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Cinesioterapia Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP G626c Golias, Andrey Rogério Campos Cinesioterapia / Andrey Rogério Campos Golias. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 134 p.: il. Color. 1. Exercícios terapêuticos. 2. Mecanoterapia. 3. Cinesiologia. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23 ed. 612.76 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTOR Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias ● Graduação em Fisioterapia pela UEL (Universidade Estadual de Londrina). ● Especialista em Acupuntura pelo Coffito/EMOSP (Escola de Medicina Oriental de São Paulo). ● Especialista em Morfofisiologia aplicada a Reabilitação pela UNIMAR (Universi- dade de Marília). ● Mestre em Saúde Coletiva pela UERJ (Universidade do estado do Rio de Janeiro). ● Doutor em Saúde Coletiva pela UNESP (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho). ● Docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Uningá. ● Docente do curso de Fisioterapia da Unifatecie. ● Professor de pós-graduação no Centro Universitário Uningá. ● Fisioterapeuta clínico na Clínica Equilíbrio, Paranavaí. ● Conselheiro do Crefito-8 Gestão 2019-2023. Ampla experiência como fisioterapeuta e docente na área, com ênfase em Ortopedia e Traumatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: terapia manual, treinamento proprioceptivo, cinesioterapia específica, coluna vertebral, fratura, joelho, patela, tornozelo e postura. Atualmente dedica-se também a área de Saúde Coletiva, especialmente rea- lizando análises de acidentes de trânsito, de motocicletas e de suas variáveis. Também apresenta interesse por pesquisas na área de amputações, suas causas e consequências. Foi membro de colegiados, Núcleo Docente Estruturante (NDE), orientador de monografias de conclusão de graduação e pós-graduação, revisor de algumas Revistas de suas áreas de atuação e Conselheiro do Crefito-8. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/6482027648783821 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado (a) aluno (a), este é o início de uma grande jornada, o do exercício tera- pêutico. Venho propor junto com você construir nosso conhecimento sobre Cinesioterapia, seus conceitos fundamentais e aplicabilidade para o Fisioterapeuta, profissional do movi- mento tão relevante na sociedade hoje em dia. A Cinesioterapia é um valioso recurso utilizado pelo Fisioterapeuta na prevenção e no tratamento de doenças de diversos sistemas, por meio de movimentos, que visa a manutenção e recuperação da capacidade de realizá-los. Consideramos este recurso o mais importante para o fisioterapeuta, afinal, se o objetivo da ação deste profissional é de prevenir ou restabelecer a função física dos indivíduos, nada mais prudente e certeiro do que trabalhar a função, os movimentos. É o fisioterapeuta que avalia, trata, aborda, reeduca, cuida do movimento de determinado indivíduo, segmento ou articulação. Desta forma, torna-se necessário conhecer as características e os tipos diversos de exercícios existentes e seus embasamentos para que a prescrição, num primeiro momento, seja feita de forma correta. Num segundo momento, é necessário realizar a atividade cine- sioterapêutica que foi prescrita de forma eficiente. Quando há um comprometimento da capacidade funcional ao ponto de impedir o exercício de determinada atividade dentro do que é considerado normal para o indivíduo ou segmento, essencial para as Atividades de Vida Diária (AVD’s) ou Profissionais (AVP’s), sempre há a necessidade da intervenção cinesioterapêutica. A incapacidade funcional reflete as consequências das disfunções em termos de desempenho e atividade funcional do indivíduo, sua adaptação e interação na sociedade. Buscamos, através deste material, promover uma perspectiva crítica e elevada so- bre os conhecimentos, permitindo o uso destes em diversas áreas, setores, organizações ou ações do profissional da Fisioterapia. Use-o de forma sistemática, especialmente como um instrumento para seu sucesso na carreira escolhida. Para facilitar os estudos, dividimos este material em quatro unidades de acordo com os temas e suas relações entre si. Na primeira unidade, serão apresentados os fundamentos teóricos e introdutórios da Cinesioterapia, momento em que os conceitos vitais necessários para a compreensão, pres- crição e execução de qualquer exercício terapêutico serão abordados. Além disso, ainda nesta unidade serão discutidos os tipos de exercícios, suas metodologias iniciais e sua aplicabilidade clínica. Cada um dos seus tipos tem suas indicações, contraindicações, ações e consequências, servindo para fases diferentes do processo de recuperação funcional do indivíduo. Já na Unidade II, o foco estará sobre o treinamento aeróbio e sobre o alongamento muscular. O primeiro, também chamado de condicionamento cardiovascular faz parte da ação fisioterapêutica, visto que reabilitamos pacientes que sofreram cirurgias cardíacas, por exemplo. Já o alongamento é ainda de maior atuação deste profissional, já que o en- curtamento muscular é frequentemente visto como um vilão do movimento correto e da articulação e músculo saudáveis. Prosseguindo, na Unidade III, cujo título é: Treinamento de força, potência e resistência musculares, será discorrido sobre estes tipos de treinamento tão relevantes para a prática de todo Fisioterapeuta. Muitas disfunções, independentemente estas sendo ortopédicas, traumatológicas, neurológicas, pediátricas, geriátricas, cardiovasculares, entre outras, têm como principal dificuldade ou disfunção a fraqueza muscular. Assim, aborda- remos o princípio da sobrecarga para que a força seja restabelecida, além das diferenças entre força, potência e resistência muscular, visto que são abordadas de forma diferente para cada paciente ou característica do processo patológico. Por último, a quarta unidade abordará conceitos e aplicabilidade do equilíbrio, coor- denação,postura e percepção corporal, valências também importantes serem trabalhadas em muitos dos indivíduos que buscam tratamento conosco. Desta forma, como já dito, esperamos que este material sirva como base para aplicação destes conhecimentos na sua vida profissional diária. Convido você a entrar nesta jornada cheia de conhecimento comigo, de temas fundamentais para nossa atividade profissional. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e os Tipos de Exercícios UNIDADE II ................................................................................................... 29 Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios UNIDADE III .................................................................................................. 64 Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares UNIDADE IV .................................................................................................. 97 Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 4 Plano de Estudo: ● Noções em Cinesioterapia; ● Tipos de exercícios. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e fundamentar a Cinesioterapia para o fisioterapeuta; ● Compreender termos relevantes para a prática clínica diária deste profissional; ● Conhecer os tipos de exercícios mais comuns e estabelecer relações. UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e os Tipos de Exercícios Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias 5UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios INTRODUÇÃO Seja bem-vindo a primeira Unidade da disciplina de Cinesioterapia, no qual tem como foco proporcionar base para a sua completa compreensão e sua fundamental importância para o fisioterapeuta atual. Ela foi organizada iniciando com breves conceitos e importância, passando a discutir logo após os tipos de exercícios mais comuns utilizados na prática clínica. Assim, no primeiro tópico intitulado Noções em Cinesioterapia discutiremos como a falta de mobilidade, tanto articular quanto muscular pode causar problemas graves para o indivíduo, os tipos de doenças, de muitos sistemas diferentes que podem causar disfunções de ordem muito diversa no físico das pessoas. Veremos também sobre uma criança que teve uma hipóxia cerebral (diminuição do fluxo sanguíneo cerebral) no período perinatal (por volta do parto), que pode evoluir com dificuldades de execução de movimentos, na fala, na marcha e na vida social, esta criança portadora de paralisia cerebral (Disfunção sensório motora), possivelmente irá necessitar da ação fisioterapêutica, visto que as disfunções de movimento que ela apresenta são rele- vantes para a sua vida em sociedade. E só se consegue o movimento normal ou saudável com o movimento, facilitando-o, treinando-o e aperfeiçoando-o para que a evolução clínica do paciente ocorra. Assim, é necessário compreendermos a fundamentação dos exercícios para que possamos não apenas executá-los corretamente, mas inclusive prescrevê-los de forma certeira. Já no segundo tópico da Unidade, abordaremos os tipos mais frequentes de exer- cícios terapêuticos usados por nós na prática clínica, é necessário diferenciarmos o exer- cício passivo do ativo, o ativo assistido do resistido, indicados e executados em momentos diferentes no processo de recuperação funcional dos indivíduos. Nesse sentido, julgamos que este material se torne para você um importante subsí- dio na facilitação da caminhada a ser traçada para se tornar um profissional do movimento de sucesso. Aproveite o conteúdo. 6UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 1. NOÇÕES EM CINESIOTERAPIA A capacidade funcional tem sido discutida como a habilidade do indivíduo fazer atividades que possibilitam cuidar de si e viver independentemente (AIRES, PASKULIN e MORAIS, 2010). Na prática, é como conseguirmos realizar as nossas atividades do dia a dia, pegar um objeto, comer, levantar o braço e caminhar, essenciais para a vida cotidiana. Um comprometimento da capacidade funcional pode impedir a execução de de- terminada atividade dentro do que é considerado normal para o ser humano, podendo ser temporário ou permanente. E a incapacidade reflete as consequências das disfunções no que diz respeito ao desempenho e atividade funcional do indivíduo, sua adaptação e interação na sociedade (KISNER e COLBY, 2016). O recurso mais executado pelo profissional do movimento é a cinesioterapia, na pre- venção e no tratamento das doenças e quadros neuromusculares por movimentos passivos e/ou ativos, visando a manutenção e/ou recuperação das articulações, grupos musculares, nervos, funções. Se o objetivo com o paciente ou o grupo de pacientes é alcançar a maior capacidade funcional possível, o movimento é um recurso fundamental para tratar a disfun- ção, a restrição, bloqueio, instabilidade, incapacidade, entre outras. Considerado por muitos, a cinesioterapia é o recurso mais valioso destes profissionais (KISNER e COLBY, 2016). 7UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios Etimologicamente, Cinesioterapia é a arte de curar quando se utiliza de técnicas do movimento, é o tratamento através do movimento. Cinesioterapia ou exercício terapêutico tem sido relatado como o treinamento sistemático e especialmente planejado de movi- mentos do corpo, posturas ou atividades físicas que busca como objetivo proporcionar a pessoa meios de prevenir ou tratar comprometimentos, melhorar, restaurar ou potencializar a função física, prevenir ou reduzir fatores de risco ligados à saúde, além de melhorar o estado geral de saúde, o preparo físico ou bem-estar (KISNER e COLBY, 2016). Segundo Kisner e Colby (2016), exercício terapêutico é o treinamento planejado e sistemático de movimentos corporais, postura ou atividade físicas para proporcionar ao paciente meios de: - Tratar ou prevenir deficiência; - Melhorar, restaurar ou potencializar a função física; - Prevenir ou reduzir fatores de risco ligados à saúde; - Otimizar o estado de saúde geral, seu preparo físico ou sensação de bem-estar. Os fisioterapeutas são os profissionais cujos serviços são prestados devido a pre- juízos físicos associados com desordens do movimento causados por trauma, doença ou condições de saúde que interferem na habilidade de executar ou realizar qualquer número de atividades que são necessárias ou importantes a eles. Além disso, o serviço fisioterapêu- tico também deve ser buscado por indivíduos que não apresentam lesões ou disfunções, mas que desejem melhorar sua capacidade física, condicionamento ou diminuir o risco de doença ou lesão (KISNER e COLBY, 2016). Vários fatores de risco podem estar envolvidos junto à incapacidade funcional, alguns destes apresentam características biológicas, comportamentos de estilo de vida, psicológicas e o impacto dos ambientes físico e social. Os fatores de risco relacionados com a incapacida- de são influências ou características que predispõe o indivíduo ao processo de incapacitação. Desta forma, estes podem surgir antes mesmo do estabelecimento do quadro patológico, comprometimentos, limitações funcionais ou incapacidades (KISNER e COLBY, 2016). Há os riscos modificáveis (comportamentais, ambientais) e os não modificáveis (fa- tores biológicos e genéticos). Modificar os fatores de risco por meio de uma intervenção de educação em saúde associada ao exercício terapêutico é, possivelmente, o mais relevante instrumento que o fisioterapeuta deve se apoderar para reduzir ou prevenir a incapacidade (KISNER e COLBY, 2016). 8UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios Alguns dos fatores de risco para incapacidade (biológicos) são idade,sexo, raça, relação peso/altura, anormalidades ou distúrbios congênitos, histórico familiar de doença (predisposição genética). Outros são fatores comportamentais, psicológicos e de estilo de vida como a vida sedentária, o uso de cigarro, álcool, outras drogas, má nutrição, baixo nível de motivação, inadequação para lidar com adversidades, dificuldade para lidar com mudanças, sentimentos negativos. Algumas outras são características ambientais físicas como barreiras arquitetônicas em casa, na comunidade e local de trabalho, características ergonômicas do ambiente de casa, trabalho ou escola. Os fatores socioeconômicos listados são situação econômica inferior, baixo nível educacional, acesso inadequado aos serviços de saúde e suporte familiar ou social limitado (KISNER e COLBY, 2016). Fornecer um tratamento eficiente envolve a habilidade de fazer julgamentos clínicos adequados (através de uma avaliação fisioterapêutica), solucionar problemas que aflijam o paciente e aplicar o conhecimento das interrelações entre patologia, comprometimento, limitação e incapacidade ao longo de cada fase do tratamento. A tomada de decisão clíni- ca envolve a escolha, implementação e modificação de intervenções que usam exercícios terapêuticos com base nas necessidades específicas de cada paciente, sendo isto possível após uma avaliação que reconheça as disfunções e seus componentes, um diagnóstico cinesiofuncional claro e preciso e um pensamento crítico e criativo (KISNER e COLBY, 2016). Assim, o uso apropriado do exercício pode acelerar o processo de cicatrização, e a falta de exercício durante os estágios iniciais da recuperação da função pode resultar em incapacidade permanente. As condições ideais para a cicatrização dependem de um equilíbrio entre a proteção contra o estresse e o retorno a função normal no período mais precoce possível (KISNER e COLBY, 2016). A mobilização pode restaurar as propriedades mecânicas e estruturais dos tecidos ligamentares, por exemplo. As forças de cisalhamento e compressivas que ocorrem nas superfícies articulares provocadas pelo movimento promovem aumento da síntese de colá- geno e proteoglicanos (BRODY e HALL, 2019). Desta forma, os serviços de Fisioterapia são procurados por indivíduos que tem prejuízos funcionais aliados a um prejuízo físico, mas que querem melhorar seu nível geral de capacidade física ou reduzir o risco de lesão ou doença. Vale ressaltar que as disfunções mais tratadas com o exercício terapêutico são: 9UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios - Musculoesqueléticas: dor, fraqueza muscular/redução da produção de torque, diminuição da resistência muscular, limitação da amplitude de movimento ligada a restrição da cápsula articular, dos tecidos conectivos e da diminuição do comprimento muscular, hi- permobilidade articular, postura errada e desequilíbrios musculares de comprimento/força; - Neuromusculares: dor, perda de equilíbrio, estabilidade postural ou controle, déficit de coordenação motora (ataxia), déficit de sincronia, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor normal, tônus anormais (hipotonia, hipertonia e distonia) e estratégias de movimentos funcionais ineficientes; - Cardiovasculares e pulmonares: diminuição da capacidade aeróbia, déficit circulatório (linfático, venoso ou arterial), dor com atividade física sustentada (claudicação intermitente); - Tegumentar: hipomobilidade da pele (imobilidade ou cicatriz aderida). É importante ressaltar que a habilidade de ter função independente em casa, no local de trabalho, na comunidade, durante o lazer e atividades recreacionais depende do físico tanto quanto função psicológica e social. Os aspectos multidimensionais da função física englobam áreas diversas, mas que se inter-relacionam (Figura 1) (KISNER e COLBY, 2016). FIGURA 1 - ASPECTOS INTER-RELACIONADOS A FUNÇÃO FÍSICA Fonte: KISNER e COLBY, 2016. Abordando especificamente a função, as limitações funcionais mais comuns rela- cionadas a tarefas físicas são: 10UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios - Alcançar e agarrar; - Levantar e carregar; - Empurrar e puxar; - Dobrar e inclinar-se; - Virar e rodar; - Jogar e pegar; - Rolar; - Permanecer em ortostatismo (em pé); - Agachar-se e ajoelhar-se; - Levantar-se e sentar-se - Entrar e sair da cama; - Rastejar-se, caminhar e correr; - Subir e descer escadas; - Pular; - Chutar. A terapia por exercícios pode ser feita de muitas maneiras, com objetivos e em fases do tratamento distintas, por isso, cada etapa tem sua peculiaridade e necessidade. Para cada momento, um movimento ou um tipo de exercício. 1.1 Terminologia do exercício terapêutico Os aspectos multidimensionais da função física, aquelas que impactam diretamen- te na ação do Fisioterapeuta, englobam áreas diversificadas do desempenho, mas sempre intimamente ligadas (Figura 1). São estes aspectos (também chamados de valências) que serão discorridos a seguir. 1.2 Equilíbrio, controle postural e estabilidade postural Define-se equilíbrio como a habilidade de alinhar os segmentos do corpo contra a gravidade para manter ou mover o corpo dentro da base de apoio disponível, sem cair; também a habilidade de mover o corpo em contraposição à força da gravidade devido a interação entre os sistemas sensorial e motor. Os termos de controle postural e estabilidade postural se referem o equilíbrio, tanto estático, quanto dinâmico (KISNER e COLBY, 2016). 11UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 1.3 Preparo cardiovascular Também chamado de resistência cardiopulmonar à fadiga, o preparo cardiovascular refere-se à habilidade de realizar movimentos corporais completos repetitivos e de baixa intensidade (por exemplo, correr, caminhas, pedalar, nadar) durante um longo período de tempo (KISNER e COLBY, 2016). 1.4 Coordenação É vista como a capacidade de executar movimentos regulares, acurados e contro- lados, ou seja, harmônicos. É importante ressaltar que uma atividade motora útil, adequada e harmônica necessita de mecanismos regulares de alta complexidade. Assim, é a correta cadência e o correto sequenciamento dos disparos musculares combinados com a intensi- dade apropriada de contração muscular que leva a uma atividade coordenada. Baseia-se no movimento suave, preciso e eficiente, ocorrendo de forma consciente ou inconsciente (KISNER e COLBY, 2016). 1.5 Flexibilidade Conceitua-se flexibilidade como a habilidade mover-se livremente, sem restrições, ou seja, mover uma articulação ou uma série de articulações na amplitude de movimento completa, irrestrita e indolor (KISNER e COLBY, 2016). 1.6 Mobilidade A habilidade de estruturas ou segmentos do corpo de se moverem ou serem mo- vidos de modo a permitir a ocorrência da adequada amplitude de movimento (ADM) para as atividades funcionais (ADM funcional) é a forma que a mobilidade tem sido conceituada (KISNER e COLBY, 2016). 1.1.6 Desempenho muscular Desempenho muscular é a capacidade do músculo de produzir tensão e realizar trabalho físico, o que engloba força, potência e resistência muscular à fadiga (KISNER e COLBY, 2016). 12UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 1.1.7 Controle neuromuscular Para um indivíduo ou segmento corporal apresentar controle neuromuscular é neces- sário uma interação dos sistemas sensorial e motor, que possibilita aos músculos sinergistas, agonistas e antagonistas, assim como aos estabilizadores e neutralizadores, prever ou responder às informações proprioceptivas e cinestésicas e, subsequentemente, trabalhar na sequência correta para criar o movimento coordenado (KISNER e COLBY, 2016). 1.1.8 Estabilidade Refere-se a habilidade do sistema neuromuscular de manter um segmento corporal proximal ou distal em uma posição estacionária ou de controlaruma base estável durante o movimento sobreposto, por meio de ações musculares sinérgicas. A estabilidade articular é a manutenção do alinhamento apropriado das partes ósseas de uma articulação por meio de componentes passivos e dinâmicos (KISNER e COLBY, 2016). 13UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios SAIBA MAIS Os sistemas do corpo que controlam cada um destes aspectos da função física reagem, adaptam-se e desenvolvem-se em resposta às forças e sobrecargas físicas impostas aos tecidos que constituem os sistemas corporais. Podemos citar como exemplo a gravi- dade, que é uma força constante que afeta os sistemas musculoesquelético, neuromus- cular e circulatório, além do que forças adicionais que ocorrem durante atividades físicas diárias ajudam o corpo a manter um nível funcional de força, preparo cardiopulmonar e mobilidade. Forças e cargas físicas excessivas podem causar lesões agudas, como entorses e fraturas ou problemas crônicos, como os distúrbios por sobrecarga repetitiva. Em contraposto, a ausência de forças usuais sobre o corpo pode causar degeneração, degradação ou deformidade, por exemplo um paciente que permanece por muito tempo em repouso prolongado no leito, pois a ausência de peso normal associada com repou- so prolongado no leito ou imobilização enfraquece músculos e ossos. A inatividade pro- longada também leva à diminuição na eficiência dos sistemas circulatório e pulmonar. A deficiência de um ou mais sistemas corporais e sua consequente incapacidade de qualquer aspecto da função física, em associação ou não, pode resultar em limitação funcional e incapacidade para executar ou participar das atividades da vida diária. É exatamente neste ponto que os exercícios terapêuticos são indicados, visto que suas in- tervenções envolvem a aplicação de cargas e forças físicas cuidadosamente graduadas que são impostas aos sistemas corporais, tecidos específicos ou estruturas individuais comprometidas de modo controlado, progressivo e seguro para reduzir os comprometi- mentos físicos e melhorar a função. Fonte: KISNER e COLBY, 2016. 14UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 2. TIPOS DE EXERCÍCIOS Os procedimentos terapêuticos pautados em exercícios englobam uma ampla varie- dade de atividades, ações e técnicas, sendo que estas são determinadas pelo profissional que vislumbra as causas, limitações funcionais ou incapacidade (KISNER e COLBY, 2016). Os objetivos mais comuns da execução dos exercícios terapêuticos são: - Condicionamento e recondicionamento aeróbio; - Exercícios que busquem a melhora do desempenho muscular: da força, potência e também do treinamento de resistência; - Técnicas que visam o alongamento muscular, que incluem procedimentos de aumento do comprimento muscular e técnicas de mobilização articular; - Técnicas de controle, inibição e facilitação neuromuscular e treinos de consciência postural; - Exercícios de controle postural, mecânica corporal e estabilização; - Exercícios de equilíbrio e agilidade; - De relaxamento; - Respiratórios e de treinamento muscular ventilatório; - Treino funcional de uma tarefa específica. Apesar de compor diversos objetivos, a grande parte dos exercícios terapêuticos pode ser dividida ou organizada em poucos tipos, sendo: passivo, ativo assistido, ativo livre ou ativo resistido. O que determina este tipo é o uso de uma ação externa ou não (KISNER e COLBY, 2016). 15UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 2.1 Exercício passivo O primeiro tipo de exercício básico é o passivo, aquele que é realizado por uma força externa. A força externa pode ser realizada pelo terapeuta, por aparelhos (Figura 2), ou até mesmo pelo próprio paciente, mas apenas com auxílio de uma outra região, sendo utilizado em casos em que a pessoa é incapaz de produzir o movimento ativo por paralisia muscular (grau 0 de força), por fraqueza muscular grave (força grau 1) ou quando o movimento ativo é doloroso ou contraindicado, por exemplo, num pós-operatório recente (KISNER e COLBY, 2016). FIGURA 2 - EXEMPLO DE MOBILIZAÇÃO PASSIVA ATRAVÉS DE UM APARELHO DE CPM (DO INGLÊS CONTINUOUS PASSIVE MOTION, MOBILIZAÇÃO PASSIVA CONTÍNUA) SAIBA MAIS A força de um músculo ou de um grupo muscular é realizada a partir do teste manual, sendo que a graduação ocorre de 0 a 5: - O grau normal (ou 5) significa que o musculo consegue manter a posição de teste con- tra uma pressão forte do examinador. Esse grau não pretende indicar a força máxima do indivíduo, mas, ao contrário, a pressão máxima que o examinador aplica para obter o que poderia ser denominado força total do músculo. Em ternos de julgamento, ela po- deria ser definida como a força adequada para atividades funcionais comuns; - Já o grau bom (ou 4) significa que o músculo consegue manter a posição do teste con- tra uma pressão moderada; 16UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios - O grau regular (ou 3) indica que um músculo consegue manter a parte na posição de teste contra a resistência da gravidade, mas não consegue mantê-la quando uma pres- são, mesmo que mínima, é adicionada; - O grau ruim (ou 2) indica a capacidade de mover por um arco parcial de movimento no plano horizontal. Ou seja, aquele músculo não é capaz de vencer a resistência da gravidade, por isso é necessário modificar a posição original do teste a fim de verificar se aquele músculo realiza o movimento quando a resistência da gravidade não mais incide dificultando; - O grau vestigial (ou 1) significa que uma contração fraca pode ser sentida em um mús- culo que pode ser palpado ou que o tendão se torne discretamente proeminente, No en- tanto, nenhum movimento da parte é visível, nem mesmo quando não incide resistência da gravidade; - Já o grau zero ocorre quando não há evidências visíveis ou palpáveis de qualquer con- tração muscular, ou seja, há uma paralisia daquele músculo. Fonte: KENDALL et al. 2007. Os objetivos alcançados pela mobilização passiva são: - Manter a integridade da articulação e tecidos moles; - Evitar formação de contraturas; - Manter a elasticidade dos músculos; - Assistir a circulação sanguínea, evitando a formação de trombos; - Melhorar o movimento sinovial para nutrir as cartilagens articulares; - Diminuir ou inibir dor; - Auxiliar o processo de cicatrização após cirurgia e evitar aderências; - Ganhar e/ou manter a ADM (amplitude do movimento) da articulação; - Manter os padrões cinestésicos do movimento. É importante relatar que um exercício passivo não é capaz de promover ganho de força, resistência ou capacidade de geração de torque de um músculo ou grupo muscular. O exercício passivo é indicado em casos de: - Incapacidade física do paciente (por exemplo, no tratamento de pacientes que so- freram Acidente Vascular Encefálico, Traumatismo raquimedular, em estados comatosos); 17UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios - Lesões agudas; - Quando há contraindicação da realização da contração muscular; - Em processos pós cirúrgicos com suturas em processo de cicatrização; - Em regiões que apresentem um tecido com inflamação (normalmente aguda). O Fisioterapeuta dispõe de várias intervenções que permitem tratar uma diminuição da mobilidade (Amplitude de Movimento articular). Dentre as modalidades, é possível citar a mobilização articular passiva, que pode ser indicada para aumentar a ADM. Os movimentos passivos são usados quando o movimento ativo pode romper o processo de cicatrização, quando o paciente é físico ou cognitivamente incapaz de se movimentar ativamente, ou quando o movimento ativo é doloroso. Na prática, utilizamos este tipo de exercício terapêu- tico para facilitar aquele movimento. Em um ambiente terapêutico, a mobilização articular passivaé usada para evitar os efeitos deletérios da imobilização após uma lesão ou cirurgia, com o intuito de prevenir contraturas articulares, rigidez dos tecidos moles circundantes ou encurtamento adaptativo, a manutenção das relações móveis normais entre as camadas de tecidos moles, a redução da dor e o aprimoramento da dinâmica vascular e da difusão sinovial (KISNER e COLBY, 2016). Quando o fisioterapeuta executa um exercício articular passivo numa articulação de um indivíduo, ele deve usar os conceitos biomecânicos desta mesma articulação, que se referem a Osteocinemática e Artrocinemática. É a partir da junção deles que os movimentos ocorrem com saúde e função (KISNER e COLBY, 2016). Osteocinemática se refere aos próprios movimentos dos ossos, como flexão e extensão, os chamados movimentos fisiológicos ou angulares. Porém, para que estes ocorram, é necessário que dentro daquela articulação ocorram outros movimentos, como rolamento, deslizamento, compressão, giro e distração. Estes últimos ocorrem nas superfí- cies articulares e são chamados de movimentos acessórios ou Artrocinemática; e refletem a distensibilidade da cápsula articular, o que permite que os movimentos fisiológicos (osteoci- nemática) ocorram. Não podem ser realizados ativamente pelo paciente, mas são utilizados para restaurar a biomecânica articular normal diminuindo a dor, alongando, ou liberando com menos trauma determinadas estruturas (LIPPERT, 2018). Desta forma, é coerente e fisiológico que, antes mesmo de realizar a mobilização passiva dos movimentos fisiológicos da articulação (Osteocinemática), devemos realizar os movimentos acessórios (Artrocinemática). Os movimentos acessórios (Artrocinemática) são ao todo cinco: deslizamento, rolamento, compressão, distração e giro (ou rotação) e dependem do tipo de articulação em questão (KISNER e COLBY, 2016). 18UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios No deslizamento, um osso desliza sobre o outro, sendo que as superfícies articula- res são congruentes; o mesmo ponto em uma superfície faz contato com novos pontos na superfície oposta. O deslizamento não ocorre sozinho devido as superfícies articulares não serem totalmente planas, ou seja, completamente congruentes. A superfície articular que se move influencia a direção do deslizamento, o que é chamada regra convexo-côncava, visto que quando a superfície articular que se move é convexa o deslizamento ocorre na direção oposta à do movimento angular do osso; já quando a superfície que se move é côncava o deslizamento ocorre na mesma direção do movimento angular do osso. Imagine você segurando uma bola de tênis e em vez de soltá-la no chão, você desliza a superfície dela no chão. É isto que ocorre no deslizamento (LIPPERT, 2018). Já no rolamento, um osso rola sobre o outro, as superfícies são incongruentes e novos pontos de uma superfície encontram novos pontos na superfície oposta. Nas articulações com a biomecânica normal, o rolamento só ocorre em combinação com o deslizamento e giro, porém, quando o rolamento ocorre sozinho causa compressão nas superfícies do lado que o osso está se movendo, o que pode provocar uma lesão articular e uma separação no outro lado. Imagine você segurando uma bola de tênis e jogando ela no chão. O rolamento que ela faz é o rolamento que ocorre nas articulações (LIPPERT, 2018). Na compressão uma superfície articular se aproxima da outra, o que causa diminui- ção do espaço articular, sendo frequente nos membros inferiores e coluna vertebral durante a descarga de peso (sustentação do peso do corpo). Esta compressão também acontece com a contração muscular, o que gera estabilidade articular, impedindo lesões articulares, o líquido sinovial move-se para as estruturas articulares avasculares, nutrindo-as e lubrificando-as. É importante ressaltar que cargas excessivas de compressão podem causar lesões articulares, especialmente na cartilagem articular. Imagine você segurando uma bola de tênis próximo ao solo. A compressão é a aproximação entre estes dois pontos (LIPPERT, 2018). O contrário é a distração (ou tração), quando as superfícies articulares se afastam uma da outra, ou seja, elas se separam, podendo ocorrer tração no eixo longo do osso, resultando em deslizamento caudal ou tração em ângulo reto, o que resulta na separação articular propriamente dita (LIPPERT, 2018). No giro ocorre, como o próprio nome já diz, um giro de um osso sobre o outro, ou seja, uma rotação sobre um eixo mecânico estacionário. O ponto na superfície que se move faz um círculo na medida em que o osso gira, sendo que dificilmente ocorre sozinho (mais associado com o deslizamento). Imagine segurando uma bola de tênis tocando-a no chão. Gire-a sem soltá-la mantendo-a no mesmo lugar: é o exemplo de giro numa articulação (LIPPERT, 2018). 19UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios REFLITA Como todo este conhecimento é aplicado na ação do Fisioterapeuta? Pensemos numa articulação rígida, bloqueada ou parcialmente bloqueada: Um indivíduo que é portador de uma capsulite adesiva do ombro, quadro que provoca intensa limitação de todos os movimentos daquela estrutura. A mobilização passiva é indicada para facilitar o movi- mento perdido, promover uma melhora da ADM desta. Já que agora sabemos que os movimentos fisiológicos da articulação (osteocinemática, por exemplo, flexão, abdução, rotação, etc.) só ocorrem quando os acessórios acontecem (artrocinemática, desliza- mento, rolamento, giro, etc.), é prudente iniciar a mobilização passiva por estes últimos. Os que são mais utilizados nesta ação são o deslizamento e a distração. Portanto, é possível e necessário segurar os ossos ou superfícies articulares e deslizá-las uma em relação a outra e também decoaptá-las, pois isto irá aliviar as pressões de compressão, estimular a formação de liquido sinovial, restaurar os movimentos perdidos (artrocine- mática) e como consequência a osteocinemática. Fonte: O autor, 2021. 2.2 Exercício ativo Quando o paciente já se encontra num estágio que o músculo consegue gerar algum potencial nervoso, contração e ligeiro movimento, o momento é de utilizar um outro tipo de exercício, o ativo, o que significa que ele é feito pelo próprio paciente, pela própria estrutura do segmento que realiza o movimento, ou seja, pela contração muscular efetiva- mente (KISNER e COLBY, 2016). 2.2.1 Exercício ativo assistido O seu primeiro subtipo é: o exercício ativo assistido, em que uma assistência externa acontece, ou seja, algo ou alguém auxilia o movimento. É importante diferenciar o exercício passivo do ativo assistido, sendo que no primeiro o paciente não contrai o músculo e no segundo, sim. A assistência pode ser realizada de várias formas: pelo fisioterapeuta ou por um equipamento (como um bastão, por exemplo). Imagine um indivíduo que já consegue realizar uma contração muscular suficiente para iniciar um movimento de flexão do ombro esquerdo, porém ainda não apresenta ADM completa nem força suficiente. O outro ombro (direito) tem boa saúde. O profissional indicará um exercício ativo assistido, solicitará que 20UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios ele segure um bastão nas duas mãos e levante-o com flexão bilateral (ou seja, dos dois ombros). O ombro direito, que neste caso encontra-se com função normal irá auxiliar o es- querdo pela transmissão da força pelo bastão. Portanto, o membro superior direito através do bastão está assistindo (auxiliando) o levantar do braço esquerdo (flexão do ombro). Parece um exercício simples, mas se muito bem indicado, na fase correta do tratamento/ treinamento, apresenta resultados satisfatórios (KISNER e COLBY, 2016). 2.2.2 Exercício ativo livre Os exercícios ativos também podem ser livres, ou seja, realizados sem assistência nem resistência.São indicados quando a assistência já não é mais requerida, mas também há impossibilidade ou contraindicação do treino resistido (KISNER e COLBY, 2016). 2.2.3 Exercício ativo resistido E por último, os resistidos, em que contrações musculares são realizadas contra resistências graduáveis e progressivas. Essas resistências podem ser muito variadas, sendo que a mais comum é o peso fixo, seguido do manual, elástica, por molas, hidráulica, magnética, entre outras. Seu objetivo é estimular a integridade e as funções do aparelho locomotor, além dos seus efeitos promotores de saúde cardiovascular e alto grau de segu- rança geral (KISNER e COLBY, 2016). Qualidades de aptidão como força, resistência, coordenação e flexibilidade são importantes para a realização confortável e segura das atividades de vida diária, mesmo em situações de atividades com solicitação acentuada, como é o caso de muitas realizadas em âmbito profissional. Músculos fortes funcionam como amortecedores de forças exter- nas, aliviando as articulações. São os exercícios resistidos, geralmente realizados de forma manual ou mecânica, é que proporcionam grande benefício nas disfunções evidenciadas nas doenças reumatológicas, ortopédicas e neurológicas (KISNER e COLBY, 2016). Como já mencionado, a carga imposta a um exercício ou movimento num exer- cício ativo resistido pode ser variada, ou seja, de múltiplas formas e metodologias, mas no geral ela pode ser manual ou mecânica. Aqueles com resistência manual são tipos de exercícios executados contra uma resistência imposta pelo fisioterapeuta. A grande vanta- gem da utilização desse método está no fato de não haver necessidade de equipamentos, além da possibilidade de graduação de força para um músculo muito fraco, e que pode vencer apenas uma resistência mínima a moderada. Torna-se útil inclusive quando há a necessidade de controlar de forma cuidadosa a amplitude articular. Já a carga mecânica 21UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios é uma resistência que é dada por um equipamento ou aparelho mecânico. É útil quando a quantidade de resistência necessária é superior ao que o fisioterapeuta pode aplicar manualmente, além do que, permite que ocorra mensuração quantitativa e progressiva desta carga ao longo do tempo. Um exemplo é um exercício para o membro superior que se inicia com um halter (peso fixo) de 1 quilograma. Após a adaptação do músculo aquela carga, ou seja, depois de alguns treinamentos, pode ser possível acrescentar uma carga maior, pois aquele músculo, grupo muscular ou segmento já é capaz de executar o mesmo movimento, com o mesmo padrão, qualidade e eficiência, com uma carga maior. Desta forma, acrescentando-se 500 gramas, sabe-se que aquele segmento ou músculo está mais forte, coordenado, hábil para executá-lo, o que possivelmente impactará positivamente na capacidade funcional daquele membro superior. Este é um foco especial do trabalho do profissional do movimento (KISNER e COLBY, 2016) (Figura 3). FIGURA 3 - EXEMPLO DE EXERCÍCIO ATIVO RESISTIDO Exercícios ativos resistidos são vistos como essenciais nos programas de rea- bilitação para pessoas com função comprometida, além de um componente integral dos programas de condicionamento para aqueles que desejam promover ou manter a saúde e o bem estar físico, potencializar o desempenho de habilidades motoras e reduzir o ris- co de lesões, disfunções e doenças. Além disso, impacta positivamente no desempenho muscular através da restauração, melhora a manutenção da força, potência e resistência a fadiga; aumenta a força dos tecidos conjuntivos (tendões, ligamentos, tecido conjuntivo 22UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios intramuscular); promove maior densidade mineral óssea (essencial em programas para indivíduos com osteoporose, osteopenia ou prevenção destes agravos); diminuem a so- brecarga nas articulações; reduzem o risco de lesões; melhoram o equilíbrio; promovem aumento da massa magra e diminuição da gordura corporal (essencial em programas de emagrecimento); além de promover sensação de bem estar e especialmente melhora na incapacidade e qualidade de vida (KISNER e COLBY, 2016). O princípio essencial que orienta a prescrição de exercícios ativo resistidos é o da sobrecarga, que resulta de uma relação entre estímulo, adaptação e aumento da sobre- carga. Isso se deve ao fato de que, depois de um tempo realizando exercícios com uma determinada carga, é necessário aumentá-la para continuarmos a ter os benefícios que o exercício proporciona, elevando o limite de adaptação, o que deve ser realizado aos poucos e de forma progressiva. Se permanecêssemos com a mesma carga, manteríamos apenas o mesmo nível de condicionamento já alcançado. Vale ressaltar aqui a importância de se elaborar um programa de exercícios que simule muito bem as atividades funcionais desejadas. O maior número possível de variá- veis do programa de exercícios deve estar de acordo com os requisitos e as demandas encontradas e vivenciadas pelo paciente durante a realização das atividades funcionais específicas (KISNER e COLBY, 2016). Os estudos com pessoas idosas têm documentado a importância dos efeitos dos exercícios resistidos para melhorar a qualidade de vida por meio do alívio de dores articulares, maior independência funcional e melhora da autoestima. A segurança muscu- loesquelética e cardiovascular dos exercícios resistidos também tem sido demonstradas, mesmo diante de comorbidades. Atualmente um significativo corpo de evidências justifica a utilização dos exercícios resistidos para promoção de saúde, terapêutica e reabilitação (KISNER e COLBY, 2016). Os exercícios resistidos podem ser considerados muito seguros, mesmo para pessoas idosas e debilitadas. A segurança musculoesquelética é dada pela adequação ideal das sobrecargas às condições físicas dos praticantes. Não apenas as cargas, e con- sequentemente as repetições, mas também a ADM, os intervalos de descanso, o número de series e de exercícios, e a frequência das sessões de intervenção. Os movimentos são relativamente lentos e cadenciados, sem acelerações ou desacelerações violentas. O corpo permanece em posições anatômicas e confortáveis durante os exercícios, sem a possibilidade de desequilíbrios, quedas e torções (KISNER e COLBY, 2016). 23UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios Saúde musculoesquelética tem sido conceituada como a boa capacidade funcional do aparelho locomotor e a integridade estrutural dos seus componentes (ossos, cartilagens, ligamentos, músculos e tendões). É estimulada por todo tipo de atividade física (ação mo- tora, exercício, atividade, tratamento, treinamento funcional) em que as contrações muscu- lares são realizadas contra alguma forma de resistência. O trabalho braçal e as atividades esportivas mais intensas utilizam contrações resistidas e são eficientes para estimular a integridade e a função do aparelho locomotor (KISNER e COLBY, 2016). Por meio do estímulo à saúde musculoesquelética é possível reduzir a ocorrência de dores articulares, limitações de aptidão para a vida diária e para o trabalho, osteoporose, fraturas, sarcopenia, distúrbios neuroendócrinos, desregulação do sistema imune e fragili- dade (KISNER e COLBY, 2016). Está claro que a cinesioterapia é um recurso fundamental para o restabelecimento ou prevenção de agravo de saúde para os profissionais do movimento, em especial ao fisioterapeuta. Porém, o que é mais importante neste processo é a seleção adequada dos exercícios, ou seja, a prescrição e o planejamento dos programas de treinamento. Devem ser evitados movimentos que possam ser inadequados para a situação atual daquela pes- soa. O respeito a individualidade e a função ou disfunção é o mais relevante. Selecionando corretamente o tipo, a cargae a metodologia, as cargas e amplitudes serão adaptadas para as limitações individuais, com evolução gradativa, o que respeita os limites do conforto articular. O grau de esforço deve ser submáximo e os volumes de treinamento coerentes (KISNER e COLBY, 2016). Escolher os exercícios para um programa de treinamento depende de vários fatores, inclusive a causa e o comprometimento daquele segmento/ corpo. É necessário considerar as deficiências no desempenho (primeiro fator e mais importante), o estágio de cicatrização dos tecidos, a condição das articulações e sua tolerância a compreensão e movimento, as habilidades do paciente, tanto física quanto cognitiva, a disponibilidade de equipamentos, as metas do paciente e os resultados funcionais desejados. Não há uma forma ou um exercício melhor para tudo ou para todos. Existe um programa coerente, estudado e direcionado a estes critérios, e se estes forem respeitados, provocará relevante impacto na função daquele indivíduo (KISNER e COLBY, 2016). 24UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 2.3 Uma visão ampliada do processo de Reabilitação Agora que já compreendemos os tipos mais comuns e básicos de exercícios tera- pêuticos, é possível fazer relações clínicas relevantes. O exemplo prático é um indivíduo que procurou a intervenção fisioterapêutica pois sofreu uma cirurgia para reparação do tendão do manguito rotador do ombro há três dias. Vamos a algumas discussões sobre isto. O procedimento cirúrgico realizado foi uma reparação por meio de um artroscópio, aparelho médico que tem por objetivo “olhar dentro” daquela articulação. Desta forma, foi feita sutura com a utilização de âncoras ou mini âncoras, bioabsorvíveis ou não para repa- rar um tendão que estava rompido. Isto ocorreu, pois este tendão do manguito rotador do ombro é suscetível a isto pois é comprimido entre o arco coracoacromial e o colo do úmero em atividades do ombro acima da cabeça. No processo de reabilitação deste indivíduo, até 45 dias após a cirurgia, é con- traindicada a realização de exercícios ativos de elevação do braço, como flexão, abdução e rotações, visto que o tendão é a estrutura que transfere a energia vinda da contração do músculo ao osso, o que proporciona o movimento. É necessário este cuidado para que o tendão tenha seu processo de reparação e cicatrização. Desta forma, desde o terceiro dia pós operatório até o quadragésimo quinto a cinesioterapia com este indivíduo nestes mo- vimentos será passiva, ou seja, é o fisioterapeuta que irá realizar o movimento no membro superior do paciente. Isto é muito importante para que o ombro já ganhe mobilidade ou previna contraturas e deformidades, no caso uma capsulite adesiva. Assim, os músculos permanecerão ou ganharão extensibilidade, a cápsula será distendida na sua fisiologia normal, a articulação será lubrificada e vascularizada, entre outras ações. Já a partir dos 45 dias entende-se que o processo de reparação daquele tendão já se encontra completo. É o momento de se iniciar o exercício ativo. Porém, o paciente está há um mês e meio sem contrair estes músculos. Portanto, o exercício ativo a ser realizado é o assistido, visto que o paciente ainda não terá condição de completar a ADM, independente do movimento que ele estiver realizando. Esta assistência pode ser dada pelo próprio fisioterapeuta ou por algum recurso externo. Conforme a evolução clínica do paciente ocorra, por exemplo, ele já consegue uma ADM quase completa, menos algia (dor), mais atividades funcionais, retira-se a assistência, fazendo com que o exercício seja livre, sem assistência e sem resistência. O próximo passo é a instituição de uma resistência, ou seja, uma carga externa, imposta pelo fisioterapeuta ou por algum instrumento externo, como pesos, elásticos, molas, resistência hidráulica, pneumática, entre outras. Este tipo de atividade irá proporcionar ao paciente uma adapta- 25UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios ção aquela carga e cada vez mais capacidade de realização das atividades de vida diária (AVD’s), visto que em muitas destas há a imposição de cargas. Exemplos são: Carregar compras do mercado, levar uma lata de café ao armário aéreo da cozinha. A alta fisioterapêutica será efetivada quando este indivíduo estiver com suas funções restabelecidas, com boa força muscular, coordenação, Amplitude de Movimento, postura, mobilidade escapular, músculos bem alongados e relaxados, entre outros, muitos destes alcançados através da sequência bem indicada e realizada de exercícios terapêuticos, cada um no seu momento. 26UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado (a) acadêmico (a), nesta primeira Unidade vimos algumas bases fun- damentais da Cinesioterapia, desde alguns conceitos, até aplicabilidades clínicas para o fisioterapeuta. Aprendemos que o exercício terapêutico é a forma mais certeira de reabilitar um indivíduo que apresenta alguma disfunção de mobilidade, visto que é só trabalhando a mobilidade que a restauramos; e que isto impacta positivamente na função executada nas atividades de vida diária desta pessoa. Conhecemos também alguns aspectos multidimensionais desta função tão rele- vante para o indivíduo (que também podemos chamar de valências), sendo elas: Equilíbrio, controle postural e estabilidade postural, Preparo cardiovascular, Coordenação, Flexibilida- de, Mobilidade, Desempenho muscular, Controle neuromuscular e Estabilidade. Compreendemos também alguns tipos de exercícios terapêuticos, sendo o passivo aquele que é executado por uma força externa; o ativo assistido se refere aquele em que já há contração muscular associada a uma assistência; o ativo livre executado livremente pelo indivíduo, sem assistência nem resistência; e o resistido aquele em que o princípio da sobrecarga é utilizado, ao ponto em que o movimento é executado contra uma resistência. Cada um deles têm sua importância e integram o todo do processo de reabilitação de muitas apresentações clínicas comuns cuidadas pelos fisioterapeutas. Saber indicá-las e executá-las corretamente é ação primordial deste profissional. Assim, julgamos que esta primeira parte tenha trazido informações claras e que subsidiarão a caminhada daqui pra frente. 27UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios LEITURA COMPLEMENTAR Artigo: A influência da mobilização articular nas tendinopatias dos músculos bíceps braquial e supraespinhal RESUMO: As causas mais comuns de dor no ombro estão relacionadas às dege- nerações dos tendões da musculatura do manguito rotador. Objetivo: Verificar a influência da mobilização articular por meio dos movimentos acessórios do ombro na recuperação inicial de 14 pacientes com tendinopatia crônica dos mm. supraespinal e/ou bíceps bra- quial. Métodos: Foram comparados dois protocolos de tratamento, compostos da aplicação de ultrassom terapêutico na área do tendão afetado e de treinamento excêntrico na mus- culatura envolvida, acompanhados ou não de manobras de mobilização articular. Como métodos de avaliação foram utilizados os questionários de Constant e Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand (DASH), no início e ao final do tratamento. Resultados: Os resulta- dos encontrados demonstraram que ambos os protocolos de tratamento foram eficazes na reabilitação dos pacientes, pois se obtiveram melhores resultados funcionais na aplicação dos questionários quando comparados o final com o início do tratamento para os pacientes (p<0,05). Conclusões: Assim ambos os protocolos de tratamento foram eficazes no tra- tamento da tendinopatias crônica do ombro, sendo que, o uso associado da mobilização articular parece oferecer melhores resultados funcionais. Fonte: BARBOSA, R. I.; GOES, R.; MAZZER, N.; FONSECA, M. C. F.A influência da mobilização articular nas tendinopatias dos músculos bíceps braquial e supra-espinal. Revista Brasileira de Fisioterapia. v. 12 n. 04. p. 298-303, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbfis/a/zvczyTYZhYQ47nf7CghfZ8p/?for- mat=pdf&lang=pt. Acesso em: 13 ago 2021. 28UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Exercícios terapêuticos: Fundamentos e Técnicas Autor: Carolyn Kisner; Lynn Allen Colby. Editora: Manole, 2016. Sinopse: Esta obra reúne todas as diretrizes necessárias para personalizar as diversas intervenções e modalidades de exercício no tratamento de pessoas com disfunção de movimento associada a distúrbios musculoesqueléticos ou cirurgias. O leitor encontrará o equilíbrio perfeito entre teoria e prática clínica: discussões apro- fundadas dos princípios terapêuticos e da terapia manual vincula- das às recomendações mais atuais sobre técnicas e tratamentos. Amplamente revista e atualizada, esta nova edição mantém o propósito de não apenas fornece uma base sólida acerca dos princípios e aplicações do exercício terapêutico, como também de apresentar todas as ferramentas para auxiliar o estudante e o profissional a desenvolverem o conhecimento e as habilidades exigidos para a elaboração e implementação de programas de exercícios que facilitem e aperfeiçoem o aprendizado do paciente, assim como sua independência e bem-estar ao longo do processo de reabilitação. FILME / VÍDEO Título: Descubra como esta Mob. Escapular ajuda seus pacientes Ano: 2019 Sinopse: Se você tem dificuldade de realizar a mobilização es- capular, este vídeo vai te ajudar MUITO. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=Z5WL0pDzrco 29 Plano de Estudo: ● Alongamento muscular; ● Treinamento aeróbio e exercícios respiratórios. Objetivos da Aprendizagem: ● Compreender o encurtamento muscular como relevante disfunção do movimento; ● Abordar o alongamento como uma estratégia fundamental para a prática clínica deste profissional; ● Conceituar e fundamentar a treino aeróbio e exercícios respiratórios para o fisioterapeuta. UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias 30UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 30UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios INTRODUÇÃO Seja bem-vindo a Unidade II da disciplina de Cinesioterapia. Como já vimos a importância do uso dos exercícios terapêuticos para diversas condições de saúde, além de compreender alguns tipos destes exercícios, a partir de agora já podemos aprofundar, especificamente em duas características importantes: No alongamento muscular e no trei- namento aeróbio e exercícios respiratórios. É verdade que cada um dos tipos de exercícios que serão abordados nesta Unidade apresenta características muito distintas, base fisiológicas diferentes, mas in- dependente disso, fazem parte fortemente do arsenal de técnicas cinesioterapêuticas do profissional da Fisioterapia. Em relação aos alongamentos, são executados quando há um processo de retra- ção ou encurtamento da banda muscular, sendo que os quadros patológicos podem ser diversos, desde ortopédicos, traumáticos, reumáticos, neurológicos, entre outros. Já os exercícios aeróbios e respiratórios, apesar de serem realizados amplamente, congregam três especialidades fisioterapêuticas: a Fisioterapia Cardiovascular (Resolução Coffito n. 454 de 25 de abril de 2015) (BRASIL, 2021a), a Fisioterapia Respiratória (Reso- lução Coffito n. 318 de 30 de agosto de 2006) (BRASIL, 2021b) e a Fisioterapia em Terapia Intensiva (Resolução Coffito n. 402 de 03 de agosto de 2011) (BRASIL, 2021c). Torna-se importante relatar que são especialidades muito importantes para o fisioterapeuta, visto que estes profissionais atuam em redes de hospitais, centro de terapia intensiva, centros de saúde de alta complexidade para reabilitar esses indivíduos. Desta forma, os assuntos desta Unidade também são relevantes para a vida pro- fissional do fisioterapeuta. Julgamos que este material se torne para você um importante subsídio na facilitação da caminhada a ser percorrida para se tornar um fisioterapeuta de sucesso. Aproveite o conteúdo. 31UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 31UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 1. ALONGAMENTO MUSCULAR 1.1 Definições e embasamento O termo mobilidade tem sido descrito baseado em dois parâmetros diferentes, mas intimamente relacionados. O primeiro refere-se à habilidade das estruturas ou segmentos do corpo de se moverem ou serem movidos, o que permite uma Amplitude de Movimento Funcional (ADM Funcional). Já o segundo parâmetro se refere a habilidade de uma pessoa de iniciar, controlar ou manter movimentos ativos do corpo para realizar tarefas motoras simples e complexas (mobilidade funcional). Desta forma, a mobilidade está associada à integridade articular e à flexibilidade, as quais são necessárias para que os movimentos do corpo ocorram sem dor e sem restrições durantes as tarefas funcionais da vida diária (KISNER e COLBY, 2016). Por isso, torna-se importante conhecermos mais sobre o termo flexibilidade, que é definida como a habilidade para mover uma articulação através de sua amplitude de movimento (ADM) normal sem estresse excessivo para a unidade músculotendínea e é fundamental para o corpo humano, tanto na prevenção quanto na reabilitação de lesões. Ela é tão inerente ao ser humano quanto o próprio movimento. É um componente da aptidão física e está relacionada à saúde e ao desempenho atlético, visto que há associação entre a falta de flexibilidade muscular e a ocorrência de lesões musculoesqueléticas (KISNER e COLBY, 2016). 32UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 32UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios Uma certa flexibilidade é necessária para o sucesso de todos os movimentos fí- sicos. Ela pode ser significativamente melhorada com treinamento intensivo dos tecidos conectivos elásticos, incluindo pessoas naturalmente rígidas ou encurtadas (YLINEN e CHAITOW, 2008). Entende-se, de modo mais simples, como flexibilidade a capacidade de mover uma única articulação ou uma série delas de modo suave e com facilidade, ao longo de uma ADM sem restrições e indolor. Ela está relacionada com a extensibilidade das unidades músculotendíneas que atravessam aquela articulação, com base em sua habilidade de relaxar ou deformar e ceder a uma força de alongamento (KISNER e COLBY, 2016). Muitos processos patológicos podem restringir o movimento e provocar compro- metimento da mobilidade, o que chamamos de hipomobilidade. Fatores extrínsecos são: imobilização prolongada através do uso de aparelho gessado, talas, splints (por exemplo, posterior a uma fratura, trauma ou reparo dos tecidos moles) ou tração esquelética. Os fato- res intrínsecos estão relacionados à presença de dor, inflamação e derrame articular (muito comuns em quadros ortopédicos, como tendinopatias, rupturas tendíneas, osteoartrites); distúrbios no músculo, tendão ou fáscia; distúrbios na pele; bloqueio ósseo; distúrbios vas- culares e contraturas. Outros são: estilo de vida sedentário e posturas habituais assimétri- cas; paralisia, alterações no tônus e desequilíbrios musculares, além dos desalinhamentos posturais congênitos ou adquiridos (KISNER e COLBY, 2016). Limitações de mobilidade podem ser causadas por uma variedade de mudanças no tecido conectivo (KISNER e COLBY, 2016): - Encurtamento da fáscia do tecido conectivo, por exemplo, posterior a trauma, cirurgia, lesão por radiação ou queimaduras; - Edema no interior ou ao redor das articulações advindas de traumas agudos e infecções,e um aumento no tecido conectivo em condições crônicas; - Mudanças na estrutura da articulação resultantes de fraturas; - Separações das superfícies articulares, por exemplo lesões da cartilagem ou osso nas superfícies articulares; - Discopatia, rupturas, protrusão ou prolapso discais; - Lesões do sistema nervoso central que provocam rigidez muscular ou diminuição do comprimento do músculo; - Encurtamento do comprimento muscular devido a imobilização prolongada por uso de splints ou órteses; - Deterioração geral dos tecidos dos ligamentos e cápsulas articulares com o pro- cesso degenerativo advindo da idade; 33UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 33UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios - Aumento do tônus e dor após exercício intenso não usual, por exemplo, dor mus- cular tardia; - Ativação dos receptores de dor localizados nos tecidos conectivos e no sistema músculotendíneo das articulações advindos de traumas ou inflamação; - Ativação dos receptores de dor nos tecidos conectivos de articulações circundan- tes após alongamentos excessivamente demorados ou com força excessiva. A restrição de movimento pode provocar desde um leve encurtamento até contratu- ras irreversíveis. O termo contratura é definido como o encurtamento adaptativo da unidade músculotendínea e outros tecidos moles que cruzam ou cercam uma articulação, o que resulta em resistência significativa ao alongamento passivo ou ativo e na limitação da ADM, podendo levar a disfunções (KISNER e COLBY, 2016). Apesar de utilizarmos corriqueiramente o termo flexibilidade, como vimos, ela se re- laciona a mobilidade de uma articulação, estrutura ou segmento e não apenas ao músculo. O termo correto a ser usado para o músculo é: extensibilidade. Ou seja, flexibilidade é mais gené- rica e extensibilidade refere-se à capacidade do músculo ser alongado e permitir flexibilidade. O alongamento é um termo geral usado para descrever qualquer manobra fisiote- rapêutica elaborada para aumentar a extensibilidade dos tecidos moles, melhorando, deste modo, a flexibilidade e a ADM com o aumento do tamanho das estruturas que, de modo a se adaptarem, encurtam-se e tornaram-se hipomóveis com o tempo (KISNER e COLBY, 2016). É importante relatar que para que saibamos se é o músculo que se encontra com menor extensibilidade ou a articulação que está rígida (bloqueio, ruptura ligamentar, edema, capsular, etc.), é necessária a realização de uma avaliação fisioterapêutica que contemple testes de comprimento muscular, mobilizações passivas articulares, entre outros testes que irão permitir que técnicas de tratamento sejam indicadas e executadas de forma mais dire- cionadas e assim, sejam mais eficientes. Assim, se aquele movimento está restrito devido a perda de extensibilidade, é o alongamento a estratégia de tratamento usada, mas se a restrição se deve a rigidez articular, várias outras técnicas seriam mais indicadas do que o alongamento: por exemplo uma mobilização passiva (KISNER e COLBY, 2016). Logo no início de muitos dos processos de reabilitação, o alongamento manual e a mobilização articular, que envolvem uma intervenção direta, com manipulação direta por parte do profissional, podem ser as técnicas mais apropriadas. Mais tarde, exercícios de auto alongamento realizados de forma independente pelo paciente, após uma instrução cuida- dosa e supervisão atenta, podem se configurar como uma intervenção mais adequada. Já em algumas situações, pode ser indicado o uso de dispositivos mecânicos de alongamento, 34UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 34UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios em particular quando as terapias manuais forem ineficazes. Porém, é fundamental que o olhar para o todo exista. Independentemente do tipo de procedimento de alongamento escolhido para determinado paciente ou grupo, para que o ganho na ADM seja permanente, ele precisa ser complementado por um trabalho apropriado de força, potência e resistência à fadiga e usado com regularidade em atividades funcionais (KISNER e COLBY, 2016). 1.2 Fatores determinantes na flexibilidade Vários fatores têm sido vistos como determinantes na flexibilidade, sendo que eles podem ser influenciados por fatores neurofisiológicos, biomecânicos e térmicos. Outros como gênero, idade, nível de atividade física, obesidade, estado dos tecidos moles e força muscular também têm sido descritos na literatura como determinantes da flexibilidade. 1.2.1 Fatores neurofisiológicos Os principais fatores neurofisiológicos que influenciam na flexibilidade são as ações do fuso muscular e do órgão tendinoso de golgi (OTG), além dos mecanismos de inibição recíproca e inibição autogênica (KISNER e COLBY, 2016). As fibras do fuso muscular (também chamadas de intrafusais) estão localizadas paralelamente às fibras musculares extrafusais, sendo responsáveis por detectar altera- ções no comprimento muscular, bem como na velocidade destas alterações. Há dois tipos de resposta reflexa de alongamento: fásica e tônica. A primeira resposta ocorre quando um músculo é rapidamente alongado, o que aumenta a taxa de disparo do fuso muscular, provocando o reflexo de estiramento. Quando este reflexo é estimulado, ocorre uma contra- ção reflexa proporcional à velocidade de alongamento, que irá produzir uma resistência ao movimento articular e consequentemente ao alongamento muscular. A resposta tônica está relacionada ao ajuste postural. A manutenção de uma determinada postura é garantida pela percepção do movimento (cinestesia) e do posicionamento articular (senso posicional). As fibras intrafusais são capazes de perceber alterações cinestésicas e posicionais, provocan- do uma contração muscular a fim de corrigir a postura (KISNER e COLBY, 2016). Os OTG’s são mecanorreceptores localizados na junção miotendínea, sensíveis ao aumento de tensão no músculo e no tendão. Tanto o alongamento quanto a contração muscular podem promover um aumento da tensão no tendão, o que ativa os OTGs. En- tretanto, estes são mais sensíveis à tensão provocada pela contração muscular do que ao alongamento. Se o alongamento ou contração forem mantidos por um período superior a seis segundos, eles são ativados, promovendo um relaxamento reflexo do músculo, faci- litando o seu alongamento. Este é o mecanismo de inibição autogênica (LIPPERT, 2018). 35UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 35UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios Outro fenômeno neurofisiológico que influencia na flexibilidade é o da inibição re- cíproca. Este é baseado na chamada inervação recíproca, que é um circuito neuronal que inibe os músculos antagonistas durante a contração de um músculo ou grupo muscular, o que provoca diminuição do tônus muscular do antagonista, facilitando o seu alongamento. Este mecanismo pode ser compreendido ao estudo do arco reflexo (ou reflexo miotático) (Figura 1). Quando tocamos uma panela quente, antes mesmo de percebermos sua tempe- ratura, reflexamente retiramos nossa mão dela, visto que os receptores de nossa pele foram ativados, o que levou uma informação aferente através do nervo periférico até a medula espinhal. Lá ocorre uma sinapse com o neurônio eferente, que vai do nervo periférico até o músculo efetor, para que este realize a contração muscular retirando nossa mão da panela. Este mecanismo é muito rápido. A inervação recíproca é o fato de que, neste mecanismo do arco reflexo, há uma outra sinapse do neurônio aferente, agora com um neurônio que irá inibir o músculo antagonista àquela ação muscular, o que irá permitir que o movimento seja executado de forma mais harmônica e eficiente. FIGURA 1 - ARCO REFLEXO 1.2.2 Fatores biomecânicos Entre os fatores biomecânicos a seremconsiderados, o comportamento mecânico do tecido muscular possui um papel fundamental para a compreensão da flexibilidade. Torna-se importante relatar que o tecido muscular é composto pelo elemento contrátil (EC) e pelo elemento elástico (EE). O primeiro é representado pelo componente ativo formado pelos miofilamentos de actina e miosina e o elemento elástico é representado pelo compo- nente passivo, formado pelo tecido conectivo. Estes elementos resistem à deformação do músculo e do tendão quando são submetidos a uma força de tração, limitando a flexibilidade (YLINEN e CHAITOW, 2008). 36UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 36UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios O tecido conectivo muscular é formado por tecido conjuntivo denso e está presente nos vários envoltórios que circundam as estruturas musculares. Trata-se do elemento não contrátil, ou seja, apenas elástico do músculo. O epimísio é constituído por uma camada de tecido conjuntivo que envolve todo o músculo e se afunila em suas extremidades, formando o tendão. O perimísio circunda cada fascículo, que é um conjunto de aproximadamente 150 fibras musculares. Já o endomísio é uma fina camada de tecido conjuntivo que envolve cada fibra muscular. Sob o endomísio está localizado o sarcolema, que envolve o sarcôme- ro, unidade funcional do músculo (KISNER e COLBY, 2016). O tecido conectivo é constituído de três tipos de fibras: as fibras colágenas, res- ponsáveis pela rigidez do tecido; as fibras elásticas, que dão complacência ao tecido; e as fibras reticulínicas, que dão volume ao tecido, além da substância de fundo, que reduz o atrito entre as fibras (KISNER e COLBY, 2016). Já as fibras colágenas responsáveis pela rigidez do tecido são formadas por molé- culas de colágeno conectadas entre si por pontes de hidrogênio. O colágeno é a proteína mais abundante nos mamíferos, constituindo um terço das proteínas corporais. Estas fibras são arranjadas em feixes paralelos e apresentam uma configuração ondulada. A substância de fundo é um gel composto por glicosaminoglicanos, proteínas e água, e está localizada entre as moléculas de colágeno, permitindo um livre deslizamento entre estas moléculas e garantindo a capacidade de deformação do tecido conectivo. O colágeno tem como carac- terísticas grande resistência à tensão e baixa capacidade de deformação. O aumento da quantidade de pontes de hidrogênio e a diminuição da distância entre elas irão determinar menor elasticidade e maior resistência ao alongamento (KISNER e COLBY, 2016). Em relação as fibras elásticas, são constituídas essencialmente de elastina, subs- tância capaz de se alongar até́ 150% do seu comprimento antes de se romper. Sabe-se que as fibras elásticas são mais complacentes e menos resistentes quando comparadas às fibras de colágeno. Desta forma, a proporção entre o número de fibras colágenas e elásticas de um tecido vai determinar sua maior rigidez ou complacência (KISNER e COLBY, 2016). Devido à sua organização, quando o tecido conectivo é submetido a uma tensão, ele pode apresentar dois tipos de comportamento: elástico e plástico. O comportamento elástico baseia-se na sua propriedade elástica, que é a capacidade do tecido de alongar-se e retornar ao seu comprimento original quando a força de tração é retirada (LIPPERT, 2018). 37UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 37UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios A deformação elástica de um tecido é diretamente proporcional à carga aplicada e depende da quantidade de deformação sofrida. Se um tecido é alongado além do seu limite elástico, ele não retornará ao seu comprimento original, sofrendo assim uma deformação plástica. O comportamento plástico de um tecido baseia-se na sua propriedade plástica, que é a capacidade do tecido de assumir um novo comprimento, deformando-se permanentemente quando a força de tração é retirada. Se um tecido é alongado além do seu limite elástico, haverá uma falha na sua estrutura e um rompimento tecidual (KISNER e COLBY, 2016). Apesar da elasticidade e da plasticidade serem propriedades bastante distintas e comprovadamente presentes nos tecidos biológicos, o tecido conectivo não é perfeita- mente plástico ou elástico, apresentando uma combinação de propriedades chamada de viscoelasticidade. Esta é uma propriedade tempo-dependente, ou seja, o tecido se deforma sob tração e retorna ao seu comprimento original quando a carga de tração é retirada, mas tanto sua deformação quanto seu retorno demoram certo tempo para acontecer. De fato, a quantidade de deformação sofrida pelo tecido quando sob tensão é diretamente proporcio- nal à magnitude da carga aplicada e depende do tempo e da velocidade da aplicação desta carga. Quando uma força de tração é aplicada, o tempo requerido para o alongamento varia inversamente à quantidade de força aplicada. O aumento do comprimento muscular obtido pelo exercício de alongamento se mantém por certo tempo por causa de suas propriedades viscoelásticas (KISNER e COLBY, 2016). A viscoelasticidade determina a tensão tecidual quando este é submetido a uma força de alongamento. Quando o tecido é tracionado e mantido em um comprimento cons- tante, ocorre um declínio gradual da tensão após um período de tempo devido à sua viscoe- lasticidade. Esta propriedade do tecido é denominado relaxamento ao estresse. É por isso que a força necessária para manter um tecido alongado diminui com o passar do tempo. De forma similar, se uma carga de alongamento for aplicada a um tecido, este sofrerá uma deformação com o passar do tempo, aumentando o seu comprimento; esta propriedade é chamada de creep. O comportamento viscoelástico presente na musculatura faz com que qualquer músculo, quando submetido a uma força de alongamento, se comporte de acordo com estas duas propriedades: relaxamento ao estresse e creep (KISNER e COLBY, 2016). Além da resistência à tensão oferecida pelo elemento elástico, os miofilamentos de actina e miosina também resistem à deformação e o bom entendimento de sua mor- fologia é fundamental para a compreensão do seu comportamento mecânico. Durante o alongamento passivo da musculatura, há uma alteração mecânica das pontes transversas de actina e miosina à medida que os filamentos se separam, resultando em alongamento 38UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 38UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios dos sarcômeros. Quando a força é liberada, os sarcômeros retornam ao seu comprimento normal. Apesar de ocorrer um aumento do tamanho do sarcômero durante o alongamento muscular, os miofilamentos de actina e miosina permanecem com o seu comprimento inal- terado, ocorrendo apenas uma menor sobreposição entre eles, o que garante o retorno do sarcômero ao seu tamanho original, quando a força é retirada, é a presença de um terceiro miofilamento, a titina (KISNER e COLBY, 2016). A titina é uma proteína que constitui cerca de 10% da massa da fibra muscular e conecta a miosina à linha Z do sarcômero. Devido à sua localização, ela possui duas funções fundamentais. A primeira é garantir a manutenção da arquitetura do sarcômero durante o seu alongamento, ou seja, a titina mantém a miosina entre os filamentos de actina, assegurando a conformação estrutural do sarcômero mesmo quando alongado. A segunda função da titina é permitir o retorno do sarcômero ao seu comprimento original quando uma carga de alongamento é retirada, devido à sua elasticidade. Desta forma, a titina oferece resistência ao alongamento muscular juntamente com o EE constituído pelo epimísio, perimísio e endomísio (KISNER e COLBY, 2016). 1.2.3 Fatores térmicos A temperatura muscular afeta as propriedades biomecânicasdo músculo. O calor é capaz de aumentar a extensibilidade do tecido conectivo, facilitando o relaxamento ao estresse e permitindo maior deformação ao alongamento. Alguns recursos que atuam na temperatura tecidual têm sido propostos na prática clínica, no intuito de potencializar a efetividade do alongamento, tais como: a aplicação de gelo, ondas curtas e a realização de atividade física precedendo o alongamento (o que chamamos de aquecimento). Parece que há uma maior efetividade quando o alongamento é realizado em associação ao aquecimen- to, quando comparada com o alongamento isolado (KISNER e COLBY, 2016). Entre as alterações neurofisiológicas provocadas pelo aumento da temperatura muscular, estão: o aumento do o limiar de dor, a diminuição da sensibilidade do fuso mus- cular ao alongamento e o aumento da taxa de disparo dos OTGs (KISNER e COLBY, 2016). A atividade elétrica do músculo também pode ser influenciada por alterações na sua temperatura. O corpo humano é homeotérmico, ou seja, apresenta a temperatura interna relativamente constante, podendo tolerar variações de temperatura do ambiente externo entre 50oC negativos e 100oC positivos, desde que devidamente protegido. A temperatura corporal é regulada por mecanismos neurais, controlados pelo hipotálamo e que podem ser ativados de duas maneiras: por receptores térmicos na pele, que proporcionam influxo 39UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 39UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios para a área de controle central, e por estimulação direta sobre o hipotálamo, através da modificação da temperatura do sangue que perfunde esta área. A ação destes mecanismos mantém a temperatura corporal central nos níveis de 37oC ± 0, 6oC. O mecanismo de termorregulação se torna falho quando a temperatura corporal central atinge valores supe- riores a 41,1oC ou inferiores a 34,4oC (GUYTON e HALL, 2021). Durante o processo metabólico, somente 20 a 25% da energia de um nutriente é convertida em trabalho, sendo o restante convertido em energia térmica. Logo, é importante o funcionamento ideal dos mecanismos termorregulatórios, para que não ocorra superaque- cimento. O calor metabólico é produzido através de reações químicas que liberam energia (GUYTON e HALL, 2021). Além das reações químicas, o atrito causado pela contração muscular, bem como o atrito do sangue com os vasos são fatores predisponentes do aumento da temperatura cor- poral central. Este aquecimento é controlado por mecanismos termorreguladores, que agem no sentido de evitar o superaquecimento. Tais mecanismos são, portanto, determinantes da temperatura muscular e dependem da intensidade da atividade, que pode ser avaliada através do consumo de oxigênio ou da frequência cardíaca (GUYTON e HALL, 2021). O aumento da temperatura corporal central não deve ser entendido como uma falha do mecanismo de termorregulação, uma vez que ele é essencial para que haja um aumento da velocidade das reações químicas e do metabolismo muscular, aumentando a eficiência do organismo para a execução das atividades (GUYTON e HALL, 2021). O aumento da temperatura na musculatura que está sendo utilizada para a exe- cução de uma atividade física é sempre maior que o aumento da temperatura corporal central, podendo atingir valores de 40º C (GUYTON e HALL, 2021). 1.2.4 Outros fatores O sexo é outro fator determinante da flexibilidade. As mulheres possuem maior quantidade de elastina, por isso tendem a apresentar maior flexibilidade do que os homens. A idade e a inatividade também determinam a flexibilidade. O aumento da idade e a inativi- dade física fazem com que o indivíduo perca água, fibras elásticas e mucopolissacarídeos e aumente a quantidade de colágeno, o que aumenta a quantidade de pontes de hidrogênio e diminui a flexibilidade. O indivíduo fisicamente ativo possui maior flexibilidade, desde que a atividade inclua exercícios de alongamento. O indivíduo obeso, além da tendência à inativi- dade física, possui reservas de tecido adiposo no interior das articulações, o que diminui a flexibilidade. A história de uma lesão muscular prévia também influencia a flexibilidade. Um músculo que já sofreu alguma distensão ou contratura possui menor flexibilidade e maior probabilidade de recidiva (KISNER e COLBY, 2016). 40UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 40UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 1.3 Indicações e contraindicações para o uso do alongamento Torna-se relevante discutirmos aqui quando indicamos e contra indicamos tal téc- nica, visto que há momentos mais apropriados e seguros, mas também aqueles que o alongamento não deve ser implementado. São suas indicações (KISNER e COLBY, 2016): - Quando a ADM está limitada porque os tecidos moles perderam sua extensibili- dade em decorrência de aderências, contraturas e formação de tecido cicatricial, causando limitação funcional (limitação nas atividades) ou incapacidades (restrições à participação); - A fraqueza muscular ou encurtamento do tecido oposto ocasionaram uma dimi- nuição da ADM; - Pode ser usado como parte de um programa de preparo físico total ou de condi- cionamento esportivo, ou pós treino de exercícios vigorosos para possível redução da dor muscular pós-exercício; - Para relaxamento muscular; - Auxiliam no desenvolvimento da consciência corporal, melhorando a postura; - Diminuição dos riscos de lesões e distensões. Já as contra indicações são: - Bloqueio ósseo que limite o movimento articular; - Fratura recente em consolidação; - Processo inflamatório agudo ou infeccioso (calor e edema) ou a cicatrização dos tecidos moles pode ser prejudicada nos tecidos encurtados e regiões adjacentes; - Dor aguda imediata com o movimento articular ou de alongamento; - Observa-se hematoma ou outra indicação de trauma dos tecidos; - Existência de hipermobilidade; - Os tecidos moles encurtados proporcionam a estabilidade articular necessária no lugar da estabilidade estrutural ou controle neuromuscular normais; - Os tecidos encurtados possibilitam a um paciente com paralisia ou fraqueza muscu- lar grave realizar habilidades funcionais específicas que, de outro modo, sejam impossíveis. 41UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 41UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 1.4 Benefícios e resultados potenciais do alongamento O primeiro e forte benefício do alongamento é o aumento da flexibilidade e da ADM, ou seja, é o seu efeito primário. Como já dito, restaura-se através deste a extensibilidade da unidade músculotendínea e, portanto, recupera-se ou alcança-se a flexibilidade e ADM exigidas paras as atividades funcionais necessárias ou almejadas. Isto ocorre devido a mudanças biomecânicas e neurais nos elementos contráteis e não contráteis da unidade músculotendínea, sendo resultados de um aumento na extensibilidade e comprimento do músculo ou uma diminuição na rigidez muscular (tensão passiva do músculo e tendão). Além disso, pode ser devido a uma mudança na percepção ou tolerância da pessoa à sensação associada ao alongamento (KISNER e COLBY, 2016). Além disso, com o alongamento prepara-se o físico de forma geral, visto que tem sido recomendado para o período de aquecimento antes de uma atividade física extenuante ou para o período de resfriamento no final; para programas de condicionamento para pre- paro físico geral, nas atividades de recreação ou aquelas realizadas nos locais de trabalho e no treinamento preparatório para esportes competitivos. Outro importante benefício do alongamento é a prevenção de lesões e redução da dor muscular pós-exercício. Não há uma base científica que determine que os exercícios de alongamento podem prevenir ou reduzir o riscode lesões, mas há forte evidência de que a diminuição da flexibilidade está associada a um maior risco de lesões músculotendíneas nos membros inferiores (KISNER e COLBY, 2016). Com o alongamento consegue-se melhora no desempenho físico, tal como um aumento da força muscular, potência ou resistência físicas ou ainda a melhora no funcio- namento físico, incluindo a velocidade da marcha ou da corrida e da habilidade de saltar (KISNER e COLBY, 2016). Outros benefícios também têm sido descritos, como a prevenção ou redução do risco de lesão de tecidos moles, redução da dor muscular pós-exercício (de surgimento tardio) e melhora do desempenho físico. 1.5 Determinantes dos exercícios de alongamento Há diversos elementos essenciais que determinam a efetividade e os resultados das intervenções por meio deste tipo de exercício, sendo eles (KISNER e COLBY, 2016): - Alinhamento: posicionamento do membro ou do corpo, de modo que a força de alongamento seja direcionada para o grupo muscular apropriado; - Estabilização: fixação de um local de inserção do músculo à medida que a força é aplicada à outra inserção óssea; 42UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 42UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios - Intensidade do alongamento: magnitude da força de alongamento aplicada. Em geral, há consenso que o alongamento deve ser aplicado com baixa intensidade por meio de uma carga leve; - Duração do alongamento: período no qual a força de alongamento é aplicada durante um ciclo de alongamento. Deve ser segura, efetiva, prática e eficiente para cada situação. Refere-se ao tempo de aplicação da atividade em que os tecidos encurtados permanecem na posição alongada. Duração geralmente é o tempo de aplicação de um único ciclo de alongamento e tem variado muito em estudos científicos, faltando ainda consenso a respeito; - Velocidade do alongamento: velocidade da aplicação inicial da força de alonga- mento, sendo que tem sido instituído aquele mais lento e controlado; - Frequência do alongamento: número de sessões de alongamento por dia ou por semana. Baseia-se na carga subjacente ao comprometimento da mobilidade, na qualidade e no nível de cicatrização dos tecidos, na cronicidade e na gravidade da contratura, assim como na idade do paciente, sua resposta prévia ao alongamento e uso de corticosteroides. A frequência semanal varia de 2 a 5 sessões, dando tempo para repouso entre estas, para cicatrização dos tecidos e minimização da dor pós-exercício; - Modo de alongamento: forma ou maneira com que a força de alongamento é aplicada (elástica, balística, cíclica); grau de participação do paciente (passivo, assistido, ativo); ou a fonte da força de alongamento (manual, mecânica, o próprio paciente). 1.6 Tipos e técnicas de alongamentos O alongamento é um método frequentemente usado para aumentar a ADM (ou fle- xibilidade) das articulações, ou seja, promover o ganho de flexibilidade através da melhora da extensibilidade. O uso antes ou após uma atividade esportiva tem se tornado prática constante no meio esportivo, no tratamento de lesões, prevenção, entre outros. Atua nas propriedades viscoelásticas e aumentam a complacência muscular. Variadas formas de execução têm sido descritas na literatura científica, desde os mais básicos (estático) até aqueles que utilizam técnicas inibitórias avançadas. No sentido mais simples da palavra, o alongamento é uma manobra de tratamento em que o músculo é colocado em tensão, ou seja, deixa-se longe a origem e inserção deste. 43UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 43UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 1.6.1 Alongamento estático Muito usado, envolve mover a articulação até o ponto que há considerável resistên- cia advinda da tensão provocada no músculo. Ou seja, realiza-se o movimento no sentido do alongamento até o ponto de tensão do tecido muscular e sustenta esta posição por um período de tempo (com uma força constante). O alongamento é mantido neste ponto até a redução da tensão e então, retorna-se ao movimento ou padrão inicial (Figura 2). Pode ser repetido várias vezes. Apresenta o menor risco de lesão e acredita-se ser o mais seguro, além de ser o mais usado (KISNER e COLBY, 2016). FIGURA 2 - EXEMPLO DE ALONGAMENTO ESTÁTICO 1.6.2 Alongamento balístico É intermitente rápido e forçado, ou seja, com alta velocidade e alta intensidade. Neste tipo de alongamento, o movimento é realizado com contrações fortes e repetitivas dos mús- culos agonistas para alongar os antagonistas. Este movimento é usualmente repetido por um número de vezes sem parar e é classificado como uma técnica de alongamento dinâmico. Cria um impulso para conduzir o segmento do corpo pela ADM até alongar as estruturas encurtadas. Alongamentos fortes e rápidos causam um reflexo que ativa os músculos e a re- sistência para alongar. Tem sido menos utilizado pois a velocidade e o movimento (produção de tensão rápida e intensa num curto período de tempo) podem aumentar a probabilidade de ruptura do tecido, pois há menos controle da tensão imposta ao tecido e mais dor muscular residual do que o alongamento estático (KISNER e COLBY, 2016). 44UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 44UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 1.6.3 Alongamento manual Realizado por um fisioterapeuta, outro profissional ou um cuidador treinado, sendo que se aplica uma força externa para mover o segmento envolvido levemente além do ponto de resistência do tecido e da ADM disponível. Desta forma, o fisioterapeuta controla de forma manual o local de estabilização, assim como a direção, a velocidade, a intensida- de e a duração do alongamento. Geralmente, é empregado um alongamento progressivo, estático, controlado, no final da ADM, aplicado com uma intensidade coerente com o nível de conforto do paciente, mantido por 15 a 60 segundos e repetido pelo menos algumas vezes (KISNER e COLBY, 2016). O alongamento manual pode ser mais apropriado nos estágios iniciais de um pro- grama de alongamento, quando o fisioterapeuta deseja determinar como o paciente res- ponde a intensidade ou durações diferentes de alongamento e quando uma estabilização máxima é fundamental (KISNER e COLBY, 2016). 1.6.4 Autoalongamento Também chamado de exercício de flexibilidade ou alongamento ativo, o autoa- longamento é um tipo de procedimento de alongamento que o paciente executa sozinho, a partir de uma instrução cuidadosa e prática supervisionada. Este permite ao paciente manter ou aumentar a ADM obtida como resultado da intervenção direta do fisioterapeuta. É utilizado frequentemente nos processos reabilitativos, inclusive domiciliares (KISNER e COLBY, 2016). Usualmente, nenhuma força externa é aplicada durante o alongamento ativo dos músculos, que usa contração voluntária dos músculos agonistas para produzir ADM ativa. Assim, a ADM irá depender da resistência do músculo a ser alongado tanto quanto a força dos agonistas que realizam o alongamento. É usado preferencialmente para manter a mo- bilidade normal. Pode ser estático ou balístico (KISNER e COLBY, 2016). 1.6.5 Alongamento mecânico O alongamento mecânico é aquele em que a atividade é realizada através da in- serção de um equipamento externo, ou seja, mecânico, para alongar tecidos encurtados e aumentar a ADM. Exemplos são órteses, polias, aparelhos de alongamento automatizados. Estes equipamentos geralmente promovem carga constante com deslocamento variável ou um deslocamento constante com cargas variáveis. 45UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 45UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 1.6.6 Alongamento passivo Configura-senaquele tipo em que há uma realização externa, podendo ser do tera- peuta, máquina, peso ou sistema de polia para produzir o alongamento. É usado mais fre- quentemente quando objetiva-se aumentar ADM. No alongamento passivo, o indivíduo que está recebendo este treinamento não participa diretamente no processo de alongamento. 1.6.7 Técnicas com facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) ou Kabat Não é uma técnica específica de alongamento (apesar de proporcionar resultados relevantes neste foco), mas sim uma filosofia de tratamento. Facilitação neuromuscular proprioceptiva (PNF, da sigla em inglês), também chamada de Kabat, baseia-se no fato de que todo ser humano, incluindo aqueles com portadores de deficiências, tem um potencial ainda não explorado. O enfoque terapêutico é sempre positivo, reforçando e utilizando o que o paciente pode fazer, em nível físico e psicológico. O objetivo primário de todo tratamento é facilitar o paciente a alcançar o seu mais alto nível funcional. PNF é uma abordagem global, já que cada tratamento é direcionado para o ser humano como um todo e não para um problema específico ou um segmento corporal. Suas técnicas também são chamadas de alongamento facilitativo (KISNER e COLBY, 2016). Nesta técnica, há uma contração muscular ativa para facilitar ou inibir a ativação muscular e aumentar a possibilidade de que o músculo a ser alongado permaneça o mais relaxado possível durante o procedimento. Assim, baseia-se no fato da ocorrência de um relaxamento reflexo durante as manobras de alongamento, decorrente da inibição auto- gênica ou recíproca (já discutidas aqui nesta Unidade), o que envolve uma diminuição na tensão das fibras musculares e, portanto, a uma diminuição na resistência ao alongamento oferecida pelos elementos contráteis do músculo ao ser alongado (KISNER e COLBY, 2016). Os procedimentos básicos de facilitação são (KISNER e COLBY, 2016): - Resistência: auxilia a contração muscular e o controle motor e aumenta a força; - Irradiação e reforço: utilizam a deflagração da resposta ao estímulo; - Contato manual: aumenta a força e guia o movimento com toque e pressão; - Posição corporal e biomecânica: guiam e controlam o movimento por meio do alinhamento do corpo, dos braços e das mãos do terapeuta; - Comando verbal: utiliza palavras e tom de voz apropriados para direcionar o paciente; - Visão: usa a visão para guiar o movimento e aumentar o empenho; - Tração e aproximação: o alongamento ou a compressão dos membros e do tronco facilita o movimento e a estabilidade; 46UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 46UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios - Estiramento: o uso do alongamento muscular e do reflexo de estiramento facilita e contração e diminui a fadiga; - Sincronização de movimentos: promove sincronismo e aumenta a força da contração muscular por meio da “sincronização para ênfase”; - Padrões de facilitação: movimentos sinérgicos em massa são componentes do movimento funcional normal. O objetivo das técnicas de PNF é promover o movimento funcional por meio da faci- litação, da inibição, do fortalecimento e do relaxamento de grupos musculares. As técnicas utilizam contrações musculares concêntricas, excêntricas e isométricas, combinadas com resistência propriamente graduada e procedimentos facilitatórios adequados, todos ajusta- dos para atingir as necessidades de cada paciente. As técnicas específicas são agrupadas de acordo com suas funções e ações (KISNER e COLBY, 2016). Há variadas técnicas e procedimentos de FNP. Vamos introduzir as técnicas de manter-relaxar e contrair-relaxar, contração do agonista e manter-relaxar com contração do agonista. De forma simplificada, suas técnicas são realizadas com grupos musculares combinados que agem em padrões diagonais. 1.6.7.1 Manter-relaxar e contrair-relaxar Nesta técnica de FNP, também chamada de sustentar-relaxar, o músculo que limita a amplitude é primeiramente alongado até o ponto da limitação ou de forma confortável para o paciente, que faz, então, uma contração isométrica no final da ADM (durante cerca de 5 segundos), seguida pelo relaxamento voluntário do músculo encurtado. O membro é, então, movido de forma passiva para a nova amplitude máxima, enquanto se processa o alongamento. Baseia-se no fato de que a contração mantida antes do alongamento é segui- da por um relaxamento acompanhado por uma diminuição na atividade eletromiográfica no músculo que limita a amplitude, possivelmente como resultado da inibição autógena. Para minimizar os efeitos adversos de uma manobra de Valsalva (que pode elevar a Pressão arterial), o paciente deve respirar regularmente enquanto realiza contrações isométricas submáximas (de baixa intensidade) mantidas por 5 a 10 segundos em cada repetição do procedimento de alongamento (KISNER e COLBY, 2016). 47UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 47UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 1.6.7.2 Contração do agonista Levando em consideração que o musculo antagonista é o que limita a ADM, ou seja, o músculo encurtado, o paciente vai contrair concentricamente (encurta) o músculo oposto ao que está limitando a ADM e, então, mantém a posição final por pelo menos alguns segundos. Esta técnica pode ser efetiva sobretudo quando uma defesa muscular significativa restringe o alongamento muscular e o movimento articular, sendo menos efeti- va para reduzir contraturas crônicas (KISNER e COLBY, 2016). 1.6.7.3 Manter-relaxar com contração do agonista Esta técnica combina os procedimentos da duas anteriores, sendo também cha- mada de técnica manter-relaxar com reversão lenta. Para executá-las, move-se o membro ou segmento até o ponto em que seja sentida a resistência do tecido encurtado ou que se pretende alongar. Então faz-se o paciente executar uma contração isométrica resistida pré-alongamento no músculo que está limitando a ADM seguida do relaxamento voluntário deste mesmo músculo e de uma contração concêntrica imediata do músculo oposto ao que está encurtado (KISNER e COLBY, 2016). 48UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 48UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 2. TREINAMENTO AERÓBIO E EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS 2.1 Definições e embasamento Há variados recursos para obter informação e treinamento de atletas e pessoas jovens e indivíduos com distúrbios diversos, inclusive coronarianos. Ênfase na resistência e na melhora da aptidão física de pessoas com tipos diversos de doenças crônicas ou in- capacidades tem sido dada ao longo de anos de pesquisas. Por isso, é relevante o assunto de treinamento aeróbio e respiratório (KISNER e COLBY, 2016). Treinamento com exercício aeróbio ou condicionamento é o aumento da utilização da energia do músculo por meio de um programa de exercícios. A melhora da habilidade do músculo em usar energia é o resultado direto de níveis aumentados de enzimas oxidativas nos músculos, aumentando a densidade e o tamanho mitocondrial e o suporte capilar da fibra muscular. Assim: - Treinamento é dependente de intensidade, duração e frequência suficiente no exercício; - Treinamento produz adaptação muscular e cardiovascular e isto é refletido na resistência individual; - Treinamento para um esporte em particular ou evento é dependente do princípio da especificidade, que é, o indivíduo melhora na tarefa do exercício usado para treinamento e não deve melhorar em outras tarefas. Por exemplo, natação deve evoluir a performance em eventos de natação, mas não na corrida na esteira. 49UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 49UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e ExercíciosRespiratórios O sistema aeróbio apresenta as seguintes características: - Glicogênio, gorduras e proteínas são combustíveis e são utilizados relativos à sua disponibilidade e da intensidade do exercício; - O oxigênio é requerido (aeróbio); - A Adenosina Trifosfato (ATP) é resintetizado na mitocôndria da célula muscular. A habilidade de metabolizar oxigênio e outros substratos está relacionado ao número e a concentração da mitocôndria e células; - A capacidade máxima do sistema é boa (90.0 mol ATP); - A potência máxima do sistema é pequena (1.0 mol ATP por minuto); - O sistema predomina sobre os outros sistemas de energia após o segundo minuto de exercício. O rápido aumento na solicitação de energia durante o exercício requer igualmente ajustes circulatórios rápidos para remover os catabólitos (produtos finais do metabolismo), além do dióxido de carbono e ácido lático e para dissipar o excesso de calor. A mudança no metabolismo ocorre numa coordenada atividade de todos os sistemas do corpo: neuromus- cular, respiratório, cardiovascular, metabólico e hormonal. O transporte de oxigênio e a sua utilização pela mitocôndria dos músculos contráteis são dependentes de fluxo sanguíneo adequado em conjunção com respiração celular. 2.1.1 Terminologia Como em muitos assuntos, há uma diversidade de conceitos que devemos abordar antes mesmo de discutirmos a aplicabilidade prática. Assim, vamos conhecer o que cada um destes termos significa a partir de agora. 2.1.1.1 Atividade física Há variados conceitos de atividade física, mas no geral se refere a qualquer mo- vimento corporal produzido pela contração dos músculos esqueléticos que resulta em au- mento substancial do gasto de energia em relação ao repouso (KISNER e COLBY, 2016). 2.1.1.2 Exercício É uma atividade física planejada e estruturada, elaborada para melhorar ou manter o preparo físico (KISNER e COLBY, 2016). 50UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 50UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 2.1.1.3 Preparo físico É um termo genérico, mas comumente utilizado, descrevendo a habilidade em realizar um trabalho físico, o que exige funcionamento cardiorrespiratório, força muscular, potência, resistência muscular à fadiga e resistência física (KISNER e COLBY, 2016). 2.1.1.4 Consumo máximo de oxigênio Define-se consumo máximo de oxigênio como a medida da capacidade do corpo de usar oxigênio, geralmente medido durante a realização de um exercício que utilize mui- tos grupos musculares grandes, como natação, caminhada e corrida. Refere-se a maior quantidade de oxigênio consumida por minuto quando a pessoa realiza esforço máximo. É expressa em relação ao peso corporal, em mililitros de oxigênio por quilograma de peso corporal por minuto (mL/Kg por minuto) e depende do transporte de oxigênio, da capacidade do transporte de oxigênio pelo sangue, da função cardíaca, da capacidade de extração de oxigênio e do potencial oxidativo do músculo (KISNER e COLBY, 2016). 