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18/09/2019 Número: 5032146-41.2016.8.13.0024 Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL Órgão julgador: 3ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte Última distribuição : 07/03/2016 Valor da causa: R$ 100.000,00 Assuntos: Revogação/Concessão de Licença Ambiental Segredo de justiça? NÃO Justiça gratuita? NÃO Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais PJe - Processo Judicial Eletrônico Partes Procurador/Terceiro vinculado Ministério Público - MPMG (AUTOR) ESTADO DE MINAS GERAIS (RÉU) DEPARTAMENTO de EDIFICACOES e ESTRADAS de RODAGEM (RÉU) Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 84220 332 16/09/2019 18:27 Sentença Sentença PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS COMARCA DE BELO HORIZONTE 3ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte Avenida Raja Gabaglia, 1753, Luxemburgo, BELO HORIZONTE - MG - CEP: 30380-900 PROCESSO Nº 5032146-41.2016.8.13.0024 CLASSE: AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL (65) ASSUNTO: [Revogação/Concessão de Licença Ambiental] AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO - MPMG RÉU: ESTADO DE MINAS GERAIS, DEPARTAMENTO DE EDIFICACOES E ESTRADAS DE RODAGEM Vistos. I – RELATÓRIO Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada por Ministério Público de Minas Gerais em face do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais – DER/MG e do Estado de Minas Gerais, com pedido de antecipação de tutela, sob os fatos e afundamentos a seguir expostos: - que o DER/Mg opera a Rodovia MG 437 sem o devido licenciamento ambiental e sem ter apresentado Estado de Impacto Ambiental para analisar as melhores alternativas técnicas para prevenção, mitigação e compensação de impactos ambientais. Ainda, alega que, devidamente recomendado para convocar empreendimentos na situação da Rodovia MG 437 ao licenciamento, o Estado de Minas Gerais quedou-se inerte e não adotou qualquer providência em relação à operação irregular da aludida estrada de rodagem. Por tal razão, o autor pugna: Num. 84220332 - Pág. 1Assinado eletronicamente por: RENATA BOMFIM PACHECO - 16/09/2019 18:27:37 https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19091616015002900000082904198 Número do documento: 19091616015002900000082904198 - pela condenação dos réus na realização do procedimento de licenciamento ambiental da Rodovia MG 437, com exigência de apresentação de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e de Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA), após a formalização de requerimento pelo primeiro réu sob pena de multa diária de R$1.000,00 (mil reais); - pela obrigação dos requeridos em adotar as medidas administrativas previstas no Decreto Estadual 44.844 em relação à operação sem licença da Rodovia MG 437, entre as quais cita-se autuação e aplicação de penalidades, sob pena de multa diária de R$1.000,00 (mil reais). Citado, o Estado de Minas Gerais apresentou defesa, alegando, preliminarmente, ausência de interesse de agir, sob o fundamento do Termo de Compromisso da Resolução SEMAD nº 1875/2013. Em seguida, foi citado o DER/MG, o qual apresentou defesa, suscitando, preliminarmente, prescrição, falta de interesse de agir e a improcedência do pedido inicial. Impugnada a contestação pelo autor. Partes informam não ter mais provas a produzir. É o relatório. DECIDO. II – FUNDAMENTAÇÃO II.1 – DA PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO O réu DER/MG pleiteou a declaração da prescrição pela incidência do art.1º do decreto 20.910/32 ou pela aplicação da regra do microssistema processual coletivo indicado pelo art. 21 da lei 4.717/65. Ocorre que a prescrição não é cabível no caso em tela, vez que inexistente o transcurso do lapso temporal para a Administração exigir a regularização ambiental da obra/prestação de serviço. Caso pudesse se falar em prescrição, seria o mesmo que avalizar o direito de poluir ou degradar o ambiente mediante a junção dos elementos de decurso do tempo e inércia do Poder Público. A prescrição poder ser aplicada em relação às penalidades, mas jamais ao dever/direito do Estado em fiscalizar o dever de proteger ao ambiente. Nesse viés, rejeito a preliminar suscitada. II. DA SUPERVENIÊNCIA DA FALTA DE INTERESSE DE AGIR Em sede de defesa, os réus suscitaram ausência de interesse de agir do autor, sob o fundamento de ter sido firmado um Termo de Compromisso entre o DER/MG e a SEMAD para apresentação dos estudos ambientais. O artigo 3 ,§2º da Resolução SEMAD n.