especializado estar limitado somente ao espaço da Sala de Recursos Multifuncionais pode resultar a segregação dos alunos encaminhados a este serviço. Para Witeze e Silva (2016) a crítica à AEE limita-se aos trabalhos desenvolvidos na SRM. Para os autores, essa restrição parece, na verdade, envolver uma segregação disfarçada e/ou mais sutil dos alunos com necessidades educacionais especiais, uma vez que classes e escolas especiais são substituídas por salas de recursos, que mantêm a exclusão dentro das escolas regulares. Outro destaque recaiu sobre as orientações apresentadas pela Resolução n.04 CNE/CEB (BRASIL, 2009) que se relaciona com às competências e atribuições do professor da SRM. O artigo 9º institui que: [...] a elaboração e a execução do plano de AEE são de competência dos professores que atuam na sala de recursos multifuncionais ou centros de AEE, em articulação com os demais professores do ensino regular, com a participação das famílias e em interface com os demais serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros necessários ao atendimento (BRASIL, 2009). O Artigo 13º, acrescenta outra lista de atribuições do professor do AEE: I – Identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da Educação Especial; II – Elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado,avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais; IV – Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola; V – Estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade; VI – Orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva para ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e participação; VIII – estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares (BRASIL, 2009). As competências e benefícios listados nos artigos 9º e 13º da resolução indicam que um escopo significativo para atuação para o professor da SRM. De modo geral, seu trabalho vai além de identificar e atender às necessidades de alunos. Assim, ele é responsável pela construção de parcerias com as áreas interdepartamentais, assessorando e orientando os professores da sala de aula regular e orientando as famílias. Também pressupõe que ele deve dominar a tecnologia assistiva, não apenas para usá-la, mas para ensiná-la. Sem mencionar que tem que trabalhar com alunos com deficiências, transtornos do espectro autista – TEA e alunos com altas habilidades (BRASIL, 2009). Dessa forma, você pode compreender sobre os marcos legais da identificação das necessidades educacionais especiais. Assim, no próximo tópico vamos apresentar as diretrizes da política nacional relacionada a educação inclusiva. 1.1 Diretrizes da política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva A educação especial é um modelo de ensino que permeia todos os níveis, etapas e modalidades, presta atendimento educacional especializado, disponibiliza serviços e recursos específicos para esse atendimento e orienta os alunos e seus professores para o uso desse atendimento nas classes comuns do ensino regular (CHAVES, 2013). O atendimento educacional especializado, se desenvolve por identificação, elaboração e organização de recursos pedagógicos e de acessibilidade para remover barreiras à participação total do aluno, considerando as necessidades específicas do aluno. As atividades realizadas no atendimento educacional especializado diferem das classes comuns porque não substituem o ensino. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a educação do aluno para independência e autodeterminação na escola e fora dela. O atendimento educacional especializado fornece programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização, auxílios tecnológicos e tecnologia assistiva, entre outros serviços. Este serviço deve ser integrado com as questões pedagógicas do ensino comum. A inclusão escolar começa na educação infantil, durante a qual são lançadas as bases necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa fase, o brincar, o acesso a diferentes formas de comunicação, a estimulação do enriquecimento físico, emocional, cognitivo, psicomotor, social e a convivência com as diferenças facilitam o relacionamento, o respeito e a valorização da criança. Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional especializado se expressa por meio de serviços de intervenção precoce, destinados a otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em articulação com os serviços de saúde e assistência social (CHAVES, 2013). Em todas as etapas e modalidades da educação básica, a organização de atendimento educacional especializado para apoiar o desenvolvimento dos alunos constitui uma disposição obrigatória do sistema educacional, devendo esse serviço educacional ser realizado em escolas ou centros profissionalizantes em oposição às aulas comuns. Portanto, as ações de educação especial podem ampliar as oportunidades educacionais, a formação para a vida prática e a efetiva participação social na forma de educação de jovens e adultos e formação profissional. A articulação da educação especial com a educação dos povos indígenas, do campo e quilombola deve garantir a oferta de recursos educacionais especializados, serviços e atendimento em programas educativos baseados nas diferenças sociais e culturais desses grupos. No ensino superior, a transversalidade da educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Essas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para promover a acessibilidade arquitetônica, a comunicação, os sistemas de informação, o ensino e os materiais didáticos, que devem ser disponibilizados, pesquisados e divulgados no processo seletivo e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino e a aprendizagem (CHAVES, 2013). Para a inclusão de alunos surdos em escolas públicas, educação bilíngue - Língua Portuguesa / LIBRAS, promove o desenvolvimento do ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de sinais, como já mencionado anteriormente, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita para alunos surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino dá, libras para os demais alunos da escola. O atendimento educacional especializado, fornece serviços educacionais profissionais, tanto na modalidade oral e escrita, quanto na língua de sinais. Devido às diferenças linguísticas, os alunos surdos devem dividir as aulas com outros colegas surdos em escolas regulares, tanto quanto possível. O atendimento educacional especializado é desenvolvido por meio de conhecimentos específicos no ensino de língua brasileira de sinais, da Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, sistema Braille, soroban, orientação e movimento, atividades de vida autônoma, comunicação alternativa, desenvolvimento de processos mentais superiores, planejamento de enriquecimento curricular, adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, uso de recursos ópticos e não ópticos, tecnologia assistiva entre outros (CHAVES, 2013). Cabe aos sistemas de ensino, sistematizar a educação especial no ponto de vista da educação inclusiva, possibilitar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras e guia intérprete, assim como, disponibilizar um monitor ou cuidador aos alunos com determinada necessidade de apoio nas atividades que fazem parte do dia a dia, tais como, higiene, alimentação, locomoção, entre outras que exijam auxílio constante no cotidiano escolar. Neste contexto e, de acordo com esta definição, entende-se que o AEE deve ser ofertado aos alunos de forma complementar e/ou suplementar ao ensino regular, tendo em conta as particularidades e necessidades de cada indivíduo, e não substituindo o ensino regular. Assim, inclui uma atuação diferenciada, não reproduzindo o mesmo conteúdo nem tampouco a metodologia adotada pela escola comum (BATISTA, 2013). O AEE é baseado nas necessidades e idiossincrasias do aluno. Ou seja, o AEE deve ocorrer em turno contrário ao horário escolar regular do aluno, em favor do trabalho do outro. Assim, o AEE pode ser caracterizado por uma gama de atividades, recursos instrucionais e de acessibilidade, e adaptações curriculares grandes e pequenas. Essas ações podem ser realizadas em pequenos grupos ou em turnos individuais, ao contrário da escolarização. Em relação aos objetivos do AEE o Decreto n° 7.611 (BRASIL, 2011) dispõe: Art. 3º Sãoobjetivos do atendimento educacional especializado: I – Prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializados conforme as necessidades individuais dos estudantes; II – Garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III – fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e IV – assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino (BRASIL, 2011, p. 2). É importante destacar que o AEE especializado deve incorporar o Projeto Político Pedagógico (PPP) institucional da escola e envolver as famílias para garantir o engajamento e o desempenho dos alunos. O referido atendimento necessita ocorrer atrelado às demais políticas públicas. Contudo, para atuar na área de educação especial, os professores devem passar por uma formação inicial e continuada baseada tanto nos conhecimentos gerais da docência quanto nos conhecimentos específicos da área. Esta formação possibilita o ingresso no atendimento educacional especializado e deve aprofundar o ensino regular em salas de aulas gerais, salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, centros de acessibilidade de instituições de ensino superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. Esta formação deverá incluir conhecimentos sobre gestão de sistemas de educação inclusiva com vista ao desenvolvimento de projetos em cooperação com outras áreas que visem a construção de acessibilidades, cuidados de saúde, promoção da assistência social, trabalho e ação judicial (CHAVES, 2013). Até aqui, você tomou conhecimento das diretrizes das políticas nacionais do AEE e sobre a inserção da educação inclusiva, pois, através dela deve-se incluir conhecimentos sobre crianças, adolescentes, jovens e adultos dentro das suas especificidades, bem como, as suas necessidades conforme alunos que precisam de um apoio especializado. Portanto, no próximo tópico vamos abordar sobre o AEE em relação a suas atividades na educação especial, dentro da escolar no ensino regular. 1.2 O atendimento educacional especializado: operacionalização da educação especial na escola regular A Política Nacional de Educação Especial, na visão da educação inclusiva, trouxe o atendimento educacional especializado - AEE como uma de suas inovações, possibilitando que alunos do público-alvo da educação especial recebam atendimento de acordo com suas particularidades em espaços comuns de aprendizagem e participem de atividades educativas regulares, garantindo que todos tenham acesso à educação de direito. Os alunos são conceituados, como o público-alvo da educação especial do ponto de vista da educação inclusiva, portanto, os alunos que devem matricular-se nas classes de ensino regular e AEE, são alunos com deficiências, assim como, os alunos com transtornos do espectro autista – TEA e com altas habilidades/superdotação. Assim, a matrícula no ensino regular permite efetivamente que os alunos obtenham o AEE, mas a obrigatoriedade do AEE para alunos ou para os seus responsáveis é facultativa. Portanto, a participação ou não do aluno no AEE não influencia a restrição, ou impedimento da sua matrícula no ensino comum (FÁVERO et al., 2007). De acordo com SEESP/MEC (1998), o papel da AEE é identificar, desenvolver e organizar os recursos pedagógicos e o acesso à educação para eliminar as barreiras à plena participação dos alunos, tendo em conta as suas necessidades específicas. Aulas de caráter complementar e/ou suplementar as intervenções pedagógicas, ou seja, não substitui a escolarização, mas agrega outras atividades para apoiar o desenvolvimento do aluno visando sua independência dentro e fora da escola. Em outras palavras, o AEE atua como suporte e diálogo com a classe regular por meio da implementação de práticas educativas específicas que ajudem a garantir o acesso e as condições de aprendizagem de alunos com necessidades especiais nas escolas comuns. Quanto à oferta preferencial do AEE nas escolas comuns, Fávero et al. (2007, p.26) afirma que o atendimento educacional especializado deve ser fornecido em todos os níveis de ensino, de preferência nas escolas comuns da rede regular. Este é o ambiente escolar mais adequado para garantir o relacionamento dos alunos com os pares da mesma idade e facilitar os tipos de interações que podem melhorar o seu desenvolvimento cognitivo, motor e emocional. O AEE é melhor realizado em escolas regulares, ou seja, nas escolas comuns, na sala de recursos multifuncionais, no turno contrário ao da classe comum. Caso o AEE não esteja disponível na própria escola, este deve ser organizado em um centro especializado público ou filantrópico prestador desse serviço educacional, visto que tais serviços são complementares e não substituem a escolarização oferecida na rede regular de ensino. No entanto, a partir do texto constitucional de 1988, vários são os motivos pelos quais esse atendimento ocorre nas escolas comuns, pela LDBEN (Lei n.º 9394/96) e, principalmente, para a singularidade de cada aluno seja reconhecida e atendida neste espaço de formação comum a todos (FÁVERO et al., 2007; ROPOLI et al., 2010). Como primeiro passo, as escolas devem garantir a oferta do AEE, por meio, da institucionalização e conforme o projeto político-pedagógico, deve ser desenvolvido com a participação de todos os professores e de toda a comunidade escolar, considerando: organização de salas de recursos transversais, perfil e função do corpo docente atuante no AEE, desenvolver planos de bem-estar estudantil, comunicação entre a equipe da AEE e os responsáveis das instituições, entre outras coisas. A sala de recurso multifuncionais, é uma sala destinada a realizar as intervenções do AEE para o público-alvo de alunos de educação especial e não uma sala privada destinada a substituir a educação. Salas de recursos multifuncionais são ambientes da escola onde se desenvolve as atividades do atendimento educacional especializado para todos os alunos com necessidades educativas especiais através do desenvolvimento de estratégias de aprendizagem que se centram em novas atividades educativas que facilitam a construção do conhecimento das crianças e apoiam o desenvolvimento de programas de aprendizagem e participação na vida escolar (ALVES et al., 2006). A sala de recursos multifuncionais é composta por móveis, materiais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos, que atendem alunos direcionados à educação especial, em oposição à escolarização. Nestas salas, os alunos podem frequentar individualmente ou em pequenos grupos, tendo em conta o tipo de necessidades educativas dos alunos. A frequência da semana, a duração do atendimento, o tipo de recurso a ser utilizado, tudo será definido pelo professor segundo a individualidade dos alunos para mantê-los engajados e aprendendo nas atividades (ROPOLI et al., 2010). A fim de fornecer os serviços educacionais oferecidos pela educação especial para atender às necessidades educacionais especiais dos alunos, os professores devem seguir uma formação especializada, obtida por meio de cursos de graduação, pós-graduação ou cursos de formação continuada, se especializando com aprofundamento em áreas específicas da educação especial (ROPOLI et al., 2010). A Resolução n. º04/2009, em seu artigo 13º, essa resolução permite a articulação entre o professor do AEE e os professores do ensino regular, bem como, o diálogo com as famílias, interlocução com o serviço de saúde, assistência social, dentre outros. Desta forma, este mesmo documento prevê que o professor tem como atribuições: I – Identificar,elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da Educação Especial; II – Elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais; IV – Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola; V – Estabelecer parcerias com as áreas Inter setoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade; VI – Orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva para ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e participação; VIII – estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. Entende-se que a formação dos professores para atuar no AEE considera o conhecimento de sua função e as necessidades específicas dos alunos envolvidos em seu atendimento. Nesse caso, o espaço se torna primeiro um local de formação quando os professores passam a utilizá-lo como um ambiente propício à pesquisa, sendo que a finalidade da pesquisa é sempre aprofundar e compreender os problemas que ali surgem. Pois, conforme Garcia (2001, p.64), "fazer as coisas com ousadia é o caminho para abrir o reino do possível. É esse tipo de ação - com seus erros e acertos - que nos permite construir algo consistente". No que lhe concerne, o papel da educação especial constitui-se com suporte para o trabalho realizado na sala de aula regular e, em diversos momentos, beneficia a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos especiais. Vale ressaltar que o trabalho realizado no AEE não é organizado segundo a sequência e a lógica pré- definida do conteúdo a ser absorvido, ou seja, a produção do conhecimento está desvinculada do planejamento sistemático da escola. Portanto, o processo de construção do conhecimento no AEE não visa avançar o conhecimento acadêmico, mas sim estabelecer novos padrões relacionados ao desempenho do aluno no enfrentamento dos desafios da construção do conhecimento Ou seja, os métodos de ensino no AEE diferem dos oferecidos nas escolas comuns e não devem ser confundidos com uma mera aula de reforço (repetição da prática educativa da sala de aula), nem com atendimentos clínicos ou espaços sociais. Nesse caso, as dificuldades de aprendizagem não são relacionadas às deficiências ou condutas típicas e não são pertinentes ao AEE, mas ao cotidiano da sala de aula, o que significa que as respostas pedagógicas da professora da classe comum foram suficientes para atender às solicitações específicas feitas pelos alunos em suas trajetórias de aprendizagem, oferecendo suporte eficaz e eficiente (GARCIA, 2001). Percebe-se que há diferenças no trabalho dos professores comuns e dos professores da educação especial. Um professor responsável por uma sala comum tem que sistematizar o ensino dos conteúdos curriculares e o professor do AEE tem que se manter em uma condição que complemente o ensino regular, por isso sua prática é baseada na construção de "conhecimentos e recursos específicos que removam barreiras que impedem ou limitam sua participação com autonomia e independência nas turmas comuns do ensino regular” (ROPOLI et al., 2010, 10 p.19). Neste contexto, o AEE precisa ser um trabalho dinâmico e interativo entre o professor da sala de aula regular e o professor da sala de recursos multifuncionais, local onde acontece o AEE. Dessa maneira, a interface entre o AEE e as escolas regulares será baseada nas necessidades de cada caso, isso é crucial para o esforço de ambos os professores em entender as construções de conhecimento dos alunos para que eles possam atuar como mediadores do conhecimento. Vale ressaltar que esse esforço conjunto não se caracteriza por uma forma de instrução instrucional dos professores do AEE aos professores generalistas ou vice-versa, mas sim pela busca de soluções que beneficiem os alunos de todas as formas possíveis (ROPOLI et al., 2010). Como todos sabemos, garantir que todos os alunos com deficiência ingressem nas escolas comuns, significa uma mudança no rumo da educação especial, ou seja, a premissa é eliminar as barreiras que as escolas comuns e as escolas de educação especial, estabelecem como as escolas dos diferentes, uma para alunos “normais” e a outra para alunos “especiais”. Neste contexto, a proposta é uma organização pedagógica das escolas gerais e das práticas pedagógicas voltadas para oportunizar todas as oportunidades possíveis para que alunos com a determinada deficiência se tornem agentes capazes de gerar conhecimento/significado (ROPOLI et al., 2010, p.16-17). Por esta razão, é necessário formular uma gestão escolar conjunta entre as escolas em conjunto com a educação especial, encurtar a distância, atender e compartilhar a responsabilidade de ensinar e aprender, ou seja, as responsabilidades de ensino e aprendizagem mútua. No entanto, “a integração entre ambas não deve descaracterizar as respetivas características, abrindo espaço para a intersecção de capacidades protegidas pelos condicionalismos operacionais que as designam” (ROPOLI et al., 2010, p.18-19). Porém, para a aprendizagem e desenvolvimento do aluno com deficiência não basta a escola oferecer o AEE, é preciso também mudar a prática pedagógica na perspectiva dos alunos, professores, currículo e gestão para promover a construção escolar. Um novo modelo de educação: uma pedagogia dialogada e interativa que considera as habilidades e possibilidades de aprendizagem de todos os alunos. Isso se configura como um dos grandes desafios da escola contemporânea, o de (re) significar e (re) pensar a diversidade que se encontra em seu cenário (ROPOLI et al., 2010). Até aqui! Você compreendeu que o AEE é um atendimento proporcionado por um professor de educação especial, que consegue identificar as barreiras existentes no ambiente escolar comum que impedem ou dificultam a convivência, o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes com deficiência ou algum tipo de transtorno. Assim, o profissional pretende identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da educação especial. 