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Cinesioterapia Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP G626c Golias, Andrey Rogério Campos Cinesioterapia / Andrey Rogério Campos Golias. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 134 p.: il. Color. 1. Exercícios terapêuticos. 2. Mecanoterapia. 3. Cinesiologia. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23 ed. 612.76 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTOR Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias ● Graduação em Fisioterapia pela UEL (Universidade Estadual de Londrina). ● Especialista em Acupuntura pelo Coffito/EMOSP (Escola de Medicina Oriental de São Paulo). ● Especialista em Morfofisiologia aplicada a Reabilitação pela UNIMAR (Universi- dade de Marília). ● Mestre em Saúde Coletiva pela UERJ (Universidade do estado do Rio de Janeiro). ● Doutor em Saúde Coletiva pela UNESP (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho). ● Docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Uningá. ● Docente do curso de Fisioterapia da Unifatecie. ● Professor de pós-graduação no Centro Universitário Uningá. ● Fisioterapeuta clínico na Clínica Equilíbrio, Paranavaí. ● Conselheiro do Crefito-8 Gestão 2019-2023. Ampla experiência como fisioterapeuta e docente na área, com ênfase em Ortopedia e Traumatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: terapia manual, treinamento proprioceptivo, cinesioterapia específica, coluna vertebral, fratura, joelho, patela, tornozelo e postura. Atualmente dedica-se também a área de Saúde Coletiva, especialmente rea- lizando análises de acidentes de trânsito, de motocicletas e de suas variáveis. Também apresenta interesse por pesquisas na área de amputações, suas causas e consequências. Foi membro de colegiados, Núcleo Docente Estruturante (NDE), orientador de monografias de conclusão de graduação e pós-graduação, revisor de algumas Revistas de suas áreas de atuação e Conselheiro do Crefito-8. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/6482027648783821 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado (a) aluno (a), este é o início de uma grande jornada, o do exercício tera- pêutico. Venho propor junto com você construir nosso conhecimento sobre Cinesioterapia, seus conceitos fundamentais e aplicabilidade para o Fisioterapeuta, profissional do movi- mento tão relevante na sociedade hoje em dia. A Cinesioterapia é um valioso recurso utilizado pelo Fisioterapeuta na prevenção e no tratamento de doenças de diversos sistemas, por meio de movimentos, que visa a manutenção e recuperação da capacidade de realizá-los. Consideramos este recurso o mais importante para o fisioterapeuta, afinal, se o objetivo da ação deste profissional é de prevenir ou restabelecer a função física dos indivíduos, nada mais prudente e certeiro do que trabalhar a função, os movimentos. É o fisioterapeuta que avalia, trata, aborda, reeduca, cuida do movimento de determinado indivíduo, segmento ou articulação. Desta forma, torna-se necessário conhecer as características e os tipos diversos de exercícios existentes e seus embasamentos para que a prescrição, num primeiro momento, seja feita de forma correta. Num segundo momento, é necessário realizar a atividade cine- sioterapêutica que foi prescrita de forma eficiente. Quando há um comprometimento da capacidade funcional ao ponto de impedir o exercício de determinada atividade dentro do que é considerado normal para o indivíduo ou segmento, essencial para as Atividades de Vida Diária (AVD’s) ou Profissionais (AVP’s), sempre há a necessidade da intervenção cinesioterapêutica. A incapacidade funcional reflete as consequências das disfunções em termos de desempenho e atividade funcional do indivíduo, sua adaptação e interação na sociedade. Buscamos, através deste material, promover uma perspectiva crítica e elevada so- bre os conhecimentos, permitindo o uso destes em diversas áreas, setores, organizações ou ações do profissional da Fisioterapia. Use-o de forma sistemática, especialmente como um instrumento para seu sucesso na carreira escolhida. Para facilitar os estudos, dividimos este material em quatro unidades de acordo com os temas e suas relações entre si. Na primeira unidade, serão apresentados os fundamentos teóricos e introdutórios da Cinesioterapia, momento em que os conceitos vitais necessários para a compreensão, pres- crição e execução de qualquer exercício terapêutico serão abordados. Além disso, ainda nesta unidade serão discutidos os tipos de exercícios, suas metodologias iniciais e sua aplicabilidade clínica. Cada um dos seus tipos tem suas indicações, contraindicações, ações e consequências, servindo para fases diferentes do processo de recuperação funcional do indivíduo. Já na Unidade II, o foco estará sobre o treinamento aeróbio e sobre o alongamento muscular. O primeiro, também chamado de condicionamento cardiovascular faz parte da ação fisioterapêutica, visto que reabilitamos pacientes que sofreram cirurgias cardíacas, por exemplo. Já o alongamento é ainda de maior atuação deste profissional, já que o en- curtamento muscular é frequentemente visto como um vilão do movimento correto e da articulação e músculo saudáveis. Prosseguindo, na Unidade III, cujo título é: Treinamento de força, potência e resistência musculares, será discorrido sobre estes tipos de treinamento tão relevantes para a prática de todo Fisioterapeuta. Muitas disfunções, independentemente estas sendo ortopédicas, traumatológicas, neurológicas, pediátricas, geriátricas, cardiovasculares, entre outras, têm como principal dificuldade ou disfunção a fraqueza muscular. Assim, aborda- remos o princípio da sobrecarga para que a força seja restabelecida, além das diferenças entre força, potência e resistência muscular, visto que são abordadas de forma diferente para cada paciente ou característica do processo patológico. Por último, a quarta unidade abordará conceitos e aplicabilidade do equilíbrio, coor- denação,postura e percepção corporal, valências também importantes serem trabalhadas em muitos dos indivíduos que buscam tratamento conosco. Desta forma, como já dito, esperamos que este material sirva como base para aplicação destes conhecimentos na sua vida profissional diária. Convido você a entrar nesta jornada cheia de conhecimento comigo, de temas fundamentais para nossa atividade profissional. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e os Tipos de Exercícios UNIDADE II ................................................................................................... 29 Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios UNIDADE III .................................................................................................. 64 Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares UNIDADE IV .................................................................................................. 97 Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 4 Plano de Estudo: ● Noções em Cinesioterapia; ● Tipos de exercícios. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e fundamentar a Cinesioterapia para o fisioterapeuta; ● Compreender termos relevantes para a prática clínica diária deste profissional; ● Conhecer os tipos de exercícios mais comuns e estabelecer relações. UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e os Tipos de Exercícios Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias 5UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios INTRODUÇÃO Seja bem-vindo a primeira Unidade da disciplina de Cinesioterapia, no qual tem como foco proporcionar base para a sua completa compreensão e sua fundamental importância para o fisioterapeuta atual. Ela foi organizada iniciando com breves conceitos e importância, passando a discutir logo após os tipos de exercícios mais comuns utilizados na prática clínica. Assim, no primeiro tópico intitulado Noções em Cinesioterapia discutiremos como a falta de mobilidade, tanto articular quanto muscular pode causar problemas graves para o indivíduo, os tipos de doenças, de muitos sistemas diferentes que podem causar disfunções de ordem muito diversa no físico das pessoas. Veremos também sobre uma criança que teve uma hipóxia cerebral (diminuição do fluxo sanguíneo cerebral) no período perinatal (por volta do parto), que pode evoluir com dificuldades de execução de movimentos, na fala, na marcha e na vida social, esta criança portadora de paralisia cerebral (Disfunção sensório motora), possivelmente irá necessitar da ação fisioterapêutica, visto que as disfunções de movimento que ela apresenta são rele- vantes para a sua vida em sociedade. E só se consegue o movimento normal ou saudável com o movimento, facilitando-o, treinando-o e aperfeiçoando-o para que a evolução clínica do paciente ocorra. Assim, é necessário compreendermos a fundamentação dos exercícios para que possamos não apenas executá-los corretamente, mas inclusive prescrevê-los de forma certeira. Já no segundo tópico da Unidade, abordaremos os tipos mais frequentes de exer- cícios terapêuticos usados por nós na prática clínica, é necessário diferenciarmos o exer- cício passivo do ativo, o ativo assistido do resistido, indicados e executados em momentos diferentes no processo de recuperação funcional dos indivíduos. Nesse sentido, julgamos que este material se torne para você um importante subsí- dio na facilitação da caminhada a ser traçada para se tornar um profissional do movimento de sucesso. Aproveite o conteúdo. 6UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 1. NOÇÕES EM CINESIOTERAPIA A capacidade funcional tem sido discutida como a habilidade do indivíduo fazer atividades que possibilitam cuidar de si e viver independentemente (AIRES, PASKULIN e MORAIS, 2010). Na prática, é como conseguirmos realizar as nossas atividades do dia a dia, pegar um objeto, comer, levantar o braço e caminhar, essenciais para a vida cotidiana. Um comprometimento da capacidade funcional pode impedir a execução de de- terminada atividade dentro do que é considerado normal para o ser humano, podendo ser temporário ou permanente. E a incapacidade reflete as consequências das disfunções no que diz respeito ao desempenho e atividade funcional do indivíduo, sua adaptação e interação na sociedade (KISNER e COLBY, 2016). O recurso mais executado pelo profissional do movimento é a cinesioterapia, na pre- venção e no tratamento das doenças e quadros neuromusculares por movimentos passivos e/ou ativos, visando a manutenção e/ou recuperação das articulações, grupos musculares, nervos, funções. Se o objetivo com o paciente ou o grupo de pacientes é alcançar a maior capacidade funcional possível, o movimento é um recurso fundamental para tratar a disfun- ção, a restrição, bloqueio, instabilidade, incapacidade, entre outras. Considerado por muitos, a cinesioterapia é o recurso mais valioso destes profissionais (KISNER e COLBY, 2016). 7UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios Etimologicamente, Cinesioterapia é a arte de curar quando se utiliza de técnicas do movimento, é o tratamento através do movimento. Cinesioterapia ou exercício terapêutico tem sido relatado como o treinamento sistemático e especialmente planejado de movi- mentos do corpo, posturas ou atividades físicas que busca como objetivo proporcionar a pessoa meios de prevenir ou tratar comprometimentos, melhorar, restaurar ou potencializar a função física, prevenir ou reduzir fatores de risco ligados à saúde, além de melhorar o estado geral de saúde, o preparo físico ou bem-estar (KISNER e COLBY, 2016). Segundo Kisner e Colby (2016), exercício terapêutico é o treinamento planejado e sistemático de movimentos corporais, postura ou atividade físicas para proporcionar ao paciente meios de: - Tratar ou prevenir deficiência; - Melhorar, restaurar ou potencializar a função física; - Prevenir ou reduzir fatores de risco ligados à saúde; - Otimizar o estado de saúde geral, seu preparo físico ou sensação de bem-estar. Os fisioterapeutas são os profissionais cujos serviços são prestados devido a pre- juízos físicos associados com desordens do movimento causados por trauma, doença ou condições de saúde que interferem na habilidade de executar ou realizar qualquer número de atividades que são necessárias ou importantes a eles. Além disso, o serviço fisioterapêu- tico também deve ser buscado por indivíduos que não apresentam lesões ou disfunções, mas que desejem melhorar sua capacidade física, condicionamento ou diminuir o risco de doença ou lesão (KISNER e COLBY, 2016). Vários fatores de risco podem estar envolvidos junto à incapacidade funcional, alguns destes apresentam características biológicas, comportamentos de estilo de vida, psicológicas e o impacto dos ambientes físico e social. Os fatores de risco relacionados com a incapacida- de são influências ou características que predispõe o indivíduo ao processo de incapacitação. Desta forma, estes podem surgir antes mesmo do estabelecimento do quadro patológico, comprometimentos, limitações funcionais ou incapacidades (KISNER e COLBY, 2016). Há os riscos modificáveis (comportamentais, ambientais) e os não modificáveis (fa- tores biológicos e genéticos). Modificar os fatores de risco por meio de uma intervenção de educação em saúde associada ao exercício terapêutico é, possivelmente, o mais relevante instrumento que o fisioterapeuta deve se apoderar para reduzir ou prevenir a incapacidade (KISNER e COLBY, 2016). 8UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios Alguns dos fatores de risco para incapacidade (biológicos) são idade,sexo, raça, relação peso/altura, anormalidades ou distúrbios congênitos, histórico familiar de doença (predisposição genética). Outros são fatores comportamentais, psicológicos e de estilo de vida como a vida sedentária, o uso de cigarro, álcool, outras drogas, má nutrição, baixo nível de motivação, inadequação para lidar com adversidades, dificuldade para lidar com mudanças, sentimentos negativos. Algumas outras são características ambientais físicas como barreiras arquitetônicas em casa, na comunidade e local de trabalho, características ergonômicas do ambiente de casa, trabalho ou escola. Os fatores socioeconômicos listados são situação econômica inferior, baixo nível educacional, acesso inadequado aos serviços de saúde e suporte familiar ou social limitado (KISNER e COLBY, 2016). Fornecer um tratamento eficiente envolve a habilidade de fazer julgamentos clínicos adequados (através de uma avaliação fisioterapêutica), solucionar problemas que aflijam o paciente e aplicar o conhecimento das interrelações entre patologia, comprometimento, limitação e incapacidade ao longo de cada fase do tratamento. A tomada de decisão clíni- ca envolve a escolha, implementação e modificação de intervenções que usam exercícios terapêuticos com base nas necessidades específicas de cada paciente, sendo isto possível após uma avaliação que reconheça as disfunções e seus componentes, um diagnóstico cinesiofuncional claro e preciso e um pensamento crítico e criativo (KISNER e COLBY, 2016). Assim, o uso apropriado do exercício pode acelerar o processo de cicatrização, e a falta de exercício durante os estágios iniciais da recuperação da função pode resultar em incapacidade permanente. As condições ideais para a cicatrização dependem de um equilíbrio entre a proteção contra o estresse e o retorno a função normal no período mais precoce possível (KISNER e COLBY, 2016). A mobilização pode restaurar as propriedades mecânicas e estruturais dos tecidos ligamentares, por exemplo. As forças de cisalhamento e compressivas que ocorrem nas superfícies articulares provocadas pelo movimento promovem aumento da síntese de colá- geno e proteoglicanos (BRODY e HALL, 2019). Desta forma, os serviços de Fisioterapia são procurados por indivíduos que tem prejuízos funcionais aliados a um prejuízo físico, mas que querem melhorar seu nível geral de capacidade física ou reduzir o risco de lesão ou doença. Vale ressaltar que as disfunções mais tratadas com o exercício terapêutico são: 9UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios - Musculoesqueléticas: dor, fraqueza muscular/redução da produção de torque, diminuição da resistência muscular, limitação da amplitude de movimento ligada a restrição da cápsula articular, dos tecidos conectivos e da diminuição do comprimento muscular, hi- permobilidade articular, postura errada e desequilíbrios musculares de comprimento/força; - Neuromusculares: dor, perda de equilíbrio, estabilidade postural ou controle, déficit de coordenação motora (ataxia), déficit de sincronia, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor normal, tônus anormais (hipotonia, hipertonia e distonia) e estratégias de movimentos funcionais ineficientes; - Cardiovasculares e pulmonares: diminuição da capacidade aeróbia, déficit circulatório (linfático, venoso ou arterial), dor com atividade física sustentada (claudicação intermitente); - Tegumentar: hipomobilidade da pele (imobilidade ou cicatriz aderida). É importante ressaltar que a habilidade de ter função independente em casa, no local de trabalho, na comunidade, durante o lazer e atividades recreacionais depende do físico tanto quanto função psicológica e social. Os aspectos multidimensionais da função física englobam áreas diversas, mas que se inter-relacionam (Figura 1) (KISNER e COLBY, 2016). FIGURA 1 - ASPECTOS INTER-RELACIONADOS A FUNÇÃO FÍSICA Fonte: KISNER e COLBY, 2016. Abordando especificamente a função, as limitações funcionais mais comuns rela- cionadas a tarefas físicas são: 10UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios - Alcançar e agarrar; - Levantar e carregar; - Empurrar e puxar; - Dobrar e inclinar-se; - Virar e rodar; - Jogar e pegar; - Rolar; - Permanecer em ortostatismo (em pé); - Agachar-se e ajoelhar-se; - Levantar-se e sentar-se - Entrar e sair da cama; - Rastejar-se, caminhar e correr; - Subir e descer escadas; - Pular; - Chutar. A terapia por exercícios pode ser feita de muitas maneiras, com objetivos e em fases do tratamento distintas, por isso, cada etapa tem sua peculiaridade e necessidade. Para cada momento, um movimento ou um tipo de exercício. 1.1 Terminologia do exercício terapêutico Os aspectos multidimensionais da função física, aquelas que impactam diretamen- te na ação do Fisioterapeuta, englobam áreas diversificadas do desempenho, mas sempre intimamente ligadas (Figura 1). São estes aspectos (também chamados de valências) que serão discorridos a seguir. 1.2 Equilíbrio, controle postural e estabilidade postural Define-se equilíbrio como a habilidade de alinhar os segmentos do corpo contra a gravidade para manter ou mover o corpo dentro da base de apoio disponível, sem cair; também a habilidade de mover o corpo em contraposição à força da gravidade devido a interação entre os sistemas sensorial e motor. Os termos de controle postural e estabilidade postural se referem o equilíbrio, tanto estático, quanto dinâmico (KISNER e COLBY, 2016). 11UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 1.3 Preparo cardiovascular Também chamado de resistência cardiopulmonar à fadiga, o preparo cardiovascular refere-se à habilidade de realizar movimentos corporais completos repetitivos e de baixa intensidade (por exemplo, correr, caminhas, pedalar, nadar) durante um longo período de tempo (KISNER e COLBY, 2016). 1.4 Coordenação É vista como a capacidade de executar movimentos regulares, acurados e contro- lados, ou seja, harmônicos. É importante ressaltar que uma atividade motora útil, adequada e harmônica necessita de mecanismos regulares de alta complexidade. Assim, é a correta cadência e o correto sequenciamento dos disparos musculares combinados com a intensi- dade apropriada de contração muscular que leva a uma atividade coordenada. Baseia-se no movimento suave, preciso e eficiente, ocorrendo de forma consciente ou inconsciente (KISNER e COLBY, 2016). 1.5 Flexibilidade Conceitua-se flexibilidade como a habilidade mover-se livremente, sem restrições, ou seja, mover uma articulação ou uma série de articulações na amplitude de movimento completa, irrestrita e indolor (KISNER e COLBY, 2016). 1.6 Mobilidade A habilidade de estruturas ou segmentos do corpo de se moverem ou serem mo- vidos de modo a permitir a ocorrência da adequada amplitude de movimento (ADM) para as atividades funcionais (ADM funcional) é a forma que a mobilidade tem sido conceituada (KISNER e COLBY, 2016). 1.1.6 Desempenho muscular Desempenho muscular é a capacidade do músculo de produzir tensão e realizar trabalho físico, o que engloba força, potência e resistência muscular à fadiga (KISNER e COLBY, 2016). 12UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 1.1.7 Controle neuromuscular Para um indivíduo ou segmento corporal apresentar controle neuromuscular é neces- sário uma interação dos sistemas sensorial e motor, que possibilita aos músculos sinergistas, agonistas e antagonistas, assim como aos estabilizadores e neutralizadores, prever ou responder às informações proprioceptivas e cinestésicas e, subsequentemente, trabalhar na sequência correta para criar o movimento coordenado (KISNER e COLBY, 2016). 1.1.8 Estabilidade Refere-se a habilidade do sistema neuromuscular de manter um segmento corporal proximal ou distal em uma posição estacionária ou de controlaruma base estável durante o movimento sobreposto, por meio de ações musculares sinérgicas. A estabilidade articular é a manutenção do alinhamento apropriado das partes ósseas de uma articulação por meio de componentes passivos e dinâmicos (KISNER e COLBY, 2016). 13UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios SAIBA MAIS Os sistemas do corpo que controlam cada um destes aspectos da função física reagem, adaptam-se e desenvolvem-se em resposta às forças e sobrecargas físicas impostas aos tecidos que constituem os sistemas corporais. Podemos citar como exemplo a gravi- dade, que é uma força constante que afeta os sistemas musculoesquelético, neuromus- cular e circulatório, além do que forças adicionais que ocorrem durante atividades físicas diárias ajudam o corpo a manter um nível funcional de força, preparo cardiopulmonar e mobilidade. Forças e cargas físicas excessivas podem causar lesões agudas, como entorses e fraturas ou problemas crônicos, como os distúrbios por sobrecarga repetitiva. Em contraposto, a ausência de forças usuais sobre o corpo pode causar degeneração, degradação ou deformidade, por exemplo um paciente que permanece por muito tempo em repouso prolongado no leito, pois a ausência de peso normal associada com repou- so prolongado no leito ou imobilização enfraquece músculos e ossos. A inatividade pro- longada também leva à diminuição na eficiência dos sistemas circulatório e pulmonar. A deficiência de um ou mais sistemas corporais e sua consequente incapacidade de qualquer aspecto da função física, em associação ou não, pode resultar em limitação funcional e incapacidade para executar ou participar das atividades da vida diária. É exatamente neste ponto que os exercícios terapêuticos são indicados, visto que suas in- tervenções envolvem a aplicação de cargas e forças físicas cuidadosamente graduadas que são impostas aos sistemas corporais, tecidos específicos ou estruturas individuais comprometidas de modo controlado, progressivo e seguro para reduzir os comprometi- mentos físicos e melhorar a função. Fonte: KISNER e COLBY, 2016. 14UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 2. TIPOS DE EXERCÍCIOS Os procedimentos terapêuticos pautados em exercícios englobam uma ampla varie- dade de atividades, ações e técnicas, sendo que estas são determinadas pelo profissional que vislumbra as causas, limitações funcionais ou incapacidade (KISNER e COLBY, 2016). Os objetivos mais comuns da execução dos exercícios terapêuticos são: - Condicionamento e recondicionamento aeróbio; - Exercícios que busquem a melhora do desempenho muscular: da força, potência e também do treinamento de resistência; - Técnicas que visam o alongamento muscular, que incluem procedimentos de aumento do comprimento muscular e técnicas de mobilização articular; - Técnicas de controle, inibição e facilitação neuromuscular e treinos de consciência postural; - Exercícios de controle postural, mecânica corporal e estabilização; - Exercícios de equilíbrio e agilidade; - De relaxamento; - Respiratórios e de treinamento muscular ventilatório; - Treino funcional de uma tarefa específica. Apesar de compor diversos objetivos, a grande parte dos exercícios terapêuticos pode ser dividida ou organizada em poucos tipos, sendo: passivo, ativo assistido, ativo livre ou ativo resistido. O que determina este tipo é o uso de uma ação externa ou não (KISNER e COLBY, 2016). 15UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 2.1 Exercício passivo O primeiro tipo de exercício básico é o passivo, aquele que é realizado por uma força externa. A força externa pode ser realizada pelo terapeuta, por aparelhos (Figura 2), ou até mesmo pelo próprio paciente, mas apenas com auxílio de uma outra região, sendo utilizado em casos em que a pessoa é incapaz de produzir o movimento ativo por paralisia muscular (grau 0 de força), por fraqueza muscular grave (força grau 1) ou quando o movimento ativo é doloroso ou contraindicado, por exemplo, num pós-operatório recente (KISNER e COLBY, 2016). FIGURA 2 - EXEMPLO DE MOBILIZAÇÃO PASSIVA ATRAVÉS DE UM APARELHO DE CPM (DO INGLÊS CONTINUOUS PASSIVE MOTION, MOBILIZAÇÃO PASSIVA CONTÍNUA) SAIBA MAIS A força de um músculo ou de um grupo muscular é realizada a partir do teste manual, sendo que a graduação ocorre de 0 a 5: - O grau normal (ou 5) significa que o musculo consegue manter a posição de teste con- tra uma pressão forte do examinador. Esse grau não pretende indicar a força máxima do indivíduo, mas, ao contrário, a pressão máxima que o examinador aplica para obter o que poderia ser denominado força total do músculo. Em ternos de julgamento, ela po- deria ser definida como a força adequada para atividades funcionais comuns; - Já o grau bom (ou 4) significa que o músculo consegue manter a posição do teste con- tra uma pressão moderada; 16UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios - O grau regular (ou 3) indica que um músculo consegue manter a parte na posição de teste contra a resistência da gravidade, mas não consegue mantê-la quando uma pres- são, mesmo que mínima, é adicionada; - O grau ruim (ou 2) indica a capacidade de mover por um arco parcial de movimento no plano horizontal. Ou seja, aquele músculo não é capaz de vencer a resistência da gravidade, por isso é necessário modificar a posição original do teste a fim de verificar se aquele músculo realiza o movimento quando a resistência da gravidade não mais incide dificultando; - O grau vestigial (ou 1) significa que uma contração fraca pode ser sentida em um mús- culo que pode ser palpado ou que o tendão se torne discretamente proeminente, No en- tanto, nenhum movimento da parte é visível, nem mesmo quando não incide resistência da gravidade; - Já o grau zero ocorre quando não há evidências visíveis ou palpáveis de qualquer con- tração muscular, ou seja, há uma paralisia daquele músculo. Fonte: KENDALL et al. 2007. Os objetivos alcançados pela mobilização passiva são: - Manter a integridade da articulação e tecidos moles; - Evitar formação de contraturas; - Manter a elasticidade dos músculos; - Assistir a circulação sanguínea, evitando a formação de trombos; - Melhorar o movimento sinovial para nutrir as cartilagens articulares; - Diminuir ou inibir dor; - Auxiliar o processo de cicatrização após cirurgia e evitar aderências; - Ganhar e/ou manter a ADM (amplitude do movimento) da articulação; - Manter os padrões cinestésicos do movimento. É importante relatar que um exercício passivo não é capaz de promover ganho de força, resistência ou capacidade de geração de torque de um músculo ou grupo muscular. O exercício passivo é indicado em casos de: - Incapacidade física do paciente (por exemplo, no tratamento de pacientes que so- freram Acidente Vascular Encefálico, Traumatismo raquimedular, em estados comatosos); 17UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios - Lesões agudas; - Quando há contraindicação da realização da contração muscular; - Em processos pós