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W BA 11 77 _V 1. 0 DOMÍNIOS DE DESEMPENHO TRABALHO DO PROJETO & ENTREGA 2 Eduardo de Faria Nogueira São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 DOMÍNIOS DE DESEMPENHO TRABALHO DO PROJETO & ENTREGA 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Ana Carolina Gulelmo Staut Revisor Thiago Oliveira da Silva Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Nogueira, Eduardo de Faria Domínios de desempenho trabalho do projeto & entrega / Eduardo de Faria Nogueira. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-375-9 1. Gestão de projetos. 2. Trabalho do projeto. 3. Entrega. I. Título. CDD 658.404 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O N778d © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Fundamentos do trabalho do projeto _______________________ 07 Grupo de processos e domínios de desempenho ___________ 18 Trabalho do projeto, modelos e métodos ____________________ 30 Entrega do projeto, modelos e métodos e artefatos _________ 45 DOMÍNIOS DE DESEMPENHO TRABALHO DO PROJETO & ENTREGA 5 Apresentação da disciplina Nos últimos anos, as abordagens acerca do gerenciamento de projetos e o desenvolvimento de inovações têm sido o objeto de estudos por diversas escolas de negócio e inúmeras corporações. Organizações privadas e governamentais, de todos os setores e com os mais diversos fins, se deparam, na atualidade, com desafios que dificultam a busca por seus objetivos estratégicos e, em muitos casos, restringem as condições para que possam garantir sua sobrevivência ou justificar sua existência. Tal situação se apresenta em um contexto de extenso dinamismo social e econômico, consequência das mais variadas transformações políticas e tecnológicas ao redor do mundo e, sobretudo, no Brasil. De modo geral, as organizações estão inseridas em um ambiente complexo, dinâmico e em constante mutação. A alteração nas regras de mercado, o surgimento de novas tecnologias e novos competidores, as extensas crises econômicas globais e os malefícios da pandemia são alguns fenômenos contemporâneos que exigem dos gestores constantes atualizações de seus modelos gerenciais, alto desempenho na entrega dos resultados e capacidade contínua de produzir inovações. As abordagens gerenciais direcionadas para a gestão de projetos sugerem estruturas organizacionais menos burocratizadas e mecanizadas, mais flexíveis e adaptativas a partir das necessidades e das expectativas dos seus principais interessados. Diante disso, a compreensão sobre as atuais perspectivas e metodologias de gestão de projetos, embasadas em conhecimentos teóricos e práticos aplicados nos mais variados setores e modelos organizacionais, se torna um imperativo para todos os administradores, 6 consultores e profissionais, de alguma forma, inseridos no ambiente dos negócios. Isto posto, a contribuição pedagógica da disciplina Domínios de Desempenho: Trabalho do Projeto e Entrega é muito oportuna. O material oferece, de modo acessível e abrangente, ótimos elementos técnicos e metodológicos sobre a gestão de projetos e seus domínios de desempenho, apresentando ao leitor conceitos consagrados, temas atualizados e visões gerenciais aplicáveis e bem-sucedidas no contexto organizacional. 7 Fundamentos do trabalho do projeto Autoria: Eduardo de Faria Nogueira Leitura crítica: Thiago Oliveira da Silva Objetivos • Compreender os aspectos conceituais acerca da noção de projetos. • Analisar as características gerais dos projetos. • Estabelecer as principais diferenças conceituais sobre portifólios, programas e projetos. 8 1. Introdução à gestão de projetos Ao completar o estudo deste tema, você deverá ser capaz de compreender os aspectos conceituais acerca dos projetos, suas características gerais, bem como as conexões entre os conceitos de projetos, programas e portifólios. A constante busca por competitividade faz com que os recursos no interior das organizações sejam aplicados em suas atividades, com objetivos que possam conduzir à realização de lucros e benefícios. Diante disso, tendo em vista os inúmeros processos e tarefas desenvolvidos nas organizações, podemos destacar dois tipos de orientação, que são – em natureza – fundamentalmente distintos. Dependendo do nível de instabilidade do ambiente organizacional e da intensidade em termos de pressões competitivas de mercado, as organizações podem ser mais orientadas às rotinas ou à inovação (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016). As organizações orientadas às rotinas tendem a produzir processos organizacionais burocratizados, atividades padronizadas e buscam maiores condições de previsibilidade nas decisões. São organizações que adotam uma postura mais reativa frente às situações de mudanças. Direcionam grande parte dos esforços no estabelecimento de metodologias e estratégias que favoreçam as ações cotidianas e que possam garantir maiores níveis de estabilidade nos processos empresariais e na tomada de decisão. Nas organizações orientadas às rotinas, os processos são estáveis, por vezes mecanizados e existe forte resistência à mudança. É comum encontrar pessoas que resistam a sair de sua “zona de conforto”, fazendo cotidianamente as mesmas coisas. Nestes casos, o trabalho com projetos tende a ser postergado ou parcialmente empregado (MENEZES, 2018). 9 Em outro extremo, as organizações orientadas à inovação tendem a se adaptar, com maior nível de naturalidade, às condições ambientais nas qual estão inseridas. São organizações cujas tarefas possuem elevado conteúdo de inovação, são pouco ou quase nada rotineiras, as pessoas e os sistemas devem ser adaptados a essa condição. As organizações orientadas aos projetos de inovação desenvolvem processos e tomam decisões tendo como base a avaliação minuciosa de variáveis incontroláveis de mercado (concorrência, políticas governamentais, avanços tecnológicos etc.), as quais exercem influência nas ações, nos processos e nas estratégias organizacionais. Nesse sentido, a geração de resultados e receitas das organizações orientadas à inovação depende fundamentalmente de processos inovadores atrelados aos projetos que são desenvolvidos. São organizações que buscam adaptar-se permanentemente e mais frequentemente às mudanças que ocorrem no meio (MENEZES, 2018). Um direcionamento estratégico pautado em inovações favorece o desenvolvimento de um ambiente gerencial flexível, menos burocratizado, aberto a conhecimentos multivariados e mais adaptativos. Isso facilita o trabalho dessas organizações, na medida em que conseguem desenvolver seus diferentes projetos em ambientes de maior nível de incerteza e instabilidade, em comparação às organizações orientadas às rotinas. Existem, ainda, as organizações que adotamuma orientação mista. São aquelas que conseguem desenvolver procedimentos e sistemas burocratizados que permitem algum nível de flexibilidade e movimentação em seus processos rotineiros. Possuem a capacidade de adaptação às mudanças de mercado, porém em menor nível em relação às organizações orientadas à inovação. 10 2. Projetos: aspectos conceituais Maximiano e Veroneze (2022) observam que um projeto deve ser um empreendimento delineado e orientado para a realização de tarefas específicas (visando a melhorias, atualizações, benefícios), buscando resultados singulares (inovadores e/ou exclusivos), por meio de entregas que possam ser consolidadas com base em um planejamento adequado às exigências dos principais interessados. Independentemente do tipo de orientação, as organizações dependem de uma postura estratégica que favoreça a otimização de seus recursos e a busca pela eficiência nos seus resultados frente às pressões competitivas de mercado. Sendo assim, cada vez mais, o desenvolvimento de projetos e seus aspectos gerenciais são ferramentas indispensáveis para que os gestores possam elaborar estratégias, planos de ação e construir modelos gerenciais que sejam mais adaptativos e inovadores. No contexto gerencial, os projetos são ferramentas fundamentais para construção de modelos organizacionais mais eficientes e compatíveis com as transformações de mercado. A estruturação dos projetos organizacionais deve ser desenvolvida com base nos fundamentos de gestão (planejamento, organização, direção, controle), considerando a qualidade dos recursos disponíveis (investimentos, custos, pessoas, tecnologias etc.), bem como o tempo necessário para sua consolidação (curto, médio ou longo prazo). Cada projeto possui objetivos distintos, particularidades que o caracterizam como sendo único em termos de entrega e resultado. Um projeto pode contribuir para a criação de produtos, serviços, tecnologias, processos, metodologias, conhecimento, entre outras situações que possam favorecer a produção de resultados tangíveis e/ou intangíveis. Em temos conceituais, um projeto pode ser caracterizado como 11 [...] um esforço temporário empreendido para criar um resultado, produto ou serviço exclusivo. Por temporário quer-se dizer que há datas de início e fim para um projeto, portanto uma duração. Isso não significa que sejam de curta duração, podendo durar vários anos conforme a sua natureza. Mesmo que um projeto se prolongue por muitos anos, devido a atrasos e problemas, ele é criado para ter duração finita. (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016, p. 2) Independentemente de sua natureza e complexidade, os projetos se movimentam e tendem a buscar soluções dinâmicas e transitórias para resolusão de problemas. Os projetos são constituídos de atividades e entregas, que deverão ser estruturadas em uma base orientada às situações de mudanças e inovações, oferecendo respostas mais flexíveis e adaptativas aos problemas e desafios organizacionais da contemporaneidade. Por buscarem