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AULA 2 Epidemiologia Nutricional

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AULA 2 - Epidemiologia Nutricional
DESCRIÇÃO
Transição demográfica e epidemiológica, mudanças na dinâmica populacional e seus reflexos sobre o perfil de morbidade e mortalidade, transição nutricional, padrão de consumo alimentar e situação nutricional da população brasileira.
PROPÓSITO
Apresentar as bases teóricas e conceituais relacionadas aos processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional, estimulando uma compreensão crítica-reflexiva sobre esses fenômenos e os efeitos dessas mudanças nas condições de saúde da população brasileira.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as bases conceituais da transição demográfica e as mudanças na dinâmica populacional no Brasil
MÓDULO 2
Reconhecer as bases conceituais da transição epidemiológica e as mudanças no padrão de mortalidade no Brasil
MÓDULO 3
Descrever as bases conceituais da transição nutricional e seus efeitos sobre o perfil nutricional da população brasileira
INTRODUÇÃO
No Brasil, desde a década de 1940, pudemos observar um importante e significativo envelhecimento da população. Essa mudança em sua estrutura etária, associada a outras modificações na dinâmica populacional, caracterizam o fenômeno denominado de transição demográfica da população brasileira (LEBRÃO, 2007).
As transformações demográficas aliadas às mudanças de ordem econômica e social determinaram outro importante fenômeno conhecido como transição epidemiológica. Essa transição é caracterizada pelas mudanças no perfil de morbidade e mortalidade da população, isto é, ocorre a redução da taxa de morbimortalidade por doenças infectoparasitárias e o crescimento das doenças crônicas não transmissíveis.
Entre as décadas de 1960 a 1980, concomitantemente ao processo de transição demográfica epidemiológica, também foram observadas outras mudanças que afetaram o modo de produção do trabalho, que era centrado no setor de agropecuária, passando para um mercado de trabalho baseado no setor de serviços e comércio. Tais modificações resultaram em transformações significativas no estilo de vida das pessoas, provocando, assim, mudanças no padrão de alimentação. Surge, então, a transição nutricional (BATISTA FILHO e RISSIN, 2003).
MÓDULO 1
Identificar as bases conceituais da transição demográfica e as mudanças na dinâmica populacional no Brasil
Neste módulo, apresentamos o conceito básico da transição demográfica e as principais modificações ocorridas na dinâmica populacional que caracterizam o processo de transição demográfica no Brasil.
CONCEITO DE TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
O processo de transição demográfica refere-se aos efeitos que as mudanças nas taxas de natalidade e mortalidade provocam sobre a dinâmica de crescimento populacional e na estrutura etária da população, sendo que uma das consequências mais importantes desse processo é o envelhecimento da população (LEBRÃO, 2007).
A teoria da transição demográfica foi elaborada pelo demógrafo Frank Notestein, em 1929. Segundo essa teoria, o desenvolvimento socioeconômico, associado ao processo de urbanização e a modernização das sociedades seriam responsáveis pelas mudanças observadas nas taxas de natalidade e de mortalidade. Situação essa que corrobora para o ritmo de crescimento populacional, ou seja:
A PASSAGEM DE UMA SOCIEDADE RURAL E TRADICIONAL COM ALTAS TAXAS DE NATALIDADE E MORTALIDADE PARA UMA SOCIEDADE URBANA E MODERNA COM BAIXAS TAXAS DE NATALIDADE E MORTALIDADE CONSTITUIRIA O ESQUEMA DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA.
(VASCONCELOS; GOMES, 2012)
Essa teoria desenvolvimentista foi criticada e abandonada à medida em que as mudanças na dinâmica populacional não aconteciam necessariamente da mesma maneira. Ao longo do século XX, as diferentes trajetórias na tendência secular da natalidade e mortalidade demonstraram que a transição demográfica não ocorre da mesma forma quando se compara o comportamento do crescimento populacional entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento (VASCONCELOS e GOMES, 2012).
Segundo Lebrão (2007), os países podem ser divididos em três classes, considerando a fase em que iniciaram o seu processo de transição demográfica:
Países europeus com iniciação precoce da transição (década de 1920 a 1930).
Países da América Latina e Caribe que iniciaram tardiamente o processo de transição demográfica (década de 1950 a 1960).
Países africanos que ainda não iniciaram seu processo de transição demográfica, ou seja, ainda têm estrutura jovem de população.
De maneira geral, a evolução temporal do processo de transição demográfica de uma determinada sociedade e seus efeitos sobre a dinâmica de crescimento populacional podem ser divididos em quatro etapas:
PRIMEIRA FASE OU PERÍODO PRÉ-TRANSIÇÃO
Quando a população de uma determinada sociedade apresenta taxas de natalidade e de mortalidade elevadas. Nesta etapa do processo de transição, o crescimento vegetativo da população é baixo e sua estrutura etária é predominantemente jovem.