2.1.1.5 Resistência física Trata-se de uma medida de preparo físico, sendo a habilidade de realizar trabalho por períodos prolongados e de resistência à fadiga. Inclui resistência muscular e cardiovascular. 2.1.1.6 Treinamento com exercícios aeróbios (condicionamento) Também chamado de condicionamento, o treinamento com exercícios aeróbios é o aumento da utilização de energia do músculo por meio de um programa de exercícios. O músculo melhora sua capacidade de usar energia em decorrência da existência de níveis elevados de enzimas oxidativas neles, o que aumenta a densidade e o tamanho das mi- tocôndrias, assim como elevando o suprimento de fibras capilares musculares (KISNER e COLBY, 2016). O treinamento apresenta três características fundamentais: - Depende de exercícios realizados com frequência, intensidade e tempo suficientes; - Produz adaptação cardiovascular e/ou muscular e é reflexo da resistência física pessoal; - O treinamento para um esporte ou evento em particular pode melhorar o princípio da especificidade, ou seja, a pessoa pode melhorar seu desempenho em tarefas ligadas ao exercício utilizado no treinamento, mas não há melhora em outras tarefas. 51UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 51UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios REFLITA Avanço importante se deu nos treinamentos dos esportes quando o uso do princípio da especificidade foi implementado, sendo cada esporte a seu tempo. Como você consi- dera um treinamento adequado para os esportistas do Handebol? É necessário realizar treinamentos de corridas longas? Que tipo de atividade de força e condicionamento cardiovascular é necessário? Fonte: O autor, 2021. 2.1.1.7 Adaptação Tanto os músculos quanto o sistema cardiovascular adaptam-se ao estímulo do treinamento ao longo do tempo, sendo que há mudanças mesmo em poucas semanas (entre 10 e 12). A adaptação resulta no aumento da eficiência do sistema cardiovascular e dos músculos ativos, representando uma variedade de mudanças neurológicas, físicas e bioquímicas nos sistemas cardiovascular e muscular. Ou seja, o desempenho melhora de acordo com a quantidade de exercício que pode ser realizada após o treinamento, mas sob baixo custo fisiológico (KISNER e COLBY, 2016). 2.1.1.8 Consumo de oxigênio pelo miocárdio O consumo de oxigênio pelo miocárdio (mVO2) é a medida do oxigênio consumido pelo músculo miocárdio, sendo que a necessidade ou demanda de oxigênio é determinada pela frequência cardíaca (FC), pela pressão arterial sistêmica, pela contratilidade do mio- cárdio e pela pós-carga (determinada pela tensão na parede do ventrículo esquerdo e pela pressão aórtica central) (KISNER e COLBY, 2016). 2.1.1.9 Descondicionamento O descondicionamento ocorre quando há uma carga menor de atividade imposta aquele sistema, por exemplo, quando há um repouso prolongado no leito. São vistos com frequência em indivíduos que tiveram uma patologia ou doença aguda extensa ou condição crônica de longa duração (KISNER e COLBY, 2016). 52UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 52UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 2.1.1.10 Exercícios respiratórios Exercícios respiratórios são comumente empregados em disfunções cardiopulmo- nares que impossibilitam a função normal destes órgãos. Normalmente, são atividades mais localizadas e realizadas no gradil costal, que contém órgãos vitais, como o coração, pulmões, pericárdio e grandes vasos. Estes exercícios visam proporcionar melhor capa- cidade respiratória (também chamada de ventilatória), extração de secreção, melhora da dispneia (distúrbio da respiração conhecido popularmente como “falta de ar”), entre outros. Nos pneumopatas e cardiopatas crônicos, a intolerância ao exercício provoca o declínio do estado de saúde, além do descondicionamento físico, no qual fatores como hipóxia, estresse oxidativo, alteração nutricional, eventual efeito farmacológico adverso e o desuso pela falta de atividade física possivelmente induzirão a alterações musculares, tanto nos músculos ventilatórios quanto nos membros inferiores. (SARMENTO, 2012). O paciente pneumopata crônico apresenta caracteristicamente: - Disfunção ventilatória pela obstrução ventilatória; - Dispneia; - Diminuição da capacidade de exercício; - Descondicionamento. O exercício terapêutico é uma das metodologias utilizadas para tratar estes pacien- tes, tanto pneumopatas quanto cardiopatas, sendo ele organizado por meio de estratégias específicas. O treinamento terapêutico melhora as capacidades físicas, táticas e psíquicas do indivíduo (SARMENTO, 2012). 2.2 Teste como base para o programa de exercícios O nível de desempenho no teste de preparo físico baseia-se na captação submá- xima ou máximade oxigênio (VO2máx) ou na captação de oxigênio limitada pelos sintomas. Normalmente é chamado de teste de esforço. 2.3 Determinantes do programa de exercícios O treinamento de resistência efetiva para qualquer tipo de população deve produzir melhora do condicionamento ou resposta cardiovascular. Estimular a resposta cardio- vascular é dependente de quatro elementos críticos do exercício: intensidade, duração, frequência e tipo de exercício. 53UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 53UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 2.3.1 Intensidade Determinar a intensidade apropriada do exercício é baseada nos princípios da sobrecarga e da especificidade. O primeiro se refere a sobrecarga, que é um estresse cau- sado num organismo que é maior do que aquele que regularmente é imposto a ele, durante seu dia a dia. Para melhorar a resistência cardiovascular e muscular, uma sobrecarga deve ser aplicada a estes sistemas. A carga do exercício (sobrecarga) deve ser maior do que o limite de estímulo de treinamento (o estímulo que estimula o treinamento ou a resposta de condicionamento) para que a adaptação ocorra. Assim, uma vez que a adaptação ocorra e se estabilize, a intensidade de treinamento (carga do exercício) deve ser aumentada para aquele indivíduo para que se alcance nova melhora/evolução. A intensidade de um exercício aeróbio deve ser grande o suficiente para estimular um aumento no volume sistólico e no débito cardíaco, e para aumentar a circulação local e o metabolismo aeróbio nos grupos musculares apropriados (KISNER e COLBY, 2016). 2.3.2 Duração Uma ótima duração de exercício para o condicionamento cardiovascular é depen- dente do trabalho total executado, intensidade do exercício e frequência, além do nível de condicionamento físico. Quanto maior é a intensidade do exercício, menor é a duração necessária para a adaptação; e quanto menor a intensidade do exercício, maior a duração necessária. 2.3.3 Frequência Não há um padrão mais efetivo em relação a frequência do exercício para que as adaptações ocorram. Este parâmetro pode ser um fator menos importante do que a intensi- dade ou a duração no treinamento, além do que varia dependendo da saúde e da idade da pessoa. Porém, a frequência ótima de treinamento é, em geral, de 3 a 4 vezes por semana. 2.3.4 Tipo de exercício Cada atividade ou exercício demanda um certo consumo de VO2máx e de capacidade muscular específica. Desta forma, uns são diferentes dos outros: o princípio da especifi- cidade. Desta forma, alguns que têm maior demanda energética, normalmente provocam maior adaptação. 54UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 54UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 2.4 Programa de exercícios Um programa de exercícios cuidadosamente planejado pode resultar em níveis mais altos de preparo físico para uma pessoa saudável, tornar mais lenta a diminuição na capacidade funcional do idoso e recondicionar aqueles que estiverem doentes ou têm doenças crônicas. Ele é composto por três componentes: O aquecimento, o exercício aeró- bio propriamente dito e o desaquecimento. 2.4.1 Período de aquecimento Toda atividade aeróbia deve iniciar com um período de tempo em que há preparação de todos os sistemas corporais para a atividade propriamente dita, visto que, fisiologica- mente, existe um atraso entre o início da atividade e os ajustes corporais necessários para suprir os requerimentos físicos do corpo. Objetiva-se assim, favorecer os inúmeros ajustes que precisam ocorrer antes da atividade física. O aquecimento deve ser gradual e suficiente para aumentar a temperatura muscular e central sem causar fadiga ou reduzir as reservas de energia. Normalmente um período de 10 minutos com movimentos corporais totais já são suficientes (KISNER e COLBY, 2016). 2.4.2 Período de exercício aeróbio propriamente dito Refere-se a parte de condicionamento do programa de exercícios. É necessário atentar-se aos parâmetros já descritos aqui, como intensidade, frequência, duração e o modo do programa, pois estes promovem importante impacto na atividade. Há variados tipos de programas de exercícios descritos na literatura, sendo os mais comuns: o treinamento contínuo, o com intervalos, em circuito e em circuito com intervalos. 2.4.3 Período de desaquecimento Similar ao aquecimento, o período de desaquecimento deve durar entre 5 a 10 minutos e consiste em movimentos corporais globais e alongamento estático. Objetiva-se com ele prevenir o acúmulo de sangue nas extremidades, a ocorrência de desmaios pelo aumento de sangue para o coração e o cérebro à medida que o débito cardíaco e o retorno venoso diminuem, favorecer o período de recuperação e prevenir isquemia do miocárdio (KISNER e COLBY, 2016). 55UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 55UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 2.5 Exercícios respiratórios A cinesioterapia respiratória contempla o conjunto de ações terapêuticas, de ca- racterísticas ativas ou passivas, instrumentais ou não, que objetiva viabilizar a reabilitação funcional de todo o sistema respiratório. Busca-se a expansão e insuflação dos pulmões, a otimização de toda a mecânica pulmonar, das trocas gasosas e consequentemente da captação e transporte dos gases e até mesmo do controle químico e não químico da venti- lação (SARMENTO, 2012). A utilização de técnicas de reeducação funcional respiratória (por exemplo, exer- cícios ou padrões ventilatórios com preconização de ação muscular), fortalecimento, alon- gamento e relaxamento têm sido instituídos amplamente na área. Vamos conhecer alguns exercícios mais frequentes utilizados. 2.5.1 Exercício diafragmático No exercício diafragmático prioriza-se a atividade deste importante músculo da respira- ção, visto que o fisioterapeuta pretende possibilitar e melhora da ventilação na região de bases pulmonares, aumentar a capacidade residual funcional e o volume de reserva inspiratório. Podem ser adotadas diferentes posições, porém sempre respeitando as condições clínicas dos pacientes. Ao iniciar o exercício, durante a fase inspiratória, o paciente deve realizar uma inspiração, preferencialmente nasal e profunda, sem utilização de musculatura acessória, observando-se durante essa fase a elevação da parede abdominal. Eventual- mente, pode ser acrescentado o toque de uma das mãos do terapeuta na região abdominal com o intuito de orientar a prática (SARMENTO, 2012). 2.5.2 Exercício intercostal Já neste exercício, preconiza-se a atividade da musculatura intercostal, ou seja, aqueles músculos que se encontra entre as costelas, tão relevantes para a respiração. Com ele, preconiza-se aumentar a ventilação pulmonar em zonas mediais e laterais e, concomi- tantemente, aumentar a capacidade residual funcional e o volume de reserva inspiratório. O paciente é posicionado em decúbito dorsal elevado ou em sedestação (sentado) e a partir daí, instrui-o a realizar um padrão ventilatório de predomínio diafragmático e, após a expiração, solicita-se a realização de uma inspiração nasal, procurando deslocar toda a região superior do tórax, seguida de expiração oral suave (SARMENTO, 2012). 56UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 56UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios 2.5.3 Soluços inspiratórios Neste exercício, o paciente deve inspirar pequenos e sucessivos volumes de ar até que se alcance a capacidade inspiratória máxima. Neste tipo de exercício, objetiva-se proporcionar o aumento da ventilação nas zonas basais, com elevação da capacidade e doa tempo inspiratório (SARMENTO, 2012). 2.5.4 Inspiração em tempos Durante a execução do exercício chamadode inspiração em tempos, o fisiotera- peuta solicita ao paciente que realize sucessivos volumas inspiratórios intercalados com uma pausa inspiratória com duração mínima de 6 segundos, tempo necessário para a distribuição do ar no interior dos pulmões, já que neles há unidade alveolares de tamanhos diferentes e de constantes de tempos diferentes. Objetiva-se proporcionar a melhora da complacência torácica e pulmonar, bem como a otimização da capacidade inspiratória (SARMENTO, 2012). 2.5.5 Expiração abreviada No exercício de expiração abreviada, o paciente é orientado a realizar inspirações fracionadas e intercaladas por breves expirações, até que se atinja a capacidade pulmonar total (CPT). Seu objetivo é aumentar o volume pulmonar e o tempo inspiratório. Inspira-se pelo nariz e em seguida expira-se uma pequena quantidade de ar, de forma oral, e em seguida volta-se a inspirar (SARMENTO, 2012). 2.5.6 Exercícios de expansão torácica localizada Estes exercícios objetivam aumentar a ventilação pulmonar nas regiões em que há maior deslocamento da caixa torácica. O posicionamento das mãos do fisioterapeuta no tórax do paciente determina a denominação específica do exercício, pois elas irão melhorar a propriocepção e percepção do indivíduo para que a expansão do tórax ocorra mais espe- cificamente naquela região. Pode ser torácica inferior unilateral, torácica inferior bilateral, apical ou torácica póstero-inferior. 57UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 57UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios SAIBA MAIS O fisioterapeuta especialista em Cardiovascular, em Fisioterapia Respiratória ou em Te- rapia Intensiva detém variados recursos para tratamento dos pacientes com disfunções nos sistemas cardiovascular e pulmonar. É um profissional muito valorizado e em tem- pos de pandemia foi considerado como essencial, pois é ele que trata as disfunções neste sistema tanto em ambiente hospitalar, inclusive nas unidades de terapia intensiva quanto no ambulatório, dando atenção as consequências do acometimento do vírus da Covid-19. Alguns recursos são drenagem postural, vibrocompressão, tapotagem, desin- suflação pulmonar, reexpansão pulmonar, alongamento, resistência e fortalecimentos dos músculos respiratórios, reequilíbrio tóracoabdominal, drenagem autogênica, técni- cas inspiratórias e expiratórias, tosse, aspiração endo e nasotraqueal, shaker e Flutter, Ventilação mecânica invasiva e não invasiva, técnicas de remoção de secreções brôn- quicas, respiron e técnica de insuflação pulmonar. Fonte: SARMENTO, J. V. Recursos em Fisioterapia Cardiorrespiratória. Barueri, SP: Manole, 2012. 58UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 58UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios CONSIDERAÇÕES FINAIS Dois assuntos muito relevantes para a prática clínica do fisioterapeuta foram abordados nesta unidade, apesar de serem assuntos bem diferentes. O alongamento se configura como uma técnica cinesioterapêutica eficiente na redução de várias disfunções encontradas em indivíduos que buscam o tratamento fisioterapêutico. Vimos que ele é rea- lizado conforme a necessidade do paciente e especialmente posterior a uma avaliação de verificação de seu possível encurtamento, o que pode retrair a unidade músculotendínea, provocar limitação de movimento articular, algia e disfunção do movimento, que impacta diretamente na execução de atividades de vida diária e/ou profissionais. Estudamos que há possibilidades de execução do alongamento, ou seja, tipos ou estratégias, visto que a variação de técnicas é muito importante para o fisioterapeuta. Tam- bém nesta unidade observamos que o treinamento aeróbio e os exercícios respiratórios, uma das estratégias de tratamento para pacientes com disfunções nos sistemas cardio- vascular e pulmonar. Estes pacientes apresentam disfunções bastante diferentes daqueles com encurtamento muscular específico, por exemplo. A dispneia, a disfunção pela obstrução ventilatória, a diminuição da capacidade de exercício e o descondicionamento são alguns dos sinais que estes indivíduos apresentam, os exercícios aeróbios e respiratórios se configuram como possibilidades de tratamento destes, ainda mais em tempos de pandemia e pós-pandemia, visto que muitos dos in- divíduos que foram infectados apresentam consequências físicas e disfuncionais nestes sistemas. O fisioterapeuta é o profissional habilitado e capacitado para cuidar destes casos. Assim, julgamos que esta segunda unidade tenha revelado importantes funda- mentos e técnicas sobre estes dois assuntos, é necessário compreendê-los para subsidiar novos conhecimentos que virão em outras disciplinas. 59UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 59UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios LEITURA COMPLEMENTAR Artigo 1: Efeitos dos exercícios de alongamento muscular no tratamento da fibromialgia: uma revisão sistemática RESUMO: Objetivo: O presente trabalho tem como objetivo sistematizar evidências científicas sobre a utilização dos exercícios de alongamento muscular no tratamento da fibromialgia (FM). Metodologia: Foi realizado a partir de consulta retrospectiva, sem limite cronológico e linguístico, às bases de dados MedLine, LILACS, SciELO e PEDro, além da ferramenta de busca PubMed. A coleta foi realizada por dois revisores independentes, em outubro de 2012, sendo a estratégia de busca formulada por meio do cruzamento de descritores e termos relevantes para o tema nos idiomas inglês, português e espanhol. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (ECRs) compostos apenas por pacientes com diagnóstico clínico de FM e com exercícios de alongamento muscular como medida terapêutica em pelo menos um dos grupos de intervenção. Os estudos incluídos foram avaliados quanto à qualidade metodológica por meio da escala PEDro, e suas referên- cias bibliográficas, analisadas, para se destacar fontes adicionais. A busca totalizou 6.794 artigos. Cinco artigos foram selecionados, sendo um deles excluído por apresentar baixa qualidade metodológica. A dor foi avaliada por unanimidade. O método e o tempo das intervenções variaram amplamente, houve falta de menção de parâmetros na utilização dos alongamentos e ausência de exames físicos específicos. Resultados: Houve melhora significativa em todos os estudos quanto à dor, além de aspectos relacionados a qualidade de vida e condição física. Conclusão: É evidente a importância do alongamento muscular no tratamento da FM, porém observa-se a necessidade de novos estudos para se estabelecer os reais benefícios da técnica, visto que a maioria dos trabalhos publicados apresenta baixa qualidade metodológica e ausência de padronização quanto ao uso desse recurso. Fonte: LORENA, S. B.; LIMA, M. C. C.; RANZOLIN, A.; DUARTE, A. L. B. P. E. Efeitos dos exercí- cios de alongamento muscular no tratamento da fibriomialgia: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Reumatologia. v. 55 n. 02. p. 167-173, 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbr/a/CrPnXWSqjrx8pRT- dpzxNyDR/?lang=pt. Acesso em: 16 ago. 2021. 60UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 60UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios Artigo 2: Alongamento balístico versus sustentar e relaxar: comparação do ganho imediato e após 24 horas RESUMO: Dentre os métodos de alongamento mais utilizados na prática clínica, encontram-se os métodos balístico e facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) através da técnica de sustentar-relaxar. Poucos estudos analisaram por quanto tempo as alterações na amplitude de movimento (ADM) decorrentes da intervenção permanecem ou compara- ram a efetividade de dois tiposde carga sobre este tempo. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi comparar qual método de alongamento aplicado à musculatura isquiotibial, dentre balístico e FNP do tipo sustentar-relaxar, é mais eficaz no ganho de ADM e na manutenção deste após 24 horas. Participaram do estudo 19 adultos jovens saudáveis. A avaliação da ADM foi realizada através da fotogrametria antes, imediatamente após e 24 horas após a intervenção. Os métodos de alongamento foram aplicados de forma randomizada em uma sessão. Através dos resultados foi possível verificar que ambas as técnicas foram capazes de aumentar a ADM imediatamente após a aplicação (p = 0,001 para o balístico e p = 0,001 para o sustentar-relaxar) e manter por 24 horas após a aplicação (p = 0,023 para o balístico e p = 0,022 para o sustentar-relaxar). No entanto, na comparação entre os métodos, não houve diferença no ganho de ADM obtido. Confirma-se, portanto, a equivalente efetividade de ambos os métodos na obtenção e manutenção do ganho de ADM. Fonte: FERREIRA, T.; PIZZOLATTI, A. L. A.; FONTANA, H. B.; POLIDORO, B. S.; SILVA, C. D. C. Alongamento balístico versus sustentar e relaxar: comparação do ganho imediato e após 24 horas. Fisio- terapia Brasil. v. 11 n. 02. p. 128-132, 2010. Disponível em: https://portalatlanticaeditora.com.br/index.php/ fisioterapiabrasil/article/view/1354 Acesso em: 16 ago. 2021. Artigo 3: A Influência do número de séries e tempo do Alongamento estático sobre a flexibilidade dos músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias RESUMO: Introdução e objetivo: Os exercícios de alongamento são frequentemen- te utilizados em programas de reabilitação na área desportiva, porém, a duração ideal e o número de series ainda não foram determinados. O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos de 10 series de 30 segundos e três series de três minutos de alongamento estático passivo na flexibilidade dos músculos isquiotibiais, comparando diferentes volumes de alongamen- 61UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 61UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios to dentro de 10 minutos. Além disso, verificar se existe diferença entre os dois programas de alongamento ao término do protocolo e após cinco meses. Métodos: 25 mulheres (17 a 25 anos) foram distribuídas aleatoriamente em três grupos: grupo GC (controle), G30 e G3. O G30 alongou 10 X 30 segundos e o G3 3 X 3 minutos. O alongamento foi realizado por meio de um sistema de polias, utilizando-se 10% do peso corporal da voluntária. Este protocolo durou 6 semanas. As mensurações foram feitas no início do protocolo (Av1), após seis semanas (Av2) e após cinco meses (Av3). Foi mensurada a amplitude de movimento (ADM) de extensão do joelho com 90o de flexão do quadril. A análise de variância (Anova) com dois fatores cruzados de medidas repetidas foi usada com nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). Resultados: Não houve diferença estatisticamente significante na ADM de joelho entre 30 segundos (G30) e três minutos (G3) após seis semanas (Av2) (p > 0,05) e após cinco meses (Av3) (p > 0,05). Tanto o G30 quanto o G3 apresentaram aumento da flexibilidade ao término do protocolo (Av1xAv2) (p < 0,05) e após cinco meses (Av1xAv3) (p < 0,05). Conclusões: Dez series de 30 segundos e três series de três minutos podem au- mentar a flexibilidade dos isquiotibiais e manter a flexibilidade adquirida após cinco meses do término da intervenção. Fonte: MILAZZOTTO, M. V.; CORAZZINA, L. G.; LIEBANO, R. E. A Influência do número de séries e tempo do Alongamento estático sobre a flexibilidade dos músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v. 15 n. 06. p. 420-423, 2009. Disponível em: https://www.scielo. br/j/rbme/a/Jy8S99XJ8dtY6hvFFQdkNDs/abstract/?lang=pt. Acesso em: 16 ago. 2021. Artigo 4: Influência do intervalo de tempo entre as sessões de alongamento no ganho de flexibilidade dos isquiotibiais. RESUMO: Contexto: A otimização do treino de flexibilidade está relacionada com o uso de parâmetros adequados de alongamento. Entretanto, o intervalo de tempo ade- quado entre as sessões de alongamento tem sido pouco investigado. Objetivo: Verificar se a variação no intervalo de tempo entre sessões de alongamento influencia no ganho de flexibilidade. Métodos: 28 mulheres, com idade de 22,5 ± 1,8 anos, foram distribuídas aleatoriamente em três grupos. Aplicaram-se 10 sessões de alongamento nos isquiotibiais do membro direito. O grupo 0X (n = 8) foi o controle e não recebeu alongamento. O grupo 3X (n = 10) alongou três vezes por semana (intervalo de 48 horas) e o grupo 5X (n = 10), cinco vezes (intervalo de 24 horas). Aplicaram-se 10 sessões de alongamento (sustentar- 62UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 62UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios -relaxar) nos isquiotibiais direitos. As medidas foram tomadas por análise fotométrica no programa AutoCad® 2000. A análise estatística foi realizada com ANOVA e teste post hoc de Newman-Keuls adotando um p-valor referencial de 0,05. Resultados: Após 10 sessões, identificou-se aumento da flexibilidade nos grupos experimentais, porém sem diferença en- tre estes. O grupo 3X aumentou significativamente a partir do 10o dia do programa (quinta sessão) e o grupo 5X, a partir do terceiro (terceira sessão). Conclusões: O alongamento aumenta a flexibilidade dos isquiotibiais, independente do tempo entre as sessões (24 ou 48 horas); e a variável tempo não influencia o ganho de flexibilidade total. Porém, com cinco sessões semanais, ganha-se flexibilidade mais rapidamente. Isso sugere que o ganho de flexibilidade é sessão-dependente. Fonte: GAMA, Z. A. S.; DANTAS, A. V. R.; SOUZA, T.O. Influência do intervalo de tempo entre as sessões de alongamento no ganho de flexibilidade dos isquiotibiais. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v. 15 n. 02. p. 110-114, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbme/a/YJVczhGfJPmrjGDBKh- fkhZs/?lang=pt. Acesso em: 16 ago. 2021. 63UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e Tipos de Exercícios 63UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios MATERIAL COMPLEMENTAR FILME / VÍDEO Título: Princípios do Treinamento Físico #4 – Princípio da especificidade Ano: 2013 Sinopse: Vídeo do canal voltado ao Princípio da especificidade. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=RCYqItnuvRE LIVRO Título: Recursos em Fisioterapia Cardiorrespiratória Autor: George Jesse Vieira Sarmento. Editora: Manole, 2012. Sinopse: A obra, elaborada junto a autores brasileiros e estrangei- ros, conta com uma grande diversidade de recursos instrumentais e não instrumentais utilizados em fisioterapia cardiorrespiratória. O objetivo é oferecer a terapeutas cardiorrespiratórios e a alunos de fisioterapia uma visão abrangente da área, com informações detalhadas sobre procedimentos e manobra, transmitindo o co- nhecimento de renomados profissionais. Sobre o autor: George Sarmento é coordenador e supervisor do Curso de Especialização em Fisioterapia Cardiorrespiratória do Hospital Nossa Senhora de Lourdes. Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Ventilação Mecânica da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes. Sumário resumido: - Drenagem postural - Vibrocompressão - Reexpansão pulmonar - Bases do método reequilíbrio toracoabdominal - Cine- sioterapia respiratória - Drenagem autogênica - Aspiração endo e nasotraqueal - Técnicas expiratórias lentas - Técnicas expiratórias forçadas. 64 Plano de Estudo: ● Fundamentação da Força, potência e resistência; ● Exercícios de Força, potência e resistência. Objetivos da Aprendizagem: ● Fundamentar o uso do treinamento da força, potência e resistência muscular à fadiga, estabelecendo as diferenças entre elas; ● Estabelecer a importânciadestas atividades na prática diária do fisioterapeuta; ● Conhecer alguns exercícios terapêuticos de força, potência e resistência muscular à fadiga. UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias 65UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares INTRODUÇÃO Seja bem-vindo a Unidade III da disciplina de Cinesioterapia. Possivelmente, os assuntos que estão sendo tratados aqui são aqueles que proporcionam mais aplicabilidade na prática diária do profissional do movimento: os exercícios terapêuticos de força, potência e resistência musculares. É verdade que já vimos uma introdução deles (na Unidade I) quando discutimos os exercícios ativo-resistidos, porém neste momento iremos aprofundar sua fundamentação e sua aplicabilidade prática, inclusive explicitando alguns exemplos e metodologias utilizadas. Caracteristicamente, o exercício que impõe uma resistência a um determinado seg- mento, parte do corpo ou até mesmo aqueles mais gerais, pretende gerar uma adaptação com consequente ganho de força, potência ou resistência muscular à fadiga. Isto se torna bastante relevante em muitos processos de Reabilitação, visto que é necessário treinar atividades funcionais de vida diária nos indivíduos devido ao fato de que me muitas delas há a resistência imposta. Quando pegamos um objeto pesado no chão e guardamos em determinado guarda roupa, por exemplo, necessitamos ter capacidade de geração de força nos músculos das pernas para agachar-se, no tronco para nos mantermos estáveis no centro e nos membros superiores para pegar, segurar o objeto e levá-lo ao local de interesse. O próprio movimento de deslocamento para a frente (marcha ou deambulação) é uma atividade que dispende energia, em que esforços musculares são necessários. Por isso que muitas crianças com disfunções sensório motoras não iniciam este processo no período normal do desenvolvimento neuropsicomotor (que seria por volta dos 10 aos 12 meses de idade). Portanto, o treinamento deste tipo de atividade, em que uma imposição de uma carga irá permitir esta evolução clínica, torna-se fundamental em muitas ações fisioterapêuticas. 66UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares 1. FUNDAMENTAÇÃO DA FORÇA, POTÊNCIA E RESISTÊNCIA A FADIGA Define-se desempenho muscular como a capacidade do músculo de produzir tra- balho (força x distância), sendo ele um componente complexo do movimento funcional. É influenciado por todos os sistemas corporais (KISNER e COLBY, 2016). Vários fatores afetam o desempenho muscular sendo eles: - Qualidades morfológicas do músculo; - Influências neurológicas; - Bioquímicas; - Biomecânicas; - Funções metabólicas; - Cardiovasculares; - Respiratórias; - Cognitivas; - Emocionais. Para que uma pessoa possa antecipar, responder e controlar as forças aplicadas ao corpo, assim como desempenhar as demandas físicas diárias de modo eficiente e se- guro, os músculos de nosso corpo necessitam ser capazes de produzir, sustentar e regular a tensão muscular, para o fim de sustentar aquelas demandas (KISNER e COLBY, 2016). 67UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares Os elementos fundamentais do desempenho muscular são a força, potência e re- sistência a fadiga. Quando uma destas áreas está comprometida, podem ocorrer limitações na execução de atividades (disfunções ou limitações funcionais) e restrições a participação (incapacidade) ou um risco aumentado de disfunções. Uma lesão articular, uma fratura, uma doença crônica, imobilização, desuso e inatividade podem provocar esse compro- metimento no desempenho muscular, o que leva a fraqueza e atrofia muscular. É neste foco que os exercícios terapêuticos resistidos são considerados como a intervenção ideal para melhorar o uso integrado da força, da potência e da resistência muscular, pois isso vai reduzir o risco de lesões ou recidivas de lesão e potencializarão o desempenho físico (KISNER e COLBY, 2016). É importante relatar que tanto a falta de força quanto a atrofia muscular são parâmetros fundamentais para serem acessados durante a avaliação fisioterapêutica. A verificação da força de um músculo pode ser realizada através do teste muscular manual, que é utilizado para determinar a capacidade de músculos ou de grupos musculares de atuarem o movimento e sua capacidade de prover estabilidade e suporte. Posiciona-se o paciente de forma que há estabilidade suficiente e impõe-se resistência àquele segmento com o intuito de conhecer se aquele músculo ou grupo muscular consegue suportar aquela resistência (KENDALL, et al. 2007). Já a verificação do trofismo muscular é feito de outras formas: pela inspeção, pal- pação ou até mesmo pela perimetria (Figura 1), sendo este último a forma mais fidedigna. Trofismo muscular refere-se ao volume daquele músculo ou segmento (por exemplo, coxa) e é diretamente dependente do uso daquela estrutura. Ou seja, se o músculo for fortemente usado, por um praticante de esporte ou musculação, por exemplo, a tendência é do trofismo aumentar (hipertrofismo). Em contrapartida, em casos em que há desuso da musculatura, por exemplo em acamados nas unidades de terapia intensiva hospitalar, há uma perda do trofismo (hipotro- fismo ou atrofia). Assim, mesmo só ao observar (inspeção), é possível verificar a diferença de volume dos músculos da coxa, por exemplo, pois compara-se um lado com o outro. Ao palpar este músculo também é possível vislumbrar sua consistência e dureza. Porém, é através da perimetria que obtemos o resultado mais objetivo, ou seja, quantitativo. Refere-se a medida do perímetro daquele segmento, ou seja, envolve-se com uma fita métrica o membro superior ou inferior daquele indivíduo numa posição especí- fica pré-definida com o intuito de saber quantitativamente se há diferenças entre os dois membros, e inclusive diferenças entre o início e o fim do tratamento em que técnicas que possibilitariam a melhora do trofismo tenham sido instituídas. 68UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares FIGURA 1 - MEDIDA DO PERÍMETRO NA REGIÃO DO JOELHO Como já vimos, aqueles que proporcionam melhora da força, potência e resistên- cia à fadiga são os exercícios resistidos. São considerados aqueles ativos na qual uma contração muscular dinâmica ou estática é resistida por uma força externa aplicada de modo manual ou mecânico. Vários fatores influenciam o quão apropriado, efetivo e seguro é um exercício ou treinamento resistido e o modo como os exercícios serão elaborados, implantados e progredidos. Necessita-se levar em consideração muitos fatores, como a própria patologia de base do indivíduo; a extensão e a gravidade dos comprometimentos no desempenho muscular; a presença de outros déficits; o estágio de cicatrização dos tecidos após uma lesão ou cirurgia; a idade do paciente; seu nível geral de preparo físico e sua habilidade de cooperar e aprender (KISNER e COLBY, 2016). Voltando a abordar os três elementos fundamentais do desempenho muscular, é importante relatar que, como as demandas físicas do trabalho, da recreação e do cotidiano normalmente envolvem os três aspectos, a maioria dos programas de treinamento que abordam os exercícios resistidos visa obter um equilíbrio entre eles, de modo a atingir a evolução nas necessidades dos indivíduos em questão, atingindo suas metas individuais. 1.1 Força muscular Apesar de ser um termo geral, força muscular se refere a habilidade do tecido contrátil de produzir tensão e uma força resultante baseada nas demandas colocadas sobre o músculo. É a maior força mensurável que pode ser exercida por um músculo ou 69UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares grupamento muscular para vencer a resistência durante um esforço máximo único. Uma força muscular insuficiente pode contribuir paragrandes perdas funcionais, até mesmo nas atividades de vida diária mais básicas (como tomar banho, caminhar, alimentar-se) (KISNER e COLBY, 2016). O treinamento da força muscular é um componente muito utilizado nos programas de reabilitação ou condicionamento para pessoas de qualquer idade e níveis de habilidade, inclusive as com déficits de ordens diversas. Frequentemente chamado de exercícios de fortalecimento, é um procedimento sistemático em que o músculo ou grupamento muscular levanta, abaixa ou controla cargas pesadas (resistência) em um número relativamente baixo de repetições ou por um curto período de tempo. Alcança-se com estes exercícios o aumento na capacidade do músculo de produzir força máxima, ou seja, o aumento na força muscular como resultado de adaptações neurais e do aumento no tamanho das fibras musculares (KISNER e COLBY, 2016). 1.2 Potência muscular Este segundo aspecto do desempenho muscular relaciona-se com a força e a velocidade do movimento. Define-se como o trabalho (força x distância) produzido por um músculo por unidade de tempo (força x distância/tempo). Em termos práticos, é a rapidez com que o trabalho é realizado. Dois são os importantes fatores que afetam a potência muscular: a rapidez com que um músculo se contrai e produz uma força resultante e a rela- ção entre força e velocidade. Exemplos práticos de atividade em que a potência é requerida são: erguer uma mala bem pesada para colocá-la sobre um bagageiro alto ou realizar um salto em altura (KISNER e COLBY, 2016). Como vimos, várias atividades de vida diária contêm movimentos abruptos que envolvem tanto força quanto velocidade, ou seja, potência. Portanto, o restabelecimento desta pode integrar um programa de reabilitação, podendo ser uma prioridade ou não. Em termos práticos e pensando no exercício de trabalho da potência muscular, quanto maior a intensidade do exercício e menor o tempo gasto para gerar força, maior a potência. Um exemplo clássico de trabalho de potência é o treinamento pliométrico (ou ciclos de alongamento e encurtamento) (KISNER e COLBY, 2016). O treinamento pliométrico é muito eficaz para o aumento de força e potência, sendo que utiliza a capacidade de reação do sistema neuromuscular para aumentar os ganhos na potência, partindo de uma contração excêntrica para uma concêntrica; essa característica de potência se dá pelo treinamento do Ciclo Alongamento-Encurtamento (CAE) (ALECRIM et al. 2019). 70UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares 1.3 Resistência muscular à fadiga Apesar de ser um termo bastante amplo, a resistência muscular à fadiga se refere a habilidade de realizar atividades de baixa intensidade, repetitivas ou mantidas por um período prolongado (KISNER e COLBY, 2016). É importante relatar o que abordamos aqui nesta Unidade é a resistência muscular à fadiga e não a cardiopulmonar. A resistência cardiopulmonar à fadiga associa-se a ativi- dades motoras dinâmicas e repetitivas que envolvem o uso de músculos grandes do corpo, tais como caminhar, andar de bicicleta, natação ou a prática de exercícios ergométricos para os membros superiores (KISNER e COLBY, 2016). Já a resistência muscular à fadiga se refere a habilidade de um músculo de con- trair-se repetidamente contra uma carga (resistência), gerar e sustentar tensão e resistir à fadiga durante um período extenso. Informação muito importante para o fisioterapeuta é o fato de que: A manutenção do equilíbrio e do alinhamento apropriados dos segmentos do corpo requer a manutenção do controle (resistência à fadiga) pelos músculos posturais. Esta é uma característica relevante de algumas regiões corporais (KISNER e COLBY, 2016). Vamos a um exemplo e relação clínica: Para que possamos usar nossos membros superiores com eficiência, ou seja, pegar um objeto, realizar movimentos de carregar, apertar, levantar, abaixar, cortar, amarrar, necessitamos dos movimentos dos membros superiores. Porém, pra que isto seja possível, outras regiões precisam ser estabilizadas, neste caso a região escapular e o tronco como um todo. Imagine se isto não acontecesse, o movimento do membro superior seria disforme, ineficiente. Portanto, enquanto realizamos alguma tarefa específica com o braço, vários músculos e grupamentos musculares desem- penham contração isométrica para manter a estabilidade daquela região. Estes músculos necessitam, portanto, muito mais de resistência muscular à fadiga do que força ou potência. Este é o fundamento primordial de todas as técnicas posturais que o fisioterapeuta lança mão nos seus tratamentos: a atividade isométrica. Assim, embora força e resistência muscular à fadiga, como elementos do desem- penho muscular estejam associadas, elas nem sempre se relacionam diretamente. O fato de um grupo muscular ser forte não exclui a possibilidade da resistência à fadiga deste mesmo grupo estar comprometida. Vamos a um exemplo: Um forte trabalhador consegue levantar sem dificuldade um objeto de 5 quilogramas algumas vezes, porém pode ser que não seja capaz, ou seja, não apresente resistência muscular à fadiga suficiente nos mem- bros superiores, nos músculos estabilizadores do tronco e dos membros inferiores para levantar objetos de mesmo peso várias centenas de vezes durante um dia de trabalho, sem fadiga ou risco de lesão (KISNER e COLBY, 2016). 71UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares 1.4 Princípio da sobrecarga Este é um dos princípios mais importantes para a compreensão da importância da prescrição de exercícios terapêuticos de força, potência e resistência a fadiga. Para que o desempenho muscular melhore, é necessário aplicar uma carga que exceda a capacidade metabólica do músculo; ou seja, o músculo precisa ser desafiado a trabalhar em um nível mais alto do que está acostumado. Se a demanda for constante depois de o músculo ter se adaptado, o nível de desempenho muscular pode ser mantido, porém, não será aumentado (KISNER e COLBY, 2016). Através deste princípio, impõe-se cargas progressivas sobre o músculo, manipulan- do, por exemplo, a intensidade ou o volume do exercício, sendo que entende-se como inten- sidade como a resistência que é imposta a ele (peso, por exemplo) e volume como outras variáveis: repetição, séries ou frequência do exercício (KISNER e COLBY, 2016). Veja bem: - Para o treinamento de força, a quantidade de resistência aplicada ao músculo é aumentada aos poucos e de forma progressiva; - Para o treinamento de resistência à fadiga, busca-se enfatizar mais o aumento de tempo daquela contração ou o número de repetições realizadas do que a resistência. Torna-se importante relatar que o fisioterapeuta, muitas vezes, aplica o treinamento de força, potência ou resistência à fadiga num segmento, músculo ou grupo muscular de um indivíduo que é portador de uma patologia de base. Esta deve ser respeitada e cuidada, visto que cada uma apresenta suas características distintas em relação as outras e ao tecido considerado normal. Além disso, há a idade do paciente, o estado de cicatrização dos tecidos, a fadiga, as habilidades e as metas gerais do paciente, que devem ser sempre consideradas no processo. Um paciente mais idoso, por exemplo, responde mais lenta- mente aos estímulos, pode apresentar osteoporose, e por isso, a carga deve ser imposta de forma mais cuidadosa e talvez até mais lentamente do que num indivíduo jovem. 1.5 Princípio AEDI Da sigla: Adaptação específica às demandas impostas, este princípio prega que a especificidade é fundamental para a elaboração dos programas de exercícios terapêuticos. Trata-se de uma extensão da Lei de Wolff (com o tempo, os sistemas corporais se adaptam às cargas colocadas sobre eles) e se aplica a todos os sistemas do corpo. Baseia-se no fato de que demandas específicas devem ser tratadas de forma específica, visto que, com este treinamento, adequa-se maisas necessidades e metas funcionais (KISNER e COLBY, 2016). 72UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares Desta forma, sempre que possível, os exercícios incorporados em um programa devem simular a função que se espera melhorar. Por exemplo, se a atividade funcional desejada requer mais resistência muscular à fadiga do que força, a intensidade e a duração dos exercícios devem ser planejadas para melhorar a resistência muscular à fadiga (KIS- NER e COLBY, 2016). Além disso, a especificidade é considerada também com relação ao modo (tipo de exercício), à velocidade do exercício, à posição do paciente ou membro (ângulo articular) e ao padrão de movimento durante o exercício. Um exemplo seria: Se o objetivo é conseguir subir e descer escadas, o treinamento realizado através dos exercícios deve ser feito de modo excêntrico e concêntrico em um padrão de apoio de peso e progredidos para a velo- cidade desejada. 1.6 Princípio da reversibilidade Refere-se ao destreinamento, que se reflete por uma redução no desempenho muscular. Começa após 1 ou 2 semanas da interrupção dos exercícios resistidos e con- tinua até os efeitos do treinamento serem perdidos. Desta forma, é fundamental que os ganhos de força e resistência à fadiga sejam incorporados às atividades diárias o mais cedo possível em um programa de reabilitação, o que pode prevenir este destreinamento, visto que o uso da musculatura se torna continuado. Além disso, é aconselhável que os pacientes participem de um programa de manutenção destes parâmetros com exercícios resistidos, um componente integral do programa de preparo físico permanente. Nós, como fisioterapeutas, orientamos frequentemente que os indivíduos que estejam de alta da nossa ação, realizem atividades orientadas com outros profissionais do movimento, como os da educação física (KISNER e COLBY, 2016). 1.7 Fatores que influenciam a geração de tensão no músculo esquelético normal Alguns fatores, mas sempre muito relacionados, afetam a capacidade do músculo esquelético de gerar a tensão necessária para controlar o corpo e realizar tarefas motoras, o que incluem fatores morfológicos, biomecânicos, neurológicos, metabólicos e bioquími- cos. Todos eles contribuem para a magnitude, duração e velocidade de produção de força e para a resistência ou suscetibilidade do músculo à fadiga. Os fatores são: - Área de secção transversa e tamanho do músculo, incluindo número e tamanho das fibras musculares, sendo que quanto mais largo o diâmetro muscular, maior sua capa- cidade de gerar tensão; 73UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares - Arquitetura muscular, arranjo e comprimento das fibras (também relacionado com o diâmetro transverso do músculo), sendo que fibras curtas com desenho de pena e multipenado nos músculos produzem forças elevadas (como o quadríceps, gastrocnêmio, deltoide e bíceps braquial) e aqueles músculos com desenho longo e paralelo apresentam alta capacidade de encurtamento, porém menor produção de força (por exemplo o Sartório e os lumbricais); - A distribuição dos tipos de fibras no músculo, sendo do tipo I (tônicas, de contração lenta) e tipo IIA e IIB (fásicas, de contração rápida), sendo que quando o músculo é composto por altos percentuais de fibras do tipo I, há baixa produção de força, baixa velocidade de desen- volvimento de força máxima e boa resistência à fadiga; porém aqueles em que o percentual de fibras do tipo IIA e IIB é alto, há rápida produção de forças elevadas, porém rápida fadiga; - A relação comprimento-tensão do músculo no momento da contração, sendo que o músculo produz maior tensão quando está na posição fisiológica de repouso, ou perto dela, no momento da contração; - O recrutamento de unidades motoras, sendo que quanto maior o número de uni- dades motoras e a sincronização dos disparos, maior é a produção de força; - A frequência de disparos das unidades motoras, sendo que quanto maior a fre- quência de disparo, maior a tensão; - O tipo de contração muscular, sendo que a produção de força é maior na contração muscular excêntrica, seguida da isométrica e depois da concêntrica; - A velocidade da contração muscular (relação força-velocidade), sendo que na contração concêntrica, quanto maior a velocidade, menor a tensão. Já na contração excên- trica, quanto maior velocidade, maior a tensão; - Outros fatores também descritos: reservas disponíveis de energia no músculo, in- fluência da fadiga, a recuperação do exercício, a idade, o sexo e o estado psicológico/cognitivo do paciente também afetam a habilidade do músculo de desenvolver e manter a tensão. SAIBA MAIS Estudos científicos publicados têm reforçado a prática de que, mesmo em idades avan- çadas, a realização de exercícios resistidos têm consequências muito positivas na fun- ção física e psicológica destes idosos (Figura 2). Fonte: O autor (2021). 74UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares FIGURA 2 - IDOSO REALIZANDO EXERCÍCIO RESISTIDO 1.8 Adaptações fisiológicas ao exercício resistido É importante relatar que a aplicação dos exercícios resistidos, tanto na reabilitação, quanto nos programas de condicionamento impactam substancialmente em todos os siste- mas do corpo. O exercício é importante tanto para aqueles pacientes com comprometimento muscular e pessoas que desejam melhorar ou manter seu nível de preparo físico, quanto para melhorar o desempenho ou reduzir o risco de lesões. Quando são impostas resistências apropriadas, maiores do que as usuais, de forma cuidadosa, há variadas respostas fisiológicas agudas e logo após, uma adaptação. Ou seja, com o tempo, os sistemas do corpo se acomodam às demandas físicas recém-impostas. São estas adaptações ao excesso de carga que criam alterações no desempenho muscu- lar e, em parte, determinam a efetividade de um programa de treino resistido (KISNER e COLBY, 2016). 1.8.1 Adaptações neurais O ganho inicial rápido na capacidade do músculo esquelético de gerar tensão é atribuído a adaptações neurais, ou seja, ocorre um aumento na atividade neural. Isto se deve ao aprendizado motor e à melhora da coordenação e inclui aumento do recrutamento de unidades motoras em disparo, assim como uma taxa e sincronização de disparo au- mentadas. Há uma diminuição na função inibitória do Sistema Nervoso Central (SNC), na sensibilidade do órgão tendinoso de Golgi (OTG) ou alterações na junção mioneural da unidade motora (KISNER e COLBY, 2016). 75UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares 1.8.2 Adaptações do músculo esquelético A capacidade do músculo de produzir tensão está diretamente relacionada com a sua área de secção transversa (como já vimos aqui). Desta forma, a hipertrofia é um aumento no tamanho (volume) de uma fibra muscular individual causado por um aumento no volume miofibrilar. Tem sido relatado uma importante hipertrofia, em geral, de 4 a 8 semanas de treinamento com intensidade moderada a alta e em 2 a 3 semanas com inten- sidade muito elevada (KISNER e COLBY, 2016). Esta hipertrofia ocorre devido ao aumento na síntese de proteína e da diminuição na degradação de proteínas (actina e miosina), sendo também associada a alterações bioquímicas que estimulam a captação de aminoácidos (KISNER e COLBY, 2016). Os exercícios excêntricos têm sido descritos como aqueles em que há maior sín- tese de proteínas e, portanto, de hipertrofia, sendo moderados em grande volume. Além disso, as fibras musculares do tipo IIB são aquelas que parecem aumentar de tamanho mais prontamente com o treinamento resistido. A hiperplasia também tem sido estudada como uma adaptação do músculo es- quelético ao exercício resistido, sendo essa um aumento no número de fibras musculares. Ainda não há um corpo de evidências que a determinam como fator primordial. Em relação a adaptação dos tipos de fibras musculares, já vimos que aquelas do tipoIIB parecem ser estimuladas mais prontamente à hipertrofia no treino pesado. Há também um substancial grau de plasticidade nas fibras musculares com respeito às propriedades contráteis e metabólicas. Assim, parece haver uma transformação do tipo IIB para o tipo IIA com o treinamento de resistência física (KISNER e COLBY, 2016). 1.8.3 Adaptações vasculares e metabólicas No caso do trabalho de força e potência, quando os músculos se hipertrofiam com o treinamento de alta intensidade e baixo volume, a densidade dos leitos capilares diminui devido ao aumento no número de miofilamentos por fibra. Já no caso da resistência à fadiga, ocorre ao contrário. Também ocorre a diminuição na densidade de mitocôndrias, devido a uma redução na capacidade oxidativas do músculo (KISNER e COLBY, 2016). 1.8.4 Adaptações dos tecidos conjuntivos Parece que a força tênsil dos tendões, ligamentos e ossos aumenta com o treina- mento resistido elaborado para melhorar a força ou a potência dos músculos. No caso dos tendões, esta melhora ocorre na junção musculo-tendínea, local tão frequente em rupturas. Isto se torna especialmente importante para o fisioterapeuta compreender que esta adapta- ção previne estas complicações, quadros clínicos muito frequentes na prática clínica deste profissional (KISNER e COLBY, 2016). 76UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares REFLITA Quem não conhece alguém que já sofreu ruptura de algum tendão? Os mais frequentes na prática clínica do fisioterapeuta são: do manguito rotador no ombro, especialmente do músculo supraespinhal, e do tendão calcâneo (do músculo tríceps sural, sendo gas- trocnêmio e sóleo). Fonte: O autor (2021). Já nos ossos, acredita-se que o aumento de força advindo dos exercícios resistidos se dê na interface ligamento-osso. Esta adaptação ocorre em resposta ao treinamento resistido para suportar a força adaptativa e as mudanças no tamanho do músculo. O tecido conjuntivo no músculo (em torno das fibras musculares) também fica mais espesso, dando mais suporte às fibras alargadas. Quanto aos ossos, há alta correlação entre força muscular e nível de atividade física ao longo da vida com a variação da densidade mineral óssea. Assim, atividades físicas e exercícios, especialmente aqueles em posições de apoio de peso são muito recomendados para minimizar ou prevenir a perda óssea relacionada a idade. Isto reduz o risco de fraturas. Com o aumento da expectativa de vida, a osteoporose é cada vez mais diagnos- ticada, tanto em mulheres quanto em homens no mundo. Esta é uma doença metabólica generalizada que se caracteriza por menor aposição óssea devido à insuficiência osteo- blástica, com redução da massa óssea por unidade de volume e de etiologia multifatorial (OCARINO e SERAKIDES, 2006). 1.9 Determinantes dos exercícios resistidos Para determinar e indicar um programa de exercícios ou treinamento resistido apropriado, efetivo e seguro, há muitas variáveis importantes a serem consideradas. Pri- meiro ponto que deve ser abordado: O programa de treinamento resistido é uma parte da reabilitação para pessoas com comprometimentos diversos no sistema esquelético, tanto ortopédicos, traumáticos, neurológicos, pediátricos, cardiovasculares, dermatológicos, entre outros; e inclusive em pessoas saudáveis deve ser visto como parte do treinamento. Atividades de mobilidade, equilíbrio, propriocepção, entre outras também devem ter espaço em programas que desejam melhora física. Cada fator que será abordado aqui é um modo pelo qual o músculo pode ser pro- gressivamente sobrecarregado para melhorar seu desempenho. 77UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares 1.9.1 Alinhamento e estabilização Determinantes fundamentais não apenas dos exercícios resistidos, um alinha- mento correto e uma estabilização efetiva são elementos básicos para todo e qualquer exercício controlado. Como vimos na Unidade II desta apostila, também são importantes para os alongamentos. Desta forma, quando se busca fortalecer um músculo ou grupamento muscular específico (que também chamamos de músculo-alvo), deve-se evitar movimentos compen- satórios, posicionar o corpo e alinhar o membro ou segmento de modo apropriado. O alinhamento correto é determinado pela direção das fibras musculares e a linha de tração do músculo-alvo. O paciente é posicionado de uma forma que a direção do seu movimento simule a ação do músculo ou grupo muscular requerido para aquela atividade. Exemplo muito relevante para a prática clínica se dá no fortalecimento do músculo glúteo médio, sendo este um importante abdutor do quadril. O seu fortalecimento correto se dá pelo movimento da abdução com leve extensão do quadril e resistência, com a pelve leve- mente rodada para a frente, visto que suas fibras têm esta direção, além do que se a leve flexão for imposta, outros músculos são focados, como o tensor da fáscia lata, por exemplo (KISNER e COLBY, 2016). O bom alinhamento em relação a gravidade também se configura como importante para que a sobrecarga no músculo-alvo ocorra de forma coerente e fisiológica. O paciente ou o membro deve ser posicionado de modo que o músculo que está sendo fortalecido se contraia contra a resistência da gravidade, acrescido da resistência externa, por exemplo, pesos ou resistência elástica, dependendo da condição em que o indivíduo se encontra. Tomando como base o mesmo exemplo do fortalecimento do glúteo médio, o exercício deve ocorrer em decúbito lateral para que a abdução ocorra por meio da ADM completa contra a gravidade e, se for o caso, da resistência extra (KISNER e COLBY, 2016). A estabilização se refere a manutenção estável do corpo ou de um dos seus seg- mentos. Assegura-se assim, uma boa ação muscular e o padrão de movimentos corretos, assim como evitar movimentos compensatórios indesejados (KISNER e COLBY, 2016). A estabilização pode ser externa ou interna, sendo que a primeira pode ser aplicada manualmente pelo fisioterapeuta, pelo próprio paciente, ou por faixas e bandas, por super- fícies estáveis com apoio firme, encosto de uma cadeira, por exemplo. Já a estabilização interna é obtida pela contração isométrica de um grupamento muscular adjacente que não participa do padrão do movimento específico, mas mantém firmemente no lugar o segmen- to do corpo em que está a inserção proximal do músculo-alvo. Por exemplo, ao realizar-se 78UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares uma elevação das duas pernas com os joelhos estendidos na posição do decúbito dorsal (flexão bilateral dos quadris com os joelhos estendidos), os músculos abdominais se con- traem para estabilizar a pelve e a região lombar da coluna vertebral enquanto os flexores do quadril levantam as pernas (KISNER e COLBY, 2016). 1.9.2 Intensidade Refere-se a carga imposta a atividade. Se a resistência for fixa, pode ser vista como a quantidade de resistência (peso) imposta ao músculo em contração durante cada repeti- ção de um exercício. Vale lembrar que o peso fixo (por exemplo, de 3 quilogramas) não é a única forma de resistência a ser imposta nos exercícios resistidos. A resistência elástica tem sido fortemente utilizada nos processos reabilitativos gerais e específicos, além da resistência manual do fisioterapeuta, resistência hidráulica, pneumática, isocinética, entre outras (KISNER e COLBY, 2016). É importante lembrar que já discutimos aqui o princípio da sobrecarga, sendo que para que um músculo melhore em desempenho, é necessário ser sobrecarregado até uma quanti- dade maior do que cargas habituais. Assim, um modo de sobrecarregar progressivamente um músculo é aumentar, de forma gradual, a quantidade de resistência usada no programa. Vale ressaltar aqui que, a intensidade do exercício resistido nunca deve ser elevada a ponto de causar dor, visto que os riscos cardiovasculares aumentam substancialmente. É necessária umamanutenção do padrão do movimento e uma respiração rítmica em cada repetição dos exercícios para minimizar estes riscos cardiovasculares. Existem várias formas de determinar a carga de um exercício resistido. A repetição máxima é a que iremos abordar aqui. Relatado por DeLorme, uma repetição máxima (RM) é definida como a maior quantidade de peso (carga) que um músculo pode mover ao longo da ADM disponível por um número específico de vezes antes de fatigar. Ela se torna espe- cialmente importante para identificar uma carga de exercício resistido coerente e específica para cada pessoa, grupo muscular ou atividade específica, mais ainda no início do processo de reabilitação. O uso de 1 RM, ou seja, a maior quantidade de peso que uma pessoa pode levantar ao longo da ADM disponível apenas uma vez é uma das possibilidades de uso, mais especificamente em pesquisas científicas (KISNER e COLBY, 2016). Vale lembrar que o fisioterapeuta deve considerar se o paciente é apto naquele mo- mento específico a realizar, ou seja, impor a ele uma carga que possivelmente irá requerer um esforço máximo para levantar. Isto é especialmente perigoso e inseguro em pacientes com comprometimentos articulares, em recuperação de tecidos moles ou que apresentem risco para tais lesões, ou aqueles com osteoporose ou patologias cardíacas, vasculares, conhecidas ou potenciais (KISNER e COLBY, 2016). 79UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares Outra forma descrita tem sido o fisioterapeuta estabelecer uma quantidade especí- fica de peso e documentar quantas repetições podem ser feitas ao longo da ADM completa antes que o musculo entre em fadiga. Se, por exemplo, foram completadas seis repetições, a resistência basal pode ser estabelecida em 6 RM. Após isto se torna importante estabelecer a zona de treinamento que será utilizada para a atividade propriamente dita. Estabelece-se um percentual de 1 RM para um grupo muscular em particular. No início do treinamento a porcentagem não necessita ser alta (de 30 a 40%) para pessoas sedentárias e não treinadas, porém para indivíduos treinados deve ser alta, podendo chegar a 80% de 1 RM. Em casos patológicos, o percentual mais baixo é uma faixa mais segura no início do programa, especialmente para que o foco seja o aprendizado da forma e da técnica corretas do exercício ou da tarefa antes de progredir a carga (KISNER e COLBY, 2016). 1.9.3 Volume Outro ponto importante a ser considerado é o volume do treinamento, no qual ca- racteriza-se pela soma do número total de repetições e séries de um exercício em particular durante uma única sessão de exercícios, multiplicada pela resistência usada (KISNER e COLBY, 2016). O número de repetições de determinado exercício também deve ser considerado e é o número de vezes que um movimento é repetido. Antigamente, usava-se várias séries de um número de repetições padrão, como 3 séries de 10 repetições. Mas hoje a tentativa é sempre estabelecer uma carga e um número de repetições que sobrecarregue o músculo, independentemente do número de repetições. É muito melhor realizar um exercício bem feito, coordenado, com um padrão ótimo de movimento e sem compensações por 4 ou 5 repetições do que realizar 20 ou 30 vezes sem estas características. O ajuste deste critério deve ser constante. Este exemplo é focado no objetivo de ganho de força. Porém, quando o intuito é melhorar a resistência à fadiga, quanto maior o número de séries e repetições, melhor. 1.9.4 Ordem dos exercícios A ordem dos exercícios também importa no programa de reabilitação. Os maiores grupos musculares devem ser trabalhados no início da sessão, ou seja, passando dos multiarticulares para os uniarticulares (KISNER e COLBY, 2016). 80UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares 1.9.5 Frequência Outro critério citado é a frequência da atividade, que se refere ao número de sessões de exercício por dia ou por semana. É diretamente dependente da intensidade, volume, metas do paciente, seu estado geral de saúde, participação prévia em programa de exercícios, resposta ao treinamento e até a característica do processo de reabilitação ou cicatrização. Também não há padrão para o número de sessões por semana, visto que estes critérios devem ser considerados. Por exemplo, num processo de reabilitação pós operatória do Manguito rotador, após 6 semanas, é necessário sessões de Fisioterapia diariamente, já que os exercícios de fortalecimento estão sendo introduzidos no programa. Quanto mais próximo da alta fisioterapêutica, sendo que o paciente já se encontra com melhor capacidade muscular e força, as sessões podem ser espaçadas, também conside- rando o descanso entre elas como importante. 1.10 Diferentes metodologias do exercício ativo resistido / Tipos de exercícios resistidos Como já visto, a execução de um exercício ativo determina que ocorra uma contração daquele músculo ou grupamento muscular. Uma contração muscular pode ser isotônica, isométrica ou isocinética, porém esta última só é realizada especificamente com a resistência de um equipamento. Desta forma, iremos abordar aqui as duas primeiras, as mais utilizadas na prática clínica. No exercício ativo, quer seja ele assistido, livre ou resistido, realiza-se uma con- tração, sendo a mais comum a isotônica, aquela que ocorre movimento articular gerado pela contração concêntrica e/ou excêntrica. Neste momento a força gerada pelo músculo é superior à proporcionada pela força da gravidade (se naquele movimento específico a re- sistência da gravidade estiver incidindo) e à resistência dos segmentos esqueléticos, o que provoca contração do músculo e consequente aproximação (ou afastamento) ao segmento esquelético que movimenta. Este tipo de exercício ou contração é amplamente difundido e executado pois várias regiões e articulações do corpo humano necessitam de movimento. Para pegarmos um objeto, por exemplo, alcançar um copo e tocá-lo na boca, necessitamos de movimento. Portanto, nada mais coerente do que trabalhar com exercícios isotônicos de variados padrões de movimento, ou seja, articulações e músculos que, caracteristicamente executam o dia todo estes movimentos. 81UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares O exercício isotônico pode ser concêntrico, quando a contração provoca uma di- minuição no comprimento muscular, ou seja, uma aproximação das peças ósseas por ele unidas, origem e inserção; ou excêntrico, quando durante a contração ocorre um aumento no comprimento muscular com afastamento das peças ósseas por eles unidas, ou seja, um distanciamento entre origem e inserção, quando o movimento é freado. Este último apresenta algumas vantagens, como: aumento da capacidade produtora de força e da eficiência; porém também desvantagens: aumento da Pressão arterial e maior risco de microtraumas. De maneira prática, num exercício isotônico sempre há o momento concêntrico e o momento excêntrico. Quando por exemplo o fisioterapeuta solicita que seu paciente execute um movimento de fletir o cotovelo com uma carga fixa na mão (um halter de 1 quilograma), quando ele flete o cotovelo, o antebraço se aproxima do segmento úmero, os músculos flexores do cotovelo (especialmente bíceps braquial) se comportam gerando a força concêntrica, sendo que sua origem e inserção se aproximam. Assim, este é um momento ou exercício ativo resistido isotônico concêntrico, porém, o retorno do braço para a posição inicial também deve ocorrer, ou seja, o momento que o cotovelo retorna no sentido da extensão. Nesta fase do exercício, o mesmo músculo (bíceps braquial) freia o movimento, pois o peso de 1 quilograma acrescido do próprio peso do braço e da gravidade já tendem a levar o braço para baixo. Desta forma, para que o movimento seja coordenado, o bíceps deve contrair freando o movimento, ou seja, neste momento suas fibras estão seesticando, distanciando a origem da inserção. Este é o momento excêntrico, ou seja, contração ou exercício ativo resistido isotônico excêntrico. Há outras formas de dar ênfase na fase excêntrica de determinados exercícios, sendo inclusive descritos alguns nomes na literatura. Porém, são utilizados em casos e quadros clínicos mais específicos e em fases de tratamento mais avançadas. 