resultados inéditos, exclusivos ou inovadores, os projetos podem ser estabelecidos temporariamente para que uma empresa consiga transformar sua trajetória, desenvolvendo novas marcas, produtos ou serviços, estruturando processos organizacionais, implementando sistemas de informação, produzindo conhecimento e tecnologias empresariais, entre outras possibilidades e aplicações (MENEZES, 2018). Ainda que alguns projetos possam apresentar semelhanças estruturais com outros anteriores, existem elementos exclusivos que os diferenciam e os tornam particulares: diferentes grupos de trabalho na execução do projeto; novas demandas e exigências por parte dos clientes; circunstâncias econômicas adversas; entre outros aspectos que destacam a peculiaridade do projeto em questão. Isso significa que, embora alguns projetos apresentem elementos repetitivos e resultados parecidos em termos de entrega, isso não altera as características essenciais e exclusivas do trabalho construído por meio de um projeto. Por exemplo, projetos de construções comerciais ou residenciais podem ser desenvolvidos com materiais idênticos ou similares pelas mesmas 12 equipes ou equipes diferentes. No entanto, cada projeto é único, um design diferente, uma localização distinta, circunstâncias e situações variadas, partes interessadas heterogêneas etc. Nos últimos anos, a utilização de projetos nas mais diversas áreas corporativas e setores empresariais se tornou uma realidade no ambiente organizacional (PMI, 2014). 3. Características gerais dos projetos Os projetos podem ser aplicados em todos os níveis organizacionais (operacional, tático/intermediário e estratégico). São empreendimentos que podem envolver uma única pessoa ou diversas equipes, uma organização isoladamente ou múltiplas unidades organizacionais. Considerando a natureza exclusiva dos projetos, é comum existir incertezas ou diferenças quanto aos resultados e às entregas. As atividades e exigências podem ser novas para os membros de uma equipe, isso exigirá um planejamento mais dedicado do que outros trabalhos de caráter rotineiro. Todo projeto tem por objetivo o fornecimento de um resultado singular, entregas ou entregáveis. Neste caso, podem conduzir à criação de: • Produtos: itens tangíveis, empreendimentos, componentes, ferramentas, tecnologias, produtos finais. • Serviços: serviços específicos para fins comerciais, eventos, capacidade de suporte a outras áreas da organização. • Processos: implementação e/ou melhoria nas operações de produção, atividades logísticas, processos comerciais, operações financeiras etc. • Metodologias: sistemas de gerenciamento, métodos de pesquisa, medidas de avaliação, planos de ação, projetos de melhoria contínua etc. 13 • Conhecimento: conceitos, informações, ideias, conclusões. • Organizações: desenvolvimento ou mudança de entidades organizacionais, criação de normas e regras institucionais, desenvolvimento de novos modelos de negócio. Os projetos são fundamentais para a geração de valor para a organização que os desenvolve e/ou executa, bem como para seus principais interessados (parceiros, fornecedores, clientes, consumidores, usuários etc.). São atividades que demandam otimização de recursos, gestão das entregas, apresentam riscos e possibilitam condições para que as empresas consigam reorganizar e/ou implementar processos e estratégias gerenciais. Nas organizações nas quais são desenvolvidos múltiplos projetos, é necessário definir critérios de classificação, de modo a direcionar a distribuição correta dos recursos frente ao grau de prioridade que se deve atribuir a cada etapa. Dentre os principais critérios de avaliação inicial, é fundamental que se analise: • O volume de recursos envolvidos: tecnológicos, financeiros, humanos, materiais. • O grau de incerteza do projeto: instabilidade, risco técnico, gerencial ou legal. • A relevância estratégica para os principais interessados (clientes, consumidores, acionistas etc.) ou para a própria organização executora. Dessa forma, uma correta orientação sobre os recursos e as decisões privilegia a escolha da melhor abordagem para construção das estratégias e dos planos de ação relacionado às principais entregas do projeto. Nesse sentido, podemos sugerir pelo menos duas dimensões gerais de classificação a considerar: complexidade gerencial e incerteza técnica do projeto (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016). 14 • Complexidade gerencial: diz respeito à dificuldade em termos de gerenciamento do projeto: grande quantidade de pessoas envolvidas; elevado número de entregas; projetos de longo prazo com altos custos de execução; dependência de fornecedores externos; visões conflituosas entre as organizações e seus principais interessados são alguns parâmetros que ilustram as variadas dificuldades enfrentadas na condução de projetos com alta complexidade gerencial. Exemplos: programas governamentais (sistemas de transferêcia de renda;projetos habitacionais), projetos industriais (implementação de sistemas de qualidade; projetos de negociação internacional), pesquisas acadêmicas e investigações longitudinais (medicina; antropologia; estatística), entre outros. • Incerteza técnica do projeto: refere-se à dimensão estrutural do projeto, envolvendo diretamente os recursos, as tecnologias e os conhecimentos necessários para sua elaboração. Consiste na relação entre o nível de dificuldade técnica operacional, o grau de inovação associado e a estabilidade dos objetivos propostos. Escopo incompleto ou indefinido no início do projeto; utilização de tecnologias inovadoras (e pouco exploradas) na resolução das atividades; indisponibilidade de recursos-chave previstos nas soluções técnicas das operações; ausência de qualificação profissional para desenvolvimento das principais entregas são alguns indicativos que apresentam certo nível de instabilidade e incerteza na condução técnica do projeto. A implicação prática de classificar um projeto por meio dessas dimensões possibilita a escolha de métodos e abordagens gerenciais que poderão ser ajustados conforme a característica de cada situação. Projetos mais simples e bem estruturados tendem a favorecer uma abordagem gerencial mais simplificada, com algum nível de padronização de seus processos e atividades, em certos casos até mesmo procedimentos informais. Nos projetos mais complexos, em contrapartida, são empreendimentos que demandam ampla experiência 15 e qualificação profissional, alto grau de planejamento, estruturação de estratégias e parâmetros gerenciais de nível profissional da equipe diretamente envolvida. Todo projeto é caracterizado como um esforço temporário, direcionado para a criação de entregas e resultados exclusivos e/ou inovadores. Sua natureza temporária e transitória indica que um projeto se inicia com base em necessidades, interesses em melhorias, benefícios e inovações. Por sua vez, a conclusão de um projeto será consolidada quando os objetivos são atingidos ou, ao contrário, quando os objetivos não serão ou não poderão ser alcançados. Ou ainda, quando a necessidade do projeto deixar de existir, por decisões políticas, estruturais ou no caso em que o cliente (cliente, patrocinador ou financiador) sinta a necessidade de encerrá-lo (PMI, 2014). 4. Portfólios, programas e projetos Na estruturação de sistemas organizados de gestão baseados em projetos, é importante a compreensão acerca da intersecção entre os conceitos de: projetos, programas e portifólios: • Projeto: um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. Os projetos podem ser independentes ou fazer parte de um programa ou portfólio, respeitando parâmetros de gestão, prazo, custo e qualidade (MENEZES, 2018). • Portfólio: refere-se ao conjunto de projetos, programas, subportfólios e operações gerenciadas de maneira ampla para o alcance de objetivos estratégicos. Organizações que desenvolvem projetos e mantêm procedimentos formais de gestão de portifólio, provavelmente, possuem seus portifólios estruturados ou sua carteira de projetos. Reconhecer oficialmente a existência do portifólio implica que os projetos sejam submetidos a processos 16 formais de análise, avaliação, seleção e autorização para sua execução. Uma organização pode desenvolver diversos portfólios de projetos (para cada tipo de projeto: pesquisa e desenvolvimento (P&D); tecnologia da informação (TI); eficiência produtiva etc.), que se subdividem em programas ou projetos, todos subordinados a um portfólio geral (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022; PMI, 2014). • Programas: são agrupados em um portfólio e contemplam projetos, subprogramas ou outros trabalhos que são administrados de forma coordenada, oferecendo suporte ao portfólio. Os projetos individuais que estão dentro ou fora do programa são de qualquer forma considerados parte de um portfólio. Em outros termos, um programa consiste em um grupo de projetos relacionados e gerenciados de modo coordenado para obtenção de benefícios que não seriam viáveis, caso fossem gerenciados individualmente. O gerenciamento de programas pode ser percebido como a administração de múltiplos projetos conectados, compartilhando objetivos de negócios ou metas comuns. Nesse sentido, do ponto de vista hierárquico, a dimensão associada à gestão do programa ocupa uma posição superior à gestão do projeto, ou seja, poderá existir um gerente de programa superior aos vários gerentes de projeto componentes de um programa específico. Existem diversos motivos para o desenvolvimento de programas em paralelo aos projetos independentes, dentre os mais comuns estão: distâncias geográficas entre as equipes e a complexidade dos objetivos, comum em programas governamentais (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016). Vale ressaltar que a construção de programas, projetos e seus portifólios deve estar diretamente ligada ao plano estratégico da organização. O planejamento estratégico exerce impacto nos projetos, por meio da priorização de projetos baseados em análise de riscos, avaliação de potenciais financiamentos, entre outras considerações relevantes à missão, à visão e aos valores da organização. O planejamento pode estabelecer as diretrizes para a gestão dos recursos e oferecer suporte aos projetos para seu direcionamento e implementação. 