2 COMPREENDENDO AS DEFICIÊNCIAS Quando dizemos que uma pessoa tem uma deficiência, isso quer dizer que ela tem algumas limitações referente a uma restrição física, mental ou sensorial. Essas limitações podem ser de caráter permanente ou transitória, que podem limitar a capacidade de realizar uma ou mais atividade básica da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social (BRASIL, 2001). Existem muitas crianças deficientes no Brasil. Por falta de informações sobre essas questões, essas crianças acabam sofrendo algum tipo de preconceito e, infelizmente, isso colabora para que essas crianças não estejam na sala de aula (BRASIL, 2001). Segundo dados do IBGE (2010, p.2): Quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declarou possuir pelo menos uma das deficiências investigadas (mental, motora, visual e auditiva), a maioria, mulheres. Em 2010, o Censo registrou, ainda, que as desigualdades permanecem em relação aos deficientes, com taxas de escolarização menores que a população sem nenhuma das deficiências investigadas. O mesmo ocorreu em relação à ocupaçãoe ao rendimento. Todos esses números referem-se à soma dos três graus de severidade das deficiências investigados (alguma dificuldade, grande dificuldade, não consegue de modo algum). É importante ressaltar que as deficiências não são doenças, portanto, a visão de que uma pessoa com deficiência é doente precisa ser desconstruída. É lamentável que, para algumas pessoas, a repulsa seja tão intensa que elas ajam de forma discriminatória, como se a pessoa com deficiência fosse portador de uma doença infecciosa. O modelo médico de deficiência, em contraste com o sentido de inclusão, faz com que as pessoas confundam deficiência com doença. Algumas doenças realmente podem causar incapacidades relacionadas à deficiência, mas estas são resultados das doenças e não a doença em si (BIANCHETTI e FREIRE, 2004). É importante lembrar que, por décadas, as pessoas com deficiência, eram vistas como pessoas anormais, inválidas, incompletas, imperfeitas, retardadas, dementes, selvagens e excepcionais. Ao longo dos anos, passaram a ser chamadas como pessoas deficientes, pessoas portadoras de deficiência, portador de necessidades especiais e pessoas especiais. E hoje em dia, com a atualização dos temos, essas pessoas são denominadas de pessoas com deficiência, ou seja, o termo antigo PPD- pessoa portadora de deficiência é um grande erro, pois, passa uma ideia de que a deficiência, seja algo que o indivíduo porta e sabemos que não se porta uma deficiência, não, é algo que ele possa simplesmente prescindir, ou deixar de utilizar, sendo assim, está se torna uma forma equivocada de denominação, passando então ser chamada de pessoa com deficiência (BIANCHETTI e FREIRE, 2004). Assim, conforme o estatuto, pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (BIANCHETTI e FREIRE, 2004). Veja a seguir quais são os tipos de deficiências existentes: ➢ Deficiência auditiva: A perda auditiva, também conhecida como surdez, é a redução ou perda da capacidade de audição, gerando um déficit relacionado ao sentido da audição. Isso pode levar o indivíduo a aprender a se comunicar de forma diferente e a depender mais do sentido da visão para suas aprendizagens. A deficiência auditiva é classificada de acordo com o nível de perda da sensibilidade auditiva, que é avaliado em decibéis. Ela pode se apresentar em diferentes formas: leve, moderada, profunda e severa Os especialistas enfatizam a importância do reconhecimento e diagnóstico precoce da deficiência auditiva para uma intervenção imediata e eficaz. No entanto, ainda há muito a ser feito para que os procedimentos de detecção precoce da deficiência auditiva se tornem uma realidade. A deficiência auditiva pode ter várias causas, incluindo fatores genéticos, pré-natais, perinatais ou pós-natais. É importante ressaltar que a surdez pode ser identificada já nos primeiros anos de vida, principalmente nos três primeiros anos. Quando se trata de perda auditiva de origem congênita, destacam-se as doenças infecciosas como um dos principais motivos. Segundo Silva et al (2006), por exemplo, a rubéola é a infecção fetal mais conhecida por causar deficiência auditiva, mas a introdução de programas de vacinação nas últimas décadas reduziu significativamente a incidência dessa causa em países em desenvolvimento. No entanto, é importante lembrar que a rubéola e outras infecções fetais ainda são frequentes em alguns estados do Nordeste do Brasil e devem ser consideradas na avaliação das causas da deficiência auditiva congênita na infância. Além da rubéola, como indica os autores, a meningite bacteriana é um dos principais patógenos causadores da perda auditiva (sugeri essa transformação em citação indireta para dar maior continuidade ao texto) Quando se fala de uma deficiência é necessário também considerar as formas de tratamento e reconhecimento das pessoas com deficiência, em todos os ambientes que elas frequentam e precisam frequentar. É necessário, portanto, esclarecer quais as expressões incorretas que alguns interlocutores ainda usam quando falam de pessoas com deficiência auditiva, tais como surdo-mudo, surdinho, mudinho e deficiente auditivo (SILVA et al, 2006). Segundo Sassaki (2003), quando nos referimos a uma pessoa surda, esses termos não correspondem à realidade dessa pessoa, denotando, inclusive, formas de preconceito. Um diminutivo mudinho ou surdinho indica que o surdo não é considerado um ser humano completo. Segundo Quadros (2004), surdo é aquele que se identifica como surdo, ou seja, aquele sujeito que conhece o mundo por meio da experiência visual, com direito e possibilidade de se apropriar da Língua Brasileira de Sinais e do Português para promover seu desenvolvimento integral e garantir sua transição em diferentes contextos sociais e culturais. A identificação da pessoa surda localizada culturalmente na experiência visual significa seu lugar diferença em relação ao outro e todas as implicações que isso significa. A cultura surda é entendida como a identidade cultural de um grupo de surdos que se define como distinto de outros grupos. Portanto, os termos corretos a serem usados ao lidar com pessoas surdas são: comunidade surda ou com deficiência auditiva. Assim como os cegos gostam de ser chamados de cegos, os surdos se identificam com o fato de serem chamados de surdos. Evite o termo deficiente auditivo, porque em meados da década de 1990, o termo pessoas com deficiência foi usado e ainda é usado hoje (QUADROS, 2004). ➢ Deficiência visual: É a perda ou comprometimento da capacidade de enxergar sem possibilidade de reversão, ou seja, com aquisição permanente, congênita ou não congênita. Pode ser classificada entre as pessoas com deficiência visual de maneira clara a partir de dois grupos existentes, que são fundamentados na perda do campo visual como: pessoas com baixa visão ou visão subnormal e cegueira (CRUZ, 2008). É considerado baixa visão ou visão subnormal o indivíduo que apresenta uma alteração no que mencionamos como visão normal. Uma pessoa com baixa visão tem o sistema visual parcialmente danificado e a visão é reduzida e incorrigível mesmo após o tratamento com óculos e lentes de contato, mas é possível o uso do resíduo visual com auxílios ópticos. Já a cegueira, diferente da baixa visão, não tem uma visão útil, caracterizada pelo comprometimento completo ou grave da função visual da pessoa. É uma completa falta de percepção visual. As causas da deficiência visual se diferem e podem ser congênitas, geralmente adquiridas antes do nascimento, por exemplo, como é o caso da amaurose congênita de Leber, ou as denominadas malformações oculares, o glaucoma congênito, a catarata congênita, ou pode ser adquirida devido a trauma ocular, catarata, degeneração macular, glaucoma ou doenças como diabetes relacionada à hipertensão arterial. Todas essas doenças podem causar a cegueira (CRUZ, 2008). Pessoas sem deficiência muitas vezes se perguntam sobre a maneira correta de tratar pessoas cegas. É importante observar que as pessoas com deficiência visual não são retardadas mentais, surdas ou superdotadas. A sua mente é tão desenvolvida quanto o das outras pessoas. Eles podem e devem chamar-se cegos e não é preciso ter receio ao tratar sobre a cegueira (CRUZ, 2008). ➢ Deficiência intelectual: A deficiência caracteriza-se por um funcionamento intelectual significativamente abaixo da média e a presença de pelo menos duas áreas de competência além da restrição de comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, aptidões nas funções escolares, lazer e trabalho. Portanto, para verificar a deficiência intelectualde um indivíduo é preciso colocar restrições relevantes sobre a operação do intelecto, ou seja, existem dificuldades em entender ideias, formar relacionamentos sociais e obedecer a regras, do mesmo jeito que não consegue desenvolver as atividades cotidianas como o cuidado pessoal (SASSAKI, 2007). Se uma pessoa tem apenas uma deficiência intelectual ou déficit intelectual, não é suficiente para diagnosticar a deficiência intelectual, faz-se necessário detectar a presença da dificuldade nas outras áreas que afetam o seu desenvolvimento antes dos 18 anos. Dessa forma, a deficiência intelectual é caracterizada pela dificuldade em relação à aprendizagem e no desenvolvimento dessas pessoas. Geralmente, são crianças que demandam mais tempo para conseguir aprender as competências necessárias para cuidar de si, pois, apresentam uma baixa produção de conhecimento. Assim, é normal que tenham dificuldades, principalmente no início da escola. Neste ponto, a deficiência torna-se mais evidente. No entanto, essas pessoas também podem apresentar bom aprendizado com a ajuda de profissionais capacitados. (SASSAKI, 2007). ➢ Deficiência física/motora: Distúrbios somáticos/motores são alterações físicas ou limitações na coordenação motora, que podem ser congênitas ou adquiridas, resultando em prejuízo funcional e dificuldade de movimento. Conforme o Decreto 5.296, de 2 de dezembro de 2004, essa deficiência se manifesta da seguinte forma: Paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. (BRASIL, 2004, p. 02). Ao se referir a uma pessoa com uma dessas deficiências, o termo correto é pessoa com deficiência física. Até o final da década de 1970, termos como defeituoso, com mau funcionamento e vazio não eram usados com frequência, mas não são mais usados hoje (SASSAKI, 2007). Deve-se notar que existem diferenças nos conceitos de deficiência física e deficiência motora. A física é a amputação, ou seja, a retirada de um membro do corpo ou sua ausência desde o nascimento. Por outro lado, a motora ocorre quando há diminuição da função motora, dificultando o movimento. As limitações das pessoas com deficiência física ou motora podem ser alcançadas e superadas por meio da adaptação aos meios ambientes. É importante esclarecer que alunos com deficiência física não necessariamente possuem problemas mentais ou deficiência intelectual como muitos pensam. Este é um pensamento errado. Contudo, não há nada que impeça o aluno de realizar atividades educativas como parte do processo de aprendizagem. Os métodos de ensino precisam ser adaptados às necessidades dos alunos. ➢ Deficiências Múltiplas: Para os autores Oliveira e Rocha (2009), uma pessoa é considerada com deficiência múltipla quando ela tem mais de uma deficiência simultaneamente. Isso pode acontecer, por exemplo, com uma pessoa que tem paralisia cerebral e, além dos déficits físico-motores, desenvolve dificuldades na produção da linguagem. No entanto, a surdocegueira é classificada de forma diferente, pois se trata de uma única deficiência que envolve a perda simultânea da visão e audição, e não pode ser considerada apenas como a soma das deficiências visual e auditiva A Associação Gaúcha de Pais e Amigos de Surdocegos e Multideficientes (Agapasm) conforme Sassaki (2007) define a surdocegueira da seguinte forma: A surdocegueira é uma deficiência única que apresenta a perda da audição e da visão de maneira que a combinação dos defeitos não permita o uso dos sentidos de distância, cria necessidades especiais de comunicação, causa dificuldade extrema na consecução dos objetivos educacionais, profissionais, recreacionais e sociais para o acesso à informação e a compreensão do mundo que rodeia a pessoa”. E o próprio nome da instituição distingue os “surdocegos” dos “multideficientes (SASSAKI, 2007, P.04). Os professores precisam entender o assunto; e ter o conhecimento sobre deficiências múltiplas e surdocegueira, para poderem considerar a maneira correta de proceder, em relação ao trabalho a ser desenvolvido com essas pessoas. Isso é primordial, para que os professores entendam as limitações e habilidades das pessoas com múltiplas deficiências e desenvolvam métodos apropriados de ensino e comunicação. O planejamento deve ser feito caso a caso, dependendo do tipo e extensão do envolvimento (SASSAKI, 2007). Como você viu, as deficiências são um conjunto de uma repercussão imediata da doença sobre o corpo, impondo uma alteração estrutural ou funcional ao nível tecidual, ou orgânico. Assim, torna-se uma incapacidade de uma redução ou falta de capacidade de realizar uma atividade num padrão considerado normal, para o ser humano, em decorrência de uma deficiência. Contudo, você conseguiu compreender também sobre o termo correto a ser mencionado, quando se refere a uma pessoa com deficiência, portanto, usa-se PcD, pessoa com deficiência. Agora, que você pôde compreender sobre as deficiências, vamos abordar sobre as salas de recursos multifuncionais: conceituação e especificidades. 2.1 As salas de recursos multifuncionais: conceituação e especificidades As Salas de Recursos Multifuncionais (SRMs) foram implantadas para disponibilizar AEE através do programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, visa apoiar o sistema de ensino geral da sua instituição e disponibilizar AEE para promover a inclusão escolar nas classes comuns de ensino. Essas salas são espaços compostos por equipamentos de informática, assistência técnica, material didático e mobiliário adaptado para atender às necessidades educacionais especiais dos alunos (BRAGA, 2018). Para facilitar a implantação desse serviço, o MEC disponibiliza um manual de instruções: Programa de Implantação de Sala de Recursos Multifuncionais, contendo objetivos e ações, critérios de implantação, atendimento, matrícula e orientações escolares, composição da sala e orientações para acesso a materiais e recursos técnicos. As SRMs foram fornecidas para os estados e municípios, encarregando aos gestores responsabilidade de indicar as escolas a serem contempladas, conforme a necessidade, demanda com os critérios estabelecidos pelo programa. A entrega e a instalação dos equipamentos são monitoradas pelo MEC. Neste contexto, o MEC explica os conceitos, as definições, os objetivos e a quem se destina o trabalho realizado pelo atendimento educacional especializado nas salas de recursos multifuncionais, portanto, são espaços nas escolas onde são prestados serviços educativos, ou seja, o atendimento educacional para alunos com necessidades educacionais desenvolvendo estratégias de aprendizagem com foco em novas abordagens pedagógicas que facilitem a construção do conhecimento do aluno e apoiem sua participação no desenvolvimento curricular e na participação escolar (BRAGA, 2018). Os serviços oferecidos no AEE visam formar alunos com deficiência, permitindo-lhes participar das atividades diárias do centro, integrando-o no processo de ensino e aprendizagem de acordo com suas condições específicas, e alcançar um desenvolvimento cognitivo, social e acadêmico. As intervenções são desenvolvidas na interface com o trabalho desenvolvido na sala de aula comum, em contraposição às mudanças escolares, mas em diálogo entre os professores envolvidos. Os espaços físicos são projetados para atender a muitos requisitos diferentes, um espaço organizado com materiais e equipamentos de ensino e aprendizagem, bem como, os profissionais capacitados para atender as necessidades educacionais dos alunos deficientes. Contudo, esteespaço pode ser utilizado para satisfazer as mais diversas necessidades educativas e para desenvolver diferentes complementos ou suplementos curriculares. A disposição do espaço deve atender às necessidades educacionais do seu público alvo, ou seja, alunos com deficiência, transtorno, altas habilidades, favorecendo o acesso ao conhecimento. É importante ressaltar que a matrícula de alunos com deficiência no AEE é instruída à matrícula no ensino regular. Este serviço está disponível em centros de atendimento de educação profissional em redes públicas ou privadas sem fins lucrativos. Os centros devem estar em acordo com os aspectos disponibilizados pela Política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva (PNEE-PEI), como também, sobre as diretrizes operacionais da educação especial para o atendimento educacional especializado na educação básica. Os professores responsáveis pelo atendimento aos alunos nas salas, recursos multifuncionais, devem seguir as orientações estabelecidas em documentos expedidos pela Secretaria de educação especial (BRAGA, 2018). Os serviços no AEE devem ter em conta as circunstâncias únicas dos alunos com deficiência em termos de diferentes aos ritmos e estilos diversos de aprendizagem, bem como o desenvolvimento da independência e a promoção de processos inclusivos por recursos educativos, pedagógicos e de acessibilidade. É importante desenvolver um dinamismo de trabalho alinhado com as potencialidades desses indivíduos, facilitando o desenvolvimento de competências que potenciem a aprendizagem numa sala de aula inclusiva. O AEE pode ser feito em aulas individuais ou em pequenos grupos conforme as necessidades dos alunos. Atuar no AEE requer um caráter interativo e interdisciplinar. Portanto, é necessário fiscalizar o trabalho das classes regulares e também das salas de recursos e centros de atendimento, dos centros de acessibilidade das instituições de ensino superior e das classes hospitalares de prestação de serviços e recursos de educação especial. Todos os planos ou programas e ações do governo federal com respeito aos estados e municípios e Distrito Federal pressupõem um mecanismo cooperativo que atribui responsabilidades a cada rede de ensino quanto ao sistema de ensino no que se refere ao Programa Implantação salas de recursos multifuncionais. O MEC garante que sejam tomadas as seguintes ações dentro de sua área de responsabilidade como acesso aos recursos das salas; salas disponíveis e normas adotadas, fiscalização da entrega de materiais às escolas, sistema de orientação e ensino, cadastro de escolas com recursos multifuncionais, formação continuada dos professores do AEE, encaminhamento, assinatura e publicação dos contratos de doação, dualização dos recursos das salas implantadas pelo Programa e apoio à acessibilidade. Essas e outras ações são realizadas por meio de políticas públicas, leis e programas de apoio à diversidade nas escolas, (BRAGA, 2018). Contudo, de acordo essa temática da inclusão, pesquisas mostram a relevância das atividades que se traduzem no dia a dia escolar, em relação ao fazer pedagógico diário e nas possibilidades de viver experiências com a diversidade. Embora a legislação e as políticas públicas afirmem o direito dos alunos de frequentar escolas públicas regulares, sabemos que ainda existem muitas lutas para efetivar as condições por vários motivos, o governo não garante todos os recursos, as escolas ainda não apresentam experiência suficiente com a inclusão, os profissionais estão em processo de formação contínua e os desafios aparecem cotidianamente. O trabalho docente é realizado diariamente, tanto teoria quanto a prática se somam buscando acolher a diversidade e o AEE se insere no processo como espaços de referência para a educação especial nas escolas comuns. Portanto, acreditamos que a organização do AEE é relevante para o processo de inclusão educacional e é necessário utilizar múltiplos recursos: materiais, físicos, humanos e pedagógicos, instrumentos para que os alunos com deficiência, possam ter acesso ao currículo como uma forma garantida de aprender. Com base nas informações fornecidas no documento MEC/SECADI/2013, de 2005 a 2013, foram implantadas 4.000 salas em todo o país, totalizando 41.801 Salas de Recursos Multifuncionais ao nível nacional MEC/SECADI (MEC, 2013, p. 09) por meio da Portaria Ministerial n. º 13/2007, que integra o Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE e o Programa Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite, respeitando as seguintes características: ➢ Dar suporte a organização para a educação especial direcionado a perspectiva da educação inclusiva; ➢ Garantir o total acesso dos alunos que são públicos alvo da educação especial no ensino regular em igualdade criando condições com os demais estudantes; ➢ Possibilitar os recursos pedagógicos e prover a acessibilidade as escolas regulares da rede pública de ensino; ➢ Possibilitar o desenvolvimento profissional e a inclusão da comunidade escolar; Para atingir esses objetivos, o MEC (SECADI, 2013) empreende as seguintes ações: ➢ A obtenção dos recursos que constituem as salas; ➢ Informações sobre a disponibilidade referente as salas e das regras adotadas; ➢ Acompanhamento da entrega e instalação dos itens às escolas; ➢ Orientar sobre os sistemas de ensino para organização e oferta do AEE; ➢ Foi implementado o cadastramento escolar para salas de recursos multifuncionais implantadas; ➢ A progressão da formação continuada de professores para atuação no AEE; ➢ Publicação dos termos de doação; ➢ O desenvolvimento da formação continuada de professores para atuação no AEE; ➢ Suporte financeiro, através do PDDE escolas acessíveis, para adequação arquitetônica, considerando, a promoção de acessibilidade nas escolas, com salas implantadas. Segundo Braga, (2018), a implementação das salas de recursos multifuncionais é definida pelos gestores como o planejamento de ofertas de AEE e indicação de escolas a serem consideradas, conforme as necessidades da rede, atendendo aos seguintes critérios programáticos: ➢ A secretaria de educação a qual se vincula a escola deve ter elaborado o Plano de Ações Articuladas – PAR, registrando as demandas do sistema de ensino com base no diagnóstico da realidade educacional; ➢ A escola indicada deve ser da rede pública de ensino regular, conforme registro no Censo Escolar MEC/INEP (escola comum); ➢ A escola de ensino regular deve ter matrícula de aluno (s) público alvo da educação especial em classe comum, registrado (s) no Censo Escolar/INEP, para a implantação da sala Tipo I; ➢ A escola de ensino regular deve ter matrícula de aluno (s) cego (s) em classe comum, registrado (s) no Censo Escolar/INEP, para a implantação da sala de Tipo II; A escola deve ter disponibilidade de espaço físico para o funcionamento da sala e professor para atuação no AEE. ➢ O governo pretende, as ações direcionadas às escolas e às secretarias de educação, assim, sua função está em organizar a implantação de novas salas de recursos multifuncionais com atividades voltadas para escolas e secretarias de educação. Essas são ações articuladas entre o Censo, MEC e o INEP. No entanto, é importante lembrar da responsabilidade da administração escolar, não apenas o espaço ou o cadastramento da SRMs no MEC, bem como, a organização do orçamento escolar, recursos comuns como papelaria, jogos didáticos, adaptação de materiais pedagógicos, entre outros. ➢ Segundo documento do MEC (BRASIL, 2010), a formação das Salas de Recursos Multifuncionais, pretende atender às necessidades do sistema educacional. A tipologia da sala é caracterizada na fundamentação dos dados do Censo escolar, classificadas como sala do tipo I e sala do tipo II, que serão apresentadasno próximo tópico. 2.2 Composição das salas de recursos multifuncionais As Salas de Recursos Multifuncionais (SRMs) são denominadas por Tipo I e Tipo II, sendo compostas por equipamentos, tais como, móveis e materiais didáticos pedagógicos (Tipo I) e ferramentas e materiais didáticos pedagógicos destinados especificamente a alunos com cegueira e deficiência visual (Tipo II) (BRAGA, 2018). As Salas de Recursos Tipo I são constituídas pelos seguintes itens: Quadro 1- Composição de Salas de Recursos Multifuncionais Tipo I Fonte: SECADI, (2012). As salas de recursos relacionadas ao Tipo II consistem em todos os recursos da sala do Tipo I, adicionados os recursos de acessibilidade para alunos com deficiência visual, conforme abaixo: Quadro 2- Composição de Salas de Recursos Multifuncionais Tipo II Fonte: SECADI, (2012). Com base nas especificações de cada sala de aula, é necessário que as escolas públicas reservem espaço físico para funcionamento da SRM onde serão realizados os Atendimentos Educacionais Especializados - AEE. Possuem mobiliário, materiais didáticos e materiais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos para atender alunos direcionados à educação especial e alunos que necessitam de AEE no contra turno escolar. A organização e gestão deste espaço é da responsabilidade da direção escolar, devendo os professores que exercem este serviço educativo estarem formados para lecionarem ao nível básico e adquirirem conhecimentos específicos da educação especial em programas de aperfeiçoamento e especialização (BRAGA, 2018). Enfim, afirmamos que os serviços oferecidos pelo AEE à SRM não devem se limitar a como um guia, mas sim como uma proposta de planejamento do AEE para complementar ou completar as atividades escolares. O plano AEE serve como base para um plano de aula ou serviço e contém todos os objetivos e recursos destinados a fornecer atendimento individual aos alunos. Deve ser dominado de forma flexível segundo as necessidades específicas de cada disciplina, dando ênfase em suas potencialidades e condições de acesso a oportunidades de aprendizagem. Assim, você conseguiu identificar os aspectos e características da sala de recursos multifuncionais do tipo I e tipo II e as suas composições. 