SEGUNDA FASE OU PERÍODO DA ACELERAÇÃO DEMOGRÁFICA
Quando as taxas de mortalidade diminuem, porém, a taxa de natalidade é elevada. Logo, nesta etapa da transição demográfica, a velocidade de crescimento populacional é mais acelerada, com isso, a base da estrutura etária da população se mantém jovem.
TERCEIRA FASE OU PERÍODO DA DESACELERAÇÃO DEMOGRÁFICA
Quando a população inicia a redução das taxas de natalidade, ao mesmo tempo, que se mantém a redução das taxas de mortalidade. Nesta etapa do processo de transição, as taxas de crescimento populacional diminuem significativamente, dando início ao processo de envelhecimento da população.
QUARTA FASE OU PERÍODO DA ESTABILIZAÇÃO DEMOGRÁFICA
Nesta etapa, a população apresenta as taxas reduzidas tanto de natalidade quanto de mortalidade, provocando uma estabilização dos níveis de crescimento populacional.
A TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA NO BRASIL
Segundo Simões (2016), foi a partir da década de 1950 que a população brasileira experimentou maior aceleração no crescimento populacional, em média, a população crescia a uma taxa de 3,0% ao ano. Nessa fase da transição demográfica, a taxa de natalidade permanecia em níveis muito elevados enquanto a taxa de mortalidade apresentava tendência importante de redução.
Passados vinte anos, inicia-se uma nova fase da transição com a desaceleração do crescimento populacional (2,5% ao ano) motivado por uma leve queda na taxa de natalidade. Nas décadas seguintes, é mantida a tendência de redução da taxa de natalidade para níveis mais baixos, intensificando-se, assim, a queda na taxa de crescimento para os valores atuais, em torno de 1,2% ao ano.
Outro fator determinante no processo de transição demográfica está relacionado com a urbanização das cidades brasileiras. Até 1960, a maior parcela dos habitantes residia em áreas rurais no interior do país. Com exceção da região Sudeste, que já possuía quase 60% da sua população residindo em áreas urbanas.
No Brasil, o fenômeno da urbanização está fortemente atrelado ao movimento das migrações internas, com fluxo populacional saindo, principalmente, da região Nordeste em direção ao Sudeste. Nos anos 1960, a região Sudeste era um importante polo de atração, pois concentrava as principais atividades econômicas e maiores chances de emprego então existentes no país (SIMÕES, 2016).
O BRASIL TEVE SEU PERFIL DEMOGRÁFICO TRANSFORMADO DE UMA SOCIEDADE MAJORITARIAMENTE RURAL E TRADICIONAL, COM FAMÍLIAS NUMEROSAS E RISCO DE MORTE NA INFÂNCIA ELEVADO, PASSANDO A UMA SOCIEDADE PREDOMINANTEMENTE URBANA E MODERNA.
(VASCONCELOS; GOMES, 2012)
As modificações consideradas mais significativas no padrão demográfico só aconteceram a partir de meados da década de 1940, quando se inicia a tendência de declínio acelerada da taxa de mortalidade geral.
Vale destacar o efeito positivo que os tratamentos medicamentosos com antibióticos produziram na queda mortalidade, repercutindo em um primeiro momento na redução da mortalidade adulta e, posteriormente, na redução da mortalidade de crianças e jovens (SIMÕES, 2016).
A natalidade, outro componente fundamental no processo de transição demográfica, inicia sua tendênciade redução somente a partir dos anos 1960, motivada pelo crescente processo de urbanização por conta dos intensos deslocamentos populacionais para os centros urbanos. Outro fator relevante foi a introdução dos contraceptivos orais (pílula anticoncepcional), os quais possibilitaram maior controle da fecundidade. Além disso, no final da década de 1970, uma política “não oficial” de controle da natalidade incentivou a prática da esterilização feminina (SIMÕES, 2016).
 SAIBA MAIS
Conforme Simões (2016), foi a partir da segunda metade da década de 1970 que se consolidou a tendência de redução da mortalidade (tanto a geral como a infantil) no Brasil e nos demais países da América Latina.
No que se refere à situação específica da mortalidade no Brasil, os estudos atribuem essa importante redução às ações de expansão da rede assistencial à saúde e à ampliação da infraestrutura de saneamento básico.
RESUMINDO
Na primeira etapa da transição demográfica, ocorre a redução da taxa de mortalidade de adultos jovens. Com isso, as pessoas passam a viver mais tempo, ampliando o quantitativo de indivíduos que irão envelhecer. Na etapa seguinte, quando a taxa de natalidade diminui, inicia-se o envelhecimento da população. Isso porque, ocorre uma redução relativa no contingente de crianças, ou seja, a proporção de adultos e idosos aumenta em relação à proporção de crianças.
Nesse cenário, o processo de urbanização e o envelhecimento populacional representam os principais efeitos das mudanças demográficas no país. Tais mudanças trouxeram consigo enormes desafios para o sistema de saúde, ao passo que se espera que o envelhecimento da população venha acompanhado de um bom nível de qualidade de vida.
