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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3 1 DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NEUROLÓGICO .................... 3 1.1 Sinapse ....................................................................................... 4 2 ENVELHECIMENTO ......................................................................... 7 3 ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA ................................ 9 3.1 Envelhecimento ativo ................................................................ 11 3.2 Qualidade de vida: física, psicológica, social e ambiental ......... 13 4 HIPÓTESES PARA O ENVELHECIMENTO DO SISTEMA NERVOSO (SN).......... ..................................................................................... 16 4.1 Fatores que influenciam o envelhecimento cognitivo ................ 18 4.2 Desempenho cognitivo e envelhecimento ................................. 19 5 PRINCIPAIS DEMÊNCIAS NA FASE DE ENVELHECIMENTO ..... 22 5.1 Demência: introdução e conceito .............................................. 22 5.2 Doença de Alzheimer ................................................................ 23 5.3 Os fatores que explicam a involução cerebral ........................... 25 5.4 Cuidador familiar ....................................................................... 27 6 ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA DEPRESSÃO ................... 31 6.1 Depressão e funções cognitivas ................................................ 32 7 ESTIMULAÇÃO COGNITIVA .......................................................... 33 8 BIBLIOGRAFIA ............................................................................... 35 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 1 DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NEUROLÓGICO Fonte: observatorionacionaldoidoso.id O Sistema Neurológico recebe, analisa e integra informações. Receptores especializados são capazes de detectar estímulos e transformá-los em sinais elétricos. Esses sinais envolvem a comunicação intercelular e representam a informação neural que é integrada e processada pelo SN, dando origem a respostas apropriadas. O SN pode ser dividido em central e periférico: O sistema nervoso central (SNC) inclui o encéfalo e a medula espinal. O sistema nervoso periférico (SNP) representa a interface entre o meio ambiente e o SNC e inclui nervos cranianos e periféricos, sendo classificados em neurônios sensitivos (aferentes), neurônios motores (efetores) ou mistos. O SNP também pode ser subdividido em somático e autônomo (KOEPPEN; STANTON, 2009; DUTTON, 2010). Os principais componentes celulares do SN são os neurônios e as células gliais. Os neurônios são diferenciados por serem especializados em comunicação intercelular. Essa comunicação entre neurônios e células efetoras integra as informações sensoriais e promove respostas adequadas. As informações são codificadas em potenciais de ação conduzidos na membrana dos neurônios, os quais são passados adiante por processos químicos e elétricos, conhecidos como transmissão sináptica. Os neurônios são 4 delimitados por uma membrana plasmática e consistem em um corpo celular (soma) do qual emergem dendritos e um axônio. O corpo celular contém o núcleo e o citoplasma com organelas necessárias para a síntese proteica e a manutenção metabólica. Os dendritos representam a principal área de recepção e contato sináptico, enquanto os axônios transmitem os estímulos elétricos. A velocidade de transmissão da informação ao longo do axônio pode ser determinada pela bainha de mielina. Diferentemente dos neurônios, as células gliais não propagam potenciais de ação. Em vez disso, elas proporcionam suporte estrutural aos neurônios e mantêm o microambiente apropriado, o que é essencial para a função neuronal. As células gliais constituem a maioria das células do SN, podendo ser astrócitos, oligodendrócitos, células de Schwann e macrófagos. Os astrócitos modulam a atividade sináptica em sua vizinhança, secretam fatores de crescimento, participam do metabolismo e desempenham um papel fundamental no suporte estrutural e na resposta às lesões. Os oligodendrócitos (no SNC) e as células de Schwann (no SNP) envolvem o axônio, formando a bainha de mielina, que consiste em múltiplas camadas de membranas gliais justapostas e atua como isolante elétrico, resultando no aumento da velocidade de condução do potencial de ação. 1.1 Sinapse Sinapses são os contatos funcionais dos neurônios, o que permite a sua comunicação com outro neurônio ou com uma célula efetora. Com base em seu mecanismo de transmissão, as sinapses podem ser classificadas em elétricas, que envolvem junções comunicantes, ou químicas, as quais liberam neurotransmissores, sendo a maioria das sinapses no SN do tipo química. A liberação dos neurotransmissores desencadeia respostas elétricas pós-sinápticas (na célula receptora) mediadas por sua ligação a receptores. Essa resposta elétrica promove ações pós-sinápticas excitatórias ou inibitórias. Os principais neurotransmissores são glutamato, GABA (ácido γ-aminobutírico), acetilcolina, serotonina, dopamina e noradrenalina (KOEPPEN; STANTON, 2009). O SN é dividido em SNC e SNP, sendo o primeiro composto por medula espinal, córtex cerebral, bulbo, ponte, cerebelo, mesencéfalo, tálamo, 5 hipotálamo e núcleos da base. Os centros superiores são responsáveis por captar as informações sobre o meio ambiente por meio do SNP (receptores sensoriais), além de integrar e processar essa informação. A partir dos circuitos neurais, eles são capazes de organizar respostas voluntárias, reflexas e comportamentais. Além disso, essas estruturas estão implicadas na cognição, no aprendizado e na memória, planejando e executando os movimentos voluntários. A medula espinal é composta por 31 nervos espinais, os quais têm uma raiz dorsal, composta por fibras responsáveis pela inervação sensorial, e uma raiz ventral, formada por feixes de fibras nervosas responsáveis pela inervação motora. A medula ainda pode ser dividida de acordo com a vértebra pela qual suas raízes nervosas entram ou saem, podendo ser cervical, torácica, lombar ou sacral. A medula participa de quatro funções essenciais: Avaliação do sistema neurológico 1. receber impulsos sensoriais dos receptores na pele, no músculo, nos tendões e nas vísceras e, por meio da retransmissão desses impulsos sensoriais, conduzir aos centros encefálicos superiores. 2. conter neurônios motores somáticos que inervam os músculos esqueléticos e neurônios motores viscerais. 3. abranger fibras somatossensoriais que entram na medula e influenciam neurônios motores por intermédio de interneurônios, resultando nos movimentos reflexos. 4. incluir fibras descendentes que influenciam a atividade dos neurônios medulares. (KOEPPEN; STANTON, 2009. apud. DUTTON, 2010)Essas fibras se originam no córtex e no tronco cerebral e controlam os movimentos. O SNP é composto por nervos cranianos e nervos espinais. Os nervos que se conectam ao encéfalo são os cranianos e aqueles que começarem na medula são os periféricos. Os nervos cranianos compreendem 12 pares, cujas raízes entram e saem do tronco cerebral a fim de fornecer inervação sensorial e motora à cabeça e aos músculos da face. Os nervos periféricos são derivados da medula e são divididos em pares cervicais, torácicos, lombares, sacrais e um par coccígeo. Os nervos podem ser classificados de acordo com a sua função em sensitivos, motores ou mistos. As fibras sensoriais são as vias aferentes e entram pelo corno dorsal da medula, enquanto as fibras motoras representam as vias eferentes e saem pelo corno dorsal da medula. Os nervos sensitivos carregam a informação sensorial, que é codificada e transmitida por meio de 6 receptores específicos de órgãos dos sentidos, como visão, audição e olfato, ou também podem transmitir as informações detectadas por mecanorreceptores, termorreceptores, nociceptores e quimiorreceptores, enviando-as por vias aferentes para a medula e áreas superiores do SNC. Os nervos motores carregam a informação motora, ou seja, o comando motor que descende do córtex motor pelos tratos descendentes, e faz a sinapse na medula com o neurônio inferior, saindo desta e inervando o órgão efetor (KOEPPEN; STANTON, 2009; DUTTON, 2010). O planejamento do movimento é comandado pelo córtex cerebral, pelo tronco encefálico, pelos núcleos da base e pelo cerebelo. A execução envolve três estruturas: motoneurônio superior, motoneurônio inferior e músculo