3 PARADIGMAS EDUCACIONAIS: DA SEGREGAÇÃO À INCLUSÃO Em educação e, particularmente, em educação especial, mudar o paradigma significa fazer uma educação especial para todos, num mundo onde os nossos olhos estão postos na dignidade e no respeito para com o outro e suas diferenças. É um processo gradativo, pautado na ética e na responsabilidade (FACIÓN; MATOS, 2009). Por muito tempo, o processo educacional foi prerrogativa de poucos, conforme Facion e Matos (2009). O processo de educar as pessoas com deficiências caracterizou-se pela segregação, sofrendo ajustes e direcionamentos. De acordo com os autores, o processo teve início na França, com a fundação de instituições especializadas para a educação de surdos e cegos. Os autores também apontam que Johann Heinrich Pestalozzi (1746 – 1827) foi considerado um pioneiro na democratização da educação para pessoas com necessidades especiais, pois quis mostrar que, apesar de suas diferentes características físicas, elas apresentavam condições de aprender. Conforme Minetto (2010), a luta popular pela inclusão e normalização das condições de oportunidade para as pessoas com deficiência foi reforçada no século XX, por um movimento denominado “Paradigma da Integração”, que dava suporte sobre o direito do aluno com deficiência. Em outras palavras, não cabia ao sistema educativo a responsabilidade de adaptarem-se às necessidades dos alunos. O ambiente e os métodos utilizados permanecem os mesmos. Sendo que os alunos com deficiência são os que deveriam, por meio, de seu desempenho superar todos os obstáculos. A inclusão tornou-se um direito garantido a uma educação de qualidade, na qual as instituições de ensino precisam se adaptar às necessidades individuais de cada aluno, por meio de mudanças na estrutura, currículos, equipe pedagógica e de apoio, além de professores e demais profissionais qualificados para receber e disponibilizar uma educação de qualidade a todos os alunos. A escola deve ser um lugar para todos, mostrando que, independentemente de suas diferenças, todos podem aprender juntos. A inclusão não é apenas um direito, mas também um princípio ético e moral que reconhece a diversidade humana e promove a igualdade de oportunidades e o respeito às diferenças Dessa forma, para que você compreenda melhor sobre esse paradigma da educação especial, no próximo tópico vamos abordar sobre a segregação, que ocorre quando a escolarização de estudantes com deficiência é oferecida em ambientes separados, como nas escolas especiais, isolados de alunos sem deficiência. Contudo, na segregação, a pessoa tem oportunidade de participar em locais e atividades exclusivos para a pessoa com deficiência, sem outras pessoas sem deficiência. ➢ Segregação Fonte: bit.ly/3nAO0to Com o surgimento da era moderna, houve um aumento do valor atribuído aos seres humanos. Segundo Ribeiro (2003), iniciaram-se pesquisas sobre as pessoas com deficiência, com destaque para investigações médicas sobre a relação entre deficiências e fatores hereditários, aspectos orgânicos e biotipologia, entre outros. Segundo Caiado (2003) em 1600, o primeiro atendimento escolar à pessoa deficiente foi instalado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Segundo os autores, há um longo caminho a percorrer entre saúde e educação, e continua o debate sobre as diferentes competências em cada campo. No século XVII, as pessoas com transtornos mentais foram completamente confinadas, pois, eram internadas em orfanatos, manicômios e outros tipos de instituições estatais (FACION; MATOS, 2009). Stainback (1999) argumenta que a segregação em espaços educacionais é prejudicial, pois aliena os alunos. Isso significa que alunos com deficiência acabam recebendo uma educação que raramente é útil na vida real, enquanto os alunos sem deficiência perdem a chance de experimentar a diversidade, cooperação e respeito pelas diferenças de forma reduzida. Essa situação é reflexo de uma trajetória escolar histórica que envolveu ajustes e direcionamentos para os pacientes com transtornos mentais. Esse processo teve início na França no final do século XVII, com a criação de instituições educacionais especializadas para o ensino de surdos e cegos. No entanto, em 1777, Pestalozzi democratizou o ensino, mostrando que todos, independentemente de suas características, são capazes de aprender (FACION; MATOS, 2009). No século XIX, as pessoas com deficiência começam a ser vistas como importantes agentes da sociedade. Naquele tempo, incentivava-se a criação de organizações que acolhiam e envolviam-se as pessoas com deficiência. “Conforme o final do século XIX até final de 1950, as instituições para deficientes continuaram progredindo e assim foram crescendo em números e tamanhos” (STAINBACK, 1999, p. 37). Segundo Stainback (1999, p. 37), isso acontecia pelo motivo de “escolas serem organizadas como asilos, com uma estrutura militar, o que condenava as pessoas com deficiência a viverem em locais em que eram mais controladas do que ensinadas”. No Brasil, em 1904 foi criada a Escola de Crianças Anormais – no Hospital Nacional de Alienado, no Rio de Janeiro. Franco da Rocha fundou os serviços para menores em 1921, resultando no primeiro núcleo de classe especial do estado. Em 1926 Tiago Wurth fundou a escola Pestalozzi em Canoas. O Instituto Pestalozzi de Canoas (RS) foi a primeira instituição não governamental do Brasil a oferecer educação especial na área de deficiência mental. Em 1935, foi fundada a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais- APAE- RJ, de modo que passou a promover e defender os direitos dos deficientes mentais (FACION; MATOS, 2009, p.144). Dessa forma, podemos dizer que a segregação, ocorre quando a escolarização de estudantes com deficiência é oferecida em ambientes separados, como nas escolas especiais, isolados de alunos sem deficiência. Refere se ao distanciamento forçado, ainda que no mesmo espaço físico escolar, destes indivíduos para com os outros colegas. Com as atualizações da educação especial, foi necessário gerar a integração, inclusão e normalização, na qual vamos abordar no próximo tópico para que você entenda melhor. ➢ Integração/ inclusão / normalização Tendemos a nos desviar do nosso propósito e praticar o desafio da mudança efetiva distorcendo ou reduzindo uma ideia. A indistinção entre processo de integração e inclusão escolar evidencia essa tendência educacional e reforça a validade dos paradigmas tradicionais de atendimento educacional. No entanto, muitos continuam a defendê-lo e mantendo-o ao defender a inclusão. As discussões sobre integração e inclusão, ainda geram inúmeros argumentos sendo estes infindáveis, provocando professores e profissionais de saúde que trabalham com pessoas deficiência, paramédicos, entre outros, que prestam tratamento clínico a crianças e jovens, com problemas escolares e de adaptação social que temem perder o espaço conquistado nas escolas e redes de ensino, e envolve grupos de pesquisa das universidades (DORÉ, WAGNER; BRUNET, 1996; MANTOAN, 2001). Anteriormente, os professores da educação formal sentiam-se incapazes de lidar com as diferenças em sala de aula, especialmente em ajudar os alunos com deficiência, pois seus colegas de profissão eram conhecidos por fornecer apenas esse tipo de atendimento e exageravam sua capacidade de fazê-lo aos olhos de todos (MITTLER, 2000). Havia também um movimento de pais de alunos sem deficiência que não aceitavam a inclusão, acreditando que, se as escolas tivessem que admitir esses novos alunos, a qualidade da educação seria reduzida e/ou pioraria ainda mais. Os termos 'integração' e 'inclusão', embora tenham significados semelhantes, são usados para expressar situações insercionais diferentes e se baseiam em abordagens teóricas e metodológicas distintas. É importante enfatizar esses termos, indicar a relação entre eles, mostrando como eles funcionam em contexto educacional. O processo de integração na escola ocorre de diferentes maneiras. O uso da palavra ‘integração’ refere-se mais precisamente à inserção de alunos com deficiência nas escolas comuns, mas também é usado para se referir a alunos que estão agrupados em escolas especiais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes especiais, recreativas, grupos de lazer ou residências para deficientes (MANTOAN, 2001). Em 1969, nasce nos países nórdicos um movimento de apoio à integração de crianças com deficiência que leva ao questionamento das práticas sociais e escolares de segregação. Seu conceito básico é o princípio de normalização, que não se limita à vida escolar, afeta o espectro do desempenho e da atividade humana e em todas as fases da vida das pessoas, sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação. Por meio da integração escolar, os alunos podem ingressar na escola através de uma variedade de opções educacionais, desde classes regulares à educação particular. O processo de integração ocorre dentro da estrutura educacional que disponibiliza ao aluno as oportunidades de transitarem no sistema escolar da classe regular ao ensino especial em todos os seus tipos de atendimento: escolas especiais, classes especiais em escolas comuns, ensino itinerante, salas de recursos, classes hospitalares, ensino domiciliar dentre outros. Refere-se a um ponto de vista sobre a inserção parcial, considerando que o sistema prevê serviços educacionais segregados. Sabe-se que cada pessoa tem a sua experiência própria em relação a esse assunto na qual os alunos que se transferem para as escolas comuns para as atividades da educação especial ofertadas muito raramente se deslocam para os menos segregados e, também raramente, retornam/ingressam às salas de aula do ensino regular. Nas ocorrências de integração escolar, nem todos os alunos com deficiência ingressam nas classes do ensino regular, pois os que podem passam por uma seleção prévia dos que estão aptos à inserção. Para esses casos, são indicados: individualização dos programas escolares, currículos adaptados, avaliações especiais, redução dos objetivos educacionais para compensar as dificuldades de aprender. Resumindo, a escola como um todo não mudou, mas os alunos devem mudar de acordo com suas necessidades (MANTOAN, 2001). A integração escolar pode ser entendida como o ‘especial na educação’, em outras palavras, a justaposição do ensino especial ao regular, leva a uma proeminência desta modalidade, pelo deslocamento de profissionais, recursos, métodos e técnicas da educação especial às escolas regulares. Em relação à inclusão, questiona não apenas a política e organização da educação especial e geral, mas o próprio conceito de integração. É incompatível com a integração, pois proporciona a integração escolar de forma completa, completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, são obrigados a frequentar as aulas do ensino regular (MANTOAN, 2001). O objetivo da integração é trazer um aluno ou grupo de alunos que foram previamente excluídos para dentro do sistema educacional regular, enquanto a inclusão visa garantir que todos os alunos, desde o início da vida escolar, tenham acesso a uma educação de qualidade sem qualquer tipo de exclusão. As escolas inclusivas propõem uma abordagem para a organização do sistema educacional, que considera as necessidades de todos os alunos e é estruturado de acordo com essas necessidades. Por todos esses motivos, a inclusão significa uma mudança de perspectiva de ensino, pois inclui não apenas os alunos com deficiência e dificuldades de aprendizagem, mas os demais alunos para que tenham sucesso no processo educacional geral. Os alunos com deficiência são uma grande preocupação para os professores inclusivos. No entanto, é sabido que a maioria dos alunos que reprovam não vem da educação especial, mas que possivelmente acabarão nele (MANTOAN, 2001). O radicalismo da inclusão vem do fato de requisitar uma mudança nos paradigmas educacionais. No ponto de vista inclusivo, inibe-se a subdivisão do sistema escolar em educação especial e educação regular. A escola lida com as diferenças sem discriminação, não funciona isoladamente de determinados alunos e não estabelece regras específicas de planejamento, aprendizagem e avaliação (currículo, atividades, avaliação da aprendizagem de alunos com deficiência e alunos com necessidades educacionais especiais) (MANTOAN, 2001). Assim, podemos imaginar o impacto da inclusão nos sistemas educacionais, assumindo a completa abolição dos serviços separados de educação especial, dos programas de reforço escolar, das salas de aceleração, das turmas especiais etc. A inclusão é uma provocação do ponto de vista da “educação especial”, e tem como objetivo melhorar a qualidade da educação nas escolas, atingindo todos os alunos que fracassam em suas salas de aula. A distinção entre inclusão e integração é um bom começo para iluminar o processo de transformação de uma escola para que ela possa acomodar todos os alunos, independentemente de seu nível educacional (MANTOAN, 2001). Segundo Minetto (2010), a abordagem da educação integrada coloca a exigência que os alunos com deficiência se adaptem ao sistema escolar existente, excluindo aqueles que não conseguiam acompanhar o ritmo dos demais alunos. A integração plena na sala de aula regular só era permitida para os alunos que conseguiamacompanhar o currículo e, muitas vezes, os que não conseguiam eram encaminhados de volta para escolas especializadas, frustrando a proposta de integração educacional e social. Esse processo limitava as oportunidades educacionais das pessoas com deficiência, aumentando o preconceito e a estigmatização. É importante ressaltar que a educação inclusiva tem como objetivo garantir que todas as crianças, independentemente de suas características e necessidades, tenham acesso a uma educação de qualidade e inclusiva, em que as escolas são adaptadas para atender a todas as necessidades dos alunos. Já de acordo com a normalização, cujo paradigma se instalou no Brasil na década de 1970, como princípio, havia muita discussão e divergência, mas também novos conhecimentos adquiridos, que influenciaram a organização do serviço e os métodos de ensino, contrariando as tendências segregacionistas da época. De acordo com Mikkelsen, citado por Ribeiro (2003), normalizar não significa fazer das situações excepcionais normais, mas oferecer-lhes as condições de vida de que gozam os outros. Eles têm que aceitar suas deficiências, pois é normal que todas as sociedades tenham pessoas com diferentes deficiências. Ao mesmo tempo, é necessário ensinar a pessoa com deficiência a viver com ela, a ter uma vida o mais normal possível, a beneficiar dos serviços prestados e das oportunidades que existem na sociedade em que vive. O princípio básico do conceito de normalização é que as pessoas com deficiência têm o mesmo direito de desfrutar das condições de vida mais comuns ou normais possíveis e de participar das atividades educacionais, sociais e de lazer das comunidades em que vivem. A sociedade tem a responsabilidade de fornecer serviços que atendam à deficiência de cada indivíduo, ajudando-os a viver com suas deficiências (RIBEIRO, 2003). Na educação, a normalização significa proporcionar aos alunos que possuem uma determinada deficiência, os mesmos recursos profissionais e institucionais que qualquer criança dita "normal", permitindo-lhes desenvolver-se como alunos, pessoas e cidadãos (NOGUEIRA 2009, p.88). Normalização não significa a não aceitação da deficiência, mas é um consentimento de uma característica normal em qualquer sociedade. Integração significa mudança, fazer com que a criança seja aceita e integrada no ambiente, essa mudança é difícil de acontecer, pois, tem que partir da criança deficiente. Portanto: Normalizar uma pessoa não significa torná-la normal. Significa dar a ela o direito de ser diferente e ter suas necessidades reconhecidas e atendidas pela sociedade. Na área da educação, normalizar é oferecer ao aluno com necessidades especiais recursos profissionais e institucionais adequados para que ele desenvolva seu potencial como estudante, pessoa cidadã (WERNECK, apud FACÍON; MATOS, 2009, p. 193). Portanto, quando mencionamos sobre normalizar um indivíduo, não significa que isso faz com que este se torne normal. Significa capacitá-lo, para ser um indivíduo diferente, que as suas necessidades sejam reconhecidas, sendo estas atendidas pela sociedade. Na educação, a regularização disponibiliza recursos profissionais e institucionais adequados para alunos com necessidades especiais, para que possam realizar seu potencial como estudantes e cidadãos (WERNECK, apud FACÍON; MATOS, 2009). Contudo, vamos finalizar apresentando um debate atual da educação especial, tendo em vista que é um campo da educação que precisa sempre de atualizações devido às práticas tradicionais e ao empreendimento de novas metodologia, para que consiga suprir as necessidades das pessoas com deficiência. 3.1 Educação especial: urgências e debates atuais De acordo com a modalidade especial, a educação envolve repensar práticas tradicionais e implementar novos métodos e procedimentos adequados para a inclusão de sujeitos considerados deficientes. Neste contexto, quando falamos de inclusão, sempre surge a ideia (estigmatizada ou não) de introduzir algo novo ou diferente em um processo em andamento, algo cada vez mais comum aos processos humanos. E, dessa forma, a inclusão de pessoas com deficiências, além de se configurar como um direito, é certamente o processo educacional que atinge o maior grau de humanização. É claro que as sociedades humanas integraram ideias e práticas de inclusão em seus ambientes ao longo do tempo, ainda que de forma específica e setorial. Os rendimentos desse processo (embora lento, mas) começou há muito tempo, e o resultado é que se pode assegurar a "universalização dos direitos civis, bem como, inúmeras conquistas por parte das minorias, em inaceitáveis discriminações baseadas em gênero, raça, religião, assim, como comportamento, conduta não convencionais, posse de patologias entre outros” (OMOTE, 2008.p.27). Desse modo, a prática de inclusão não uma questão tão atual, mas remonta, em muitos casos, bastante tempo. Assim, devemos considerar os fundamentos na educação inclusiva, o foco não é apenas o meio ambiente. Além de buscar recursos adequados às necessidades de cada aluno com deficiência, ele precisa ser alvo de um forte compromisso de adaptação às necessidades do ambiente. Ser capaz de trabalhar como a maioria das pessoas na comunidade, usando recursos comuns, é obviamente uma meta importante. Toda comunidade precisa acomodar a presença de pessoas com diferenças marcantes que impõem seu uso de recursos diferenciados, cada deficiente ou não deficiente, deve fazer todos os esforços para aproximar o modo de vida da maioria da população. A inclusão é, portanto, uma continuação natural de movimentos anteriores, absorvendo sucessos e corrigindo ou rejeitando falhas de experiências anteriores (OMOTE, 2008). Assim, processos de inclusão mais consistentes e adequadamente reflexivos podem nos levar a uma abordagem mais revolucionária que evite o falso entendimento de que diferente é normal. No entanto, diferenças altamente incapacitantes devido à patologia não são apenas diferenças frequentemente requerem atenção diferenciada e tratamento altamente especializado. Outra questão muito importante no debate atual sobre educação inclusiva é a inclusão de todas as crianças, sem exceção, nas classes de educação geral, independentemente da natureza e grau de comprometimento que essas crianças demonstrem. Agora, vale a pena refletir sobre tal postura, pois entre os profissionais que trabalham com populações especiais, há um grupo de crianças e adolescentes com grau de comprometimento muito forte. Nestes casos específicos, a exemplo de deficiência mental severa e profunda e, mesmo múltipla deficiência onde os recursos pedagógicos e tratamentos na área da saúde não estão amplamente disponíveis, acreditamos que a utilização no currículo público é absolutamente insuficiente. Isso porque as exigências e necessidades desse público específico são diferentes e devem ser atendidas em outros centros devidamente especializados (OMOTE, 2008). Neste contexto, os argumentos mais fortes a favor das aulas das classes comuns envolvem, os benefícios representados pela oportunidade de socializar com outras crianças, mesmo que não tenha condições de aproveitamento das atividades escolares previstas no currículo do ensino comum, claro que este argumento da coexistência é uma importância muito grande para as partes envolvidas em relação as crianças sadias e comprometidas, pois, se torna um fato incontestável, ou seja, o problema da coexistência é um argumento muito convincente. No entanto, corremos o risco de lhes negar o acesso a serviços de qualidade, ofuscando tanto os serviços que devem ser qualificados quanto a busca genuína de melhorias e soluções mais adequadas e precisas apoiadas nos recursos tecnológicos já disponíveis para esses portadores de deficiências agudas e severas. Em suma, inclui os princípioso princípio de ser, conviver, aprender e redefinir o comportamento educativo é de valor inestimável e foi gradualmente incorporado ao discurso docente, e em todos os lugares há tentativas timidamente de implementá-lo nos centros de ensino-aprendizagem. Neste contexto, as ideias de aprender em união na prática da diversidade, moldam de forma crucial os debates e as opções de ação de hoje com as quais os professores o usam para o seu próprio desenvolvimento e construção e que está posta muito mais como desafio do que como algo já efetivamente plausível (OMOTE, 2008). A escola deve servir à sociedade, permitindo que todos os alunos vivam e aprendam juntos, ao mesmo tempo, garantindo o cumprimento dos objetivos educacionais estabelecidos na Constituição e nas Diretrizes e Bases da Educação. Para alcançar esses objetivos, é possível dispor de subgrupos específicos para atender a particularidades ou dificuldades especiais, assim como aulas de reforço ou ensino de música. No entanto, é importante enfrentar a inclusão arbitrária, também conhecida como junção, que ocorre independentemente das necessidades e habilidades dos novos alunos em uma turma. O objetivo deve ser sempre criar condições adequadas de aprendizagem para todos os alunos que compõem a turma comum. Por isso, é importante ter em mente que a inclusão não é apenas uma questão de colocar todos os alunos juntos na mesma sala, mas sim de proporcionar um ambiente inclusivo que atenda às necessidades de cada alunos. 4 DIVERSIDADE CULTURAL NO CONTEXTO ESCOLAR A cultura é um conjunto de aspectos que envolvem crenças, arte, moral, costumes e outros elementos adquiridos na vida social e singular de cada ser humano. Sendo resultado do processo de socialização no ambiente cultural, ela identifica enquanto herança de um grupo e fruto de um processo cumulativo de inúmeras gerações. Contudo, como um processo vivencial, o sujeito humano se constrói como produto e produtor de seu meio, moldando e criticando o que recebe e aprende, e recorrendo a inovações, invenções e diferentes simbologias que permitem a continuidade da existência do grupo social (LEITE, 2014). No contexto social, cada grupo é representado por uma cultura que se distingue e estabelece uma base para comparação das experiências em relação a outros grupos. A cultura é definida como um modo de vida que reflete a percepção do contexto de existência, a partir de uma singularidade que estrutura um determinado grupo. Essa singularidade é construída através de apreciações morais e valores, símbolos, linguagem, religião, sistema de ensino e vários outros aspectos que definem, distinguem e classificam o indivíduo em um ambiente social de acordo com suas formas de pertencimento e cultura grupal. Ao longo do tempo, a cultura pode sofrer mudanças e se transformar em experiências diferentes no processo de comunicação e transmissão da vivência humana. Elementos como comportamento, vestimenta, alimentação e outros aspectos culturais podem mudar em resposta às necessidades e demandas que surgem em cada geração, conforme as transformações ocorridas no tempo e no espaço das experiências. Isso pode trazer benefícios e bem-estar para alguns, mas para outros, pode ser uma mudança imposta, caracterizando-se como uma violência simbólica (LEITE, 2014). Alguns grupos podem ser influenciados pela cultura, ou melhor, pela exigência de padrões e regras de vida estabelecidas para outros. Como exemplo, dessa violência, utilizamos o do processo de aculturação determinado pelos europeus aos habitantes do ‘novo mundo’, representado a violência do contato do homem branco com o índio, considerados como o diferente, o desconhecido, de valores lidos pelas lentes da inferioridade. Essa conexão marca a imposição de princípios culturais de um grupo a outro e o uso do poder físico, tecnológico e subjetivo no contexto da dominação. A cultura também pode incluir um sistema de classificação que, muitas vezes, utiliza aspectos simbólicos de identificação e exclusão para negar a existência de outras culturas que são diferentes daquelas que são consideradas dominantes. Esse fenômeno pode levar a conflitos violentos, como no caso do encontro entre europeus e indígenas, onde a diferença e o desconhecimento do outro podem gerar conflitos e violência. Assim, cultura também pode significar homogeneidade existencial, ou seja, a conformação dos indivíduos segundo os interesses do grupo ao qual pertencem. As instituições sociais, como famílias, religiões, escolas, produtoras de identidades sociais, são bons exemplos desse processo de modelagem no mundo moderno, com a função de produzir indivíduos capazes de interação social. Por ouro lado, as pessoas precisam de uma existência unificada através da cultura. Sua participação em um ambiente cultural significa, portanto, uma dimensão lhes confere um sentimento de pertencimento. A cultura proporciona uma sensação de segurança, identidade e a dignidade de fazer parte de um todo maior, de compartilhar a vida das gerações anteriores e as expectativas da sociedade quanto ao seu próprio futuro (SANTOS, 2012). Segundo Santos (2012), a cultura está voltada para o sentido humano, ou seja, relacionada as pessoas, envolve a personalidade e as relações sociais das pessoas, e envolve também o ambiente em que as pessoas vivem. Cultura é tudo o que não é natural, ou seja, tudo o que os seres humanos criam, como por exemplo, a terra é natureza e o plantar é cultura. É a evolução intelectual do ser humano e dos costumes e princípios de uma sociedade, assim, a cultura se caracteriza por mostrar que os seres humanos não apenas sentem, fazem e agem, mas também representam o sentido de tudo no mundo. Assim, no próximo tópico vamos tratar sobre o campo social enquanto produtor e reprodutor de cultura em relação à escola. Trataremos, dessa forma, da escola como campo de saber social, produtor e reprodutor da cultura, enquanto o melhor lugar para a realização de atividades que tem como objetivo formar o indivíduo com concepções próprias frente ao mundo atual, que é formado de diversidades. 