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AULA 4 Recursos Ergogênicos e Doping

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AULA 4 Recursos Ergogênicos e Doping
DESCRIÇÃO
Compreensão geral sobre a utilização lícita ou ilícita de recursos ergogênicos, com seus respectivos conceitos, aplicações, protocolos e contraindicações para praticantes de atividades físicas e atletas.
PROPÓSITO
Discutir as bases gerais da suplementação de recursos ergogênicos de acordo com suas definições, origens, estruturas, funcionalidades, riscos, benefícios e protocolos de utilização para prescrição dietética/médica, no intuito de aprimorar o preparo ou a recuperação de indivíduos praticantes de esportes.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Analisar conceitos e critérios sobre doping esportivo para prescrição de recursos ergogênicos segundo a Legislação Nacional
MÓDULO 2
Identificar suplementos nutricionais de origem proteica com fins ergogênicos
MÓDULO 3
Examinar suplementos nutricionais estimulantes, termogênicos ou com finalidade de redução adiposa
INTRODUÇÃO
A indústria de suplementos alimentares e fitoterápicos cresce continuamente, uma vez que a busca por soluções mais ágeis, que respondam aos anseios estéticos, esportivos ou clínicos, mantém demanda crescente na sociedade. Contudo, ainda há extrema controvérsia sobre o consumo de diversos produtos, seja por limitação nas evidências científicas, no público-alvo ou mesmo nos riscos potenciais. Comumente, suplementos nutricionais ou outros agentes farmacológicos são denominados como recursos ergogênicos, porque alguns ativos parecem melhorar a performance humana, seguindo protocolo prescricional seguro e organizado.
Ampliadamente, é de profundo interesse da sociedade (acadêmica ou não) trazer luz sobre o que a legislação vigente permite ou proíbe, bem como o que fontes científicas pujantes esclarecem sobre a segurança, origem, estrutura, mecanismos de ação, efeitos (benéficos ou deletérios) e formas de ingestão de diversos agentes ditos ergogênicos.
Sendo assim, neste conteúdo, vamos debater sobre o uso, por vezes, indiscriminado, de recursos ergogênicos e suas consequências legais, esportivas ou envolvidas em fitness e wellness. A partir disso, apontaremos critérios e métodos de prescrição dos suplementos nutricionais mais utilizados e buscados pelo mercado.
MÓDULO 1
Analisar conceitos e critérios sobre doping esportivo para prescrição de recursos ergogênicos segundo a Legislação Nacional
RECURSOS ERGOGÊNICOS
Por definição, o termo ergogênese abarca o prefixo "ergo" (proveniente do grego ergon, com significado de trabalho, emprego ou labor) e o sufixo "gênese" (que exprime ideia de desenvolvimento, síntese, produção ou origem).
Na conjuntura esportiva, ergogênese pode ser atribuído como uma técnica ou substância utilizada com propósito de aprimorar o rendimento atlético, melhorando valências esportivas como velocidade, potência, força, resistência ou hipertrofia muscular.
ATENÇÃO
Nem todo agente ergogênico pode ser considerado seguro, lícito, justificado, legítimo ou legal. Existem suplementos nutricionais, concentrados fitoterápicos, drogas e fármacos que podem apresentar potenciais danos à saúde humana e/ou vantagens esportivas ilegais, tais como hormônios anabolizantes esteroides e infusão sanguínea.
Nesse contexto, suplementos nutricionais podem, por vezes, ser tratados erroneamente como sinônimo de recursos ergogênicos, uma vez que nem todos geram melhores condições de desempenho humano metrificáveis ou asseguradas pela literatura. Antes do interesse prescricional de suplementos nutricionais no esporte, é necessário compreender se o recurso será, de fato, ergogênico ou estratégico em suas finalidades.
Outro ponto importante reside no fato de que diversos recursos podem ser classificados como ergogênicos, mesmo não tendo classificação de componente nutricional, como, por exemplo: os recursos ergogênicos farmacológicos, psicológicos, fisiológicos e mecânicos.
AGENTES ERGOGÊNICOS MECÂNICOS
Qualquer tipo de equipamento ou ferramenta utilizada durante o exercício com a finalidade de melhorar valências esportivas pode ser considerado como agente ergogênico mecânico.
O uso de roupas de neoprene entre nadadores e surfistas, bastões de apoio para modalidades na neve, sapatilhas entre velocistas e luvas entre levantadores de peso são alguns dos vários exemplos de auxílio esportivo através de vestimentas ou materiais usados no exercício físico.
É muito comum observar, por exemplo, melhoria de performance esportiva entre corredores que utilizam roupas de compreensão no esporte. Isso porque esse tipo de vestimenta reduz consideravelmente o nível de oscilação do deslocamento muscular em altas velocidades ou no movimento de explosão.
AGENTES ERGOGÊNICOS FARMACOLÓGICOS
O aumento do nível de exigência competitiva em esportes de elite costumeiramente leva atletas a buscar quaisquer meios de melhorar seu rendimento e sobressair aos seus adversários. Nesse sentido, o consumo de fármacos e drogas lícitas ou ilícitas cresce consideravelmente no intuito de ergogenia.
Dentre esses ativos químicos, os mais usados são:
HORMÔNIOS ESTEROIDES ANDROGÊNICOS ANABOLIZANTES
HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH)
ANFETAMINAS
ERITROPOIETINA (EPO)
Adicionalmente, a procura por ergogênicos farmacológicos não é limitada (e crescente) apenas em atletas profissionais: praticantes de atividades físicas de diferentes faixas etárias fazem parte de uma grande fatia do mercado de uma indústria que já é considerada multimilionária.
VOCÊ SABIA
Em um estudo realizado com 117 pessoas, entre estudantes e professores de Educação Física, em uma amostragem de 43 academias de Belém/PA, foi constatado que aproximadamente 70% dos indivíduos buscaram deliberadamente adquirir e consumir um ou mais hormônios anabolizantes. Nesse estudo, conduzido por Abrahin et al. (2013), entre os participantes que confirmaram fazer uso de anabolizantes androgênicos, as maiores justificativas foram condições dissociadas do esporte, como intuito estético (76%) e/ou finalidades de marketing profissional pessoal (24%).
AGENTES ERGOGÊNICOS PSICOLÓGICOS
A sensação de bem-estar pessoal, em uma condição confortável e motivadora, pode ampliar a capacidade atlética em indivíduos engajados em esporte. Alguns fatores psicológicos parecem melhorar consistentemente o resultado esportivo, tais como a realização de treinos com estímulos sonoros ou competir em ambientes agradáveis (como equipes de esportes coletivos que participam de partidas sob seus domínios locais).
OUVIR MÚSICA TEM SIDO UMA ESTRATÉGIA ERGOGÊNICA PSICOLÓGICA EFICAZ PARA REDUZIR A PERCEPÇÃO DA FADIGA.
Além disso, o indivíduo tenta sincronizar seus movimentos ao ritmo da música e, dessa forma, associa as batidas por minuto da canção com sua velocidade, especialmente, em exercícios de ciclismo e corrida.
AGENTES ERGOGÊNICOS FISIOLÓGICOS
A adaptação ou os métodos de treinamento no esporte são considerados recursos ergogênicos fisiológicos, uma vez que a padronização de séries individualizadas e a execução de exercícios em ambientes diversos − com variações de temperatura, umidade relativa do ar e altitude − geram mudanças fisiológicas nos sistemas corporais, destacadamente nos sistemas muscular e cardiovascular.
A adaptação fisiológica induzida por condições ambientais é denominada de aclimatação. Em suma, a aclimatação gera mudanças positivas que acabam melhorando o desempenho físico em médio prazo e preservando mais o desgaste corporal inerente ao esporte, destacando-se:
 Redução da frequência cardíaca submáxima.
 Melhor controle da sudorese e da atividade hipotalâmica da temperatura central corporal.
 Aumento do volume plasmático.
 Diminuição da excreção eletrolítica, especialmente, do sódio.
 Menor fluxo sanguíneo cutâneo.
 Aumento da síntese de proteínas de choque térmico, fundamentais para responder frente ao estresse fisiológico.
A aclimatação, portanto, aperfeiçoa condições fisiológicas relacionadas ao treinamento, permitindo que o indivíduo tenha melhor desempenho atlético por limitar o excesso de atividade termorregulatória, respiratória, metabólica, cardíaca e musculoesquelética.
EXEMPLO
Quando indivíduosbuscam altitudes consideradas relativamente acima do nível do mar para treinar (a partir de 500m), a característica atmosférica de menor concentração de oxigênio disponível induz modificações hematológicas, como maior síntese de eritropoietina e hemoglobina. Isso resulta, segundo Lancaster & Smart (2012), em melhor capacidade aeróbica, consistindo em uma condição esportiva peculiar comumente denominada de live low-train high (do inglês, "treine em altas e viva em baixas altitudes").
Outro bom exemplo pode ser observado na aclimatação de atletas em locais de temperaturas elevadas. Após dias de aclimatação em ambientes quentes, são notáveis as melhorias no metabolismo energético, na resistência à fadiga, na capacidade circulatória e no remodelamento da fibra muscular. A Imagem 1 ilustra como a exposição repetida ao calor pode aumentar a amplitude do pico de potência na contração muscular após período adaptativo.
Imagem 1: Aumento do pico do torque de contração do músculo plantar da região posterior da perna de atletas após aclimatação ao calor.
Assim como a aclimatação, a periodização monitorada, programada e personalizada de treinamentos pode ser agregada ao contexto de ergogênese esportiva fisiológica, pois incita alterações importantes tanto no sistema musculoesquelético como em diversos outros tecidos.
EXEMPLO
A execução de treinos de resistência muscular acarreta, dentre outras modificações, no aumento do volume e da força de massa muscular esquelética, além do aumento do consumo de oxigênio e do gasto energético em repouso.
AGENTES ERGOGÊNICOS NUTRICIONAIS
Usualmente, os agentes ergogênicos nutricionais são denominados de suplementos nutricionais ou alimentares, e podem ser segmentados em diferentes classes, geralmente tipificadas de acordo com sua estrutura e origem. A Quadro 1 apresenta os principais tipos de suplementos nutricionais consumidos por indivíduos esportistas, apresentando exemplos e suas proposições:
	Tipo de suplemento
	Exemplo de composto
	Suposto benefício
	Carboidratos
	Maltodextrina
	Oferta de carboidratos com intuito de contribuição de preparação ou reposição de glicogênio muscular ou manutenção de glicemia durante exercício.