º 1875/2013, dispõe os seguintes termos:o Art. 3º. A SEMAD oficiará os responsáveis pelas rodovias estaduais pavimentadas e em operação, bem como das rodovias cuja administração foi delegada ao Estado de Minas Gerais, que estejam sem as respectivas licenças ambientais, para que no prazo máximo de trezentos e sessenta dias firmem Termo de Num. 84220332 - Pág. 2Assinado eletronicamente por: RENATA BOMFIM PACHECO - 16/09/2019 18:27:37 https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19091616015002900000082904198 Número do documento: 19091616015002900000082904198 Compromisso com o fim de apresentar, de acordo com o cronograma estabelecido no art. 7º, os estudos ambientais que subsidiarão a regularização ambiental, por meio das respectivas Licenças de Operação-LOs. § 1º O prazo máximo de trezentos e sessenta dias para firmar o Termo de Compromisso será atendido conforme as etapas estabelecidas nos incisos I a III do caput do art. 7º, de acordo com o seguinte cronograma: I - de até cento e vinte dias para as rodovias previstas no inciso I do caput do art. 7º; II - de até duzentos e quarenta dias para as rodovias previstas no inciso II do caput do art. 7º; e III - de até trezentos e sessenta dias para as rodovias previstas no inciso III do caput do art. 7º. § 2º A assinatura do Termo de Compromisso suspende as sanções administrativas ambientais já aplicadas pela SEMAD e impede novas autuações, quando relativas à ausência da respectiva licença ambiental. § 3º O disposto no § 2º não impede a aplicação de sanções administrativas ambientais pelo descumprimento do próprio Termo de Compromisso. § 4º No Termo de Compromisso deverá constar previsão no sentido de que as informações atualizadas relativas à regularização e gestão ambiental estejam disponíveis na rede mundial de computadores. No entanto, observa-se que o pedido da inicial para realização de EIA/RIMA não se confunde com aquilo que foi disciplinado no ato normativo. O autor pleiteia a elaboração do EIA/RIMA e a Licença Ambiental Corretiva da Rodovia já instalada, em obediência à Resolução CONAMA n.º 01/86, sendo que tais instrumentos sequer foram mencionados na Resolução SEMAD n.º 1875/2013. A invocada Resolução SEMAD estabeleceu prazos e procedimentos, os quais não revogam nem substituem o disposto no artigo 10 da Lei n.º 6.938/81 c/c artigo 14 do Decreto Estadual n.º 44.844/2008, no tocante ao EIA/RIMA. Nesse sentido, não ha se falar em ausência de interesse de agir ou perda do objeto da presente demanda. Assim, rejeito a preliminar suscitada pelos réus e passo à análise do mérito. II.3 – DO MÉRITO A presente Ação Civil Pública tem o escopo de compelir o DER a realizar ealizar Procedimento de Licenciamento Corretivo fundamentado em Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA) da Rodovia MG 437. O art.225 da Constituição Federal estabelece que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder NoPúblico e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. mesmo dispositivo - §1º, inciso IV - “também há previsão expressa quanto à obrigação de elaboração de estudo prévio de impacto ambiental como forma de se assegurar a preservação do meio ambiente”. Ainda, o art.10 da Lei 6.938/81, que foi recepcionado pela Carta Constitucional de 1988, na sua redação original, já previa que a construção, instalação, ampliação e funcionamentode atividades potencialmente poluidoras dependeriam de prévio licenciamento ambiental. E, conforme expressamente previsto na Resolução CONAMA número 001/86, art. 2º, I o licenciamento das estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento dependem da realização do EIA e RIMA. Num. 84220332 - Pág. 3Assinado eletronicamente por: RENATA BOMFIM PACHECO - 16/09/2019 18:27:37 https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19091616015002900000082904198 Número do documento: 19091616015002900000082904198 Por obviedade, o licenciamento para a