17 O desenvolvimento de projetos é uma atividade essencial para a construção de inovações no contexto das organizações. A capacidade de gerenciar recursos e processos em torno de um projeto permite que as empresas possam atingir resultados cada vez mais qualificados e eficientes. Nesse sentido, compreender as razões e saber diferenciar um projeto de outra atividade rotineira é fundamental. Essa diferenciação permitirá a escolha de métodos e ferramentas mais adequados para trabalhar em diferentes situações. Dessa forma, obtendo a melhor relação custo-benefício no uso de ferramentas específicas para o gerenciamento de sistemas produtivos específicos e inovadores. Referências CAVALCANTI, F. R. P.; SILVEIRA, J. A. N. Fundamentos de Gestão de Projetos. São Paulo: Atlas, 2016. MAXIMIANO, A. C. A.; VERONEZE, F. Gestão de Projetos: preditiva, ágil e estratégica. 6. ed. Barueri: Atlas, 2022. MENEZES, L. C. de M. Gestão de Projetos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos (guia PMBOK®). 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. 18 Grupo de processos e domínios de desempenho Autoria: Eduardo de Faria Nogueira Leitura crítica: Thiago Oliveira da Silva Objetivos • Compreender as noções conceituais sobre gestão de projetos. • Analisar as principais características sobre grupos de processos. • Compreender as principais noções sobre domínios do projeto e suas relações com os modelos e métodos do trabalho do projeto. 19 1. Gestão de projetos: conceitos e características Ao completar o estudo deste tema, você deverá ser capaz de compreender as noções conceituais sobre gestão de projetos, grupo de processos, domínios de desempenho e suas relações com os modelos e métodos do trabalho do projeto. Do ponto de vista conceitual, podemos compreender a gestão de projetos como um conjunto de aplicações práticas de administração que inclui conhecimentos, habilidades, técnicas e ferramentas atreladas às atividades, aos processos e às entregas de um projeto, visando atender aos seus requisitos e objetivos (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016). Na estruturação dos parâmetros centrais de um projeto, é fundamental a identificação das suas reais necessidades e o estabelecimento de objetivos claros e possíveis de serem alcançados. Dessa forma, buscando um equilíbrio entre as demandas conflitantes de escopo, tempo, custo e qualidade, além do balanceamento dos objetivos do projeto frente às diferentes prioridades e expectativas das partes interessadas. Figura 1 – Restrições em gerenciamento de projetos Fonte: adaptadade Cavalcanti e Silveira (2016, p. 10). 20 Escopo, custo, tempo e qualidade são aspectos centrais para a construção de qualquer natureza de projeto. Os projetos podem variam em termos de finalidade, complexidade e volume de recursos empregados. A gestão de um projeto diz respeito a um conjunto de decisões sobre as diferentes áreas do conhecimento, ao longo do ciclo de vida, contemplando as etapas de iniciação, planejamento, execução, monitoramento e conclusão do projeto (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022). A dimensão do planejamento representa as principais justificativas do projeto, as descrições objetivas de suas finalidades, a declaração do escopo, bem como as estimativas de recursos, custos e tempo. A organização refere-se ao dimensionamento dos recursos, da equipe, da infraestrutura e dos serviços atrelados às atividades e entregas do projeto. A execução diz respeito ao acionamento direto dos recursos e ao direcionamento dos trabalhos. O monitoramento e o controle são atividades fundamentais para a avaliação e o acompanhamento do desempenho dos resultados. Por fim, o encerramento do projeto é uma dimensão essencial para a consolidação do trabalho, o fechamento de contas, a estruturação dos relatórios e a entrega dos resultados. 2. Processos de gerenciamento de projetos O gerenciamento de projetos pode ser realizado por meio da aplicação e da integração apropriadas de diferentes processos, logicamente agrupados em categorias gerais, que podem ser compreendidas como: grupos de processos de gerenciamento de projetos ou somente grupos de processos (PMI, 2014): • Iniciação. • Planejamento. • Execução. 21 • Monitoramento e controle. • Encerramento. Figura 2 – Grupos de processos de gerenciamento de projetos Fonte: adaptada de PMI (2014, p. 32). Os grupos de processos são agrupamentos que contribuem para que os gestores consigam sistematizar todas as atividades, movimentações e tarefas na estruturação planejada dos projetos, enfatizando as principais etapas e definindo uma lógica de prioridades que leve em consideração a otimização de tempo, recursos e entregas (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022). • Processos de iniciação: definição da etapa inicial de um projeto ou de uma nova fase de um projeto existente, realizada por meio da obtenção de autorização de iniciação, consolidada no termo de abertura do projeto. Nos processos de iniciação, são definidos os detalhes sobre o escopo do projeto e sua estrutura orçamentária. São identificadas as partes interessadas (internas e externas) e suas interações com os resultados gerais dos trabalhos. É também o momento para a escolha do gestor do projeto (gerente de projeto). Assim que o termo de abertura estiver aprovado, o projeto é oficialmente autorizado. 22 • Processos de planejamento: necessários para a definição do escopo do projeto, readequação dos objetivos durante o percurso inicial e estruturação das linhas de ação e tomada de decisão. Nesta etapa, são desenvolvidos os parâmetros para o plano de gerenciamento do projeto e principais documentos que serão utilizados para sua execução. Dessa forma, a etapa de planejamento será essencial para que as diversas fases do projeto sejam exploradas, considerando os aspectos do escopo, tempo, qualidade, comunicações, recursos humanos, riscos, aquisições e gerenciamento das partes interessadas. • Processos de execução: realizados para executar o trabalho e satisfazer as especificações definidas no plano de gerenciamento do projeto. Este grupo de processos envolve a coordenação de pessoas e recursos, integrando e operacionalizando as atividades em conformidade com o plano de gerenciamento. Nesta etapa, os resultados alcançados deverão ser submetidos a avaliações, por vezes requerendo atualizações no planejamento e/ou mudanças nas linhas de base, por motivos diversos: disponibilidade de recursos, alinhamento de novos prazos, avaliação de riscos imprevistos, entre outros. Grande parte do orçamento do projeto será gasta na etapa de execução dos processos. • Processos de monitoramento e controle: fundamentais para o acompanhamento, a análise e a organização do status, progresso e desempenho do projeto frente às expectativas previstas no plano de gerenciamento. O processo de monitoramento permite a identificação das áreas que necessitam de mudanças e/ou atualizações e possibilita uma avaliação sobre as ações corretivas e preventivas importantes para o andamento das entregas. A principal vantagem desta etapa refere-se aos processos de medição contínua e análise da performance do projeto. Isso permite que a equipe envolvida tenha uma visão abrangente sobre os principais indicadores de desempenho do projeto e a performance dos resultados obtidos durante e após a execução das atividades e entregas do projeto. 23 • Processos de encerramento: são aplicados para a finalização de todas as atividades dos grupos de processos, visando à conclusão formal do projeto, da fase, ou das obrigações contratuais previamente estabelecidas. Nesta etapa, é importante que o gestor faça a verificação de todas as entregas do projeto, em suas diferentes etapas, com o objetivo de consolidar o encerramento do projeto de modo formalmente apropriado. Caso seja necessário, este grupo de processos também formaliza o encerramento prematuro dos projetos, podendo incluir, por exemplo: projetos abortados, projetos cancelados e projetos em situação crítica. É importante destacar que, didaticamente, os processos de gerenciamento de projetos são apresentados como elementos distintos com interfaces delimitadas. No entanto, do ponto de vista de sua implementação, devem ser considerados como processos integrados, que se sobrepõem, interagem e estão vinculados pelas saídas que produzem ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento do projeto. Em muitas ocasiões, a saída de um processo torna-se uma entrada em outro processo ou uma entrega do projeto, ou fase subsequente. Nesse sentido, os processos de planejamento oferecem ao grupo de execução o plano de gerenciamento e os artefatos necessários para o andamento do projeto. As informações obtidas na fase de execução serão utilizadas na etapa de controle e monitoramento, e assim sucessivamente. 