	Proteínas
	Ovoalbumina
	Oferta de aminoácidos de alto valor biológico no pool plasmático para reparação do dano muscular e funções plásticas de síntese proteica muscular.
	Lipídios
	Triglicerídeos de cadeia média
	Oferta energética substituta de lipídios de cadeia longa, com propósito de melhor digestibilidade e efeito termogênico.
	Peptídeos
	L-carnosina
	Prevenção e retardo de fadiga periférica por acidez muscular precoce.
	Aminoácidos
	L-glutamina
	Melhora da função imune.
	Metabólitos
	β-hidroxi-β-metilbutirato (HMB)
	Estímulo à síntese proteica muscular.
	Alcaloides
	Cafeína
	Aumento do estado de alerta e atividade lipolítica.
	Tamponantes
	Bicarbonato de sódio
	Prevenção e retardo de fadiga periférica por acidez muscular precoce.
	Vitaminas
	Vitamina C
	Coadjuvante na absorção de nutrientes e agente de recuperação imune e antioxidante.
	Minerais
	Magnésio
	Melhoria do controle e da capacidade contrátil muscular e cardíaca. Aumento da capacidade antioxidante.
Quadro 1: Principais classes de suplementos nutricionais com finalidades de desempenho esportivo, com respectivos exemplos e expectativa de ação no organismo humano.
Adaptado de: COSTA, A.; ROSADO, E.; LOPES, M., 2012.
Não obstante, a classificação de suplementos nutricionais esportivos pode ser de difícil organização, uma vez que diversas classes de nutrientes podem ser combinadas e denominadas de acordo com a função atribuída ao conjunto, tais como:
TERMOGÊNICOS E ESTIMULANTES
Podem ser compostos isolados ou combinados de cafeína com outros alcaloides, como sinefrina, por exemplo.
PRÉ-TREINOS
Combinados de estimulantes, tamponantes, aminoácidos e peptídeos para excitar o sistema neural e disponibilizar recursos energéticos, aminoacídicos e vasodilatadores previamente ao exercício.
RECUPERADORES
Combinados de proteínas e carboidratos para facilitar a recuperação nutricional esportiva plena, em especial a ressíntese proteica, a reparação de fluidos, o ajuste antioxidante e a regeneração de estoques de glicogênio muscular.
HIPERCALÓRICOS, REPOSITORES ENERGÉTICOS E SUBSTITUTOS DE REFEIÇÕES
Combinados de macronutrientes para maior oferta energética para ganho de peso ou atendimento a altas demandas energéticas esportivas.
Para que nutricionistas e médicos tenham predisposição em orientar o consumo de suplementos nutricionais, alguns critérios de análise devem ser levados em consideração. O Quadro 2 elenca os principais fundamentos que devem ser considerados para eventual prescrição ou descarte dos suplementos nutricionais.
	Densidade energética
	Oferta quando não for possível atingir a demanda energética exclusivamente através do consumo alimentar.
	Impacto em necessidades nutricionais
	Deficiências, insuficiências ou aumento da demanda de algum nutriente ou ativo específico induzido pelo exercício e incapaz de ser oferecido adequadamente por matrizes alimentares.
	Timing
	Necessidade de oferta de nutrientes em curto espaço de tempo no preparo, na continuidade ou na recuperação do exercício
	Praticidade
	A execução, o preparo, o deslocamento ou a qualidade de refeições dietéticas pode estar aquém das necessidades do indivíduo.
	Ergogênese e eficácia
	Premissa de melhoria de rendimento esportivo mensurável e cientificamente validada
	Qualidade e segurança
	O isolamento de determinado ativo pode ser mais seguro para o indivíduo para ingestão (intratreino, na maioria das vezes).
	Custo x benefício
	Mais vantajoso financeira ou estrategicamente substituir refeições.
Quadro 2: Principais critérios consideráveis para prescrição qualitativa e acompanhamento da suplementação nutricional esportiva.
Adaptado de: Maughan et al. (2018)
PERFIL DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS NO PAÍS
A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) encomendou um estudo, em 2015, entrevistando 1007 pessoas com mais de 17 anos de idade. Esse estudo demonstrou, entre diversos dados, que 53% dos brasileiros consomem algum tipo de suplemento nutricional, com destaque para a busca de concentrados de ácidos graxos poli-insaturados Ômega 3 (na forma de óleo de peixe em cápsula), aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA, do inglês Branched-Chain Amino Acids), cálcio, óleo de fígado de bacalhau, goji berry, whey protein, polivitamínicos, fibras e probióticos. Essa mesma pesquisa ainda apresenta outros dados bastante elucidativos sobre perfil de aquisição, orientação e busca de suplementos no país, como, por exemplo:
SOBRE A INDICAÇÃO
60% dos entrevistados que consomem suplementos relataram que foram orientados por profissionais de saúde. Destes, 29% eram médicos, 16% eram profissionais de Educação Física, 8% eram farmacêuticos e somente 7% eram nutricionistas.
AS PRINCIPAIS RAZÕES
dentre os consumidores de suplementos, 86% buscaram produtos para benefícios à saúde, 57% com propósito de melhoria de desempenho físico e 45% para finalidade exclusivamente estética, especialmente para ganho de tecido muscular e/ou redução de massa gorda absoluta.
Em 2020, a própria ABIAD encomendou pesquisa para atualizar a ingestão dos suplementos alimentares durante a pandemia do coronavírus (SARS-CoV2 ou COVID-19) no país. Dentre diversas constatações, notou-se que:
59% dos domicílios no Brasil possuem ao menos um tipo de suplemento alimentar.
48% dos consumidores de suplementos aumentaram sua ingestão durante a pandemia, visando principalmente melhora de imunidade (91%).
70% dos indivíduos que passaram a ingerir suplementos durante a pandemia pretendem continuar ingerindo definitivamente os novos produtos.
A grande variedade de suplementos nutricionais disponíveis no mercado − segmentados em tipificação estrutural ou função proposta −, na maioria das vezes, falha significativamente em entregar suas prerrogativas de ingestão. Os motivos para isso são diversos: qualidade do produto,eficácia do princípio ativo, adoção de protocolos de consumo ou até mesmo devido a problemas de contaminação ou manipulação.
Nesse sentido, o Ministério da Saúde brasileiro procura acompanhar os principais critérios técnico-científicos e as normas de segurança através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no interesse de permitir ou vedar a veiculação de suplementos nutricionais com ações que visam benefícios à saúde ou o rendimento atlético.
LEGISLAÇÃO DE SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS
No mundo, algumas instituições são responsáveis por determinar regras para que as legislações vigentes estabeleçam o grau de segurança do consumo de suplementos nutricionais.
A Anvisa é o órgão regulador e centralizador de resoluções, portarias e decretos que determinam a legalidade de veiculação e prescrição de recursos ergogênicos, incluindo suplementos alimentares, princípios ativos e outros constituintes, através de produtos comercializados pelo mercado brasileiro.
Muitas das decisões da Anvisa referentes ao espectro de suplementos nutricionais esportivos consideram pareceres técnico-científicos publicados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), pela Agência Mundial Antidoping (Worldwide Anti-Doping Agency − WADA), pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBME) e pela American College of Sports Medicine (ACSM).
Cronologicamente, a legislação brasileira que regula suplementos nutricionais, em geral, publicou as seguintes portarias e resoluções especiais:
1998
Portaria no 32/98: Regulamento técnico para suplementos vitamínicos e/ou minerais.
1999
Resolução no 16/99: Regulamento técnico para novos alimentos, determinando produtos como óleo de cártamo e óleo de prímula.
Resolução no 18/99: Regulamento técnico para alimentos com alegações de propriedades funcionais e/ou de saúde, determinando produtos como óleo de peixe e carotenoides (licopeno, luteína e zeaxantina).
2010
Resolução no 18/10: Regulamento técnico para alimentos para atletas, regulando potenciais recursos ergogênicos.
2018
Resolução no 243/18: Dispõe sobre requisitos para composição, qualidade, segurança e rotulagem dos suplementos alimentares e para atualização das listas de nutrientes, substâncias bioativas, enzimas e probióticos, de limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar desses produtos.
2020
Instrução Normativa no 76/20: Dispõe sobre a atualização das listas de constituintes, limites de uso, alegações e rotulagem complementar dos suplementos alimentares.
SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS PARA ATLETAS
A resolução RDC no 18, de 27 de abril de 2010, dispõe sobre regulamento técnico aprovado denominado “Alimento para atletas”, tipificando os seguintes itens subclassificáveis:
HIDROELETROLÍTICOS
O termo hidroeletrolítico provém da composição hídrica acompanhada de concentrações razoáveis de eletrólitos ou elementos-traços, que nada mais são que micronutrientes que possuem carga elétrica. São, portanto, íons, que, mesmo em baixas concentrações, apresentam potencial funcional significativo. Dentre os principais eletrólitos, emergem: sódio (Na+), potássio (K+), magnésio (Mg2+), fosfato (PO3-) e cloreto (Cl-). Os suplementos hidroeletrolíticos devem também ter conteúdo energético exclusivamente proveniente de fontes de carboidratos que não sejam à base de amido ou poliois. A Tabela 1 apresenta os principais pontos obrigatórios para que repositores hidroeletrolíticos sejam considerados adequados pela Anvisa:
	Nutriente
	Recomendação
	Sódio
	Entre 460 e 1150 mg/L.
	Potássio
	Até 700 mg/L.
	Carboidratos
	8% de concentração (massa/volume).
	Proteínas e lipídios
	Sem adição.
	Fibras alimentares
	Sem adição.
	Vitaminas e outros minerais
	Podem ser adicionados.
Tabela 1: Principais requisitos nutricionais para enquadramento de suplementos hidroeletrolíticos para atletas.
Adaptado de: RDC no 18/2010.
ENERGÉTICOS
Os suplementos energéticos devem prover conteúdo nutricional capaz de preparar ou recuperar atletas, à base de macronutrientes, como carboidratos, proteínas e lipídios. A principal premissa reside na condição de reestabelecimento de reservas de glicogênio, hepáticas e musculares, por meio da massiva presença de carboidratos.
