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UNESA Aluno: Matheus Costa Gomes Matricula: 201703173813 Professor: Marcelo Garcia ATIVIDADE 02 – NP4 EXMO. JUIZ DE DIREITO DA __ VARA DA COMARCA DE SANTA HELENA DE GOIÁS - GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio da xª Promotora de Justiça – Curadora do Meio Ambiente desta Comarca, com fundamento no art. 129, inc. III, e art. 225, ambos da Constituição Federal; art. 117, inciso III, § 3º, da Constituição do Estado de Goiás; art. 25, inc. IV, alínea “a”, da Lei Federal nº 8.625/93; art. 46, inc. VI, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual nº 25/98; art. 67, da Lei Federal nº 9.605/98; na Lei Federal nº 8.078/90; na Lei Federal nº 6.938/81, na Lei Federal nº 7.347/85, nas Resoluções Conama nº 001/86, 237/97 e 279/01, e demais dispositivos aplicáveis à espécie, vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA em desfavor de: MINERAÇÃO XPTO, pessoa jurídica de direito privado, sediada em GO, às margens do Ribeirão, com CNPJ de nº xxxx, Santa Helena de Goiás – GO, representada judicialmente por (nome completo, nacionalidade, estado civil, profissão, RG xxx, e CPF xxx, residente e domiciliado à rua xxx, bairro, cidade - UF, CEP xxx. com base nos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos. DOS FATOS: A empresa requerida atua com a exploração de uma pedreira de extração de basalto, e a referida extração tem causado GRAVISSIMOS DANOS NO MEIO AMBIENTE, devido a utilização de explosivos. Por meio de ofício direcionado ao Presidente da Agência Ambiental, a fim de apurar a licença do empreendimento, VERIFICOU-SE QUE A LICENÇA DE INSTALAÇÃO ESTAVA VENCIDA E A LICENÇA DO FUNCIONAMENTO SE ENCONTRAVA SUSPENSA. A realidade é que a requerida não possui licença ambiental, de instalação, e nem de funcionamento. Mesmo que o empreendimento já tenha sido licenciado anteriormente, não houve revalidação deste licenciamento. Constata-se que a Agência Ambiental jamais deveria ter liberado licença de instalação ou de funcionamento, pois, tudo indica que o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e a apresentação de Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) não foram realizados, de acordo com a Resolução do CONAMA nº 001 de 23 de janeiro de 1986, sendo estes indispensáveis para a atividade de extração mineral, e também a obtenção de autorização junto ao Departamento Nacional de Mineração. Verifica-se nas licenças ambientais anteriores que existe exigência do empreendimento atender também aos requisitos de outras entes da Administração Pública, sendo Municipal, Estadual ou ainda Federal, com pena de suspensão da licença que foi emitida pela Agência Ambiental. A empresa também não realizou a revalidação do Alvará junto à Secretaria de Administração e Finanças do Município, de maneira que, mesmo que conseguisse licença ambiental do órgão estadual competente, esta mesma licença estaria suspensa automaticamente. Por fim, nem a autorização para realizar a extração mineral do Departamento Nacional de Mineração, que é indispensável para esses empreendimentos foi apresentada pela empresa ré. Para a atividade de extração mineral, é indispensável, inclusive, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), conforme a Resolução do CONAMA de nº 001 de 23 de janeiro de 1986. Vejamos: “Art. 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como: IX – Extração de minério, inclusive os de classe II, definidas no Código de Mineração; ” Além de todas as irregularidades elencadas, fica evidente que a empresa requerida está desrespeitando a área de preservação permanente do Ribeirão X. Pela largura do leito do referido Ribeirão, sua área de preservação permanente deve corresponder a 50 (cinquenta) metros, no mínimo. Além disso, segundo a Portaria GM nº124, de 20 de agosto de 1980, que se destina a prevenir a ocorrência de acidentes ambientais nos rios por indústrias potencialmente poluidoras, deve haver respeito, independente da largura do leito do manancial, a uma faixa de 200 (duzentos) metros ao longo de seu curso, quando for utilizado para abastecimento. O Ribeirão X é o manancial que abastece a cidade de Santa Helena de Goiás e vem sendo constantemente monitorado pelo Município, preocupado com os altos índices de agrotóxicos encontrados nas amostras de água bruta. É nítido que a existência desses índices se deve à utilização indevida de agrotóxicos nas lavouras do município. Entretanto, é necessário demonstrar o quanto a