1.11 Princípios gerais do treinamento resistido Para que o objetivo de ganho de desempenho muscular seja alcançado, é necessário utilizar alguns princípios que o embasam. O primeiro ponto é a necessidade de um exame e avaliação. Não é possível determinar objetivos, conhecer o caso, compreender o que é necessário e possível naquele momento do processo de reabilitação sem uma avaliação criteriosa e cuidadosa do movimento, do paciente, do quadro patológico, entre outras: é a própria avaliação fisioterapêutica, momento tão relevante da ação deste profissional do mo- vimento. Além da avaliação, reavaliações periódicas, com os mesmos critérios da primeira avaliação também são imprescindíveis, com o intuito de verificar o impacto das intervenções, sendo a partir daí dado o seguimento necessário: a alta fisioterapêutica ou a continuidade do tratamento com os mesmos parâmetros antes utilizados ou modificação destes. 82UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares Também é necessário um preparo para os exercícios resistidos. Indicar corretamen- te, preparar os pesos, cargas e resistências também se configura como momento relevante. Só aí que será possível aplicá-los, a partir de um aquecimento, um bom posicionamento do paciente, da resistência, uma direção correta da resistência, uma boa estabilização, com intensidade e quantidade de resistência corretas, com número de repetições, séries e intervalos de repouso coerentes, com boas instruções verbais, seguido do desaquecimento (KISNER e COLBY, 2016). 1.12 Precauções e contraindicações para os exercícios resistidos Algumas precauções são necessárias para que o objetivo seja alcançado e que isto ocorra de forma segura para o paciente e fisioterapeuta. A manobra de Valsalva é a primeira delas, sendo definida como um esforço expiratório contra uma glote fechada, sendo necessário que seja evitada durante os exercícios, pois ela aumenta as pressões intra-abdominal e intratorácica, o que por sua vez, força o sangue para fora do coração, causando um aumento abrupto e temporário da pressão arterial (KISNER e COLBY, 2016). Os movimentos compensatórios também devem ser evitados, tanto para que o músculo alvo seja diretamente ativado durante a atividade, quanto para prevenir lesões ou disfunções que podem ser provocadas ou iniciadas em articulações próximas, tecidos musculares ou tendíneos próximos. O treinamento e esforço excessivos também deve ser evitado, o que poderia pro- vocar complicações, além de cuidados em relação a dor muscular induzida por exercícios. Contraindicações ao uso dos exercícios resistidos são: - Dor articular ou muscular intensa durante movimentos ativos livres; - Processo inflamatório agudo ou aquele que limita o movimento e impede um movimento harmônico e controlado; - Doença cardiopulmonar grave. 83UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares 2. EXERCÍCIOS DE FORÇA, POTÊNCIA E RESISTÊNCIA 2.1 Exercícios com resistência manual Configura-se como um tipo de exercício resistido em que a carga/ resistência é dada pelo fisioterapeuta ou outro profissional do movimento, sendo que por isto essa não pode ser medida. Apesar disso, é uma técnica útil nos estágios iniciais de um programa de exercícios, especialmente quando o músculo está fraco e é necessário uma ótima es- tabilização para que ele ocorra, além da aprendizagem do movimento ou tarefa ser mais relevante do que a carga propriamente dita. Ademais, a ADM pode ser melhor controlada. 2.2 Exercícios com resistência mecânica Neste tipo de exercício, a resistência é dada por meio de equipamentos ou aparelhos mecânicos, sendo que desta forma ela pode ser medida quantitativamente e progredida ao longo do tempo ou do processo de reabilitação. É útil quando a quantidade de resistência necessária é superior àquela que o fisioterapeuta pode aplicar manualmente (KISNER e COLBY, 2016). 2.3 Exercícios isométricos e posturais O exercício isométrico ocorre quando o músculo ou grupamento muscular se contrai produzindo força, porém sem uma mudança apreciável no seu comprimento, sem movi- mento articular. É uma alternativa muito interessante em muitos processos de reabilitação, 84UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares visto que em muitos casos, as articulações envolvidas apresentam limitações, rigidez, são dolorosas ao movimento ou o exercício isotônico ou isocinético poderia aumentar estas quei- xas. Então, o exercício isométrico torna-se corriqueiro na ação do fisioterapeuta na prática clínica. Há ganhos de força, percepção e controle neuromuscular com este tipo de exercício e ele é relevante quando aplicado particularmente em regiões ou músculos de característica tônica, ou seja, apresentam mais fibras do tipo I, ou seja, aqueles músculos que se mantém contraídos por um longo período de tempo para estabilizar as posições corporais. Desta forma, algumas estruturas e regiões do nosso corpo apresentam caracte- rísticas distintas, por exemplo, a necessidade de maior estabilização, justamente para que outras possam executar os movimentos mais amplos. Um grande exemplo é nossa coluna vertebral. Na posição ortostática, por exemplo, quero abrir a geladeira e pegar uma jarra de suco para posteriormente colocá-la num copo e tomá-lo. Durante toda esta ação, a mus- culatura das costas (dorso lombar, extensora) está contraindo para manter a posição da minha coluna estável, o que permite que outros músculos façam os movimentos que desejo para que eu consiga executar a função. Como já vimos, os músculos do membro superior, em sua maioria neste exemplo estão realizando contrações isotônicas, mas os das costas também estão contraindo, porém de forma estática. Esta é a contração isométrica. Esta é a base do exercício postural (Figura 3), visto que esta é uma importante ca- racterística da coluna vertebral. Portanto, técnicas posturais usam os exercícios isométricos com o intuito de fortalecer de forma fisiológica e funcional estes músculos. Nestes músculos, portanto, é muito mais importante este tipo de exercício, que foca o ganho de resistência à fadiga, em detrimento dos exercícios que promovem ganho de força e de potência. FIGURA 3 - EXERCÍCIO ISOMÉTRICO / POSTURAL 85UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares É possível executar muitos exercícios isométricos com ou sem equipamentos. Por exemplo, isométricos em múltiplos ângulos podem ser feitos contra resistência manual ou simplesmente fazendo o paciente empurrar um objeto fixo, a parede. No caso dos exer- cícios posturais, o próprio auto crescimento, solicitação e voz de comando frequente do fisioterapeuta durante a atividade já solicita a contração isométrica e específica do músculo ou grupo muscular alvo. Além disso, é muito importante a orientação da respiração, que deve ser rítmica, enfatizando a expiração durante a contração, visto que é muito comum o indivíduo prendê-la durante o exercício isométrico (apneia momentânea), o que poderia provocar uma resposta pressórica decorrente da manobra de Valsalva e levar a um aumento rápido na pressão arterial, o que não é bem-vindo no processo (KISNER e COLBY, 2016). 2.4 Exercício dinâmico: Concêntrico e excêntrico É o tipo de exercício em que uma contração muscular dinâmica causa movimento articu- lar e a excursão de um segmento do corpo enquanto o músculo se contrai e encurta (contração muscular concêntrica) ou se alonga sob tensão (ação muscular excêntrica). Da mesma forma que o isométrico,a carga imposta neste tipo de atividade pode ser variada: o peso do corpo do paciente, um peso livre, um sistema de polias, uma máquina, um dispositivo isocinético, uma resistência elástica, hidráulica, pneumática, entre outras (KISNER e COLBY, 2016). Como já vimos, uma combinação de ação muscular concêntrica e excêntrica é evidente em incontáveis tarefas da vida diária, como ao subir e descer rampas, escadas, levantar uma cadeira e sentar-se novamente ou recolher um objeto e devolvê-lo ao chão. Assim, é fortemente indicado uma variedade de exercícios concêntricos e excêntricos em uma progressão da reabilitação para pacientes com desempenho muscular comprometido, visando a melhorar a força, potência ou resistência muscular e para suprir as demandas funcionais necessárias (KISNER e COLBY, 2016). Nos últimos anos, o exercício excêntrico ou com foco excêntrico tem ganhado espaço nas Clínicas, academias e campos de esportes diversos, visto que o treinamento excêntrico em particular é considerado um componente essencial dos programas de reabilitação após lesão musculoesquelética ou cirurgia e em programas de condicionamento para reduzir o risco de lesão ou de novas lesões associadas com atividades que envolvam desaceleração de alta intensidade e mudanças rápidas de direção ou contrações musculares excêntricas repetitivas (KISNER e COLBY, 2016). 86UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares 2.5 Exercício dinâmico: resistência constante ou variável Este tipo de exercício pode ser aplicado contra uma resistência constante, por exemplo, com pesos ou equipamentos ou contra uma resistência variável, por exemplo, um elástico (Figura 4), que quanto mais se deforma, mais resistência produz. Neste último caso, a resistência, portanto, é alterada ao longo da amplitude, podendo ser também por mecanismos hidráulicos ou pneumáticos. FIGURA 4 - EXERCÍCIO QUE UTILIZA RESISTÊNCIA ELÁSTICA 2.6 Exercício isocinético É uma forma de exercício dinâmico em que a velocidade de encurtamento ou alongamento do músculo, assim como a velocidade angular do membro são predetermi- nadas e mantidas constantes por um dispositivo limitador de velocidade conhecido como dinamômetro isocinético (KISNER e COLBY, 2016). Como já vimos, o termo isocinético (contração isocinética) se refere ao movimento que ocorre com uma velocidade angular constante e uma resistência variável, diretamente dependente da força que o indivíduo aplica ao aparelho. Uma desvantagem deste tipo de exercício se configura pelo alto valor do equipamento (Figura 5). FIGURA 5 - EXERCÍCIO ISOCINÉTICO 87UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares 2.7 Exercício em cadeia cinética aberta ou fechada Os exercícios podem ser classificados em tipos também sob outros critérios. A clas- sificação estudada a partir de agora será quanto a cadeia cinética. O termo cadeia surgiu na análise de sistemas articulados em engenharia, porém empregado para o corpo humano já em 1955, visto que nosso organismo nada mais é que uma série de segmentos rígidos co- nectados por articulações. Durante o final da década de 1980, os clínicos e pesquisadores em reabilitação que estavam se familiarizando com a abordagem de cadeias cinéticas (ou cinemáticas) abertas e fechadas para classificar os movimentos humanos, começaram a descrever os exercícios com base nesses conceitos (KISNER e COLBY, 2016). Desta forma, o exercício é classificado em cadeia cinética aberta ou fechada. O primeiro se refere aquele no qual a extremidade distal esteja movendo-se livremente no espaço, sendo que este se move em torno do proximal. Um exemplo deste exercício é o uso de um halter fixo na mão e o movimento que ocorre é o fletir o cotovelo e retornar para a posição inicial, pois a região distal (neste caso a mão) está livre. Já o exercício em cadeia cinética fechada é aquele no qual a extremidade distal esteja fixa, portanto, quem se move é o segmento proximal. Um exemplo deste exercício é um agachamento, pois os pés ficam fixos. Acredita-se que estes últimos sejam mais funcionais, já que promovem a descarga de peso nas diferentes estruturas, estimulam os mecanorreceptores, a co-contração, a melhora da proteção articular e ainda alterando-se a cadeia cinética de um movimento podemos estar alterando a dinâmica articular e o recruta- mento muscular (KISNER e COLBY, 2016). Um exemplo clássico de exercício em cadeia cinética fechada é o agachamento (Figura 6), amplamente utilizado na prática clínica de vários profissionais do movimento. Estimula vários grupamentos musculares, é funcional, promove ganho de capacidade contrátil, força, resistência à fadiga (conforme é realizado), é possível impor resistências diversas, entre outras vantagens. FIGURA 6 - AGACHAMENTO 88UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares A percepção consciente da posição ou movimento articular é um dos fundamentos do aprendizado motor durante a fase inicial do treinamento para controle neuromuscular dos movimentos funcionais. Após uma lesão de tecidos moles ou articulares, a proprio- cepção e a cinestesia são afetadas e alteram o controle neuromuscular. Desta forma, o restabelecimento e o uso efetivo e eficiente das informações sensoriais para iniciar e con- trolar o movimento são altas prioridades na reabilitação. Acredita-se que o treinamento em cadeia cinética fechada proporcione mais feedback proprioceptivo e cinestésico do que os exercícios em cadeia cinética aberta (KISNER e COLBY, 2016). Se o objetivo for acrescer o trabalho de equilíbrio e controle postural, a escolha óbvia é o exercício em cadeia cinética fechada, sendo que estes são componentes do processo reabilitativo de muitos quadros clínicos comuns nas ações fisioterapêuticas. Uma fonte de discordância é se o apoio de peso é um componente inerente dos movimentos em cadeia cinética fechada. Outro ponto de ambiguidade é se o segmento distal precisa estar absolutamente fixo em uma superfície para ser classificado como mo- vimento em cadeia fechada. Nas nossas atividades de vida diária executamos movimentos diversos, tanto em cadeia cinética aberta quanto fechada. Agachar-se para pegar um objeto no chão significa realizar um movimento em cadeia cinética fechada nos membros inferiores e em cadeia cinética aberta nos superiores, por exemplo. Portanto, é o objetivo do Fisioterapeuta que determinará qual metodologia será utilizada para o treino destas funções, sempre pautadas nas características da própria atividade em questão. 2.8 Outros tipos de exercícios Há diversos outros tipos de exercícios, sintetizados a seguir: - Exercícios que utilizam a Facilitação Neuromuscular proprioceptiva, sendo esta uma abordagem de exercício terapêutico que combina padrões diagonais funcionais de movimento com técnicas de facilitação neuromuscular para evocar respostas motoras e melhorar o controle e a função neuromuscular (KISNER e COLBY, 2016); - Treinamento pliométrico, sendo este realizado com estímulos ao ciclo alongamen- to-encurtamento. É comumente associado a treino com saltos, mas não apenas isto; - Treinamento aquático, sendo realizado dentro de uma piscina terapêutica, em que propriedades físicas da água atuam sobre os corpos, o que determina diferenças muito importantes daqueles exercícios utilizados no solo. 89UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim desta terceira unidade da disciplina de Cinesioterapia. Discutimos aqui os exercícios resistidos e consideramos que eles são parte fundamental do processo de reabilitação de muitos quadros clínicos que o fisioterapeuta aborda em sua prática profissio- nal. Por isso, a importância de conhecer alguns aspectos relevantes de sua fundamentação. Aprendemos que há diferenças entre força, potência e resistência muscular à fadiga; que cada região, músculo, grupamento muscular ou função apresentasua caracte- rística. Portanto, para indicar e estabelecer um treinamento resistido com o intuito de me- lhora no desempenho muscular é necessário focar em quais destes que sejam relevantes. Por exemplo, se você é fisioterapeuta de um time de futebol e necessita prevenir lesões comuns que ocorreram na temporada anterior especificamente nos músculos posteriores da coxa (os isquiotibiais, sendo o semitendíneo, semimembranoso e o bíceps femoral), é necessário que o exercício ou o programa contenha uma sobrecarga adequada, seja de um tipo específico, mais de potência do que de força e resistência à fadiga, com um volume específico, pautado nas outras atividades que este esportista recebe, com intensidade, velocidade compatíveis, entre outros. Apenas utilizando critérios coerentes e fisiológicos, inclusive pautados na avaliação do indivíduo, é possível alcançar o que se pretende. Compreendemos aqui alguns princípios do treinamento resistido que devem ser amplamente difundidos e empregados com o objetivo de conquistar especificamente a me- lhora no desempenho muscular requerido, e ainda mais, a função desejada. Como sempre discutimos: O indivíduo não quer conseguir levantar um peso de 5 quilogramas por dez vezes seguidas, mas quer sim pegar o neto no colo, quer conseguir comer sozinho, levar uma lata até o armário aéreo, quer caminhar sem dispositivos auxiliares. Também conhecemos vários tipos de exercícios, direcionados a momentos espe- cíficos do processo de reabilitação ou tipos de contrações musculares, com o uso de re- sistência manual, mecânica, entre outros critérios. Agora conhecemos as diferenças entre os exercícios isométricos e isotônicos, entre os em cadeia cinética fechada e aberta, entre os isotônicos e os isocinéticos, os pliométricos e os aquáticos. Esperamos que os conheci- mentos adquiridos aqui tenham sido impactantes para você e que a aplicação destes seja plena na sua vida como profissional do movimento. 90UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares LEITURA COMPLEMENTAR Artigo 1: Análise comparativa entre idosos praticantes de exercício físico e sedentários quanto ao risco de quedas Fonte: PADOIN, P. G.; GONÇALVES, M. P.; COMARU, T.; SILVA, A. M. V. Análise comparativa entre idosos praticantes de exercício físico e sedentários quanto ao risco de quedas. O Mundo da Saúde, v. 34 n. 2. p. 158-164, 2010. Disponível em: http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/75/158a164.pdf. Acesso em: 23 ago. 2021. RESUMO: A instabilidade postural com a ocorrência de quedas é uma característica do envelhecimento, representando um motivo de preocupação para os idosos, pois pode acarretar incapacidade física e perda da independência. O objetivo deste estudo foi avaliar o risco de quedas em idosas que praticam atividades físicas e idosas sedentárias. Foram avaliadas mulheres acima de 60 anos ativas e sedentárias quanto ao risco de quedas utilizando os testes Timed Up and Go, Escala de Berg e Performance Oriented Mobility Assessment. Como resultados teve-se que o grupo de mulheres ativas obteve melhores desempenhos nos testes Timed Up And Go (p=0,001), Escala de Berg (p=0,002) e Perfor- mance Oriented Mobility Assessement (p=0,002) do que as mulheres do grupo sedentárias. O relato de dor nos pés e medo de cair foi maior no grupo de idosas sedentárias. Concluiu-se que as idosas sedentárias apresentaram menor mobilidade funcional, maiores déficits no equilíbrio e alterações na marcha quando comparadas a idosas que praticavam exercício físico regularmente. Dessa forma, concluímos que a prática de exercício físico contribuiu para a redução do risco de quedas no grupo estudado. Artigo 2: Análise da influência do exercício físico em idosos com relação a equilíbrio, marcha e atividade de vida diária Fonte: FIGLIOLINO, J. A. M.; MORAIS, T. B.; BERBEL, A. M., CORSO, S. D. Análise da influência do exercício físico em idosos com relação a equilíbrio, marcha e atividade de vida diária. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 12 n. 2. p. 227-238, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/W93YF- Zyb4MFJWhqBtYxgKSJ/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 23 ago. 2021. 91UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares RESUMO: O objetivo foi comparar idosos praticantes e não praticantes de ativida- de física, em relação à probabilidade de quedas, desequilíbrio e dificuldades na realização das Atividades de Vida Diária (AVD). Trata-se de um estudo transversal com a participação de 40 idosos, de ambos os gêneros. Os idosos foram divididos em dois grupos: Grupo Praticante de Atividade Física (GP) e Não Praticante (GNP). Foram utilizadas a Escala de Avaliação de Equilíbrio e Marcha de Tinetti, Atividades Básicas de Vida Diária e a Avaliação Instrumental de Vida Diária (AIVD) de Lawton. Não houve diferença de idade entre GP (69,4 ± 7,5 anos) e GNP (71,9 ± 6,7 anos). Observamos que o GP e GNP apresentaram diferenças estatisticamente significantes nos escores dos domínios de equilíbrio e marcha, bem como no escore total (16 vs 14; 12 vs 11, 28 vs 24,5, respectivamente). Em relação à Avaliação das Atividades Básicas de Vida Diária, não houve diferença entre os grupos, pois todos os idosos apresentaram pontuação máxima, significando, assim, independência. Apesar de não haver diferença estatisticamente significante no escore de Avaliação Instrumental de Vida Diária (AIVD) entre o GP e GNP (27 vs 27,5, respectivamente), observamos que 70% dos idosos do GP eram independentes nas atividades diárias e apenas 50% no GNP, o qual resultou em maior número de idosos necessitando de ajuda para realizar atividades. Concluímos que o GP apresentou melhor equilíbrio e marcha com maior proporção de idosos com independência nas AIVD e AVD, ou seja, menor probabilidade de queda em relação ao GNP. Artigo 3: O exercício físico no tratamento da depressão em idosos: revisão sistemática Fonte: MORAES, H.; DESLANDES, A.; FERREIRA, C.; POMPEU, F. A. M. S.; RIBEIRO, P.; LAKS, J. O exercício físico no tratamento da depressão em idosos: revisão sistemática. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. v. 29 n. 1. p. 70-79, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rprs/a/prMmBH7m6Wj- 7qkYNqRwJH9Q/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 23 ago. 2021. RESUMO: Objetivo: Revisar a literatura quanto (I) ao possível efeito protetor do exercício físico sobre a incidência de depressão e (II) à eficácia do exercício físico como intervenção no tratamento da depressão. Método: Revisão sistemática de artigos em in- glês e português nas bases ISI, PubMed, SciELO e LILACS de janeiro de 1993 a maio de 2006, utilizando conjuntamente os termos “depressão”, “idosos” e “exercício”. Artigos que avaliaram o efeito do exercício em idosos com doenças clínicas ou que utilizaram escalas 92UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares para depressão somente para um diagnóstico inicial foram excluídos. Resultados: Do total de 155 artigos, 22 atenderam aos critérios de inclusão, e oito foram acrescentados com busca manual. Os artigos de corte transversal (n = 8) utilizaram somente questionários de autoavaliação para medir os níveis de atividade física. Os artigos longitudinais (n = 22) utilizaram também pedômetro digital, consumo direto de oxigênio e o exercício físico como intervenção metodológica. Os estudos que atenderam ao objetivo I apontaram para uma relação inversamente proporcional entre atividade física e alterações nos níveis de depres- são. Os trabalhos que utilizaram o exercício como intervenção terapêutica na depressão encontraram resultados divergentes e apontaram para a interferência de fatores fisiológicos e psicológicos nessa relação. Conclusão: O papel do exercício e da atividade física no tratamento da depressão direciona-se para duas vertentes: a depressão promove redução da prática de atividades físicas; a atividade físicapode ser um coadjuvante na prevenção e no tratamento da depressão no idoso. Artigo 4: Efeitos do exercício físico no controle da hipertensão arterial em idosos: uma revisão sistemática Fonte: NOGUEIRA, I.C.; SANTOS, Z.M.S.A.; MONT`ALVERNE, D.G.B.; MARTINS, A. B. T.; MA- GALHÃES, C. B. A. Efeitos do exercício físico no controle da hipertensão arterial em idosos: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 15 n. 3. p. 587-601, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/V4GZjJXLNgNXXfFPpjVRMLL/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 23 ago. 2021. RESUMO: O exercício físico é uma das principais terapêuticas utilizadas para o paciente hipertenso, pois reduz a pressão arterial (PA) e os fatores de risco cardiovascu- lares, diminuindo a morbimortalidade. Objetivo: Analisar os efeitos do exercício físico na PA de idosos hipertensos, com base nos resultados de pesquisas empíricas realizadas no período de 2000 a 2010. Metodologia: Revisão sistemática de estudos experimentais, em inglês, português e espanhol, nas bases eletrônicas MEDLINE, PubMed, Lilacs, Cochrane e PEDro, publicados entre 2000 e 2010, utilizando os descritores hipertensão, atividade física, exercício físico, idoso, exercício aeróbio e treinamento de resistência. Resultados: Foram encontrados 19 artigos e incluídos 12 artigos, sendo divididos em categorias temá- ticas: exercício aeróbico (6 artigos), exercício resistido (4), exercício aeróbico associado ao resistido (2). Entre os exercícios aeróbicos, três artigos evidenciaram redução na pres- são arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD). Três artigos afirmam que 93UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares treinamento resistido reduz significativamente os valores de PAS em repouso e pressão arterial média (PAM), apenas um artigo não registrou uma redução significativa na PAD e frequência cardíaca (FC) de repouso. A utilização dos exercícios aeróbicos associados aos resistidos foram superiores aos demais, pois apontaram reduções significativas na PAS, PAD, PAM e FC de repouso, confirmando as recomendações da VI Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, mas os estudos em idosos são escassos. Conclusão: Esta revisão confirma os benefícios oriundos da prática do exercício físico na redução da PA após o exercício em idosos hipertensos. Artigo 5: Efeito do treinamento pliométrico e isométrico na força explosiva de atletas de handebol. Fonte: ALECRIM, J.V.C.; ALECRIM NETO, J.V.C.; SOUZA, M.O.; PIRES, G.P. Efeito do treinamento pliométrico e isométrico na força explosiva de atletas de handebol. Revista Ciencias de la Actividad Física UCM, v. 20 n. 2, 2019. Disponível em: http://revistacaf.ucm.cl/article/view/372/400. Acesso em: 23 ago. 2021. RESUMO: A pliometria utiliza a capacidade reativa do sistema neuromuscular para aumentar a potência do movimento partindo de uma contração excêntrica para uma concêntrica. A isometria refere-se a uma modalidade estática de treinamento, ou seja, não há alteração no comprimento da fibra muscular. O handebol é uma modalidade esportiva coletiva que envolve uma grande quantidade e variedade de movimentação associada à manipulação de bola e interação com outros atletas. Em termos de movimentação, o handebol pode ser considerado um esporte completo, pois utiliza uma rica combinação das habilidades motoras fundamentais e “naturais” do repertório motor do ser humano. O objetivo da pesquisa é analisar a influência de 4 semanas de treinamento pliométrico e isométrico na força explosiva de jovens atletas de handebol. A amostra contou com 10 mulheres, com média de idade de 16,1 ± 0,56 anos, praticantes de handebol há pelo menos três meses. O protocolo de avaliação utilizado foi: salto horizontal (SH) para mensurar força explosiva de membro inferior. As meninas foram divididas em dois grupos estatisticamente iguais, o grupo pliométrico (GP) e o isométrico (GI). Os dados foram analisados através de teste-t pareado e Effect Size (magnitude de efeito), além do manual Proesp. Inicialmente os testes apresentaram os seguintes resultados: o GP mostrou 1,32 ± 0,13m no SH e o GI 1,41 ± 0,10m. Após quatro semanas de treinamento foram refeitos os testes e o GP evidenciou 1,37 ± 0,08m no SH e o GI 1,43 ± 0,09m. Estatisticamente as mudanças não 94UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares se apresentaram significativas, a magnitude do efeito os resultados de força explosiva de membros inferiores mostraram-se superficiais. Conclui-se então que apesar de estatistica- mente insignificantes, ambos os métodos apresentam pequena evolução na força explosiva de membros inferiores, e cabe analisar maior tempo dos métodos nesses ganhos e também analisar uma proposta concomitante entre ambos os métodos. Artigo 6: Efeitos do treinamento pliométrico na força explosiva e potência de meninas púberes praticantes de voleibol Fonte: VILELA, G.; SILVA, S. F. Efeitos do treinamento pliométrico na força explosiva e potência de meninas púberes praticantes de voleibol. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 25 n. 1. p.109-117, 2017. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/view/6519. Acesso em: 23 ago. 2021. RESUMO: O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos do treinamento pliométrico (TP) sobre a força explosiva (FE) e a potência (PT) de membros inferiores em 72 meninas púberes, praticantes de voleibol, idades 12,18±1,27 anos, Estatura 1,56±0,08 m, % de gordura 24,32±6,7 e massa corporal =48,18±11,28 kg. Todas se encontravam no estágio de maturação púbere, segundo método de Tanner. A amostra foi dividida em dois grupos: Grupo Controle - GC n=48 que realizou 3 sessões semanais de voleibol, e Grupo Experi- mental - GE n=24, que realizou além das 3 sessões semanais de voleibol, mais 3 sessões semanais de TP durante 8 semanas, as sessões constavam de multisaltos, saltos sobre barreiras e saltos profundos com alturas entre 20 e 60 cm, as avaliações da FE e PT. Para controle da FE e da PT foram utilizados os seguintes procedimentos: SJ (Squat jump), CMJ (Counter Moviment Jump) e DJ (Drop Jump). O GE apresentou uma melhora de 0,59 cm no SJ (19,12 ± 4,03 – 19,71 ± 3,93) o que representa um aumento de 3,08%, enquanto que no CMJ o aumento foi de 0,64 cm (19,88 ± 3,76 – 20,52 ± 4,26) que significa uma melhora de 3,21% entre o pré e o pós treinamento. Os resultados do GE apresentaram melhoras não significativas, o que demonstra uma tendência positiva do TP sobre a FE e a PT em meninas púberes praticantes de voleibol. 95UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Exercício terapêutico Autor: Lori Thein Brody, Carrie M. Hall Editora: Guanabara Koogan, 2018. Sinopse: Este livro é indispensável para que os estudantes de Fisioterapia e Educação Física desenvolvam as habilidades de raciocínio clínico necessárias para as melhores decisões. O con- teúdo é estruturado de maneira bem fundamentada, que auxilia na escolha do exercício e fornece orientações para alcançar os resultados mais eficazes, visando à melhor capacitação funcio- nal possível. A quarta edição do livro Exercício Terapêutico: Na Busca da Função foi criteriosamente aprimorada, dando ênfase ao restabelecimento da capacidade funcional. O livro segue as diretrizes mais recentes da Classificação Internacional de Funcio- nalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), da Organização Mundial da Saúde, e reflete as estratégias mais atuais em Fisioterapia. Principais características: Vídeos online ilustram as técnicas dos exercícios de modo didático. Exercícios com etapas bem detalha- das tornam o aprendizado mais fácil. Estudos de caso ajudam o leitor a aplicar seus conhecimentos em situações específicas. Os blocos de construção apresentam situações para ajudar o leitor a sintetizar de modo crítico o conteúdo do capítulo.Novos boxes evidência e pesquisa possibilitam ao leitor identificar a evidência que fundamenta a intervenção escolhida. As seções orientações ao paciente, blocos de construção, estudos de caso, auto manejo e intervenções selecionadas continuam sendo recursos pedagó- gicos fortes elaborados para integrar as aplicações de exercícios terapêuticos às muitas facetas do cuidado efetivo do paciente. Informações práticas, organizadas por região, ajudam o leitor a decidir quais exercícios ensinar, como ensiná-los e como avaliar o programa prescrito para alcançar o desfecho funcional desejado. FILME / VÍDEO Título: Exercício Nórdico. Objetivo: Prevenção de lesão em LCA e fortalecimento dos isquiotibiais Ano: 2017. Sinopse: Este vídeo mostra um dos exercícios mais descritos para melhorar o desempenho muscular dos músculos isquiosurais, sendo eles: semitendíneo, semimenbranoso e bíceps femoral. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=xvaa8nuiw3A 96UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares FILME / VÍDEO Título: Copenhagen Adduction (Adução de Copenhague) Ano: 2017. Sinopse: Este é um teste e um exercício que eu uso para verificar como cada pessoa consegue estabilizar ou realizar a posição e o controle, tanto quanto a capacidade lombo pélvica. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=mm_45AqTRm8 97 Plano de Estudo: ● Equilíbrio e Propriocepção; ● Coordenação; ● Postura e percepção corporal. Objetivos da Aprendizagem: ● Inserir o equilíbrio, a propriocepção e a coordenação motora como partes integrantes do processo de Reabilitação; ● Compreender a fundamentação do treinamento do equilíbrio e coordenação motora; ● Conceituar e fundamentar a postura, a percepção corporal e seu treinamento em Fisioterapia. UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal Professor Dr. Andrey Rogério Campos Golias 98UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal INTRODUÇÃO Chegamos ao conteúdo da última unidade desta apostila, porém, não menos im- portante. Como já vimos, o exercício terapêutico é a ação mais relevante do profissional do movimento e se configura como estratégia fundamental do fisioterapeuta. Nesta unidade IV da disciplina de Cinesioterapia, iremos aprofundar nosso estudo sobre alguns tipos de exercícios específicos e sua fundamentação. São os exercícios proprioceptivos e de equilíbrio, de coordenação motora e de postura e percepção corporal. Cada um tem suas características e assumem lugar importante conforme a necessidade de cada paciente e indivíduo que busca saúde com a ação fisioterapêutica. Equilíbrio e propriocepção se referem a condição do sistema neuromuscular de reconhecer estímulos vindo da periferia e as correções consequentes a estes estímulos. Tornam-se muito importantes em muitas técnicas de tratamento cinesioterapêuticas, visto que para realizar muitas atividades de vida diária, necessitamos deste feedback sensorial e das correções que ele permite, especificamente o equilíbrio. Não é possível, por exemplo, colocar uma mala no bagageiro superior do veículo sem a condição básica de se equilibrar numa base estável, apoiando os dois pés no chão. A coordenação motora se refere a capacidade que nós temos de executar movimentos harmônicos e controlados, sendo que depende de um sistema complexo composto pela pro- priocepção e o cerebelo, parte do encéfalo responsável por regular os movimentos humanos. E por último, a postura e percepção corporal têm assento em muitos dos pacientes atendidos pelo fisioterapeuta, visto que este é o profissional habilitado para cuidar e tratar das alterações posturais e suas consequências físicas, como por exemplo a escoliose, a retificação dorsal, hiperlordose, entre outras. Os exercícios terapêuticos para estes quadros clínicos têm características distintas de um treinamento resistido para o membro inferior, por exemplo. São estas características específicas que iremos abordar aqui nesta unidade. Assim, estes assuntos também são importantes para a vida do profissional do movimento, como o fisioterapeuta. Esperamos que este material se torne um importante subsídio na facilitação da sua caminhada a ser percorrida para se tornar um ótimo fisiotera- peuta. Aproveite o conteúdo. 99UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 1. EQUILÍBRIO E PROPRIOCEPÇÃO Consequências graves podem ocorrer devido a perda de equilíbrio e quedas, sen- do que o fisioterapeuta é o profissional habilitado para avaliar e tratar estes distúrbios. É importante relatar que abordamos o equilíbrio e a propriocepção dentro de um programa de exercícios, que inclusive deve conter treinamento de outras valências ou capacidades, como a força, a potência, a mobilidade, a extensibilidade, entre outras. 1.1 Fundamentação do equilíbrio e da propriocepção O termo equilíbrio se refere de forma genérica ao processo dinâmico por meio do qual a posição do corpo mantém-se estabilizada. No geral, equilíbrio significa que o corpo está em repouso (equilíbrio estático) ou estabilizado em movimento (equilíbrio dinâmico). É quando o centro de massa ou o centro de gravidade do corpo é mantido sobre sua base de apoio (KISNER e COLBY, 2016). Centro de massa é um ponto que corresponde ao centro de massa corporal total. É onde o corpo se encontra em perfeito equilíbrio. O centro de gravidade é a projeção vertical do centro de massa até o solo, sendo que nos humanos adultos em ortostatismo está localizado um pouco à frente da segunda vértebra sacral ou a aproximadamente 55% da altura da pessoa. Já o momento de força é o produto da massa vezes a velocidade. A base de apoio é o perímetro da área de contato entre o corpo e sua superfície de apoio: o posicionamento do pé altera a base de apoio e modifica a estabilidade postural da pessoa 100UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal (KISNER e COLBY, 2016). Por exemplo, quando uma pessoa apresenta um déficit de equi- líbrio, normalmente apresenta uma base alargada, ou seja, caminha com as pernas mais abertas, na tentativa de se estabilizar. O equilíbrio é uma tarefa complexa de controle motor que envolve a detecção de informações sensoriais para avaliar a posição e o movimento do corpo no espaço (propriocep- ção) e a execução de respostas musculoesqueléticas apropriadas para controlar a posição do corpo dentro do contexto do ambiente e da tarefa. Desta forma, ele depende da interação entre os sistemas nervoso e musculoesquelético (KISNER e COLBY, 2016), a saber: - O sistema nervoso fornece o processamento sensorial para a percepção da orientação do corpo no espaço, dada principalmente pelos sistemas visual, vestibular e somatossensorial; além da integração sensório-motora essencial para vincular a sensação às respostas motoras e para os aspectos adaptativos e antecipatórios; e estratégias motoras para planejamento, programação e execução das respostas de equilíbrio (KISNER e COLBY, 2016); - A contribuição musculoesquelética inclui alinhamento postural, flexibilidade mus- culoesquelética, integridade articular, desempenho muscular e sensação; - Os efeitos contextuais que interagem com os dois sistemas são o ambiente, seja ele fechado ou aberto; a superfície de apoio; a luminosidade; os efeitos da gravidade e as forças de inércia sobre o corpo; e as características da tarefa (KISNER e COLBY, 2016). 1.1.1 A aferência O termo aferência ou estímulos aferentes se caracteriza por tudo o que vai até o Sistema Nervoso Central. A percepção da posição do próprio corpo e de seu movimento no espaço, que é uma aferência, requer uma combinação de informações provenientes de receptores periféricos de múltiplos sistemas sensoriais, incluindo os sistemas visual, somatossensorial (receptores proprioceptivos, articulares e cutâneos) e vestibular (KISNER e COLBY, 2016).1.1.1.1 O sistema visual A visão fornece informações relativas à posição da cabeça em relação ao ambien- te, a orientação da cabeça para manter os olhos nivelados e a direção e a velocidade dos movimentos da cabeça, visto que quando a cabeça se move, os objetos ao redor movem-se na direção oposta (KISNER e COLBY, 2016). 101UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal REFLITA Portanto, o sistema visual funciona na prática auxiliando o indivíduo a se equilibrar. Assim, faça um teste: Fique em ortostatismo, apoie-se sobre um pé (apoio unipodal) e perceba seu estado de equilíbrio. Se ele for estável, experimente fechar os olhos e per- ceba o que acontece. Fonte: O autor (2021). 1.1.1.2 O sistema somatossensorial – propriocepção O sistema somatossensorial fornece informações sobre a posição e o movimento do corpo e das partes do corpo, uma em relação à outra e em relação à superfície de apoio. Numa explicação simples e prática seria: quando alguém toca na sua pele, por exemplo, no braço, mesmo que você esteja de olhos fechados, você percebe este toque. Este é o tipo de sensibilidade chamado de superficial de tato leve (ou cutânea superficial) (KISNER e COLBY, 2016). Da mesma forma, quando nosso segmento, seja ele braço, perna ou tronco en- contra-se numa posição ou está em movimento numa determinada direção e velocidade, também conseguimos perceber estas variáveis, mesmo se estivermos sem o auxílio visual. Esta é a sensibilidade proprioceptiva ou propriocepção. Isto ocorre pois a todo momento alguns receptores no nosso corpo são ativados pelos movimentos ou posições corporais, esta informação é levada através de um nervo periférico para a medula (sistema nervoso central), por isso ela é uma aferência, que chega até o tálamo ou em centros superiores. É nesta região superior do sistema nervoso central que “sentimos”, ou seja, percebemos o toque ou a posição e os movimentos ocorrendo. REFLITA Vamos a uma aplicação prática sobre o sistema somatossensorial, ou seja, sobre a propriocepção: Imagine-se caminhando num terreno qualquer e observando algo que te chamou atenção, como uma roupa numa vitrine. E logo a frente há um pequeno buraco no chão, sendo que seu pé entra em contato com ele. Mesmo enquanto observa a vitri- ne, você percebe que seu pé entrou no buraco, pois vários receptores nas articulações (cápsula, ligamentos), tendões e músculos foram ativados devido a mudança do padrão do movimento de forma repentina e levaram esta informação ao sistema nervoso central para te dar a percepção do que ocorreu. Isto é propriocepção. Fonte: O autor (2021). 102UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal SAIBA MAIS Propriocepção pode ser definida como um conjunto de sensações aferentes, responsáveis pela sensação de movimento e posição articular, além de, influenciar respostas reflexas e controle motor voluntário e contribuir na estabilidade dinâmica da articulação, ajudando no papel de proteção, principalmente nos extremos da amplitude de movimento. Fonte: SILVA, F. T.; STOCCO, T. D. Propriocepção do joelho em indivíduos submetidos à meniscectomia parcial e à sutura meniscal: estudo observacional. Revista Pesquisa em Fisioterapia, v. 10 n. 2, p. 264- 273, 2020. Assim, as informações provenientes dos proprioceptores musculares, que incluem os fusos musculares; os tendinosos, incluindo os órgãos tendinosos de Golgi (sensíveis ao comprimento e à tensão muscular); os receptores articulares (sensíveis à posição, ao mo- vimento e à carga articular), como as terminações do tipo Golgi, as terminações nervosas livres, a de Ruffini e as paciniformes; e os mecanorreceptores da pele (sensíveis à vibração, ao toque leve, à pressão profunda e ao alongamento da pele) são os impulsos dominantes para o estabelecimento do equilíbrio (KISNER e COLBY, 2016; O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). 1.1.1.3 O sistema vestibular Já o sistema vestibular fornece informações sobre a posição e o movimento da cabeça com respeito à gravidade e às forças de inércia. Trata-se dos receptores nos Canais Semicirculares (CSC), que detectam a aceleração angular da cabeça, ao passo que os receptores nos otólitos (utrículo e sáculo) detectam a aceleração linear e a posição da cabeça com respeito à gravidade (KISNER e COLBY, 2016). O sistema vestibular usa as vias motoras, sendo que estas se originam nos núcleos vestibulares, para o controle postural e a coordenação dos movimentos dos olhos e da cabeça. 1.1.2 A integração entre os três sistemas para produção da aferência Desta forma, vimos que a aferência se dá pelos três sistemas: Visual, somatossen- sorial e vestibular. É importante relatar que isto se configura como uma interação constante e dinâmica, ou seja, de forma combinada e imperceptível, para produzir nosso senso de orientação e movimento. A informação sensorial que chega é integrada e processada no cerebelo, gânglios da base e área motora suplementar (KISNER e COLBY, 2016). 103UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 1.1.3 A eferência A parte eferente, ou seja, efetora, de execução integra o retorno do Sistema Nervoso Central (SNC) ao músculo para a correção da tarefa, com o intuito de proteger as articula- ções, evitar quedas, entre outros. Voltando ao exemplo da pessoa que estava olhando para a vitrine e pisou num piso irregular a sua frente, já aprendemos que a aferência, ou seja, os sistemas visual, somatossensorial e vestibular informam o SNC o que está acontecendo. O equilíbrio propriamente dito é a estratégia usada para corrigir os movimentos do membro inferior ou do tronco, por exemplo naquela tarefa com o intuito de fazer com que a pessoa não caia da própria altura. Esta eferência é finalizada com a ação do músculo na tentativa de corrigir o padrão de movimento. Em geral, as tarefas motoras requerem diferentes tipos de equilíbrio, sendo: - Controle de equilíbrio estático, para manter uma posição antigravitacional estável enquanto se está em repouso. Por exemplo, ficar em ortostatismo ou em sedestação (sentado); - Controle de equilíbrio dinâmico, para estabilizar o corpo quando a superfície de apoio está em movimento ou quando o corpo está se movendo sobre uma superfície está- vel. Um exemplo é a mudança da posição sentada para ortotástica ou deambular; - Reações posturais automáticas para manter o equilíbrio em resposta a perturbações externas inesperadas. Por exemplo, quando viajamos em ortostatismo dentro de um ônibus que subitamente realiza frenagens e acelerações repentinas (KISNER e COLBY, 2016). O SNC usa três sistemas de movimento para recuperar o equilíbrio após o corpo ser perturbado: Sistema reflexo, automático e voluntário: - Os reflexos de estiramento mediados pela medula espinhal compreendem a primeira resposta às perturbações externas, visto que apresentam tempo de latência mais curtas (menor do que 70 ms). Apresentam-se como independentes das demandas da tarefa e produzem contrações musculares estereotipadas em resposta aos impulsos sensoriais; - As respostas voluntárias têm as latências mais longas (maior do que 150 ms), além do que dependem dos parâmetros da tarefa e acabam por produzir respostas motoras altamente variáveis; - As reações posturais automáticas têm latências intermediárias (de 80 a 120 ms) e são as primeiras respostas que efetivamente impedem as quedas. Estas reações produzem movimentos rápidos com relativamente poucas variações entre as pessoas, porém, exigem a coordenação das respostas entre as regiões do corpo, além do que são modificáveis dependendo das demandas da tarefa. 104UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 1.2 Comprometimento do equilíbrio O equilíbrio pode estar comprometido por várias lesões ou doenças em que há envolvimento de quaisquer estágios do processamento de informação: parte aferente (ouimpulso sensorial), integração sensório-motora e geração da resposta motora. 1.2.1 Comprometimento dos impulsos sensoriais Déficits proprioceptivos têm sido relatados fortemente na literatura e parecem ter implicações no comprometimento do equilíbrio quando há lesões ou patologias de membros e tronco. A diminuição do senso de posição articular tem sido encontrada em pessoas com entorses recorrentes de tornozelo, lesões ligamentares do joelho, desgastes articulares e dor lombar (KISNER e COLBY, 2016). Outras doenças como a polineuropatia periférica em idosos, diabetes mellitus também podem causar déficits proprioceptivos. Da mesma forma, a perda visual ou déficits específicos na acuidade, na sensibili- dade ao contraste, no campo visual e percepção da profundidade podem causar perda do equilíbrio e levar a quedas. No caso do sistema vestibular ocorre o mesmo, podendo ser acometido por infec- ções virais, traumatismo crânio encefálico ou alterações senis (do próprio envelhecimento), o que pode causar vertigem e instabilidade postural (KISNER e COLBY, 2016). 1.2.2 Comprometimento da integração sensório-motora Lesões ou patologias nos núcleos da base, no cerebelo ou na área motora suple- mentar podem comprometer o processamento das informações sensoriais que chegam, o que resulta em dificuldade na adaptação das informações sensoriais em resposta a mudan- ças ambientais e na perturbação dos ajustes posturais antecipatórios e reativos (KISNER e COLBY, 2016). 1.2.3 Comprometimento da resposta motora Comprometimentos diversos no sistema musculoesquelético podem causar déficit na resposta motora do equilíbrio, sendo exemplos: má postura, limitações da Amplitude de Movimento Funcional (ADM), diminuição do desempenho muscular e até neuromuscular, como os déficits na coordenação motora e dor (KISNER e COLBY, 2016). Em casos de pessoas portadoras de quadros neurológicos, por exemplo, um aci- dente vascular encefálico, traumatismo crânio encefálico, doença de Parkinson, a falha em gerar forças musculares adequadas em razão do tônus anormal ou do comprometimento da coordenação das estratégias motoras pode limitar a habilidade de recrutar os músculos necessários para o equilíbrio. 105UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 1.3 Tratamento do equilíbrio comprometido Como sempre em nossa atividade profissional, é importante antes mesmo do trata- mento, que seja realizada uma abordagem avaliativa. Nos casos em que o equilíbrio pode estar comprometido, é necessária uma anamnese acurada e completa, exames físicos que contemplem a verificação da parte aferente (propriocepção inclusive), a interação sensório- -motora e a parte eferente. Há vários testes descritos na literatura para compreender estes déficits, como o teste de Romberg para o equilíbrio estático, de equilíbrio unipodálico, de Stork stand, de sentar e levantar para o equilíbrio dinâmico, de alcance funcional, o star excursion balance test, entre outros (KISNER e COLBY, 2016). Abordando especificamente o tratamento do equilíbrio, é importante relatar que, como em geral ele envolve atividades que desafiam os limites de estabilidade do paciente, é fundamental que o fisioterapeuta dê os passos necessários para garantir a segurança do paciente, sendo elas: - Usar algum aparelho ou cinta que estabilize o paciente quando este estiver prati- cando exercícios que desafiem seu equilíbrio; - O fisioterapeuta fica atrás e ao lado do paciente com um braço próximo ou até mesmo com um braço apoiando ou sustentando o paciente; - Fazer os exercícios perto de um corrimão ou parede, barras paralelas, para que se o paciente vier a estar com dificuldade na execução da tarefa, que ele as segure; - Não realizar exercícios perto de extremidades agudas de móveis ou aparelhos; - Ter uma pessoa na frente e outra atrás quando estiver trabalhando com pacientes com alto risco de quedas ou lesões; - Verificar os equipamentos para assegurar-se de que estão funcionando corretamente; - Cuidar do paciente ao subir os descer dos equipamentos, como bicicletas, esteiras, etc.; - Certificar-se de que o solo esteja limpo, sem resíduos e livre de tapetes e degraus. Exercícios que trabalham o equilíbrio devem ser iniciados com boa estabilização, sendo com base alargada ou em posições de maior estabilização, como por exemplo, a sen- tada, progredindo para a posições ortostática. Deve também progredir de um apoio estável para o instável, por exemplo, num primeiro momento em uma superfície plana e reta para atividades em cima de superfícies macias, (como espuma, almofada, areia e grama), até superfícies mais instáveis como balancim, cama elástica e pranchas de equilíbrio. Também deve-se evoluir de um apoio bipodal para unipodal. Acrescenta-se tarefas secundárias com o intuito de provocar mais desafio e instabilidade, como por exemplo, apanhar uma bola, cabecear, chutar uma bola, um exercício resistido com pesos ou elásticos dos membros superiores (Figuras 1 e 2). 106UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal FIGURA 1 - EXEMPLO DE EXERCÍCIO DE EQUILÍBRIO NUMA PLATAFORMA INSTÁVEL E REALIZANDO UMA TAREFA SECUNDÁRIA (EXERCÍCIO RESISTIDO NOS MEMBROS SUPERIORES) FIGURA 2 - EXEMPLO DE EXERCÍCIO DE EQUILÍBRIO NUMA PLATAFORMA INSTÁVEL E REALIZANDO UMA TAREFA SECUNDÁRIA (TOCAR O CONE E RETORNAR) Acrescentar tarefas funcionais que envolvam múltiplas partes do corpo para au- mentar o desafio do controle postural antecipatório, fazendo o paciente levantar objetos de pesos variados em diferentes posturas com velocidade variadas torna-se fundamental, não apenas estaticamente, mas inclusive de forma dinâmica. Assim, realizar pequenos saltitos, acelerações e desacelerações de corrida, realizar solicitações estáticas e dinâmicas de forma associativa se configura como a última etapa do tratamento (KISNER e COLBY, 2016). 107UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 2. COORDENAÇÃO Define-se como controle motor a capacidade do Sistema Nervoso Central (SNC) de controlar ou direcionar o sistema neuro motor no movimento intencional e ajuste postural pela atribuição seletiva de tensão musculas em todos os segmentos articulares apropria- dos. Incluem o tônus normal do músculo e mecanismos de resposta postural, movimentos seletivos e coordenação (O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). Já coordenação é definida como a capacidade de executar um movimento har- monioso e preciso, controlado, o que envolve múltiplas articulações e músculos que são ativados no momento adequado e com a quantidade correta de força, de modo que ocorra um movimento harmonioso, eficiente e preciso. Desta forma, a essência da coordenação é o sequenciamento, a sincronização e a graduação da ativação de múltiplos grupos muscu- lares (O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). A capacidade de produzir estas respostas harmoniosas também depende de estí- mulos sensitivos, visuais e vestibulares, bem como de um sistema neuromuscular comple- tamente intacto do córtex motor à medula espinhal. Movimentos coordenados são caracterizados por: - Velocidade coerente com a tarefa; - Distância correta; - Direção adequada; - Tempo assertivo; 108UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal - Tensão muscular apropriada. Além disso, os movimentos coordenados envolvem: - Influências sinérgicas apropriadas (recrutamento muscular); - Fácil reversão entre grupos opositores (sequenciamento adequado de contração e relaxamento); - Estabilização proximal para possibilitar o movimento distal ou a manutenção de uma postura. Desta forma, movimentos desajeitados, divergentes, irregulares ou imprecisos caracterizam os déficits na coordenação motora (O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). O profissional da Fisioterapia está frequentemente envolvido com o cuidado e trata- mento de pacientescom déficits na coordenação. Como sempre, é necessário avaliar antes de intervir, sendo os dados do exame da coordenação informativos sobre as deficiências existentes. Os dados do exame da coordenação ajudam o fisioterapeuta a estabelecer o diagnóstico dos prejuízos subjacentes, as limitações nas atividades e as restrições na participação (deficiência); ajudam a estabelecer as metas previstas para remediar os pre- juízos e formular desfechos esperados que englobem a remediação das limitações nas atividades e restrições na participação; e apoiam a tomada de decisão no estabelecimento de um prognóstico e na determinação de intervenções específicas e diretas (O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). SAIBA MAIS O termo prognóstico se refere ao nível ideal previsto de melhora na função e a quanti- dade de tempo necessária para chegar a esse nível. Um prognóstico preciso pode ser determinado no início do tratamento para alguns pacientes. Para outros, com condições mais graves e complicadas, como um traumatismo crânio encefálico grave, associadas a ampla deficiência e comprometimento de múltiplos sistemas, um prognóstico ou pre- visão do nível de melhora só pode ser determinado em várias partes durante o curso da reabilitação. O conhecimento dos padrões de recuperação (estágio do transtorno) às vezes é útil para orientar a tomada de decisão. O tempo necessário para alcançar a recuperação ideal é também determinação importante Fonte: (O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). 109UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal As deficiências da coordenação frequentemente estão associadas a limitações na atividade que estão relacionadas com o tipo, extensão e localização da doença do Sistema Nervoso Central (SNC). Exemplos de diagnósticos que podem provocar dificuldades na coordenação são: traumatismo crânio encefálico, doença de Parkinson, Esclerose múltipla, Paralisia cerebral, Tumores no cerebelo, doenças vestibulares e algumas dificuldades de aprendizagem (O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). O cerebelo, os gânglios da base e a via da coluna dorsal-lemnisco medial contri- buem para o córtex na produção do movimento coordenado. Desta forma, lesões nestas áreas afetam o processamento superior e a execução de respostas motoras coordenadas (O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). Alguns prejuízos motores relacionados a coordenação devido a problemas cerebelares são: - Astenia, que é uma fraqueza muscular generalizada relacionada com o cerebelo; - Disartria, um transtorno no componente motor da articulação da fala. Normalmente descrita como se aquela pessoa necessitasse pronunciar uma palavra de cada vez, sendo um padrão lento, arrastado, hesitante, com sílabas prolongadas e pausas inadequadas; - Disdiadococinesia, uma diminuição na capacidade de realizar movimentos al- ternados rápidos, sendo este déficit observado em movimentos como a alternância rápida entre a pronação e a supinação do antebraço. Os movimentos ficam irregulares e disformes, com uma perda rápida na amplitude e no ritmo, ainda mais se a velocidade for aumentada; - Dismetria, que é uma incapacidade de julgar a distância ou a amplitude de um movimento, podendo se manifestar como uma hipermetria (superestimação do intervalo ne- cessário para alcançar um objeto ou uma meta) (Figura 3) ou uma hipometria (subestimação); FIGURA 3 - EXEMPLO DE HIPERMETRIA, SENDO QUE HOUVE ULTRAPASSAGEM DA AÇÃO INDEX-NARIZ 110UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal - Dissinergia ou decomposição do movimento, que descreve um movimento executado numa sequência de partes componentes em vez de uma atividade única e regular; - Marcha atáxica, que envolve padrões de deambulação que normalmente de- monstram uma ampla base de apoio, visto que o indivíduo com ataxia busca estabilização; - Outros fenômenos, como a hipotonia (diminuição do tônus muscular), o nistagmo, o rebote e o tremor. Os prejuízos na coordenação relacionados a lesões nos núcleos da base são: - Acinesia, que é uma incapacidade de iniciar o movimento (frequente nos estágios iniciais da doença de Parkinson); - Atetose, sendo caracterizada por movimentos involuntários lentos, em contorção, torção, vermiforme. Normalmente estes movimentos são observados mais nas partes dis- tais dos segmentos, especialmente membros superiores; - Bradicinesia, consiste numa diminuição na amplitude e na velocidade do movi- mento voluntário; - Coréia, sendo caracterizada por movimentos involuntários, rápidos, irregulares e bruscos que envolvem múltiplas articulações; - Rigidez, sendo um aumento do tônus muscular que causa maior resistência ao movimento passivo; - Tremor, sendo um movimento oscilatório involuntário rítmico observado em re- pouso (tremor de repouso). Normalmente desaparecem com o movimento intencional; - Outros fenômenos, como a coreoatetose, a distonia, o hemibalismo e a hipercinesia. Já as lesões no sistema coluna dorsal-lemnisco medial são menos característicos do que aquelas dos núcleos da base e do cerebelo. Ainda assim resultam em prejuízo na coordenação e no equilíbrio relacionados com a falta de senso de posição articular (propriocepção) e consciência do movimento e prejuízo na localização da sensação de toque do paciente. Geralmente, a coordenação não é perdida independente de outras valências ou capacidades. A diminuição da força, um tempo de reação mais lento, alterações posturais, perdas de equilíbrio normalmente estão associadas, inclusive devido a senilidade (em ido- sos) (O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). 111UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 2.1 Testes de coordenação Alguns testes são descritos na literatura para verificar a coordenação geral e espe- cífica na prática clínica do fisioterapeuta. É importante ressaltar que estes serão realizados com indivíduos que possam apresentar lesões nas regiões do Sistema Nervoso (SN) já discutidas. São exemplos de testes: - Index-nariz, sendo que solicita-se para o indivíduo tocar a extremidade distal do polegar na parte mais proeminente do nariz; - Index-index, sendo que necessita-se tocar um indicador no outro, com os braços bem abertos; - Pronação e supinação alternados; - Teste do rebote; - Teste do calcanhar joelho, sendo solicitado que o indivíduo em decúbito dorsal toque seu calcanhar no joelho contralateral; - Outros testes como calcanhar na canela, desenhar um círculo, apontar, percus são, oposição dos dedos, apontar, preensão palmar, etc. (O’SULLIVAN; SCHMITZ e FULK, 2018). 2.2 Treinamento da coordenação Visto que a coordenação é dependente de um bom controle postural, de força muscular, Amplitude de Movimento Funcional (ADM), equilíbrio, propriocepção e outras va- lências, normalmente seu treinamento é executado através de atividades interativas entre elas. Se o déficit da coordenação for mais relevante para determinado caso, é necessário um programa de exercícios que busque seu desenvolvimento. Normalmente inicia-se o treinamento da coordenação com atividades mais simples, unissegmentares e uniplanares, passando para atividades mais complexas, plurisseg- mentares (do corpo todo) e multiplanares. Passa-se também de atividades mais lentas e aumenta-se a velocidade aos poucos. Muitas das atividades de equilíbrio também são integradas aqui no treinamento da coordenação, visto que os sistemas se interrelacionam. 112UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 3. POSTURA E PERCEPÇÃO CORPORAL Define-se postura como o alinhamento das partes do corpo quando se está em pé, sentado ou deitado. É descrita pelas posições das articulações e dos segmentos do corpo e também em termos do equilíbrio entre os músculos que cruzam as articulações (KISNER e COLBY, 2016). Postura é a maneira que o corpo se equilibra em determinadasposições. Envolve muito mais do que ossos. Por exemplo, a coluna vertebral com ligamentos intactos, mas sem músculos é instável. Uma postura normal fornece estabilidade ao tronco em determinadas posições, produzindo e permitindo movimentos normais e funcionais em diversos segmentos. Segundo Magee (2010) uma postura normal é considerada aquela que: - Distribui a gravidade obtendo uma função muscular equilibrada; - Fornece o máximo de eficiência para as Atividades de Vida Diárias (AVD’s); - Evita lesões; - Provoca estresse mínimo sobre as articulações; - A atividade muscular parar manter a posição é mínima. Ou seja, postura normal é aquela em que músculos apresentam uma boa movi- mentação, sem fraquezas e retrações, ligamentos intactos, fáscias de movimentação livre, linha de gravidade que incide corretamente e bons hábitos posturais (MAGEE, 2010). 113UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal Muitas queixas de base musculoesquelética podem ser atribuídas às sobrecargas que ocorrem em consequência de atividades repetitivas ou mantidas estando em um ali- nhamento postural habitualmente errado (KISNER e COLBY, 2016). Embora postura não se refira especificamente à coluna vertebral, é ela o centro do corpo, o pilar central que promove estabilização geral para o desenvolvimento de diversas tarefas das AVD’s, além do que é sede de várias patologias posturais como a escoliose. Por isso, vamos discutir aqui mais focalmente esta região. A coluna vertebral concilia dois estados mecânicos contraditórios: flexibilidade e rigidez. Ao mesmo tempo suas estruturas permitem movimentos, porém devem prover estabilidade para a realização de atividades apendiculares. É um mastro com seus estabi- lizadores suportados na pelve e cintura escapular. Na posição simétrica, as tensões estão equilibradas em ambos os lados e o mastro é vertical e retilíneo. Seu equilíbrio é regulado pelos tensores musculares de forma automática, sendo sua disposição muito importante para manter o centro de gravidade alinhado (KISNER e COLBY, 2016). 3.1 Influências biomecânicas no alinhamento postural Como já sabemos, a coluna do adulto é dividida em quatro curvaturas, sendo duas primárias (as que se mantiveram da mesma forma desde o nascimento): as cifoses toráci- cas e sacral; e duas secundárias (as que se modificaram após o nascimento): as lordoses cervical e lombar, também chamadas de curvaturas compensatórias. A lordose cervical se desenvolveu quando a criança começou a erguer a cabeça e a sustentá-la e a lordose lombar apareceu quando a criança se levantou e iniciou marcha (KISNER e COLBY, 2016). Além das curvaturas fisiológicas da coluna, a própria gravidade se configura como uma importante influência no alinhamento postural. Ela impõe uma carga às estruturas responsáveis por manter o corpo ereto e, assim, oferece um desafio contínuo à estabilidade e ao movimento eficiente. No corpo ereto, em postura simétrica, a linha de gravidade atra- vessa as curvaturas vertebrais, que se equilibram anterior e posteriormente, e fica perto do eixo de rotação das articulações dos membros inferiores (KISNER e COLBY, 2016). No caso do tornozelo, a linha de gravidade fica anterior a esta articulação e, por- tanto, tende a rodar a tíbia para a frente, em torno do tornozelo. Esta linha de gravidade também passa anteriormente ao joelho, o que tende a mantê-lo em extensão. Os músculos flexores plantares deixam o pé estável e o ligamento cruzado anterior do joelho e a tensão dos músculos posteriores do joelho mantêm a estabilidade do joelho nesta posição, além do sóleo, importante motor ativo para completar esta função (KISNER e COLBY, 2016). 114UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal No quadril, a linha de gravidade varia de acordo com o balanço do corpo, sendo que rotações são constantemente executadas pela pelve e quadril no intuito de equilibrá-lo nas atividades dinâmicas. Já no tronco, a linha de gravidade passa pelos corpos das vérte- bras lombares e cervicais, sendo que assim as curvaturas ficam equilibradas. Há também atividade muscular para manter a posição estável, o que não é diferente na cabeça. Nesta, a linha de gravidade passa anteriormente às articulações atlantoccipitais e os músculos cervicais posteriores necessitam contrair-se para manter a cabeça estabilizada (KISNER e COLBY, 2016). SAIBA MAIS Articulação atlantoaxial é aquela que acontece entre a primeira vértebra cervical, o atlas e a segunda, o axis. É uma articulação extremamente especializada, do tipo trocoide, no qual o atlas gira em torno do axis e permite virarmos a cabeça de um lado para o outro, como nos movimentos indicando não. Fonte: (TORTORA e DERRICKSON, 2017). 