Alguns produtos podem ser adicionados de vitaminas, minerais ou outros nutrientes para intensificar as bases reparadoras do treino, como antioxidantes e eletrólitos, por exemplo. É permitido, ainda, acréscimo de proteínas e lipídios para participar tanto do reparo da degradação proteica-muscular quanto incentivar o balanço energético positivo. A Tabela 2 resume as principais condições para designação de suplementos energéticos pela Anvisa:
	Nutriente
	Recomendação
	Energia total
	No mínimo 75% proveniente de carboidratos.
	Carboidratos
	No mínimo 15 g na porção-dose.
	Proteínas e lipídios
	Podem ser adicionados.
	Fibras alimentares
	Sem adição.
	Vitaminas e minerais
	Podem ser adicionados.
Tabela 2: Principais requisitos nutricionais para enquadramento de suplementos energéticos para atletas.
Adaptado de RDC no 18/2010.
PROTEICOS
Os suplementos proteicos para atletas devem procurar atender a demanda de ressíntese de proteínas estimulada pelo exercício físico, aumentando a presença de aminoácidos essenciais na corrente sanguínea. A segurança e a eficiência para veiculação do produto no mercado são determinadas de acordo com o Score químico de Aminoácidos Corrigidos por Digestibilidade Proteica (PDCAAS, em inglês Protein Digestibility Corrected Amino Acids Score). O PDCAAS mede a relação entre o processo digestivo de biodisponibilização de aminoácidos e sua demanda em humanos. A escala varia de 0 a 1, sendo proteínas que se aproximem de PDCAAS valor 1 com melhor grau de qualidade. De acordo com a Anvisa, os suplementos de origem proteica devem ter PDCAAS superiores a 0,9. A Tabela 3 apresenta as principais premissas para esse subgrupo de suplemento.
	Nutriente
	Recomendação
	Energia total
	No mínimo 50% proveniente de proteínas.
	Proteínas
	No mínimo 10g na porção-dose.
	Fibras alimentares
	Sem adição.
	Vitaminas e minerais
	Pode ser adicionado.
Tabela 3: Principais requisitos nutricionais para enquadramento de suplementos proteicos para atletas.
Adaptado de RDC no 18/2010.
SUBSTITUTOS PARCIAIS DE REFEIÇÕES
Também conhecidos como MRS (do inglês, Meal Replacement Supplements), os substitutos de refeições buscam oferecer conteúdos nutricionais que encaixem nas demandas fisiológicas e esportivas de atletas. Esses produtos devem possuir concentrações variadas dos macronutrientes. Vale ressaltar que o conteúdo proteico deve ter valor de PDCAAS acima de 0,9. A Tabela 4 demonstra os principais pontos-chave para determinação de suplementos substitutos parciais de refeições.
	Nutriente
	Recomendação
	Energia total
	Carboidratos de 50 a 70%, proteínas de 13 a 20% e lipídios no máximo 30% do Valor Energético Total (VET), sendo a soma dos macronutrientes resultante mínima de 300 Kcal na porção-dose.
	Lipídios saturados
	No máximo 10% do VET.
	Lipídios insaturados trans
	No máximo 1% do VET.
	Fibras alimentares
	Pode ser adicionado.
	Vitaminas e minerais
	Pode ser adicionado.
Tabela 4: Principais requisitos nutricionais para enquadramento de suplementos substitutos parciais de refeições para atletas.
Adaptado de: RDC no 18/2010.
CREATINA
A creatina é um tipo de aminoácido bastante distinto dos aminoácidos essenciais e dos biológicos. Isso porque sua síntese é feita a partir de aminoácidos que fazem parte do ciclo da ureia, principalmente. Sua característica mais importante é sua capacidade de combinação com o fosfato presente na biomolécula energética de adenosina trifosfato (ATP) para formação de composto fosfocreatina (PCr), que serve como substrato energético imediato para esportes de explosão muscular, geralmente muito intensos e de curta duração. Embora existam várias maneiras de apresentação química da creatina, a Anvisa determina que a veiculação seja especificamente para forma de alta pureza mono-hidratada. A Tabela 5 elenca os fatores necessários para comercializaçãodo produto.
	Nutriente
	Recomendação
	Creatina
	De 1,5 a 3,0g na porção-dose.
	Carboidratos
	Podem ser adicionados.
	Fibras alimentares
	Sem adição.
Tabela 5: Principais requisitos nutricionais para enquadramento de suplementos de creatina para atletas.
Adaptado de: RDC no 18/2010.
CAFEÍNA
O consumo de cafeína por vezes é escolhido por atletas em virtude de sua capacidade estimulante, que pode resultar, quando bem controlada, em benefícios esportivos consideráveis, como: aumento do grau de lipólise, melhora do estado de alerta e excitabilidade contrátil musculoesquelética. No Brasil, a Anvisa determina que a forma química de venda do produto seja composta de, no mínimo, 98,5% de 1,3,7-trimetilxantina de sua base anidra. A Tabela 6 lista as condições preconizadas pela Anvisa.
	Nutriente
	Recomendação
	Cafeína
	De 210 a 420 mg na porção-dose.
	Macronutrientes
	Sem adição.
	Fibras alimentares
	Sem adição.
Tabela 6: Principais requisitos nutricionais para enquadramento de suplementos de cafeína para atletas.
Adaptado de RDC no 18/2010.
 Demais suplementos e comentários gerais
De acordo com o artigo 12º, capítulo IV, da RDC no 18/2010, que confere requisitos específicos, outros compostos somente têm autorização da Anvisa desde que haja segurança, por regulamentação técnica específica, e eficácia de sua ação ou finalidade com bases sólidas na literatura científica competente.
Nesse sentido, um dos principais cuidados na análise e na permissibilidade de produtos aprovados e liberados pela Anvisa leva em consideração os critérios rígidos de controle de substâncias ilícitas para prática esportiva estabelecidos pela Agência Mundial Antidoping (WADA). Anualmente, a WADA atualiza a lista de substâncias proibidas para prática esportiva, em especial de modalidades consideradas olímpicas, e serve como referência técnica para agências reguladoras de produtos com finalidades esportivas por todo mundo.
CRITÉRIOS DE EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS PARA SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS
Recomenda-se sempre buscar ou compreender o nível de evidência e o grau de recomendação de suplementos nutricionais baseados em investigações científicas amplas e minuciosas. Para tal, é possível seguir orientações do posicionamento consensual do Comitê Olímpico Internacional (COI) ou as diretrizes da SBME, respectivamente apresentadas na Imagem 2 e na Quadro 3.
Imagem 2: Nível de evidência de acordo com o COI para critérios de prescrição e boas práticas de suplementos nutricionais. Do topo para a base, o nível científico decresce.
	Nível de evidência
	Nível 1
	Evidência baseada em muitos estudos randomizados, controlados, amplos, concordantes e com poder estatístico adequado; preferencialmente com revisão sistemática conclusiva.
	Nível 2
	Evidência baseada em poucos estudos randomizados, controlados, concordantes e de médio porte ou metanálises de vários estudos dessa natureza, pequenos ou de médio porte.
	Nível 3
	Evidência baseada em poucos estudos randomizados, controlados e de ótima qualidade.
	Nível 4
	Evidência baseada em mais de um estudo de coorte, de ótima qualidade.
	Nível 5
	Evidência baseada em mais de um estudo caso-controle, de qualidade.
	Nível 6
	Evidência baseada em mais de uma série de casos de alta qualidade. Inclui registros.
	Nível 7
	Evidência baseada apenas em: extrapolações de resultados coletados para outros propósitos (testar outras hipóteses); conjecturas racionais, experimentos com animais ou baseados em modelos mecanísticos de fisiopatologia e/ou mecanismos de ação; conduta antiga baseada em prática comum; opiniões sem referência a estudos anteriores.
	Grau de recomendação
	Grau A
	Sempre usar. Recomendação conclusiva, sendo adotada por unanimidade; conduta conclusivamente útil e segura; eficácia e segurança comprovadas. Quase sempre se requer níveis de evidência 1 ou 2 para que esse grau de recomendação seja adotado.
	Grau B
	Deve ser geralmente indicada. Recomendação considerada aceitável, mas com ressalvas; conduta aceitável e segura; grande potencial de utilidade, mas ainda sem comprovação conclusiva, com nível de evidência menos sólido.
	Grau C
	Fica a critério pessoal. Recomendação indefinida; conduta a respeito da qual não há evidência segura, a favor ou contra, quanto à eficácia e a segurança.
	Grau D
	Em geral, não se deve usar. Conduta não recomendada, embora possa em algum contexto excepcional ser adotada, tratando-se de opção muito fraca; evidência mínima de eficácia e segurança, embora se vislumbre algum potencial de utilidade em algumas circunstâncias.
	Grau E
	Nunca usar. Não recomendada por unanimidade.
Quadro 3: Nível de evidência e grau de recomendação das diretrizes da SBME para critérios de prescrição e boas práticas de suplementos nutricionais.
Adaptado de: SBME (2009).
PRESCRIÇÃO DIETÉTICA DE SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS POR NUTRICIONISTAS
Especificamente para nutricionistas, a Lei no 8.234/1991, que regulamenta a profissão, em seu artigo 4o e inciso VII, permite que suplementos nutricionais possam ser prescritos para contemplar o planejamento dietético. Essa lei deve seguir o regulamento atualizado pela Resolução no 656/2020, do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN). A prescrição de suplementos por nutricionistas pode incluir: nutrientes, substâncias bioativas, enzimas, prebióticos, probióticos, produtos apícolas (como mel, própolis, geleia real e pólen), novos alimentos e novos ingredientes e outros autorizados pela Anvisa para comercialização − isolados ou combinados −, bem como medicamentos isentos de prescrição à base de vitaminas e/ou minerais e/ou aminoácidos e/ou proteínas isolados ou associados entre si. Outros pontos dessa resolução devem ser destacados:
A via de ingestão de suplementos deve ser exclusivamente oral ou enteral. É excludente a veiculação de nutrientes através de via parenteral, intramuscular, anorretal ou qualquer outro método invasivo.
O profissional deve adotar critérios objetivos e/ou subjetivos baseados em estratégias científicas de avaliação e triagem nutricional, no intuito de determinar carências, insuficiências ou riscos nutricionais que possam ser reestabelecidos como métodos protocolares de prescrição suplementar dietética.