4.1 A Escola enquanto campo social produtor e reprodutor de cultura É fundamental compreender que a escola desempenha um papel fundamental na construção do conhecimento sobre a diversidade cultural. A escola deve destacar a importância das características sociais, políticas, econômicas e culturais como objetivos da análise educacional contemporânea. É preciso garantir um espaço de debate, compreensão e desenvolvimento de habilidades relacionadas à diversidade cultural, a fim de buscar um mundo mais justo e humano Nesse sentido, é necessário que a escola promova a liberdade de expressão das diferentes identidades culturais em um determinado contexto, reconhecendo que todas as expressões culturais são igualmente importantes. Isso implica em criar um ambiente onde as expressões culturais sejam permitidas e valorizadas, ao mesmo tempo em que sejam respeitados os direitos dos indivíduos e as normas da sociedade. Para os PCN (1997): A contribuição da escola na construção da democracia é a de promover os princípios éticos de liberdade, dignidade, respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade, diálogo no cotidiano; é a de encontrar formas de cumprir, o princípio constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a questão de diversidade cultural e ações decididas em relação aos problemas gerados pela injustiça social (PCN, 1997. p. 36). Segundo Silveira, Nader e Dias (2007), a educação visa sistematizar as ideias acumuladas na sociedade humana por meio de métodos educativos que proporcionem acesso e potencializem a cidadania. Esses conceitos são formalizados em toda a escola e sua função principal é construir um conhecimento comum que permita aos alunos usar os bens culturais de maneira apropriada,ou seja, historicamente produzidos pela sociedade. Desta forma, sistematizar e disseminar conhecimentos historicamente articulados é a função originária e social da escola. Consequentemente, os processos educativos mais comuns, especialmente os de impacto interno, são construídos na dinâmica da socialização cultural. Assim, a escola deve incluir metodologias que promovam a socialização dos indivíduos, de forma a torná-los agentes capazes de amparar e proteger os processos de normatização social. Para isso, é importante que a escola esteja aberta ao diálogo e à reflexão sobre a diversidade cultural e que desenvolva metodologias que incentivem o respeito, a tolerância e a compreensão das diferenças culturais (LEITE, 2014). Nessa mesma linha de pensamento, a educação tem a função normativa em relação aos padrões de sociabilidade, imprimindo e construindo a identidade social com o objetivo de formar cidadãos críticos e influentes em uma dada sociedade. A escola, assim, enquanto campo social produtor e reprodutor de cultura se constitui como um lugar especial para uma série de atividades, desafiando a formação original do homem de forma sistemática, contínua, ordenada, colocando o ser humano diante da sociedade, voltado para o mundo social (LEITE, 2014). Assim, a escola se apresenta como um campo produtor e reprodutor de cultura, responsável por sistematizar e disseminar conhecimentos historicamente articulados pelas sociedades. Nessa perspectiva, a socialização cultural é um processo educativo fundamental para a construção do indivíduo como agente de amparo e proteção aos processos de normatização social. Conforme o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, a escola pode contribuir para a promoção da cultura dos direitos humanos no espaço escolar, fomentando o fortalecimento desses direitos e ajudando a construir uma rede de apoio para enfrentar todas as formas de discriminação e violação de direitos (2006). Com o intuito de eliminar atitudes e comportamentos rígidos e preconceituosos contra grupos e/ou pessoas vulneráveis ou em risco pessoal e social, é importante integrar no currículo escolar a problemática da diversidade sociocultural. Dessa forma, o espaço escolar pode desenvolver projetos e programas educativos e culturais, em parceria com redes assistenciais e de proteção social, que promovam uma cultura de paz, prudência e resistência às mais diversas formas de violência existentes. É importante que a escola se paute pela honestidade na sistematização dos conhecimentos estabelecidos pelo meio social, promovendo e ampliando sua parte pedagógica de participação e democracia. Isso deve ser construído por meio do diálogo e da historicidade do ser humano, que inclui conteúdos, metodologias, princípios, costumes e procedimentos administrados para a concepção, solicitação e defesa dos direitos humanos. Além disso, é necessário que a escola promova a retaliação em caso de violação desses direitos. De acordo com as transformações e os reforços vivenciados no contexto atual das identidades fracionadas, como nos diria Hall (1997) a escola impõe-se como um espaço multifacetado que deve adaptar-se às novas realidades sociais de natureza interdisciplinar. Seu projeto político pedagógico deve ser baseado em diferentes necessidades coexistentes que diferem em forma e conteúdo. Assim, poderemos perceber uma cultura escolar que exercite e beneficie o protagonismo de crianças e jovens como sujeitos de direitos, construindo e ampliando cooperativamente uma postura coletiva e ativa de cidadania. Partindo deste princípio, a concepção e o desenvolvimento da prática educativa devem levar em conta a experiência dos alunos, tendo em vista que uma pedagogia estruturada no diálogo e na participação coletiva pode ser potencializada com a realização de seminários pedagógicos, rodas de diálogo, debates, rodas culturais e de lazer, dentre outros. Entende-se, assim, que não é possível expressar a socialização da cultura de uma escola sem a formação de espaços participativos que só podem ser alcançados por meio da interação e participação de seus agentes. Na promoção da ação democrática, a escola precisa defender o respeito à diversidade e a tolerância às diferenças, levando em consideração as diferentes formas de pensar, agir e sentir, informações indispensáveis para o bom desempenho dos professores na construção de uma cultura escolar baseada na vivência com a diversidade (LEITE, 2014). Na perspectiva acima, os alunos devem ser capazes de relacionar os valores discutidos em sala de aula com as realidades dentro e fora da escola. É fundamental enfatizar a importância de estabelecer novos valores e práticas de relações sociais que reconheçam e valorizem a existência de diferenças, como as culturais, transtornos psicológicos, deficiências, diferenças raciais e desigualdades econômicas. O objetivo é formar indivíduos mais humanos, tolerantes e solidários diante das diversas realidades presentes em seu meio. A vida escolar é uma arena de múltiplos discursos e lutas conflitantes, onde a cultura da sala de aula colide com a cultura de outros espaços sociais, como a rua, o que também deve ser considerado em um ambiente pedagógico e produtivo (MOREIRA; TADEU, 2013). A vida escolar é uma oportunidade para os alunos adquirirem consciência e experiência em relação a questões que contribuem para o seu discernimento em relação a injustiças e manifestações de discriminação e preconceito, que eles mesmos possam enfrentar e também testemunharem. É fundamental que o currículo e toda a equipe escolar estejam abertos a novas abordagens de ensino e aprendizagem, não apenas para promover o desenvolvimento intelectual dos alunos, mas também para fomentar a compreensão da cultura e de sua diversidade (MOREIRA; TADEU, 2013). Isso é possível porque as escolas são instituições sociais que ampliam as capacidades humanas, a fim de permitir que as pessoas intervenham na formação de suas próprias subjetividades e sejam capazes de exercer poder com o objetivo de transformar as condições ideológicas e materiais de dominação em práticas que promovam o fortalecimento do poder social e demonstrem as possibilidades da democracia (MOREIRA; TADEU, 2013). As escolas e os professores devem, portanto, assegurar a legitimidade dos seus papéis, porque ensinar e aprender depende de identificar os elementos culturais mais importantes que serão assimilados pelos indivíduos para se tornarem mais humanos e quais as melhores estratégias para o conseguir meta. Para Malanchen (2016,), é necessário implantar, no ambiente escolar, acima de tudo, os elementos das culturas consideradas subalternizadas, a fim de discutir as diferenças socioeconômicas e reconstruir o conhecimento como objeto de crítica, nunca aceito como única verdade. Nesse sentido, a apresentação de perspectivas multiculturais nas escolas é relevante, uma vez que a diversidade cultural pode existir para encontrar a universalidade e as diferenças podem servir de estímulo para buscar a universalidade. O currículo e a cultura caminham juntos, especialmente no contexto escolar, onde a compreensão das bases do ensino nas diferentes culturas existentes é fundamental. Conhecimento, cultura e currículo estão intimamente relacionados, uma vez que o ensino e a aprendizagem acontecem em todos os lugares. Por isso, é importante discutir a diversidade cultural nas escolas, para os alunos aplicarem os conhecimentos adquiridos na sala de aula em situações reais, refletindo e compreendendo as diferentes realidades. Em uma sociedade contemporânea marcada por mudanças globais, tecnológicas, econômicas, políticas e culturais, a compreensão da sociedade na totalidade é fundamental. É necessário desenvolver novos pensamentos que superem as visões limitadas de grupos com perspectivas diferentese que não considerem um determinado modo de pensar como universal. Por fim, as práticas educativas são indicadoras de pertenças sociais, constituídas por ações, encaminhamentos e modos de ser e viver que regem nossas vidas. A escola, como ambiente de transformação social, visa (ou deve visar) desenvolver o pensamento crítico dos alunos, formandos cidadãos capazes de construir uma sociedade mais justa. Entende-se, assim, que uma experiência formativa integral, deve se basear em práticas capazes aproximar os alunos do mundo concreto. Dessa forma, vamos finalizar o conteúdo desta aula, apresentando para você sobre as práticas educativas como indicadoras dos processos de pertencimento e reconhecimento social, visando fazer aparecer o caráter transformador da escola. 4.2 As práticas educativas como indicadoras de pertenças sociais Segundo Edgar Morin (1997), desde do final da década de 1980, o conceito de cultura foi acentuado como um agrupamento de diferentes formas de fazer as coisas, definidas por grupos sociais, e pelas estratégias utilizadas e representadas em situações sociais específicas. Na perspectiva do autor, O termo "cultura" na sociedade atual oscila entre o significado total e o significado residual, entre os significados sócio etnográficos e moral-estéticos sendo a primeira tendência, derivada do estruturalismo, e a segunda fundamentada no plasma existencial. A fim de compreender as mudanças culturais que ocorreram no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, ele sugeriu a análise cultural como um programa de estudos. Em outra corrente de pensamento, oriunda da década de 1960 tematizada nos textos de Edgar Morin, que impactaram na Europa e nos Estados Unidos, compreendem as teorias sistêmicas, como um conjunto variado de modos de fazer e proceder. Para este autor, um sistema não é uma unidade dada objetivamente, mas sim o resultado de uma ação seletiva de observadores, determinados por padrões culturais, de acordo com seus interesses cognitivos e pressupostos teóricos. As formas culturais na sociedade são construídas e se tornam situações cotidianas, embora no momento da interação, serem possíveis processos de transformação mediado pelos chamados meios de comunicação, isto é, a verdade, o amor, o dinheiro, o direito e o poder. Nos sistemas sociais, a comunicação não ocorre apenas por meio da linguagem, mas também pode ser moldada por instituições complementares relacionadas à linguagem, como modos de comunicação e expectativas mútuas de vida, através de símbolos concretos de vivência da atualidade (MORIN, 1997). Atualmente, o tema do multiculturalismo, como conceito e como projeto, ocupa cada vez mais espaço nos debates no campo da educação, colocando em evidência o problema da diversidade cultural no mundo moderno, um dos grandes desafios da educação básica é lidar com precisão com a diversidade que existe em todas as suas formas, nível socioeconômico, gênero, raça, etnia, orientação sexual, religião, idade, deficiências, entre outros. No contexto atual, a educação tem se mostrado um terreno fértil para analisar as questões da diversidade, muitas vezes sob a ótica das diferenças étnicas, culturais e linguísticas (MORIN, 1997). O princípio da educação intercultural é a interação entre as diversas formas de expressão cultural que compõem a sua paisagem, e não basta saber reconhecer as diferenças, requer a interação entre elas, a consciência e vivência da diferença. É sempre bom lembrar que viver em sociedade envolve situações inesperadas e por vezes difíceis de absorver e entender pelo estranhamento vivido. A relação com o outro, apesar da dificuldade de convivência não é impossível, pois nos deparamos com o problema de respeitar a diferença e a convivência em sociedade, e neste caso é preciso tratar o outro com igualdade e honestidade. É sempre bom lembrar que viver em sociedade é conviver com pessoas Situações inesperadas e por vezes difíceis de assimilar e compreender por nós (MORIN, 1997). O pensamento de Michel Foucault também é bastante pertinente para a discussão sobre as relações de poder presentes na escola e sua relação com a cultura ou culturas que caracterizam um ambiente escolar. Em suas obras, Foucault propõe uma análise crítica das instituições sociais, mostrando como elas estão inseridas em um sistema de poder que atua de forma difusa e muitas vezes invisível. Nas palavras de Foucault (1999, p. 181) “na escola, não são só as relações de poder, habilidade e a fonte de lidar com as coisas, mas também os meios de mecanismos de comunicação que constituem os sistemas regulados e ajustados”. No caso da escola, Foucault argumenta que o poder não está concentrado apenas nas figuras de autoridade, como os professores e diretores, mas está presente em toda a estrutura da instituição. Isso inclui os mecanismos de comunicação, como as regras, normas e procedimentos que são usados para regular o comportamento dos alunos e garantir a ordem na sala de aula. Contudo, você precisa observar a conexão entre os conteúdos e a relação do autor com os outros. Foucault é situado por Morin o campo do estruturalismo. Uma escola é uma instituição regida por um conjunto de normas e regras, eles procuram unir e determinar a ação de seus sujeitos. Por pertencerem a uma estrutura social mais ampla que inclui crianças pobres e crianças com maior poder aquisitivo e privilégio, as escolas acabam por representar mais uma cultura de classe privilegiada, vista no conceito de normas e regras. A função social da escola é preparar os alunos com esses valores, é possível percebê-los, invertê-los e redimensioná-los de acordo com suas reais proporções e consequências. É primordial que uma escola observe, ouça, perceba e identifique as ideias, conhecimentos, atitudes, princípios e cultura de sua população em suas atividades cotidianas. As escolas devem se adaptar a seus alunos, pais e comunidades dessa maneira e realizar seu próprio processo educacional (FOUCAULT, 1999). A escola é um espaço disciplinar cuja função é desenvolver os alunos levando em consideração as formas, valores, interesses e normas que prevalecem na sociedade também é considerado um espaço autoritário, individualista, excludente, bem como, um espaço de resistência por parte dos alunos. Assim, as respostas dos alunos indicarão se são necessárias alterações na estrutura. Conforme Foucault (1997), a disciplina é um meio de exercício do poder, uma técnica de poder nascida e desenvolvida na sociedade moderna. O poder da atividade disciplinar ocorre em diferentes ambientes sociais: em instituições especializadas, tais como, prisões ou instituições corretivas, em instituições onde é utilizado como ferramenta essencial para uma finalidade específica, como as instituições de ensino, hospitais, em instituições que a preexistem e a incorporam a família, o aspecto administrativo cuja função é fazer prevalecer a disciplina na sociedade, a polícia. Professores e alunos têm ideias e expectativas diferentes sobre relacionamentos e conteúdo em sala de aula. Precisamos entender onde essas pessoas estão e quais são as suas respectivas atividades e interesses. Os professores podem ser boas pessoas, desenvolver relacionamentos muito próximos com os alunos e até atuar como facilitadores das interações em sala de aula, mas não abrem mão de seu papel de autoridade, fazendo a diferença entre os objetivos propostos e a vida real. Os papeis sociais são delimitados como fator de posicionamento e normatização (FOUCAULT, 1997). Para enfatizar que a aprendizagem não se limita apenas ao ambiente escolar, muitos outros espaços têm sido reconhecidos como locais de interação social e de cultura. Segundo Bourdieu (1979), a cultura é um sistema com significados hierárquicos e um campo de batalha entre grupos que buscam preservarbenefícios exclusivos. Observa-se, assim, que a cultura é uma prática social que ocorre em esferas de experiência distintas, devido à coexistência de diferentes culturas e práticas organizadas que são dominantes, testemunhando a existência de uma especialização crescente dos agentes culturais legitimados em símbolos presentes na cultura dominante. Dessa forma, as práticas culturais, incluindo suas formas de produção e consumo, tendem a identificar o pertencimento social segundo uma lógica de distinção. Portanto, embora o termo "cultura escolar" seja frequentemente considerado único, ele engloba uma miríade de áreas específicas do funcionamento escolar. A cultura escolar não é apenas um conceito teórico, mas também envolve implicações práticas. Vários estudiosos têm enfatizado que essa compreensão tem agregações positivas e carrega esperança, especialmente diante dos desafios enfrentados diariamente nas escolas. A abordagem antropológica reconhece a existência de culturas exclusivas e confere autoridade à diversidade de expressões culturais e suas diferentes manifestações na definição do conceito de cultura escolar. Nesse sentido, podemos dizer que a cultura escolar é construída no ambiente escolar. No entanto, a relação entre cultura e escola ocorre de forma espontânea e é implementada por meio de grupos sociais. Assim, a cultura e a escola caminham juntas com o propósito de melhorar a vida escolar (WALTEROVÁ, 2001). 5 A INCLUSÃO ESCOLAR E A FORMAÇÃO DOCENTE A integração de crianças com deficiência em salas de ensino regular pode ser um desafio para os professores, que muitas vezes não foram preparados ou não optaram por essa formação durante seus cursos. Infelizmente, muitos professores afirmam estar despreparados para trabalhar com pessoas com deficiência, o que se torna uma barreira para a inclusão. Isso pode dificultar o processo de inclusão e o sucesso acadêmico desses alunos. (MANTOAN, 2004). É claro que o medo do corpo docente está relacionado à falta de conhecimento necessário para enfrentar as condições específicas demandas por aqueles que possuem necessidades especiais, o que pode criar resistência ou rejeição em relação à inclusão. Segundo Mittler (2003), no entanto, os professores já possuem o conhecimento e as habilidades suficientes para realizar tais tarefas. Segundo autor, o que muitas ocorre é fata de confiança dos professores em suas próprias habilidades. Contudo, o autor não nega a importância da formação, pelo contrário, acredita que: Embora muitas perguntas permaneçam sem resposta, existem oportunidades disponíveis, atualmente, para o desenvolvimento profissional, este é um passo importante para todos os professores e, portanto, para todas as crianças (MITTLER, 2003, p. 237). Entretanto, para que a inclusão seja efetiva, não basta que os professores tenham formação adequada. É fundamental que as escolas estejam dispostas a superar as barreiras que elas próprias criam, e que toda a comunidade escolar esteja comprometida e aberta às mudanças necessárias para o desenvolvimento desse processo inclusivo. A inclusão requer uma ruptura com os modelos tradicionais de ensino, uma mudança que coloque o aluno como sujeito do processo, ciente de que ele tem seus limites mesmo na ausência de uma deficiência visível (MITTLER, 2003). O primeiro contato direto com a realidade da educação inclusiva acontece no dia a dia das salas de aula. Desde o surgimento da educação inclusiva até os dias atuais, muitos professores relatam a necessidade de buscar leituras e cursos para se especializarem e adquirirem conhecimentos que lhes permitam buscar soluções e esclarecimentos para desenvolver novas práticas pedagógicas e compreender melhor como se dá a inclusão na classe regular. Acredita-se que os professores podem ser grandes facilitadores ou grandes empecilhos para a inclusão, e por isso é fundamental que estejam preparados e engajados no processo Bueno (1999) identificou quatro desafios principais para a formação de professores em educação inclusiva: a necessidade de uma formação teórica sólida, que envolva diferentes processos e procedimentos pedagógicos e contemple tanto o saber teórico como o saber prático; a capacidade de explicar as mais diversas diferenças, incluindo a inclusão de crianças com deficiência no processo educativo formal; uma formação específica sobre as características, necessidades e procedimentos pedagógicos das diferentes áreas da deficiência. Os estudos desenvolvidos sobre a inclusão de alunos com deficiência no ensino regular revelam uma quantidade expressiva de investigações, como apontado por Ferreira, Mendes e Nunes (2003). Esses estudos ressaltam a importância de rever os programas de formação inicial e continuada dos profissionais e professores que atuam com esses alunos, incluindo a educação para pessoas com deficiência na formação de professores. É fundamental superar a noção de que a formação e atuação do professor devem ser isoladas em relação à educação especial. Neste contexto, as pesquisas de Ferreira e Ferreira, Góes e Laplane, Martins e Mendes (2004), Mittler (2003), Padilha (2001) e Kassar, Bruno e Bueno (2000; 2002; 2006) mostram que a formação inicial e contínua de professores é determinante para que eles possam lidar com a diversidade. Essa formação deve ser voltada tanto para educadores que trabalham com o atendimento educacional especializado quanto para o apoio e suporte à inclusão. Compreende-se, portanto, que a função dos professores especializados não se limita à intervenção nas demandas das especificidades, mas também inclui o trabalho em conjunto com a família, escola e comunidade, apoiando o projeto pedagógico e colaborando para a adequação da prática pedagógica no contexto escolar. Os debates e análises que foram elaboradas para a formação e professores no processo inclusivo buscam incentivar a necessidade de repensar e reinventar programas de formação de professores, especialmente em pedagogia, considerando a constituição de conhecimento e práticas pedagógicas que certifiquem o direito à diversidade, e ao acesso ao conhecimento e a inclusão de todos os alunos com deficiência. Acolhendo as diferenças individuais e preparando os professores para as escolas inclusivas sendo este o principal desafio na educação hoje. Ao abordar o tema da inclusão escolar e a formação dos educadores, é indispensável fazer algumas reflexões. É primordial acabar com os velhos paradigmas. No entanto, toda quebra de paradigma ou crise é carregada de incertezas e inseguranças. É comum surgirem pensamentos como 'não sei o que fazer'. Ao mesmo tempo, essa crise é um impulso para encontrar novas alternativas, conhecimentos e explicações que suportem a realização de mudanças. Assim, como discutido por Mantoan (2006), a mudança centrada na inclusão significa que as escolas não podem continuar a ignorar o quadro do que se passa à sua volta. Não pode continuar eliminando e marginalizando as diferenças culturais, sociais e étnicas no processo de formação e educação dos alunos. Conforme Martins (2006), essas mudanças pretendem se constituir enquanto uma pedagogia voltada para o aluno, o que contribui para a construção de sociedades que respeitam a dignidade e as diferenças humanas. Estudiosos alertam que um dos desafios na busca por uma educação inclusiva é evitar a distorção ou redução das ideias que envolvem esse tema. Por exemplo, embora os termos "integração" e "inclusão" sejam usados como sinônimos, é importante destacar que existem diferenças reais de valores e práticas entre eles. Por isso, reflexões sobre as ideias de integração e inclusão nas escolas são relevantes para alcançar uma educação verdadeiramente inclusiva. Na visão de Mantoan (2006, p.19), a inclusão escolar deve ser abordada de forma radical, integral e sistemática, garantindoque todos os alunos, sem exceção, frequentem o currículo do ensino regular. O processo inclusivo exige uma mudança profunda no sistema e na cultura escolar, demandando um novo olhar sobre as pessoas e uma mudança de mentalidade para que todos sejam respeitados, independentemente de suas diferenças. É importante compreender que a inclusão vai além de simplesmente colocar pessoas "diferentes", como pessoas com deficiência ou de diferentes raças, no ensino regular. Trata-se de transformar a escola para que as crianças não sejam excluídas ou discriminadas por serem diferentes, criando uma nova lógica que promova a equidade e a diversidade na educação. Cada pessoa é única justamente porque existem diferenças entre elas. Para que a inclusão seja efetiva, mudanças nas escolas são essenciais, a começar pelo desmantelamento das práticas de segregação e o abandono de todas as formas de discriminação contra alunos com deficiência ou qualquer outra forma de discriminação. A diversidade e o