MUDANÇAS NA DINÂMICA POPULACIONAL
Como é possível observar, a transição demográfica é um conceito que descreve a tendência da dinâmica populacional ao longo da evolução sócio-histórica das sociedades humanas. A seguir, apresentamos três importantes movimentos populacionais que caracterizaram essas mudanças no Brasil.
REDUÇÃO DA FECUNDIDADE
A taxa de fecundidade é considerada como um dos indicadores mais importantes da dinâmica demográfica, pois afeta diretamente as mudanças ocorridas na estrutura etária das populações. Países que com elevados níveis de fecundidade apresentam, de maneira geral, uma estrutura etária caracterizada por muito jovens e baixa proporção de pessoas idosas (SIMÕES, 2006).
A série histórica da taxa de fecundidade no Brasil demostra que, entre os anos de 1940 até 1960, as mulheres tinham em média seis filhos por ano.
A partir deste período, esse indicador vem sofrendo reduções significativas em todas as regiões do país e entre todos os grupos sociais, ainda que em ritmos diferentes.
Em 2010, ano do último censo demográfico, o país apresentou taxa de fecundidade de 1,9 filhos por mulher (VASCONCELLOS; GOMES, 2012).
Estudos sobre a tendência secular da taxa de fecundidade no Brasil revelaram que o nível de escolaridade da mulher é um dos fatores explicativos preponderantes da mudança de comportamento reprodutivo feminino. Além disso, aspectos culturais, relativos às modificações ocorridas nos arranjos familiares que se observa na atualidade e no papel desempenhado pelas mulheres na sociedade, também contribuíram para consolidação do comportamento reprodutivo em patamares reduzidos de fecundidade (SIMÕES, 2006).
REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL
Uma expressiva queda da taxa de mortalidade infantil vem sendo verificada em vários países do mundo desde a década de 1950. No Brasil, as curvas de tendência da taxa de mortalidade infantil apresentam diferentes níveis quando se analisa as regiões brasileiras. Verifica-se que as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul em 1930 já apresentavam tendências de redução da mortalidade. Enquanto, na Região Nordeste e Norte, somente ao final da década de 1940 se inicia o movimento de queda da mortalidade infantil (SIMÕES, 2002).
A ampliação da oferta de serviços de saneamento básico, a implantação do programa nacional de saúde da mulher e da criança, as campanhas de imunização infantil, os programas de aleitamento materno e de reidratação oral muito contribuíram para a redução das taxas de mortalidade infantil no Brasil, principalmente, a partir dos anos 1980 (MOREIRA et al., 2012).
Dados mais recentes sobre o indicador de mortalidade infantil mostram que, no Brasil como um todo, a mortalidade infantil reduz de 29 óbitos por 1000 nascidos vivos em 2000, para 14,4 por 1000 nascidos vivos em 2014 (SIMÕES, 2002).
AUMENTO DA EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER
O incremento significativo nos níveis de sobrevivência da população brasileira pode ser observado a partir de meados da década de 1930, quando a média de anos de vida foi estimada em 41,5 anos, passando para 55,5 anos nos anos 50. Entre os fatores explicativos para o ganho dos anos de vida média ao nascer, destacam-se as melhorias na infraestrutura urbana e, principalmente, os avanços da indústria químico-farmacêutica que, com o desenvolvimento de imunobiológicos (vacinas), tornou possível o controle e a redução da incidência de várias doenças, principalmente, as transmissíveis, que afetavam de forma considerável as crianças menores de cinco anos (SIMÕES, 2002).
Dados mais recentes sobre a tendência do indicador de expectativa de vida ao nascer mostram que, no Brasil a partir da década de 1980, a média de anos de vida passa de 62 anos, para 73 anos em 2010. A redução da taxa de natalidade, concomitante ao aumento da expectativa de vida ao nascer contribuíram muito na consolidação e aceleração do processo de envelhecimento da população brasileira.
Vale ressaltar que o envelhecimento da população com qualidade de vida vai exigir que sejam implementadas novas prioridades na área das políticas públicas, sobretudo na área da saúde.
AS BASES CONCEITUAIS DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
O especialista Itamar Cunha aborda a transição demográfica no Brasil.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Reconhecer as bases conceituais da transição epidemiológica e as mudanças no padrão de mortalidade no Brasil
Neste módulo, apresentaremos as bases conceituais da transição epidemiológica e os indicadores de morbidade e mortalidade que caracterizam o processo de transição epidemiológica no Brasil.
CONCEITO DE TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
Conceitualmente, a transição epidemiológica é compreendida como: “o processo de mudanças ocorridas nos padrões de saúde e doença e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas” (OMRAN, 1971 apud LEBRÃO, 2007).