Deve-se procurar ajustar a concentração dos nutrientes dentro dos limites máximos (UL, do inglês Upper Limits) estabelecidos pelas revisões de consumos dietéticos de referência, como a DRI (do inglês Dietary Reference Intake) de 2002. Exceção feita somente caso haja respaldo científico pujante com elevado grau de evidência e nível de segurança.
DOPING ESPORTIVO
Como abordado anteriormente, a WADA consiste na principal instituição reguladora e pesquisadora de substâncias potencialmente danosas ou ética e disciplinarmente questionáveis para prática esportiva e, por vezes, para saúde humana.
O termo doping vem do inglês dope, que significa entorpecente, droga ou narcótico. Portanto, a dopagem consiste na ação de utilização deliberada ou não de substâncias, por vezes não naturais ao corpo, para ergogênese direta ou indireta.
A WADA trabalha em parceria com diversas outras agências controladoras no esporte, em destaque para o COI e a Agência Norte-americana Antidoping (USADA). Esta última monitora intimamente as competições nos Estados Unidos, dando suporte mais intenso nos últimos anos para eventos de Artes Marciais Mistas (MMA, do inglês Mixed Martial Arts), com destaque para o Ultimate Fighting Championship (UFC). O COI, por sua vez, busca administrar as modalidades olímpicas, principalmente no período de Jogos Olímpicos Mundiais.
A WADA busca, ano após ano, atualizar sua lista de substâncias proibidas, bem como aumentar a rigidez na análise e no diagnóstico laboratorial dos testes realizados em atletas de elite. Nas publicações anuais da WADA, constam também detalhamento de eventuais autorizações/permissões de ingestão de substâncias proibidas. Para tal, é necessário verificar os formulários de autorização denominados de Isenção de Uso Terapêutico (TUE, do inglês Therapeutic Use Exemption), geralmente acompanhados deregistros profissionais de médicos justificados por questões de saúde.
ATENÇÃO
É comum que alguns atletas façam ingestão de produtos aparentemente seguros, mas que podem apresentar algum tipo de contaminação ilícita. O rol de substâncias proibidas pode ser classificado de acordo com a sazonalidade (dentro ou fora de competições), especificidade ou dependência química (substâncias de abuso, como drogas sociais).
Para organização da grande quantidade de substâncias proibidas, a WADA organiza os agentes em classes, geralmente, com códigos que determinem por letras e números se são substâncias ilícitas (S); métodos (M); ou substâncias proibidas em determinados esportes (P), segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (2009).
Substâncias ilícitas e proibidas dentro ou fora de competições:
S1. AGENTES ANABÓLICOS
Esteroides Androgênicos Anabolizantes (EAA) exógenos ou endógenos ou outros agentes anabolizantes, como clembuterol, moduladores receptivos de receptores androgênicos (SARMs, do inglês Selective Androgenic Receptors Modulators), tibolona, zeranol e zilpaterol.
S2. HORMÔNIOS, SUBSTÂNCIAS AFINS E SEUS FATORES DE LIBERAÇÃO
Eritropoietina (EPO), hormônio do crescimento humano (HGH), fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), fatores de crescimento mecânicos (MGFs), gonadotrofinas (como hormônio luteinizante e hormônio coriônico gonadotrófico, proibidas somente em homens), insulinas, corticotrofinas e outras substâncias com estrutura química similar ou efeito biológico(s) similar(es).
S3. BETA-2-AGONISTAS
Todos os beta-2-agonistas, tanto isômeros D- como L-, são proibidos.
S4. AGENTES COM ATIVIDADE ANTIESTROGÊNICA
Inibidores da aromatase (tais como: anastrozola, letrozola, aminoglutetimida, exemestano, formestano e testolactona), moduladores de receptor seletivo a estrógenos (SERMs, do inglês Selective Estrogen Recpetors Modulators), outras substâncias antiestrogênicas (como, por exemplo, clomifeno, ciclofenila e fulvestranto) e agentes modificadores da função(ões) da miostatina.
S5. DIURÉTICOS E OUTROS AGENTES MASCARANTES
Diuréticos, epitestosterona, probenecida, inibidores da alfa redutase (como finasterida e adutasterida), expansores de plasma (como albumina, dextran e hidroxietilamido) e outras substâncias com efeito(s) biológico(s) similar(es).
MÉTODOS PROIBIDOS
M1. AUMENTO DO CARREAMENTO DE OXIGÊNIO
a) Doping sanguíneo, incluindo o uso de sangue autólogo, homólogo ou heterólogo, ou de produtos contendo glóbulos vermelhos de qualquer origem.
b) Aumento artificial da captação, do transporte ou do aporte de oxigênio, tais como perfluoroquímicos, efaproxiral (RSR 13) e produtos à base de hemoglobina modificada (como substitutos de sangue com base em hemoglobina e produtos com hemoglobina microencapsulada).
M2. MANIPULAÇÃO QUÍMICA E FÍSICA
a) Manipular ou tentar manipular, visando alterar a integridade e a validade das amostras coletadas no controle de dopagem, como, dentre outras possibilidades, a substituição e/ou alteração da urina.
b) Infusões intravenosas são proibidas. Em caso de emergência médica em que o método for necessário, isenção de uso terapêutico retroativa será necessária.
M3. DOPING GENÉTICO
É proibido o uso não terapêutico de células, genes, elementos genéticos ou a modulação da expressão genética que tenham a capacidade de aumentar o desempenho do atleta.
SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROIBIDOS EM COMPETIÇÃO
Adicionalmente, as substâncias de S1 a S5 e os métodos de M1 a M3, nos períodos competitivos, adicionam-se à lista proibida:
S6. ESTIMULANTES
Todos os estimulantes são proibidos, incluindo seus isômeros óticos (D- e L-), quando relevantes, exceto derivados de imidazol para uso tópico e aqueles estimulantes incluídos no programa de monitoramento de 2008.
S7. NARCÓTICOS
Buprenorfina, dextromoramida, diamorfina (heroína), fentanil e seus derivados, hidromorfona, metadona, morfina, oxicodona, oximorfona, pentazocina e petidina.
S8. CANABINOIDES
Canabinoides (haxixe e maconha, por exemplo).
S9. GLICOCORTICOSTEROIDES
Todos os glicocorticosteroides são proibidos quando administrados por via oral, retal, intramuscular ou endovenosa. Seu uso terapêutico requer a aprovação de uma TUE.
P1. ÁLCOOL
O etanol é proibido, seguindo controle de limite séricos, apenas nas competições de: Aeronáutica, arco e flecha, automobilismo, boliche, lancha de potência, karatê, motociclismo e pentatlo moderno (em tiro).
P2. BETABLOQUEADORES
Proibido nas seguintes competições: Aeronáutica, arco e flecha (incluindo fora da competição), automobilismo, bilhar, bobsledge (trenó de velocidade), boliche (incluindo boliche com 9 pinos), curling (nos Jogos de Inverno, com pedras de granito no gelo), esqui/snowboarding (salto com esqui e estio livre em snowboard), ginástica, lancha de potência, lutas, motociclismo, pentatlo moderno (para disciplinas envolvendo tiro), tiro (também fora da competição) e vela (exclusivamente para match race).
OS RISCOS DO USO DE ANABOLIZANTES EM ATLETAS E PRATICANTES DE ATIVIDADE FÍSICA
O especialista Daniel Ronaldo Chreem fala sobre os riscos à saúde do uso de anabolizantes em atletas e praticantes de atividade física.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Identificar suplementos nutricionais de origem proteica com fins ergogênicos
TURNOVER PROTEICO E DEMANDA NUTRICIONAL DO EXERCÍCIO
O treino esportivo gera, fisiologicamente, microdanos na fibra muscular, por razões mecânicas, oxidativas e até mesmo metabólicas. Dá-se o nome de turnover proteico à relação entre a degradação de proteínas durante o exercício e a indução à síntese proteica posterior. Destacam-se os principais agentes causadores da proteólise muscular durante e após o exercício de forma concomitante:
LESÕES MECÂNICAS
Dano mecânico. Intensidade e volume do treino:
Interação natural entre as proteínas sarcoméricas (como actina e miosina) para suporte da contração muscular, gerando ruptura da microestrutura da miofibrila.
LESÕES OXIDATIVAS
Dano oxidativo. Radicais livres:
Aumento das Espécies Reativas de Oxigênio e Nitrogênio (ERON) por incremento no consumo de oxigênio durante o exercício.
As ERON geram lipoperoxidação das membranas e de outros conteúdos da fibra muscular, resultando em microdanos.
LESÕES METABÓLICAS
Dano metabólico. Adrenalina e cortisol:
Para auxílio no suprimento energético, mesmo que significativamente diminuto, há estímulo para proteólise de tecido magro durante o exercício, para maior oferta de aminoácidos no plasma sanguíneo.
O controle desse processo ocorre através do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. O córtex adrenal é capaz de produzir hormônios adrenalina e cortisol, que são significativamente catabolizantes, para colaboração energética e neoglicêmica.
As lesões microscópicas, inerentes ao exercício, liberam proteínas, antes intramusculares, em direção à corrente sanguínea − tais como creatino kinase (CK) e lactato desidrogenase (LDH), que servem como biomarcadores da extensão das injúrias da célula muscular frente ao exercício. Esse fenômeno é acompanhado da liberação de hormônios eicosanoides, em especial de prostaglandinas tipo E2 (PGE2), que têm grande importância na indução à quimiotaxia. Esta, por sua vez, acarreta processo de resposta inflamatória por citocinas liberadas por células de defesa.
É justamente esse mecanismo da relação de dano até a indução ao feedback pró-inflamatório que permite que os conteúdos do tecido muscular sejam remodelados, tanto para sua própria reparação quanto para maior estímulo à síntese proteica muscular. Essas modificações, quando controladas em sua magnitude, são capazes de gerar as adaptações fisiológicas desejadas pela prática esportiva, como aumento da resistência e hipertrofia muscular, por exemplo.
QUIMIOTAXIA
É um processo de migração das células em direção a um gradiente químico, podendo ser de forma negativa ao gradiente, por exemplo, as células se movem em sentido oposto de uma substância e positiva as células se movem em direção a um gradiente químico.
ATENÇÃO
A atividade física demanda ingestão de conteúdos proteicos maioresdo que para indivíduos sedentários, de qualquer faixa etária, justamente para atender ao turnover de proteínas.