estriado esquelético. O motoneurônio superior está localizado no encéfalo (córtex motor) e faz sinapse com o motoneurônio inferior na medula. O principal trato descendente que conduz a informação motora é o trato corticospinal. O motoneurônio inferior sai pelo corno ventral da medula espinal e conduz a informação até as fibras musculares, fazendo sinapse na junção neuromuscular. Essa sinapse é mediada pela liberação de acetilcolina e resulta na contração muscular. Os núcleos da base e do cerebelo são considerados uma unidade de controle e agem ajustando o movimento. Os primeiros atuam corrigindo o movimento com base nas informações recebidas pelo córtex, enquanto o cerebelo também corrige o movimento, tornando-o melhor na próxima execução (aprendizado) depois de suavizar as transições. Receptores musculares e tendíneos fornecem informações sensoriais importantes para o controle do movimento. Essa informação é denominada proprioceptiva e serve como mecanismo de proteção, estabilização e manutenção do tônus muscular, auxiliando no controle dos movimentos e ajudando a guiar os movimentos voluntários e involuntários. O fuso muscular, localizado nas fibras musculares, é ativado pelo estiramento muscular (alongamento) e responde reflexamente com uma contração. Já o OTG se encontra na junção musculotendínea e responde ao aumento de tensão, promovendo relaxamento muscular (DUTTON, 2010). Além dos movimentos voluntários controlados pelos centros superiores, existem os movimentos reflexos, que são as respostas involuntárias ao estímulo, estereotipadas. Os reflexos são essenciais para a função normal e podem ser usados como ferramenta para avaliar a integridade funcional da medula. O circuito básico do reflexo é o arco reflexo, que pode ser dividido em três partes: ramo aferente (receptores e axônios sensoriais), que transporta 7 informações para o SNC; componente central (sinapses e interneurônios no SNC); e ramo eferente (neurônios motores), o qual é responsável pela resposta motora. Os reflexos são desencadeados por estímulos sensoriais, resultando, automaticamente, na resposta de um efetor. Eles podem ser controlados via espinal e supraespinal, sendo o primeiro mais simples e localizado por completo na medula espinal (reflexo de estiramento do fuso muscular, por exemplo). A via supraespinal envolve vias descendentes e o córtex, os quais geram e modulam padrões de movimento, incluindo reflexos posturais. Como essa resposta após o estímulo é previsível, os reflexos são úteis para entender a função medular. Apesar de a pessoa sentir o movimento em resposta ao reflexo, ela não sente que ele foi gerado por ela (por essa razão o reflexo é involuntário). 2 ENVELHECIMENTO Fonte: homecareidosos.com Para Moraes & Lima (2010), envelhecer representa todas as consequências ou efeitos da passagem do tempo todos os principais sistemas fisiológicos são afetados biologicamente, o que pode ser visto como um processo morfologicamente evolutivo. No entanto, essa intrusão não impede que a pessoa permaneça ativa, independente e feliz. Do ponto de vista espiritual, representa a conquista da sabedoria e a plena compreensão do sentido da vida. 8 Este processo do envelhecimento humano se dá em três níveis diferentes: biológico, psicológico e social. O envelhecimento biológico envolve mudanças fisiológicas, anatômicas, bioquímicas e hormonais, acompanhadas de gradual declínio das capacidades do organismo, causando mais fragilidades no organismo às agressões externas e internas. Há evidências de que o envelhecimento é de natureza multifatorial e ligada à programação genética e das alterações que ocorrem em nível celular-molecular (MORAES et al.; 2010.apud. DANI A; 2012). No processo do envelhecer, tanto normal quanto patológico, as funções executivas tendem a ficar prejudicadas. As alterações destas funções ocorrem de modo gradual e lento até os 60 anos, sendo considerado normal, tornando- se mais aceleradas a partir dos 70 anos. Segundo Dani A (2012), embora a grande maioria dos idosos, pelo menos uma doença crônica, não são todos que ficam limitados por essas doenças, e muitos levam vida perfeitamente normal, com as suas enfermidades controladas. Ainda de acordo com a autora supracitada consideram que as deficiências funcionais vão surgindo de maneira insidiosa no decorrer da vida, sendo apontada por senescência, sem comprometer as decisões, a organização e o planejamento de atividades rotineiras, não devendo ser considerado patologia. O envelhecimento psicológico transparece pelos comportamentos das pessoas em relação a si próprias ou aos outros, ligados a mudanças de atitude e limitações das capacidades em geral, levando a inadequações, readaptações e reajustamentos dos repertórios comportamentais, face às exigências da vida. O envelhecimento social está associado às normas ou eventos sociais que é regido, por um critério de idade, como casamento e aposentadoria, conforme DANI A; (2012). Estes três níveis de envelhecimento não tem uma ordem exata quanto ao seu aparecimento. DANI A; (2012) coloca que entender o envelhecimento a partir da sexta década de vida como atribuiu a O.M.S. seria um equívoco; porque ele está se processando durante a existência da pessoa. Por conta deste processo, enquanto um adolescente está maturando, paralelamente está ocorrendo o envelhecimento de certos sistemas do seu corpo, envelhecimento este que só irá parar com a morte. 9 3 ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA Para MOTA R; et al. (2017) A atenção à qualidade de vida tem se tornado cada vez mais importante devido ao aumento do número de idosos e ao aumento da expectativa de vida. E se envelhecer é uma mudança, então essas mudanças devem levar a uma melhor qualidade de vida. Portanto, identificar as condições para envelhecer bem, com boa qualidade de vida, é tarefa de diversas disciplinas das ciências biológicas, psicologia e ciências sociais, além dos limites da responsabilidade individual e hoje é considerada uma questão sociocultural o negócio. A literatura sugere que existem correlações entre qualidade de vida e relacionamentos sociais, suporte e expectativade vida, pois indivíduos que mantêm mais contato com amigos e familiares podem viver mais do que aqueles que não respeitam esses relacionamentos. E repensar o envelhecimento para destacar suas virtudes, potencialidades e características que promovem a longevidade saudável na terceira idade. Para Carneiro (2007) oferecer apoio físico, social, cultural, econômico e psicológico aos idosos, fazendo-os acreditar que são queridos, amados, valorizados e que fazem parte de uma rede social. Essa crença pode ter implicações positivas para sua saúde. Por outro lado, as relações sociais precárias são um fator de risco para a saúde dos idosos, podendo afetar as funções físicas e cognitivas na velhice, da mesma forma, os idosos que vivem em maior isolamento social apresentam maior risco de adoecimento ou morte. Portanto, em idosos que são altamente adaptativos e tendem a consumir e se exercitar moderadamente, há evidências de que as diferenças no envelhecimento podem ser devido a fatores genéticos, ambientais e outros fatores e estilo de vida. Assim, o envelhecimento ativo, que é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, tem aumentado a qualidade de vida dessas pessoas. A avaliação da qualidade de vida do idoso envolve a adoção de diversos critérios biológicos, psicológicos e socioculturais. Boa velhice significa estar satisfeito com a vida presente e ter expectativas positivas para o futuro. 10 Como resultado, vários fatores foram identificados como determinantes ou indicadores de felicidade na velhice, tendências como: Satisfação, aspecto interno e subjetivo que se trata de um construto multidimensional envolvendo a saúde biológica. Interação dentro e fora da família e avaliação que o idoso faz de sua situação atual. Atividade, quanto mais ativo o idoso, maior sua satisfação onde a questão não é a quantidade, mas quais, como e quanto aos pequenos eventos da vida diária estruturam a vida das pessoas idosas. Senso de controle, quanto menor, maiores as possibilidades de depressão, preocupação e desamparo. Mecanismos de autorregulação são responsáveis pela mobilização de comportamentos auto orientado pela auto-observação, julgamento e auto reação, onde influenciam descobrir significados para a existência que é crucial para os idosos. Processo adaptativo, a capacidade de lidar com eventos estressores. Assim, uma velhice satisfatória é amplamente medida subjetivamente, e é referenciada ao sistema de valores vigente por um período. A visão predominante é, portanto, que envelhecer satisfatoriamente depende de um delicado equilíbrio entre os limites e as potencialidades de um indivíduo que lhe permitirá enfrentar, com diferentes graus de eficácia, as inevitáveis perdas do envelhecimento. Neste sentido, a qualidade de vida que as pessoas terão quando avós dependem não só dos riscos e oportunidades que experimentarem durante a vida, mas também da maneira como as gerações posteriores irão oferecer ajuda e apoio mútuos, quando necessário (FRAIMAN, 2004 apud MOTA R; et al., 2017). À medida que os indivíduos envelhecem, sua qualidade de vida é fortemente determinada por sua capacidade de manter autonomia e independência. (OMS, 2005). Onde há uma boa velhice não é um atributo ou responsabilidade individual, mas uma interação entre o indivíduo e seu contexto, ambos em constante fluxo. 