enriquecimento das diferenças, permitem o alargamento, identificação e a diferenciação, contribuindo assim para o crescimento de todos os intervenientes no processo educativo (MANTOAN, 2006). As escolas inclusivas devem ser exemplos de excelência educacional, capazes de fomentar a aquisição, a persistência e o êxito dos alunos, independentemente de suas necessidades e oportunidades de aprendizado. Isso porque cabe às escolas o papel fundamental de formar cidadãos com habilidades para alcançar e manter um patamar satisfatório de conhecimento. Neste contexto, a educação inclusiva requer uma escola aberta para todos alunos, pois se propõe a incluir todos os excluídos da escola, garantir a qualidade da educação, considerar as diferenças e valorizar a diversidade. Como aponta Rodrigues (2006), é um erro pensar que a educação inclusiva é para alunos 'diferentes', porque somos todos 'diferentes'. A educação pautada pela inclusão é uma ferramenta eficaz para a construção de uma sociedade que respeita as pessoas e suas diferenças e propicia uma educação que atenda à singularidade de cada indivíduo. Para Almeida, “a formação de professores é mais do que apenas informar e repassar conceitos, é prepará-los para um outro tipo de educação que mude sua relação com os conteúdos disciplinares e com o educando” (ALMEIDA, 2007, p.336). A educação inclusiva traz um novo paradigma de educação. Assim espera-se do novo perfil que o professor seja capaz de entender e praticar a diversidade e esteja aberto a práticas inovadoras. Deve aprimorar o conhecimento sobre a melhor forma de lidar com as características individuais de cada aluno (habilidades, necessidades, interesses, experiências, etc.) para que essas informações e necessidades sejam consideradas no planejamento das aulas (ALMEIDA, 2007). Portanto, é claro que isso não pode ser alcançado sem uma mudança de atitudes e realizar uma inclusão de maneira significativa. É preciso que essa mudança se efetive desde a formação inicial dos professores. Cabe ainda salientar, que a abordagem inclusiva busca eliminar vestígios da formação tradicional que parte do princípio da homogeneidade, na qual o professor trata todos os alunos de forma uniforme, sem considerar suas identidades individuais. Essa prática não consegue atender às necessidades de todos os alunos, incluindo aqueles com deficiência. Ressalta-se que a formação básica é um momento importante na formação dos professores, pois é nesse período que o futuro professor tem a oportunidade de se familiarizar com as situações que provavelmente enfrenta ou enfrentará no seu fazer pedagógico. Esta formação por si só não é suficiente para desenvolver as competências necessárias para garantir o sucesso de práticas de ensino que incorporem princípios inclusivos. Esta competência de gestão inclusiva só se adquire através de formação contínua, reflexiva e em grupo (ALMEIDA, 2007). Rodrigues (2006) defende fortemente o desenvolvimento de competências na educação inclusiva, o que só pode ser feito de forma adequada na formação continuada se puder ter uma fase de sensibilização na formação inicial. Esta prática deve ser constantemente de reflexão e mudanças. A formação de profissionais docentes não deve ser limitada ou restringida nem tampouco extinguir-se na formação inicial. Em vez disso, deve também estender-se a melhoria contínua, porque os professores são profissionais e devem estar sempre compensando a formação para atender as diferentes deficiências nos dias atuais. Essas ideias destacam a importância da universidade na formação de docentes para a Educação Básica, que têm a responsabilidade de formar cidadãos capacitados, incluindo aqueles com deficiência. Portanto, é fundamental que a formação docente inclua reflexões sobre a inclusão e práticas pedagógicas que considerem a diversidade dos alunos e suas necessidades individuais. Conforme assinala Martins (2006), as universidades, sobretudo as que se dedicam à formação de profissionais da educação, precisam assumir cada vez mais o seu papel de formadoras de profissionais docentes, de forma a fazer face à diversidade de alunos dos diferentes níveis de ensino na hora de agir. Ressalta-se que a formação de professores, não deve esgotar-se na fase inicial, pois, reflete o currículo que foi desenvolvido para as licenciaturas. As reflexões demonstram que as transformações na formação de professores devem permitir um preparo que vá além das questões teóricas, práticas e metodologias, para efetivamente promover a inclusão escolar. Esse novo modelo de educação valoriza a diversidade, sendo essencial para respeitar cada indivíduo como único. Esse princípio exige que os professores eliminem qualquer forma de homogeneidade em suas práticas, para garantir uma abordagem inclusiva e equitativa Segundo Reis (2006), a formação acadêmica dos professores deve prepará- los para conviver e aprender e ensinar com os outros, respeitando suas características sociais, biológicas e cognitivas que nos diferenciam uns dos outros, portanto, podemos dizer que isso é a essência de um homem. É primordial investir realmente na formação dos professores, pois, destina- se a ajudá-lo a desmistificar noções e preconceitos e torná-los mais conscientes, determinado, participativo e comprometido com a construção de uma sociedade mais democrática. A permanência na educação inclusiva significa mudar de atitude de todos os envolvidos no processo educativo, lidando com as práticas corajosas, analisadas e apoiadas, pois esta é uma abordagem inclusiva. Marques e Marques (2003) salientam que não existe receita pronta, por isso não há caminho a trilhar, mas a abrir. A única ferramenta que temos hoje para iniciar essa jornada é a identificação da necessidade de quebrar radicalmente a noção de absoluto, o padrão homogêneo de comportamento e corpo, abraçando a diversidade. Nesse caso, ser educador é um desafio, mas acima de tudo, é um privilégio. Educação em tempos de convulsões e revoluções de acordo com a sociedade exige muitas habilidades dos professores, como sensibilidade, flexibilidade, perspectiva moderna, interação, capacidade e vontade de trabalhar em grupo, ou seja, com o coletivo. Ao longo do tempo, a profissão docente vem sendo baseada por um trajeto que oscila entre os modelos que direcionam em conta os conhecimentos fundamentais e modelos práticos, que são tidos como relevantes, conforme os métodos e técnicas. O amplo domínio e a compreensão do processo no contexto atual, tais como, ensinar e aprender, são aspectos primordiais do saber pedagógico que faz parte de um repensar abrangente do conhecimento para os educadores. Mas ainda é muito importante considerar os caminhos da vida, tanto a nível pessoal, assim como, profissional, crenças e perspectivas sobre a educação, o mundo e as crianças sãofatores cruciais, afetando a prática educacional diária (MARQUES; MARQUES,2003). Na verdade, isso leva os professores a se preocuparem não apenas com o que devem ensinar, mas por quê, a quem ensinar e como ensinar. Deve-se entender nesse processo que a pessoa que ensina, está inclusa na construção do conhecimento, numa dialética constante e ininterrupta. Assim, a reconfiguração do papel do professor é um evento simultâneo tanto na prática de sala de aula quanto no cotidiano das instituições escolares (MARQUES; MARQUES,2003). Portanto, os professores, assim como a sociedade e os alunos, são afetados por essa necessidade de atualizar constantemente seus conhecimentos e habilidades, fazendo-se necessário organizar-se para que isso seja possível, ou seja, ter a oportunidade de dominar a arte da inclusão e do ensino. Nesta premissa, a formação de professores é um componente essencial para o desenvolvimento da cultura. Dessa forma, seu campo de atuação especializado é o conjunto de conhecimentos de saberes adquiridos no exercício do magistério com prática docente, na qual, constrói-se em sua formação inicial que deverá ser alargada nas ações de formação em um contexto de trabalho que se encontrem envolvidos, nas novas ações exigidas pelo indivíduo para a formação profissional e pessoal (MARQUES; MARQUES,2003). Os professores são profissionais que trabalham em conjunto com a diversidade, tendo a consciência e responsabilidade por desenvolver com sucesso uma aprendizagem diversificada nas múltiplas capacidades dos alunos, não apenas a transferência de conhecimento, significa que um profissional é representado não apenas tecnicamente, mas intelectual e politicamente. Em conclusão, tendo em conta a inclusão de crianças com deficiência em centros educativos, e sabendo que esta inclusão visa inverter processos de exclusão de todo o tipo, cabe novamente ao professor fazer um esforço para enriquecer os seus conhecimentos sobre esta temática, tornando possível para ser eficaz em beneficiar de aprendizagem. Portanto, é fundamental que o trabalho em sala de aula seja apoiado por uma vasta gama de conhecimentos acerca do comportamento, limitações e necessidades dessas crianças (MARQUES; MARQUES,2003). É preciso que os professores busquem novas opções para se fortalecer nesta nova estrutura para que possam construir, explicar e interpretar sua prática, mas não de forma ingênua, mas ‘perseverante’ em um desenvolvimento de um processo inclusivo, entendendo a palavra compromisso como está implícito, ou seja, se o professor respeitar a singularidade que existe na sala de aula, sua atuação afetará positivamente as possibilidades de cada aluno. Neste caso, ao tomar a decisão e selecionar certos métodos e procedimentos de resolução de conflitos, os professores fazem mais do que apenas escolher uma forma de ação. Ele considera e avalia diferentes suposições, estabelece critérios para as melhores escolhas, sempre pensando na prática docente de forma flexível (MARQUES; MARQUES,2003). Contudo, os professores devem estar preparados para enfrentar, pensar e analisar suas crenças, valores e teorias sobre o processo de ensino, e aprendizagem, especialmente para crianças com deficiência, o que permite reestruturar seu pensamento, alicerçado numa base sólida de conhecimentos. Nesse sentido, os professores precisam refletir sobre sua própria prática. E, nessa reflexão, podem discutir os motivos pelos quais as diferenças nos ambientes escolares são subestimadas. É preciso acreditar nas escolas inclusivas, ter uma visão inclusiva não só aceitando, mas valorizando a diferença porque entende que é na diferença que a criança cresce, se afirma, se constitui (MARQUES; MARQUES,2003). Para que você compreenda melhor no próximo tópico, iremos tratar da relação professor- aluno na educação inclusiva que funciona como um mediador escolar onde deve ter uma relação harmoniosa e interativa com o professor e o aluno, além disso, deve ter aptidões e habilidades interpessoais para desenvolver e manter relações de trabalho eficaz com as crianças, família e demais profissionais da escola, com isso inclui também saber respeitar e compreender as dificuldades da criança e da família, ter flexibilidade para se adequar à dinâmica do ambiente escolar. 5.1 A relação professor-aluno como um indicativo social para a construção de uma sala de aula inclusiva Como parte integrante da escola, o professor deve ter uma responsabilidade e uma obrigação para com o aluno, dando apoio para que esses se tornem um cidadão participativo na sociedade em sua totalidade. Bessa (2011) e Libâneo (1994) afirmam que a característica mais importante da atividade profissional do professor é a mediação entre os alunos e a sociedade. Segundo Morales (2001), a relação professor-aluno em sala de aula é complexa e multifacetada, ou seja, não pode ser reduzida a uma relação educacional fria ou a uma relação humana calorosa. Mas toda a relação professor-aluno deve ser encarada por um modelo simples e diretamente relacionado com a motivação, mas deve incluir tudo o que acontece na aula, devendo ser desenvolvidas atividades motivacionais. Assim, a relação entre professor e aluno envolve comportamentos intimamente relacionados em que o comportamento de um desencadeia ou facilita o comportamento do outro. Dessa forma, os alunos não se tornam repositórios de conhecimento memorizado como fichários ou gavetas. Um aluno é uma pessoa que pensa, reflete, discute, expressa opiniões, participa e decide o que fazer e o que não quer. Para facilitar essa relação professor-aluno em sala de aula, é preciso que professores e alunos contribuam para a melhoria de todos os alunos com deficiência que exigem uma inclusão justa e satisfatória desses professores, entre outros fatores precisam de empatia e aceitação dos professores e demais componentes escolares. A aceitação ou consideração positiva incondicional do professor pelo aluno inclui uma atitude de aceitação e respeito irrestritos pelo aluno, que acolhe suas diferenças e respeita sua singularidade porque ele é digno de confiança. Nesse sentido, é a questão da aceitação incondicional que merece atenção, o que nos remete à estrutura da consistência, pois a aceitação incondicional dos alunos às vezes compromete o princípio da autenticidade. Nesse sentido, merece atenção a questão da aceitação incondicional, o que nos remete à estrutura da coerência, uma vez que a aceitação incondicional dos alunos pode, por vezes, comprometer o princípio da autenticidade. Segundo Rogers (1971) a aprendizagem significativa é provável quando o professor consegue ler as respostas íntimas de seus alunos, quando eles têm um forte senso de como os alunos percebem o processo de ensino e aprendizagem. Porém, colocar-se no lugar do outro e enxergar as situações pelos ‘olhos’ de nossos alunos é uma atitude rara em nossas escolas. Para alguns professores, construir uma relação empática pode ser difícil, pois ‘sair’ do seu lugar, assumindo para si, algumas atitudes dos alunos, nem sempre. Assim, seja qual for o motivo (real ou imaginário), um aluno fica aquém das expectativas, ou não está andando no ritmo esperado, evidencia uma série de sentimentos conflitantes com os quais os professores devem lidar em sala de aula. O conflito é a base das relações humanas. Assim, embora reconhecendo que as relações docentes são facilitadas pela presença de certas atitudes, seria utópico esperar que os professores sejam empáticos em todas as situações. Vale ressaltar que as instituições de ensino têm avançado na inclusão de alunos com deficiência, levando os professores a buscarem novos paradigmas de ensino e novas formas de ensinar a fim de incluir todas as pessoas no ensino regular e aumentar a autonomia e independência desses alunos. Os professores têm a responsabilidadede realizar um trabalho que se concentre na igualdade e de oportunidade a todos, e isso não requer uma abordagem única de educação, mas a capacidade de fornecer a cada indivíduo uma abordagem educacional que melhor atenda às suas necessidades, com base em suas características, interesses e habilidades (ROGERS,1971). Formar um ensino que respeite e aprenda com a diversidade das pessoas, valendo-se do conhecimento que cada indivíduo constrói numa perspectiva de crescimento interpessoal, pois a probabilidade dessas pessoas aprenderem está diretamente relacionada à intenção de aprender, influenciada pelos professores e todas as disciplinas pertinentes, independentemente de sua necessidade e/ou habilidade, adquiram novas funções cognitivas fundamentais para suas trajetórias escolares. A inclusão implica uma mudança de políticas e programas educacionais de exclusão para inclusão, criando um ambiente em que as práticas não precisam ser confinadas a sistemas educacionais paralelos. Para que os professores possam atuar na educação inclusiva, são necessárias reformas estruturais e pedagógicas que quebrem barreiras e abram portas para alunos com diferentes tipos e graus de dificuldades e habilidades. Por fim, aponta-se a importância do professor nesse processo, pois por meio dele, os alunos aprendem a conviver com as diversidades e diferenças em sala de aula, de forma que o ensino foque na compreensão e no respeito mútuo, sem discriminação, pois não existem pessoas melhores e nem piores devidos às suas particularidades, o que existe são diferenças que precisam ser superadas (ROGERS,1971). Para finalizarmos esse conteúdo, vamos abordar sobre educação inclusiva, professor, escola e família, pois, é importante que você saiba que no contexto da educação inclusiva, essa relação família-escola-professor, ajuda a suprir as necessidades da escola, empodera e estimula a autonomia das crianças com deficiência, capacitando-as a superar barreiras e cristalizar o processo de ensino, uma vez que as famílias que sabem podem proporcionar aos educadores sua história e necessidades da criança por meio de entrevistas, estabelecendo mecanismos que auxiliem no processo de ensino e aprendizagem da criança. 5.2 Educação inclusiva: professor, escola e família A educação está em todos os lugares, casas (famílias), indústrias, escolas, instituições esportivas, hospitais, em todos os cantos do mundo. Nessa visão, Freire (1999, p. 25) apontou: “ensinar não é disseminar conhecimento, mas criar possibilidades para a produção ou construção do conhecimento”. Neste contexto, deve-se entender a educação como um progresso dinâmico e flexível, que possibilite ao ser humano interagir diretamente com a sociedade, desenvolver suas potencialidades, decidir sobre seus objetos e ações. Assim, as famílias, por sua vez, empoderadas e conscientes das deficiências e de seus direitos e responsabilidades, podem trabalhar com informações e ideias e participar das tomadas de decisões, contribuindo assim para a mudança de hábitos e aprimoramento da tecnologia para o processo de ensino e aprendizagem, levando em consideração ter em conta as diversas características dos alunos com deficiência e a necessidade da inclusão escolar como um direito fundamental destes alunos, fundamentalmente num ambiente escolar inclusivo para alunos com deficiência. Nesse sentido, a educação deve ser entendida como uma progressão dinâmica e flexível, permitindo que as pessoas interajam diretamente com a sociedade, desenvolvam seu potencial, definam seus objetivos e ações. Assim, Carvalho (2000, p. 164), afirma que a “transformação social é a transformação das condições concretas da vida humana” É um processo histórico condicionado pelas condições de vida e pelos resultados das ações históricas humanas. Os autores supracitados apontam que não há necessidade de colocar essa responsabilidade nos professores, apenas para reconhecer que eles desempenham um papel importante nesse sentido. Para cumprir essa responsabilidade, eles precisam de conhecimentos estritamente relacionados às disciplinas ensinadas. Eles precisam ter a capacidade de contribuir para a educação, não apenas para a transmissão de conhecimento. Entende-se que a escola é de todos, independentemente de sua origem social, país ou etnia de origem. Alunos com necessidades educacionais especiais recebem atenção individualizada para que possam superar as dificuldades. A experiência escolar mostra que a inclusão é favorecida quando são observados os seguintes aspectos: preparação e dedicação do professor; fornecimento de apoio dedicado aos que precisam e a realização de adaptações curriculares e de acesso ao currículo, se pertinentes (CARVALHO, 1999). 6 DESAFIOS PARA UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA PERSPECTIVA INCLUSIVA Vamos começar dizendo que abandonar o plano ideal em prol de uma prática conectada as condições objetivas não significam desistir do sonho de realizá-lo, mas sim agir de maneira a contribuir para um projeto de vida e escola que possibilitem uma sociedade melhor e um mundo possível. Devemos encarar esse projeto como uma forma de transformação e esperança (GADOTTI, 2008). Para Gadotti (2008), a prática é fundamental para cumprir objetivos voltados à construção de projetos que mobilizem múltiplos setores no campo da educação. Para que a educação possa acontecer e superar os desafios relacionados ao processo educacional, é necessário desenvolver ações pautadas no respeito à singularidade de cada indivíduo. Dessa forma, é possível realizar o sonho de uma diversidade direcionada à inclusão, tornando-a uma realidade. No entanto, a constituição dessa prática depende também do enfrentamento de diversos problemas. Por exemplo, da presença de alunos com deficiência nos espaços escolares decorre questões em vários domínios: do ponto de vista pedagógico formativo, os professores questionam a sua preparação acadêmica para a docência; do lado da aprendizagem, faltam materiais adaptados às necessidades dos alunos e professores, ocasionando ao acesso insuficiente em relação aos conteúdos curriculares, embora em tempos atuais exista uma quantidade expressiva de recursos. Ainda há uma escassez aguda de equipamentos em algumas disciplinas para a inclusão escolar, estes estão associados a algumas deficiências, como por exemplo, as disciplinas de Ciências e Geografia. Esse quesito foi relatado minuciosamente, nos trabalhos de Sá (2009) Gonçalves, Viana e Santos (2009). Dessa forma, vamos fazer a seguinte pergunta a você: quais são as indicações para que se possa considerar uma prática pedagógica verdadeiramente inclusiva? Partimos da premissa de que a universalidade das práticas educativas, não pode ser analisada de forma cartesiana ou não inclusiva, pois, a inclusão na educação consiste em ações em diversas frentes, como acesso, persistência, aprendizado do aluno, capacitação, prática e conscientização do professor, bem como, adequação, sensibilização dos espaços físicos para convivência com as diferenças, entre outros aspectos. Conforme destacado por Silva (2007), é importante entender a inclusão como um direito social que vai além da deficiência. Embora o movimento de inclusão na educação seja voltado para pessoas com deficiência, o discurso ligado às instituições internacionais e organismos governamentais, por meio de publicações e outros meios de comunicação, indica que a inclusão deve ser analisada não somente no sentido de expansão de oportunidades escolares, mas sim numa compreensão mais ampla de sociedade inclusiva Em um sentido amplo e ilimitado, a inclusão não deve ser única para as normas de acesso, permanência e aprendizagem dos espaços escolares. É necessário que crie novas visões para pessoas com deficiência e respeitar suas características que são únicas. Contudo, usaremosuma perspectiva inclusiva para expressar a educação, dessa maneira para que a inclusão aconteça, ela passa primeiramente por um sistema de consentimentos e construção de linhas que muitas vezes não atinge seus objetivos de forma totalitária, alimentando assim, expressões como inclusão reversa, inclusão explícita, inclusão incipiente entre outras (FONTES, 2009). É importante enfatizar que a formação de professores em relação a prática não é de forma alguma a única questão norteadora para a melhoria da qualidade do ensino. É preciso entender que o fracasso escolar é resultado de um sistema educacional rígido que segue decisões políticas e econômicas. Neste sentindo, da prática inclusiva, a experiência docente se desenvolve de forma descontextualizada em relação às reais necessidades do indivíduo e do espaço, transferindo seu ‘fracasso’ para o aluno com deficiência, entendendo que a deficiência é apenas do indivíduo e não do sistema escolar que ele pretende aderir. Para os professores, esse falso pensamento é em grande parte sobre qualificar esses alunos para lecionar apenas por meio de cursos e acreditar que a inclusão estará ‘garantida’ após esses cursos. Com isso, surge a ideia de uma preparação específica, através das práticas, métodos e técnicas (FONTES, 2009). No recorte brasileiro, temos uma série de medidas abruptas de “inclusão” no ambiente escolar e o pouco engajamento familiar, também proveniente da ausência de conhecimento dos seus direitos ou por uma negação contínua da existência da deficiência. Encontra-se uma cultura assistencialista, de acomodação, afetada pelas implicações socioeconômicas, culturais e políticas, para pais responsáveis pelos alunos, "frequentados em escolas públicas brasileiras sem conhecer seus direitos". O resultado é que a vulnerabilidade da ação de educação inclusiva permanece muito pontual e descontínua nos diferentes sistemas educacionais” (FONTES, 2009, p. 43). Quando nos referimos às medidas de inclusão repentina no ambiente escolar, nos referimos ao conceito introdutório entendido como medidas pedagógicas inclusivas, que surgiram principalmente na década de 90, antes das diretrizes e da Lei 9.394/96 que as fundamentava. Nesse período, a inclusão era entendida como uma medida emergencial que deveria ser consolidada a todo custo e não diretamente vinculada à preparação prévia dos espaços escolares e dos demais profissionais que neles atuavam (LDB/9394/96). Esse olhar se subsidiava na interpretação de documentos internacionais como a Declaração dos Direitos Humanos, por exemplo, e nacionais como a Constituição Federal de 1988, que estabelece a educação como direito de todos e, assim sendo, deveria ser realizada indiscutivelmente. Não se justifica, portanto, ao nosso ver, uma formação especifica para a inclusão escolar, e que o tema deficiência se pulverize entre as disciplinas