construção da referida é medida obrigatória, com fins de preservar o meio ambiente, porém, especificamente, o EIA/RIMA consistem em instrumentos de análise da área de influência do projeto que será realizado e, por tal razão, o caráter é predominantemente preventivo e prévio à permissão e licença ambiental. Assim, o Ministro Herman Benjamim, em artigo intitulado “Os Princípios do estudo de Impacto Ambiental como Limites à Discricionariedade Administrativa” afirmou: Não há como se falar em EIA sem espírito preventivo, carente de transparência, sem consulta multidisciplinar e abrangente e em que se deixe de fundamentar a opção administrativa eventualmente eleita. (...) Nenhum outro instituto de direito ambiental melhor exemplifica este direcionamento preventivo que o EIA. Foi exatamente para prever (e, a partir daí, prevenir) o dano, antes de sua manifestação, que se. criou o EIA. Daí a necessidade de que o EIA seja elaborado no momento certo: antes do início da execução, ou mesmo de atos preparatórios, do projeto. Não é à-toa que a Constituição Federal preferiu rebatizar o instituto, passando de "avaliação de impactos ambientais" para “estudo prévio de impacto ambiental”. O EIA só se justifica quando preliminar ao ato de licenciamento. Do contrário, não se cumpre o princípio da prevenção. "Um EIA não cumprirá suas finalidades se, ao ser elaborado pelo órgão, ocorrer tão tardiamente no processo decisório que compromissos com o projeto em questão já tenham sido feitos e sejam irreversíveis." Dessa forma, entendo ser inócua a realização do EIA/RIMA para uma Rodovia construída há anos. Ademais, ressalta-se o fato que, na época da construção da Rodovia MG 437, os instrumentos posteriormente tidos como obrigatórios por ordem constitucional, ainda não eram consagrados, o que justifica a ausência de exigência anterior. Nesse viés foi o entendimento o Superior Tribunal de Justiça, no Resp 1172553/PR, no voto do Ministro Napoleão em que entendeu pela inviabilidade de realização de EIA/RIMA de usina hidrelétrica construída na década de 1970: 5. Cabe gizar, desde logo, que não se pretende aqui dar guarida a um eventual direito a poluir, consequência de um entendimento raso quanto à questão da irretroatividade das leis. Conforme leciona ÉDIS MILARÉ, licenciada ou autorizada determinada obra ou atividade que posteriormente se revelasse prejudicial ao meio ambiente, nenhuma alteração ou limitação se lhe poderia impor, em homenagem àquela garantia e ao princípio da livre iniciativa, também resguardado constitucionalmente (Direito do Ambiente, São Paulo, RT, 2009, p. 841). 6. Assim, cumpre destacar que a exigência de realização de estudo prévio de impacto ambiental, relativamente às atividades potencialmente causadoras de dano ambiental, tem sede constitucional, nos termos do art. 225, § 1o., IV da CF, não havendo falar, por óbvio, em direito adquirido contra a Lei Maior da Federação ou sua irretroatividade (art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1o. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade). Num. 84220332 - Pág. 4Assinado eletronicamente por: RENATA BOMFIM PACHECO - 16/09/2019 18:27:37 https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19091616015002900000082904198 Número do documento: 19091616015002900000082904198 7. O que se mostra inviável, no caso em exame, todavia, é pretender, após mais de 40 anos, recriar as condições existentes anteriormente à instalação do projeto, dimensionar os impactos causados pela instalação da usina hidrelétrica e, a partir daí, obter parâmetros para uma eventual compensação financeiradevida ao Município de Santana de Itarapé (PR), pela perda de arrecadação em face da redução das atividades agro-pastoris. 8. Reitero que, após 40 anos não faz mais qualquer sentido a elaboração de estudo prévio de impacto ambiental, apto a oferecer alternativas aos prováveis impactos ambientais a serem causados pela instalação do empreendimento. 