11 Não reprimido, o medo de nos sentirmos velhos é um fator que precisa ser debatido entre todos, especialistas e leigos, para que surjam outras possíveis soluções sociais. Indivíduos e organizações públicas e privadas devem enfrentar seus preconceitos e tabus diante da velhice, repensando o grande problema dos idosos: a incapacidade de participar da sociedade Presente positivo, mesmo com limitações enraizadas no físico e emocional, natural no decorrer da vida, amadurecer, envelhecer e morrer. De acordo com Santana (2012) as ações do governo e da sociedade brasileira para desenvolver políticas públicas de atendimento ao idoso têm aumentado, assim como a sociedade civil e outras organizações que têm focado suas ações e contribuído sobremaneira para o avanço da terceira idade. Estes desenvolvimentos ilustram os esforços nas áreas da prevenção, promoção, cuidados aos idosos e segurança social desta população. A implementação de um estilo de vida saudável, como ser fisicamente ativo, alimentar-se de forma saudável, abster-se do fumo e do álcool, participar dos cuidados com a própria saúde é importante em todas as etapas e pode prevenir doenças e comprometimento da função, aumentar a expectativa de vida e a qualidade de vida dos indivíduos. Portanto, rede de apoio social e relacionamentos pessoais, estilo de vida saudável são de grande importância na velhice. 3.1 Envelhecimento ativo O processo de envelhecimento está associado a muitos fatores, como o estilo de vida, as escolhas profissionais, a herança genética, dentre outros, que, juntos, marcam o corpo e a mente e passam a evidenciar os sinais deixados pelo tempo, modificando a relação do idoso com o mundo e com ele mesmo. O envelhecimento, contudo, também pode ser compreendido como uma fase de transformações positivas, que incluem o aperfeiçoamento de habilidades e a busca por mais satisfação de vida. (PEREIRA; COUTO, 2015 apud ABREU B; et al., 2018). Se por um lado os idosos passam a demandar cuidados e assistência quando a autonomia e as capacidades se tornam comprometidas e cujas 12 soluções para o problema incluem custos arcados por toda a sociedade, visto que se trata de uma questão de direitos humanos; por outro, a velhice pode ser pensada como ativa, com menos grau de dependência e mais inclusão. As mudanças na expectativa de vida atribuem a esse público idoso mais visibilidade e o introduz nas agendas políticas de forma mais efetiva. Para a OMS, o envelhecimento está associado ao desenvolvimento e o destaca como recurso precioso para as famílias, para a economia e para a sociedade como um todo, visto que, viver mais, significa acumular e repassar experiências e habilidades. Entretanto, a OMS também alerta que a não inclusão dos idosos em estratégias de desenvolvimento humano pode levar ao sofrimento deles, podendo resultar em processos de exclusão e de abandono. São desafios que se intensificam em países menos desenvolvidos, onde o número de idosos aumenta de maneira mais acelerada e com as piores condições para se fazer frente a esse fenômeno. (OMS, 2015 apud ABREU B; et al., 2018) A nova realidade brasileira e mundial impõe aos gestores públicos o desafio de pensar políticas integradas com ações intersetoriais de assistência e de inserção das pessoas idosas e também compreender o envelhecimento como um processo que ocorre durante toda a vida, tornando necessário investir na prevenção de doenças e no cuidado com a saúde. Envelhecer de forma saudável, então, segundo Vasconcelos (2007) tem como base “o desenvolvimento das potencialidades individuais, a motivação para conhecimentos e atividades sociais, estimulando, dessa forma, a capacidade de decisão e controle mental” (VASCONCELOS, 2007. apud. ABREU B et al., 2018). Por esse motivo, a longevidade somente representará um ganho se a qualidade de vida estiver associada à perspectiva de viver mais. Dessa forma, os estudos passam a voltar-se para definir políticas que proporcionem esse desenvolvimento saudável e ativo para toda a população, valorizando a participação em questões sociais, em atividades físicas frequentes e estimulando a capacidade mental para que possa chegar à velhice com mais qualidade de vida. Como destacam Alfama e Cruells (2016 apud ABREU B; et al., 2018), as próprias pessoas idosas e as suas famílias devem assumir esta 13 responsabilidade de preparar para envelhecer bem, o que não elimina a responsabilidadeda sociedade e das administrações públicas de se adaptarem às mudanças naturalmente impostas. A OMS e o ILC apontam a necessidade de implementar programas de envelhecimento ativo para a população, sendo este pautado no processo de otimização das oportunidades de saúde, aprendizagem ao longo da vida, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem, contribuindo para o bem-estar físico, mental e social em todas as idades. (OMS, 2005 apud ABREU B; et al., 2018) É importante, aqui, explicitar que a abordagem do envelhecimento ativo, ao qual procura-se entender, se baseia no reconhecimento dos direitos humanos dos idosos e nos princípios estabelecidos pela Organização das Nações Unidas, que são: independência, participação, dignidade, assistência e autorrealização (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005, p. 14 apud ABREU B; et al., 2018). Trata-se de uma nova maneira de compreender a pessoa idosa, que deixa de ser considerada como sujeito passivo (receptora de cuidados) e passa a ser compreendida como sujeito capaz, que deseja e tem potenciais para participar da vida social nos seus diferentes âmbitos. Ou seja, são pessoas idosas diferentes e, portanto, se fazem necessárias políticas públicas adaptadas a esta nova realidade e em consonância com as normas legais, tais como o Decreto-Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003 (BRASIL), que “dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências’’: O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando- se lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. (BRASIL, 2003 apud ABREU B; et al., 2018). 3.2 Qualidade de vida: física, psicológica, social e ambiental A atividade física traz muitos benefícios para o corpo. Sua prática regular afeta tanto variáveis fisiológicas quanto psicológicas e sociais. Aumentar a força muscular, melhorar a flexibilidade e amplitude de movimento, reduzir o percentual de gordura, melhorar os aspectos neurológicos, 14 reduzir os fatores de risco para quedas, controlar e prevenir o diabetes, manter ou melhorar a melhora da densidade, reduzindo assim o risco de osteoporose, podem ser considerados como uma série de fatores fisiológicos os benefícios que a atividade física traz para o corpo (FORTI, 1999 apud MOTA R; 2017). Os benefícios relacionados aos aspectos psicológicos podem ser percebidos como a satisfação com a aparência, a melhora da autoestima, autoimagem e autoconceito, a diminuição da ansiedade, a diminuição de casos de depressão e a melhora de alguns aspectos cognitivos (ARAÚJO et al., 2006 apud MOTA R; 2017). Em relação às relações sociais, os autores supracitados defendem que a inclusão social é de grande importância para a saúde física e mental do idoso, cuja ausência pode causar transtornos, aumentos na velhice e podem contribuir para estados depressivos. Ainda segundo o autor, a interação social potencializa o acesso aos recursos e também contribui para o desenvolvimento de relações solidárias fora do ambiente domiciliar. Por outro lado, fatores ambientais e carga genética, são caracterizados por um declínio na capacidade de funcionar. No entanto, o estilo de vida que cada pessoa adota pode reduzir esse declínio em sua