água que a população de Santa Helena consome é extraída de manancial tão maltratado. Aliás, por falar em maus-tratos, apesar de existir previsão constitucional da obrigação de recuperar o meio ambiente degradado pela exploração de recursos minerais, não há o menor sinal de que tenha sido tomada, ao longo de todos esses anos, uma única medida nesse sentido. É por todos esses fatos que o Ministério Público vem ajuizar a presente ação. DO DIREITO A Constituição Federal prevê que: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. O parágrafo segundo desse dispositivo prevê que “Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão competente, na forma da lei. ” Essa obrigação de recuperar o meio ambiente é uma das facetas de responsabilidade jurídica inerente à exploração mineral. A Lei nº 7.805/89, em seu artigo 19, prevê, ainda, que: ”O titular de autorização de pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de concessão de lavra, de licenciamento ou de manifesto de mina responde pelos danos causados ao meio ambiente”. É certo que pelo visto, não obteve a empresa ora requerida permissão de lavra. Entretanto, importante demonstrar a seriedade que a legislação infraconstitucional tratou a matéria, inclusive com previsão de responsabilidade civil objetiva. A abertura das cavas enseja a obrigação de recuperação da área, porque segundo Paulo Affonso Leme Machado, em “Direito Ambiental Brasileiro, pg. 656, 11ª Edição, “modifica a fertilidade do solo, a topografia e a paisagem da área. De um lado buracos vão sendo abertos e, de outro lado, pilhas de estéreis e de rejeitos vão sendo feitas. ” Por ser uma atividade capaz de causar impacto de tal proporção no meio ambiente é que a legislação ambiental pátria condiciona o exercício da extração mineral ao preenchimento de tantos requisitos. Cumpre salientar que acerca da vegetação de preservação permanente, máxime quando há induvidosa mensuração, no art. 2º da Lei 4.771/65, não cabe outra decisão ao Departamento Nacional da Produção Mineral-DNPM, ao IBAMA e aos órgãos ambientais estaduais a não ser cumprir as normas, sem nenhuma margem de discricionariedade. A despeito disso, como vimos, a Agência Ambiental chegou a licenciar o empreendimento, e tudo indica que não houve o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) nem apresentação de Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), conforme a Resolução do CONAMA de nº 001 de 23 de janeiro de 1986, o que, para a atividade de extração mineral, é indispensável, tampouco obtenção de autorização junto ao Departamento Nacional de Mineração. Se por alguns anos a atividade chegou a ser licenciada, o fato é que, atualmente, conforme se depreende dos autos, não existe nem mesmo licenciamento precárioa amparar a atividade desempenhada pela requerida. Em direito ambiental, as licenças revelam outra nuança, em razão do bem jurídico envolvido, qual seja, o meio ambiente, que não se encontra na esfera de disponibilidade de ninguém, nem do Estado, nem dos administrados. Bem jurídico de uso comum do povo, o meio ambiente é direito difuso e possui como características precípuas a indeterminabilidade, indivisibilidade e indisponibilidade. A Resolução CONAMA nº 237/97, em seu art. 1º, inc. II conceitua Licença Ambiental como: “Ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental”. O licenciamento ambiental, instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (CF, art. 225, § 1º, incs. IV e V; art. 9 a, inc. IV, da Lei n. 6.938/81), constitui, em verdade, em instrumento de gestão do ambiente, tendo em vista que por seu intermédio, conforme ensina Edis Milaré, “busca a Administração Pública exercer o necessário controle sobre as atividades humanas que interferem nas condições ambientais, de forma a compatibilizar o desenvolvimento econômico com a preservação do equilíbrio ecológico” (Direito do Ambiente, Ed. Revista dos Tribunais, 2000, pág. 313). O licenciamento ambiental é, portanto, um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente que tem como escopo o cumprimento de dois princípios constitucionais ambientais insculpidos na Carta Magna, quais sejam: I. Princípio da prevenção, do qual decorre a obrigatoriedade ao Poder Público de realizar a prévia análise ambiental antes da tomada de decisão; e II. Princípio do controle da atividade do poder público. A falta de licença ambiental prévia gera, na verdade, a presunção de que a atividade realmente é poluidora do meio ambiente, causando a inversão do