curriculares, preparando profissionais com uma nova visão de educação das pessoas com ou sem deficiência (MANTOAN apud FONTES, 2009, p.45). De acordo com essa leitura, a superestimação da formação profissional de professores não ajuda o trabalho inclusivo, porque as práticas de ensino inclusivo acontecem quando os professores recuperam a confiança em suas habilidades de ensino como forma de abordagem global. Segundo Fontes (2009, p. 45), "Essa linha propõe a fusão de modelos de educação especial e regular baseados em um novo modelo de educação baseado no conceito de escola única”. A especialidade da formação geral, não pode ser separada, levando em consideração que o ato docente de ensinar já demonstra muitas demandas que não são contempladas, por exemplo, as más condições de trabalho, materiais escassos e/ou sucateados e quando existem não tem disponível a quantidade ideal para os alunos, violência contra o docente, a falta da família, entre outros diversos fatores. A educação é como uma construção coletiva, que não começa nem termina com o professor, mas faz parte deste processo. Na grande maioria dos casos, não conta com o suporte necessário para o desempenho de suas funções relacionadas à inclusão de alunos com deficiência. De acordo com Oliveira (2009), incluir alunos com deficiência em salas de aula regulares sem fornecer apoio e ajuda adequados aos educadores não é suficiente. Essa abordagem pode parecer apenas uma forma de contabilizar esses alunos como mais um número na sala de aula, sem considerar suas necessidades individuais e o suporte necessário para que possam ter uma experiência educacional significativa. O autor argumenta que a inclusão requer mais do que apenas a presença física dos alunos na sala de aula, e que os professores precisam de treinamento e recursos para ajudá-los a trabalhar com alunos com necessidades especiais. Além disso, os pais e familiares desses alunos também precisam de apoio para ajudar a garantir que seus filhos recebam a educação adequada. Em suma, Oliveira defende que a inclusão deve ser acompanhada de uma abordagem abrangente que inclua a formação adequada dos educadores, a provisão de recursos adequados e o envolvimento dos pais e familiares dos alunos. Sem isso, a inclusão pode ser pouco mais do que uma fachada, sem realmente beneficiar os alunos com deficiência. Dessa forma, as práticas educativas são fenômenos sociais, ou seja, é o uso de tendências referências específicas voltadas para as questões sociais. Por um lado, o dia a dia da rotina educacional, pode ser observado na dimensão docente, ligado ao ato de ensinar que está diretamente vinculado à aula propriamente dita. Por outro lado, é compreensível que as rotinas educativas, não sejam apenas uma dimensão estática da sala de aula, mas um significado transformado em sentido. A rotina educativa não é, portanto, a soma total de significados que compõem o conteúdo de uma aula. Requer conhecimentos prévios: sociais, culturais e políticos; tanto as informações pedagógicas, como as não didáticas são importantes para os ambientes educativos. Os alunos são sujeitos em formação que se desenvolvem para ampliar seus conhecimentos através de valores, princípios, saberes e aprendizados proporcionados pelas práticas educativas em sala de aula, principalmente da relação estabelecida entre professor e aluno. No Brasil, a Constituição de 1988 e a LDB 9.394/96 (Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional) ressaltam a relevância e a urgência da educação de permitir a inclusão educacional, como elemento formador da nacionalidade. A inclusão das pessoas com deficiência nas escolas e na sociedade, visa proporcionar-lhes oportunidades iguais, apesar das diferenças, e está vinculada ao acesso e permanência em estabelecimento de ensino, tendo direito à educação, saúde, cultura, trabalho, ao lazer e à atividade física (MAGNUS, 2017). Para que aconteça a inclusão deve haver a aprendizagem. Para isso, é necessário rever o currículo, que deve ser ampliado para levar em conta o desenvolvimento de todos os alunos, excepcionais ou não, e não apenas resumir a experiência acadêmica. Quando se trata de educação inclusiva, não especifica para quem, mas se proclama uma educação de qualidade e se compromete com todos para que não o isole com nenhuma desculpa ou motivo. A diversidade existe sim, mas é preciso olhar por outro ângulo. É a diversidade que impulsiona a reflexão e nos permite crescer e amadurecer como pessoa. A educação inclusiva orienta crianças e jovens a aprender a buscar com os outros para fazer seu próprio caminho em uma sociedade de todos, permitindo seu horizonte da vida, numa educação de responsabilidade e compromisso para sua cidadania. A educação inclusiva não justifica o desmantelamento das escolas especiais. Existe uma resistência relacionado ao processo de inclusão para as pessoas com deficiência em escolas regulares, conforme o grau da deficiência apresentada,considerando que a escola deve estar respaldada, através dos seus currículos, organizando as propostas que caracterizam a política do processo educacional de uma escola especial. Não pode haver processo de inclusão e desenvolvimento se todos, principalmente os educadores, não forem incluídos em um processo constantemente de (re) construção do mundo. Inclusão não é uma doação ou um ato de dar esmolas ou fazer doações, mais como um compromisso pessoal e atitude para melhorar as condições de vida de cada indivíduo, para que sejam vistos como parte da diversidade humana e não como um assunto a ser eliminado ou rejeitado. Toda criança deve ser integrada na sociedade desde o nascimento. Esta inclusão começa na família. Tendo em vista, que ainda existe muitos pais com preconceito e que a maioria das vezes se antecipa ao nascimento do filho e não conseguem ter a noção em relação ao próprio preconceito, até serem alertados por alguém. Porém, quando começam a compreender sobre a deficiência dos filhos, esse preconceito passa e se dão conta que os seus filhos, precisam se incluir na vida social e escolar, partindo primeiramente deles. Dessa forma, é importante que os professores desenvolvam práticas e métodos de ensino para a aprendizagem dos alunos com deficiência. Nesse sentido, podemos considerar as ideias de Vygotsky (2011), que “sugere buscar caminhos indiretos e alternativos que podem ser criados pela cultura, enquanto caminhos diretos, ou seja, biológicos, não são possíveis. Segundo Vygotsky (2011), o desenvolvimento cultural pode ser a esfera principal em que é possível compensar as deficiências, por meio da oferta de recursos e ferramentas adequadas que possam auxiliar no aprendizado e na interação social dos alunos com deficiência. Assim, os professores devem buscar a compreensão das necessidades específicas desses alunos e utilizar práticas pedagógicas que permitam sua participação efetiva na cultura da sala de aula. Isso envolve a oferta de recursos e apoio adequados, além do envolvimento da família e de outros profissionais de apoio, como psicólogos e terapeutas. A abordagem de Vygotsky enfatiza a importância do desenvolvimento cultural e da compensação de deficiências por meio de práticas pedagógicas adequadas. Os professores desempenham um papel fundamental na criação de um ambiente de aprendizagem inclusivo e acessível para todos os alunos Contudo, ao considerar o conceito de compensação de Vygotsky (2011), podem ser desenvolvidas e fornecidas condições que permitam um conhecimento adequado para alunos com deficiência, independentemente de seu diagnóstico. Portanto, Vygotsky (2011) acredita que as crianças com deficiência ganham a possibilidade de desenvolvimento, por meio, da interação social. Portanto, as relações culturais e sociais afetarão a formação da pessoa abrangendo as suas habilidades cognitivas e o seu psiquismo. Outra linha, representando o ponto de vista crítico do autor sobre a inclusão a todo custo recomenda que os ambientes escolares sejam preparados antecipadamente para que possam receber os alunos com deficiência, sobretudo na disponibilização de profissionais qualificados para a realização dos seus trabalhos. Essa visão também é compartilhada por Schwartzman (2003, 2005) e Lieberman (2003), que afirmam que as intervenções a propostas inclusivas estão associadas aos espaços em que ocorrem as dificuldades de aprendizagem, em detrimento das crianças com deficiência. De uma perspectiva internacional, existem dois caminhos para a educação inclusiva: a inclusão e inclusão total. Em primeiro lugar, entende-se que o principal objetivo da escola é ajudar os alunos com deficiência a adquirir os conhecimentos e as habilidades necessárias para viver na escola e no ambiente pessoal e manter serviços de suporte profissional para os alunos na rede regular. O segundo objetivo principal é valorizar o espaço escolar, socializá-lo e mudar as percepções sobre a deficiência. No entanto, a cooperação com serviços especializados é dispensável. Tensões à parte, esses debates sobre qual modelo de inclusão é melhor para a educação são agravados pela multiculturalidade e dimensão continental do Brasil, que atribui mais à inclusão educacional que pensa mais perto dessas necessidades, tempo e mais possibilidades. Vejamos o que Fontes (2009) tem a dizer sobre essas duas tendências: Os defensores da inclusão argumentam que a capacidade de mudança do sistema escolar é limitada, mesmo com reestruturação curricular e paradigmática ocorra, tendo em vista que a escola comum ainda não seria adequada para todas as crianças, em defesa da permanência das escolas especializadas. Já que os que defendem a inclusão total, argumentam que as escolas têm a capacidade de se reinventar para que acomode todos os indivíduos e suas diferenças (FONTES, 2009, p.47). De acordo com as ideias mencionadas no recorte acima trata de um discursão em relação a estruturação da inclusão em um ambiente escolar. Nota–se que é necessário que para que haja um desenvolvimento completo de uma proposta de inclusão de alunos com deficiência é preciso que se tenha uma discussão abrangente, com diversos profissionais, de maneira que categorize as possibilidades de intervenção mediante as necessidades de cada aluno. A discussão da prática docente numa perspectiva inclusiva também perpassa processo de treinamento. As discussões sobre educação inclusiva nos cursos de licenciaturas tiveram disciplinas anexadas às suas respectivas matrizes curriculares com os eixos educação inclusiva, diversidade e Libras, proporcionando aos egressos ganhos saudáveis a partir de uma realidade mais próxima apresentada em sala de aula. A formação de professores neste século requer novas opções e uma reflexão da/na prática pedagógica, como mostra Magalhães e Cardoso (2014), com o final do século XX começou a afastar os paradigmas de transmissão de formação que ocasionaram em debates e experiências na qual, se organizaram em torno de um modelo reflexivo, conforme a reflexão da/e sobre a prática pedagógica ganha força. A partir desta perspectiva, Ainscow (1997) sugeriu que os educadores podem apresentar-se relutantes em abandonar completamente seus métodos de trabalho. As novas demandas do século XX buscam entender a prática pedagógica, por meio da reflexão é a forma mais valiosa do que uma formação sem uma contextualização dos aspectos reais da relação ensino-aprendizagem e principalmente a relevância social do conhecimento adquirido. No caso apresentado pelos autores, também se observa estratégias instrucionais para alunos com deficiência, que se baseavam em uma abordagem fechada e sem base epistemológica real. Com base nesse novo perfil de formação pessoal, a conferência mundial sobre a educação para todos realizada na Tailândia (1990) articulou aspirações para uma educação verdadeiramente para todos, voltada para o desenvolvimento de ferramentas básicas de aprendizagem, tais como, alfabetização, expressão oral, cálculo e solução de problemas e dos conteúdos que incluam aspectos fundamentais da aprendizagem, tais como, conhecimento, habilidades, valores e atitudes (MAGALHÃES; CARDOSO, 2014). Na perspectiva da educação com múltiplos eixos, Toscano e Souza (2009, p. 138) defendeu que “atitudes positivas que só podem ser construídas quando a comunidade escolar está suficientemente formada para compreender o significado da escola como instituição social e cultural”. Conforme essa compreensão da perspectiva inclusiva, a educação não pode ter como foco apenas os professores, os espaços escolares devem ter profissionais sensíveis e especializados, que compreendam este espaço de convivência plural, não segregativa. A escola como ambiente de afirmação da cultura e criação de uma cultura escolar inclusiva é vista por Fontes (2009, p.16) como um espaço em que “um conjunto de crenças e valores permeia a cultura das escolas para orientar as práticas e ações da comunidade escolar no processo de inclusão”. Nessa perspectiva pluralista, encontramos em Vygotsky algumas contribuições essenciais para a ampliação dessa discussão, por exemplo, ele argumenta que a pedagogia precisa ajudar a desenvolver o potencial dos alunos e capacitá-los para desempenhar papéis positivos e transformadores na sociedade. Os autores entendem a deficiência como um duplo sentido: causa dano ao corpo humano, mas o utiliza como ferramenta para outras atividades compensarem o dano (FONTES, 2009). Portela e Portela (2009, p. 153) argumentam que "a compensação do defeito como uma resposta da personalidade conforme a deficiência que inicia novos processos de desenvolvimento que substituem, superestruturam e equilibram as funções psicológicas". Entendemos que essa resposta vem de uma série de questões, principalmente lutando com o processo de normalização e ocultação da deficiência como uma barreira visível, tangível e invisível no ambiente escolar. Barreiras invisíveis trazem estigma aos alunos considerado “diferente”. O estigma pode ser considerado um modelo de identidade social virtual presente no consciente coletivo e fruto do senso comum, que tem levado milhares de pessoas pertencentes a grupos minoritários a se enquadrarem no papel periférico que a sociedade lhes reservou (FONTES, 2009, p. 28). Algumas ações vêm sendo desenvolvidas com o intuito de desmistificar esses estigmas, principalmente por meio de aulas, eventos, que simbolizam a criticidade da formação com foco no processo inclusivo, tornando-o verdadeiramente justo, igualitário e gratuito. Outro desafio que existe nessa prática docente é a construção de parcerias com as famílias, o que pode ser benéfico na valorização e defesa dos espaços sociais para pessoas com deficiência e na construção de identidades e valores sociais e pessoais, assim, significa que os valores e os demais pré-requisitos são importantes para a elaboração de vivências pessoais e, em alguns casos, as únicas. A educação familiar das crianças, especialmente as que apresentam características especiais, simboliza um aspecto social decisivo para o seu desenvolvimento escolar, e, ao longo de todo esse processo escolar isso se torna uma condição primordial, para a formação da personalidade, como para a educação por parte da escola a (PORTELA; PORTELA, 2009, p. 154). A educação familiar é uma condição necessária para a educação escolar; ela procura conciliar outras questões que são importantes conforme as vicissitudes da relação com o outro, especialmente quando o outro é uma pessoa com deficiência. A trilha percorrida do planejamento de um filho desde o seu nascimento e aceitação da sua deficiência é permeado por incertezas, angústias e por que não dizer, um processo de luto pela interpretação de incapacidade em gerar um ser “totalmente aceito” pela sociedade. Esse processo tende a durar toda a vida e vai refletir o processo parental e a visão de sobrevivência do indivíduo na sociedade. Por esse motivo, muitas famílias optam por isolar esses sujeitos em uma atitude superprotetora e violadora de seu convívio social, o que também inviabilizará o processo de intervenção precoce (PORTELA; PORTELA, 2009). Assim, as famílias mudam a atribuição de dar notas às escolas, confrontando seus entes queridos com deficiência, apostando que isso supera muito do estigma que acompanha seu progresso e aprendizado. As barreiras decorrentes da deficiência acabam receber a maior atenção, em detrimento da pessoa, por parte de sua família. A formação de parcerias entre casa e escola iniciará uma desconstrução da visão institucional de que alunos e famílias devem entregar resultados e escolas devem entregar resultados. Dessa forma, as duas instituições devem trabalhar em conjunto de forma estratégica e mutuamente benéfica, pois, como nos mostram Portela e Portela (2009, p. 159), “ao contrário do que se possa pensar, essa relação permeia uma relação complexa e em processo de contradições, o seu desenvolvimento depende antes de tudo do empenho dos pais e dos professores". Entende-se que a presença de um professor especializado, essencialmente no processo de aceitação da família do ente com deficiência e da estimulação precoce, poderá ajudar e contribuir para um desenvolvimento mais satisfatório dessas duas instituições. Finalizamos essa aula dizendo, que para garantir a inclusão de alunos com deficiência, são disponibilizados diversos documentos que orientam as práticas pedagógicas, bem como, leis para inclusão quanto a implementação da educação inclusiva, pois, através das práticas ocorre a inclusão que garante o acesso e a escolarização e acessibilidade. Portanto, compreende-se que a prática educativa, voltada para a inclusão na escola inicia-se na formação inicial do professor. Assim, para oferecer um curso destinado a formar professores para trabalhar em um sistema de educação inclusiva, é importante que a proposta pedagógica desse curso apresente, nos princípios que a norteiam, essa preocupação. 7 O CONCEITO DE SÍNDROME Uma síndrome é caracterizada como um conjunto de sinais e sintomas que uma pessoa apresenta ao mesmo tempo, podendo ter diversas causas diferentes. Isso significa que uma síndrome pode ter múltiplas causas, e não apenas uma causa definida, sendo um conjunto de sintomas distintos que se diferenciam de doenças de causa conhecida e sintomas específicos. No contexto da psicologia do desenvolvimento, os sintomas associados a uma síndrome podem incluir atraso no desenvolvimento intelectual, dificuldades na fala, distúrbios no sono, sorriso frequente, convulsões e movimentos desconexos, entre outros. O diagnóstico sindrômico, também conhecido como diagnóstico clínico, tem como objetivo descrever os sinais e sintomas presentes em um determinado quadro clínico, sem necessariamente estabelecer a causa, prognóstico, causas naturais, origem ou funcionamento detalhado do quadro. O diagnóstico sindrômico é nosográfico, ou seja, ele é baseado em uma classificação de doenças ou condições de saúde com base em sintomas e características clínicas semelhantes. Ele descreve um conjunto de sinais e sintomas como um determinado quadro "X" que pode apresentar várias situações clínicas diferentes. Assim, o diagnóstico sindrômico não necessariamente está vinculado a características específicas das causas, prognóstico ou funcionamento detalhado da condição, e não busca necessariamente estabelecer a origem ou causa subjacente do quadro clínico. Ele é utilizado como uma ferramenta clínica para identificar padrões e guiar a investigação diagnóstica, podendo ser complementado por outros exames laboratoriais ou testes específicos para identificar a causa subjacente, quando necessário. O número de síndromes genéticas que existem é extremamente alto, porém as mais comuns são a Síndrome de Down, Síndrome de Edwards, Síndrome de Patau e Síndrome de Turner. Para ilustrar e aprofundar o conceito de síndrome trataremos nesta aula exclusivamente da Síndrome de Down no contexto da educação especial. Dessa forma, vamos primeiro apresentar a você um breve conceito de Síndrome de Down. 7.1 Conceito de Síndrome de Down A síndrome de Down (SD) é uma doença crônica que apresenta muitos desafios não só para a criança acometida, mas para toda a família. É uma anormalidade cromossômica, a trissomia do cromossomo 21, ocorre a uma frequência de 1:750 nascidos vivos, sendo a idade materna avançada o principal fator de risco 35 anos (CAPONE, 2004; PUESCHEL, 1999). Dessa forma, entende-se que a síndrome de Down, também conhecida como SD, é uma condição genética caracterizada por anomalias que ocorrem durante o desenvolvimento do feto noútero materno. Essa condição é considerada a mais comum entre as anomalias genéticas. De acordo com Kirk e Gallagher (1996, p. 130), a síndrome de Down ocorre em cerca de 1 a 2 nascimentos a cada 1000. É causada por uma cópia extra do cromossomo 21, conhecido como trissomia do 21, e não por um acidente O diagnóstico clínico pode ser feito com base nas características físicas (fenótipo) das crianças nas primeiras horas de vida e posteriormente confirmado pela análise citogenética do cariótipo de acordo com a metáfase. As pessoas com SD podem apresentar: hipotonia, baixa estatura, hipermobilidade das articulações, mãos pequenas e largas com linhas de palma únicas, face larga e plana, olhos bem separados, nariz pequeno com assoalho nasal plano, baixa implantação das orelhas, língua para fora língua boca, palato alto, doença cardíaca congênita, hipoplasia genital, excesso de pele na nuca, cabelos lisos e ralos (PUESCHEL, 1999; SCHWARTZMAN, 1999). No entanto, nem todas as pessoas que possuem essa síndrome apresentam esse fenótipo. A deficiência intelectual é o único aspecto presente em todos os casos, de acordo com Antonarakis et al. (2004). A identificação das pessoas afetadas desde o nascimento possibilita intervenção precoce, envolvendo também os familiares. Além das manifestações mencionadas, indivíduos com síndrome de Down também apresentam desenvolvimento de linguagem prejudicado, sendo este mais lento. É nessa área que as crianças afetadas apresentam um atraso maior, de acordo com Antonarakis et al. (2004). Conforme esse breve conceito de síndrome de Down, mencionado acima, no próximo tópico vamos falar da relação desta síndrome com a educação especial, pois, sabemos que a inclusão de crianças com síndrome de Down no ambiente escolar é muito importante, porque, é uma lei que garante o direito de todas as pessoas, sem diferenciação de cor, etnia, religião ou qualquer tipo de necessidade especial. As escolas devem fornecer para crianças com síndrome de Down, um lugar onde as diferenças devem ser notadas e respeitadas por todos, independentemente de serem ou não, portadoras da Síndrome de Down, ou não. 7.2 Síndrome de Down e inclusão educacional Do ponto de vista de Voivodic (2008), crianças com Síndrome de Down têm a deficiência intelectual como uma de suas características mais persistentes, portanto, fica evidente a complexidade e a importância da educação. A educação dessas crianças requer, portanto, interação, onde escolas, famílias e comunidades podem contribuir proporcionando experiências significativas e transformadoras. Não podemos separar esses agentes, pois quando acontece a inclusão, essas crianças assumirão papéis sociais e se tornarão agentes envolvidos e participativos na sociedade. No entanto, o maior desafio é que a sociedade e as instituições educativas criem condições que as preparem para desempenhar um papel social. Conforme afirmado por Voivodic (2008), de acordo com o modelo social da deficiência, os problemas enfrentados pelas pessoas com deficiência não residem nelas, mas sim na sociedade. É a sociedade que, ao identificar e criar problemas para as pessoas com deficiência, acaba por limitar sua capacidade de desempenhar papéis sociais e causar desvantagens. Portanto, consideramos a criança como um sujeito dependente de várias instituições, como a família, a escola e a sociedade, como parceiras em seu desenvolvimento durante o processo de ensino e aprendizagem. As necessidades precisam ser respeitadas, bem como, a subjetividade, obtendo como benefício o ajustamento e os ritmos, entre as escolas e as crianças com essa síndrome. Nesse contexto, a inclusão nos ajuda a garantir os direitos e deveres previstos nas Diretrizes Educativas, sejam necessidades físicas ou espirituais, que identificam as escolas com a responsabilidade de proporcionar momentos de integração e interação. Para que a inclusão aconteça, a mesma passa por um processo com muitas dificuldades, pois, esta questão seria uma das mais debatidas nos últimos tempos, assim como, podemos colocar em destaque a formação de professores, as estruturas físicas e acessibilidade de escolas, os pais que passam pela não aceitação, sendo estes os responsáveis em terem em casa alguém, como um certo tipo de dificuldade física ou intelectual (VOIVODIC, 2008). Neste caso, as crianças que possuem Síndrome de Dow, ocorre a necessidade de ambas as condições. A promoção de interesses entre a família e a escola que tem um só objetivo: melhorar a qualidade de vida destas crianças e integrá-las na sociedade. No ponto de vista de um educador, acredita-se em novas contribuições de inclusão para permitir um novo olhar sobre quais formas de intervenção será realizada, ou através de quais ferramentas, métodos, conceitos e atitudes os profissionais da educação poderão praticar para que contribua nessa formação não só cognitiva, mas afetiva e integral, com intuito de perceber como essas crianças aprendem ao mesmo tempo ensinando-as e respeitando o ritmo e a subjetividade de cada uma. Estudos têm mostrado que quando as famílias estimulam as crianças desde cedo, ao ingressar na escola, ela não terá tanta dificuldade, pois já terá importantes experiências de vida para se formar, e o professor utilizará novos métodos e técnicas para ampliar os conhecimentos já adquiridos e modelá-los (VOIVODIC, 2008). Embora seja um grande desafio para as escolas integrar os alunos com deficiência, isso não impede o fato deles também poderem aprender, pois, pessoas ditas ‘normais’ aprendem a conviver com o que diferente preparando-se assim para os desafios de um mundo globalizado e inserindo-se nele de forma a respeitar as diferenças, sejam elas físicas ou intelectuais. O ambiente escolar deve proporcionar oportunidades de aprendizagem significativas para essas crianças, como o foco na língua nativa, noções básicas de matemática, trabalhos manuais, com o objetivo educá-las e qualificá-las para as profissões. Todas essas atividades também devem ser feitas em casa e em comunidade. Como eles são conhecidos por serem bons em imitar, uma vez que tenham aprendido sua língua nativa, eles devem ter a oportunidade de aprender uma ou mais línguas estrangeiras (VOIVODIC, 2008). Além das atividades mencionadas, observamos também uma transformação significativa que as atividades dos jogos simbólicos podem trazer para a qualidade de vida e independência das pessoas com deficiência. Por exemplo, atividades cotidianas como fazer um sanduíche, arrumar a cama, varrer o quarto, lavar roupas e organizar os livros também fazem parte dessas atividades. Ao se tornarem independentes em pequenas tarefas, eles serão capazes de interagir mais com sua família e comunidade, permitindo que prosperem plenamente e de forma integral (VOIVODIC, 2008). Ao observar essas pequenas formas e gestos, pais e professores podem contribuir para a formação dessas pessoas, como menciona Padilha (2001, p. 177). Trata-se de entender as possibilidades e limitações de uma pessoa com deficiência, para, com ela captar os indícios, os sinais de que dá a sua evolução, e aproxima-se através disso a resolução das suas dificuldades. Dessa maneira, isso mostra que a inclusão escolar é apenas uma pequena parte do desafio maior de tornar a educação formal acessível e permanente para todos. Dessa forma, no próximo tópico vamos tratar sobre a importância da formação continuada de professores, pois, é essencial e deve ser obrigatória no contexto da educação inclusiva pois proporciona uma compreensão de forma inclusiva e eficaz da prática docente em que as dificuldades, singularidades, diversidade dos alunos, limitações culturais e específicas destes alunos, passam a ser compreendidas de forma mais humana e democrática. 