capacidade, tornando-a mais saudável na velhice. É importante mencionar que viver mais é importante desde que seja possível agregar qualidade aos anos extras de vida, quando o processo natural de envelhecimento pode acarretar limitações e aumentar a incidência de doenças crônicas e incapacitantes. Portanto, devido ao envelhecimento, o declínio físico e intelectual muitas vezes afeta a qualidade de vida dos idosos e continua sendo um grande desafio para a ciência. (SANTOS, 2011 apud MOTA R; 2017). Desenvolvimento psíquico Conforme MOARES E; et al., (2010), o envelhecimento psíquico ou amadurecimento não é naturalmente progressivo nem ocorre inexoravelmente, como efeito da Como descrito por MOARES E; et al., (2010), com o envelhecimento psíquico há, portanto, redução da vulnerabilidade. A pessoa idosa torna- se suficientemente sábia para aceitar 15 passagem de tempo. Depende também da passagem do tempo, mas, sobretudo, do esforço pessoal contínuo na busca do autoconhecimento e do sentido da vida. O autoconhecimento, o estudo da estrutura e dinâmica do psiquismo e a superação dos conflitos do cotidiano são indispensáveis para que se possa atingir a independência psíquica, condição indispensável para a sabedoria. a realidade, tolerar a dor ou a perda da independência biológica, pois seus dispositivos de segurança são cada vez mais eficazes na relação com o mundo. É a liberdade plena ou independência psíquica, pois compreende o sentido da vida (para quê). Os valores que regem a sua vida (filosofia de vida) são cada vez mais elevados, racionais, inteligentes, enfim, conscientes. O idoso “entrega- se à existência com a pureza das crianças, mas sem a sua ingenuidade, com o vigor do adolescente, mas sem a sua pugnacidade, com a sensatez do homem maduro, mas sem o seu orgulho. O amadurecimento é conquista individual e se traduz pela modificação dos valores de vida ou pela aquisição da consciência (para que vivemos?). “Só é consciente a pessoa que se conhece, que conhece os reais motivos do seu viver, sua capacidade de controle desses motivos e de organização desse controle”. É a personalização do indivíduo, harmonizando-o consigo mesmo e com o mundo. Torna-se cidadão do Universo com a astúcia da raposa e a malícia da serpente, o que faz dele um sábio”. A vida é uma grande viagem em busca da máxima felicidade ou êxtase místico. Para tanto, faz-se necessário o aproveitamento de todas as fases da vida, superando-se os conflitos inerentes a cada ciclo, na busca de um equilíbrio cada vez maior. 16 4 HIPÓTESES PARA O ENVELHECIMENTO DO SISTEMA NERVOSO (SN) Diante das alterações sofridas pelo sistema nervoso, em virtude do processo de envelhecimento, algumas hipóteses de possíveis causadores de tais mudanças são descritas na literatura. Uma das correntes destas hipóteses centra-se na ideia de que o envelhecimento é resultado do acúmulo passivo de alterações nos ácidos nucléicos das células. Um dos principais processos para estas alterações no DNA seria a acumulação de moléculas danificadas por radicais livres, os quais são formados através de complexas reações químicas que quebram as moléculas livres de oxigênio (O2) formando moléculas simples deste elemento químico (O2) que são altamente reativas e tendem a ligar-se com quaisquer outras moléculas que encontrem o que é prejudicial ao sistema nervoso, pois segundo conclusão do estudo de Giovannelli este sistema é altamente vulnerável ao dano oxidativo. (GIOVANNELLI et al., 2003 apud CARDOSO A; et al., 2008), O aumento no número de radicais livres nas células do sistema nervoso pode ocorrer em função vários fatores, dos quais, destacam-se: o alto consumo de oxigênio pelo cérebro (cerca de 20% de todo oxigênio consumido, a dependência do metabolismo aeróbio de carboidratos, a complexa formação lipídica em suas membranas e a diminuição da capacidade de eliminar estas moléculas de radicais livres, ou seja, a diminuição dos mecanismos antioxidantes, à qual é talvez um dos fatores mais influentes. O acúmulo de radicais livres é ainda responsável pela aglomeração de pigmentos (lipofucsina) nas células, pela formação de placas neuríticas, e responsável por determinadas ligações cruzadas capazes de afetar o DNA. Estas ligações cruzadas com o processode envelhecimento tendem a aumentar seu número, afetando a ligação entre algumas proteínas, dentre elas o colágeno, impedindo processos metabólicos através da obstrução da passagem de nutrientes e resíduos para dentro e fora da célula. Contudo, as ligações cruzadas são, provavelmente, mudanças bioquímicas relacionadas à idade, e não parecem ser o fator mais contribuinte para este processo (HAYFLICK, 1997 apud CARDOSO A; et al., 2008). O acúmulo de erros no DNA pode se dar não somente pela ação dos radicais livres, mas também em virtude da transcrição do DNA em RNA não ocorrer com total confiabilidade, gerando assim certos erros que dão lugar a proteínas não funcionais. 17 Apesar dos níveis de erro nesta transcrição parecerem não aumentar com a idade, essas sucessivas mutações, espontâneas ou provocadas ao longo da vida, acabariam por esgotar os genes redundantes a determinados fenótipos, gerando assim a degeneração morfofuncional do sistema nervoso interligada ao envelhecimento. Esse princípio parte de uma teoria onde é postulada a redundância gênica, que aponta a existência de múltiplos genes para cada fenótipo, sendo alguns redundantes para tal. Todavia as alterações no DNA decorrentes deste processo tendem a se acumular e reproduzir através das clonagens posteriores. Derivada da ideia das alterações no DNA, cuja teoria do encurtamento dos telómeros, que induz a ideia de que em cada divisão celular poderia ocorrer uma perda de certa parte do DNA. No entanto, ainda não está clara a sua associação com o envelhecimento. A outra corrente das hipóteses sobre o envelhecimento do sistema nervoso centra-se na ideia de que o envelhecimento é resultado de um programa genético, Lent cita um experimento de Hayflick, onde em placas de cultura de tecidos, foi contado o número de vezes que os fibroblastos conseguiam se dividir. (LENT, 2001 apud CARDOSO A; et al., 2008) Foram então comparados os fibroblastos de diferentes espécies e verificou-se que os de camundongos se dividiam menos que os de humanos e, que estes por sua vez, se dividiam menos que os de tartaruga (sabe-se que as tartarugas vivem mais que os homens e estes por sua vez mais que os camundongos). Através deste experimento Hayflick sugeriu a existência de um relógio biológico que controlaria o tempo de vida das células, não sendo a idade cronológica totalmente responsável por este. (CARDOSO A; et al., 2008). Esta teoria é baseada nos exemplos de morte celular programada, que ocorrem durante todo processo de desenvolvimento. Este fenômeno de morte celular ocorre em todo o sistema nervoso, não sendo exclusivo dos humanos. A este fenômeno é dado o nome de apoptose, ou seja, um processo ativo de “suicídio” celular, que se dá através da síntese de proteínas cuja função é matar a célula (LENT, 2001 apud CARDOSO A; et al., 2008). Têm-se proposto mecanismos moleculares do envelhecimento que reúnem diversas hipóteses, aceitando-se que este processo está, em parte, programado geneticamente, porém, este “programa” é susceptível a modificações. 18 4.1 Fatores que influenciam o envelhecimento cognitivo De acordo com o que elucida CANCELA D; (2007) existe uma série de fatores que influenciam o grau de alteração cognitiva que as pessoas manifestam com a idade. São eles: Fatores genéticos: Cerca de 50% da variabilidade cognitiva na terceira- idade pode ser devida a fatores genéticos. Saúde: Idosos de ótima saúde ultrapassam em muitos testes cognitivos os que não tem doenças do foro médico. Instrução: A instrução explica até 30% da variabilidade cognitiva na terceira idade. Atividade mental: Atividades mentalmente estimulantes estão com correlação com melhor desempenho cognitivo e menor declínio longitudinal. Conhecimentos especializados: Especialistas a envelhecer podem desenvolver estratégias compensadoras para manterem um alto nível de desempenho, apesar de certa erosão das capacidades cognitivas subjacentes. Personalidade e humor: A depressão está em correlação com insuficiência autopercebida da memória e com défices do desempenho se os sintomas são graves. Meio social e cultura: Os lapsos quotidianos da memória poderão ser julgados mais severamente quando experimentados por idosos do que por adultos jovens. Treino cognitivo: idosos cognitivamente intactos beneficiam da prática e do treino em capacidades cognitivas específicas. Diferenças entre os sexos: as tendências cognitivas no envelhecimento são semelhantes nos dois sexos, mas em mulheres podem revelar défices em tarefas espaciais numa idade inferior à dos homens e estes podem mostrar défices em tarefas verbais numa idade inferior à das mulheres. Diferenças raciais e étnicas: Foram descritas em alguns testes cognitivos diferenças no desempenho a favor dos idosos brancos, mas quando o grau de instrução está equiparado entre os grupos estas diferenças são menores. Fonte: CANCELA D; 2007. 