Em média, as recomendações para consumo de proteínas entre esportistas adultos seguem a seguinte orientação, segundo a American College of Sports Medicine (2016):
EXERCÍCIOS DE ENDURANCE
1,2 a 1,6g de proteínas por kg de peso ao dia.
EXERCÍCIOS DE FORÇA, POTÊNCIA OU HIPERTROFIA
1,4 a 2,0g de proteínas por kg de peso ao dia.
FISICULTURISTAS
na fase de bulking, 1,4 a 2,0g de proteínas por kg de peso ao dia.
na fase de cutting, 2,0 até 3,1g de proteínas por kg de peso ao dia.
SÍNTESE PROTEICA E HIPERTROFIA MUSCULAR
Por vezes, é natural observar confusão entre os processos de síntese proteica muscular (SPM) e de hipertrofia muscular. Entenda as diferenças abaixo:
SÍNTESE PROTEICA MUSCULAR (SPM)
Aumento da construção de proteínas estruturantes da fibra muscular que participam de uma série de funções e atividades, como na formação de energia aeróbica (caso de proteínas mitocondriais) ou na contração muscular (caso de proteínas miofibrilares).
HIPERTROFIA MUSCULAR
É um resultado do aumento do volume muscular considerando o tamanho adquirido pelas fibras que compõem o tecido. O acréscimo pode ser resultado de maior presença de proteínas, água e até mesmo glicogênio, gerando aumento significativo da célula.
ATENÇÃO
Não há nenhuma relação de dependência ou obrigatoriedade do consumo de suplementos nutricionais para se atingir balanço proteico positivo (BPP), em prol do êxito em quaisquer objetivos esportivos desejados, seja hipertrofia muscular ou outros benefícios de uma síntese proteica significativa (maior atividade aeróbica e anaeróbica, maior resistência à fadiga, maior resistência ao dano, melhor recuperação ao dano etc.).
Para que um indivíduo gere BPP, alguns pontos são relevantes, segundo Phillips (2014):
A SPM é favorecida pela presença de aminoácidos no período pós-prandial (após refeições), acompanhada de treinos de resistência muscular.
O período de recuperação (popularmente chamado de “pós-treino”) compreende melhor timing para ingestão de proteínas ou aminoácidos, por aproveitar a indução à síntese proteica após a proteólise muscular induzida pelo exercício.
Proteínas completas, com todos os aminoácidos essenciais (AAE) e bom conteúdo de leucina, favorecem a SPM.
Alguns componentes são comumente associados a proteínas para melhoria da SPM ou supressão da degradação proteica muscular (DPM), como carboidratos, arginina e glutamina. No entanto, nenhuma dessas associações gera eficácia observável em aumentar SPM, diferentemente da hipertrofia, que pode ser favorecida de uma boa ingestão, em especial, de carboidratos.
Evidências sugerem que dietas hiperproteicas associadas a exercícios de resistência muscular são capazes de gerar BBP, SPM e hipertrofia, mesmo diante de restrição calórica para promoção de perda de peso. Contudo, a extensão da hipertrofia é claramente inferior quando comparada às dietas de balanço energético positivo ou hipercalóricas frente ao exercício resistido.
O treino de resistência, isoladamente, já é capaz de promover o estímulo de SPM, inclusive em condições de jejum. Entretanto, no jejum também é observado aumento da DPM.
A forma como os aminoácidos atingem a corrente sanguínea é irrelevante para o processo de SPM. Ou seja, os aminoácidos que atingem o meio interno através da digestão de alimentos proteicos (como bifes e ovos), das proteínas suplementadas (como whey protein ou ovoalbumina) ou até mesmo por oferta via intravenosa, indicam a mesma magnitude de SPM, em velocidades distintas. Contanto, porém, que tenham o mesmo perfil de aminoácidos.
O estímulo insulinêmico que acompanha ingestão proteica após exercício não é necessariamente estimulante à SPM, mas, provavelmente, supressora da proteólise e da DPM, favorecendo a recuperação do tecido. Em outras palavras, a insulina, como hormônio anabólico que é, cria condições mais adequadas e permissivas para SPM.
Por outro lado, de fato, existem recursos nutricionais que apresentam respostas ergogênicas, contanto que respeitem os critérios de demanda corporal frente ao consumo dietético do indivíduo, além de outros fatores pré-requisitantes. Nesse sentido, a eficácia de suplementos nutricionais proteicos está íntima e dependentemente ligada à composição proteica dietética e à demanda de SPM do exercício físico.
Alguns dos suplementos dietéticos que apresentam bom nível de evidência na literatura, como proteínas de alto valor biológico e creatina monohidratada, devem estar condizentes às condições de treinamento, dieta e composição corporal do indivíduo, segundo Phillips (2014).
SUPLEMENTAÇÃO DE PROTEÍNAS E DERIVADOS NO ESPORTE
Os anseios esportivos, estéticos e de busca de bem-estar nutrem o interesse de indivíduos em suplementos nutricionais, por conta das agressivas estratégias de marketing impostas pelo mercado. Entretanto, com a aplicação dos critérios prescricionais mais indicados, é possível saber fazer uso dos recursos ergogênicos disponíveis. Dentre os principais suplementos adquiridos, destacam-se os produtos de origem ou derivação proteica, como proteínas hidrolisadas, peptídeos, aminoácidos e metabólitos.
Proteínas
Os suplementos de proteínas disponíveis pela indústria podem auxiliar praticantes de exercícios físicos a compor seu planejamento dietético, no intuito de gerar tanto BPP quando balanço nitrogenado positivo (BNP) para ajuste da SPM. Nesse quesito, é fundamental que as proteínas ingeridas sejam consideradas de alto valor biológico/completas, ou seja, contendo todos os AAE (aminoácidos essenciais). Os AAE são aqueles aminoácidos que são incapazes de serem sintetizados pelo corpo, sendo dependentes da ingestão alimentar para sua biodisponibilidade. De acordo com Church et al. (2020), são eles:
TREONINA
METIONINA
VALINA
LEUCINA
ISOLEUCINA
FENILALANINA
TRIPTOFANO
TIROSINA
HISTIDINA
A Quadro 4 segmenta as proteínas completas mais utilizadas como suplementos nutricionais, apresentando velocidade de oferta de aminoácidos para corrente sanguínea, por conta de maior ou menor digestibilidade, e sugestão de ingestão.
	Proteína
	Velocidade/Digestibilidade
	Sugestão de ingestão
	Fontes dietéticas
	Proteínas do soro do leite (whey protein)
	Rápida/Elevada
	30 minutos antes e imediatamente após o treino.
	Leites e derivados.
	Ovoalbumina
	Rápida/Elevada
	30 minutos antes e imediatamente após o treino.
	Ovos de galinha brancos ou caipiras.
	Soja
	Intermediária/Média
	Em grandes refeições, pelo menos 2 horas antes ou após o treino.
	Grãos de soja, leite de soja, proteína texturizada da soja.
	Caseína
	Lenta/Baixa
	Desjejuns, ceias ou grandes refeições, afastadas do pré e do pós-exercício.
	Leites e derivados.
	Bife de carne vermelha
	Lenta/Baixa
	Grandes refeições, afastadas em pelo menos 2-3h do exercício.
	Alcatra, patinho, músculo, filé mignon.
Quadro 4: Características de proteínas e aplicações práticas para o esporte.
Adaptado de: Lowery & Antonio (2012).
Dependendo do tipo de proteína ingerida, há impacto na velocidade de presença de aminoácidos no pool plasmático. Essa condição resulta em diferentes tempos de desenvolvimento de SPM e em taxas de síntese fracionadas (FSR, do inglês Fractional Synthesis Rate) de proteínas. Isso ocorre, pois a concentração de aminoácidos do plasma sanguíneo é precursora da presença de aminoácidos intramusculares para SPM. A FSR proteica consiste na taxa na qual uma determinada proteína é incorporada na massa proteica, nesse caso muscular, do corpo.
A imagem 3 apresenta diferença da FSR da SPM após 1h de consumo de três tipos de proteínas hidrolisadas suplementadas (whey protein, caseína e soja), tanto em repouso quanto após o exercício físico de resistência muscular, em 18 homens, divididos por grupo de produto ingerido. Nesse ensaio, é possível observar que:
a) Em repouso, a porcentagem de FSR tanto do whey protein como da soja foram significativamente maiores que o da caseína;
b) Em repouso, a porcentagem de FSR do whey protein foi maior, porém não significativamentesuperior, ao da soja;
c) Após o exercício, todos os três grupos tiveram a porcentagem de FSR maior do que no estado de repouso;
d) Após o exercício, o consumo de whey protein gerou mais rapidamente a porcentagem de FSR que os demais.
Isso demonstra que a digestibilidade da proteína pode resultar em oscilações na velocidade SPM pós-exercício. Todavia, segundo Tang et al. (2009), é fundamental compreender que:
· Não é porque uma proteína gera maior velocidade de SPM que ela necessariamente gera maior SPM que as demais. Conforme já vimos, independentemente do tipo de proteína e forma de oferta, caso essa fonte seja composta de AAE e acompanhada de exercício de resistência muscular, haverá estímulo de SPM na mesma extensão (somente em velocidades diferentes).
· Existem casos nos quais a recuperação da SPM pode ser realizada de forma mais lenta, como no caso de indivíduos que buscam reduzir a massa corporal ou reduzir a atrofia muscular induzida pelo sono ou grandes períodos em jejum.
Imagem 3: Valor % de FSR após 1h de ingestão de cerca de 20 g de suplementos de whey protein, caseína e soja, tanto em repouso quanto após o exercício.
Adaptado de: Ingestion of whey hydrolysate, casein, or soy protein isolate. TANG et al., 2009, p. 990.
A velocidade na qual os AAE chegam à corrente sanguínea está, portanto, intimamente ligada à capacidade digestiva da proteína, seja por sua estrutura (grande ou pequena massa molecular, por exemplo) ou estado de oferta (líquida ou sólida).
A imagem 4 demonstra a relação de tempo e variação das concentrações de AAE de acordo com o tipo de proteína consumida:
Imagem 4: Concentração de AAE após ingestão de whey protein, soja e caseína. É possível observar, em asterisco, que a concentração de AAE após ingestão do whey protein encontra-se significativamente mais elevada de forma mais rápida que os demais.
Adaptada de: Tang et al. (2009, p. 990).