3. Domínios de desempenho do projeto: aspectos gerais Além da estrutura de trabalho a partir do grupo de processos, os projetos podem também ser arquitetados com base na perspectiva de seus domínios de desempenho. Um domínio de desempenho do projeto pode ser caracterizado como um grupo de atividades integradas, que 24 apresentam aspectos críticos para a eficácia e o alcance dos objetivos dos projetos (PMI, 2021). Os domínios de desempenho incrementam a perspectiva relacionada aos grupos de processos e oferecem uma base geral para o detalhamento dos parâmetros de entregas e suas diferentes áreas do conhecimento presentes nos projetos organizacionais. De modo geral, partindo dessa abordagem, podemos listar doze princípios e oito domínios do desempenho do projeto que delimitam suas características em termos de estruturação (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022): • Princípios: (1) Governança; (2) Equipe colaborativa; (3) Stakeholders; (4) Foco em valor; (5) Pensamento sistêmico; (6) Liderança; (7) Personalização; (8) Qualidade; (9) Complexidade; (10) Riscos; (11) Adaptabilidade e resiliência; (12) Mudança (PMI, 2014). • Domínios do desempenho: (1) Stakeholders (partes interessadas); (2) Equipe; (3) Desenvolvimento e ciclo de vida; (4) Planejamento; (5) Trabalho do projeto; (6) Entrega; (7) Medição de desempenho; (8) Incertezas e ambiguidades (PMI, 2014). Os princípios oferecem as diretrizes gerais para que os projetos possam dinamizar suas rotinas, delinear suas entregas e dimensionar todas as etapas presentes em um projeto organizacional; sintetizam os objetivos a serem alcançados e traduzem as boas práticas de gestão. Os princípios funcionam como bases epistemológicas para a construção de um pensamento sistêmico,integrativo e adaptativo em termos gerenciais, que serão fundamentais para a elaboração de estratégias, metodologias e processos aplicáveis e capazes de produzir inovações. Os aspectos referentes aos domínios de desempenho representam parâmetros para o direcionamento dos principais resultados esperados e suas aplicações em diferentes campos do conhecimento. A execução eficaz de cada domínio de desempenho deverá contribuir para que os gestores consigam resultados que atendam simultaneamente às partes 25 interessadas (stakeholders: indivíduos e/ou organizações; patrocinador; cliente; colaboradores; empresas etc.) e as dimensões estruturais de organização do projeto (escopo, recursos, prazo, custos). Seguem maiores detalhes sobre cada domínio de desempenho: 1. Partes interessadas (stakeholders): o gerenciamento das partes interessadas é a área responsável pelo engajamento dos atores impactados (diretamente ou indiretamente) pelo projeto. Diz respeito à área destinada a fornecer informações precisas sobre os stakeholders, sugerindo detalhes sobre suas características, perfis, interesses e expectativas. Isso é importante, pois permite aos gestores o direcionamento de ações e estratégias que atendem aos anseios e às exigências das partes interessadas. 2. Equipe: a equipe de projeto é composta por pessoas (com funções e responsabilidades atribuídas) e demais recursos necessários para a construção e implementação das atividades de um projeto: materiais, equipamentos e tecnologias. O gerenciamento da equipe e dos recursos do projeto inclui o planejamento e a gestão de pessoas (delimitação de funções, competências, responsabilidades, relações profissionais) e permite a mobilização da equipe para a obtenção de recursos humanos e materiais para execução do projeto. De modo abrangente, o gerenciamento da equipe possibilita o acompanhamento sobre o desempenho individual e coletivo e permite sugestão de feedback, resolução de problemas e melhorias de condições de trabalho. 3. Desenvolvimento e ciclo de vida: o ciclo de vida dos projetos corresponde ao mapeamento geral de todas as fases do projeto, por sua vez, oferecendo uma estrutura básica para o gerenciamento das principais entregas do projeto. De modo geral, a estrutura destacada nos grupos de processos serve de base para a construção de toda a trajetória de um projeto: iniciação, planejamento, organização, execução e conclusão. Cada 26 fase do projeto pode conter várias entregas a serem realizadas, apresentando resultados possíveis de verificação. 4. Planejamento: a etapa de planejamento consiste em uma das atividades mais importantes para o desenvolvimento dos projetos. O planejamento serve de base geral para a construção de todos os detalhes do projeto e contribui para que os gestores consigam estimar condições de entrega de valor, níveis de captação de recursos, mobilização de equipes, estimativa de riscos e demais condições de previsibilidade e/ou atualizações necessárias para o andamento do projeto. 5. Trabalho do projeto: as condições referentes ao trabalho do projeto dizem respeito ao nível de eficiência e eficácia dos resultados do projeto frente à estrutura de trabalho fornecida. A dimensão referente ao trabalho do projeto permite avaliar as condições de comunicação dos gestores do projeto com as partes interessadas, a eficácia do gerenciamento dos recursos físicos, bem como o nível de gestão das aquisições. 6. Entrega: as entregas são os resultados objetivos das atividades realizados para a conclusão dos trabalhos previstos na estruturação do planejamento de um projeto. As entregas podem ser materializadas em forma de produtos, serviços, informações e processos que sejam passíveis de verificação e capazes de consolidar a conclusão de uma etapa e/ou fase do projeto. As entregas devem possuir clareza em suas definições e ser compatíveis com os objetivos do projeto, e sua consolidação depende diretamente do nível de satisfação das partes interessadas nos resultados. 7. Medição de desempenho: consiste na avaliação sistematizada sobre a performance dos principais resultados do projeto. A análise de desempenho é fundamental para que os gestores possam estabelecer comparações, sínteses e avaliações periódicas 27 dos resultados frente à estrutura estabelecida no planejamento. O monitoramento e controle dos resultados permite que o gestor consiga tomar decisões com base em dados e informações objetivas, obtendo, assim, um nível de compreensão mais preciso e confiável sobre o status do projeto. 8. Incertezas e ambiguidades: a avaliação das incertezas e ambiguidades de um projeto diz respeito à percepção geral sobre as condições incontroláveis (múltiplas variáveis) que impactam na construção e condução de um projeto: ambiente tecnológico, social, mercadológico, econômico e político. São condições que exigem dos gestores a capacidade de analisar as potenciais ameaças e oportunidades, buscando compreender quais os riscos e as consequências das situações e dos problemas potencialmente avaliados. Em suma, os domínios de desempenho são atividades integradas e críticas para o desenvolvimento do projeto. Cada domínio possui dimensões distintas, porém conectadas, de modo que a equipe de projeto possa orientar suas atividades e estruturar processos de acordo com cada parâmetro estabelecido, oferecendo mais dinamismo e capacidade de adaptação às diferentes situações presentes na estruturação e condução dos projetos. 4. Modelos, métodos e artefatos do projeto No contexto da gestão de projetos, as noções de modelos, métodos e artefatos representam instrumentos fundamentais para o delineamento das perspectivas e para a execução das principais atividades inerentes à construção e execução dos trabalhos do projeto: • Modelos: os modelos podem ser compreendidos como mapas mentais ou frameworks que simbolizam formas didáticas 28 e esquematizadas de representação de uma determinada abordagem de pensamento que seja importante para a explicação de estruturas, fenômenos e processos organizacionais. Dimensões relacionadas à comunicação, à liderança, ao desenvolvimento de equipes, à gestão de conflito, à estrutura de planejamento, aos sistemas motivacionais e aos aspectos de mudanças organizacionais são exemplos de perspectivas que apresentam modelos mentais esquematicamente definidos e teorizados para a consolidação de estratégias, métodos e ferramentas de intervenção no desempenho dos projetos em seus diferentes domínios. “Os modelos refletem visões simplificadas e em pequena escala da realidade e apresentam cenários, estratégias ou abordagens para otimizar os processos e esforços de trabalho.” (PMI, 2021, p. 55). • Métodos: os métodos simbolizam meios sistematizados de aplicação do conhecimento e são as abordagens metodológicas desenvolvidas para que se alcance algum objetivo estabelecido: resultados, produtos, entregas e/ou saídas do projeto. As metodologias oferecem condições estruturadas de apoio aos trabalhos do projeto, assim como instrumentos, para que os gestores tenham respaldo analítico na construção de ferramentas de coleta, processamento e análise de dados e informações. Os métodos de coleta e análise de dados são utilizados para a compreensão aprofundada de uma determinada situação; os métodos de estimativa são usados para desenvolver uma aproximação de trabalho, tempo ou custo em um projeto; as reuniões são meios importantes para envolver a equipe do projeto e outras partes interessadas; além de outros métodos de gestão que são comumente utilizados para uma variedade de propósitos em projetos (PMI, 2021). • Artefatos: são formulários, documentos, registros, saídas ou entregas do projeto. Podem ser classificados como documentos que oferecem suporte para o planejamento e monitoramento dos projetos, tais como: planilhas de controle, documentos em texto, registros 29 organizacionais, cronogramas, contratos, relatóriosgerenciais, planos de ação, gráficos organizacionais, dados e informações visuais, requisições, listas de atividades, entre outros inúmeros registros presentes na estruturação dos diferentes domínios do projeto. São registros que fornecem modelos e instruções para a utilização adequada frente às diversas demandas do projeto (PMI, 2021). Como em qualquer processo, o uso de modelos, métodos e artefatos tem custos associados relacionados ao tempo de trabalho, ao nível de especialização e à proficiência dos envolvidas, impactos nos níveis de produtividade etc. As equipes de projeto devem considerar essas implicações ao decidir quais elementos devem ser priorizados no dimensionamento dos projetos (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022). Os fundamentos da gestão de projetos integrados aos parâmetros estratégicos das organizações podem oferecer ótimos caminhos decisórios para os gestores de empresas orientadas à inovação. Isso permite que as organizações consigam equilibrar as tensões do presente e do futuro, equalizando as necessidades de sobrevivência a curto prazo com um planejamento estratégico que garanta sua continuidade no longo prazo. A aplicação dos conceitos da gestão de projetos é um fator crucial para o sucesso de qualquer corporação em ambiente competitivo e inovador. Referências CAVALCANTI, F. R. P.; SILVEIRA, J. A. N. Fundamentos de Gestão de Projetos. São Paulo, SP: Atlas, 2016. MAXIMIANO, A. C. A.; VERONEZE, F. Gestão de Projetos: preditiva, ágil e estratégica. 