cirúrgicos com suturas em processo de cicatrização; - Em regiões que apresentem um tecido com inflamação (normalmente aguda). O Fisioterapeuta dispõe de várias intervenções que permitem tratar uma diminuição da mobilidade (Amplitude de Movimento articular). Dentre as modalidades, é possível citar a mobilização articular passiva, que pode ser indicada para aumentar a ADM. Os movimentos passivos são usados quando o movimento ativo pode romper o processo de cicatrização, quando o paciente é físico ou cognitivamente incapaz de se movimentar ativamente, ou quando o movimento ativo é doloroso. Na prática, utilizamos este tipo de exercício terapêu- tico para facilitar aquele movimento. Em um ambiente terapêutico, a mobilização articular passivaé usada para evitar os efeitos deletérios da imobilização após uma lesão ou cirurgia, com o intuito de prevenir contraturas articulares, rigidez dos tecidos moles circundantes ou encurtamento adaptativo, a manutenção das relações móveis normais entre as camadas de tecidos moles, a redução da dor e o aprimoramento da dinâmica vascular e da difusão sinovial (KISNER e COLBY, 2016). Quando o fisioterapeuta executa um exercício articular passivo numa articulação de um indivíduo, ele deve usar os conceitos biomecânicos desta mesma articulação, que se referem a Osteocinemática e Artrocinemática. É a partir da junção deles que os movimentos ocorrem com saúde e função (KISNER e COLBY, 2016). Osteocinemática se refere aos próprios movimentos dos ossos, como flexão e extensão, os chamados movimentos fisiológicos ou angulares. Porém, para que estes ocorram, é necessário que dentro daquela articulação ocorram outros movimentos, como rolamento, deslizamento, compressão, giro e distração. Estes últimos ocorrem nas superfí- cies articulares e são chamados de movimentos acessórios ou Artrocinemática; e refletem a distensibilidade da cápsula articular, o que permite que os movimentos fisiológicos (osteoci- nemática) ocorram. Não podem ser realizados ativamente pelo paciente, mas são utilizados para restaurar a biomecânica articular normal diminuindo a dor, alongando, ou liberando com menos trauma determinadas estruturas (LIPPERT, 2018). Desta forma, é coerente e fisiológico que, antes mesmo de realizar a mobilização passiva dos movimentos fisiológicos da articulação (Osteocinemática), devemos realizar os movimentos acessórios (Artrocinemática). Os movimentos acessórios (Artrocinemática) são ao todo cinco: deslizamento, rolamento, compressão, distração e giro (ou rotação) e dependem do tipo de articulação em questão (KISNER e COLBY, 2016). 18UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios No deslizamento, um osso desliza sobre o outro, sendo que as superfícies articula- res são congruentes; o mesmo ponto em uma superfície faz contato com novos pontos na superfície oposta. O deslizamento não ocorre sozinho devido as superfícies articulares não serem totalmente planas, ou seja, completamente congruentes. A superfície articular que se move influencia a direção do deslizamento, o que é chamada regra convexo-côncava, visto que quando a superfície articular que se move é convexa o deslizamento ocorre na direção oposta à do movimento angular do osso; já quando a superfície que se move é côncava o deslizamento ocorre na mesma direção do movimento angular do osso. Imagine você segurando uma bola de tênis e em vez de soltá-la no chão, você desliza a superfície dela no chão. É isto que ocorre no deslizamento (LIPPERT, 2018). Já no rolamento, um osso rola sobre o outro, as superfícies são incongruentes e novos pontos de uma superfície encontram novos pontos na superfície oposta. Nas articulações com a biomecânica normal, o rolamento só ocorre em combinação com o deslizamento e giro, porém, quando o rolamento ocorre sozinho causa compressão nas superfícies do lado que o osso está se movendo, o que pode provocar uma lesão articular e uma separação no outro lado. Imagine você segurando uma bola de tênis e jogando ela no chão. O rolamento que ela faz é o rolamento que ocorre nas articulações (LIPPERT, 2018). Na compressão uma superfície articular se aproxima da outra, o que causa diminui- ção do espaço articular, sendo frequente nos membros inferiores e coluna vertebral durante a descarga de peso (sustentação do peso do corpo). Esta compressão também acontece com a contração muscular, o que gera estabilidade articular, impedindo lesões articulares, o líquido sinovial move-se para as estruturas articulares avasculares, nutrindo-as e lubrificando-as. É importante ressaltar que cargas excessivas de compressão podem causar lesões articulares, especialmente na cartilagem articular. Imagine você segurando uma bola de tênis próximo ao solo. A compressão é a aproximação entre estes dois pontos (LIPPERT, 2018). O contrário é a distração (ou tração), quando as superfícies articulares se afastam uma da outra, ou seja, elas se separam, podendo ocorrer tração no eixo longo do osso, resultando em deslizamento caudal ou tração em ângulo reto, o que resulta na separação articular propriamente dita (LIPPERT, 2018). No giro ocorre, como o próprio nome já diz, um giro de um osso sobre o outro, ou seja, uma rotação sobre um eixo mecânico estacionário. O ponto na superfície que se move faz um círculo na medida em que o osso gira, sendo que dificilmente ocorre sozinho (mais associado com o deslizamento). Imagine segurando uma bola de tênis tocando-a no chão. Gire-a sem soltá-la mantendo-a no mesmo lugar: é o exemplo de giro numa articulação (LIPPERT, 2018). 19UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios REFLITA Como todo este conhecimento é aplicado na ação do Fisioterapeuta? Pensemos numa articulação rígida, bloqueada ou parcialmente bloqueada: Um indivíduo que é portador de uma capsulite adesiva do ombro, quadro que provoca intensa limitação de todos os movimentos daquela estrutura. A mobilização passiva é indicada para facilitar o movi- mento perdido, promover uma melhora da ADM desta. Já que agora sabemos que os movimentos fisiológicos da articulação (osteocinemática, por exemplo, flexão, abdução, rotação, etc.) só ocorrem quando os acessórios acontecem (artrocinemática, desliza- mento, rolamento, giro, etc.), é prudente iniciar a mobilização passiva por estes últimos. Os que são mais utilizados nesta ação são o deslizamento e a distração. Portanto, é possível e necessário segurar os ossos ou superfícies articulares e deslizá-las uma em relação a outra e também decoaptá-las, pois isto irá aliviar as pressões de compressão, estimular a formação de liquido sinovial, restaurar os movimentos perdidos (artrocine- mática) e como consequência a osteocinemática. Fonte: O autor, 2021. 2.2 Exercício ativo Quando o paciente já se encontra num estágio que o músculo consegue gerar algum potencial nervoso, contração e ligeiro movimento, o momento é de utilizar um outro tipo de exercício, o ativo, o que significa que ele é feito pelo próprio paciente, pela própria estrutura do segmento que realiza o movimento, ou seja, pela contração muscular efetiva- mente (KISNER e COLBY, 2016). 2.2.1 Exercício ativo assistido O seu primeiro subtipo é: o exercício ativo assistido, em que uma assistência externa acontece, ou seja, algo ou alguém auxilia o movimento. É importante diferenciar o exercício passivo do ativo assistido, sendo que no primeiro o paciente não contrai o músculo e no segundo, sim. A assistência pode ser realizada de várias formas: pelo fisioterapeuta ou por um equipamento (como um bastão, por exemplo). Imagine um indivíduo que já consegue realizar uma contração muscular suficiente para iniciar um movimento de flexão do ombro esquerdo, porém ainda não apresenta ADM completa nem força suficiente. O outro ombro (direito) tem boa saúde. O profissional indicará um exercício ativo assistido, solicitará que 20UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios ele segure um bastão nas duas mãos e levante-o com flexão bilateral (ou seja, dos dois ombros). O ombro direito, que neste caso encontra-se com função normal irá auxiliar o es- querdo pela transmissão da força pelo bastão. Portanto, o membro superior direito através do bastão está assistindo (auxiliando) o levantar do braço esquerdo (flexão do ombro). Parece um exercício simples, mas se muito bem indicado, na fase correta do tratamento/ treinamento, apresenta resultados satisfatórios (KISNER e COLBY, 2016). 2.2.2 Exercício ativo livre Os exercícios ativos também podem ser livres, ou seja, realizados sem assistência nem resistência.São indicados quando a assistência já não é mais requerida, mas também há impossibilidade ou contraindicação do treino resistido (KISNER e COLBY, 2016). 