Whey protein
O whey protein (WP) é um termo em inglês para as proteínas encontradas no soro do leite. O conjunto de proteínas do WP pode ser adquirido a partir do isolamento químico das proteínas totais do leite, principalmente de vaca.
A desnaturação da caseína por redução de pH resulta na separação do precipitado da coalhada do leite denso nessa proteína, enquanto o soro translúcido em fase líquida na camada superior da amostra contém diversas proteínas que compreendem o rol de componentes do WP.
A Tabela 7 apresenta os principais constituintes do WP, com suas respectivas características mais relevantes:
	Proteína do soro do leite
	Concentração
	Característica
	β-lactoglobulinas (β-Lg)
	45-57%
	Contém cerca de 25% de aminoácidos de BCAA da amostra total de WP.
	α-lactoalbumina (α-La)
	15-25%
	Contém 6% de triptofano da amostra total de WP, sendo considerada maior fonte dietética desse aminoácido.
	Soroalbumina bovina (BSA)
	10%
	Contém 6% de cistina da amostra total de WP.
	Imunoglobulinas (Ig)
	10-15%
	80% é composta por IgG.
	Outras subfrações proteicas
	< 1%
	Lactoferrina. Atividade antimicrobiana na amostra.
	
	< 1%
	Lactoperoxidade. Atividade antimicrobiana na amostra.
	
	< 1%
	Lisozima. Atividade antimicrobiana na amostra.
	
	10-15%
	Glicomacropeptídeos. Favorece absorção de minerais.
Tabela 7: Composição das proteínas presentes no WP.
Adaptado de: Souza et al. (2012, p. 2).
Uma das principais características marcantes do WP consiste na baixa massa molecular do seu conjunto de proteínas. De acordo com Vasconcelos, Bachur & Aragão (2018), é justamente por essa condição estrutural que a ação de enzimas proteolíticas degrada as ligações peptídicas do WP mais rapidamente, quando comparadas a outras proteínas de peso molecular elevado, como a caseína. Outro detalhe importante reside nas variadas formas de ofertas de suplementos proteicos de WP disponibilizados no mercado.
A Quadro 5 descreve detalhadamente as diferenças entre as os suplementos concentrados, hidrolisados e isolados de WP:
Proteína concentrada
29 a 89% de proteína concentrada de WP acompanhada de carboidratos (como lactose) e lipídios.
Proteína hidrolisada
Proteínas de WP que foram previamente hidrolisadas para melhor digestão e absorção de peptídeos e aminoácidos provenientes do WP. No mercado, os suplementos de WP concentrados e isolados apresentam variação do grau de hidrólise. Quando maior o % de hidrólise, mais digerível e rapidamente absorvível é o produto.
Proteína isolada
A partir de 90% de concentração de proteínas WP. Remoção total ou parcial de carboidratos e lipídios (dependendo do grau de isolamento).
Quadro 5: Características dos suplementos de proteínas concentrados, hidrolisados e isolados.
Adaptado de: INMETRO (2015).
A ingestão de WP pode gerar uma série de benefícios na dieta de indivíduos engajados em esportes ou não. Mas esses efeitos são observados apenas quando a ingestão do suplemento se encontra ajustado à demanda do consumo proteico e energético do indivíduo. Assim, não existe uma dose de recomendação diária para o WP, pois o acréscimo dietético depende, obrigatoriamente, da organização do plano alimentar.
ATENÇÃO
É fundamental se atentar também ao consumo de proteínas por refeição. Em média, o consumo de 20 a 40g de proteínas de alto valor biológico costuma manter constante a oferta de AAE na corrente sanguínea para atender a SPM, sem necessariamente aumentar a ureagênese ou outras escórias nitrogenadas com potencial dano aos tecidos renais e hepático.
Além da capacidade de oferta qualitativa de perfil de aminoácidos de forma ágil para SPM, o WP parece apresentar boa atividade do ponto de vista clínico-funcional. Segundo Souza et al. (2012) e Vasconcelos, Bachur & Aragão (2018), dentre as principais vantagens a partir da ingestão de WP, emergem:
AÇÃO ANABÓLICA MUSCULAR
O excelente aminograma fornecido após digestão do WP favorece aumento da SPM e, por consequência, propicia melhor cenário para hipertrofia, força, resistência e potência muscular.
AÇÃO ANTIOXIDANTE
A lactoferrina possui relevante ação antioxidante, propiciando cenário de redução do estresse oxidativo e envelhecimento celular.
AÇÃO CARDIOVASCULAR
Peptídeos de β-Lg e α-La são capazes de gerar inibição da enzima conversora de angiotensina (ECA). A ECA gera produção de angiotensina II, componente com característica vasoconstritora do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), sistema este que controla a pressão arterial e o volume plasmático intravascular. Logo, com a inibição de ECA, observa-se redução da pressão arterial.
AÇÃO HIPOGLICEMIANTE
A ingestão de WP acarreta no aumento de insulina pós-prandial e de jejum. Isso acontece porque a rápida presença de AAE desencadeia ação da insulina, induzindo redução de glicemia.
AÇÃO SACIETÓGENA
A ingestão de WP pode interferir no balanço energético diário e favorecer emagrecimento, por estimular redução da secreção de hormônios orexígenos − tais como a grelina gástrica − e aumentar a liberação de incretinas sacietógenas no intestino ou no tecido adiposo, como a GIP (peptídeo inibidor gástrico), a GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1) e a leptina.
Ovoalbumina
O ovo consiste em uma das fontes alimentares de melhor custo-benefício na dieta, pois possui conteúdo nutricional de alta qualidade acompanhado de baixo valor econômico, na maioria dos países.
Um ovo branco, em média, apresenta composição dividida em 57% de albúmen (popularmente conhecida como clara do ovo) e 31% de gema, sendo os outros componentes geralmente não consumíveis, como a cápsula (casca) de carbonato de cálcio. Dentre os principais nutrientes encontrados no ovo, verifica-se grande conteúdo proteico de alto valor biológico, gordura (como ácidos graxos essenciais), minerais e vitaminas hidro e lipossolúveis.
A presença de alguns componentes enfatiza a categorização de alimento funcional para ovos, muito em virtude da sua ação antioxidante − principalmente a partir de carotenoides como a luteína e a zeaxantina −, e pró-cognitiva, pelo conteúdo de colina.
A Quadro 6 destaca o conjunto de proteínas observadas nos seus compartimentos comestíveis:
	LocalizaçãoProteína
	Característica
	Ovoalbumina
	Clara
	Glicoproteína fosforilada mais abundante no ovo e de melhor composição de aminoácidos. Pode apresentar potencial alergênico importante.
	Ovotransferrina
	
	Transportadora de ferro dentro do ovo para formação embrionária animal.
	Ovomucoide
	
	Significativo potencial alergênico.
	Ovomucina
	
	Estrutura gelatinosa da clara.
	Lisozima
	
	Ação antimicrobiana.
	Avidina
	
	Ação antinutricional, em especial a vitamina biotina (vitamina B7).
	Ovoglobulina
	
	Dá propriedades espumosas à clara.
	Lipoproteína de baixa densidade (LDL)
	Gema
	Capacidade adsortiva.
	Lipoproteína de alta densidade (HDL)
	
	Função antioxidante.
	Fosvitina
	
	Função emulsificante.
	Livetina
	
	Potencial alergênico.
Quadro 6: Composição proteica do ovo.
Adaptado de Guha, Majumder & Mine (2018).
A ovoalbumina (OA) consiste no componente majoritário de todo ovo (54% das proteínas da clara) e tem elevado valor nutricional pela sua excelente distribuição de aminoácidos, especialmente BCAA, aminoácidos aromáticos e cisteína. Além disso, assim como o WP, a OA é uma proteína de alta digestibilidade, tornando-se excelente fonte proteica para indivíduos que almejam rápida recuperação ou presença de AAE no sangue para SPM pós-exercício.
COMENTÁRIO
Assim como discutido anteriormente, quaisquer proteínas oferecidas devem estar computadas no cálculo de ingestão proteica diária, em função do tipo de exercício praticado. Adicionalmente, ressaltamos que doses de 20 a 40g de suplementação de AO são capazes de gerar ótima resposta para SPM e síntese de proteínas plasmáticas, como a própria albumina humana, transferrina etc., de acordo com Jäguer et al. (2017).
Proteínas vegetais
A procura pelo aumento de ingestão de alimentos com conteúdo proteico vegetal pode acontecer em virtude de diversas condições, baseadas na redução ou na substituição total de fontes proteicas animais, seja por escolhas socioculturais, pessoais, clínicas ou até mesmo gustativas.
ATENÇÃO
Os alimentos vegetais, em sua maioria, apresentam limitação no perfil disponível de aminoácidos. Isso torna seu conteúdo proteico de menor qualidade e valor biológico, quando comparados às demais proteínas de origem (ou derivadas de) animais. Entretanto, isso não significa que não é possível manter uma dieta dentro do espectro do vegetarianismo em combinação com elevada demanda esportiva.
Como debatido anteriormente, o exercício eleva a demanda proteica no indivíduo para atender às requisições da SPM, seja para reparo dos microdanos ou para aumento de proteínas intramusculares. Contudo, também como já apresentado, a origem da combinação dos aminoácidos presentes no sangue e com destino ao músculo é indiferente para SPM.
Segundo Rogerson (2017), para que vegetarianos obtenham capacidade de oferta proteica adequada, será necessário: escolher fontes proteicas de melhor qualidade, como a soja; ou combinar fontes proteicas limitantes em aminoácidos para que elas se completem, tornando a soma total da ingestão proteica vegetal combinada condizendo com a necessidade fisiológica induzida pelo exercício.
A melhor maneira de compor a oferta proteica vegetal, de acordo com Mariotti & Gardner (2019), pode ser apresentada pela combinação simultânea e frequente nas refeições de fontes alimentares de leguminosas, oleaginosas e sementes (LNS, do inglês Legumes, Nuts and Seeds). Recomenda-se que a dieta proteica vegetariana seja composta de 80 a 100% de LNS.
A Tabela 8 apresenta uma lista de fontes alimentares vegetais com seu respectivo conteúdo proteico. Ressalta-se que o cozimento das fontes de LNS geralmente reduz em 40-50% a presença de proteínas disponíveis no alimento.