ônus da prova. Apesar de não possuir licença ambiental prévia, a requerida vem funcionando normalmente, como se o preenchimento de tal requisito não fosse necessário, o que não pode ser permitido. Na instrução probatória, será requerida a realização de perícia para comprovar em definitivo que a requerida não preenche os requisitos necessários para a obtenção do licenciamento ambiental, de modo que o objetivo do Ministério Público não é apenas o encerramento das atividades da requerida, porque ela está funcionando sem licença, mas também o impedimento de que volte a operar, ainda que, em remotíssima hipótese, seja licenciada, e, finalmente, que seja ela obrigada a reparar o dano. Abordados todos esses aspectos, convêm lembrar ainda que o funcionamento da pedreira não pode ser permitido pela própria faceta criminal que o acompanha, conforme previsto na Lei 9.605/98: “Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena – detenção, de seis meses a um ano e multa. ” DA NECESSIDADE DE MEDIDA LIMINAR A Lei nº 7.347/85, que disciplina a ação civil pública, autoriza o juiz a conceder medida liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo (art. 12). De fato, Rodolfo de Camargo Mancuso, em sua obra “Ação Civil Pública” (Ed. RT, 5ª edição, pág. 149), diferencia “ação cautelar” de “mandado liminar”, ambas expressões previstas na Lei nº 7.347/85: “Conjugando-se os arts. 4º e 12º da Lei 7.347/85, temse que essa tutela de urgência há de ser obtida através de liminar, que tanto pode ser pleiteada na ação cautelar (factível antes ou no curso da ação civil pública) ou no bojo da própria ação civil pública, normalmente em tópico destacado da própria petição inicial”. Para esse fim, aponta-se a presença dos dois requisitos indispensáveis, ou seja, o “periculum in mora” e o “fumus boni juris”. O “fumus boni juris” reside justamente na demonstração de que a requerida vem funcionando sem licença ambiental, o que constitui infração penal com previsão no art. 50 da Lei 9605/98. O “periculum in mora” também foi demonstrado. Citada por Rodolfo de Camargo Mancuso, na obra mencionada (pág. 145), Lúcia Valle Figueiredo é contundente ao afirmar que “A irreparabilidade do dano na ação civil pública é manifesta, na hipótese de procedência da ação. A volta ao status quo ante é praticamente impossível e o fluid recovery não será suficiente a elidir o dano. Destaca-se também que os valores envolvidos na ação civil pública têm abrigo constitucional. A lesão a ditos valores será sempre irreparável (danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valores histórico, turístico e paisagístico). JUSTAMENTE PARA EVITAR A IRREPARABILIDADE DOS DANOS AMBIENTAIS É QUE URGE A CONCESSÃO DA LIMINAR. DO OBJETIVO DA AÇÃO Como exaustivamente noticiado, a presente ação civil pública tem como finalidade coibir a atividade exercida pela requerida, impedir que ela opere sem a licença ambiental, impedir que ela continue funcionando às margens do Ribeirão X, ao arrepio do Código Florestal, bem como obrigar que repare o dano ambiental causado. Para tanto, pede o Ministério Público a imposição de obrigação de não fazer, para que se abstenha definitivamente de extrair minérios, sob pena de multa (Lei nº 7.347/85, art. 11). DO PEDIDO Ante o exposto, o Ministério Público requer: 1) que seja deferida medida liminar com o fim de: a) impor à Mineradora XPTO a obrigação de não fazer, consistente em abster-se de desenvolver suas atividades; b) a fixação de multa diária de R$ xxx (xxx reais), caso a requerida descumpra a obrigação mencionada acima, montante a ser recolhido ao Fundo Municipal do Meio Ambiente; 2) a citação da requerida, na pessoa do seu representante legal, para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias; 3) ao final, a procedência da ação, condenando-se a requerida à obrigação de não fazer, consistente em abster-se de funcionar, sob pena de aplicação da multa mencionada no item “1.b” do pedido da presente ação, bem como condenando-se, também, à obrigação de fazer, consistente em reparar o dano ambiental causado, com fundamento no dispositivo constitucional já ventilado. 4) Os fatos serão provados através de documentos (ora apresentados e a serem juntados), oitiva de testemunhas (a serem arroladas oportunamente), inspeção judicial in loco, perícias e depoimento pessoal dos representantes legais da requerida. Dá-se à causa o valor de R$ XXX. Nestes termos, Pede deferimento. Santa Helena de Goiás, Data. NOME COMPLETO Promotor de Justiça