3.2 Estabilidade postural da coluna vertebral Nós podemos estudar a estabilidade da coluna conforme três subsistemas: passivo (estruturas inertes, os ossos e ligamentos), ativo (músculos) e controle neural, sendo que estes três subsistemas se interrelacionam. Os músculos têm importância ímpar na estabilidade e controle postural. Os do tronco não só agem como mobilizadores primários ou antagonistas do movimento causado pela gravidade durante a atividade dinâmica, mas também são importantes estabilizadores da coluna. É importante relatar que “sem a atividade estabilizadora dinâmica dos músculos do tronco, a coluna entraria em colapso na posição ereta” (KISNER e COLBY, 2016). Tanto os músculos mais superficiais e globais quanto os músculos mais profundos apresentam papel relevante nesta estabilização da coluna. No caso da lombar, os músculos abdominais (reto abdominal, oblíquo externo e interno, e mais especificamente o transverso abdominal), o quadrado lombar, os extensores (iliocostais, longos e espinhais), especial- mente os multífidos, além do Iliopsoas, são amplamente estudados e compõe o arcabouço de sustentação deste segmento. 115UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal Na cervical isto se configura pelos grupos dos levantadores da mandíbula, os gru- pos dos supra-hioídeos e infra-hioídeos, músculos reto anteriores e lateral da cabeça, longo do pescoço e longo da cabeça, além dos multífidos também (KISNER e COLBY, 2016). É importante lembrar que estes músculos estabilizadores apresentam caracteristi- camente um maior papel de resistência muscular à fadiga (como vimos na Unidade II desta apostila). Neles, há maior percentual de fibras do tipo I do que do tipo II, o que é reflexo da sua função postural e estabilizadora (KISNER e COLBY, 2016). Isto determina fortemente que exercícios posturais que busquem a ativação e a melhora do desempenho destes músculos sejam realizados de forma mais isométrica, estática, solicitando a contração e sua manutenção. Além disso, os músculos são ativados e controlados pelo sistema nervoso, que é influenciado pelos mecanismos periféricos e centrais em resposta às forças e atividades flutuantes (KISNER e COLBY, 2016). 3.3 Efeitos da respiração na postura e na estabilidade A inspiração e a extensão da região torácica da coluna elevam a caixa torácica e alinham a coluna. Os músculos intercostais funcionam como músculos posturais para esta- bilizar e mover as costelas e agem como uma membrana dinâmica entre elas, prevenindo a sucção e a ruptura para fora dos tecidos moles durante as mudanças de pressão da res- piração. Isto também ocorre em consonância com a ativação do músculo mais importante da respiração: o diafragma. Ele se contrai e ocorre o aumento da pressão intra-abdominal antes mesmo de um movimento rápido do braço, por exemplo, independente da fase da respiração que esteja ocorrendo ou do movimento do braço. As atividades tônicas destes músculos também proporcionam estabilidade à coluna quando há movimentos repetitivos dos membros (KISNER e COLBY, 2016). Esta importante relação da postura com arespiração determina que na execução dos exercícios posturais o fisioterapeuta inclua a respiração o tempo todo, sendo esta cal- ma, com foco na expiração. As técnicas posturais incluem isto. 3.4 Comprometimentos posturais Há variadas patologias e lesões que levam a comprometimentos posturais e é im- portante que o fisioterapeuta as conheça e saiba abordá-las conforme suas características. A dor, a resistência muscular comprometida, a má postura, a síndrome dolorosa postural e maus hábitos posturais podem levar a estes quadros clínicos. 116UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal As hiperlordoses, a postura relaxada e desleixada, de achatamento lombar, dorso curvo com anteriorização da cabeça são alguns quadros comuns, mas aquele que se con- figura como o mais grave é a escoliose. Escoliose é definida como uma curvatura lateral na coluna, o que normalmente envolve as regiões torácica e lombar. Hoje já sabemos que ela envolve mais do que uma curvatura apenas, mas ela pode ser tridimensional, ou seja, nos três planos, sendo no plano frontal/coronal os desvios laterais; no plano sagital os desvios anteroposteriores; e no plano transverso as rotações das vértebras. De uma forma mais simples, é um desvio de um grupo de vértebras, podendo ocorrer uma ou duas curvaturas (Figura 4). Na escoliose há comprometimentos da mobilidade nas articulações, músculos e fáscias no lado côncavo das curvas; desempenho muscular comprometido decorrente de alongamento e fraqueza da musculatura do lado convexo das curvas; também podendo ocorrer comprometimento cardiopulmonar nos casos mais graves (KISNER e COLBY, 2016). FIGURA 4 - ESCOLIOSE 3.5 Tratamento postural Como já sabemos, toda ação fisioterapêutica se inicia com a avaliação. É necessário verificar: - O alinhamento postural (sentado e em posição ortostática), equilíbrio e marcha; - ADM, mobilidade articular e flexibilidade; - Força e resistência muscular para repetições e atividades sustentadas; - Avaliação ergonômica, se indicado; - Mecânica corporal; - Resistência cardiopulmonar/capacidade aeróbia, padrão respiratório (KISNER e COLBY, 2016). Alguns princípios são muito importantes serem considerados e aplicados no traba- lho postural com pacientes portadores de assimetrias e distúrbios posturais. Vamos a eles. 117UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 3.5.1 Princípio do reforço verbal À medida que você institui um exercício postural para o indivíduo que necessita, o fisioterapeuta deve interagir verbalmente com o paciente, interpretar com frequência as posições na coluna e a sensação de contração muscular que ele deveria estar sentindo. Normalmente, chamamos isso na Fisioterapia de voz de comando e incentivo. É extrema- mente necessária e permite um feedback verbal ao paciente. 3.5.2 Princípio do reforço tátil É necessário o toque do paciente em cada uma das atividades posturais instituídas na conduta fisioterapêutica. Ajude o paciente a posicionar a cabeça e o tronco no alinha- mento correto e toque os músculos que precisam se contrair para mover ou sustentar as partes ou segmentos necessários. Isto proporciona uma ótima percepção da contração do músculo requerido para aquela atividade. 3.5.3 Princípio do reforço visual Ao usar espelhos na frente do paciente, de modo que ele possa ver sua aparência, proporciona feedback visual, o que pode fazer com que ele mesmo se auto corrija, e por conseguinte, perceber ou ter a sensação de estar alinhado de forma apropriada. 3.5.4 Auto crescimento A solicitação do auto crescimento, ou seja, solicitando que o indivíduo cresça “le- vando a cabeça ao teto da sala” ou “como se alguém tivesse puxando seu fio de cabelo para cima” se configura numa outra estratégia interessante, já que qualquer distúrbio que estiver acontecendo na coluna, especialmente a escoliose, tende a se realinhar. O auto crescimento também promove momentânea descompressão vertebral, pois promove a distração dos tecidos entre as vértebras, ou seja, os ligamentos, os discos e as articulações facetarias, sendo muito relevante também para melhora de algias na coluna vertebral. 3.5.5 A percepção corporal/postural A partir do momento que solicitamos o auto crescimento, incentivamos e corrigimos a postura pela voz, com um reforço visual e no toque do fisioterapeuta no paciente, estamos proporcionando uma melhora na percepção corporal, ou seja, sobre aquela postura ou posicionamento. 118UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal Normalmente, se abordarmos uma pessoa sentada numa estação de trabalho qual- quer e questioná-la sobre sua postura naquele momento, possivelmente, mesmo que sua atitude postural esteja incorreta, a resposta será diferente, ou seja, de que a postura adotada é correta. Isto não se deve apenas a falta de conhecimento sobre o assunto, mas inclusive sobre a falta de perceber o próprio corpo no espaço. Portanto, a pessoa não percebe que a lombar está mais fletida do que deveria, a cervical mais anteriorizada do que deveria devido à falta de iluminação, por exemplo. Já discutimos sobre isto nesta Unidade, e chamamos de propriocepção ou sensações somatossensoriais. Ou seja, é necessário trabalhar esta percepção do corpo no espaço com estes indivíduos junto com o trabalho postural. 3.5.6 Treinamento resistido isométrico Como já vimos, o trabalho postural é realizado essencialmente com técnicas de treinamento resistido isométrico, visto que há mais fibras tônicas, ou seja, do tipo I nos mús- culos posturais. As posturas devem ser sustentadas por mais tempo do que habitualmente se faz num exercício isotônico. Desta forma, as técnicas descritas em Fisioterapia para tra- tar pacientes portadores de alterações posturais apresentam esta importante característica. Em detrimento disso, há a possibilidade de se mobilizar e movimentar a região apen- dicular, ou seja, os membros superiores e inferiores, porém mantendo a coluna vertebral em contração isométrica. Isto permanece coerente com a fisiologia muscular e funcional. 3.5.7 Orientações e reforço Não é possível para uma pessoa manter sempre uma boa postura. Portanto, orien- te, dê dicas e reforce o desempenho correto, ensinando o paciente a usar pistas ao longo do dia para verificar a postura adotada naquele momento. Por exemplo, instrua o paciente a verificar a postura todas as vezes que ele passar na frente de um espelho, parar no sinal vermelho quando estiver no carro, sentar-se para comer, etc. Proporcione feedback positivo à medida que o paciente se tornar ativamente envolvido no processo de reaprendizado (KISNER e COLBY, 2016). 3.5.8 Respiração Como já vimos, é muito importante a orientação da respiração, que deve ser rít- mica, enfatizando a expiração durante a contração, visto que é muito comum o indivíduo prendê-la durante o exercício isométrico (apneia momentânea), o que poderia provocar uma resposta pressórica decorrente da manobra de Valsalva e levar a um aumento rápido na pressão arterial, o que não é bem-vindo no processo (KISNER e COLBY, 2016). Assim, é fundamental que o fisioterapeuta insira nas atividades cinesioterapêuticas de postura esta característica. As técnicas posturais focam isto. 119UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal 3.5.9 Suporte externo/colete Em casos mais graves pode ser necessário que o indivíduo use algum colete de sustentação postural (Figura 5). Isto porque normalmente ele permanece durante muito tempo em casa ou em suas atividades normais do dia a dia, e possivelmente em posturas inadequadas e assimétricas. Estes suportes ajudam a treinar o funcionamento muscular correto (KISNER e COLBY, 2016). O colete de Milwaukee e a órtese tóraco-lombar-sacral são os mais utilizados. FIGURA 5 - EXEMPLO DE COLETE PARA AUXILIAR NO TRATAMENTO DA ESCOLIOSE 3.6 Técnicas posturais mais comunsna Fisioterapia Várias técnicas têm sido usadas em Fisioterapia para tratar pacientes portadores de quadros posturais alterados. Como já vimos, elas devem considerar todas aquelas características já abordadas aqui, visto que são pautadas na fisiologia normal do corpo humano. 3.6.1 Iso-stretching Muito conhecida, inclusive no Brasil, o Iso-stretching foi desenvolvido em 1974 por Bernard Redondo na França, propõe a promoção de alongamento e fortalecimento dos músculos, principalmente os posturais, de forma geral e alinhada, por meio de exercícios coordenados com controle respiratório e da postura corporal, realizado com controle de todos os movimentos envolvidos no exercício físico a partir de comando verbal firme e 120UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal detalhado do fisioterapeuta. Há uma relevante ação da musculatura profunda, visto que enquanto o indivíduo que realiza a atividade postural, realiza contração da musculatura profunda, além de ajustes posturais e das contrações requeridas ao mesmo tempo que controla a respiração (PARDO, et al., 2015). A técnica do Iso-Stretching prepara e protege a musculatura de uma retração que possa vir a sofrer por falta de atividade física adequada, sendo indicada para todas as idades e capacidades físicas. É considerada uma técnica global porque as posturas utiliza- das objetivam manter o posicionamento vertebral de engrandecimento (auto crescimento), favorecem o alongamento simultâneo dos músculos posteriores da coluna e membros e, ao mesmo tempo, mantém os paravertebrais profundos com uma tonicidade que favorece a manutenção da postura correta adquirida (MONTE-RASO et al., 2009). 3.6.2 RPG A Reeducação Postural Global tem sido instituída por vários fisioterapeutas, visto que promove o alongamento global das cadeias musculares e preconiza utilização de posturas específicas para o alongamento dos músculos. As cadeias musculares são cons- tituídas por músculos gravitacionais que trabalham de forma sinérgica dentro da mesma cadeia. Melhora o corpo, corrige a morfologia, suprime a rigidez e libera as articulações, tratando a desarmonia, levando em consideração as necessidades individuais de cada pessoa (TOLEDO et al., 2011). Algumas posturas são: rã no chão e rã no ar. Utilizaremos como exemplo a postura rã no chão, sendo ela: posicionar o indivíduo em decúbito dorsal com os braços ao longo do corpo, radioulnares em supinação, membros inferiores em abdução com rotação lateral, com flexão de quadril e joelhos até a completa aposição das plantas dos pés. A progressão da postura em abertura de ângulo consiste na extensão e adução dos membros inferiores e abertura dos membros superiores (TOLEDO et al., 2011). 3.6.3 Pilates Busca o condicionamento físico e mental, e possui como intuito principal ampliar a independência no cotidiano das atividades de vida diária. É um método que se baseia no fortalecimento do centro de força (power house), expressão que denota a circunferência do tronco inferior, estrutura de suporte para o corpo. Promove melhora da capacidade pulmonar, fortalecimento dos músculos respiratórios, da mobilidade, pois exercita a tonificação muscular e da flexibilidade, por meio de equipamentos, como por exemplo a bola de Pilates e aparelhos com o uso de molas e elásticos como resistência (Figura 6) (SANTOS et al., 2019). 121UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal FIGURA 6 - EXEMPLO DE EXERCÍCIO DO PILATES 122UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal CONSIDERAÇÕES FINAIS Finalizamos assim a Unidade IV desta apostila, abordando assuntos muito impor- tantes da prática clínica do fisioterapeuta, como os exercícios terapêuticos direcionados a indivíduos que apresentem alterações no equilíbrio, propriocepção e posturais. Sabemos que a incidência destes distúrbios é alta na população e que é este o profissional capacitado para avaliar, planejar, indicar e executar os exercícios terapêuticos com o intuito de melhora do desempenho funcional. Na primeira parte da Unidade discutimos a fundamentação do equilíbrio e entende- mos que podem haver lesões ou patologias tanto na parte aferente, nos centros de controle neuronais quanto na parte eferente, causando disfunções diversas, inclusive propriocep- tivas. Os exercícios para este fim têm como características atividades que evoluem da mais estável para mais instável, de base alargada para diminuição da base de apoio, de superfícies mais estáveis para instáveis, de atividades mais simples para mais complexas, de estáticas para dinâmicas, até que o indivíduo possa receber alta fisioterapêutica. Já na segunda parte da unidade abordamos a coordenação e reconhecemos que ela se relaciona intimamente com o equilíbrio e propriocepção, visto que suas disfunções são alocadas nas mesmas regiões, ou em regiões próximas. Por último, aprendemos sobre a postura, suas alterações e alguns exemplos de exercícios e técnicas que a trabalham. Porém, o mais importante foi entender que algumas características são comuns entre as técnicas, sendo: Princípio do reforço verbal, Princípio do reforço tátil, Princípio do reforço visual, o Auto Crescimento, a percepção corporal/pos- tural, o treinamento resistido isométrico, orientações e reforço, Respiração e a possibilidade do uso de suporte externo/colete. Desta forma, visto que estes conhecimentos são de aplicabilidade clínica imediata, esperamos que eles tenham sido compreendidos por você. 123UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal LEITURA COMPLEMENTAR Artigo 1: Análise comparativa entre idosos praticantes de exercício físico e sedentários quanto ao risco de quedas. Fonte: PARDO, M. S.; LIMA, A. A. R.; SIMÕES, M. S.; GOYA, P. S. A.; VOOS, M. C.; CAROMANO, F. A. Efeito do treino de isostretching na flexibilidade e na força muscular. Acta Fisiátrica. v. 22 n. 2, p.72-76, 2015. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/article/view/114504/112332. Acesso em: 27 ago. 2021. RESUMO: Objetivo: Avaliar efeitos do treino de exercícios de isostreching na fle- xibilidade e força muscular. Método: Trinta e um indivíduos saudáveis (27 mulheres), de 18 a 28 anos, divididos em 2 grupos: Grupo A, isostretching, submeteu-se a programa de exercícios baseados na técnica isostretching e Grupo B, padrão, submeteu-se aos mesmos exercícios utilizando princípios técnicos clássicos do alongamento, por 12 semanas, duas vezes por semana, uma hora por sessão. Foram avaliadas no pré e pós-teste, flexibilidade por meio de fotogrametria pesquisando a distância punho-chão e a classificação da postura segundo categorias de encurtamentos musculares descritas por Kendall e, força muscular por meio de dinamometria. Resultados: Não houve diferença estatisticamente significante no teste de flexibilidade nos dois grupos. Análise de significância clínica e melhora pelo Índice de Mudança Confiável (IMC) mostrou ganho na flexibilidade atingindo 14 participan- tes de ambos os grupos. Análise de contorno do corpo do grupo A apresentou atenuações nas curvaturas da coluna cervical, lombar e torácica e ângulo de flexão de quadril. O grupo B apresentou atenuações na curvatura da coluna cervical e ângulo de flexão de quadril. Em relação à força muscular, o grupo A apresentou diferença estatisticamente significante em alguns grupos musculares específicos, porém sem significância clínica. Conclusão: As duas intervenções afetam a flexibilidade de forma estatisticamente semelhante, porém com impacto diferente nas curvaturas da coluna. O isostretching afetou clinicamente a flexibili- dade de indivíduos saudáveis, com indícios de que treinamentos mais intensos ou longos possam afetar a força muscular. 124UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal Artigo 2:Efeito da técnica isostretching no equilíbrio postural. Fonte: MONTE-RASO, V. V.; FERREIRA, P. A.; CARVALHO, M. S.; RODRIGUES, J. G.; MARTINS, C. C.; IUNES, D. H. Efeito da técnica isostretching no equilíbrio postural, v. 16 n. 2, p.137-142, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/fp/a/NHwCyx8kWYXWwrXB7C6VyLG/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 27 ago. 2021. RESUMO: O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da técnica isostretching em alterações posturais. Doze voluntários com aumento da cifose torácica, escoliose, protrusão de cabeça e ombros foram tratados com a técnica isostretching três vezes por semana em sessões de 1 hora cada. Foram divididos em dois grupos, segundo o número de sessões de tratamento que frequentaram: grupo 1 (n=8), mais de 30 sessões e grupo 2 (n=4), menos de 30 sessões. Para a avaliação postural, os voluntários foram fotografados antes e após o tratamento no plano frontal anterior e posterior, no plano sagital ereto e em flexão anterior de tronco. Os dados foram analisados estatisticamente, considerando o nível de significância de 5%. No grupo 1, os resultados foram satisfatórios quanto às modificações no alinha- mento do triângulo de Talles (∆T) esquerdo (f=0,00), ângulo coxofemoral (f=0,00), ângulo tibiotársico (f=0,00) e alinhamento da coluna torácica (f=0,01). Nos indivíduos do grupo 2, os resultados foram satisfatórios quanto ao alinhamento do joelho esquerdo (f=0,03), ∆T es- querdo (f=0,00), ∆T direito (f=0,01), alinhamento da coluna torácica (f=0,03) e alinhamento da cabeça (f=0,02). A técnica de isostretching, nas posturas adotadas neste estudo, pois foi eficaz no alinhamento da coluna vertebral torácica nos dois grupos, bem como na melhora da flexibilidade no grupo 1; entretanto, não houve melhora nas assimetrias posturais no plano frontal, independente do número de sessões frequentadas pelos sujeitos. 125UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal Artigo 3: Efeitos da Reeducação Postural Global em escolares com escoliose. Fonte: TOLEDO, P. C. V; MELLO, D. B.; ARAÚJO, M. E.; DAOUD, R.; DANTAS, E. H. M. Efeitos da Reeducação Postural Global em escolares com escoliose. Fisioterapia e Pesquisa, v. 18 n. 4. p.329-334, out/ dez 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/fp/a/pkzqZBYYqT8NXqyX3mnHMcK/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 27 ago. 2021. RESUMO: O objetivo deste estudo foi analisar o efeito do método da Reeducação Postural Global (RPG) em escolares com diagnóstico de escoliose torácica não estrutu- ral (ETNE). Os escolares com indicativo de ETNE ao exame postural e teste de Adams negativo foram encaminhados ao exame radiográfico para comprovação diagnóstica. Foram selecionados 20 participantes (11 meninos e 9 meninas, com 10±3 anos), divididos randomicamente em dois grupos homogêneos: o que realizou o RPG (GRPG) durante 12 semanas com duração de 25 a 30 minutos cada sessão, de acordo com o que aguentou permanecer na postura; e o grupo controle (GC), sem intervenção. Após três meses, os dois grupos repetiram a avaliação postural e o exame radiográfico. Para avaliação das estatísticas, foi utilizada análise de variância (ANOVA) univariada, com medidas repetidas, seguida do Post Hoc de Tukey para identificar as possíveis diferenças intra e intergrupos. O valor de α foi de 0,05. O GRPG apresentou redução significativa no ângulo de Cobb na comparação intragrupo (Δ%=-35,100; p=0,009), mas o GC não (Δ%=9,520; p=0,789). Pode-se concluir que escolares submetidos ao método da RPG apresentaram melhora do quadro de escoliose torácica não estrutural. 126UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal Artigo 4: O Método Pilates no solo na qualidade de vida, função pulmonar e força muscular respiratória de idosas. Fonte: SANTOS, M. B. F.; ANTUNES, M. D.; OLIVEIRA, D. V.; PALÁCIO, S. G. O Método Pilates no solo na qualidade de vida, função pulmonar e força muscular respiratória de idosas. Saúde e Pesquisa, v.12. n. 2. p.343-349, maio-ago 2019. Disponível em: https://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/saudpesq/ article/view/7286/3507 Acesso em: 27 ago. 2021. RESUMO: Este estudo teve o objetivo de analisar os efeitos do método Pilates no solo na qualidade de vida, função pulmonar e força muscular respiratória em mulheres idosas. Estudo quase-experimental, realizado com 19 idosas no município de Maringá, Paraná, avaliadas por meio do SF-36, da espirometria e manovacuometria. As idosas foram submetidas a dez sessões de Pilates no solo, realizadas três vezes por semana, durante 60 minutos. Ao término do tratamento as pacientes foram reavaliadas e os dados analisados pelos testes de Wilcoxon e Mann Whitney (p < 0,05). Houve melhora da força muscular inspiratória (40,5%), expiratória (42,9%), da capacidade vital forçada (9,1%), do volume expiratório forçado no primeiro minuto (13,3%); e principalmente na qualidade de vida nos domínios de limitação por aspectos físicos (68,42%), aspectos emocionais (43,42%), capa- cidade funcional (35,0%) e dor (34,37%). O método Pilates no solo mostrou- se eficaz para melhorar a qualidade de vida, na função pulmonar e força muscular respiratória. 127UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal Artigo 5: Análise comparativa da atividade elétrica do músculo multífido durante exercícios do Pilates, série de Williams e Spine Stabilization. Fonte: SILVA, M. A. C.; DIAS, J. M. SILVA, M. F.; MAZUQUIN, B. F.; ABRÃO, T.; CARDOSO, J. R. Análise comparativa da atividade elétrica do músculo multífido durante exercícios do Pilates, série de Williams e Spine Stabilization. Fisioterapia em Movimento, v. 26. n. 1. p.87-94, jan-mar 2013. Disponível em: https:// www.scielo.br/j/fm/a/Zxm6fRVbCGYpzTKmvqdVrPm/?lang=pt&format=pdf Acesso em: 27 ago. 2021. RESUMO: Introdução: A fraqueza da musculatura paraespinhal está relacionada à etiologia da dor lombar. Atualmente existem vários métodos que apresentam exercícios para o fortalecimento dessa musculatura. Objetivos: Comparar e analisar o sinal eletromio- gráfico do músculo multífido bilateralmente durante exercícios do método Pilates, série de Williams e Spine Stabilization. Materiais e métodos: Participaram do estudo dez mulheres voluntárias e saudáveis que realizaram os exercícios leg pull front support modificado do Pilates, o quarto exercício da série adicional de Williams e o quadruped exercise do Spine Stabilization. O sinal foi normalizado pelo pico eletromiográfico da atividade dinâmica e fo- ram ajustados para 2000 amostras por segundo e o filtro em uma frequência de passagem de 20 a 450 Hz. A ANOVA foi utilizada para verificar diferenças entre os exercícios, o teste t para amostras dependentes foi usado para comparar a ativação entre os lados direito e esquerdo do multífido para cada exercício. Resultados e considerações finais: Na compara- ção entre os exercícios, observaram-se diferenças significativas para o músculo multífido a favor do exercício do método Pilates tanto na fase concêntrica quanto na excêntrica, o que demonstra ser o exercício de melhor ativação elétrica para o músculo analisado. 128UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal Artigo 6: Avaliação da propriocepção do joelho em indivíduos portadores de disfunção femoropatelar. Fonte: LOBATO, D. F. M.; SANTOS, G. M.; COQUEIRO, K. R. R.; MATTIELLO-ROSA, S. M. G.; TERRUGGI-JUNIOR, A.; BEVILAQUA-GROSSI, D.; MATTIELLO-SVERZUT, A. C. M.; BÉRZIN, F.; SOARES, A. B.; MONTEIRO-PEDRO, V. Avaliação da propriocepção do joelho em indivíduos portadores de disfunção femoropatelar. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 9. n. 1. p.57-62, 2005. Disponível em: https://www. researchgate.net/profile/Daniel-Lobato/publication/327445622_Avaliacao_da_propriocepcao_do_joelho_em_ individuos_portadores_de_disfuncao_femoropatelar/links/5b8fd76c45851540d1ca2001/Avaliacao-da-pro-priocepcao-do-joelho-em-individuos-portadores-de-disfuncao-femoropatelar.pdf . Acesso em: 27 ago. 2021. RESUMO: Objetivo: Avaliar a propriocepção do joelho de indivíduos portadores de disfunção femoropatelar (DFP) e de indivíduos-controle em dinamômetro isocinético. Método: Foram selecionados 20 sujeitos do sexo feminino, sendo 10 (22,5 ± 2,3 anos) portadores de DFP unilateral sem sintomatologia dolorosa (grupo DFP) e 10 (21,3 ± 1,7 anos) clinicamente normais (grupo N). As voluntárias, sentadas na cadeira do dinamômetro isocinético e com os olhos vendados, realizaram três reposicionamentos ativos para três di- ferentes ângulos-alvo (30, 45 e 60 graus) de flexão do joelho. As variáveis estudadas foram o ângulo de reposicionamento ativo do joelho e os erros absoluto e relativo em relação a cada ângulo-alvo avaliado. Resultados: O teste t evidenciou que não houve diferença signi- ficativa na média dos reposicionamentos ativos (p30o = 0,33; p45o = 0,39; e p60o = 0,96) entre os grupos DFP e controle. Além disso, a análise de variância (ANOVA) não mostrou diferença significativa, tanto na média do erro absoluto (p = 0,66) quanto na média do erro relativo (p = 0,81) entre os diferentes ângulos-alvo de flexão do joelho. Conclusão: Nas condições experimentais utilizadas, os dados do presente estudo não evidenciaram déficit proprioceptivo em relação ao senso de posição articular entre os grupos DFP e controle. 129UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: RPG: Reeducação Postural Global: O método Autor: Philippe Souchard. Editora: Elsevier, 2011. Sinopse: Esta obra é o resultado de 30 anos de evolução do método Reeducação Postural Global e constitui um guia completo e atualizado, tanto do ponto de vista dos fundamentos científicos quanto da aplicação prática. Philippe Souchard dedica-se aqui a uma releitura da fisiologia e da fisiopatologia da função muscular estática, associada a observações pessoais e a pesquisas em bio- mecânica solidamente documentadas. Este trabalho de síntese, ricamente fundamentado e ilustrado, permite identificar claramente a responsabilidade da retração muscular nas patologias muscu- loesqueléticas, sejam elas morfológicas ou lesionais, e propor um tratamento original dessas disfunções. FILME / VÍDEO Título: 4 exercícios - Pliometria Ano: 2019 Sinopse: Hoje a Cinética traz 4 exercícios de Pliometria para os membros inferiores. A pliometria é um método de treinamento que envolve o ciclo de alongamento-encurtamento (CAE) dos músculos. Normalmente é realizada através de saltos, porém, não é apenas aplicável aos membros inferiores. A pliometria é muito utilizada nos treinamentos de potência, além de ter uma grande demanda cardiovascular em decorrência do uso de movimentos explosivos. Dentre os benefícios da pliometria, vale a pena citar a melhora da força, potência e do equilíbrio dinâmico. E você, utiliza o treinamento plimétrico? Quais exercícios você utiliza? Um abraço da equipe Cinética. Link: https://www.youtube.com/watch?v=HuR_YoPhJ4c 130 REFERÊNCIAS AIRES, M.; PASKULIN, L. M.; MORAIS, E. P. Capacidade funcional de idosos mais velhos: estudo comparativo entre três regiões do rio Grande do Sul. Revista Latino Americana de Enfermagem. v. 18 n. 01, p.11-17, 2010. ALECRIM, J. V. C.; ALECRIM NETO, J. V. C.; SOUZA, M. O.; PIRES, G. P. Efeito do treina- mento pliométrico e isométrico na força explosiva de atletas de handebol. Resvista Ciencias de la Actividad Física UCM. v. 20 n. 2, 2019. BRASIL. COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, 2011. Re- solução no 402 de 03 de agosto de 2011. 2021c. Disponível em: https://www.coffito.gov.br/ nsite/?p=3165. Acesso em: 11 ago. 2021. BRODY, L. T.; HALL, C. M. Exercício terapêutico. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. FIGLIOLINO, J. A. M.; MORAIS, T. B.; BERBEL, A. M., CORSO, S. D. Análise da influência do exercício físico em idosos com relação a equilíbrio, marcha e atividade de vida diária. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 12 n. 2. p. 227-238, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/W93YFZyb4MFJWhqBtYxgKSJ/?lang=pt&format=pdf GUYTON; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia médica. Rio de Janeiro: GEN – Grupo Editorial Nacional. Guanabara Koogan, 2021. KENDALL, F. P.; MACCREARY, E. K., PROVANCE, P. G, RODGERS, M. M., ROMANI, W. A. Músculos provas e funções: com Postura e Dor. 5. ed. Barueri, SP: Manole, 2007. KISNER, C.; COLBY, L. A. Exercícios terapêuticos: Fundamentos e técnicas. 6. ed. Barueri, SP: Manole, 2016. 131 LIPPERT, L. S. Cinesiologia Clínica e Anatomia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. LOBATO, D. F. M.; SANTOS, G. M.; COQUEIRO, K. R. R.; MATTIELLO-ROSA, S. M. G.; TERRUGGI-JUNIOR, A.; BEVILAQUA-GROSSI, D.; MATTIELLO-SVERZUT, A. C. M.; BÉRZIN, F.; SOARES, A. B.; MONTEIRO-PEDRO, V. Avaliação da propriocepção do joelho em indivíduos portadores de disfunção femoropatelar. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 9. n. 1. p.57-62, 2005. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/DanielLobato/ publication/327445622_Avaliacao_da_propriocepcao_do_joelho_em_individuos_portado- res_de_disfuncao_femoropatelar/links/5b8fd76c45851540d1ca2001/Avaliacao-da-proprio- cepcao-do-joelho-em-individuos-portadores-de-disfuncao-femoropatelar.pdf. Acesso em: 27 ago. 2021. MAGEE, D. J. Avaliação musculoesquelética. 5. ed. Barueri, SP: Manole, 2010. MONTE-RASO, V. V.; FERREIRA, P. A.; CARVALHO, M. 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Portan- to, é apenas através do exercício terapêutico, bem indicado e executado, que o movimento pode ser restabelecido ou qualquer disfunção pode ser prevenida. Por isso, esta disciplina faz parte da graduação em Fisioterapia. É bem verdade que o fisioterapeuta não é o único profissional do movimento, mas é ele o que está cada vez mais inserido no mercado de trabalho em diversos segmentos, desde hospitais, centros de Reabilitação, na Saúde do Trabalhador, em empresas, em clínicas, de especialidades fisioterapêuticas diversas. Neste material, discutimos desde fundamentos introdutórios dos exercícios tera- pêuticos, tipos de exercícios (Unidade I), o treinamento aeróbio e exercícios respiratórios, alongamento muscular (Unidade II), o treinamento de força, potência e resistência à fadiga (Unidade III), o equilíbrio, coordenação, postura e percepção corporal (Unidade IV). Desta forma, formamos base para o aprendizado destas técnicas e revelamos sua importância para a prática clínica. Enfatizamos suas características principais. Por exemplo, vimos que o trabalho de resistência à fadiga é diferente do trabalho de potência. Que os exercícios pliométricos trabalham o ciclo concêntrico-excêntrico e os exercícios posturais focalizam a atividade isométrica. Vimos também que os exercícios de alongamento melhoram a extensibilidade. Considere que estes conhecimentos abordados aqui formam importante base para a com- preensão de outras disciplinas, inclusive aquelas que vem a frente. Por isso, esperamos que você tenha compreendido a importância do conteúdo, as ações do Fisioterapeuta relacionadas ao exercício terapêutico e ainda mais, siga na direção do seu objetivo final: o de ser Fisioterapeuta. Até uma próxima oportunidade. Muito obrigado! +55 (44) 3045 9898 Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR www.unifatecie.edu.br UNIDADE I Introdução à Cinesioterapia: Os Fundamentos Teóricos e os Tipos de Exercícios UNIDADE II Alongamento Muscular, Treinamento Aeróbio e Exercícios Respiratórios UNIDADE III Treinamento de Força, Potência e Resistência Musculares UNIDADE IV Equilíbrio, Propriocepção, Coordenação, Postura e Percepção Corporal