Segundo Lebrão (2007), a teoria da transição epidemiológica formulada por Omran (1971) baseia-se em estudos do perfil de morbidade e mortalidade realizados com populações de países desenvolvidos, quando notou a substituição das doenças infecciosas por outras relacionadas ao processo de envelhecimento da população. Tudo isso de tal forma que a transição epidemiológica se daria em estágios sucessivos, de acordo com o nível de desenvolvimento de uma sociedade tradicional para uma sociedade moderna.
À MEDIDA QUE OS PAÍSES ATINGISSEM NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO MAIS ELEVADO, AS MELHORIAS DAS CONDIÇÕES SOCIAIS, ECONÔMICAS E DE SAÚDE CAUSARIAM A TRANSIÇÃO DE UM PADRÃO DE EXPECTATIVA DE VIDA BAIXA, COM ALTAS TAXAS DE MORTALIDADE POR DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS EM FAIXAS ETÁRIAS DE IDADE PRECOCES, PARA UM AUMENTO DA SOBREVIDA EM DIREÇÃO ÀS FAIXAS ETÁRIAS MAIS AVANÇADAS E AUMENTO DAS MORTES POR DOENÇAS E AGRAVOS NÃO TRANSMISSÍVEIS.
(OMRAN, 1971 apud LEBRÃO, 2007)
Norteado por esse princípio, Omran propôs três estágios para a transição epidemiológica:
MODELO CLÁSSICO
Relativo ao processo de transição que ocorreu nos países da Europa e da América do Norte.
MODELO ACELERADO
O exemplo mais expressivo é o do Japão, caracterizado por uma queda acentuada das suas taxas de mortalidade a partir de 1920.
MODELO TARDIO OU CONTEMPORÂNEO
Descreve mudanças recentes, ainda em processo nos países subdesenvolvidos.
Trata-se de um conceito baseado na suposição de que as sociedades “tradicionais”(em grande parte, rurais) se transformam em sociedades “modernas” mediante uma sequência determinada de etapas específicas. Assim, o modo de viver tradicional/primitivo seria gradualmente substituído por um modo de viver moderno/dinâmico. O subdesenvolvimento e o desenvolvimento seriam os extremos opostos de um processo contínuo (BARRETO et al., 2007).
Críticas a esse conceito têm sido feitas ao longo do tempo por autores como Asa Cristina Laurell (1982). A autora conclui que esse conceito de transição epidemiológica elimina o caráter histórico e social do processo saúde-doença, não pressupondo que cada sociedade possa criar seu próprio perfil epidemiológico.
 SAIBA MAIS
Para que tal teoria desenvolvimentista pudesse ser aceita, segundo Laurell, seria necessário observar valores semelhantes para as taxas de mortalidade por causas entre os países que conseguissem reduzir significativamente a ocorrência das doenças infecciosas, o que nem sempre acontece.
Nos estudos mais recentes da transição epidemiológica, os modelos desenvolvidos por Frenk (apud Barreto et al., 2007) contestam, em alguns aspectos, as premissas básicas de um sistema global unificado de mudança, tal como proposto por Omran. A premissa básica desse autor é de que os países latino-americanos são muito diferentes das nações desenvolvidas e reproduzem modelos socioeconômicos diferenciados.
Segundo Frank, a multiplicidade nos padrões de mortalidade e morbidade nos países da América Latina apontam para um novo modelo de transição epidemiológica e podem ser classificados em três grupos básicos:
Os países que se encontram em uma etapa avançada de transição, dentro de uma modalidade um tanto semelhante à dos países desenvolvidos (Cuba, Costa Rica e Chile).
Os países que se encontram em uma etapa inicial de transição (Haiti, Bolívia e Peru).
Os países, como México e Brasil, que chegaram a uma etapa avançada, mas que apresentam um modelo diferente de transição. Para esse terceiro grupo, é proposto o nome de “modelo polarizado prolongado”.
O modelo polarizado prolongado tem como características:
SUPERPOSIÇÃO DE ETAPAS
As doenças infecciosas superpõem-se às não infecciosas e ambas são causas importantes de morbimortalidade.
CONTRATRANSIÇÃO
Doenças erradicadas ou em estágios avançados de controle ressurgem e se transformam em importantes problemas de saúde, como malária e cólera.
TRANSIÇÃO PROLONGADA
Permanece uma situação de morbimortalidade mista, em que se mantém uma grande incidência de doenças infecciosas, sem que se chegue ao predomínio absoluto dos processos crônicos.
POLARIZAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
As três características antes descritas afetam desigualmente diferentes grupos sociais, fazendo com que a heterogeneidade seja um fator marcante, tanto entre países como dentro deles próprios, o que explicaria, inclusive, a natureza prolongada da transição.
Nesse sentido, a transição epidemiológica não ocorre da mesma forma em todas as regiões. A teoria de que haveria um padrão/modelo dos países “desenvolvidos” a ser seguido pelos países “subdesenvolvidos” não se comprovou/não ocorreu.
TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL
No Brasil, a transição epidemiológica não tem ocorrido conforme o modelo experimentado pela maioria dos países desenvolvidos. Percebe-se a coexistência de velhos e novos problemas de saúde, com predominância das doenças crônico-degenerativas e um papel ainda importante das doenças transmissíveis (SCHRAMM et al, 2004). Schramm e outros colaboradores (2004) relatam que o processo engloba três mudanças básicas:
Substituição das doenças transmissíveis por doenças não transmissíveis e causas externas.
Deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos.
Transformação de uma situação em que se predomina a mortalidade para outra na qual a morbidade é dominante.
Araújo (2012) ressalta que a transição epidemiológica no Brasil é caracterizada pelo modelo de polarização epidemiológica conforme descrito por Frenk e colaboradores, combinando elevadas taxas de morbidade e mortalidade por doenças crônico-degenerativas com altas incidências de doenças infecciosas e parasitárias, e a prolongada persistência de níveis diferenciados de transição entre grupos sociais distintos. Esse modelo de transição faz com que se tenha uma tripla carga de doenças, pois o perfil epidemiológico do país envolve, ao mesmo tempo, uma agenda não concluída de doenças infectoparasitárias, desnutrição e problemas de saúde reprodutiva, com o surgimento das doenças crônicas degenerativas e problemas de causas externas (violências).
Diversos fatores como envelhecimento, urbanização, mudanças sociais e econômicas, e globalização estão impactando o modo de viver, trabalhar e se alimentar dos brasileiros. Contribuindo para o aumento da obesidade e o sedentarismo, concorrentes diretos para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).
 SAIBA MAIS
Além disso, o crescimento da violência representa um dos maiores e mais difíceis desafios do novo perfil epidemiológico do Brasil. O aumento da mortalidade por causas externas, observado a partir da década de 1980, deve-se, principalmente, aos homicídios e aos acidentes de transporte terrestre nos grandes centros urbanos.
MUDANÇAS NO PADRÃO DE MORTALIDADE NO BRASIL
A análise dos padrões de mortalidade diz respeito às mudanças na ordenação da mortalidade por grupos de causas de morte. No Brasil, as modificações na distribuição proporcional da mortalidade por grupo de causa se tornam mais evidentes a partir de 1930. Assim, as doenças infecciosas e parasitárias (DIP), passam de um patamar de 45,7% do total de óbitos em 1930, para 5,2% dos óbitos, no ano de 2005.
Seguindo uma trajetória inversa, a proporção de óbitos por doenças cardiovasculares aumentou sua participação de 11,8% para 31,5%, do total dos óbitos ocorridos no mesmo período. Nessa transição, também chama atenção a tendência de o crescimento significativo dos óbitos por causas externas, destacando-se o elevado número de óbitos por homicídios. Da mesma forma, as neoplasias vêm aumentando sua participação na composição da mortalidade, sendo que o maior incremento se deve aos cânceres de pulmão e de mama (BARRETO, 2007).
Um ponto a ser discutido refere-se ao contraste observado no padrão de mortalidade entre áreas de com baixo desenvolvimento social e econômico e entre os subgrupos populacionais. Nas regiões de precária infraestrutura e entre as populações mais pobres, ainda persistem elevada incidência das chamadas doenças emergentes, doenças reemergentes e as doenças negligenciadas.
AS BASES CONCEITUAIS DA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
O especialista Itamar Cunha aborda a transição epidemiológica no Brasil.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Descrever as bases conceituais da transição nutricional e seus efeitos sobre o perfil nutricional da população brasileira
Neste módulo, apresentaremos bases conceituais da transição nutricional e seus efeitos sobre o perfil nutricional da população brasileira.
CONCEITO DE TRANSIÇÃO NUTRICIONAL
O conceito de transição nutricional diz respeito a mudanças seculares dos padrões dietéticos individuais caracterizados pelo aumento da ingestão calórica que resultam de modificações na estrutura da alimentação rotineira dos indivíduos e que se correlacionam com mudanças econômicas, sociais e demográficas relacionadas à saúde, acompanhando a transição demográfica e epidemiológica da população (VENTURA, 2017).
As mudanças no padrão alimentar e nutricional da população brasileira de todas as esferas sociais e faixas etárias vem sendo analisadas no processo da transição nutricional, caracterizada pela redução nas prevalências dos deficits nutricionais e aumento expressivo de sobrepeso e obesidade (VENTURA, 2017).
De acordo com a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), a população brasileira passou por transformações sociais que resultaram em mudanças no seu padrão de saúde e consumo alimentar, destacando a redução da pobreza, da fome, da escassez de alimentos e, consequentemente, a reduçãoda desnutrição. Em contrapartida, o aumento considerável da obesidade e sobrepeso nos indivíduos brasileiros apontou para um novo cenário de problemas relacionados à alimentação e à nutrição (BRASIL, 2013).