9. Portanto, no caso que ora se analisa, com a devida vênia às opiniões em contrário, não há qualquer possibilidade de realização do Estudo de Impacto Ambiental, na forma em que determinada pelo Magistrado de primeiro grau, em decisão mantida pelo Tribunal Paranaense, porquanto impossível recriar as condições supostamente existentes quando da implantação do projeto, ocorrida há mais de 40 anos e, principalmente, por desviar-se completamente dos objetivos constitucionais e legais estabelecidos para o EIA/RIMA. 10. A meu sentir, o que se deve exigir, em substituição, é a elaboração de perícia adequada ao caso em exame, que abrangeria, em princípio, uma avaliação dos impactos efetivamente causados pela instalação da Usina Hidrelétrica Chavantes, relativamente ao Município de Santana de Itarapé (PR), particularmente no que toca à alegada perda de arrecadação em face da redução das atividades agro-pastoris, devendo considerar-se, igualmente, os eventuais aumentos da receita tributária (impostos direitos e indiretos) oriundos da atividade de produção de energia elétrica, bem como os impactos verificáveis decorrentes do aumento da circulação de riquezas na região. (REsp 1172553/PR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/05/2014, DJe 04/06/2014) No sentido de reconhecer a inviabilidade do EIMA/RIMA em obras já construídas também trago à baila trecho do Acórdão do TJMG: Sendo assim, a realização do EIA em empreendimentos já consolidados e em operação é, em grande parte, inócuo, uma vez que parte significativa das informações e alternativas por ele identificadas e em tese proposta seriam inúteis, porquanto não mais passíveis de serem aproveitadas no plano concreto. Ora, de que serviria atualmente um estudo técnico apontando, por exemplo, que aquela obra não poderia ter sido construída naquele local e concluindo que os danos são irreversíveis? Vamos punir o Poder Público por ter deixado de prever, num exercício de futurologia, que mais tarde seria exigência constitucional a realização de um estudo aprofundado dos impactos ambientais? Vamos determinar a desativação da rodovia? Com renovada vênia, não faz o menor sentido a exigência de um estudo tão complexo como o EIA /RIMA para uma rodovia construída há anos, parte dela há décadas, sendo que alguns trechos foram implantados quando ainda não havia essa exigência, seja na legislação constitucional ou infraconstitucional. (Ap Cível/Rem Necessária 1.0520.17.001503-3/001 0015033-92.2017.8.13.0520 (1) Des.(a) Versiani Penna. Data do julgamento 07/02/2019. Data da publicação da súmula: 14/02/2019). Esclareça-se que o interesse da coletividade e preservação do meio ambiente não está em segundo plano, mas tão somente está sendo analisada a viabilidade de um estudo, que deveria ser prévio, para uma obra construída há décadas. Ademais, é bem lembrado que a proteção ao meio ambiente está sendo resguardada pela Resolução SEMAD, com todas as suas exigência firmadas, inclusive com Termo de Compromisso. Num. 84220332 - Pág. 5Assinadoeletronicamente por: RENATA BOMFIM PACHECO - 16/09/2019 18:27:37 https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19091616015002900000082904198 Número do documento: 19091616015002900000082904198 No tocante ao rechaçamento do autor quanto à Resolução SEMAD e às alegações de serem extensos e desarrazoados os prazos do ato normativo, entendo não caber ao judiciário interferir em tal seara, tendo em vista a discricionariedade da matéria, sob pena de violação ao princípio da separação dos poderes. Por tudo exposto, o indeferimento dos pedidos iniciais é medida impositiva. III – DISPOSITIVO Pelo exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na inicial e extingo o feito, nos termos do art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Isento de custas e condenação em honorários, nos termos da Lei nº 7.347/85. Sentença sujeita ao reexame necessário. Assim, após transcurso de prazo sem interposição de recurso, ou havendo, após os trâmites legais, remetam-se os autos ao egrégio Tribunal de Justiça deste Estado. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se. BELO HORIZONTE, 16 de setembro de 2019 Num. 84220332 - Pág. 6Assinado eletronicamente por: RENATA BOMFIM PACHECO - 16/09/2019 18:27:37 https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19091616015002900000082904198 Número do documento: 19091616015002900000082904198 Cabeçalho Índice Sentença | NUM: 84220332 | 16/09/2019 16:01
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