	Alimento
	Proteína por 100g
	Soja (crua)
	36,5
	Semente de abóbora desidratada
	30,2
	Lentilhas (sem cocção)
	24,6
	Feijão preto (sem cocção)
	21,6
	Amêndoas (cruas)
	21,2
	Tofu
	17,3
	Aveia
	16,9
	Quinoa
	14,1
Tabela 8: Conteúdo proteico em alimentos de origem vegetal.
Adaptado de Rogerson (2017).
A análise físico-química da soja apresenta distribuição de aproximadamente 40% da sua composição formada por proteínas com valor de PDCAAS de 1,0, assemelhando-se às fontes proteicas animais. A digestibilidade das proteínas da soja gera certo retardo na capacidade absortiva e na velocidade de presença de aminoácidos na corrente sanguínea, em função de alguns fatores antinutricionais presentes no alimento. No mercado de suplementos, a proteína da soja (PS) pode ser encontrada nas formas apresentadas a seguir:
Proteína texturizada
A partir de 50% de PS, acompanhada de carboidratos e lipídios.
Proteína concentrada
A partir de 70% de PS, acompanhada de macronutrientes.
Proteína isolada
A partir de 90% de concentração de PS. Remoção total ou parcial de carboidratos e lipídios (dependendo do grau de isolamento).
Mesmo com aporte proteico adequado e bom estímulo à SPM, adeptos do vegetarianismo devem estar atentos à eventual insuficiência nutricional − com destaque aos micronutrientes −, comum nesses indivíduos (principalmente por veganistas) em função da retirada de fontes derivadas de animais. Dentre os nutrientes passíveis de análise ou suplementação, encontram-se:
Vitamina B12
Ferro
Zinco
Cálcio
Vitamina D
Iodo
Ácidos graxos poli-insaturados ômega 3
PEPTÍDEOS, AMINOÁCIDOS E METABÓLITOS
Creatina
A creatina consiste em um aminoácido denominado de “não proteico”, por não ter função biológica direta na síntese de proteínas corporais. Sua estrutura é formada após sucessivas transformações químicas, que envolvem a participação de aminoácidos fundamentais para conversão e excreção de amônia no ciclo da ureia hepático, como arginina e ornitina, além de outros aminoácidos, como a glicina e a metionina.
Após sua síntese endógena ou seu consumo dietético por variadas fontes alimentares (Tabela 9), a creatina é majoritariamente endereçada ao tecido muscular esquelético, para colaboração no metabolismo energético anaeróbico alático, também conhecido como sistema fosfagênio. Na fibra muscular em repouso, a creatina é transportada para o interior da membrana mitocondrial para fosforilação e formação do composto PCr, que serão depositadas no interior do sarcoplasma da fibra muscular.
Em situações de rápida e intensa contração muscular, as reservas de fosfocreatina (PCr) são catabolizadas pela enzima creatinokinase (CK), formando como produtos a liberação de fosfato, energia e creatina. Tanto a energia quanto o fosfato são utilizados para ressintetizar imediatamente o ATP do tecido muscular. O ATP desenvolvido é então hidrolisado, liberando energia química para o sarcômero realizar interação entre as proteínas miofibrilares e o movimento cinético, tendo como resultado a contração/relaxamento muscular e o acúmulo de adenosina difosfato (ADP) e fosfato inorgânico (Pi).
Paralelamente, a maior parte da creatina originada da degradação da PCr é acumulada no sarcoplasma da fibra muscular até significativa redução da intensidade ou término do exercício, para que sua molécula seja encaminhada novamente para a mitocôndria da célula e ressintetize PCr.
	Alimento
	Creatina (g/Kg)
	Arenque
	6,5-10
	Carne suína magra
	5
	Carne bovina magra
	4,5
	Salmão
	4,5
	Atum
	4
	Bacalhau
	3
	Peixe solha
	2
	Leite
	0,1
	Frutas silvestres
	0,02
Tabela 9: Fontes alimentares e concentração de creatina.
Adaptado de: Williams, Kreider & Branch (2000).
A suplementação de creatina na forma mono-hidratada (CM) consiste em um dos 5 suplementos considerados de maior nível de evidência e grau de recomendação pela American College of Sports Medicine. Há vasta publicação científica apontando para efeitos ergogênicos, principalmente, ganho de força, hipertrofia e potência muscular. A prescrição de CM deve ser protocolada para manter segurança de ingestão dietética e não desenvolver concentrações significativas de creatinina (seu metabólito nitrogenado), o que, eventualmente, poderia aumentar o risco de dano renal. As principais orientações para suplementação de CM são:
	Oferecer ingestão diariamente, independentementedos dias de repouso do treinamento.
	Consumir no mínimo por 3 meses.
	A oferta por períodos prolongados deve vir acompanhada do monitoramento das escórias nitrogenadas − como ureia, ácido úrico e creatinina − e da taxa de filtração glomerular.
	As doses podem variar de 0,05 g por kg de massa corporal ao dia ou em valores fixos de 1 a 5 g por dia.
	Os modelos de suplementação de duas fases (saturação e manutenção) não parecem apresentar vantagens ao protocolo de suplementação única.
	Nefropatas não devem buscar ingestão do suplemento.
	Tomar atenção à ingestão hídrica diária, de aproximadamente 35 mL de água por kg de peso ao dia em adição ao consumo hídrico de reposição da desidratação do treino.
	Lutadores e fisiculturistas devem estar atentos à retirada da suplementação nos períodos de corte de peso para redução hídrica.
Glutamina
Geralmente, envolvida em debates acerca de incremento do estado imune, a glutamina costuma ser estudada em análises sobre recuperação clínica ou esportiva.
ESSENCIALMENTE O AMINOÁCIDO MAIS ABUNDANTE DO CORPO, A GLUTAMINA É DEFINIDA COMO UM AMINOÁCIDO CONDICIONALMENTE ESSENCIAL.
Sua síntese, seu armazenamento e sua liberação na corrente sanguínea ocorre de forma predominante pelo tecido muscular esquelético, e costuma ser endereçada para o intestino, o fígado, os rins e os leucócitos.
As principais funções fisiológicas desse aminoácido estão associadas à sua capacidade de:
· Colaboração energética e na síntese proteica.
· Produção de intermediários de vias aeróbicas, antioxidantes, aminoácidos e neurotransmissores.
· Nutrição de micro-organismos desejáveis (agindo como prebiótico), enterócitos e colonócitos.
Além disso, a glutamina ainda é capaz de auxiliar na biossíntese endógena de glicogênio e colágeno e colaborar para melhor processo de detoxificação da amônia por meio do ciclo da ureia, de acordo com Newsholme et al. (2011).
A glutamina tem relação direta com o glutamato, funcionando tanto como precursor como produto deste. Por exemplo, o glutamato produz cerca de 40% da glutamina dentro da fibra muscular através de reação catalisada pela glutamina sintetase, que condensa glutamato e amônia.
A imagem 5s apresenta capacidade da glutamina em se converter a glutamato para síntese de várias moléculas de participação fisiológica da manutenção do estado nutricional.
Imagem 5: Conversão de glutamina intramuscular a glutamato.
O glutamato tanto pode voltar a sintetizar glutamina, com adição de ATP, como pode produzir neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (GABA), intermediários do ciclo de Krebs, glutationa (potente antioxidante plasmático) e outras moléculas de importância na manutenção do status nutricional.
A suplementação de glutamina parece ser interessante em algumas condições e irrelevante em outras, principalmente nos cenários nos quais não se observa depleção desse aminoácido.
ATENÇÃO
É fundamental compreender que além de existir significativa abundância de glutamina no plasma sanguíneo, sua síntese não é de difícil execução. Contudo, em condições fisiológicas ou patológicas de aumento substancial do catabolismo proteico (como na combinação de treinos extenuantes e falta de entrega energética ou glicídica), há chance de redução de suas concentrações circulantes ou armazenadas.
As principais orientações para sua prescrição são:
 Oferecer doses diárias, concentradas ou fragmentadas em cenários de indução à hipoglutaminemia:
 Dietas de restrição de carboidratos (menos de 2g de carboidratos por Kg de peso ao dia) ou energia (abaixo ou com proximidade da taxa metabólica basal).
 Em exercícios de endurance ou ultraendurance.
Nos estados caracterizados de overtraining e disbiose nutricional, a suplementação controlada de glutamina parece apresentar resultados relevantes de melhora de performance, ambiente imune, capacidade absortiva e saúde nutricional.
A ingestão pode ser realizada em doses únicas ou segmentadas de 0,01 g por Kg de peso ao dia ou em quantidades fixas de 5-20 g ao dia.
Arginina e nitrato
A discussão sobre a finalidade de ingestão ou prescrição de arginina e glutamato costuma ser conjunta, em função de ambos terem ação predisponente de cenário de hemodilatação. Nesse cenário, há constatação de maior chegada de sangue, oxigênio e nutrientes à fibra muscular, melhorando suas valências esportivas e, consequentemente, o desempenho físico.
A arginina é um aminoácido classificado como condicionalmente essencial, isto é, se torna apenas imprescindível para consumo diante de alguns cenários específicos. Além de participar da síntese proteica corporal, desempenha um papel importante na regulação desse processo.
De forma complementar, a arginina ainda apresenta as seguintes funções:
Embora não haja observação considerável na literatura sobre a relação direta da ingestão de arginina com hipertrofia muscular, alguns achados até apresentam respostas de ganho de força, mas não necessariamente aumento de volume muscular. Essa ingestão é interessante, portanto, para atletas cujo controle de peso e volume corporal seja necessário, tais como lutadores e remadores ou canoístas (para não aumentar o peso da soma embarcação-atleta).
Os resultados mais interessantes, porém, desse tipo de resposta na potência e na força muscular de atletas parece estar necessariamente indicado à suplementação de 0,05 g de arginina/kg de peso/dia, em combinação com doses de BCAA, citrulina e ornitina. Segundo Castell et al. (2009) e Centeno et al. (2017), também é possível encontrar certa consistência de resultados da suplementação conjunta de arginina, ornitina, citrulina e BCAA na recuperação de atletas de endurance em estado de overtraining.
O nitrato também é capaz de ter interferência na produção de NO endógena, principalmente em condições de claudicação da oferta de oxigênio durante a prática esportiva. A dieta pode ser um fator determinante na presença endógena de nitrato, especialmente por conta de suas principais fontes alimentares, como alguns vegetais − aipo, beterraba, espinafre, alface, rúcula, agrião etc. Por exemplo, 100 g de beterraba in natura apresenta 250 mg de nitrato em 100 g de alimento.