O excesso de peso e a obesidade são resultados de diversos fatores biológicos, comportamentais, ambientais, econômicos, sociais e culturais, influenciando, assim, nas escolhas alimentares, que são condicionadas pelo comportamento individual e pelo sistema alimentar no qual o indivíduo está inserido (RARBER; JAIME, 2019).
Os inquéritos nutricionais realizados há mais de 40 anos já revelavam mudanças significativas no padrão nutricional do país. Segundo o Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF, 1975) e a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN, 1989), no intervalo de tempo entre os dois estudos houve aumento de sobrepeso na proporção de 58% para homens e 42% para mulheres. Mais alarmante foi o aumento da obesidade, registrando o incrível aumento de 100% para o sexo masculino e 70% para o sexo feminino. Em áreas urbanas, a prevalência da obesidade é predominante nas classes sociais menos favorecidas. Atualmente, o excesso de peso afeta 40% da população (SOUZA, 2010).
Atualmente, no Brasil, os casos de obesidade têm aumentado de maneira considerável. De acordo com dados do estudo Vigitel - 2019 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) 20,3% da população encontra-se no quadro de obesidade, ou seja, dois em cada 10 brasileiros estão obesos e 55,4 % da população está classificada com excesso de peso. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como a diabetes mellitus, hipertensão arterial e a obesidade estão diretamente ligadas ao padrão alimentar da população, sendo esses os maiores problemas da saúde pública no Brasil, acarretando mudanças no padrão da distribuição da morbimortalidade da população (BRASIL, 2013).
Segundo a Organização Mundial da Saúde, essas doenças são responsáveis por mais de 70% das mortes no mundo e no Brasil não é diferente, as DCNT são responsáveis por cerca de 74% do total de mortes. O Vigitel destaca ainda que, no período entre 2006 e 2019, a prevalência de diabetes passou de 5,5% para 7,4%, a hipertensão arterial, subiu de 22,6% para 24,5% (VIGITEL, 2019).
Estudos relatam que uma das razões para as mudanças no padrão alimentar da população se deu por conta da inserção da mulher no mercado de trabalho nos últimos anos. Por esse motivo, essa mulher trabalhadora tem menos tempo para se dedicar ao preparo das refeições da família, escolhendo, portanto, alimentos industrializados em virtude da praticidade, e até mesmo a realização das refeições fora do lar, em restaurantes, pensões e lanchonetes (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; SOUZA, 2010).
Foto: Shutterstock.com
Outros fatores relevantes foram a globalização, urbanização e o aumento do acesso aos alimentos industrializados, tendo em vista que os indivíduos passaram a adotar uma alimentação com alta densidade calórica, rica em gordura saturada, sódio e em açúcares simples, pobre em fibras e micronutrientes e, além disso, tornaram-se mais sedentários (BRASIL, 2013).
Foto: Bored Photography / Shutterstock.com
É preciso desvendar as diversas realidades e a maneira como a alimentação e nutrição em sua forma multifacetada têm inferido em determinantes sociais do processo saúde-doença, reforçando, portanto, a urgência na realização de ações que visem à promoção, prevenção e vigilância da saúde da população por meio da alimentação saudável.
Foto: Shutterstock.com
ALTERAÇÕES NO CONSUMO E PADRÃO ALIMENTAR DA POPULAÇÃO
BRASILEIRA E SEUS EFEITOS NA TRANSIÇÃO NUTRICIONAL
As mudanças no estilo e nos hábitos alimentares da população vêm acontecendo rapidamente na maioria dos países, sobretudo, naqueles subdesenvolvidos. As grandes mudanças envolvem a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados (arroz, feijão, mandioca, batata, legumes, frutas e verduras) e preparações culinárias à base desses alimentos por produtos industrializados prontos para consumo. Essas modificações, observadas fortemente no Brasil, contribuem para o desequilíbrio na oferta de nutrientes e a ingestão excessiva de calorias (BRASIL, 2014).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o consumo diário de frutas, legumes e verduras é um importante fator de proteção e de prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, reduzindo assim o risco de mortalidade por essas doenças (WHO, 2014).
O último Vigitel mostrou que o consumo regular de alimentos in natura, ou seja, o consumo de frutas e hortaliças em cinco ou mais dias da semana, foi de 34,3% dos entrevistados, sendo menor entre homens (27,9%) do que entre mulheres (39,8%). Em ambos os sexos, essa frequência tendeu a aumentar com a idade e com o nível de escolaridade (VIGITEL, 2019). O consumo diário adequado desses alimentos é de 400 gramas de frutas e hortaliças, o que corresponde, aproximadamente, ao consumo diário de cinco porções desses alimentos. Segundo pesquisa, a frequência de consumo recomendado de frutas e hortaliças da população brasileira foi de 22,9%, sendo menor entre homens (18,4%) do que entre mulheres (26,8%), aumentando de acordo com o nível de escolaridade (VIGITEL, 2019).