19 4.2 Desempenho cognitivo e envelhecimento Segundo MENEZES V; (2013), os efeitos do envelhecimento cognitivo são observados mais intensamente entre os 50 e 60 anos de idade e se intensificam a partir da sétima década de vida. As alterações mais frequentes englobam alguns componentes da memória e funções executivas, havendo maior dificuldade para realizar novas aprendizagens e lentidão no processamento das informações. As mudanças cognitivas na velhice também podem ser decorrentes do envelhecimento cerebral. Variações morfofuncionais compatíveis com a idade são caracterizadas por alterações como redução gradual do peso e volume de massa encefálica. Dessa forma, o desempenho cerebral já não apresenta as mesmas potencialidades de um cérebro jovem. Algumas das mudanças são atribuíveis ao próprio processo de envelhecimento, enquanto outras são manifestações de doenças relacionadas à idade, incluindo as demências. Como aponta MENEZES V; (2013), o desenvolvimento da cognição, ao longo da vida, sofre influências fisiológicas, das predisposições genéticas e fatores ambientais. As alterações fisiológicas e o fator genético podem gerar declínio no funcionamento sensorial e diminuição na velocidade de processamento da informação, associados a alterações neurológicas típicas do envelhecimento. Os fatores ambientais determinam o desenvolvimento e a manutenção das capacidades dependentes da experiência, e podem ter uma ação compensatória em relação às perdas decorrentes do envelhecimento biológico. Para Proust-Lima et al., o declínio cognitivo é diretamente proporcional à idade e inversamente proporcional ao nível educacional. De acordo com MENEZES V; (2013), Alterações cognitivas decorrentes do envelhecimento são preocupantes para o indivíduo que deseja permanecer independente pelo maior tempo possível e para a família que se preocupa com o bem-estar do idoso. Adultos mais velhos queixam-se, frequentemente, de uma redução em sua capacidade para manter a atenção em eventos específicos por longos períodos de tempo, especialmente em face à distração. Entre elas, funções como 20 memória, linguagem, funções executivas e habilidades visuoespaciais podem sofrer alterações. Ainda de acordo com MENEZES V; (2013), a memória corresponde à capacidade de armazenar informações para serem utilizadas em um dado momento. A memorização envolve três procedimentos: Registro de informações através da percepção sensorial. Armazenamento. Resgate da informação (MENEZES V; 2013). Nas palavras de MENEZES V; (2013), a capacidade de se comunicar através da linguagem permanece inalterada em toda a vida adulta. No entanto, os idosos têm maior dificuldade em compreender mensagens longas ou complexas. Na velhice, a capacidade em recuperar e reproduzir nomes ou termos específicos é mais lento. O discurso tende também a ser mais repetitivo. A função executiva (FE)é entendida como a capacidade de resolução de problemas, planejamento de ações sequenciais, inibição de respostas, abstração e processamento de informações. São esperadas alterações significativas nestas funções. Como descrito por MENEZES V; (2013), no que diz respeito às aptidões visuoespaciais, no envelhecimento cognitivo normal a capacidade de reconhecer lugares, rostos e objetos permanecem inalteradas. No entanto, verifica-se um declínio na capacidade de reconhecer e reproduzir configurações complexas ou que não são familiares. Normalmente, as funções que permanecem inalteradas com o envelhecimento são: habilidade comunicativa, vocabulário, atenção sustentada e habilidade de percepção visual. Por outro lado, a memória de trabalho e memória episódica, atenção seletiva, orientação temporal, nomeação de objetos, fluência verbal, e a velocidade perceptual são competências que tendem a declinar na velhice. Constatam-se diferenças entre os gêneros, níveis de escolaridade e saúde percebida no desempenho cognitivo na velhice. De acordo com MENEZES V; (2013), a tabela abaixo, resume achados gerais sobre o impacto do envelhecimento para áreas específicas da cognição. Nesta tabela, as alterações cognitivas associadas ao envelhecimento normal 21 podem ser classificadas como leve e moderada, enquanto outras áreas mantêm o desempenho estável ou melhoram. Para MENEZES V; (2013), as funções que parecem ser mais resistentes ao envelhecimento competem às habilidades motoras, informações autobiográficas, conhecimento semântico e habilidade de recordar informações por pré ativação na memória implícita. Os idosos apresentam estratégias para compensar as perdas cognitivas. Para manter a função cognitiva, em idades mais avançadas, os indivíduos apresentam padrões de superativação, principalmente do córtex frontal, mas podem incluir áreas do lobo parietal, médio-temporal, e região occipital. Nas décadas de 1980 e 1990, as abordagens comportamentais a respeito do envelhecimento cognitivo documentaram declínio em quatro domínios principais: memória operacional, controle inibitório, velocidade de processamento e memória de longo prazo. Para MENEZES V; (2013), alguns autores sugerem que a memória operacional é particularmente mais afetada pelo envelhecimento. Outros pesquisadores argumentam que com o envelhecimento é mais difícil inibir ou controlar estímulos dispersores da atenção. A diminuição na velocidade de processamento da informação é a alteração cognitiva mais evidente no idoso. A lentificação no processamento de informações pode ser observada na dificuldade que o idoso apresenta em compreender textos, necessidade de explicações mais detalhadas e significativas, necessitando de mais tempo para executar cálculos. O autor conclui que esta lentificação pode comprometer todas as outras funções cognitivas em idosos. Os déficits das habilidades cognitivas geram preocupação aos idosos e seus familiares. Dessa forma é necessário identificar precocemente se há declínio patológico ou se o estado do indivíduo é compatível com envelhecimento cognitivo normal. 22 5 PRINCIPAIS DEMÊNCIAS NA FASE DE ENVELHECIMENTO 5.1 Demência: introdução e conceito De acordo com PARMERA J; et al., (2015), atualmente, define-se demência como condição na qual ocorre decréscimo cognitivo comparado a um nível prévio do indivíduo, com comprometimento de suas funções sociais e funcionais. Há várias propostas para a definição a ser adotada de demência, entre elas a do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM IV), na qual o comprometimento de memória é exigido necessariamente na apresentação, ademais deverá haver declínio em relação a um padrão prévio cognitivo e não poderá haver delirium concomitante durante a avaliação. De acordo com PARMERA J; et al., (2015), outras, como a do Grupo de Trabalho do National Institute on Aging (NIA) e Alzheimer’s Association (AA), propõem novos critérios que não exigem comprometimento de memória inicialmente, possibilitando sua aplicação para várias etiologias de demência. Esses últimos são, portanto, os critérios recomendados para a aplicação no Brasil pela Academia Brasileira de Neurologia. Na avaliação inicial dos pacientes, idealmente, seria interessante comparar longitudinalmente suas performances cognitivas para se realizar com acurácia tal diagnóstico, contudo, como esses dados são de difícil obtenção no âmbito prático, determina-se o diagnóstico através de exames cognitivos com escore e resultados padronizados para a média da população. Conforme PARMERA J; et al., (2015), considerando a crescente prevalência populacional, as demências tornam-se uma questão primordial em saúde pública, ocasionando gastos diretos e indiretos, com aposentadorias, internações, assim como repercussões em trabalhadores ativos por acometimento de familiares que requerem seus cuidados. Medidas públicas de saúde e conscientização tornam-se urgentes para o cuidado e atendimento dessa parcela da sociedade em ascensão demográfica comparativa aos outros grupos etários. De acordo com PARMERA J; et al., (2015), podem-se dividir as demências em categorias diversas para estudos e pesquisas direcionadas, a 23 exemplo das divisões em degenerativas e não degenerativas, corticais e subcorticais, com início precoce (ou pré-senil – antes dos 65 anos de idade) e tardio (a partir dos 65 anos), reversíveis ou irreversíveis, e rapidamente ou lentamente progressivas. Em sua maior parte, as demências têm início insidioso e evolução lenta, entretanto as mais diversas formas de apresentação se fazem possíveis e uma acurada suspeição diagnóstica em relação às diversas formas de apresentação das síndromes demenciais é imprescindível para evitar erros ou atraso no diagnóstico de doenças potencialmente tratáveis. 