A Tabela 10 apresenta concentração média de nitrato encontrado a partir da origem dietética de alguns alimentos:
	Alimento
	Nitrato (µg/mL)
	Beterraba (suco)
	476
	Beterraba (em pó)
	16.478
	Aipo (suco)
	255
	Aipo (pó)
	716
	Espinafre (pó)
	28.867
Tabela 10: Conteúdo de nitrato em alguns alimentos-fonte.
Adaptado de: Shah et al. (2013, p. 3).
Curiosamente, a síntese de NO tem relação com a presença de micro-organismos no trato gastrointestinal com capacidade de converter e alterar nitrato e nitrito gasoso (tanto na saliva como no estômago) em NO. Adicionalmente, ao contrário da suplementação de arginina, a ingestão de nitrato via dieta ou suplemento tem maior eficiência para melhora no desempenho físico e recuperação da fadiga, ao reduzir o custo da oxidação de oxigênio no metabolismo aeróbico e aumentar a tolerância ao esforço. As principais respostas de desempenho esportivo avaliadas sobre o consumo ou a suplementação de nitrato estão associadas a indivíduos treinados, geralmente atletas de alto desempenho, e os resultados mais marcantes são:
Melhora do tempo e da distância percorrida até a exaustão.
Aumento da atividade e função de fibras musculares de contração rápida, favorecendo aumento de explosão e torque.
RECOMENDAÇÃO
Em média, recomenda-se a suplementação de doses de 5 a 9 mmol (310-560 mg) ao dia, durante 3 a 6 dias, cerca de 2 a 3h antes do treino-alvo. Outra estratégia pode residir na oferta de 8 a 10 mg de nitrato de sódio ou nitrato de potássio por Kg de peso ao dia, antes do exercício, de acordo com Jones (2014) e Maughan et al. (2018).
BCAA
A denominação de BCAA advém da sua estrutura ramificada no radical R acoplado ao carbono central assimétrico dos seus constituintes leucina, isoleucina e valina. Os BCAA são aminoácidos essenciais, portanto, obrigatoriamente devem constar na dieta humana, pois não são fabricáveis pelo organismo.
De modo geral,as fontes de carnes, ovos e leites e derivados fornecem cerca de 15 a 20 g de BCAA em 100 g de fonte alimentar. Bioquimicamente, os BCAA têm papel de grande importância no metabolismo energético intramuscular esquelético, em especial na transaminação com cetoácidos de cadeia ramificada (BCKA) e glutamato, gerando a amônia como subproduto dessa reação. Além disso, níveis controlados de BCAA no sangue interferem diretamente sob o estado de fadiga central durante o exercício físico. Isso ocorre pois existe uma competição na barreira hematocefálica neural entre BCAA e aminoácidos aromáticos (AAA), com destaque ao triptofano.
Caso ocorra redução nos níveis de BCAA sérico, geralmente em direção ao suprimento energético do tecido muscular esquelético intraexercício, as concentrações de triptofano neurais costumam aumentar, gerando, como consequência, o aumento da síntese de neurotransmissor 5-hidroxi-triptofano (5-HTP ou serotonina). A serotonina tem como característica principal a geração de sensação de bem-estar por relaxamento neural, sendo assim contraproducente ao intuito ergogênico estimulante necessário para o prolongamento da duração de exercícios físicos.
Geralmente, a ingestão de BCAA isolado parece ser mais eficiente para combater efeitos seretoninérgicos deletérios, em função da redução de BCAA sérico em atividades de endurance e ultraendurance. No entanto, em consensos da literatura científica contemporânea está estabelecido que a suplementação isolada de BCAA, isto é, sem a presença dos demais AAE, não é capaz de gerar SPM e, portanto, resposta de ganho direto de força, hipertrofia ou potência muscular.
RECOMENDAÇÃO
As doses de suplementação de BCAA recomendadas para redução de indução à fadiga central são de 0,03 a 0,05 g/kg de peso por hora de treinamento ou 2-4g/h de treino, ingerida preferencialmente na proximidade ou durante o exercício. O consumo pós-treino pode ser indicado, contato que exista cuidado na ingestão conjunta de proteínas completas − se o interesse for de aumento da SPM e levando em consideração que fontes proteicas dietéticas de alto valor biológico já contêm concentração razoável de BCAA.
Embora os BCAA sejam naturalmente circulantes e seu consumo possa parecer inofensivo, doses elevadas de suplementação isolada (geralmente, entre 10-30g) parecem interferir na uragênese, no estímulo insulinotrópico ou mesmo na variação pressórica.
A IMPORTÂNCIA DA SUPLEMENTAÇÃO PROTEICA PARA HIPERTROFIA MUSCULAR
O especialista Daniel Ronaldo Chreem fala sobre a importância da suplementação proteica para hipertrofia muscular
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Examinar suplementos nutricionais estimulantes, termogênicos ou com finalidade de redução adiposa
LIPÓLISE, OXIDAÇÃO LIPÍDICA E EMAGRECIMENTO
Geralmente, o excesso de provisionamento energético através da dieta resulta na produção de lipídios de armazenamento conhecidos como triglicerídeos (TG). A síntese de TG ocorre pela união de 3 ácidos graxos livres e uma molécula de glicerol. A ingestão exagerada de quaisquer macronutrientes é capaz de desenvolver mecanismos de produção de substratos para formação dos TG.
Essa molécula de grande densidade energética pode ser localizada em diversos sítios corporais, seja circulando pelo sangue ou depositada nos tecidos hepático, muscular ou em seu local de abundância: no tecido adiposo. Na composição corporal humana, existem locais de maior concentração de tecido adiposo, que, por sua vez, contém significativa quantidade de TG.
É possível encontrar quantidade razoável de tecido adiposo na região hipodérmica/subcutânea com certa quantidade de tecido conjuntivo frouxo, local comumente chamado de panículo adiposo ou gordura subcutânea. Ademais, temos tecido adiposo de grande concentração abdominal, adjacente a tecidos musculares e alojados nas vísceras, conhecido como gordura visceral. Embora o adipócito tenha característica de reserva de TG, existem três possíveis tipos encontrados no corpo humano:
ADIPÓCITO BRANCO
Célula de gordura com TG mais reservado de energia, ocupando majoritariamente o espaço intracelular.
ADIPÓCITO MARROM
Célula de gordura com capacidade de gerar calor interno, conhecido como mecanismo termogênico. Além disso, os TG são menos concentrados em seu espaço intracelular, e há maior presença de mitocôndrias para oxidação de nutrientes.
ADIPÓCITO BEGE
Estrutura celular intermediária entre o tecido adiposo branco e o marrom.
A Imagem 6 ilustra os três tipos de adipócitos apresentados:
imagem 6: Adipócito branco, bege e marrom.
É possível identificar que os TG do adipócito branco são maiores e mais concentrados. Já no caso do tecido adiposo marrom, nota-se maior concentração de mitocôndrias e tamanho inferior de TG. O tecido adiposo bege tem características intermediárias entre o adipócito branco e o marrom.
A demanda por produção energética endógena pode gerar atividade catabólica nos três tipos de tecido adiposo. Em suma, esses mecanismos de geração catabólica são ordenados por reações bioquímicas em cascata, por meio de eixo hormonal que se inicia na glândula hipotalâmica, perpassa pela hipófise e culmina nas glândulas adrenais, localizadas acima dos rins.
Inicialmente, o hipotálamo (localizado no sistema nervoso central) secreta o hormônio liberador de corticotrofina (CRH) em resposta ao deficit energético interno. O CRH, por sua vez, é enviado à hipófise, que recebe mensagem química hormonal e, em sequência, secreta corticotrofina ou hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Em seguida, o ACTH é enviado para as glândulas adrenais e desencadeia produção hormonal local de diversos agentes catabolizantes, especialmente glicocorticoides como o cortisol e catecolamínicos como a adrenalina. Tanto o cortisol como a adrenalina são hormônios que deflagram cascatas catabolizantes nas reservas nutricionais corporais. Dentre as consequências da liberação de adrenalina e cortisol, observa-se principalmente:
AUMENTO DA PROTEÓLISE DO TECIDO MUSCULAR ESQUELÉTICO
No intuito de aumentar a presença de aminoácidos plasmáticos para metabolismo energético.
AUMENTO DA LIPÓLISE DO TECIDO ADIPOSO
suprimento de ácidos graxos para oxidação e produção energética aeróbica.
AUMENTO DA GLICONEOGÊNESE HEPÁTICA
Manutenção da glicemia.
Esses cenários contribuem para manutenção da homeostasia e oferta de energia e nutrientes durante períodos de estresse, como a atividade física.
ATENÇÃO
É importante ressaltar que tanto o hipotálamo quanto a hipófise possuem mecanismos de sensibilidade regulatória para percepção da concentração da quantidade de cortisol e adrenalina no sangue. Quando esses hormônios se encontram com concentrações significativas na corrente sanguínea, há uma redução da secreção hormonal hipotalâmica e hipofisária para evitar excesso de catabolizantes disponíveis.
Essa medida de feedback negativo visa preservar estado imune, inflamatório e a própria longevidade do sistema energético.
No tecido adiposo, o catabolismo induzido por adrenalina estimula atividade da enzima hormônio lipase sensível (HLS), que age diretamente sobre a quebra das ligações dos TG intra-celulares. Nesse sentido, a lipólise nada mais é do que o processo de degradação de TG em ácidos graxos e glicerol realizado pela HLS em resposta à adrenalina.
A dieta, o exercício físico, o estresse psicológico e algumas enfermidades são capazes de estimular toda essa cascata hormonal que desemboca na secreção de adrenalina. Assim, diversos suplementos que têm premissa de gerar emagrecimento apresentam características de estímulo a adrenalina. Contudo, é importante diferenciar a lipólise da oxidação de gorduras e o emagrecimento:
A LIPÓLISE pode vir acompanhada de lipogênese, caso o indivíduo faça ingestão energética compatível às suas demandas, reesterificando os ácidos graxos junto ao glicerol.
O EMAGRECIMENTO FACTUAL, por sua vez, ocorre apenas quando há processo de oxidação de ácidos graxos oriundos dos TG de armazenamento adipocitário.
No exercício físico, por exemplo, os ácidos graxos oriundos da quebra do TG são encaminhados para

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