7.3 A importância da formação continuada para o docente no que tangea inclusão Como temos sugerido até agora, é possível observar que a inclusão de alunos com síndrome de Down em escolas regulares não se baseia apenas no investimento financeiro, ainda que isso seja imprescindível. Compreende-se, assim, que os desafios da educação inclusiva são enormes, uma vez que muitos professores assumiram esse compromisso sem qualificações suficientes, causando transtornos às famílias, crianças e aos próprios profissionais da educação (FREITAS, 2006). Neste contexto, as escolas devem oferecer não apenas acesso, mas também qualidade na formação das crianças de forma individualizada. Os professores devem interagir com as famílias, compartilhando os progressos e desafios vivenciados pela criança, buscando apoio também em casa e na comunidade, uma vez que "o esforço da criança vai depender de sua motivação para realizar as atividades, e esse estímulo também deve vir da família" (WERNERCK, 1993, p. 165). Conforme a caracterização de Freitas (2006), a escola inclusiva se define pelo seu projeto pedagógico, assumindo tarefas adicionais. Os resultados incluem a capacidade de manter uma atitude de pesquisa com máxima integridade em todos os momentos, a compreensão profunda de seu espaço escolar como parte de toda a comunidade, e a qualidade da educação como terceiro resultado. A compreensão da educação especial é essencial como um conceito amplo que se destina a indivíduos que necessitam de ajuda específica no processo de aprendizagem e desenvolvimento, indo além da mera integração. Esses conceitos são aplicáveis tanto no contexto escolar quanto no familiar, sem diferenciação entre teoria e prática, especialmente quando se trata da introdução da cultura letrada. Os desafios da educação especial são muitos e envolvem não apenas questões educacionais, mas também a colaboração de outros profissionais e áreas da sociedade, preocupando-se principalmente com a aceitação das características, diferenças individuais e limitações emocionais, cognitivas e sociais. Os professores podem ter dificuldade em incluir os alunos com síndrome de Down porque precisam comunicar o conteúdo para todos e ajudar nas interações sociais em sala de aula. Para que essa relação aconteça de forma simples e contínua, o professor deve implementar mudanças no currículo da disciplina, pois, as crianças com síndrome de Down precisam de mais suporte visual e concreto para realizar as atividades. É preciso destacar que a ludicidade é algo muito importante para todo e qualquer aspecto de aprendizado, no entanto, o uso desses materiais em sala de aula pode proporcionar não somente o deficiente, mas também toda a classe escolar. A formação continuada dos profissionais da educação especial pode ocorrer por meio de diversas estratégias, incluindo a autoformação, troca de experiências com colegas de trabalho, atualização constante de conhecimentos e reflexões sobre práticas pedagógicas. Através desses processos, os profissionais podem aprimorar suas práticas e desenvolver suas próprias teorias para explicar como ensinam e como os estudantes aprendem. Além disso, a inclusão de alunos com deficiência em escolas regulares tem sido uma importante razão para a remodelação dos currículos de formação de professores em nível médio e superior. A necessidade de preparar os professores para lidar com a diversidade presente nas salas de aula inclusivas tem levado as instituições de ensino a repensarem suas abordagens de formação inicial de professores, incorporando conhecimentos, estratégias e práticas voltadas para a inclusão. A formação inicial de professores é fundamental para prepará-los adequadamente para lidar com as demandas da educação inclusiva. É importante que os programas de formação de professores abordem temas relacionados à diversidade, deficiência, práticas inclusivas, adaptação de currículos e estratégias pedagógicas diferenciadas, para que os futuros educadores estejam preparados para atuar em ambientes inclusivos e atender às necessidades de todos os alunos, incluindo aqueles com deficiência. A formação continuada e inicial dos profissionais da educação é um processo contínuo e em constante evolução, que busca proporcionar aos educadores as ferramentas necessárias para promover a inclusão, compreender as necessidades dos alunos com deficiência e oferecer um ensino de qualidade e equitativo para todos. É um compromisso fundamental para garantir uma educação inclusiva e de qualidade para todos os estudantes (MANTOAN, 2001). Portanto, sabe-se que a inclusão deve ocorrer naturalmente, o que pode causar medo e apreensão entre os professores atuais, mas deve-se perceber que as crianças com síndrome de Down, se desenvolvem como todas as outras crianças, mas requerem uma estimulação mais rigorosa para ter sucesso, como a fragmentação de conteúdo, incentivando a repetição o que ajudará os alunos a lembrar de acordo com as suas necessidades, o que não interfere na aplicação do conteúdo para os demais. A especialização para o profissional da área da educação especial inclusiva é de grande importância, pois, através dela o mesmo saberá a forma de agir, desenvolver suas aulas e proporcionar a inclusão com todo sucesso, por parte da criança especial, da turma e de todos na escola. Conforme Montoam (2001) é muito importante apoiar os professores neste momento, para que o problema seja enfrentado na medida em que deveria, portanto, desmitificar a crença do que são os conhecimentos relacionados a conceituação, tipologia das deficiências e outros temas referentes que lhes trarão conforto e capacidade para ensinar o mesmo a todos de uma mesma classe. Essa ajuda deve vir de outros colegas mais experientes, ou mesmo de os que integram o grupo de trabalho docente escolar: o diretor, especialistas, mas a orientação do suporte técnico que deve ajudar nas situações práticas de ensino identificadas pelo professor, incluindo discussões e perguntas sobre seu desempenho em sala de aula, procurando sempre diminuir as preocupações e acalmar o professor para o mesmo não perca as reais proporções do caso que está sendo analisado. Para Lima (2016) as identidades dos alunos com síndrome de Down foram estudadas a partir dos espaços que ocupam e das horas em que dirigem seu cotidiano. Por isso, algumas práticas sociais foram introduzidas em sala de aula para verificar qual o tipo de conceito de identidade eles construíram e que posição ocupam na vida social. Portanto, o papel do professor é investigar e adaptar as atividades às suas necessidades, para atender o ambiente escolar, como investigador, o mesmo observa como essas crianças mudam quando interagem com o ambiente e com seus colegas e quando têm atividades individuais. Em seguida, os significados obtidos devem ser registrados. Para isso, os educadores devem ser flexíveis, curiosos e muito focados em educar essa criança, fazendo parte do processo educacional e tentando equilibrar o conhecimento escolar e familiar. Mais especificamente, Raiça (1990, p. 08) afirma que “a escolha e a organização das experiências de aprendizagem são determinantes para o desenvolvimento do aluno e a sua consequente participação ativa na sociedade”. Devemos estar atentos ao interesse dos alunos em aprender para melhor estimular a exploração de novos conhecimentos. Segundo Baptista (1980 p, 56), "os professores precisam desenvolver uma verdadeira engenharia, para que possam enfrentar as tarefas das mais simples às mais complexas, conhecendo cada criança e estudando as diferenças individuais, observando as suas qualidades e fragilidades”. Conforme esses autores e considerando como base teórica as ideias de Kamii (1987, p 27) "as palavras um, dois, três e quatro são exemplos de conhecimento social. Cada língua tem um conjunto diferente de palavras para contar. No entanto, as ideias subjacentesde números são adequação lógico-matemática". As atividades oferecidas pela escola, são pensadas para construir conceitos em relação aos números, conforme a socialização dos espaços e das atividades envolvendo jogos e brincadeiras, assim, Lima afirma que (2016) a função do brinquedo não se limita ao mundo emocional e para a sensibilidade, mas, surge também no campo da inteligência, pois, colabora de forma decisiva para promover ideias e todas as funções mentais superiores. Através das seguintes experiências: jogo de bingo, elaboração de tabelas, brincadeiras cantadas que envolve a percepção de números em uma situação social, o professor pode sugerir as gravações espontâneas ao final da aula. Dessa forma, estimula-se que cada criança tente escrever de uma maneira diferente, algumas até conseguem fazer uma escrita regular sem aderir o traçado ou direcionamento. Outras, utilizam-se o desenho como recurso, e algumas crianças recorrerem aos colegas em busca de ajuda devido ao comprometimento da motricidade (LIMA, 2016). Portanto, acreditar que uma mudança significativa é um trabalho para todos ao seu redor para essas crianças. Sendo a família o alicerce fundamental, esse envolvimento na escola pode transformar as possibilidades de aprendizagem dessas crianças, dando-lhes a oportunidade de serem respeitadas, incluídas e aceitas na sociedade. Essas mudanças educacionais tanto nas questões legais, assim como nas crenças e valores, envolvem uma vasta rede de pessoas e relacionamentos constantemente interligados que buscam atingir objetivos comuns através do trabalho colaborativo. Para esse fim, é importante que cada protagonista social esteja ciente da representatividade de seu papel para garantir o cumprimento da legislação voltada para a educação especial. Entender a inclusão é um exemplo de superação e engajamento, pois prova que é possível construir uma aprendizagem importante a partir da qual é possível enxergar o ambiente escolar como um ambiente acolhedor que respeita a singularidade de cada indivíduo. Podemos ressaltar que a variedade de práticas pedagógicas desenvolvidas, em acordo com um currículo que tem como função a inclusão e o desenvolvimento integral, são aspectos decisivos no processo de ensino. O acompanhamento, por meio de registros pessoais e portfólios, permite que os professores tenham uma visão individual do aprendizado de cada criança (LIMA, 2016). Podemos dizer, portanto, que, a partir de uma revisão do referencial teórico das práticas de inclusão, acreditamos que quando acontece ajuda significativamente para o desenvolvimento da criança com Síndrome de Down, essencialmente quando contamos com o apoio da família e de todos os profissionais que os cercam. Por compreendermos que a inclusão destas crianças, passa pelos seguintes caminhos olhando para além do contexto familiar, através da revisão biográfica, onde podemos compreender que o desenvolvimento, deve ser explorado desde os primeiros anos de vida e cada vez mais estimulado para favorecer e facilitar a formação cidadã e cognitiva (LIMA, 2016). Levando em consideração, a possibilidade de adquirir novos conhecimentos e utilizar todos os recursos e técnicas que possibilitam a utilização desse conhecimento de forma prática no dia a dia, entendemos que a inclusão perpassa por um processo social histórico, que não só exige mudanças estruturais no ambiente escolar ou na legislação, mas também transcende os muros da escola e do preconceito atingindo assim a sociedade em todas as suas esperas (LIMA, 2016). Desta maneira, pode-se entender que o papel do professor é mais importante, assim como, trata-se da educação inclusiva, pois, é sua responsabilidade sensibilizar escolas e profissionais a partir de sua compreensão das peculiaridades que encontra, explorar sua empatia, saber conduzir debates sobre preconceitos, articular os princípios do cuidado com o outro, se ver no lugar dele, buscando respeito ao diferente. 8 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NO DSM O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), publicado pela American Psychiatric Association (APA), é um guia amplamente utilizado pelos clínicos para diagnosticar uma ampla gama de condições que afetam a saúde mental e o desenvolvimento, apresentando-se, assim, como um único sistema para diagnosticar saúde mental e transtornos do desenvolvimento. Elaborado logo após a Segunda Guerra Mundial para padronizar a terminologia psiquiátrica, e atualmente publicado pela American Psychiatric Association (APA), o manual tem sido revisado de modo significativo com o passar dos anos e, agora, inclui condições que afetam o desenvolvimento do cérebro e o comportamento em crianças. Ele está atualmente em sua quinta edição (DSM-5), que foi publicada em 2013 (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). O DSM, destinado a guiar os clínicos, lista critérios que devem ser preenchidos para um diagnóstico válido, incluindo parâmetros para sintomas ou comportamentos, duração e início. Além disso, o padrão de comportamentos deve causar prejuízos significativos no funcionamento social, vocacional e educacional para ser considerado um transtorno no DSM. Desta maneira, o DSM-5 define transtorno como um padrão clinicamente significativo de comportamentos, pensamentos e emoções que causa sofrimento ou prejuízo na vida diária de uma pessoa. O conceito de transtorno no DSM-5 é baseado em critérios específicos que são estabelecidos para cada categoria de transtorno mental, e esses critérios são utilizados pelos profissionais de saúde mental para fazer diagnósticos clínicos. É importante ressaltar que a síndrome se refere a um conjunto de sintomas, não se limitando a uma única doença, que ocorre em um indivíduo. Já o termo transtorno é utilizado para indicar a presença de uma série de sintomas ou comportamentos ao longo da infância, acompanhados pelo desenvolvimento e maturação do sistema nervoso central, que podem ter danos ou atrasos. Os transtornos não são causados por trauma ou doença cerebral adquirida, mas se desenvolvem por meio de doenças neurológicas e têm origem em processos cognitivos anormais causados por disfunção biológica. (FRANZIN, 2014). A American Psychiatric Association (APA) publicou a primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) em 1953, que foi o primeiro manual de transtornos mentais voltado para aplicações clínicas. O DSM-I consiste, basicamente, em uma lista de diagnósticos classificados com um glossário que contém uma descrição clínica de cada categoria de diagnóstico. Embora muito rudimentar, o manual ajuda a estimular uma série de revisões de questões relacionadas à doença mental. O DSM-II, que foi desenvolvido em paralelo com o CID- 8, publicado em 1968 e muito semelhante ao DSM-I, com uma ligeira mudança na terminologia (ARAÚJO; NETO, 2013). A terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III), publicada pela APA em 1980, introduziu mudanças metodológicas e estruturais significativas, algumas das quais foram mantidas na edição mais recente. Essa nova edição promoveu a utilização de pesquisas empíricas e representou um avanço importante no diagnóstico dos transtornos mentais. O DSM-III propôs um método mais descritivo, organizando critérios diagnósticos claros em um sistema multieixo, com o objetivo de fornecer ferramentas aos médicos e pesquisadores, ao mesmo tempo em que facilita a coleta de dados estatísticos. Posteriormente, o manual foi revisado e corrigido, resultando na publicação do DSM-III-R em 1987 (ARAÙJO; NETO, 2013). O autismo como uma entidade independente foi incluído pela primeira vez nessa terceira edição do DSM (DSM-III), com a denominação “autismo infantil”. O termo “transtorno autista” foi apresentado com alguns critérios mais formalizados combase em novas análises estatísticas. Em 1994, foi publicado o DSM-IV. O transtorno autista permaneceu, mas uniu-se a condições associadas sob o termo abrangente de “transtornos invasivos do desenvolvimento” (TID). Nessa quarta edição, o autismo era subdividido em cinco condições separadas: 1. Transtorno autístico; 2. Síndrome de Asperger; 3. Síndrome de Rett; 4. Transtorno desintegrativo da infância e, 5. Transtorno global ou invasivo do desenvolvimento sem outra especificação Outros termos associados, como transtorno de aprendizagem não verbal, (TANV), foram excluídos por não serem considerados cientificamente rigorosos. Assim, por quase duas décadas, de 1994 a 2013, tentou-se estudar e tratar o autismo dentro de três subcategorias oficiais: transtorno autista, síndrome de Asperger e TID. O DSM-5 é a versão mais recente do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Foi apresentado oficialmente, em 18 de maio de 2013, como indicamos anteriormente. A publicação é resultado de doze anos de pesquisas realizadas por centenas de profissionais divididos em diferentes grupos de trabalho. O objetivo final é garantir uma nova classificação que inclui, reformula e exclui diagnósticos a partir de pesquisas e práticas clínicas (ARAÚJO; NETO, 2013). A versão mais recente determina a fusão de Transtorno Autista, Transtorno de Asperger e Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) no “Transtornos do Espectro Autista” (TEA). O manual explica que: Os sintomas desses transtornos representam um continuum único de prejuízos com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos em vez de constituir transtornos distintos. Essa mudança foi implementada para melhorar a sensibilidade e a especificidade dos critérios para o diagnóstico de transtorno do espectro autista e para identificar alvos mais focados de tratamento para os prejuízos específicos observados (APA, 2014, p. 42). Vale a pena considerar que mesmo que a nomenclatura TGD tenha sido retirada do DSM, no manual utiliza-se o termo Atraso Global do Desenvolvimento e está definido como “Atrasos globais do desenvolvimento” e sobre ele define-se que: Este diagnóstico está reservado a indivíduos com menos de 5 anos de idade, quando o nível de gravidade clínica não pode ser avaliado de modo confiável durante a primeira infância. Esta categoria é diagnosticada quando um indivíduo fracassa em alcançar os marcos do desenvolvimento esperados em várias áreas da função intelectual, sendo aplicada a pessoas que não são capazes de passar por avaliações sistemáticas do funcionamento intelectual, incluindo crianças jovens demais para participar de testes padronizados. É uma categoria que requer reavaliações após um período de tempo (APA, 2014, p. 41). Antigamente as pessoas entendiam o autismo como patologia ou como sintomas muito grave ou severo, dessa forma as pessoas julgavam as crianças com autismo como as crianças que ficavam somente no canto da sala de aula, sem interagir com ninguém e fazendo movimentos repetitivos estereotipados, porém, hoje ampliou-se muito o leque de diagnóstico e consequentemente ampliou também as possibilidades dos sintomas dentro do transtorno do espectro autista (FRANZIN, 2014). Em suma, o DSM-5 é um manual importante na área da psiquiatria que foi desenvolvido pela APA para fornecer critérios diagnósticos padronizados para transtornos mentais, incluindo o transtorno do espectro autista (TEA). O TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento que apresenta características comportamentais, de comunicação e interação social atípicas, juntamente com padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados. No próximo tópico, iremos explorar aspectos históricos do TEA, compreendendo sua evolução conceitual ao longo do tempo e as principais mudanças nos critérios diagnósticos do transtorno. 