5.2 Doença de Alzheimer A doença de Alzheimer (DA) foi descoberta em meados de 1907 pelo alemão Alois Alzeimer o qual era neuropatologista e psiquiatra. DA é uma doença crônica degenerativa, a união de demências junto ao envelhecimento é uma realidade para os seguintes anos (GUTIERREZ et al., 2014). Existe uma maior expressão epidemiológica da doença de Alzheimer em mulheres, estudos mostram e justificam que o sexo masculino habitualmente chega a óbito por outros fatores, um grande exemplo são os problemas cardiovasculares, em contrapartida, as mulheres são menos propensas a essa patologia, sendo reféns mais facilmente das demências, em especial a DA (TEXEIRA et al., 2015 apud ARAÚJO T; 2019 apud ARAÚJO T; 2019). Além dos danos pessoais ocasionados aos pacientes, existe os gastos governamentais, uma sobrecarga para a sociedade e saúde pública, suas principais despesas são voltadas aos fármacos distribuídos amplamente em território nacional (CAUWENBERHGE; BROECKHVEN; SLEEGERS, 2015 apud ARAÚJO T; 2019). A doença de Alzheimer é a mais comum demência relacionada ao envelhecimento, como consequência existe a modificação cognitiva e comportamental, o tratamento para DA é paliativo e não é detectada precocemente em exames, a memória de fatos passados é mais fixa e, geralmente o paciente têm falhas e perca inicialmente na memória de curto prazo, as lembranças mais recentes (FAGUNDES et al., 2019 apud ARAÚJO T; 2019). 24 A DA que ataca cerca de 36 milhões de pessoas em todo o mundo, é geralmente considerada como uma doença neurodegenerativa relacionada com a idade, quase uma doença exclusiva do idoso. Demência é uma síndrome identificada por redução constante da memória, linguagens e outras zonas da cognição, que modificam o comportamento habitual no meio social e familiar, prejudicando assim a qualidade de vida dos idosos. Se sabe que a demência e DA é resultante de fatores ambientais e genéticos (RODRÍGUEZ; HERRERA, 2014 apud ARAÚJO T; 2019). Todavia,os pacientes com demência possuem suas atividades limitadas, sua mobilidade é diminuída e os mesmos correm maiores riscos de acidentes domésticos, quedas acidentais, as quais podem se caracterizar em fraturas ósseas, complicando ainda mais o quadro de saúde do paciente. A redução cognitiva e perca do equilíbrio são frutos da demência e de alterações que modificam o estilo de vida de idosos (LIMA et al., 2016 apud ARAÚJO T; 2019). Ainda não se sabe a cura para DA, apesar de inúmeras pesquisas ao longo dos anos. Mas, a ciência sempre está em busca de uma melhor qualidade para os pacientes portadores buscando e pesquisando a fim de estabelecer os sintomas para melhorar a qualidade de vida desses indivíduos (CAETANO; SILVA; SILVEIRA, 2017 apud ARAÚJO T; 2019). Segundo Teixeira o Alzheimer em 2009, foi responsável por cerca de 65% da causa de morte em mulheres e 51,1% entre os homens, na sua pesquisa epidemiológica. (TEIXEIRA, et al., 2015 apud ARAÚJO T; 2019) Dentre as várias demências que prejudicam os idosos, a DA é a mais dominante delas. Atualmente, 54% dos idosos com demências têm DA e os casos desse mal crescem. No ano de 2010, um milhão de idosos no Brasil tinham Alzheimer. Estima-se que em 2020 serão 1,6 milhão. No Sistema Único de Saúde (SUS), somente o Alzheimer, realizou 38,13 milhões de serviços ambulatoriais no ano de 2015 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALZHEIMER, 2016 apud ARAÚJO T; 2019). Na doença de Alzheimer existem três estágios evolutivos: leve, moderado e grave. Em casos de demência leve o idoso ainda possui sua independência em suas tarefas básicas, mas com dificuldade em linguagem e inicia-se a perca evolutiva da memória, em casos estágios moderados se caracteriza com a perca 25 mais efetiva da memória, em estágios graves idosos com demência mostraram dependência completa. A doença é silenciosa e continua podendo levar de 2 a 15 anos, para seu desenvolvimento e manifestações por completo, em casos terminas que acontecem em 8 a 15 anos, todas as partes e funções exercidas pelo cérebro são modificadas e atacadas pela demência (XIMENES; RICO; PEDREIRA, 2014 apud ARAÚJO T; 2019). Conforme RIBEIRO C; (2010), as formas mais comuns da demência são: a Doença de Alzheimer (DA), a demência pré-senil e a demência senil. Alguns neurologistas consideram a DA como uma entidade independente, já outros afirmam que forma uma parte do quadro geral da demência senil idiopática. Ambos processos são patologicamente análogos, contudo, a DA começa antes e tem um curso clínico mais rápido e grave. Sua manifestação clínica é uma perda lenta e progressiva da capacidade do pensamento abstrato, da possibilidade de assimilar novos conhecimentos e da habilidade de se expressar com claridade. 5.3 Os fatores que explicam a involução cerebral O envelhecimento prematuro do cérebro e a degeneração neurofibrilar dos neurônios: Desde a descrição de Alois Alzheimer em 1907, pensou-se que havia uma destruição acelerada das células do cérebro e que se acumulavam muitas proteínas dentro e fora dos neurônios. Esses processos podem aparecer debilmente em anciãos, mas são intensos na DA. Tenta-se impedir o desenvolvimento do processo de involução celular e da formação de placas, já que é muito lento (superior a 30 anos) e poderia realizar-se um bom trabalho de prevenção obtendo resultados na investigação em andamento (Correa, 1996 apud RIBEIRO C; 2010). As alterações metabólicas: Já foram descritas muitas alterações metabólicas na DA, tanto de glucídios, lipídios e prótidos, como da respiração. A redução da entrada sanguínea tem como consequência uma diminuição da entrada do oxigênio e da glicose, que são elementos indispensáveis para o bom funcionamento das células cerebrais, conforme RIBEIRO C; (2010). 26 As alterações dos neurotransmissores: Em certas regiões do cérebro, foi-se constatada uma diminuição da concentração de acetilcolina, redução de uma enzima indispensável para a síntese da acetilcolina e uma perda de neurônicos colinérgicos. Parece que os neurônicos colinérgicos de certas regiões reguladores do cérebro sofrem uma evolução seletiva que desencadeia uma séria de alteração nos neurônios do córtex cerebral, conforme RIBEIRO C; (2010). Sua disfunção origina a aparição dos sintomas da DA. Essa teoria colinérgica deu origem aos fármacos cujo mecanismo de ação é prolongar a vida da acetilcolina. A vulnerabilidade celular: Certos autores assinalam a existência de células cerebrais de “alto risco” que sofrem mais que outras e que são de alguma forma frágeis”. (CORREA, 1996; apud RIBEIRO C; 2010) Entre essas células figurariam os neurônios colinérgicos e algumas regiões do córtex cerebral. Os desequilíbrios dos “fatores de crescimento” e os “fatores de envelhecimento” no sistema nervoso central: nos últimos anos foram encontradas uma série de substâncias que se produzem uma pequena quantidade, mas mantém a sua função, defendem as células e faz com que se adaptem as sobreviventes para suplantar a função dos neurônios que morrem (“fatores de crescimento”) (CORREA, 1996 apud RIBEIRO C; 2010). Quando não se formam esses fatores, não se produzem as mudanças adaptativas próprias da fase adulta e da senil, trazendo a degeneração dos neurônios e a demência. Ao mesmo tempo, outros “fatores de envelhecimento” ou “morte neuronal” torna-se mais agudo o processo involutivo. A perda de fatores tróficos e o aumento de fatores de envelhecimento são, atualmente, as características mais definitórias da DA, assim como a linha mais importante para o desenvolvimento de novos fármacos. É uma doença progressiva e variável, podendo ser caracterizada em estágios degenerativos classificados em: leve, moderado e severo, mesmo considerando as diferenças individuais que possam existir. O estágio leve tem duração de dois a três anos, com sintomas vagos e difusos, em que há perda de memória episódica e grande dificuldade de aprendizagem de novos eventos (GALLUCCI, TAMELINI, & FORLENZA, 2005 apud RIBEIRO C; 2010). Enfim, a DA é caracterizada por prejuízos de funções neuropsiquiátricas e cognitivas superiores com manifestações de alterações de comportamento e de personalidade, interferindo nas habilidades do indivíduo em desempenhar suas atividades normais do dia a dia e, somente nos estágios finais da doença, 27 ele se torna apático, apresentando sua função motora inteiramente prejudicada (DAILY, 2004 apud RIBEIRO C; 2010). 