2.2.3 Exercício ativo resistido E por último, os resistidos, em que contrações musculares são realizadas contra resistências graduáveis e progressivas. Essas resistências podem ser muito variadas, sendo que a mais comum é o peso fixo, seguido do manual, elástica, por molas, hidráulica, magnética, entre outras. Seu objetivo é estimular a integridade e as funções do aparelho locomotor, além dos seus efeitos promotores de saúde cardiovascular e alto grau de segu- rança geral (KISNER e COLBY, 2016). Qualidades de aptidão como força, resistência, coordenação e flexibilidade são importantes para a realização confortável e segura das atividades de vida diária, mesmo em situações de atividades com solicitação acentuada, como é o caso de muitas realizadas em âmbito profissional. Músculos fortes funcionam como amortecedores de forças exter- nas, aliviando as articulações. São os exercícios resistidos, geralmente realizados de forma manual ou mecânica, é que proporcionam grande benefício nas disfunções evidenciadas nas doenças reumatológicas, ortopédicas e neurológicas (KISNER e COLBY, 2016). Como já mencionado, a carga imposta a um exercício ou movimento num exer- cício ativo resistido pode ser variada, ou seja, de múltiplas formas e metodologias, mas no geral ela pode ser manual ou mecânica. Aqueles com resistência manual são tipos de exercícios executados contra uma resistência imposta pelo fisioterapeuta. A grande vanta- gem da utilização desse método está no fato de não haver necessidade de equipamentos, além da possibilidade de graduação de força para um músculo muito fraco, e que pode vencer apenas uma resistência mínima a moderada. Torna-se útil inclusive quando há a necessidade de controlar de forma cuidadosa a amplitude articular. Já a carga mecânica 21UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios é uma resistência que é dada por um equipamento ou aparelho mecânico. É útil quando a quantidade de resistência necessária é superior ao que o fisioterapeuta pode aplicar manualmente, além do que, permite que ocorra mensuração quantitativa e progressiva desta carga ao longo do tempo. Um exemplo é um exercício para o membro superior que se inicia com um halter (peso fixo) de 1 quilograma. Após a adaptação do músculo aquela carga, ou seja, depois de alguns treinamentos, pode ser possível acrescentar uma carga maior, pois aquele músculo, grupo muscular ou segmento já é capaz de executar o mesmo movimento, com o mesmo padrão, qualidade e eficiência, com uma carga maior. Desta forma, acrescentando-se 500 gramas, sabe-se que aquele segmento ou músculo está mais forte, coordenado, hábil para executá-lo, o que possivelmente impactará positivamente na capacidade funcional daquele membro superior. Este é um foco especial do trabalho do profissional do movimento (KISNER e COLBY, 2016) (Figura 3). FIGURA 3 - EXEMPLO DE EXERCÍCIO ATIVO RESISTIDO Exercícios ativos resistidos são vistos como essenciais nos programas de rea- bilitação para pessoas com função comprometida, além de um componente integral dos programas de condicionamento para aqueles que desejam promover ou manter a saúde e o bem estar físico, potencializar o desempenho de habilidades motoras e reduzir o ris- co de lesões, disfunções e doenças. Além disso, impacta positivamente no desempenho muscular através da restauração, melhora a manutenção da força, potência e resistência a fadiga; aumenta a força dos tecidos conjuntivos (tendões, ligamentos, tecido conjuntivo 22UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios intramuscular); promove maior densidade mineral óssea (essencial em programas para indivíduos com osteoporose, osteopenia ou prevenção destes agravos); diminuem a so- brecarga nas articulações; reduzem o risco de lesões; melhoram o equilíbrio; promovem aumento da massa magra e diminuição da gordura corporal (essencial em programas de emagrecimento); além de promover sensação de bem estar e especialmente melhora na incapacidade e qualidade de vida (KISNER e COLBY, 2016). O princípio essencial que orienta a prescrição de exercícios ativo resistidos é o da sobrecarga, que resulta de uma relação entre estímulo, adaptação e aumento da sobre- carga. Isso se deve ao fato de que, depois de um tempo realizando exercícios com uma determinada carga, é necessário aumentá-la para continuarmos a ter os benefícios que o exercício proporciona, elevando o limite de adaptação, o que deve ser realizado aos poucos e de forma progressiva. Se permanecêssemos com a mesma carga, manteríamos apenas o mesmo nível de condicionamento já alcançado. Vale ressaltar aqui a importância de se elaborar um programa de exercícios que simule muito bem as atividades funcionais desejadas. O maior número possível de variá- veis do programa de exercícios deve estar de acordo com os requisitos e as demandas encontradas e vivenciadas pelo paciente durante a realização das atividades funcionais específicas (KISNER e COLBY, 2016). Os estudos com pessoas idosas têm documentado a importância dos efeitos dos exercícios resistidos para melhorar a qualidade de vida por meio do alívio de dores articulares, maior independência funcional e melhora da autoestima. A segurança muscu- loesquelética e cardiovascular dos exercícios resistidos também tem sido demonstradas, mesmo diante de comorbidades. Atualmente um significativo corpo de evidências justifica a utilização dos exercícios resistidos para promoção de saúde, terapêutica e reabilitação (KISNER e COLBY, 2016). Os exercícios resistidos podem ser considerados muito seguros, mesmo para pessoas idosas e debilitadas. A segurança musculoesquelética é dada pela adequação ideal das sobrecargas às condições físicas dos praticantes. Não apenas as cargas, e con- sequentemente as repetições, mas também a ADM, os intervalos de descanso, o número de series e de exercícios, e a frequência das sessões de intervenção. Os movimentos são relativamente lentos e cadenciados, sem acelerações ou desacelerações violentas. O corpo permanece em posições anatômicas e confortáveis durante os exercícios, sem a possibilidade de desequilíbrios, quedas e torções (KISNER e COLBY, 2016). 23UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios Saúde musculoesquelética tem sido conceituada como a boa capacidade funcional do aparelho locomotor e a integridade estrutural dos seus componentes (ossos, cartilagens, ligamentos, músculos e tendões). É estimulada por todo tipo de atividade física (ação mo- tora, exercício, atividade, tratamento, treinamento funcional) em que as contrações muscu- lares são realizadas contra alguma forma de resistência. O trabalho braçal e as atividades esportivas mais intensas utilizam contrações resistidas e são eficientes para estimular a integridade e a função do aparelho locomotor (KISNER e COLBY, 2016). Por meio do estímulo à saúde musculoesquelética é possível reduzir a ocorrência de dores articulares, limitações de aptidão para a vida diária e para o trabalho, osteoporose, fraturas, sarcopenia, distúrbios neuroendócrinos, desregulação do sistema imune e fragili- dade (KISNER e COLBY, 2016). Está claro que a cinesioterapia é um recurso fundamental para o restabelecimento ou prevenção de agravo de saúde para os profissionais do movimento, em especial ao fisioterapeuta. Porém, o que é mais importante neste processo é a seleção adequada dos exercícios, ou seja, a prescrição e o planejamento dos programas de treinamento. Devem ser evitados movimentos que possam ser inadequados para a situação atual daquela pes- soa. O respeito a individualidade e a função ou disfunção é o mais relevante. Selecionando corretamente o tipo, a cargae a metodologia, as cargas e amplitudes serão adaptadas para as limitações individuais, com evolução gradativa, o que respeita os limites do conforto articular. O grau de esforço deve ser submáximo e os volumes de treinamento coerentes (KISNER e COLBY, 2016). Escolher os exercícios para um programa de treinamento depende de vários fatores, inclusive a causa e o comprometimento daquele segmento/ corpo. É necessário considerar as deficiências no desempenho (primeiro fator e mais importante), o estágio de cicatrização dos tecidos, a condição das articulações e sua tolerância a compreensão e movimento, as habilidades do paciente, tanto física quanto cognitiva, a disponibilidade de equipamentos, as metas do paciente e os resultados funcionais desejados. Não há uma forma ou um exercício melhor para tudo ou para todos. Existe um programa coerente, estudado e direcionado a estes critérios, e se estes forem respeitados, provocará relevante impacto na função daquele indivíduo (KISNER e COLBY, 2016). 24UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 2.3 Uma visão ampliada do processo de Reabilitação Agora que já compreendemos os tipos mais comuns e básicos de exercícios tera- pêuticos, é possível fazer relações clínicas relevantes. O exemplo prático é um indivíduo que procurou a intervenção fisioterapêutica pois sofreu uma cirurgia para reparação do tendão do manguito rotador do ombro há três dias. Vamos a algumas discussões sobre isto. O procedimento cirúrgico realizado foi uma reparação por meio de um artroscópio, aparelho médico que tem por objetivo “olhar dentro” daquela articulação. Desta forma, foi feita sutura com a utilização de âncoras ou mini âncoras, bioabsorvíveis ou não para repa- rar um tendão que estava rompido. Isto ocorreu, pois este tendão do manguito rotador do ombro é suscetível a isto pois é comprimido entre o arco coracoacromial e o colo do úmero em atividades do ombro acima da cabeça. No processo de reabilitação deste indivíduo, até 45 dias após a cirurgia, é con- traindicada a realização de exercícios ativos de elevação do braço, como flexão, abdução e rotações, visto que o tendão é a estrutura que transfere a energia vinda da contração do músculo ao osso, o que proporciona o movimento. É necessário este cuidado para que o tendão tenha seu processo de reparação e cicatrização. Desta forma, desde o terceiro dia pós operatório até o quadragésimo quinto a cinesioterapia com este indivíduo nestes mo- vimentos será passiva, ou seja, é o fisioterapeuta que irá realizar o movimento no membro superior