6. ed. Barueri: Atlas, 2022. MENEZES, L. C. de M. Gestão de Projetos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos (guia PMBOK®). 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK Guide). 7. ed. Pennsylvania: PMI, 2021. 30 Trabalho do projeto, modelos e métodos Autoria: Eduardo de Faria Nogueira Leitura crítica: Thiago Oliveira da Silva Objetivos • Compreender os aspectos conceituais acerca do domínio de desempenho do trabalho do projeto. • Analisar as características gerais dos modelos e métodos relacionados aos processos, às restrições, à comunicação e à equipe do projeto. • Analisar as características gerais dos modelos e métodos relacionados aos recursos, aquisições, mudanças e aprendizagem organizacional por meio dos projetos. 31 1. Domínio de desempenho: trabalho do projeto Ao completar o estudo deste tema, você deverá ser capaz de compreender os aspectos conceituais acerca do domínio de desempenho do trabalho do projeto, bem como seus parâmetros gerais relacionados aos processos, às restrições, à comunicação, à equipe, aos recursos, às aquisições, às mudanças e à aprendizagem organizacional por meio dos projetos. O domínio de desempenho referente ao “trabalho do projeto” destaca as principais atividades e tarefas associadas aos processos operacionais e ao gerenciamento dos recursos do projeto. Além disso, o trabalho do projeto salienta a importância do gerenciamento estratégico das aquisições, a avaliação das restrições do projeto e sugere a promoção de um ambiente de trabalho focado na aprendizagem organizacional e sensível às mudanças. A aplicação prática deste domínio de performance contribui efetivamente para a busca dos seguintes resultados (PMI, 2021): • A eficiência e eficácia dos processos relacionados ao projeto. • Adequação dos processos aos requisitos e à infraestrutura do projeto. • Comunicação integrada e alinhada com as partes interessadas. • Gerenciamento eficiente dos recursos físicos (materiais, tecnologias etc.). • Gestão estratégica de aquisições, suprimentos e logística. • Mobilização da equipe e aprendizagem organizacional. Nesse sentido, é importante que os gestores do projeto criem condições para o desenvolvimento de estratégias que: 32 • Mantenham a equipe focada nos objetivos do projeto. • Facilitem o monitoramento das principais alterações e/ou atualizações do projeto. • Estabeleçam sistemas efetivos e integrados de comunicação. • Permitam o compartilhamento de informações, beneficiando os processos de aprendizagem e a transferência de conhecimento. Metas e objetivos do projeto claros e bem estabelecidos, compartilhamento coerente de informações durante as atividades e desenvolvimento de sistemas de aprendizagem organizacional são aspectos importantes para que os gestores e colaboradores se mantenham atentos e focados aos desafios do projeto. 2. Modelos e métodos: processos, restrições, comunicação e equipe 2.1 Processo do projeto Os processos organizacionais podem ser caracterizados pela integração de atividades, tarefas e comportamentos executados por pessoas, sistemas ou equipamentos para alcançar um ou mais resultados. Os processos definem a forma com que as organizações executam o trabalho, com o intuito de entregar valor para seus principais interessados (ABPMP BRASIL, 2013). No contexto dos projetos, os gestores e suas equipes devem elaborar procedimentos para a condução, análise e revisão periódica dos processos do projeto. Isso contribui para a verificação das potenciais limitações (gargalos produtivos, escassez de recursos, ruídos de 33 informações etc.) e do alinhamento entre os resultados e os parâmetros previstos nas etapas de planejamento (métricas parciais do projeto e indicadores de desempenho). De maneira geral, a quantidade de processos varia em função da amplitude do projeto. Grandes projetos, como as construções de grandes condomínios residenciais, o desenvolvimento de softwares gerenciais complexos ou a organização de grandes eventos, tendem a possuir mais processos do que pequenos projetos (a organização de um pequeno evento, a construção de uma única residência ou a estruturação de um projeto de pesquisa acadêmica). Os modelos e métodos de otimização dos processos podem incluir, mas não se limitam aos (PMI, 2021): • Métodos de produção enxuta: enfatizam a utilização de técnicas, tais como mapeamento do fluxo de valor, medindo a proporção de atividades que agregam ou não valor ao processo. As métricas calculadas oferecem informações de base para estruturação de sistemas de medição de processos, com o objetivo de identificar e eliminar potenciais falhas e limitações. • Feedback, análise retrospectiva e lições aprendidas: são parâmetros que devem ser discutidos e avaliados em reuniões periódicas com a equipe do projeto, com o intuito de oferecer oportunidades de revisão dos processos e sugestões de mudanças, buscando a melhoria contínua e a máxima eficiência. • Relação custo-benefício do processo: avaliação da viabilidade financeira do processo frente aos requisitos propostos no escopo e no cronograma, para que o gestor avalie a continuidade ou a interrupção das atividades e tarefas, com o objetivo de otimizar a entrega de valor aos interessados. A revisão dos processos deve cumprir a função de avaliação das conformidades do projeto, bem como seus níveis de eficiência e eficácia 34 para a maximização dos benefícios e a satisfação dos parâmetros de gestão. As metodologias de revisão servirão de base para a verificação dos possíveis desperdícios, limitações e fatores que impedem o progresso das atividades dentro de um projeto. Logo, é fundamental que os processos cumpram com os requisitos de qualidade (regulamentos, padrões de qualidade, políticas organizacionais) e consigam, ainda, produzir resultados satisfatórios para as partes interessadas. 2.2 Balanceamento das restrições do projeto Conduzir um projeto de sucesso deve incluir, necessariamente, a compreensão das principais restrições associadas aos trabalhos envolvidos. As restrições podem ser apresentadas como prazos de entrega externamente pré-fixados, cumprimento de requisitos regulatórios, limitações orçamentárias, escassez de recursos, políticas de qualidade restritivas, e assim por diante. As restrições se alteram ao longo do projeto, por exemplo:uma nova solicitação de trabalho por parte do cliente indicando possíveis modificações no projeto pode implicar limitações no cronograma e no orçamento, que, por sua vez, pode impactar nos parâmetros de qualidade e causar problemas no escopo do projeto. O equilíbrio das restrições é uma atividade contínua e deve prezar pela satisfação das partes interessadas durante todas as etapas do projeto. É fundamental que os gestores se preocupem com a transparência das informações sobre as principais restrições e estabeleçam uma comunicação direta, por meio de reuniões com clientes, parceiros, patrocinadores e proprietário do projeto, apresentando as principais alternativas, seus desdobramentos e suas implicações (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016). 2.3 Focos da equipe Os gestores do projeto têm a responsabilidade de avaliar e desenvolver estratégias que mantenha a equipe atenta e focada nas entregas do 35 projeto. A maximização da entrega de valor e a satisfação das partes interessadas dependem diretamente do equilíbrio entre a performance da equipe frente às demandas do projeto. A liderança da equipe inclui a percepção sobre a carga de trabalho do colaborador, suas atribuições, suas responsabilidades e seus níveis de satisfação e motivação. É importante que os gestores desenvolvam sistemas de comunicação que possam orientar os colaboradores durante as atividades, fornecendo informações sobre os resultados, objetivos, potenciais problemas, atrasos e desafios inerentes aos processos do projeto. Além disso, os líderes do projeto devem prezar por um ambiente colaborativo, mantendo boa qualidade nas condições de trabalho (infraestrutura, remuneração etc.), oferecendo informações precisas sobre metas, resultados e feedback aos colaboradores, para que se sintam motivados e compreendam sua importância para o sucesso do projeto (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022). 2.4 Comunicação e engajamento A comunicação e o engajamento são atributos essenciais para o desenvolvimento de todas as etapas do projeto. Os gestores devem estabelecer mecanismos de comunicação que possam oferecer informações precisas para a equipe e partes interessadas sobre os resultados, as entregas, os objetivos, as limitações e os problemas do projeto. A comunicação envolve o estabelecimento de procedimentos formais e informais, comunicação verbal e escrita. O desenvolvimento de documentos informativos, relatórios de desempenho, envio de e-mails, pauta de reuniões, termo de abertura do projeto, políticas organizacionais, estrutura analítica do projeto, fluxogramas de processos, repositórios eletrônicos são artefatos importantes para a estruturação de um plano de comunicação (MENEZES, 2018). 