5.4 Cuidador familiar A família é indispensável para dar o apoio e cuidados necessários ao idoso, para a constituição Federal e o Estatuto do Idoso; a família, a sociedade e o Estado têm a obrigação de amparar a pessoa idosa, assegurando o bem- estar e o direito à vida (GOMES, 2009 apud TELES R; 2015). A função de cuidador está internamente relacionada ao responsável pelos cuidados. Nos cuidados destinados ao idoso dependente, na sua percepção geralmente quem faz tal função é a esposa (o), um dos filhos, ou outro parente, ou uma pessoa contratada para essa função. Quando o idoso requer cuidados especiais ou alguém para ajudar na sua vida diária torna-se um indivíduo dependente e de certa forma pode se angustiar ao necessitar de uma pessoa para ajudá-lo. (KAWASAKI e DIOGO, 2001 apud TELES R; 2015) Nessa condição, aparece a figura do cuidador, designado para ajudar o idoso em suas dificuldades e necessidades e nas realizações das tarefas do dia a dia e pode ser um parente mais próximo, que já vive com o idoso e que não trabalhe fora, esse cuidado ainda pode ser assumido de maneira inesperada por não ter outra pessoa disponível para exercer essa função de cuidador ou destinar pequenos cuidados ao idoso, com isso, o familiar acaba se envolvendo com os cuidados gerais. Frequentemente o cuidador em execução é definido dentro do seio familiar (TAUB et al, 2004 apud CRUZ; HAMDAN, 2008apud TELES R; 2015). De acordo com Gonçalves et al (2006 apud TELES R; 2015) diversas situações colaboram para que uma pessoa se torne cuidadora principal, destacando a obrigação moral, os aspectos culturais e religiosos; esposo ou esposa; a falta de outras pessoas para a tarefa do cuidar. A obrigação de cuidar de um idoso origina-se de uma obrigação circunstancial mais do que de uma preferência. O indivíduo que ajuda o idoso nem sempre fez essa escolha de ser o cuidador por si mesmo, muitas vezes são escolhidos pela família ou até mesmo pelo idoso. 28 As tarefas efetuadas pelo cuidador são: escutar, estar atento e ser solidário com o indivíduo, auxiliar nos cuidados de higiene, alimentação, locomoção, atividades físicas, estimular atividades de lazer e ocupacionais, mudar de posição na cama e na cadeira e fazer massagens de conforto. Assim como também são tarefas do cuidador auxiliar o idoso na administração dos medicamentos de acordo com a prescrição e orientação médica, e comunicar sobre as mudanças no estado de saúde, dentre outras. O cuidador familiar é um membro da família que assume o compromisso dos cuidados fornecido para o idoso com demência de Alzheimer (DA). E se responsabilizar pelos cuidados deste idoso com demência de longa duração é uma tarefa muito difícil, pois tratar-se de um transtorno que tem efeitos intensos podendo ter diversas consequências emocionais para o cuidador familiar (BARLOW, 2008 apud TELES R; 2015). O ato de cuidar é uma função socialmente atribuída às mulheres e são desempenhadas exclusivamente por elas, uma vez que os homens não estariam preparados para exercer essa função, mesmo que o quisessem. Assim a figura da mulher enquanto cuidadora é normatizada pela sociedade, portanto o cuidar de idoso é mais um papel realizado pela mulher dentro do lar, trabalhando ou não fora de casa (BAPTISTA et al, 2012 apud TELES R; 2015). [...] quem mais assume essa responsabilidade são as mulheres e por muitas vezes por obrigação. Ainda relata que maioria dos casos, são os familiares que assumem a responsabilidade dos cuidados do dependente, mais especificamente a mulher é que se demonstra como a “grande cuidadora” (seja ela mãe, esposa ou filha). Essa relação pode ser entendida culturalmente e socialmente bem como pela via religiosa, pois perpassa a relação matrimonial. É esperado que o casal cuide um do outro “até que a morte os separe”, sendo esta a condição que muitas vezes define quem irá cuidar se o cônjuge puder ou não realizar tal ação. Sendo assim na maioria das vezes, num casal de idosos quem assume o cuidado é a esposa, e quando ela não consegue cuidar sozinha ou não tem essa disponibilidade o cuidado é assumido pelas filhas (MENDES, 1995 apud BERWANGER, 2012, p. 59-60 apud TELES R; 2015). Os cuidados oferecidos ao idoso com demência se esbarram com o desafio de auxiliar um indivíduo com dificuldade. Esses cuidadores enfrentam uma rotina que varia muito em virtude da demência, já que num dia o idoso pode estar agitado e em outro não, sendo necessário aprender a lidar da melhor forma 29 possível com uma pessoa idosa com demência de Alzheimer (VIEIRA; FIALHO et al, 2011 apud TELES R; 2015). A doença de Alzheimer se caracteriza como um dos transtornos mentais que tem uma violenta consequência negativa na vida do idoso e da família, devido às incapacidades que este transtorno produz, segundo os mesmos autores: Uma demência que se caracteriza pelo comprometimento cognitivo e que traz como consequência a perda da capacidade funcional, aumentando a demanda por cuidados, que geralmente são cada vez mais complexos. Causa um ônus crescente sobre o idoso e a família e um enorme custo financeiro para o sistema de saúde. (PAVARINI; MELO, et al, 2008 apud TELES R; 2015). Segundo Luzarda; et al, 2006 com o aparecimento da demência, várias necessidades surgem e tornam a função do cuidador complicada, pois o idoso com demência precisará de cuidados contínuos e cada dia mais complexos, aumentando as responsabilidades nos cuidados destinados ao idoso com demência. Fica para o cuidador o compromisso de realizar as funções que o idoso com a demência não tem mais capacidade de efetuar sozinho; funções que vão desde a higiene pessoal até o controle financeiro da família. (LUZARDA; GORINI; SILVA, 2006 apud TELES R; 2015) O cuidar de um idoso com demência necessita de dedicação total, sempre que isso é realizado exclusivamente por um cuidador, o mesmo fica sobrecarregado devido ao estresse físico e psíquico advindo do cuidar, afetando dessa forma a qualidade dos cuidados destinados ao idoso, já que esta atividade se torna um serviço repetitivo e sem pausa. (DOMINGUES; SANTOS; QUINTANS, 2009 apud TELES R; 2015). Na fase moderada o avanço da demência é identificado por uma diminuição das agilidades mentais e físicas e pelo aparecimento de mudanças no comportamento como agitação e perambulação, exigindo maior cuidado. Esta fase é a que os cuidadores têm mais dificuldades, pois se torna muito estressante até mesmo para os próprios idosos. Em decorrência de acontecimentos de estresse o idoso pode não querer fazer determinadas tarefas, por exemplo, tomar banho ou trocar de roupa, nesse caso apresenta características e sentimentos de irritabilidade com o cuidador, ou talvez, pode optar por tirar a roupa em lugar impróprio sem ter noção das suas ações. 30 Segundo o mesmo autor, o idoso pode apresentar também os seguintes sintomas: Perda de memória mais acentuada; confusão mental; dificuldade em manter a atenção; problemas no reconhecimento de amigos e familiares; dificuldade com linguagem; problemas com leitura e com números; dificuldade em se organizar e pensar com lógica; incapacidade de aprender novas coisas ou de lidar com situações inesperadas; agitação, dificuldade em repousar; medo e ansiedade, especialmente ao entardecer; alucinações, ilusões, irritabilidade, desconfiança ou paranoia; perda de controle dos impulsos (uso de linguagem vulgar, despir-se em locais e momentos inadequados, utilizar modos não aceitos socialmente); dificuldade de percepção espacial como, por exemplo, dificuldade em se levantar da cadeira ou se posicionar na mesa (ABRAS, apud DUARTE, 2002 apud TELES R; 2015). Com esses sintomas que são gradativos, essa tarefa pode gerar um abalo emocional, afetivo e um desgaste físico para os cuidadores, uma vez que o idoso se torna dependente. Esta condição aumenta com o aparecimento dessas perturbações provocando grande sofrimento tanto para o idoso quanto para seus cuidadores familiares (TELES R; 2015). Nesse caso, são forçados a se reorganizarem para proporcionar os cuidados ao idoso que tende a ficar