do paciente. Isto é muito importante para que o ombro já ganhe mobilidade ou previna contraturas e deformidades, no caso uma capsulite adesiva. Assim, os músculos permanecerão ou ganharão extensibilidade, a cápsula será distendida na sua fisiologia normal, a articulação será lubrificada e vascularizada, entre outras ações. Já a partir dos 45 dias entende-se que o processo de reparação daquele tendão já se encontra completo. É o momento de se iniciar o exercício ativo. Porém, o paciente está há um mês e meio sem contrair estes músculos. Portanto, o exercício ativo a ser realizado é o assistido, visto que o paciente ainda não terá condição de completar a ADM, independente do movimento que ele estiver realizando. Esta assistência pode ser dada pelo próprio fisioterapeuta ou por algum recurso externo. Conforme a evolução clínica do paciente ocorra, por exemplo, ele já consegue uma ADM quase completa, menos algia (dor), mais atividades funcionais, retira-se a assistência, fazendo com que o exercício seja livre, sem assistência e sem resistência. O próximo passo é a instituição de uma resistência, ou seja, uma carga externa, imposta pelo fisioterapeuta ou por algum instrumento externo, como pesos, elásticos, molas, resistência hidráulica, pneumática, entre outras. Este tipo de atividade irá proporcionar ao paciente uma adapta- 25UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios ção aquela carga e cada vez mais capacidade de realização das atividades de vida diária (AVD’s), visto que em muitas destas há a imposição de cargas. Exemplos são: Carregar compras do mercado, levar uma lata de café ao armário aéreo da cozinha. A alta fisioterapêutica será efetivada quando este indivíduo estiver com suas funções restabelecidas, com boa força muscular, coordenação, Amplitude de Movimento, postura, mobilidade escapular, músculos bem alongados e relaxados, entre outros, muitos destes alcançados através da sequência bem indicada e realizada de exercícios terapêuticos, cada um no seu momento. 26UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado (a) acadêmico (a), nesta primeira Unidade vimos algumas bases fun- damentais da Cinesioterapia, desde alguns conceitos, até aplicabilidades clínicas para o fisioterapeuta. Aprendemos que o exercício terapêutico é a forma mais certeira de reabilitar um indivíduo que apresenta alguma disfunção de mobilidade, visto que é só trabalhando a mobilidade que a restauramos; e que isto impacta positivamente na função executada nas atividades de vida diária desta pessoa. Conhecemos também alguns aspectos multidimensionais desta função tão rele- vante para o indivíduo (que também podemos chamar de valências), sendo elas: Equilíbrio, controle postural e estabilidade postural, Preparo cardiovascular, Coordenação, Flexibilida- de, Mobilidade, Desempenho muscular, Controle neuromuscular e Estabilidade. Compreendemos também alguns tipos de exercícios terapêuticos, sendo o passivo aquele que é executado por uma força externa; o ativo assistido se refere aquele em que já há contração muscular associada a uma assistência; o ativo livre executado livremente pelo indivíduo, sem assistência nem resistência; e o resistido aquele em que o princípio da sobrecarga é utilizado, ao ponto em que o movimento é executado contra uma resistência. Cada um deles têm sua importância e integram o todo do processo de reabilitação de muitas apresentações clínicas comuns cuidadas pelos fisioterapeutas. Saber indicá-las e executá-las corretamente é ação primordial deste profissional. Assim, julgamos que esta primeira parte tenha trazido informações claras e que subsidiarão a caminhada daqui pra frente. 27UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios LEITURA COMPLEMENTAR Artigo: A influência da mobilização articular nas tendinopatias dos músculos bíceps braquial e supraespinhal RESUMO: As causas mais comuns de dor no ombro estão relacionadas às dege- nerações dos tendões da musculatura do manguito rotador. Objetivo: Verificar a influência da mobilização articular por meio dos movimentos acessórios do ombro na recuperação inicial de 14 pacientes com tendinopatia crônica dos mm. supraespinal e/ou bíceps bra- quial. Métodos: Foram comparados dois protocolos de tratamento, compostos da aplicação de ultrassom terapêutico na área do tendão afetado e de treinamento excêntrico na mus- culatura envolvida, acompanhados ou não de manobras de mobilização articular. Como métodos de avaliação foram utilizados os questionários de Constant e Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand (DASH), no início e ao final do tratamento. Resultados: Os resulta- dos encontrados demonstraram que ambos os protocolos de tratamento foram eficazes na reabilitação dos pacientes, pois se obtiveram melhores resultados funcionais na aplicação dos questionários quando comparados o final com o início do tratamento para os pacientes (p<0,05). Conclusões: Assim ambos os protocolos de tratamento foram eficazes no tra- tamento da tendinopatias crônica do ombro, sendo que, o uso associado da mobilização articular parece oferecer melhores resultados funcionais. Fonte: BARBOSA, R. I.; GOES, R.; MAZZER, N.; FONSECA, M. C. F.A influência da mobilização articular nas tendinopatias dos músculos bíceps braquial e supra-espinal. Revista Brasileira de Fisioterapia. v. 12 n. 04. p. 298-303, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbfis/a/zvczyTYZhYQ47nf7CghfZ8p/?for- mat=pdf&lang=pt. Acesso em: 13 ago 2021. 28UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Exercícios terapêuticos: Fundamentos e Técnicas Autor: Carolyn Kisner; Lynn Allen Colby. Editora: Manole, 2016. Sinopse: Esta obra reúne todas as diretrizes necessárias para personalizar as diversas intervenções e modalidades de exercício no tratamento de pessoas com disfunção de movimento associada a distúrbios musculoesqueléticos ou cirurgias. O leitor encontrará o equilíbrio perfeito entre teoria e prática clínica: discussões apro- fundadas dos princípios terapêuticos e da terapia manual vincula- das às recomendações mais atuais sobre técnicas e tratamentos. Amplamente revista e atualizada, esta nova edição mantém o propósito de não apenas fornece uma base sólida acerca dos princípios e aplicações do exercício terapêutico, como também de apresentar todas as ferramentas para auxiliar o estudante e o profissional a desenvolverem o conhecimento e as habilidades exigidos para a elaboração e implementação de programas de exercícios que facilitem e aperfeiçoem o aprendizado do paciente, assim como sua independência e bem-estar ao longo do processo de reabilitação. FILME / VÍDEO Título: Descubra como esta Mob. Escapular ajuda seus pacientes Ano: 2019 Sinopse: Se você tem dificuldade de realizar a mobilização es- capular, este vídeo vai te ajudar MUITO. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=Z5WL0pDzrco 29 Plano de Estudo: ● Alongamento muscular; ● Treinamento aeróbio e exercícios respiratórios. Objetivos da Aprendizagem: ● Compreender o encurtamento muscular como relevante disfunção do movimento; ● Abordar o alongamento como uma estratégia fundamental para a prática clínica deste profissional; ● Conceituar e fundamentar a treino aeróbio e exercícios respiratórios para o fisioterapeuta. UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias 30UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 30UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios INTRODUÇÃO Seja bem-vindo a Unidade II da disciplina de Cinesioterapia. Como já vimos a importância do uso dos exercícios terapêuticos para diversas condições de saúde, além de compreender alguns tipos destes exercícios, a partir de agora já podemos aprofundar, especificamente em duas características importantes: No alongamento muscular e no trei- namento aeróbio e exercícios respiratórios. É verdade que cada um dos tipos de exercícios que serão abordados nesta Unidade apresenta características muito distintas, base fisiológicas diferentes, mas in- dependente disso, fazem parte fortemente do arsenal de técnicas cinesioterapêuticas do profissional da Fisioterapia. Em relação aos alongamentos, são executados quando há um processo de retra- ção ou encurtamento da banda muscular, sendo que os quadros patológicos podem ser diversos, desde ortopédicos, traumáticos, reumáticos, neurológicos, entre outros. Já os exercícios aeróbios e respiratórios, apesar de serem realizados amplamente, congregam três especialidades fisioterapêuticas: a Fisioterapia Cardiovascular (Resolução Coffito n. 454 de 25 de abril de 2015) (BRASIL, 2021a), a Fisioterapia Respiratória (Reso- lução Coffito n. 318 de 30 de agosto de 2006) (BRASIL, 2021b) e a Fisioterapia em Terapia Intensiva (Resolução Coffito n. 402 de 03 de agosto de 2011) (BRASIL, 2021c). Torna-se importante relatar que são especialidades muito importantes para o fisioterapeuta, visto que estes profissionais atuam em redes de hospitais, centro de terapia intensiva, centros de saúde de alta complexidade para reabilitar esses indivíduos. Desta forma, os assuntos desta Unidade também são relevantes para a vida pro- fissional do fisioterapeuta. Julgamos que este material se torne para você um importante subsídio na facilitação da caminhada a ser percorrida para se tornar um fisioterapeuta de sucesso. Aproveite o conteúdo. 31UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 31UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 1. ALONGAMENTO MUSCULAR 1.1 Definições e embasamento O termo mobilidade tem sido descrito baseado em dois parâmetros diferentes, mas intimamente relacionados. O primeiro refere-se à habilidade das estruturas ou segmentos do corpo de se moverem ou serem movidos, o que permite uma Amplitude de Movimento Funcional (ADM Funcional). Já o segundo parâmetro se refere a habilidade de uma pessoa de iniciar, controlar ou manter movimentos ativos do corpo para realizar tarefas motoras simples e complexas (mobilidade funcional). Desta forma, a mobilidade está associada à integridade articular e à flexibilidade, as quais são necessárias para que os movimentos do corpo ocorram sem dor e sem restrições durantes as tarefas funcionais da vida diária (KISNER e COLBY, 2016). Por isso, torna-se importante conhecermos mais sobre o termo flexibilidade, que é definida como a habilidade para mover uma articulação através de sua amplitude de movimento (ADM) normal sem estresse excessivo para a unidade músculotendínea e é fundamental para o corpo humano, tanto na prevenção quanto na reabilitação de lesões. Ela é tão inerente ao ser humano quanto o próprio movimento. É um componente da aptidão física e está relacionada à saúde e ao desempenho atlético, visto que há associação entre a falta de flexibilidade muscular e a ocorrência de lesões musculoesqueléticas (KISNER e COLBY, 2016). 32UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 32UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios Uma certa flexibilidade é necessária para o sucesso de todos os movimentos fí- sicos. Ela pode ser significativamente melhorada com treinamento intensivo dos tecidos conectivos elásticos, incluindo pessoas naturalmente rígidas ou encurtadas (YLINEN e CHAITOW, 2008). Entende-se, de modo mais simples, como flexibilidade a capacidade de mover uma única articulação ou uma série delas de modo suave e com facilidade, ao longo de uma ADM sem restrições e indolor. Ela está relacionada com a extensibilidade das unidades músculotendíneas que atravessam aquela articulação, com base em sua habilidade de relaxar ou deformar e ceder a uma força de alongamento (KISNER e COLBY, 2016). Muitos processos patológicos podem restringir o movimento e provocar compro- metimento da mobilidade, o que chamamos de hipomobilidade. Fatores extrínsecos são: imobilização prolongada através do uso de aparelho gessado, talas, splints (por exemplo, posterior a uma fratura, trauma ou reparo dos tecidos moles) ou tração esquelética. Os fato- res intrínsecos estão relacionados à presença de dor, inflamação e derrame articular (muito comuns em quadros ortopédicos, como tendinopatias, rupturas tendíneas, osteoartrites); distúrbios no músculo, tendão ou fáscia; distúrbios na pele; bloqueio ósseo; distúrbios vas- culares e contraturas. Outros são: estilo de vida sedentário e posturas habituais assimétri- cas; paralisia, alterações no tônus e desequilíbrios musculares, além dos desalinhamentos posturais congênitos ou adquiridos (KISNER e COLBY, 2016). Limitações de mobilidade podem ser causadas por uma variedade de mudanças no tecido conectivo (KISNER e COLBY, 2016): - Encurtamento da fáscia do tecido conectivo, por exemplo, posterior a trauma, cirurgia, lesão por radiação ou queimaduras; - Edema no interior ou ao redor das articulações advindas de traumas agudos e infecções,e um aumento no tecido conectivo em condições crônicas; - Mudanças na estrutura da articulação resultantes de fraturas; - Separações das superfícies articulares, por exemplo lesões da cartilagem ou osso nas superfícies articulares; - Discopatia, rupturas, protrusão ou prolapso discais; - Lesões do sistema nervoso central que provocam rigidez muscular ou diminuição do comprimento do músculo; - Encurtamento do comprimento muscular devido a imobilização prolongada por uso de splints ou órteses; - Deterioração geral dos tecidos dos ligamentos e cápsulas articulares com o pro- cesso degenerativo advindo da idade; 33UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 33UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios - Aumento do tônus e dor após exercício intenso não usual, por exemplo, dor mus- cular tardia; - Ativação dos receptores de dor localizados nos tecidos conectivos e no sistema músculotendíneo das articulações advindos de traumas ou inflamação; - Ativação dos receptores de dor nos tecidos conectivos de articulações circundan- tes após alongamentos excessivamente demorados ou com força excessiva. A restrição de movimento pode provocar desde um leve encurtamento até contratu- ras irreversíveis. O termo contratura é definido como o encurtamento adaptativo da unidade músculotendínea e outros tecidos moles que cruzam ou cercam uma articulação, o que resulta em resistência significativa ao alongamento passivo ou ativo e na limitação da ADM, podendo levar a disfunções (KISNER e COLBY, 2016). Apesar de utilizarmos corriqueiramente o termo flexibilidade, como vimos, ela se re- laciona a mobilidade de uma articulação, estrutura ou segmento e não apenas ao músculo. O termo correto a ser usado para o músculo é: extensibilidade. Ou seja, flexibilidade é mais gené- rica e extensibilidade refere-se à capacidade do músculo ser alongado e permitir flexibilidade. O alongamento é um termo geral usado para descrever qualquer manobra fisiote- rapêutica elaborada para aumentar a extensibilidade dos tecidos moles, melhorando, deste modo, a flexibilidade e a ADM com o aumento do tamanho das estruturas que, de modo a se adaptarem, encurtam-se e tornaram-se hipomóveis com o tempo (KISNER e COLBY, 2016). É importante relatar que para que saibamos se é o músculo que se encontra com menor extensibilidade ou a articulação que está rígida (bloqueio, ruptura ligamentar, edema, capsular, etc.), é necessária a realização de uma avaliação fisioterapêutica que contemple testes de comprimento muscular, mobilizações passivas articulares, entre outros testes que irão permitir que técnicas de tratamento sejam indicadas e executadas de forma mais dire- cionadas e assim, sejam mais eficientes. Assim, se aquele movimento está restrito devido a perda de extensibilidade, é o alongamento a estratégia de tratamento usada, mas se a restrição se deve a rigidez articular, várias outras técnicas seriam mais indicadas do que o alongamento: por exemplo uma mobilização passiva (KISNER e COLBY, 2016). Logo no início de muitos dos processos de reabilitação, o alongamento manual e a mobilização articular, que envolvem uma intervenção direta, com manipulação direta por parte do profissional, podem ser as técnicas mais apropriadas. Mais tarde, exercícios de auto alongamento realizados de forma independente pelo paciente, após uma instrução cuida- dosa e supervisão atenta, podem se configurar como uma intervenção mais adequada. Já em algumas situações, pode ser indicado o uso de dispositivos mecânicos de alongamento, 34UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 34UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios em particular quando as terapias manuais forem ineficazes. Porém, é fundamental que o olhar para o todo exista. Independentemente do tipo de procedimento de alongamento escolhido para determinado paciente ou grupo, para que o ganho na ADM seja permanente, ele precisa ser complementado por um trabalho apropriado de força, potência e resistência à fadiga e usado com regularidade em atividades funcionais (KISNER e COLBY, 2016). 1.2 Fatores determinantes na flexibilidade Vários fatores têm sido vistos como determinantes na flexibilidade, sendo que eles podem ser influenciados por fatores neurofisiológicos, biomecânicos e térmicos. Outros como gênero, idade, nível de atividade física, obesidade, estado dos tecidos moles e força muscular também têm sido descritos na literatura como determinantes da flexibilidade. 1.2.1 Fatores neurofisiológicos Os principais fatores neurofisiológicos que influenciam na flexibilidade são as ações do fuso muscular e do órgão tendinoso de golgi (OTG), além dos mecanismos de inibição recíproca e inibição autogênica (KISNER e COLBY, 2016). As fibras do fuso muscular (também chamadas de intrafusais) estão localizadas paralelamente às fibras musculares extrafusais, sendo responsáveis por detectar altera- ções no comprimento muscular, bem como na velocidade destas alterações. Há dois tipos de resposta reflexa de alongamento: fásica e tônica. A primeira resposta ocorre quando um músculo é rapidamente alongado, o que aumenta a taxa de disparo do fuso muscular, provocando o reflexo de estiramento. Quando este reflexo é estimulado, ocorre uma contra- ção reflexa proporcional à velocidade de alongamento, que irá produzir uma resistência ao movimento articular e consequentemente ao alongamento muscular. A resposta tônica está relacionada ao ajuste postural. A manutenção de uma determinada postura é garantida pela percepção do movimento (cinestesia) e do posicionamento articular (senso posicional). As fibras intrafusais são capazes de perceber alterações cinestésicas e posicionais, provocan- do uma contração muscular a fim de corrigir a postura (KISNER e COLBY, 2016). Os OTG’s são mecanorreceptores localizados na junção miotendínea, sensíveis ao aumento de tensão no músculo e no tendão. Tanto o alongamento quanto a contração muscular podem promover um aumento da tensão no tendão, o que ativa os OTGs. En- tretanto, estes são mais sensíveis à tensão provocada pela contração muscular do que ao alongamento. Se o alongamento ou contração forem mantidos por um período superior a seis segundos, eles são ativados, promovendo um relaxamento reflexo do músculo, faci- litando o seu alongamento. Este é o mecanismo de inibição autogênica (LIPPERT, 2018). 35UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 35UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios Outro fenômeno neurofisiológico que influencia na flexibilidade é o da inibição re- cíproca. Este é baseado na chamada inervação recíproca, que é um circuito neuronal que inibe os músculos antagonistas durante a contração de um músculo ou grupo muscular, o que provoca diminuição do tônus muscular do antagonista, facilitando o seu alongamento. Este mecanismo pode ser compreendido ao estudo do arco reflexo (ou reflexo miotático) (Figura 1). Quando tocamos uma panela quente, antes mesmo de percebermos sua tempe- ratura, reflexamente retiramos nossa mão dela, visto que os receptores de nossa pele foram ativados, o que levou uma informação aferente através do nervo periférico até a medula espinhal. Lá ocorre uma sinapse com o neurônio eferente, que vai do nervo periférico até o músculo efetor, para que este realize a contração muscular retirando nossa mão da panela. Este mecanismo é muito rápido. A inervação recíproca é o fato de que, neste mecanismo do arco reflexo, há uma outra sinapse do neurônio aferente, agora com um neurônio que irá inibir o músculo antagonista àquela ação muscular, o que irá permitir que o movimento seja executado de forma mais harmônica e eficiente. FIGURA 1 - ARCO REFLEXO 1.2.2 Fatores biomecânicos Entre os fatores biomecânicos a seremconsiderados, o comportamento mecânico do tecido muscular possui um papel fundamental para a compreensão da flexibilidade. Torna-se importante relatar que o tecido muscular é composto pelo elemento contrátil (EC) e pelo elemento elástico (EE). O primeiro é representado pelo componente ativo formado pelos miofilamentos de actina e miosina e o elemento elástico é representado pelo compo- nente passivo, formado pelo tecido conectivo. Estes elementos resistem à deformação do músculo e do tendão quando são submetidos a uma força de tração, limitando a flexibilidade (YLINEN e CHAITOW, 2008). 36UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 36UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios O tecido conectivo muscular é formado por tecido conjuntivo denso e está presente nos vários envoltórios que circundam as estruturas musculares. Trata-se do elemento não contrátil, ou seja, apenas elástico do músculo. O epimísio é constituído por uma camada de tecido conjuntivo que envolve todo o músculo e se afunila em suas extremidades, formando o tendão. O perimísio circunda cada fascículo, que é um conjunto de aproximadamente 150 fibras musculares. Já o endomísio é uma fina camada de tecido conjuntivo que envolve cada fibra muscular. Sob o endomísio está localizado o sarcolema, que envolve o sarcôme- ro, unidade funcional do músculo (KISNER e COLBY, 2016). O tecido conectivo é constituído de três tipos de fibras: as fibras colágenas, res- ponsáveis pela rigidez do tecido; as fibras elásticas, que dão complacência ao tecido; e as fibras reticulínicas, que dão volume ao tecido, além da substância de fundo, que reduz o atrito entre as fibras (KISNER e COLBY, 2016). Já as fibras colágenas responsáveis pela rigidez do tecido são formadas por molé- culas de colágeno conectadas entre si por pontes de hidrogênio. O colágeno é a proteína mais abundante nos mamíferos, constituindo um terço das proteínas corporais. Estas fibras são arranjadas em feixes paralelos e apresentam uma configuração ondulada. A substância de fundo é um gel composto por glicosaminoglicanos, proteínas e água, e está localizada entre as moléculas de colágeno, permitindo um livre deslizamento entre estas moléculas e garantindo a capacidade de deformação do tecido conectivo. O colágeno tem como carac- terísticas grande resistência à tensão e baixa capacidade de deformação. O aumento da quantidade de pontes de hidrogênio e a diminuição da distância entre elas irão determinar menor elasticidade e maior resistência ao alongamento (KISNER e COLBY, 2016). Em relação as fibras elásticas, são constituídas essencialmente de elastina, subs- tância capaz de se alongar até́ 150% do seu comprimento antes de se romper. Sabe-se que as fibras elásticas são mais complacentes e menos resistentes quando comparadas às fibras de colágeno. Desta forma, a proporção entre o número de fibras colágenas e elásticas de um tecido vai determinar sua maior rigidez ou complacência (KISNER e COLBY, 2016). Devido à sua organização, quando o tecido conectivo é submetido a uma tensão, ele pode apresentar dois tipos de comportamento: elástico e plástico. O comportamento elástico baseia-se na sua propriedade elástica, que é a capacidade do tecido de alongar-se e retornar ao seu comprimento original quando a força de tração é retirada (LIPPERT, 2018). 37UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 37UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios A deformação elástica de um tecido é diretamente proporcional à carga aplicada e depende da quantidade de deformação sofrida. Se um tecido é alongado além do seu limite elástico, ele não retornará ao seu comprimento original, sofrendo assim uma deformação plástica. O comportamento plástico de um tecido baseia-se na sua propriedade plástica, que é a capacidade do tecido de assumir um novo comprimento, deformando-se permanentemente quando a força de tração é retirada. Se um tecido é alongado além do seu limite elástico, haverá uma falha na sua estrutura e um rompimento tecidual (KISNER e COLBY, 2016). Apesar da elasticidade e da plasticidade serem propriedades bastante distintas e comprovadamente presentes nos tecidos biológicos, o tecido conectivo não é perfeita- mente plástico ou elástico, apresentando uma combinação de propriedades chamada de viscoelasticidade. Esta é uma propriedade tempo-dependente, ou seja, o tecido se deforma sob tração e retorna ao seu comprimento original quando a carga de tração é retirada, mas tanto sua deformação quanto seu retorno demoram certo tempo para acontecer. De fato, a quantidade de deformação sofrida pelo tecido quando sob tensão é diretamente proporcio- nal à magnitude da carga aplicada e depende do tempo e da velocidade da aplicação desta carga. Quando uma força de tração é aplicada, o tempo requerido para o alongamento varia inversamente à quantidade de força aplicada. O aumento do comprimento muscular obtido pelo exercício de alongamento se mantém por certo tempo por causa de suas propriedades viscoelásticas (KISNER e COLBY, 2016). A viscoelasticidade determina a tensão tecidual quando este é submetido a uma força de alongamento. Quando o tecido é tracionado e mantido em um comprimento cons- tante, ocorre um declínio gradual da tensão após um período de tempo devido à sua viscoe- lasticidade. Esta propriedade do tecido é denominado relaxamento ao estresse. É por isso que a força necessária para manter um tecido alongado diminui com o passar do tempo. De forma similar, se uma carga de alongamento for aplicada a um tecido, este sofrerá uma deformação com o passar do tempo, aumentando o seu comprimento; esta propriedade é chamada de creep. O comportamento viscoelástico presente na musculatura faz com que qualquer músculo, quando submetido a uma força de alongamento, se comporte de acordo com estas duas propriedades: relaxamento ao estresse e creep (KISNER e COLBY, 2016). Além da resistência à tensão oferecida pelo elemento elástico, os miofilamentos de actina e miosina também resistem à deformação e o bom entendimento de sua mor- fologia é fundamental para a compreensão do seu comportamento mecânico. Durante o alongamento passivo da musculatura, há uma alteração mecânica das pontes transversas de actina e miosina à medida que os filamentos se separam, resultando em alongamento 38UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 38UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios dos sarcômeros. Quando a força é liberada, os sarcômeros retornam ao seu comprimento normal. Apesar de ocorrer um aumento do tamanho do sarcômero durante o alongamento muscular, os miofilamentos de actina e miosina permanecem com o seu comprimento inal- terado, ocorrendo apenas uma menor sobreposição entre eles, o que garante o retorno do sarcômero ao seu tamanho original, quando a força é retirada, é a presença de um terceiro miofilamento, a titina (KISNER e COLBY, 2016). A titina é uma proteína que constitui cerca de 10% da massa da fibra muscular e conecta a miosina à linha Z do sarcômero. Devido à sua localização, ela possui duas funções fundamentais. A primeira é garantir a manutenção da arquitetura do sarcômero durante o seu alongamento, ou seja, a titina mantém a miosina entre os filamentos de actina, assegurando a conformação estrutural do sarcômero mesmo quando alongado. A segunda função da titina é permitir o retorno do sarcômero ao seu comprimento original quando uma carga de alongamento é retirada, devido à sua elasticidade. Desta forma, a titina oferece resistência ao alongamento muscular juntamente com o EE constituído pelo epimísio, perimísio e endomísio (KISNER e COLBY, 2016). 1.2.3 Fatores térmicos A temperatura muscular afeta as propriedades biomecânicas
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