36 3. Modelos e métodos: recursos, aquisições, mudanças e aprendizado 3.1 Gestão de recursos físicos Os recursos físicos, materiais e tecnológicos estão presentes nos mais variados tipos de projetos. A organização, o transporte, o armazenamento, a distribuição e o controle dos recursos são atividades que demandam planejamento, gestão de tempo e esforço da equipe do projeto (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016). A administração dos recursos requer o desenvolvimento de um sistema logístico integrado que leve em consideração as políticas de aquisição e suprimentos, as condições estabelecidas no cronograma e escopo do projeto, bem como o relacionamento entre os gestores do projeto, seus parceiros logísticos e fornecedores de materiais, insumos e tecnologias. Dentre os principais objetivos da gestão dos recursos, o líder do projeto deve priorizar: • A redução dos custos logísticos: movimentação, armazenamento e distribuição. • A minimização de avarias, perdas e desperdícios de recursos materiais. • Um bom relacionamento com os principais fornecedores de recursos materiais. • A máxima eficiência na utilização dos insumos, materiais e tecnologias. Todo esse trabalho deve ser integrado com o cronograma do projeto considerando as entregas e as necessidades de recursos. Nos setores 37 de manufatura, por exemplo, o dimensionamento estratégico dos suprimentos de produção (quantidade de recursos necessários, alinhamento de entregas, qualificação de fornecedores etc.) é tarefa essencial para que os departamentos de compras, armazenamento e produção tenham eficiência produtiva e disponibilidade de entrega adequada ao planejamento e cronograma do projeto. Nos setores varejistas, por sua vez, o gerenciamento eficiente das entregas contribui para que as empresas consigam atender aos seus clientes dentro do prazo estabelecido, garantindo melhores índices de satisfação e atendimento. Além disso, o dimensionamento dos recursos físicos deve ser levado em consideração na elaboração do plano orçamentário e na construção do escopo do projeto. 3.2 Gestão das aquisições Os processos de aquisição e contratação são atividades fundamentais em diversos tipos de projetos. Compra de materiais, equipamentos, suprimentos, tecnologias, soluções de mão de obra e serviços são exemplos de situações muito comuns durante as etapas de um projeto. Organizações que possuem sistemas profissionais de gestão, geralmente, são aquelas que mantêm políticas e procedimentos rigorosos associados aos processos de aquisição e contratação. As políticas de aquisição e contratação são mecanismos de controle que orientam os gestores na elaboração de contratos, na solicitação de propostas, no estabelecendo limites de autoridade, na estruturação dos termos e condições de aquisição e na condução de procedimentos que deverão ser respeitados durante a compra de materiais e/ou contratação de serviços. Dentre os modelos e métodos de aquisição, podemos destacar como principal: o processo de licitação. A licitação é um modelo processual e formalizado de aquisição amplamente utilizado nos projetos governamentais e grandes 38 corporações. Do ponto de vista da organização compradora (geralmente, organizações públicas nos âmbitos municipal, estadual ou federal), o processo de licitação contribui para que as atividades de compras e/ ou contratação de serviços sejam efetuadas dentro de parâmetros formalmente estabelecidos, com base em aspectos legais de aquisição (normas, regulamentos, leis etc.). Do ponto de vista das organizações fornecedoras (organizações privadas e/ou governamentais), as propostas de negociação são colocadas à disposição da empresa compradora e avaliadas de acordo com as políticas de aquisição, considerando critérios de aprovação, tendo em vista aspectos, como: qualidade, disponibilidade de entrega, preço, tecnologia empregada e escopo oferecido. Nesse sentido, no contexto da gestão de projetos, podemos considerar alguns aspectos importantes sobre a estrutura processual do modelo de licitação. Isso compreende a construção de um sistema de aquisição pautado em políticas gerenciais e procedimentos legais e inclui o desenvolvimento e a divulgação de documentos de licitação. De maneira resumida, entre os principais documentos de licitação importantes para utilização em projetos, podemos incluir artefatos, tais como: solicitação de informações, solicitação de proposta e solicitação orçamentária (PMI, 2021). • Solicitação de informações (Request for information – RFI): documento utilizado para coletar informações sobre os potenciais fornecedores disponíveis no mercado (tecnologias utilizadas pelo fornecedor, sistemas de qualidade implementados, escopo técnico do fornecedor etc.). Antes de enviar uma oferta para os fornecedores previamente selecionados, é importante que o gestor do projeto compreenda com detalhes quais são as capacidades e limitações dos potenciais fornecedores. • Solicitação de proposta (Request for proposal – RFP): documento com maior nível de complexidade em termos de informações. Na solicitação de proposta, é importante que o fornecedor previamente 39 selecionado ofereça com detalhes quais serão as propostas de solução oferecidas, as informações sobre os níveis de serviços queserão prestados, os termos contratuais (prazos, pagamentos), bem como a descrição de todos os passos e procedimentos essenciais desde o início do contrato até a sua finalização. • Solicitação de orçamento (Request for quote – RFQ): documento utilizado quando o preço é o principal fator decisivo e a solução proposta está prontamente disponível. Geralmente, a utilização da proposta orçamentária é levada em consideração em compras de materiais, itens e tecnologias de menor grau de complexidade e menor nível de impacto nos processos do projeto. Isso significa que este documento pode ser utilizado quando não existe a necessidade de se debater as opções disponíveis com os fornecedores, o critério preço será um fator determinante para a contratação. Estes artefatos contemplam grande parte dos modelos de aquisição inseridos nos processos de compras e suprimentos. Uma vez que os documentos são distribuídos, os profissionais responsáveis pela compra deverão conferir todas as informações e estabelecer uma comunicação transparente e direta com seus potenciais fornecedores, para a discussão dos pontos fundamentais das propostas e a condução do processo de aquisição conforme seus desdobramentos. Uma vez que o fornecedor é selecionado, os planos e documentos do projeto são atualizados para incorporar as datas, os recursos, os custos, os riscos e os requisitos de qualidade do projeto. A escolha do melhor fornecedor pode ser embasada em diferentes critérios, como: experiência, referências, preço e entrega pontual. Essas variáveis podem ser ponderadas para refletir a importância relativa de cada uma dentro do critério de qualificação do fornecedor. Vale destacar que as aquisições podem ocorrer em qualquer ponto durante o projeto, e as atividades de aquisição devem ser integradas às operações de base dos trabalhos envolvidos. 40 3.3 Novos trabalhos e gestão da mudança Toda inclusão de trabalho e/ou modificação significativa nas entregas do projeto gera sempre algum impacto nos processos e nas atividades que já estão sendo conduzidos dentro de um cronograma previamente estabelecido. O gerenciamento das mudanças de um projeto deve ser executado no sentido de equilibrar as dimensões do cronograma de trabalho, os aspectos inerentes ao escopo do projeto e a administração dos recursos disponíveis para que o projeto permaneça coerente com as expectativas das partes interessadas. Dentro de um contexto de mudanças no projeto (seja por meio de alterações solicitadas pelo cliente; redirecionamento de rota em virtude de aspectos legais; motivos emergenciais, como uma pandemia; entre outras diversas situações), é importante que o líder do projeto atue, junto às partes interessadas, no gerenciamento das novas exigências e atividades em torno das mudanças e seus impactos no escopo do projeto, avaliando também quais serão as possíveis implicações no orçamento e recursos, bem como a disponibilidade dos membros da equipe em desenvolver novas demandas frente às solicitações (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022). O gerente de projeto deve desenvolver mecanismos de controle das mudanças (planilhas e/ou sistemas de controle sobre as alterações no escopo, cronograma, planejamento, equipe, orçamento do projeto etc.), e as solicitações devem ser formalmente registradas em documentos que comprovem o redirecionamento do trabalho e seus desdobramentos em termos de custos, tempo e riscos. As mudanças aprovadas (pelo cliente, patrocinador, financiador etc.) deverão ser integradas aos documentos de planejamento do projeto e comunicadas às partes interessadas apropriadas. 