8.1 Aspectos históricos e características do TEA Embora nos primeiros anos após a identificação do TEA pelo psiquiatra Leo Kanner na década de 1940, o foco tenha sido na descrição das semelhanças do transtorno, ao longo do tempo, tornou-se evidente a ampla gama de desafios, pontos fortes e variabilidade existente no TEA. Isso culminou na tentativa de criar subcategorias formais no DSM-IV. No entanto, várias descobertas levaram a campo da psiquiatria a abandonar os diagnósticos separados para síndrome de Asperger e transtorno autista. Um fator importante foi a falta de tratamentos específicos para os diferentes subgrupos, ou seja, não havia diferenças padronizadas no tratamento de uma criança diagnosticada com síndrome de Asperger em comparação com uma criança diagnosticada com transtorno autista. Além disso, descobriu-se que os clínicos especializados não eram consistentes na determinação de quais crianças deveriam ser designadas para qual subclassificação diagnóstica (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Um achado decisivo em 2012 que ajudou a solidificar a importância de conceituar o autismo como um transtorno de espectro, e não como três subgrupos distintos, ilustra isso. O achado envolvia a avaliação de práticas diagnósticas para 2 mil crianças em 12 centros universitários na América do Norte, onde as pesquisas clínicas estavam realizando avaliações diagnósticas para autismo exatamente da mesma maneira (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Em cada localidade, os clínicos especializados nessas instituições de destaque usaram ferramentas diagnósticas com padrão de excelência para avaliar o autismo e administraram uma bateria de testes padronizada para qualificar outras características, tais como cognição e linguagem. Para assegurar que todos estivessem de fato conduzindo avaliações da mesma maneira e seguindo as diretrizes apropriadas do DSM-IV, todas elas foram gravadas em vídeo (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). A análise final mostrou que não havia diferenças nos tipos de crianças no estudo – nenhum dos locais viu mais crianças com deficiência intelectual, ou mais crianças com déficit na linguagem, irritabilidade, problemas motores, ou alguma das outras centenas de variáveis –, embora os clínicos tenham chegado a índices radicalmente diferentes das subclassificações. Um dos locais apenas diagnosticou crianças com transtorno autista. Outro local diagnosticou mais da metade das crianças com síndrome de Asperger. Outro, ainda, não diagnosticou nenhuma criança com TID. Em outras palavras, os clínicos concordaram que todas essas crianças satisfaziam os critérios diagnósticos para o termo abrangente “autismo”, mas não conseguiram entrar em um acordo quanto à subclassificação (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). A mensagem final foi a de que mesmo os principais diagnosticadores na América do Norte falharam no uso consistente e efetivo das subclassificações baseadas no comportamento. Por fim, também não foram encontradas diferenças biológicas convincentes entre os subtipos (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Naquela época, as principais características apresentadas pelas crianças com autismo eram dificuldades significativas nas interações sociais e na comunicação, juntamente com interesses e comportamentos restritos. Essas características clássicas fixas são vistas em comportamentos como contato visual reduzido, expressões faciais limitadas e formas incomuns de interação com as outras pessoas. Observa-se que, juntamente com interesses em geral limitados e muitas vezes intensos, muitas crianças com TEA também são altamente sensíveis a certos toques, texturas, sons ou visões – e preferem a mesma rotina todos os dias (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Embora essas características ainda sejam essencialmente as mesmas que se usam para descrever o autismo nos dias atuais, tem-se, agora, uma compreensão mais complexa sobre o caminho de vida para aqueles com TEA. Os sintomasraramente são perceptíveis durante os primeiros 6 meses de vida e costumam surgir em torno dos 8 a 12 meses. Contudo, para cerca de um terço das crianças que irão ter autismo, o desenvolvimento é aparentemente normal até o fim da primeira infância, seguido por perda de habilidades no mesmo período (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Independentemente da época do desenvolvimento, a severidade do transtorno varia de modo considerável – alguns indivíduos vivem e trabalham de forma independente; outros não conseguem. Alguns desenvolvem habilidades de linguagem adequadas; outros nunca a desenvolvem. Para a maioria, os desafios são contínuos ao longo de toda a vida, mas toda criança faz progressos e adquire habilidades, embora com ritmos muito variados (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Na verdade, embora por décadas os cientistas tenham tratado esse transtorno como uma condição única, isso já não faz mais sentido. As crianças com autismo diferem tanto umas das outras que é vital tomarmos os princípios gerais que iremos abordar e, então, adaptá-los ao seu filho individualmente. Sem dúvida nenhuma você já iniciou esse processo; faremos mais sugestões à medida que avançarmos. Por enquanto, é importante entender que a ciência concorda com a intuição de muitos pais de que existem vários tipos diferentes de autismo (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Atualmente, a abordagem de tratar o autismo como uma condição única, adotada por décadas pelos cientistas, não faz mais sentido. As crianças com autismo diferem significativamente umas das outras, tornando essencial adaptar os princípios gerais de abordagem de acordo com as necessidades individuais de cada criança. É possível que você já tenha começado a compreender a complexidade da questão, e iremos fornecer mais sugestões à medida que avançarmos juntos. Agora, é importante compreender que a ciência atualmente concorda com a intuição de muitos pais de que existem vários tipos diferentes de autismo (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Essas diferenças entre as crianças com autismo podem ser enormes. Pais cujos filhos têm dificuldades na fala ou em operações matemáticas podem questionar como eles podem ter a mesma condição que uma criança que resolve problemas de álgebra ou compreende a tabela periódica dos elementos. Além disso, embora as causas do autismo ainda não sejam completamente compreendidas, a visão científica mais recente é a de que o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um conjunto de várias condições relacionadas, com características identificáveis e parcialmente compartilhadas. Essa nova compreensão tem possibilitado importantes avanços na compreensão das causas do autismo e traz esperança para o desenvolvimento de tratamentos eficazes para crianças com TEA (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021) 8.2 O autismo se estende ao longo de um espectro Vamos começar com a ideia de que o autismo ocorre ao longo de um espectro, um conceito que, em geral, é atualmente aceito por pesquisadores e clínicos. Antes de nos aprofundarmos no que pretendemos dizer quando usamos a palavra "espectro", como foi que partimos da ideia de autismo como um transtorno único para chegarmos à noção de um espectro. O espectro autista inclui essas antigas subcategorias, além de variação na severidade e no perfil dos sintomas. Os cientistas acreditam que o autismo ocorre ao longo de um espectro porque as características centrais assumem diversas formas, e temos agora evidências de que os déficits principais no transtorno se desenvolvem por muitos caminhos causais distintos, envolvendo diferentes sistemas biológicos e diferentes contribuições genéticas e ambientais. Portanto, para aumentar nossa compreensão da ciência por trás do autismo, estudamos, atualmente, o espectro inteiro, e, conforme iremos discutir, essa abordagem já valeu a pena pelos achados biológicos mais claro (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Reconhecendo que existe um amplo espectro, os cientistas podem usar abordagens inovadoras como a imagem cerebral, genética e outras para entender a variabilidade do autismo. Essas informações nos ajudam a elaborar planos de tratamento que beneficiarão uma população diversificada no espectro, permitindo a criação de intervenções mais individualizadas para cada criança. Uma maneira de compreender os diferentes subtipos ou faces do autismo é através da genética. As informações genéticas têm sido úteis para fazer o mesmo em outras condições, como deficiência intelectual e déficit de aprendizagem. Há pouco mais de um século, acreditava-se que todas as crianças com deficiência intelectual tinham a mesma condição. No entanto, agora sabemos que a deficiência intelectual, assim como o TEA, é um transtorno comportamentalmente definido com muitas causas Gradualmente, ficou mais claro que algumas deficiências intelectuais ocorriam em famílias, enquanto outras não, sugerindo a presença de diferentes causas. Ao longo do tempo, foram descobertas muitas causas de deficiência intelectual relacionadas a um único gene, sendo conhecidas atualmente mais de mil dessas condições raras. No entanto, outros tipos de deficiência intelectual não têm causas relacionadas a um único gene. Um exemplo conhecido é o transtorno genético chamado fenilcetonúria, ou PKU. Antes da identificação dessa mutação genética, as crianças com PKU eram simplesmente diagnosticadas com deficiência intelectual com base em seus sintomas (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). No entanto, a descoberta de que o gene associado à PKU é responsável pelo processamento da fenilalanina no corpo acabou conduzindo a um caminho simples para prevenir a PKU. Os bebês podem fazer um teste do pezinho no nascimento, e, quando este for positivo, a prevenção desse subtipo de deficiência intelectual é uma simples questão de retirar da dieta do bebê muitos alimentos que contêm fenilalanina. Embora seja improvável que a história termine assim para o TEA, a lógica é similar – os subgrupos biológicos e causais não serão óbvios na superfície, porém ainda há muito a ser aprendido para ajudar as crianças em vários pontos ao longo do espectro. Para nos debruçarmos sobre a genética por um momento, desde os primeiros estudos de gêmeos, na década de 1970, já sabíamos que a genética desempenha um papel no autismo. A partir de então, já foram identificadas muitas contribuições genéticas para o transtorno e cerca de mil genes diferentes e regiões genômicas implicados no autismo. Embora eles não determinem quem terá TEA da mesma forma que o fazem para alguns dos mil tipos de deficiência intelectual, os achados sugerem que o autismo é provavelmente mais bem entendido como um conjunto de muitas condições relacionadas e que existem diferentes caminhos para o desenvolvimento dos sintomas do que chamamos de autismo. Descobrir quais efeitos esses genes têm em comum, se houver algum, será um importante objetivo para pesquisas futuras (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Dessa forma, no próximo tópico vamos tratar sobre o diagnóstico do TEA, na qual é essencialmente clínico, feito a partir das observações da criança, entrevistas com os pais e aplicação de instrumentos específicos. 8.3 Diagnóstico do TEA Hoje o diagnóstico do TEA é realizado considerando uma lista de critérios comportamentais. Em vários países do mundo, especialistas na área recomendam que o diagnóstico seja feito com base nos critérios estabelecidos no DSM-5 (APA, 2014). O TEA é diagnosticado, segundo o DSM-V, quando “os déficits característicos de comunicação social são acompanhados por comportamentos excessivamente repetitivos, interesses restritos e insistência nas mesmas coisas” (APA, 2014, p. 31) e se caracteriza por: [...] déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social, em habilidades para desenvolver, manter ecompreender relacionamentos. Além dos déficits na comunicação social, o diagnóstico do transtorno do espectro autista requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Considerando que os sintomas mudam com o desenvolvimento, podendo ser mascarados por mecanismos compensatórios, os critérios diagnósticos podem ser preenchidos com base em informações retrospectivas, embora a apresentação atual deva causar prejuízo significativo (DSM-V, 2014, p. 31-32). Além disso, “indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de transtorno do espectro autista, devem ser avaliados em relação a transtorno da comunicação social (pragmática)” (APA, 2014, p. 32). De acordo com o DSM-5 (2014, p. 51), precisa especificar se o TEA diagnosticado se apresenta: ▪ Com ou sem comprometimento intelectual concomitante; ▪ Com ou sem comprometimento da linguagem concomitante ▪ Associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental; ▪ Associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental; ▪ Com catatonia. ▪ Para fechar o diagnóstico do TEA, precisa-se observar os critérios diagnóstico previstos na Tabela 1. Tabela 1 – Critérios Diagnósticos do TEA Critérios Diagnóstico A Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1.Déficits na reciprocidade soco emocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais. 2.Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. 3.Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. Especificar a gravidade atual: A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos. B Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). 2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). 3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). 4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento). Especificar a gravidade atual: A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos ou repetitivos de comportamento C Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida). D Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente. E Essas condições não são mais explicadas apenas como deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou atraso global do desenvolvimento. A deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista podem ocorrer comórbidos, ou seja, coexistirem em uma mesma pessoa. Para diagnosticar a comorbidade de transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, é necessário que haja déficits na comunicação social abaixo do esperado para o nível geral de desenvolvimento Fonte: DSM-5 (APA, 2014, p. 50-51). O DSM-5 orienta que para a definição do diagnóstico de TEA a criança deve apresentar pelo menos três sintomas dos três critérios A e dois sintomas dos quatro critérios B, bem como o critério C + D. Além disso, as características clínicas são registradas pelo uso dos especificadores supracitados (sem comprometimento intelectual, por exemplo). Até que os cientistas consigam identificar com precisão certos subtipos com base na biologia, nos genes e nas causas ambientais, pais e clínicos podem obter informações sobre como ajudar cada criança em particular entendendo em que ponto a criança se localiza ao longo do espectro. O ponto no qual uma criança específica se encontra no espectro depende em grande parte da gravidade da condição, bem como do seu nível de desenvolvimento e idade cronológica. De forma geral, se as características do autismo forem severas e restritivas em uma criança, e ela apresentar um nível de desenvolvimento significativamente abaixo do esperado para sua idade cronológica (por exemplo, um nível de desenvolvimento de 3 anos em uma criança de 12 anos), ela pode ser considerada no extremo do espectro e necessitará de um alto nível de suporte e intervenção. No entanto, pesquisas recentes têm demonstrado que esse suporte e intervenção adequados podem resultar em melhora na condição da criança e na redução da quantidade de suporte necessário em sua vida diária (GEORGIADES; KASARI, 2018). A ideia de um espectro é importante, pois ela pode nos ajudar a focar no perfil individual, nos pontos fortes específicos e nos desafios da criança. Essa atenção individualizada permite que sejam feitos planos para incorporar os pontos fortes que uma criança tem, tais como processamento visual ou memorização mecânica, a fim de compensar os desafios no processamento social ou as dificuldades com transições. Nesse sentido, apresentamos na Tabela 2, a classificação do TEA de acordo com o DSM-V da Associação Americana de Psiquiatria classifica (APA, 2014): Tabela 2 – Níveis de gravidade do TEA Pesquisas feitas nos últimos 20 anos mostram que existe uma gama de outras condições frequentemente associadas ao transtorno, e estas também irão afetar o tipo de tratamento e suporte que a criança precisa. Não são apenas os sintomas nucleares que precisam ser considerados para produzir um bom resultado para a criança, mas também essas outras condições (GEORGIADES; KASARI, 2018). Dessa forma, você conseguiu observar que em relação ao diagnóstico O DSM- V Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais estabelece alguns critérios para o diagnóstico de autismo. Segundo o manual, é preciso haver déficits persistentes na comunicação e interação social, comportamentos repetitivos e restritos para o diagnósticode TEA. Para finalizarmos essa aula vamos enfatizar a educação especial e o seu papel com as crianças que possuem TEA. 8.4 A inclusão escolar de crianças com autismo A entrada de uma criança com autismo em uma escola formal pode ser motivo de grande preocupação tanto para a família quanto para a escola. Nesse momento, as famílias e os profissionais da educação se questionam sobre a inclusão dessas crianças, uma vez que a escola precisa se adequar às necessidades dos alunos. De acordo com os autores Brande e Zanfelice (2012), receber alunos com transtornos invasivos do desenvolvimento é um desafio diário para as escolas, pois exige adaptação do contexto, currículo e métodos de ensino. A inclusão escolar requer o comprometimento de todos os envolvidos, incluindo alunos, professores, pais, comunidade e diretores, ou seja, todos aqueles que participam direta ou indiretamente da vida escolar. Segundo Suplino (2009, p. 2), “Para garantir o acesso, torna-se necessário garantir a persistência da qualidade". Dessa forma, deve-se atentar para o potencial de cada aluno, sendo necessário que os educadores transmitam ao aluno confiança e segurança para aprender de forma significativa. Além disso, "para realizar tal ensino de alta qualidade, requer currículos apropriados para mudança organizacional, estratégias de ensino e uso de recursos, etc.” (MENDES, 2002 apud BRANDE; ZANFELICE, 2012, p. 44). Conforme Libâneo (2012, p. 489) o currículo é a materialização da intenção expressa do projeto pedagógico, e há muitas definições curriculares: conjunto de disciplinas, resultados de aprendizagem esperados, experiências que devem ser oferecidas aos alunos, princípios orientadores da prática, escolhas culturais e organização. No entanto, ao considerar o currículo, o foco deve estar sempre na realidade de cada criança, seja ela com TID (Transtornos Invasivos do Desenvolvimento) ou não, pois: Pensar numa proposta curricular vai além dos conteúdos. Ou são os conteúdos mais importantes do processo educativo? Ao educador faz-se necessário observar a real necessidade do aprendente autista e como esse currículo vai ajudá-lo no seu desenvolvimento cognitivo (CHAVES; ABREU, 2014, p. 6). Portanto, os professores devem ter isso em mente quando as crianças vão para a escola. Além do conteúdo escolar que a criança deve aprender, ela deve se tornar independente e conseguir fazer as atividades cotidianas sozinha, já que muitas vezes os pais realizam tarefas que a criança pode fazer sozinha. Um exemplo de currículo importante que estimula a autonomia da criança é o Currículo Funcional Natural, cujo objetivo primordial de acordo com LeBlanc (2005, p. 33) citado por Sulino, é “tornar os alunos mais independentes, produtivos e socialmente aceitáveis”. No entanto, é necessário determinar o que é funcional e isso depende de diversos fatores, pois: Aquela habilidade que pode ser considerada funcional numa determinada comunidade, poderá não ser em outra. Portanto, ao eleger-se os objetivos funcionais para ensinar, é necessário ter em mente aquilo que a pessoa portadora de deficiência necessita aprender para ser exitosa e aceitável em seu meio, como qualquer outra dessa mesma comunidade (SUPLINO, 2005, p. 34). Baseado no princípio de saber o que cada criança precisa aprender, é importante estudar, analisar e avaliar constantemente o currículo proposto durante o processo de ensino-aprendizagem. A partir disso, os professores poderão avaliar o desenvolvimento e os obstáculos dos alunos. Mas para que os professores desenvolvam essa relação sobre o que e como ensinar aos alunos com autismo é fundamental uma formação adequada, caso contrário os métodos utilizados em sala de aula não atingirão o objetivo almejado, que é a aprendizagem. Esse é um grande problema encontrado nas escolas, pois os professores não estão preparados para lidar com essas crianças por falta de capacitação. Santos (2008, p. 9) menciona que nos cursos superiores há pouca e desatualizada informação sobre autismo, além disso, a bibliografia é escassa e a maioria dos textos são importados e traduzidos, assim como a experiência nesta área. Como dito anteriormente, a inclusão de crianças com autismo em escolas formais requer a atenção de todos os envolvidos nas seguintes formas: Para que a escola possa promover a inclusão do autista é necessário que os profissionais que nela atuam tenham uma formação especializada, que lhes permita conhecer as características e as possibilidades de atuação destas crianças. Tal conhecimento deveria ser efetivado no processo de formação desses profissionais, sobretudo dos professores que atuam no ensino fundamental (SILVA; BROTHERHOOD, 2009, p. 3). Por sua vez, os professores devem estar cientes de que, para atingir O aprendizado significativo para crianças com autismo é importante na mudança de suas crenças e atitudes, pois toda criança tem capacidade de aprender, basta refletir sobre as habilidades que possui para que possa focar nelas. Além disso, é importante que as crianças com autismo interajam com outras crianças, pois, segundo Camargo e Bosa (2009, p. 67), “para superar os déficits sociais dessas crianças, é necessário ampliar gradativamente as experiências de socialização, permitindo novos conhecimentos e desenvolvimento comportamental". Os autores também observam que expor crianças com autismo a viver com outros colegas pode ajudar a estimular sua capacidade de interagir, evitando assim o isolamento contínuo. Além disso, as interações entre crianças com autismo na educação formal irão melhorar seu desenvolvimento e o de seus pares. Porém, as autoras alertam que: Quando não há ambiente apropriado e condições adequadas à inclusão, a possibilidade de ganhos no desenvolvimento cede lugar ao prejuízo para todas as crianças. Isso aponta para a necessidade de reestruturação geral do sistema social e escolar para que a inclusão se efetive (CAMARGO; BOSA, 2009, p. 70). Outro fator ao trabalhar com crianças com autismo é a rotina. Gikovate (2009, p. 15) observa que a quebra da rotina leva a um comportamento inquieto em que a criança se recusa a seguir em frente até que o padrão anterior seja restabelecido. Além disso, as atividades diárias dessas crianças são muito importantes para que elas possam se organizar tanto em relação ao espaço, quanto temporalmente para aprender. Lopes e Pavelacki (2005, p. 3) apontaram que, além da técnica que deve ser usada na sala, o trabalho diário na educação do autismo é muito importante e não deve ser alterado porque qualquer alteração pode refletir no comportamento da criança. Gikovate (2009, p. 15) destaca que para haver realmente uma inclusão escolar da criança com autismo é preciso observar qual a necessidade da mesma, e somente a partir disso deverá fazer as devidas adaptações na sala de aula. Então, é importante que seja importante que o autista e o professor mantenham um relacionamento próximo e exijam para a turma uma atenção maior em relação aos barulhos ou sons específicos, que muitas vezes são estressantes para os autistas, é importante também que o professor lembre a criança sobre as dicas do que acontecerá no dia a dia através de informação visual. Conforme Lopes; Pavelacki, (2005) a partir da suposição de memória do autismo concentrada voltada para o visual, é necessário que: [...] o educador em suas técnicas, valorize este lado, fazendo com que o aluno observe cores, tamanhos, espessuras, animais, pessoas. Por outro lado, a sala de aula deve ter pouca estimulação visual para que a criança não desvie sua atenção da atividade em andamento. O ambiente educacional deve ser calmo e agradável, para que os movimentos estereotipados dos alunos não alterem (LOPES; PAVELACKI, 2005, p. 7). Para manter a atenção dos alunos na sala de aula, é fundamental que os professoresutilizem métodos educacionais que visem a inclusão efetiva de crianças autistas e promovam um processo de ensino-aprendizagem duradouro. No entanto, há muitos estudos sobre diferentes métodos. Conforme Bosa (2006, p. 48), o método Picture Exchange Communication System (PECS) é um exemplo de como as crianças podem usar velcro ou adesivos para fazer alterações ou pedir o fim das atividades realizadas. Quando atividades e símbolos são associados por meio desse método, ele facilita a comunicação e a compreensão. Isso acontece porque o método PECS utiliza cartões e imagens infantis, permitindo que a criança se expresse associando a imagem com o que deseja. Outro método muito utilizado que tem como base a informação visual, é o método Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children (TEACCH), segundo Bosa (2006, P. 49), é um programa altamente estruturado Ele combina diferentes materiais visuais para melhorar a linguagem, aprender e reduzir o comportamento inadequado. Em vista disso, esse método busca a independência de crianças com autismo e trabalha com estímulos visuais e físicos, porque a imagem incentivará as crianças a exercer exercícios físicos, por exemplo, apontar e procurar, o que levará ao movimento das crianças. Além dos métodos mencionados anteriormente, existe também o método Son- Rise que visa envolver todos os participantes de crianças autistas na criação de novas formas de comunicação e interação por meio de atividades lúdicas que alcancem aprendizado, independência e integração. Este é um dos métodos mais utilizados no Brasil. SegundoTolezani (2010, p. 8): Devido melhora significativa durante o tratamento da criança no espectro autista, pois “oferece uma abordagem educacional prática e abrangente para inspirar as crianças, adolescentes e adultos com autismo a participarem ativamente em interações divertidas, espontâneas e dinâmicas com os pais, outros adultos e crianças, Este método apontou que o grau de aceitação do autismo em relação ao potencial de desenvolvimento desta pessoa, é o princípio básico do tratamento (TOLEZANI, 2010). Das suposições de muitos métodos para aprender com crianças autistas, é importante enfatizar que as pessoas que participam desses alunos devem conhecer as necessidades reais dessa criança autista, é importante enfatizar que os profissionais da educação envolvidos na aprendizagem desses alunos precisam conhecer as reais necessidades da criança, dessa maneira, saberão quais métodos adequados devem utilizar para que de fato haja uma construção do conhecimento e uma verdadeira inclusão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AINSCOW, M.; PORTER, G.; WANG, M. Caminhos para as escolas inclusivas. Lisboa: Instituto de inovação educacional, 1997. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V-TR: manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. ANTONARAKIS, S.E. et al. Chromosome 21 and Down syndrome: from genomics to pathophysiology. Nat Rev Genet., v.5, n.10, p.725-738, 2004. ARAÚJO, Álvaro Cabral; NETO, Francisco Lotufo. 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