Nesse sentido, observamos que uma pequena parcela da população, menos de 25%, atinge o consumo diário adequado de frutas, legumes e verduras, demostrando um baixo consumo de alimentos saudáveis importantes para a promoção e prevenção da saúde. Em contrapartida, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a venda de alimentos industrializados aumentou cerca de 8,3% entre 2009 e 2014, último ano com dados disponíveis, e o estudo ainda prevê que aumentaram 9,2% de 2014 a 2019. A OPAS apresenta ainda que houve um aumento de 40,9% entre 2009 e 2014 na venda de bebidas açucaradas (OPAS, 2019).
Outro estudo relevante que apresenta informações sobre a transição nutricional no Brasil é a Pesquisa de Orçamentos Familiares. Dados divulgados recentemente demostraram que o consumo de alimentos ultraprocessados representaram cerca de 18,4% das calorias ingeridas pela população. Na edição de 2002/2003, representavam 12,6% das calorias e em 2008/2009 atingiram 16%.
O crescimento segue mais lentamente e muitos estudos atribuem esse feito às ações e à elaboração de materiais educativos buscando incentivo ao consumo de alimentos saudáveis, como o Guia Alimentar da População Brasileira (IBGE, 2019).
ALTERAÇÕES NOS NÍVEIS DE INATIVIDADE FÍSICA E SEDENTARISMO
DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, E SEUS EFEITOS NA TRANSIÇÃO NUTRICIONAL
Em consonância com as alterações no perfil alimentar da população brasileira, os níveis de prática de exercício físico de maneira sistemática também sofreram alterações. De acordo com a OMS, a recomendação de frequência semanal de exercício físico, é no mínimo de 150 minutos de atividades de intensidade moderada ou pelo menos 75 minutos de atividades de intensidade vigorosa, objetivando a manutenção e melhora da saúde (WHO, 2014).
O Vigitel 2019 demostrou que cerca de 44,8% da população estudada não alcançaram um nível suficiente de prática de atividade física semanal, de acordo com a recomendação da OMS, sendo esse percentual maior entre mulheres (52,2%) do que entre homens (36,1%) (VIGITEL, 2019).
Segundo o Vigitel 2019, o percentual de indivíduos fisicamente inativos, ou seja, os indivíduos entrevistados que relataram não ter praticado qualquer atividade física, que não realizam esforços físicos relevantes no trabalho ou no deslocamento e que não participam da limpeza pesada de suas casas foi de 13,9%, com diferenças mínimas entre os sexos. Analisando os dados do estudo divulgado no ano de 2006, esse percentual de indivíduos fisicamente inativos foi de 39,8% em homens e 20,1% em mulheres, demostrando uma melhora significativa na redução da inatividade física.
A frequência de adultos que despendem três horas ou mais por dia do tempo livre assistindo à televisão ou usando computador, tablet ou celular aumentou consideravelmente nos últimosanos. Em 2010, o Vigitel apresentou que cerca de 28,2% da população entrevistada costumava assistir três ou mais horas de televisão por dia, já a partir dos dados divulgados em 2019, 62,7% da população entrevistada despende três horas ou mais por dia do tempo livre assistindo à televisão ou usando computador, tablet ou celular, o que caracteriza um comportamento sedentário (VIGITEL, 2019).
Esses dados merecem um olhar atencioso tendo em vista que diversos estudos apresentam que a inatividade física e o comportamento sedentário podem contribuir para o aumento da obesidade, sobrepeso e, consequentemente, para o aumento do risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, caracterizando a transição nutricional na população brasileira.
MUDANÇAS NO PERFIL NUTRICIONAL DA POPULAÇÃO BRASILEIRA
As mudanças no padrão da alimentação e saúde da população brasileira aconteceram ao decorrer dos anos. Algumas das mudanças incluíram:
PESO AO NASCER
O peso ao nascer é um dos determinantes da situação de saúde infantil, pois reflete, em muitos casos, a condição socioeconômica e nutricional da mãe e à qualidade da atenção recebida durante o período gestacional, além de influenciar no crescimento e no desenvolvimento do indivíduo ao longo de toda a sua vida (CZARNOBAY et al, 2019).
Segundo o Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade infantil (crianças menores de 1 ano) apresentou uma queda nas últimas décadas no Brasil. O número de óbitos reduziu de 47,1 a cada mil nascidos vivos em 1990 para 15,6 em 2010 (BRASIL, 2012).
Nesse sentido, o peso ao nascer é considerado um fator importante para o estado nutricional da criança, redução da mortalidade infantil e é utilizado para avaliação do índice de desenvolvimento humano (IDH) dos países, demostrando a grande importância desse parâmetro. Durante os últimos anos, as análises estão direcionadas ao baixo e ao excesso de peso ao nascer de maneira igualitária, acompanhando a transição nutricional da população.
O excesso de peso ao nascer apresentou dados alarmantes e, de acordo com o estudo, em 2025, teremos cerca de 70 milhões de crianças nascidas com excesso de peso ao nascer, caracterizando um grave problema de saúde pública (CZARNOBAY et al, 2019).