41 3.4 Aprendizagem por meio de projetos Durante a elaboração e execução dos projetos, ocorrem muitas oportunidades de aprendizagem e produção de conhecimento. A aprendizagem organizacional pode ser caracterizada como um processo contínuo de apropriação e geração de conhecimentos nos níveis individual, coletivo e organizacional, envolvendo diferentes modos de aprendizagem (aprendizagem formal e informal), alicerçado em uma dinâmica de reflexão e ação sobre as situações experienciadas, e voltadas para o desenvolvimento de competências gerenciais (ANTONELLO, 2005). O aprendizado por meio do projeto favorece a compreensão de conteúdos específicos do projeto em si por parte da equipe envolvida, por exemplo: o aprendizado sobre novas formas de realização das atividades ou maior rapidez na elaboração dos processos em projetos futuros. Por outro lado, ocorrem também aprendizados que podem ser compartilhados com outras equipes de projeto, com o objetivo de compartilhamento de informações relevantes, resultados consolidados e novas metodologias de trabalho (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022). Figura 1 – Aprendizagem, organizações e resultados Fonte: elaborada pelo autor. De maneira periódica, durante e após a finalização de um projeto, é fundamental que a equipe avalie quais foram as principais lições aprendidas, os pontos que necessitam de melhorias e quais serão os 42 próximos desafios, tendo em vista a experiência adquirida na construção e finalização dos trabalhos do projeto. Com isso, a equipe de projeto poderá desenvolver novas soluções, abordagens metodológicas e estratégias que possibilitem a produção de melhores resultados em projetos posteriores. 4. Trabalho do projeto e monitoramento dos resultados A identificação e o acompanhamento dos resultados são etapas cruciais para a avaliação do desempenho acerca das demandas inerentes ao trabalho do projeto. É importante que, a cada etapa do projeto, a equipe avalie sistematicamente quais foram os resultados alcançados em comparação aos objetivos previamente estabelecidos, bem como seus principais desdobramentos. Dentre dos parâmetros de avaliação, é fundamental que se analise (PMI, 2021): • O nível de eficiência e eficácia dos processos do projeto: são atividades que podem ser realizadas por meio de sistemas de auditoria, relatórios gerenciais e indicadores de desempenho que possam mensurar os níveis de entrega e principais conclusões a respeito dos processos críticos do trabalho do projeto. • Qualidade da comunicação e nível de engajamento dos envolvidos: dentro do plano de gerenciamento da comunicação, o líder do projeto deve analisar se os métodos e os artefatos de comunicação foram efetivamente entregues às partes interessadas. No decorrer dos trabalhos do projeto, ocorrem muitos ruídos nas informações, equívocos na interpretação dos dados, incompreensão a respeito das informações críticas dos projetos, e isso deve ser sistematicamente avaliado e combatido. • Gerenciamento eficiente dos recursos do projeto: os níveis de eficiência quanto à utilização dos recursos são aspectos que 43 devem ser detalhadamente analisados pelos gestores e líderes do projeto. Procedimentos metodológicos e artefatos gerenciais de controle de recursos devem ser utilizados para que os gestores possam comparar o nível de aproveitamento dos recursos frente aos investimentos e resultados alcançados no trabalho do projeto. • Gestão eficaz das aquisições: procedimentos de auditoria externa junto aos principais fornecedores, avaliação da qualidade dos sistemas logísticos atrelados ao projeto, compatibilidade das entregas frente ao cronograma e gerenciamento de recursos são exemplos de abordagens gerenciais que devem ser implementadas para um controle eficaz sobre os processos de aquisição e contratação. Em suma, o domínio de desempenho do trabalho do projeto possibilita, ainda, a integração com outros domínios de performance no projeto. O trabalho do projeto impacta e oferece suporte às atividades de planejamento, entrega e monitoramento dos resultados, como também condições para a construção de um ambiente que favoreça a comunicação eficaz e integrada da equipe de trabalho e o engajamento das partes interessadas. As metodologias e os procedimentos relacionados ao trabalho do projeto estão associados ao estabelecimento de processos operacionaisque servirão de base para a execução das atividades e tarefas, com o objetivo de favorecer toda a equipe do projeto, em busca dos ótimos resultados e das entregas com alto nível de performance. Referências ANTONELLO, C. S. A metamorfose da aprendizagem organizacional: uma revisão crítica. In: RUAS, R. L.; ANTONELLO, C. S.; BOFF, L. H. (eds.). Aprendizagem organizacional e competências. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 12-33. 44 ASSOCIATION OF BUSINESS PROCESS MANAGEMENT PROFESSIONALS BRASIL. ABPMP BPM-CBOK V3.0: Guia para o Gerenciamento de Processos de Negócio. [s.l.]: ABPMP BRASIL, 2013. CAVALCANTI, F. R. P.; SILVEIRA, J. A. N. Fundamentos de Gestão de Projetos. São Paulo: Atlas, 2016. MAXIMIANO, A. C. A.; VERONEZE, F. Gestão de Projetos: preditiva, ágil e estratégica. 6. ed. Barueri: Atlas, 2022. MENEZES, L. C. de M. Gestão de Projetos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK Guide). 7. ed. Pennsylvania: PMI, 2021. 45 Entrega do projeto, modelos e métodos e artefatos Autoria: Eduardo de Faria Nogueira Leitura crítica: Thiago Oliveira da Silva Objetivos • Compreender os aspectos conceituais acerca do domínio de desempenho da entrega do projeto. • Analisar as características gerais dos modelos e métodos associados à entrega de valor, aos requisitos e ao escopo do projeto. • Analisar as características gerais dos modelos e métodos relacionados aos parâmetros de qualidade do projeto. 46 1. Domínio de desempenho: entrega do projeto Ao completar o estudo deste tema, você deverá ser capaz de compreender os aspectos conceituais acerca do domínio de desempenho da entrega do projeto, bem como seus parâmetros gerais relacionados à entrega de valor, escopo e qualidade do projeto. O domínio de desempenho correspondente à entrega do projeto destaca as principais atividades e funções essenciais para a coordenação das entregas de valor do projeto (resultados exclusivos, benefícios e/ou inovações organizacionais), respeitando os requisitos do escopo e seus parâmetros de qualidade (PMI, 2021). As entregas podem ser materializadas em forma de artefatos, produtos, serviços, processos, metodologias, informações, conhecimento e modelos organizacionais desenvolvidos para a consolidação das etapas e/ou fases do projeto. O detalhamento e a coordenação adequada sobre as entregas são aspectos importantes para que a equipe de trabalho tenha a compreensão clara a respeito das exigências do projeto e suas especificações de qualidade. Além disso, as entregas devem respeitar o cronograma de trabalho, apresentar resultados alinhados aos objetivos descritos no planejamento do projeto e promover soluções sensíveis às expectativas dos seus stakeholders. De modo geral, as entregas do projeto devem oferecer resultados que: • Atendam aos requisitos do escopo e seus parâmetros de qualidade. • Respondam com eficiência às metas de prazo e custos do projeto. • Promovam benefícios, melhorias e/ou atualizações. 47 • Ofereçam resultados objetivos, exclusivos e/ou inovadores. • Garantam a satisfação dos principais interessados. Um projeto adequadamente articulado e executado deverá estabelecer uma relação integrada e positiva entre os objetivos, o detalhamento das entregas e os benefícios esperados pelos principais interessados. Em linhas gerais, o domínio de desempenho de entrega consiste na consolidação do trabalho previsto no planejamento, considerando toda a estruturação do ciclo de vida do projeto (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022). 2. Modelos e métodos: entrega de valor e escopo do projeto 2.1 Entrega de valor Os objetivos de um projeto vão além da produção de entregas, atendimento das metas do escopo e aceitação do cliente e/ou patrocinador; seriam estes os resultados mais diretos e visíveis do projeto. Entretanto, mais importante que as entregas objetivas, um projeto deve oferecer benefícios, vantagens e soluções inovadores para seus principais interessados (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016). Projetos bem-sucedidos e articulados entregam valor para as organizações (que os desenvolve e/ou executa) e seus stakeholders, e isso varia de acordo com suas exigências, particularidades e expectativas. Imagine um projeto governamental de benfeitorias na segurança pública de uma cidade, envolvendo investimentos em infraestrutura de tecnologia, preparação de policiais e melhoria na iluminação pública. Do ponto de vista material, podemos evidenciar as instalações dos postes 48 de iluminação e câmeras de vigilância como sendo entregas objetivas do projeto. Por outro lado, os valores produzidos, ou seja, benefícios do projeto para a população em geral, incluem a redução de crimes praticados, maior nível de capacitação dos policiais e aumento da segurança nos locais investidos. Nesse sentido, os projetos podem fornecer entrega de valor em termos comerciais (retorno econômico e/ou financeiro), soluções de hospitalidade (eficiência em atendimento, entrega e resolução de problemas), níveis mercadológicos (reconhecimento de marca, relevância mercadológica dos produtos e serviços), benefícios tecnológicos (criação de novas tecnologias em termos de processos, produtos, serviços etc.), entre outras dimensões relevantes para o atendimento às demandas dos grupos de interesses (WYSOCKI; MARQUES, 2020). 2.2 Requisitos do projeto Os requisitos são condições, características ou capacidades que devem ser supridas pelos produtos, serviços, processos ou resultados do projeto, com o objetivo de satisfazer as necessidades do negócio (contratos, níveis de desempenho, especificações técnicas, documentos formais etc.). Os requisitos devem ser descritos e documentados em artefatos que ofereçam suporte para a estruturação do escopo do projeto (PMI, 2021). Informações sobre as características técnicas dos produtos, as funcionalidades, o detalhamento das atividades, as normas regulatórias, a durabilidade, a disponibilidade e a descrição das principais entregas são situações que dependem da definição coerente dos requisitos do escopo frente aos objetivos do projeto. Artefatos, como a matriz de requisitos, a lista de verificação das entregas e os parâmetros de qualidade, são documentos de apoio para o controle dos requisitos e atendimento às demandas do projeto. 