adoecido. Em muitos casos, esse familiar que assume a função de cuidador passa a viver em função do idoso e esquece a sua própria vida. Isso pode ocorrer devido ao fato deles ficarem atarefados, angustiados, ansiosos, insatisfeitos e preocupados, com problemas originados por brigas entre os integrantes da família e por ser uma demência degenerativa e não ter cura, a tarefa de cuidador torna-se cada vez mais complicada (PAVARINI, et al, 2008 apud TELES R; 2015). Na fase severa, o idoso passa a ter demência grave. As funções cognitivas morrem por inteiro e o idoso perde a capacidade de falar e entender, perde a prática de andar, sentar, sorrir e engolir ficando absolutamente dependente. Nesse caso, complica cada vez mais a tarefa do cuidador, onde se torna muito cansativo e estressante. A doença de Alzheimer muda totalmente a rotina do cuidador, fazendo-o sentir-se como um desconhecido em seu mundo. (CERQUEIRA, 2009 apud TELES R; 2015) 31 Esta alteração origina-se em uma situação angustiante e de fragilidade pois ele passa por vários problemas exaustivos, pelo fardo de cuidar sozinho e não ter um revezamento com outros cuidadoresou familiares, a vida desses cuidadores fica totalmente comprometida, no qual apresenta uma queda do autocuidado e qualidade de vida; diminuição do tempo de lazer, vida social, vida familiar e afetiva (VALIM et al, 2010 apud TELES R; 2015). Outras demandas podem surgir no ambiente familiar, além dos cuidados necessários ao idoso com demência, problemas com filhos e irmãos e outras doenças que podem se apresentar em outro membro da família, somando-se à sobrecarga do cuidador, incluindo o seu próprio adoecer. (PAVARINI et al, 2008 apud TELES R; 2015) 6 ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA DEPRESSÃO Determinar o início da depressão e as circunstâncias específicas em que ela ocorre é um fator crítico para determinar a causa da depressão e seus sintomas, bem como seu tratamento e prognóstico. Como resultado, os pacientes que desenvolvem depressão no início da vida e continuam na velhice têm um forte componente genético. Em contraste, em indivíduos com depressão iniciada após os 65 anos, a intervenção genética tendeu a ser menos intensa e os fenômenos neurobiológicos tenderam a ser mais proeminentes. É claro que a atividade de componentes de natureza mental que se acumulam ao longo da vida não pode ser descartada. (STELLA F; et al., 2002). Determinados fatores neurobiológicos podem conduzir à depressão de início tardio por aumentarem o risco e a vulnerabilidade do idoso à depressão, tais como alterações neuroendócrinas (redução da resposta ao hormônio estimulador da tireoide), alterações de neurotransmissores (redução da atividade serotoninérgica e noradrenérgica), alterações vasculares e processos de degeneração de circuitos corticais e subcorticais responsáveis pelo processamento e elaboração da vida afetiva e emocional. A produção diminuída de serotonina pelos Núcleos da Rafe e a diminuição dos receptores para estes neurotransmissores representam fatores de vulnerabilidade à depressão no idoso. (STELLA F; et al., 2002). Depressão com sintomas psicóticos, ansiedade, irritabilidade, instabilidade emocional tendem a predizer o aparecimento de distúrbios 32 comportamentais, especialmente agressividade e agitação psicomotora. (KIM et al. 1999 apud STELLA F; et al., 2002) 6.1 Depressão e funções cognitivas O aparecimento de transtornos depressivos em idosos tem sido implicado como fator de risco para o desenvolvimento posterior de demência. Alguns estudos sugerem que 50% dos pacientes deprimidos desenvolvem demência em 5 anos. (RASKING, 1998 apud STELLA F; et al., 2002). Depressão e demência mórbidas contribuem para o declínio das habilidades funcionais. A depressão pode causar alterações temporárias nas funções cognitivas, o que muitas vezes dificulta a distinção entre a condição e a demência. Por outro lado, em muitos pacientes, o início da demência de Alzheimer se manifesta por sintomas depressivos. Além disso, há associação entre sintomas depressivos e declínio cognitivo em idosos, com ou sem demência. Distúrbios de memória são comuns em pacientes deprimidos, tradicionalmente sugerindo a ocorrência do termo “pseudodemência depressiva”. (NETO, et al., 1999 apud STELLA F; et al., 2002), a relação recíproca entre depressão e demência se manifesta da seguinte forma: Depressão na demência: Os sintomas depressivos constituem parte integrante do processo demencial. Demência com depressão: Coexistência de ambos os fenômenos, sendo que os sintomas depressivos se instalam em um quadro demencial preexistente. Depressão com comprometimento cognitivo: A depressão evolui com dificuldades cognitivas, particularmente, de concentração e de memória recente. Demência na depressão: Onde o comprometimento cognitivo resulta do processo depressivo (“pseudodemência depressiva”). (STELLA F; et al., 2002) 33 7 ESTIMULAÇÃO COGNITIVA A estimulação cognitiva em idosos tornou-se, nos últimos anos, possível graças a um conceito protegido na neurociência, a plasticidade cerebral. FERRARI et. al., (2001) menciona que as transformações adaptativas na estrutura e funções do sistema nervoso denominada plasticidade cerebral, descoberto em 1930, pelo fisiologista alemão Albrecht Bethe. E que se trata de uma das mais importantes descobertas científicas das últimas décadas, a qual pôs um ponto final em um dos dogmas da Neurociência onde até então havia o entendimento de que os neurônios em adultos não se reproduziam (MELO, 2008). (...) a plasticidade neural é uma propriedade intrínseca do Sistema Nervoso que ocorre ao longo de toda a vida [...] como resposta ao ambiente interno e externo à lesão ou comprometimento que este indivíduo se encontra. (PASCUAL-LEONE et. al. 2005, p. 396) Assim, sabemos que a plasticidade cerebral é bastante reduzida no idoso, devido às condições fisiológicas do envelhecimento, independente de um processo patológico. No entanto, a estimulação cognitiva em idosos tem objetivos mais modestos, como apontado por Singer, 2003, que é manter as funções existentes e possibilitar a compensação de funções prejudicadas. Diversas técnicas podem ser utilizadas na estimulação cognitiva em idosos, tais como: terapia dirigida ao fato, incluindo treinamento sistemático de informações atuais e permanentes, apoiado por estimular o ambiente de orientação espacial e temporal, os pontos que orientam o homem para o mundo. Essa terapia utiliza atividades do dia a dia do indivíduo, como ver calendário, jornais, vídeos, fotografias e familiares, o que auxilia na execução de tarefas diárias do idoso (HOLDERBAUM et.al., 2006). Outra técnica, de acordo com os autores supracitados, é a terapia retrospectiva, que utiliza as experiências passadas do idoso, suas próprias histórias, para manter ou restaurar a memória autobiográfica do idoso 35, reduzindo assim a necessidade de sua ajuda e a interação do idoso com o meio ambiente. 34 Essa estratégia é muito utilizada em reuniões de equipe, pelo menos uma vez por semana. Os autores acrescentam ainda que o uso da assistência externa também é uma técnica e envolve treinamento e uso de ferramentas, que podem ser eletrônicas, como celulares e computadores, e também não eletrônicas, como agenda, agenda diária e semanal, cartão de gorjeta, agenda. Eles podem atuar como um ponto de apoio para que o idoso se lembre e realize atividades simples da vida diária. Aprender sem errar, segundo os mesmos autores, é ajudar os idosos a aprender novas informações sem errar. Esse aprendizado depende da memória latente, que é relativamente preservada em idosos com doença de Alzheimer. 35 8 BIBLIOGRAFIA ARAUJO, H. A. et al. Estimulação magnética transcraniana e aplicabilidade clínica: perspectivas na conduta terapêutica neuropsiquiátrica. Revista de Medicina, v. 90, no. 1, p. 3-14, jan./mar. 2011. ARCURI, M. Ressonância magnética funcional e sua contribuição para o estudo da cognição em esquizofrenia. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 23, supl.1, p. 38-41, 2001. BEZERRA PARMERA, Jacy et al. Demências: da investigação ao diagnóstico. Revistas, [S. l.], p. 1 - 6, 2015. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de atenção à pessoa com lesão medular. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. COLLE, Dirleise. Avaliação do potencial efeito protetor do probucol em modelos experimentais da doença de huntington. Ufsc, [S. l.], p. 1 - 161, 2012. DA SILVA MOREIRA MOTA, Rosimeire et al. 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