Em relação ao baixo peso ao nascer (< 2.500g), no Brasil, a média é 8% dos nascidos vivos, sem grandes variações desde a década de 90, onde apresentou 7,9% em 1996, 8,2% em 2007 e 8,4% em 2010 (BRASIL, 2012).
ATENÇÃO
Ressalta-se, portanto, a importância das ações integrais à saúde da gestante, tendo em vista que muitos casos de alteração no peso ao nascer estão relacionados à situação pregressa de saúde da gestante e aos cuidados durante o pré-natal.
DESNUTRIÇÃO EM CRIANÇAS
O processo de transição nutricional no Brasil provocou mudanças no perfil de saúde da população brasileira. O país avançou na luta contra a desnutrição e a fome, cenário epidemiológico até a década de 1990, e conseguiu reduzir esses agravos, embora ainda existam populações vulneráveis. Em contrapartida, os casos de excesso de peso em todas as faixas etárias aumentaram consideravelmente (BRASIL, 2014).
Nos últimos anos, os casos de desnutrição e fome começaram a aumentar novamente. De acordo com a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, entre o período de 2014 e 2016, 37,5 milhões de pessoas viviam em situação de insegurança alimentar (dificuldade de acesso ao alimento seguro, nutritivo e suficiente o ano todo) moderada no país, já no período entre 2017-2019, esse número aumentou para 43,1 milhões de pessoas. O estudo apresenta ainda que a fome atualmente afeta 7,4% da população mundial e deve aumentar para 9,5% até 2030 (FAO, 2020).
ATENÇÃO
Nesse sentido, é urgente a realização de ações voltadas ao quadro de insegurança alimentar, assim como a prevenção e promoção da saúde, tendo em vista o aumento da população em situação de insegurança alimentar e nutricional.
CARÊNCIAS NUTRICIONAIS: ANEMIA
A anemia é um problema de saúde pública que afeta países desenvolvidos e em desenvolvimento, tendo como principais grupos de risco os lactentes, as crianças e as mulheres em idade fértil, incluindo as gestantes (BRASIL, 2006).
Ações do governo visando à redução dos casos de anemia no Brasil foram significativas para o controle dessa carência. Um exemplo dessas ações é a criação do Programa Nacional de Suplementação de Ferro, destinado a prevenir a anemia ferropriva (deficiência de ferro) a partir da suplementação universal de crianças de 6 a 18 meses de idade, gestantes a partir da vigésima semana gestacional e mulheres até o terceiro mês pós-parto e/ou pós-aborto.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança, a prevalência de anemia em menores de 5 anos foi de 20,9% em 2006, sendo que as maiores prevalências foram observadas nas regiões Sudeste (22,6%) e Nordeste do país (25,5%), apresentando um panorama positivo quando comparado com as prevalências de estudos realizados entre 1990 e 2000 (BRASIL, 2006).
AS BASES CONCEITUAIS DA TRANSIÇÃO NUTRICIONAL
O especialista Itamar Cunha aborda a crescente da obesidade/sobrepreso no Brasil.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, apresentamos as mudanças que aconteceram na dinâmica populacional e que influenciaram as mudanças no padrão de morbimortalidade e como que essas mudanças também repercutiram na situação nutricional da população. O envelhecimento da população, o aumento da mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis e violências somado ao aumento da morbidade por diabetes e obesidade representam enorme desafio para os profissionais de saúde, gestores e formuladores de políticas públicas, especialmente, no contexto de desigualdade social pelo qual passa o nosso país.
O fato do modelo de transição epidemiológica no Brasil ser do tipo prolongado representa um enorme desafio para o Sistema Único de Saúde. Esses desafios são potencializados pela sobreposição de agendas, onde verifica-se a persistência das doenças infectoparasitárias, o crescimento dos fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis e a enorme pressão das causas externas.
De modo geral, o contexto de transição demográfica, epidemiológica e nutricional no Brasil ressalta a importância da elaboração de ações de promoção de saúde e prevenção voltadas para as doenças crônicas. Contudo, é fundamental considerar as especificidades regionais e os grupos etários mais afetados, sejam crianças, adultos jovens ou os idosos.
PODCAST
Agora, o especialista Itamar Cunha aborda os desafios do profissional nutricionista devido à real situação da transição nutricional no Brasil.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
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EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, leia:
· O texto das autoras Ana Maria Vasconcellos e Marília Gomes para conhecer mais sobre a transição demográfica: Transição demográfica: a experiência brasileira.
· O texto do autor Elton de Souza, e saiba mais sobre a transição nutricional: Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatores.
· O texto da autora Joyce Scharamm e colaboradores, e saiba mais sobre a transição epidemiológica: Transição epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil.
CONTEUDISTA
Ana Cristina Reis
CURRÍCULO LATTES

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