49 • Matriz de requisitos: documento que contém os registros descritivos dos requisitos do projeto (requisitos do negócio, dos produtos, serviços, processos). A descrição detalhada dos requisitos fornece informações de base para o controle e gerenciamento da qualidade do projeto. • Lista de verificação das entregas (Definition of Done – DoD): lista de verificação contendo todos os critérios que devem ser atendidos para que uma entrega possa ser considerada completamente atendida, finalizada. • Parâmetros de qualidade: conjunto de requisitos mínimos necessários para o desenvolvimento de processos, produtos e serviços associados aos níveis de exigência das partes interessadas. O registro dos requisitos favorece a construção de uma base de informações fundamentais para o gerenciamento e controle de qualidade do projeto. O gerenciamento ineficaz dos requisitos do projeto pode ocasionar situações de retrabalho, aumento do escopo, insatisfação do cliente, estouro do orçamento, atraso no cronograma e falha geral do projeto. Sendo assim, é fundamental que o líder do projeto seja o responsável ou delegue a função de gerenciamento dos requisitos para profissionais tecnicamente capacitados. Estes profissionais podem utilizar ferramentas, como software especializado, backlogs, fichas, matrizes de rastreabilidade ou algum outro método, para garantir que haja um nível adequado de flexibilidade versus estabilidade de requisitos, e que as mudanças nos requisitos do projeto sejam acordadas por todas as partes interessadas relevantes (CAMARGO; RIBAS, 2019). 2.3 Definições do escopo do projeto O escopo do projeto consisteno detalhamento e nas especificações do trabalho necessários para a realização das entregas do projeto, 50 atendendo aos respectivos requisitos. Associados ao escopo estão os requisitos, que são características, funcionalidades e especificações do produto, serviços ou processos resultantes do projeto, incluindo expectativas de desempenho e qualidade. O conjunto de requisitos constitui o escopo do projeto (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016). Figura 1 – Detalhamento do escopo do projeto Fonte: adaptada de Menezes (2018, p. 140). À medida que os requisitos são descritos, documentados e identificados, define-se também o detalhamento do escopo que irá atendê-los. Os principais artefatos utilizados para o planejamento do escopo do projeto são: • Declaração do escopo: documento que oficializa o registro dos parâmetros de gestão do projeto, as principais entregas, seus critérios de aceitação e termos de compromisso envolvendo a organização executora e seus principais interessados. • Estrutura Analítica do Trabalho (Work Breakdown Structure – WBS): decomposição hierárquica do escopo do projeto em atividades que deverão ser realizadas pela equipe para atingir os objetivos do projeto e criar as entregas necessárias. 51 Uma declaração de escopo pode conter um ou mais dos seguintes elementos: • Detalhamento do produto/serviço final do projeto: descrição textual sumarizada e concisa dos produtos e/ou serviços finais que serão produzidos com a execução do projeto. • Descrição das entregas (intermediárias ou secundárias): descrição textual dos itens e produtos intermediários e entregas secundárias desenvolvidas ao longo do projeto. • Requisitos de qualidade: parâmetros funcionais de maior visibilidade e requisitos importantes na perspectiva dos stakeholders que possam garantir o nível mínimo de qualidade dos produtos, processos e serviços entregues por meio do projeto. • Critérios de aceitação: detalhamento dos critérios de aceitação, medidas de desempenho e níveis de prioridade dos requisitos, os quais são essenciais para a aceitação do produto/ serviço por parte dos principais interessados. • Exclusões do escopo: descrição sobre aquilo que não está incluso no escopo do projeto, com o intuito de evitar ambiguidades e falsas expectativas. A declaração do escopo deve identificar os objetivos do projeto, as principais entregas e os critérios de aceitação alinhados às exigências dos stakeholders. A partir dessas definições, o escopo do projeto deverá ser detalhado de maneira estruturada com base na elaboração da Estrutura Analítica de Projetos (EAP). 52 Figura 2 – Estrutura analítica de projeto com foco em produtos Fonte: adaptada de Menezes (2020, p. 142). A EAP é uma ferramenta de comunicação visual do projeto. Representa uma decomposição hierárquica do trabalho do projeto orientada às entregas. A EAP subdivide o trabalho do projeto em partes menores, com o intuito de favorecer a gestão dos processos. É comumente representada por um diagrama hierárquico semelhante a um organograma. Cada nível descendente da estrutura analítica representa uma definição cada vez mais detalhada do trabalho do projeto (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016). A EAP pode ser considerada como um dos artefatos mais importantes para a gestão do projeto, pois se apresenta como uma potente ferramenta de auxílio na comunicação e no controle do escopo. A EAP pode ser incrementada com códigos de cores que representem o progresso de cada trabalho ou entrega do projeto e, ainda, com atributos, tais como prazo, custos e recursos associados. O desenvolvimento de uma EAP pode levar de algumas horas a alguns dias, dependendo da complexidade do projeto e do número de pessoas envolvidas no processo. 3. Modelos e métodos: qualidade do projeto O desempenho da entrega deve ser percebido para além do atendimento aos requisitos do escopo do projeto. Enquanto o escopo 53 fornece informações sobre aquilo que precisa ser efetivamente realizado, a qualidade expressa os níveis de desempenho e eficiência que deverão ser alcançados pelo projeto (PMI, 2021). Os parâmetros de qualidade podem ser refletidos nos critérios de aceitação dos produtos e serviços, na declaração de escopo e na documentação dos requisitos do projeto. Além disso, as referências de qualidade do projeto são importantes para o estabelecimento de políticas, procedimentos e processos de trabalho. Dentre os principais objetivos da gestão da qualidade no contexto dos projetos, podemos destacar (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022): • A satisfação dos principais interessados. • O desenvolvimento de ações preventivas. • A estruturação de sistemas de inspeção. • A busca por melhoria contínua dos processos do projeto. Os processos relacionados ao gerenciamento da qualidade do projeto podem ser caracterizados, basicamente, em três etapas: (1) planejamento da qualidade; (2) garantia da qualidade; (3) controle da qualidade. • Planejamento da qualidade: o planejamento da qualidade diz respeito à identificação dos padrões de qualidade essenciais para a realização do projeto e ao desenvolvimento de mecanismos que favoreçam seu alcance. A partir de mudanças e percepções durante o planejamento da qualidade, alguns ajustes podem ser necessários no cronograma do projeto ou, ainda, nas aquisições ou na gerência de riscos do projeto. • Garantia da qualidade: a garantia da qualidade pode ser caracterizada por procedimentos de verificação e orientação na execução dos processos do projeto. Sistemas de auditoria e inspeção das atividades do projeto são funções importantes para a 54 garantia dos níveis de qualidade do projeto e servirão de base para o desenvolvimento de ações corretivas e solicitações de mudanças nos processos. • Controle da qualidade: os procedimentos de controle de qualidade são desenvolvidos com o objetivo de avaliar o desempenho e recomendar mudanças necessárias nas atividades e nos processos do projeto. Planilhas de controle, indicadores de desempenho e métodos de resolução de problemas são ferramentas importantes para o desenvolvimento de sistemas de controle da qualidade. Além disso, o líder do projeto deve desenvolver modelos analíticos para avaliação dos critérios de qualidade e definições que consigam alinhar objetivos do projeto, custos relacionados ao gerenciamento da qualidade e suas conexões com normas e padrões de orientações para o atendimento aos requisitos do escopo do projeto. Sendo assim, podemos destacar alguns modelos importantes (CAVALCANTI; SILVEIRA, 2016): • Análise de custo-benefício dos processos: na etapa de planejamento da qualidade, os gestores do projeto deverão considerar o equilíbrio entre custo e benefício das atividades e processos relacionados às entregas do projeto. • Identificação das normas e padrões de referência: no planejamento da qualidade, é fundamental que se identifique quais são as normas e os padrões de referência (normas governamentais e institucionais, padrões de mercado, referências fornecidas pelo cliente, imposições internacionais etc.) necessários para a realização das atividades do projeto. • Avaliação do custo da qualidade: são custos que deverão ser avaliados para assegurar que o produto e/ou serviço atenda às expectativas das partes interessadas. Refere-se a custos de produção de acordo com os padrões de qualidade requeridos. Os custos 55 principais são: custos de prevenção (incorridos para evitar que falhas aconteçam); custos de avaliação (avaliação da qualidade do produto, detectando falhas e inconsistências); custos das falhas internas (incorridos devido a algum erro do processo produtivo, seja ele falha humana ou falha mecânica); custos de falhas externas (decorrentes de falhas no produto ou serviço quando estes se encontram no mercado e/ou são adquiridos pelo consumidor final). • Benchmarking: ferramenta metodológica que consiste na comparação das melhores práticas apresentadas por outros projetos e organizações,
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